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Organização Político Administrativa do Estado Brasileiro sob a ótica da soberania e a autonomia

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Organização Político Administrativa do Estado Brasileiro sob a ótica da soberania e a autonomia, a repartição de competências entre os entes políticos
O exercício político é bastante variado, não existindo, de forma objetiva, uma modalidade melhor que a outra. 
Nessa ótica, em contraposição à centralização política, onde existe um único núcleo de decisões, entende-se por descentralização a fragmentação da atuação política entre as entidades autônomas que compõe um Estado. 
 Não é suficiente a simples disposição constitucional que estabelece uma ou outra, centralização-descentralização, como modalidade de exercício, afinal, o que dará efetividade a esse contexto é a repartição das competências estabelecida pelo legislador originário. 
Hoje, o princípio federativo está inserido numa ordenação constitucional rígida, tendo, inclusive, a garantia da imutabilidade - norma pétrea, ou seja, qualquer alteração textual necessita de processo especial e qualificado previsto na própria Constituição. 
Nesse sentido, não se pode ter como válida qualquer norma que agrida, restrinja ou anule o princípio da autonomia, interferindo no âmbito de atuação autônoma dos entes federados. 
Ter conquistado esse status no ordenamento jurídico representa significativa conquista, afinal, por meio dessa forma de Estado há maior aproximação entre o poder e o seu titular - o cidadão - garantindo, de forma mais eficaz, a participação popular e em consequência, maior satisfação das necessidades suscitadas, assegurando equilíbrio nos interesses representados e reforçando a democracia. 
 No entanto, como se observa na trajetória histórica desse instituto no país, seus fundamentos ficaram, por muito tempo, a mercê de decisões políticas tendenciosas. 
Novamente, em 1967, com uma Constituição oriunda de golpe militar, houve enfraquecimento dessa forma de Estado, estabelecendo-se como característica principal dessa fase a concentração de poderes na União. 
Com a Carta de 1969, formalmente EC1/67, nota-se indiscutível preeminência da União frente aos Estados e Municípios, que, cada vez mais, viam diminuir suas prerrogativas, embora se mantivesse a forma federativa. 
Sem afastar a soberania nacional, entende-se por Federação a reunião de vários Estados, autônomos política e administrativamente, com a participação de todos na configuração da vontade nacional. 
Importante ressaltar que, apesar de se caracterizar como forma de descentralização política, não se confunde com a Confederação, onde tanto a entidade nacional quanto as entidades confederadas gozam de soberania. 
As Constituições anteriores não faziam essa referência de forma expressa, inovação trazida pela Carta Magna de 1988, que inaugura no cenário mundial uma modalidade ímpar de forma de Estado. 
Nota-se que, pela letra da lei, se excluiu os Municípios dessa parcela de concorrência, entretanto, pela determinação contida no art. 
30, II, da mesma Lei Maior, onde se estabelece que: “compete aos Municípios (...): II – suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”, essa competência é conferida. 
Conceito de competência está intimamente relacionado ao grau que um ente tem de se impor em relação aos demais no desenvolvimento de alguma responsabilidade atribuída pela Constituição. 
A repartição do poder entre os vários níveis de governo é da essência do federalismo e deve estar pautada no estatuto fundamental do Estado, vez que a mera delegação do governo central não a legitima. 
Nesse sentido, a questão das autonomias, eixo basilar da Federação, vincula-se, apesar de existirem competências comuns ou complementares, à ideia de competências próprias ou exclusivas, sendo utilizado o critério da prevalência de interesses para sua distribuição entre os entes federados. 
Por mais que a autonomia se configure pela capacidade de auto-organização, autogoverno e de autoadministração, isso não se sustenta sem uma independência mínima, o que também pressupõe capacidade de autossuficiência financeira. 
É imprescindível haver correlação entre as competências repartidas e os recursos destinados aos respectivos entes federados, afinal, de outra forma, as atribuições ficam inviabilizadas e a descentralização, inoperante. 
Esse quadro denota uma inevitável dependência econômica entre os órgãos federais e os federados, o que prejudica sobremaneira a efetiva autonomia entre as diferentes esferas de poder. 
Nada mais contraditório ao espírito federativo que a submissão de um ente federado a outro no sentido de conquistar as somas necessárias ao desenvolvimento de seus propósitos. 
Portanto, a possibilidade de criação e arrecadação de tributos nos diferentes níveis de governo se faz necessária, sendo imprescindível a observação do sistema tributário frente aos preceitos constitucionais, vez que o contribuinte não deve ser objeto de reincidências motivadas por identidade de fatos geradores. 
Tratando de modo especial da questão do Município, considerados pessoa jurídica de direito público interno, a Carta de 1988 conferiu a eles maior participação na gestão administrativa. 	 A autonomia municipal, entendida como a faculdade que tem o Município de se auto-organizar politicamente e administrativamente, por meio de legislação própria, de se autogovernar, além de legislar, originária ou supletivamente sobre assuntos de interesse local e de se autoadministrar, respeitando as limitações estabelecidas pela Constituição, sofre limitações, que, de certo modo, afastam a essência do verdadeiro significado do pacto federativo, vez que se estabelece uma hierarquia entre os entes. 
A descentralização política, possibilitada em razão da repartição das atribuições constitucionais entre os entes federados, tornou mais fortes os Estados e Municípios, sendo que a União teve enfraquecido seu poder. 
Mesmo diante dessa conquista, os Municípios, principalmente, ainda precisam se afirmar no que tange a autonomia financeira, para tanto, é imprescindível aumentar seu poder tributário para melhor desempenho de suas tarefas como protagonistas do pacto federativo. 
A autonomia financeira diz respeito a capacidade que têm os municípios de instituir e arrecadar seus próprios tributos, bem como aplicar suas rendas como melhor lhes aprouver, observado, nesse cotejo, as limitações estabelecidas pela Constituição. 
sistema tributário possui, em razão das grandes desigualdades do Brasil, o papel de redistribuir rendas: transferir recursos das unidades mais desenvolvidas para as mais carentes, o que em princípio, deveria advir de fatos geradores ou incidências tributárias ocorridas no próprio território. 
A Constituição de 1988 induziu a transferência de verbas do centro para periferia, o que pressupõe, também, a transferência de competências, fortalecendo, ao menos na teoria, os Estados e Municípios. 
Repartição das receitas tributárias se refere à partilha de recursos arrecadados entre os entes que compõem a Federação, observando, a conjugação do princípio da autonomia ao da solidariedade, afinal, se busca resultados que correspondam aos interesses comuns e de cada unidade em separado. Repartição das competências a nível constitucional viabiliza o exercício das atribuições entre as esferas de poder político, mas a falta de independência em relação aos repasses de verbas tributárias coloca os municípios em um nível inferior quando comparado à União, por exemplo. 
Os municípios, em virtude da representatividade que lhes é peculiar, deveriam ter maior expressividade na política nacional, mas nota-se que essa não é uma realidade. 
Nesse sentido, esses entes federados, detentores de autonomia, efetivam a descentralização, mas a fariam de forma mais significativa se a autonomia política fosse acompanhada pela financeira. 
Faz-se necessário delimitar as atuações dos entes, atribuindo-lhes, por meio de normas, competências, e por óbvio, prevendo destinação de recursos financeiros para dar suporte às demandas dentro do cenário prático. 
 Reforçar a autonomia dos entes é fazer cumprir os preceitos da Lei Maior, que, cumpre admitir,é digna de elogios em virtude das grandes conquistas que representa.

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