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FACULDADE DOM ALBERTO LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO SANTA CRUZ DO SUL - RS 1 AULAS 51 A 60 18 A RESENHA A resenha é um tipo de texto que serve para divulgar obras novas e apresentar uma obra que o (a) leitor (a) geralmente não leu ou não conhece. Ela pode, assim, atualizar o público leitor de modo breve sobre outras produções científicas, especial- mente recentes. É comum periódicos científicos dedicarem uma seção inteira de sua publicação apenas para resenhas, já que elas representam uma atualização sobre quais publicações estão surgindo na área de interesse da revista. Por isso, normal- mente, as resenhas costumam ser de obras recentes. As revistas normalmente especificam um período limite diferente para obras nacionais (por exemplo, aceitando apenas resenhas de obras publicadas no último ano, ou nos últimos dois anos, etc.), e para obras lançadas no exterior (geralmente, obras publicadas nos últimos cinco anos). É preciso atentar para a especificação feita pelo periódico em questão. A resenha, nesse papel de divulgar e apresentar uma dada obra, geralmente cumpre três passos essenciais: 1) Identifica a obra a ser resenhada; 2) Apresenta/descreve resumidamente o conteúdo desta obra; 3) Aprecia/avalia criticamente esse conteúdo (mas, como veremos mais adi- ante, há um tipo de resenha que não realiza essa apreciação). A identificação detalha o nome do (a) autor (a) e inclui breves informações so- bre sua carreira (outras obras dele ou dela). A identificação também informa o trabalho resenhado, seu local e editora de publicação, a data, e apresenta demais informações que se apliquem, como por exemplo o nome da coleção ou série a que a obra per- tence, o número de volumes, o nome do tradutor, se for o caso, e assim por diante. A apresentação do conteúdo da obra consiste no resumo dos principais argumentos fei- tos, um levantamento das ideias apresentadas e defendidas pelo autor. Pode ser or- ganizada conforme os fatos ou dados aparecem na obra (resumindo os capítulos ou as partes em sua ordem sequencial na obra) ou então em agrupamento de conjuntos de ideias. 2 Já a apreciação do conteúdo pode ser tanto positiva quanto negativa, desde que seja fundamentada. De qualquer modo, é importante que a apreciação seja feita com respeito e zelo. Recomenda-se que já na apresentação do resumo da obra se insiram pequenas sinalizações sobre o tom da apreciação crítica (se houver). Isso pode ser feito, por exemplo, com expressões do tipo: “o autor sabiamente desenvolve o argumento . . .”, ou “o autor discute o ponto X de modo relativamente apressado...” Tipos de resenha: A resenha pode ser do tipo descritiva (também chamada de resenha técnica ou resenha científica), ou então do tipo crítica (também conhecida como resenha opina- tiva). A resenha descritiva se concentra na avaliação do conteúdo enquanto conheci- mento, ciência ou verdade, ou seja, ela faz um julgamento de verdades. Já a resenha crítica avalia a obra considerando valor, estilo, estética, beleza, etc. (julgamento de valores). Assim, a resenha crítica exige maior grau de detalhes para a fundamentação da crítica (seja ela positiva ou negativa), já que trata de questões menos palpáveis e mais subjetivas. Existem ainda as chamadas resenhas temáticas. Nesse tipo de rese- nha, há a apresentação de vários textos de diferentes autores que tratam de um mesmo tema principal. Na resenha temática, cada um desses textos é identificado e apreciado em termos de sua real contribuição (e o grau de qualidade dessa contribui- ção) para o tema em questão. Se uma resenha não emitir qualquer avaliação sobre o conteúdo, temos o caso da resenha-resumo. Esse tipo de resenha se limita aos dois primeiros passos descri- tos anteriormente, isto é, apenas identificar a obra e resumir seu conteúdo. Então, essa modalidade cumpre uma função meramente informativa, e não busca convencer o leitor sobre a importância ou valor de ler dada obra ou não. 19 O ARTIGO CIENTÍFICO Segundo a ABNT (NBR 6022, 2003), o artigo científico pode ser definido como a “publicação com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técni- 3 cas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento”. Mediante tal defi- nição, um questionamento que se mostra relevante faz referência à diferença demar- cada entre um artigo e uma monografia. Em consonância a esta pergunta, respostas poderão surgir, tais como a de que o artigo possui uma forma mais simplificada que a monografia. Sendo assim, veremos algumas elucidações, afim de que possíveis dúvi- das possam ser esclarecidas acerca do tema em questão. O artigo científico, como o próprio nome já nos revela, caracteriza-se por um texto científico cuja função é relatar os resultados, sendo esses calcados de originali- dade, provenientes de uma dada pesquisa. Dessa maneira, ele, materializado sob a forma de um relato acerca dos resultados originais de um estudo realizado, torna-se publicamente conhecido por meio de revistas científicas, as quais possuem uma se- ção destinada a esse fim. Assim assevera Santos (2007, p. 43), “são geralmente utili- zados como publicações em revistas especializadas, a fim de divulgar conhecimentos, de comunicar resultados ou novidades a respeito de um assunto, ou ainda de contes- tar, refutar ou apresentar outras soluções de uma situação convertida”. Como antes citado, há a hipótese de que a concisão seja a característica que demarca a diferença entre a monografia e o artigo. Assim, precisamos compreender acerca de alguns pressupostos, a fim de que possamos confirmar ou não se tal hipó- tese é verdadeira. O primeiro passo é compreendermos que enquanto na monografia existe a possibilidade de se esmiuçar um determinado assunto, estendendo-o em vá- rios capítulos, no artigo científico tal aspecto não prevalece. Como se trata de um texto que prima pela concisão dos dados apresentados, ele precisa passar por um critério rigoroso de correção, no sentido de verificar a es- truturação dos parágrafos e frases, garantir a clareza e objetividade retratadas pela linguagem, entre outros. Não deixando de mencionar que num artigo, o revisor precisa estar livre para se posicionar frente ao objeto de análise, levando em consideração alguns aspectos voltados para a análise dos argumentos apresentados, checagem do valor científico atribuído ao texto em questão, verificação da possibilidade de se tornar público (estar disponível a outras pessoas), confirmação da possibilidade de abertura a possíveis reavaliações em função de novas descobertas e, consequentemente, apresentação de melhores resultados, etc. 4 Quanto ao conteúdo abordado no artigo, ele pode apresentar distintos aspec- tos, como também pode cumprir outras tarefas, conforme nos revelavam Marconi e Lakatos (2005, p. 262): a) Versar sobre um estudo pessoal, uma descoberta, ou dar um enfoque con- trário ao já conhecido; b) Oferecer soluções a questões controvertidas; c) Levar ao conhecimento do público intelectual ou especializado no assunto novas ideias, para sondagem de opiniões ou atualização de informes. d) Abordar aspectos secundários, levantados em alguma pesquisa, mas que não seriam utilizados na mesma. Mediante tais postulados, pode parecer um tanto quanto complicado ao autor elaborar seu artigo, mas o que na verdade ocorre é que, frente a tal incumbência, ele descobrirá pontos relevantes que o permitirão desenvolver habilidades, tais como: a de sintetizar suas ideias frente ao contexto científico, a de selecionar de forma concisa e ao mesmo tempo precisa as fontes bibliográficas que lhe servirão de apoio, bem como a de avaliar melhor os dados coletados e apresentar os resultados obtidos, entre outros aspectos. Com base em tais postulados, obtém-se a conclusão de queatual- mente é crescente o número de instituições que requisitam a produção do artigo em vez da monografia. Lembrando que essa produção pode ser realizada de forma pro- visória, por meio de um projeto de pesquisa, o qual delimitará anteriormente as bases que fundamentarão o trabalho a ser realizado. 19.1 A redação do artigo científico Introdução A introdução, como o próprio nome sugere, serve para introduzir o leitor ao tema da pesquisa, ao problema estudado, aos principais conceitos envolvidos e aos trabalhos já realizados até o momento. É aquela seção em você “vende o seu peixe“, esclarece a importância da pesquisa e a relevância para a área. Faça uma descrição 5 sucinta de pesquisas anteriores. No último parágrafo, comece por ressaltar o inedi- tismo da pesquisa e descreva claramente o objetivo proposto para a pesquisa (Santos, 2015). Embora esteja disposta nas páginas iniciais de um artigo científico, a introdução é mais facilmente elaborada quando a discussão e as conclusões já tiverem sido re- digidas, ou seja, quando já se tem uma visão do conjunto do trabalho. O texto de introdução, além de bem escrito, deverá se constituir em um convite atrativo para a continuidade da leitura do artigo. Alguns poucos parágrafos serão suficientes (Matias, 2012). Uma maneira prática de saber se a introdução de um artigo científico ficou bem redigida é apagar a parte dos objetivos da pesquisa e entregar o texto de introdução para outra pessoa que também seja da área ler. Se ao ler apenas a introdução, a pessoa conseguir acertar qual problema de pesquisa foi estudado, parabéns! Você fez um excelente trabalho! Estrutura básica: Antecedentes do problema. Descrição do problema. Trabalhos já realizados. Aplicabilidade e originalidade da pesquisa. Objetivo (problema de pesquisa). Erros comuns: Orientação mais empírica que teórica. Introdução muito longa, incluindo trechos que poderiam ser melhor utili- zados na discussão. Detalhes excessivos na descrição de estudos prévios. “Reinvenção da roda”, especialmente na primeira sentença ou pará- grafo. Omissão de estudos diretamente relevantes. Terminologia confusa. Citações incorretas. 6 Material e métodos Se você preparou um projeto de pesquisa detalhado, agora será recompen- sado! Pegue o projeto e comece a conferir a seção “material e métodos”. Troque o tempo do verbo, do futuro para o passado, e então faça as inclusões ou mudanças de maneira que essa seção reflita verdadeiramente aquilo que você realizou em sua pes- quisa. A seção “material e métodos” deve possibilitar ao leitor avaliar o delineamento da pesquisa, o tamanho da amostra e como ela foi determinada, os materiais e pro- cedimentos utilizados, as variáveis analisadas e as análises estatísticas realizadas. Questões éticas ou de consentimento, quando necessárias, também devem ser infor- madas. As informações dessa seção são fundamentais para compreender os resulta- dos encontrados, pois revelam a forma como eles foram obtidos, e possibilitam a re- plicabilidade da pesquisa (Lakatos e Marconi, 2010). Estrutura básica: Local e condições experimentais. Delineamento e tratamentos. Controle das condições experimentais. Variáveis (avaliações). Análise estatística. Erros comuns: Informação inadequada para avaliação ou replicação. Descrições detalhadas de métodos padronizados e publicados. Deixar de explicar análises estatísticas não usuais. Participantes muito heterogêneos. Medidas não validadas; de confiabilidade fraca ou desconhecida. Resultados Na apresentação dos resultados, gráficos e figuras geralmente facilitam a ob- servação dos efeitos, se comparados com as tabelas. Entretanto, as tabelas levam 7 vantagem quando valores numéricos específicos são importantes. Nestes casos, arti- gos com tabelas irão obter um maior número de citações, porque outros pesquisado- res podem usar seus dados como base de comparação (Vianna, 2001). Procure pro- mover descrições claras e organizadas dos resultados, sem repetir no texto os dados já expostos em gráficos e tabelas. Ao escrever um artigo científico, inclua na redação final apenas os resultados que são necessários para a corroboração de suas conclu- sões (Andrade, 2014). Estrutura básica: Resultados da análise estatística. Estatísticas descritivas (médias, desvio padrão e correlações) Estatísticas inferenciais Relatar a significância e a amplitude dos dados. Análises adicionais (usualmente post hoc). Erros comuns: Tabelas e figuras complexas, incompreensíveis. Repetição dos dados no texto, nas tabelas e nas figuras. Não utilizar o mesmo estilo de redação da introdução e do material e métodos. Não apresentar os dados prometidos na seção material e métodos. Análise estatística inadequada ou inapropriada. Discussão A discussão é a parte mais complexa e mais difícil de escrever em um artigo científico. Deve ser redigida com a finalidade de apresentar e interpretar conclusões, enfatizar os resultados mais importantes e comparar os resultados obtidos na sua pesquisa com os resultados obtidos por outros pesquisadores (Medeiros e Tomasi, 2008). 8 Estrutura básica: Relacionar os resultados com as hipóteses. Interpretações: esperadas versus alternativas. Implicações teóricas, para a pesquisa e para a prática. Limitações do estudo: aproximação com o estudo ideal. Confiança estimada das conclusões. Explicitação de possíveis restrições para as conclusões. Identificação de procedimentos metodológicos pertinentes aos resulta- dos. Recomendações para pesquisas futuras. Erros comuns: Repetição da introdução. Repetição dos resultados. Discussão não baseada nos propósitos do estudo. Não esclarecer as implicações teóricas e práticas dos resultados. Discussão não baseada nos resultados. Hipóteses não discutidas explicitamente. Apresentação de novos dados. Repetição da revisão da literatura. Especulações não fundamentadas. Recomendações não baseadas nos resultados. Conclusões Ao escrever as conclusões da sua pesquisa, certifique-se de apresentar real- mente apenas conclusões. Pode parecer um pouco óbvio, mas essa seção muitas vezes é utilizada, de maneira equivocada, para meramente reafirmar os resultados da pesquisa. Não faça o leitor perder tempo: ele já leu os resultados e a discussão. Agora, nas conclusões, quer entender de forma clara a solução do seu problema de pesquisa. Após elaborar as conclusões, critique-as e procure derrubá-las. As conclusões que você não conseguir derrubar serão a base de seu artigo. Limite-se às conclusões que 9 têm embasamento nos resultados que você obteve e que respondem às questões da pesquisa, ou seja, que estão de acordo com os objetivos (Vianna, 2001). Não se pode esquecer que as conclusões, como produto final de uma pesquisa, devem ser consideradas provisórias e aproximativas. Por mais brilhantes que sejam, em se tratando de Ciência, as conclusões podem superar o conhecimento prévio e, por sua vez, também podem ser superadas com o avanço do conhecimento (Aquino, 2012). 20 BIBLIOGRAFIA BÁSICA BARTHES, Roland. O prazer do texto. Perspectiva, 2010. CLAVER, Ronald. Escrever sem doer: oficina de Redação. UFMG, 2004. KLEIMAN, Angela. Leitura, ensino e pesquisa. Pontes, 2008. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: como é, como se faz. Loyola, 2009. FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. Ática, 2000. MACHADO, Ana Maria. Como e porque ler os clássicos universais desde cedo. Obje- tiva, 2002. PÉCORA, Alcir. Problemas de Redação. Martins Fontes, 2011. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Autêntica, 2010.
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