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Corpos em vitrines Thayná Oliveira Na época colonial, a prostituição já existia no Brasil, mas somente as escravas negras eram quem vendiam o corpo em troca de alforria. Isso era visto como um mal necessário para preservar as “mulheres de família” e brancas. No fim do século 19, com a entrada da mulher na vida social, os cidadãos de bem daquela época pressionaram o Estado para que delimitasse zonas para essas mulheres, as famosas “zonas de prostituição” ou somente zonas. Se no Brasil colonial a prostituição era em troca de liberdade, nos dias de hoje não é diferente. Liberdade para muitas meninas é ter o melhor celular, tênis originais, roupas de marca, mas muitas, infelizmente, se prostituem para terem o que comer e levar o sustento para a sua família. As “Ochentas”, são venezuelas que entraram pela fronteira do Brasil com a Venezuela em Roraima. Com a crise que se instalou no país, muitas já vendiam o próprio corpo em troca de alimentos, mas outras conheceram a prostituição ao chegarem no Brasil e não encontrarem emprego. No mesmo local, brasileiras vendem o corpo por cem reais e elas por R$ 80 ou “ochentas”, como soam por conta do idioma. No 1º trimestre de 2019, 24,9% das mulheres encontram-se desempregadas e sem renda. Assim como o tráfico, a prostituição é julgada pelos cidadãos de bem, que só entra “quem quer”. Não é porque ficaram sem aulas por confrontos nas favelas e o medo de morrerem com uma bala perdida os impediu de irem à escola. Não é porque cresceram em uma casa que passam por dificuldades financeira. Não é porque passam em frente a vitrines e desejam ostentar. Não é porque o pai abandonou a mãe e os irmãos e de alguma forma eles precisaram achar uma renda e quando foram atrás de emprego não se encaixavam, pois não tinham estudos, já que lá atrás perderam aulas pelo confronto policial, precisaram sair da escola para trabalhar e assim não adquiriram experiência. Não é por nada disso, mas sim porque “já nasceram assim”. “Quero trabalhar como uma pessoa normal. Precisamos de respeito em primeiro lugar. Não estamos aqui porque queremos, mas porque a sociedade não nos dá emprego”, relato da Thalita, uma garota de programa, mas como conseguir um emprego em um país no qual o presidente promete não “atrapalhar os empresários”, mas realiza uma reforma abusiva trabalhista? Como pessoas que vivem em locais vulneráveis, vão entrar em uma Universidade Pública ou conseguir uma bolsa em uma particular, se muitos cidadãos de bem forjam documentação para se aproveitar das cotas, que afinal, “deveriam acabar”, né? Como essas meninas vão enxergar um futuro melhor, se quando qualquer uma delas for relatar um abuso sexual não serão ouvidas, pois “faz parte do trabalho”? É fácil julgar, o difícil é enfrentar a realidade e entender que o país no qual vivemos é totalmente desigual e que os que estão abaixo financeiramente, de alguma forma, querem se igualar a quem possui muito e a única opção, muitas vezes a última, é colocarem seus corpos em vitrines.
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