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RESUMO - Teoria Construtivista - Nogueira e Messari-1 (1)

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NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar. Teoria das relações internacionais: correntes e debates. Rio de Janeiro: Elsevier Editora, 2005.
TREORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: Correntes e Debates
TEORIA CONSTRUTIVISTA
Vivemos em um mundo que construímos, no qual somo os principais protagonistas, e que é produto das nossas escolhas. Este mundo em permanente construção é construído pelo que os construtivistas chamam de agentes. Vale dizer: não se trata de um mundo que nos é imposto, que é predeterminado, e que não podemos modificar. Podemos mudá-lo, transformá-lo, ainda que dentro de certos limites. Em outras palavras, o mundo é socialmente construído.
A natureza do debate não é mais sobre metodologia, mas sim sobre ontologia, isto é, sobre a natureza daquilo que deveríamos estar estudando. O construtivismo reflete o debate agente/estrutura, próprio não somente às relações internacionais, mas a outras ciências sociais. Antecedência ontológica: quem veio antes e quem veio depois, quem determina o outro, quem tem precedência sobre o outro.
Os construtivistas negam a antecedência ontológica tanto aos agentes quanto à estrutura, e afirmam que ambos são co-construídos.
A primeira premissa: Friedrich Von Kratochwil e Thomas Risse-Kappen definem, separadamente, as premissas centrais do construtivismo. Ambos concordam que a premissa central e comum a todos os construtivistas é que o mundo não é predeterminado, mas sim construído à medida que os atores agem, ou seja, que o mundo é uma construção social. É a interação entre os atores, isto é, os processos de comunicação entre agentes, que constrói os interesses e as preferências destes agentes.
A segunda premissa dos construtivistas é a negação de qualquer antecedência ontológica aos agentes e à estrutura. No debate agentes-estrutura, os construtivistas negam simultaneamente que os agentes precedam a estrutura e a moldam para servir seus interesses e suas preferências, e que a estrutura tenha a capacidade de constranger e limitar as opções e, portanto, as ações dos agentes. Para eles, agentes e estrutura são co-constitutivos uns dos outros, e nenhum precede o outro nem no tempo, nem na capacidade de influenciar o outro.
A terceira premissa comum a todos os construtivistas refere-se à relação entre materialismo e idealismo. Se, por um lado, os construtivistas não descartam as causas materiais, por outro, consideram que as ideias e os valores que informam a relação do agente com o mundo material desempenham uma função central na formulação do conhecimento sobre este mesmo mundo. Isso significa que os construtivistas não ignoram que exista “um mundo lá fora”, mas consideram que ele só faz sentido a partir do momento que nos referimos a ele, e mediante os meios que usamos para nos referirmos a ele.
Duas outras premissas. A primeira é a negação da anarquia como uma estrutura que define a disciplina das Relações Internacionais. A outra premissa, que decorre da anterior, é que a anarquia internacional é socialmente construída.
Um dos conceitos que mais chama a atenção para o construtivismo é o conceito de identidade. No entanto, nem todos os construtivistas consideram o conceito importante e útil de um ponto de vista analítico. Wendt providencia instrumentos analíticos endógenos para explicar a construção das identidades, e não considerá-las mais como simplesmente predeterminadas. Para ele, as identidades precedem os interesses e se formam em processos relacionais entre identidade e diferença. Portanto, e mesmo não sendo uma característica comum a todos os construtivistas, o conceito e identidade não pode deixar de fazer parte da contribuição construtivista.
Kratochwil afirma que um dos principais desafios que se impõem ao construtivismo é de natureza metodológica. Segundo ele, a questão que se impõe aos construtivistas é relativa à correspondência entre o mundo que se observa e o conhecimento que se constrói em torno dele. Kratochwil afirma que todos os construtivistas admitem que a intersubjetividade da linguagem e o consequente partilhamento de discursos, significados e valores é uma premissa comum a todos os construtivistas.
Os construtivistas começam a divergir quanto à importância e centralidade da virada linguística, muito mais importante para um construtivista como Onuf, Fierke e o próprio Kratochwil do que para Wendt. A virada linguística operada por alguns construtivistas põe em análise do discurso – e maus especificamente das regras e normas que organizam e regem o discurso – como central na análise dos eventos sociais em geral, e das Relações Internacionais em particular. Desse ponto de vista, o que interessa aos construtivistas que aderiram à virada linguística são as normas e regras que constroem o discurso que acaba se referindo ao mundo social. É nesse sentido que esses construtivistas consideram que a realidade é socialmente construída.
Para os construtivistas, as normas informam o discurso, e o discurso não é apenas um instrumento para a ação política, mas sim a própria ação política.
KRATOCHWIL
O argumento de Kratochwil é que, ao entendermos as regras que regem o discurso, podemos entender as regras que regem a própria realidade, já que o mundo ao qual nos referimos é produto dos discursos que nos permitem nos referir a ele. Segundo esse argumento, não importa como “a realidade lá fora” é, já que é a linguagem que usamos para nos referir a ela que vai motivar nossos entendimentos e nossas ações. Isso significa que a linguagem não reflete apenas a ação, mas é o fundamento da ação e, portanto, a própria ação.
Para Kratochwil, as normas representam a principal influência nas ações humanas, mesmo que de forma indeterminada: quando se trata de atos sociais, não se pode esperar regularidades e repetições, nem que da mesma norma resulte sempre o mesmo ato. Por ser um mundo socialmente construído, não se pode utilizar, para entendê-lo, os mesmos métodos das ciências exatas. Nesse sentido, por resultar de um discurso, ele mesmo intersubjetivo, a ação humana é moldada e regida por regras. Por isso, a análise das ações dos agentes deveria consistir não na análise dessas ações, mas sim na análise das regras e normas que orientam suas escolhas.
As normas são, precisamente, o que torna algumas ações e decisões possíveis e “naturalmente” aceitáveis ou não. É necessário analisar as regras que regem os discursos que tornaram algumas escolhas impossíveis e algumas decisões como se fossem as únicas possíveis.
ONUF
Onuf considera o mundo uma construção social e situa as Relações Internacionais no conjunto das ciências que lidam com fenômenos sociais. Para ele, as relações internacionais não são nada mais que eventos sociais que obedecem às mesmas lógicas e às mesmas regras que os demais eventos sociais. Onuf considera que tudo está em permanente evolução, e que a mudança é permanentemente possível. Segundo ele, a anarquia não passa de uma construção social, fruto de regras, e que pode ser mudada e transformada em processos de interação entre agentes e estrutura.
Para ele, agentes e estrutura são constituídos, e não se pode falar em um sem a existência do outro. O processo de co-constituição é contínuo e permanente.
O construtivismo de Onuf é tido como um construtivismo centrado nas regras.
Regras apresentam escolhas aos agentes e informa-lhes o que deveriam fazer. Os agentes devem se conformar ao que elas mandam. Quando não são respeitadas, há sempre consequências que decorrem disso. Dessa forma, as regras fazem os agentes: são elas que indicam quais atores são agentes de uma certa estrutura. Dito em outras palavras, não é qualquer ator que pode ser considerado agente de uma estrutura, e a função das regras é estabelecer a agência. No entanto, não se trata de uma relação unilateral: as regras fazem os agentes da mesma forma que os agentes fazem as regras. Onuf distingue 3 tipos de regras:
· Instrução,
· Direção, e
· Compromisso.
Esses 3 tipos de regras decorrem de 3 categorias de atos de fala que Onuf define como:
· Assertivo,
· Diretivo, e
· Compromisso.
Onufafirma ser necessário analisar as regras que regem o discurso particular que leva alguém a agir de uma determinada maneira, e que é conhecido justamente como ato de fala, para entender os atos dos agentes. Desse ponto de vista, discurso e ato são total e solidamente ligados: os atos são a expressão dos discursos e dos significados, e não podem ser entendidos fora ou independente deles. Para Onuf, então, na origem está o ato, mas o ato é a expressão do discurso. É por isso que se pode afirmar que ele considera que dizer é fazer.
Atos de fala:
Assertivos podem ser genéricos e ter a forma de um princípio, ou específicos e serem regras de instrução. Portanto, as regras de instrução informam comoas coisas são. Elas dizem como as coisas são organizadas, e como se adequar a essa organização.
Direção: as regras de direção são mais categóricas. Implícito nelas estão os comandos e as ordens, de onde decorrem a obediência e a aceitação das regras.
Compromisso: as regras de compromisso são regras mediante as quais se propõe uma recompensa. Os agentes devem agir de acordo com esses compromissos. Contratos são regras de compromisso.
Nas 3 regras, a não aceitação implica consequências. Ou seja, estabelece-se um fato social e espera-se uma ação em resposta a esse fato social. O que difere é a explicitação da consequência por meio do discurso.
Onuf não admite nada como previamente determinado e providencia instrumentos endógenos à sua própria contribuição teórica para analisar a diversidade dos evento sociais. Nesse sentido, a permanente construção e reconstrução da vida social em geral – e das relações internacionais em particular – abre porta, de maneira indeterminada, para a transformação, a mudança ou a continuidade. O mundo é verdadeiramente um “mundo que nós fazemos”.
Desses 3 tipos de regras decorrem 3 tipos de “domínio” diferentes:
· Racional,
· Tradicional, e
· Carismático.
A partir do momento em que as regras produzem distribuições desiguais, elas levam a formas de domínio diferentes: as relações sociais são baseadas em regras, que geram assimetrias de poder, criando, com isso, condições de domínio. Tratando-se de eventos sociais, a distribuição desigual de poder leva a domínios políticos diferentes. Por isso, a cada um desses 3 tipos de domínio, Onuf faz corresponder 3 tipos de organização distinta:
· Hegemonia,
· Heteronomia, e 
· Hierarquia.
Hegemonia corresponde ao que Onuf chama de regras de instrução.
Heteronomia corresponde às regras de compromisso. Heteronomia = aquilo que não tem autonomia.
Hierarquia corresponde às regras de direção.
Onuf consegue, então, enquadrar todas as situações sociais dentre seus três tipos de regras e afirma que, por meio do conceito de regras, é possível estudar todas as relações sociais, incluindo entre elas as relações internacionais.
Onuf põe o discurso como categoria essencial de sua análise, mas não nega a racionalidade, nem menos ainda a materialidade de um “mundo lá fora” ao qual nos referimos com nosso discurso. Para Onuf, não se trata tanto de negar o “mundo lá fora” quanto se trata de dar precedência ao social, isto é, àquilo que entendemos e definimos como a realidade. É desse ponto de vista que o conhecimento que produzimos em relação ao mundo é fundamental para o construtivismo de Onuf. Isto é, Onuf situa-se nitidamente na modernidade e na herança do Iluminismo, o que o distingue, por exemplo, dos pós modernos.
WENDT
Por intermédio de Giddens, Wendt procurou questionar a posição de Waltz, que privilegia o nível da estrutura em detrimento do nível dos agentes, e passou a falar de co-constituição de agentes e estrutura.
“Anarchy Is What States Make Of It”, nesse artigo, Wendt se afirmou como construtivista, criticou as teorias tradicionais e dominantes na disciplina, questionou o conceito de anarquia e apresentou uma visão alternativa das Relações Internacionais. No que pode ser considerado sua principal contribuição no artigo, Wendt afirmou que a anarquia não possui apenas uma lógica única de conflito e competição. Pelo contrário, a anarquia pode reverter tanto lógicas de conflito quanto de cooperação, dependendo do que os Estados querem fazer dela. Mais precisamente, mesmo negando antecedência ontológica aos agentes e à estrutura, Wendt acabou reconhecendo um papel mais preponderante aos Estados, já que, segundo ele, a anarquia – isto é, a estrutura – é o que, os agentes – fazem dela. É com base nisso que muitos críticos se referem ao construtivismo de Wendt como um construtivismo centrado nos Estados.
Discutindo a formação das identidades coletivas, Wendt definiu-as como o produto de processos relacionais, sujeitas a mudanças. Com esse argumento, Wendt acabou fechando um ciclo: processos relacionais podem levar a mudanças nas identidades coletivas, que, por sua vez, podem modificar a lógica de funcionamento da anarquia. Com isso, uma das premissas centrais do realismo – a ação dos Estados em prol da defesa do interesse nacional – pôde ser modificada: antes de defender o interesse nacional como algo previamente determinado, é preciso definir esse interesse nacional e, para defini-lo, é preciso definir as identidades que estão em sua origem.
Wendt defende uma visão estadocentrista e não dá relevância para a análise do discurso na sua contribuição teórica para as Relações Internacionais.
Wendt estabelece uma ponte com os pós-positivistas: sem negar o mundo material, afirma a centralidade das ideias em sua teoria. Para ele, existe um “mundo lá fora”, mas este mundo é socialmente construído e, por isso, é produto das ideias e dos valores dos agentes que o constroem. Portanto, qualquer teoria que ignore – ou não incorpore de maneira endógena – instrumentos para analisar os processos de construção das ideias e dos valores dos agentes é uma teoria incompleta. Para Wendt, ideias são centrais ara qualquer análise e deveriam ser explicadas endogenamente.
Uma outra ponte que Wendt procura estabelecer entre positivistas e pós-positivistas é quando tenta responder à crítica segundo a qual seu construtivismo é centrado no Estado. Por um lado, ele não apenas reafirmou a negação da antecedência ontológica aos agentes e à estrutura e, com isso, a co-constituição de ambos, mas também o fato de se tratar de um processo contínuo e permanente.
Afirma Wendt que a definição das identidades precede a definição dos interesses e que antes de definir o interesse nacional, faz-se necessário definir a identidade que vai informar a formação destes interesses. A partir do momento em que as identidades não são previamente determinadas, os interesses também não podem ser predeterminados.
Por fim, Wendt afirma a existência de três culturas de anarqui:
· A hobbesiana,
· A lockeana, e
· A kantiana.
A anarquia hobbesiana é caracterizada pela cultura de inimizada. Os Estados estão embutidos de uma dinâmica de competição e desconfiança permanentes, e a lógica que prevalece é a lógica de auto-ajuda.
A cultura lockeana é uma cultura de rivalidade. Os Estados competem uns com os outros sobre recursos, posses e até poder, mas essa rivalidade não é uma dinâmica marcada pelos imperativos de vida ou morte. A dinâmica da rivalidade é, então, uma dinâmica caracterizada pela centralidade da soberania.
A cultura kantiana é uma cultura de amizade. Os Estados têm uma predisposição positiva em relação uns aos outros. Disputas não são resolvidas mediante o recurso às armas, nem a ameaça ao uso das armas, e ameaças contra um amigo de um Estado são consideradas por esse Estado ameaças contra ele mesmo.
Cada uma dessas três culturas de anarquia pode ser internalizada em três níveis diferentes:
· O primeiro nível de internalização é pela força;
· O segundo é pelos interesses; e
· O terceiro é o resultado da legitimidade.
A internalização pela força significa que os atores internos se conformam com a existência de uma cultura de anarquia por existirem motivos de poder e sobrevivência para lecar os atores a aderirem a essa cultura de anarquia.
A internalização por interesses significa quehá um preço a ser pago por aderir – ou não – a essa cultura de anarquia.
A internalização por legitimidade demonstra um profundo convencimento de que a cultura de anarquia não revela apenas uma questão de interesses, mas sim de normalidade: sequer cogitam-se outras alternativas a não ser a amizade entre os agentes.
Com a discussão sobre culturas de anarquia e sua internalização, Wendt deixa claro que as relações internacionais revelam tanto a importância dos agentes quanto a importância da estrutura na qual esses agentes estão embutidos.
Entre esses três pensadores construtivistas, Kratochwil e Onuf partilham a ênfase no discurso e nas normas, revelando a influência da linguística em geral, e de Wittgenstein em particular. Wendt e Onuf partilham a insistência na co-constituição de agentes e estrutura, revelando, co isso, a influência da teoria social em geral, e de Giddens em particular. O distanciamento do positivismo fica claramente por conta de Kratochwil, enquanto a sólida amarra ao caráter científico do conhecimento é uma característica da contribuição de Wendt.
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