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Metodologia do Ensino de Arte Sumário Capitulo 1- Arte e Educação ....................................................................................................... 4 1.1 A importância do estudo da arte na educação ................................................................... 4 1.2 Arte e Mediação Cultural ............................................................................................................. 5 1.3 Texto Complementar: O que é arte? ....................................................................................... 7 Capitulo 2 - História da Arte ...................................................................................................... 8 2.1 Educação, artes e cultura na Idade Média. ........................................................................ 9 A Igreja no período medieval ........................................................................................................ 9 2.2 Sociedade medieval ...................................................................................................................... 12 2.3 Servos – Os trabalhadores da terra ...................................................................................... 13 2.4 Os cavaleiros ................................................................................................................................... 14 2.5 O cotidiano, mentalidades e aspectos culturais no período medieval .................. 14 2.6 A vida como ela era ....................................................................................................................... 17 2.7 Vestuário medieval ........................................................................................................................ 20 2.8 Algumas peculiaridades sobre a sociedade feudal ........................................................ 22 Os Castelos ............................................................................................................................................... 22 Os servos da gleba .......................................................................................................................... 23 Ordálio .................................................................................................................................................... 23 Os duelos .............................................................................................................................................. 24 A mulher ................................................................................................................................................ 24 O lendário cinturão da castidade ............................................................................................... 24 A homossexualidade ....................................................................................................................... 24 Hábitos ................................................................................................................................................... 25 Alimentação ......................................................................................................................................... 25 Lazer ....................................................................................................................................................... 25 Capitulo 3- História Cultural .................................................................................................... 25 3.1 O que é história cultural? ........................................................................................................... 25 3.2 Fatores que influenciaram o Renascimento ...................................................................... 26 A Literatura no Renascimento ..................................................................................................... 26 Arte no Renascimento ...................................................................................................................... 27 Principais características ............................................................................................................... 27 Brunelleschi ............................................................................................................................................ 28 Giuliano de Sangallo .......................................................................................................................... 28 PINTURA .................................................................................................................................................... 28 Principais características ............................................................................................................... 28 Principais pintores do Renascimento ..................................................................................... 29 ESCULTURA ........................................................................................................................................... 29 Principais Características ............................................................................................................... 29 Principais escultores do Renascimento ................................................................................ 29 3.3 Texto Complementar: História Cultural: origens, conceitos e críticas .................. 30 Capitulo 4 – Mediadores culturais do final do século XIX ........................................ 41 4.1 Batuque – Cacá Machado (história e música no Brasil) ............................................ 41 4.2 Texto Complementar: Teatro Municipal de São Paulo ................................................. 45 O Teatro Municipal de São Paulo foi construído durante a Primeira República (1889-1930) sob influência da Belle Époque europeia. .................................................... 45 4.3 Texto Complementar: Belle Èpoque ..................................................................................... 48 A França sempre presente ................................................................................................................ 48 Artistas brasileiros premiados na França .................................................................................... 49 4.4 Texto Complementar: Arte Plástica no Brasil ................................................................... 49 Capitulo 5- A música na Educação ....................................................................................... 55 5.1 O que é a música? ......................................................................................................................... 56 5.2- Educação pela música ............................................................................................................... 57 5.3 Texto complementar:Música será conteúdo obrigatório na Educação Básica . 58 A partir de 2012, todas as escolas serão obrigadas a incluir o ensino de Música em seus currículos. ................................................................................................................................ 58 Violeta Hemsy de Gainza fala sobre Educação musical ............................................. 60 Especialista argentina defende o aprimoramento da formação dos professores. .. 60 REFERÊNCIA .............................................................................................................................................. Capitulo 1- Arte e Educação 1.1 A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA ARTE NA EDUCAÇÃO A função da arte não é a de passar por portas abertas, mas é a de abrir as portas fechadas. (Ernst Fisher, 1973). No início da humanidade o homem teve a necessidade de expressar-se artisticamente, deixandoa sua marca no mundo. Desta forma a necessidade de produzir e consumir arte são inerentes à condição humana. Trata-se não só de um impulso vital, mas como algo fundamental ao desenvolvimento humano. Como o indivíduo por meio da arte, poderá desenvolver suas habilidades e competências que de certa forma irão defini-lo? A educadora, Fernanda Saguas, acredita que: "A arte é uma linguagem que possibilita o entendimento do mundo sem a linguagem verbal. Ela faz com que as pessoas entendam conceitos sem passar pela questão da fala, da oralidade, envolvendo diretamente o sentimento, a subjetividade". Essa capacidade de leitura do mundo influência o processo de formação de identidade, na medida em que permite ao indivíduo se reconhecer na cultura ou se definir em oposição a ela. "Quando há uma decodificação, abre-se um panorama, que oferece os contrastes, as diferenças e as semelhanças, onde você pode espelhar o seu conhecimento", afirma a docente do Museu de Arte Contemporânea Carmen Aranha. A arte como valorização da herança cultural, também proporciona o contato com outras culturas, trabalhando questões como diversidade racial e cultural, preconceitos, etnocentrismo e o próprio conceito de arte. 1 CENPEC- Centro de Estudos e Pesquisas de Educação, Cultura e Ação Comunitária. É uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, criada em 1987. Tem como objetivo o desenvolvimento de ações voltadas à melhoria da qualidade da educação pública e à participação no aprimoramento da política social. A arte proporciona ao indivíduo a percepção visual como, também a capacidade de nomear significado para as coisas. "A arte é uma possibilidade de criar mundos, realidades diferentes. E de transitar entre eles para poder, se olhar de outro lugar e se fazer diferente", acredita a pesquisadora do 1CENPEC Aline Andrade. Permite, assim, uma ampliação dos horizontes; estimula a sensibilidade e promove a humanização dos indivíduos. 1.2 ARTE E MEDIAÇÃO CULTURAL A mediação cultural potencializa á experiência estética no encontro entre a arte/cultura e o público, seja em escolas, instituições culturais ou na vida cotidiana. O fruidor com suas especificidades, repertórios pessoais, culturais singulares e a ação mediadora com suas estratégias de acesso e aproximação. A arte apresenta como um meio de comunicação e contribuição cultural, que penetra em nossa vida, desde criança e nos acompanha ao longo da vida. Então, a Arte como Mediação Cultural é um processo que inicia no convívio das experiências vivenciadas no seio familiar até o conhecimento escolar de forma organizada e sistematizada. Pode-se dizer que a influência do ambiente a qual o sujeito está inserido pode estabelecer o diálogo com diversos âmbitos da cultura por intermédio da leitura em diversos níveis e contextos da Arte. Essa relação entre arte, cultura e público é marcado pelo termo “cultural”, enquanto a “Mediação” é a expansão e ampliação do pensamento e da própria reflexão da arte no contexto da contemporaneidade. O papel da escola é de suma importância em oportunizar o aluno a apreciar a arte com olhares que possam estabelecer algumas direções que operam no campo da arte e da cultura, possibilitando ao aluno em criar, construir e inventar. Esse olhar que busca orientações para a construção e invenção instiga o aluno estabelecer relações das imagens entre o real e a ficção, tendo, portanto, condições de distinguir o que é considerado ou não arte. Para isso, é importante que a escola ofereça o trabalho de mediação cultural, levando para os alunos a compreensão de diversos elementos de cultura e de arte contemporânea; problematizando, fazendo indagações sobre as nossas práticas cotidianas. Portanto, a formação continuada do educador é necessária para o ensino da “Arte”, pois por muito tempo e ainda permanece em algumas escolas, tratar-se de visitas ao museu, teatro, etc. como uma excursão, como se fosse tarefa extracurricular da rotina dos dias letivos do calendário escolar. Essa é uma visão que favorece a homogeneidade politica social, aonde não prevê uma reflexão mais profunda das histórias e das imagens ali expostas. Muitas vezes, o professor não estabelece conexões, porque, talvez não tivesse informações aprofundadas sobre a arte na educação, devido à defasagem em sua formação profissional. A educação de forma geral precisa semear novas sementes com relação à mediação cultural por meio da arte, pois assim, poderemos traçar uma parceria na ação mediadora de conteúdos escolares e favorecer a reflexão dos alunos num contexto real e social em que estão inseridos. E, finalmente, poderemos ser intercessores na arte e na cultura.1.3 Texto Complementar: O que é arte? A palavra arte é uma derivação da palavra latina “ars” ou “artis”, correspondente ao verbete grego “tékne”. O filósofo Aristóteles se referia a palavra arte como “póiesis”, cujo significado era semelhante a tékne. A arte no sentido amplo significa o meio de fazer ou produzir alguma coisa, sabendo que os termos tékne e póiesis se traduzem em criação, fabricação ou produção de algo. Fazer uma definição específica para a arte não é simples, assim como determinar a sua função no dia a dia das pessoas, pela possibilidade de exercer funções pragmática, formal ou, ainda, possuir uma dialogicidade entre as duas funções. Muitas pessoas consideram a arte uma coisa supérflua, não compreendendo a subjetividade estética do objeto artístico, que é dar prazer. É claro que existem prioridades para a existência das pessoas, porém ao se emocionar com uma composição de Ravel ou de Van Gogh, por exemplo, terá tido a oportunidade de conhecer a capacidade humana de sentir, pensar, interpretar e recriar o seu mundo com sensibilidade e criatividade. A cultura de um povo é preservada através da sua arte, seja ela popular ou erudita, pois possibilita estudar e compreender aquelas civilizações que não mais existem e cria um sentido para as que ainda hoje fazem a sua história. Há no mundo, atualmente, diversos povos que são conhecidos pelo resgate de seus objetos artísticos, como: cerâmicas, esculturas, pinturas, entre outros. A arte nos permite viver melhor, ter diferentes olhares sobre um mesmo objeto ou situação, ela nos faz sonhar. A proposta de um verdadeiro artista, e não de um simples artífice, é tocar os sentidos de quem apreciará sua obra, é possibilitar a fruição da sua arte. O ser humano que lida com a arte, seja ela: cênica, visual ou sonora, certamente encontra-se passos adiante dos que não têm contato com o objeto estético. É preciso ser artista e se recriar a cada dia. http://www.infoescola.com/biografias/van-gogh/ http://www.infoescola.com/artes/o-que-e-arte/ http://www.infoescola.com/artes/o-que-e-arte/ Para entender melhor a arte é preciso compreendê-la dentro do contexto de sua produção cultural. Então delinearemos três vertentes da produção artística. Uma dessas formas de arte é classificada como “arte acadêmica” ou “arte de erudita”, que se refere àquelas produções artísticas pertencentes a coleções particulares e que normalmente são conservadas em museus e galerias de arte. Esta forma de arte é a apreciada por um público conhecedor das linguagens artísticas e que possui uma sensibilidade treinada para a fruição dos elementos estéticos contidos nas obras expostas. O artista acadêmico preocupa-se com o desenvolvimento da sua linguagem artística, com a transmissão da própria expressão pessoal, em captar o significado humanode existir e, ainda, em exigir uma postura do público diante do seu modo de ver o mundo. A “arte popular” ou “folclore” são aquelas produções artísticas menos ou quase nada, intelectualizada, urbana e industrial. Suas características são o anonimato em relação à autoria, pois se pode até saber que cultura a criou, porém não há como identificar o nome do autor. Ela é uma arte anônima, produzida por colaborações de diferentes pessoas ao longo do tempo. A arte popular expressa o sentimento e as ideias da coletividade, dentro de padrões fixos no seu fazer artístico e é destinada para a fruição do próprio povo que a criou. Esta forma de arte não acompanha o modismo imposto pelos meios de comunicação. Estes meios de comunicação das massas são responsáveis, em grande parte, pelo fomento da terceira vertente da arte, que é a “arte de massa”, constituída por produtos industrializados e que se destina à sociedade de consumo. Sua intenção é servir ao gosto médio da maioria população de um país ou até mesmo do mundo. A Arte de massa é produzida por profissionais de uma classe social diferente do público a que ela se destina, que em geral é semianalfabeto e/ou passivo diante da sua realidade sociocultural. O modismo e o divertimento como forma de passar o tempo é o que sustenta a arte de massa. No caso desta vertente da arte, o povo é apenas o alvo da produção e não participa da sua concepção. http://www.infoescola.com/artes/o-que-e-arte/ Capitulo 2 - História da Arte 2.1 EDUCAÇÃO, ARTES E CULTURA NA IDADE MÉDIA. A educação era para poucos, pois só os filhos dos nobres estudavam. Marcada pela influência da Igreja, ensinava-se o latim, doutrinas religiosas e táticas de guerras. Grande parte da população medieval era analfabeta e não tinha acesso aos livros. A arte medieval também era fortemente marcada pela religiosidade da época. As pinturas retratavam passagens da Bíblia e ensinamentos religiosos. As pinturas medievais e os vitrais das igrejas eram formas de ensinar à população um pouco mais sobre a religião. Podemos dizer que, em geral, a cultura medieval foi fortemente influenciada pela religião. Na arquitetura destacou-se a construção de castelos, igrejas e catedrais. A Igreja no período medieval Na imagem, Madona com o menino rodeada de anjos, de Ceni di Peppi Cimabue, 1270. A Igreja católica surgiu durante o Império Romano, mas foi durante a Idade Média que se consolidou como a mais importante instituição da Europa ocidental. Naquela época, não havia quem duvidasse da existência de Deus: ser católico era tão natural quanto o ato de respirar. A partir do século XV, os europeus levariam sua cultura para diversas regiões do mundo. Dentre esses valores, estava o catolicismo. Foi assim, por exemplo, que o Brasil tornou-se a maior nação católica do mundo. Principal poder espiritual e temporal na Europa durante a Idade Média, a Igreja Católica, além de ser a única instituição com ramificações em todas as regiões e lugarejos, possuía muitas terras e riquezas e era obedecida e temida pela quase totalidade dos habitantes. Sabe-se que a Igreja chegou a possuir mais de um terço de todas as terras da Europa Ocidental. As origens desta acumulação de bens materiais ainda hoje causam polêmicas entre os historiadores. Alguns apontam o complexo sistema de cobranças de impostos e de indulgências como principal origem dos bens da Igreja. Além do dízimo, 10% das rendas de cada fiel, os padres cobravam pesados tributos dos camponeses que viviam nas terras do clero e, em períodos excepcionais, promoviam a venda de indulgências nos lugarejos, nas vilas e nas cidades. Para outros, a posse de terras pela Igreja provinha principalmente das doações feitas por fiéis arrependidos dos seus pecados e por nobres e reis, que entregavam parte de suas conquistas de guerra. Além disso, com o movimento das Cruzadas, a própria Igreja conquistou extensas áreas territoriais. Junto a toda essa riqueza, a Igreja acumulou cultura e conhecimento, pois controlava grande parte do saber herdado da Antiguidade Clássica. Os mosteiros medievais ficaram célebres por sua política de hospitalidade, dando abrigo temporário a peregrinos e andarilhos e pelas minuciosas e caprichosas cópias manuais de textos e livros da Antiguidade Clássica. Como os livros, pergaminhos, manuscritos e documentos ficavam nos mosteiros e nas universidades da igreja, os padres detinham praticamente o monopólio da cultura erudita que, segundo a visão predominante na época, representava um perigo para as mentes e as crenças cristãs. O próprio sistema de organização e hierarquia da Igreja medieval ajudava a garantir a consolidação do seu poder, e o papa, como representante máximo do poder espiritual, acumulou também poder político ou temporal. Por ser a única autoridade reconhecida como universal, ele agia como árbitro nos conflitos entre reinos e impérios. Segundo a classificação bastante simplificada da época, a sociedade medieval estaria dividida em três ordens: a Igreja, Primeira Ordem, tinha a função de orar; os nobres pertenciam à Segunda Ordem, com a missão de garantir a segurança, ou seja, guerrear; e a Terceira ordem era composta pelos trabalhadores, que deveriam prover as necessidades das duas primeiras ordens. Assim como tudo na sociedade medieval, a primeira Ordem tinha sua própria hierarquia: o Alto Clero, composto pelo papa, bispos, cardeais e abades; e o Baixo Clero, formado pelos clérigos, padres e monges. A maioria dos membros da Igreja provinha de famílias nobres, que impunham a formação religiosa aos seus filhos não primogênitos, mesmo que não tivessem vocação ou vontade de servir a Igreja. Com presença e atuação ostensivas, a Igreja impôs seus valores e crenças e criou na Europa daquele tempo uma atmosfera de religiosidade que se manifestava até nas mais simples atividades cotidianas: ao nascer, o indivíduo recebia o sacramento do batismo, ao casar, o do matrimônio e ao morrer, a extrema-unção (também era enterrado no cemitério da Igreja); a contagem e divisão do tempo eram baseadas em acontecimentos religiosos, assim como as festas e o descanso semanal. O poder da Igreja era tão grande nessa época que aqueles que enfrentavam seu poder eram chamados de hereges ou infiéis. Herege é uma palavra de origem grega, que significa “aquele que escolhe”, mas na Idade Média passou a denominar a pessoa ou o grupo que defendia doutrina contrária à Igreja ou discordava dos seus dogmas, das suas verdades. Uma das penalidades aplicadas pela Igreja aos hereges era a morte na fogueira. Para enfrentar os hereges e consolidar seu poder na sociedade, a Igreja Católica instituiu o Tribunal do Santo Ofício que perseguia os hereges e aqueles que tinham comportamentos e preferências contrários aos seus ensinamentos morais e disciplinares. 2.2 SOCIEDADE MEDIEVAL A sociedade medieval era hierarquizada; a mobilidade social era praticamente inexistente. Alguns historiadores costumam dividir essa sociedade em três ordens: a do clero; a dos guerreiros e a dos camponeses. Ao clero cabia cuidar da salvação espiritual de todos; aos guerreiros, zelar pela segurança; e aos servos, executar o trabalho nos feudos. No mundo medieval, a posição social dos indivíduos era definida pela posse ou propriedade da terra, principal expressão de riqueza daquele período. O Senhor feudal tinha a posse legal da terra, o poder político, militar, jurídico e até mesmo religioso, se fosse um padre, bispoou abade. Os servos não tinham a propriedade da terra e estavam presos a ela por uma série de obrigações devidas ao senhor e à igreja. Embora não pudessem ser vendidos, como se fazia com os escravos no Mundo Antigo, não podiam abandonar a terra sem a permissão do senhor. Havia também os vilões. Eram geralmente descendentes de pequenos proprietários romanos que, não podendo defender suas propriedades, entregavam- nas a um senhor em troca de proteção. Por essa origem, eles recebiam um tratamento diferenciado, com maiores privilégios e menos deveres que os servos. Havia, finalmente, os ministeriais, funcionários do senhor feudal, encarregados de arrecadar os impostos. 2.3 Servos – Os trabalhadores da terra O servo era obrigado a trabalhar nas terras do senhor durante três dias por semana. Além disso, tinha de entregar ao senhor parte do que produzia para o próprio sustento. O trabalho nas terras do senhor era prioritário: ela tinha de ser preparada semeada e ceifada em primeiro lugar. Apenas depois de cuidar das terras do senhor, o servo poderia se dedicar às suas plantações. Servos trabalhando em um feudo medieval O limite de todas essas regras entre o senhor feudal e o servo era muito bem definido. Dentre as obrigações dos servos, estavam: • a talha, imposto pago sobre a produção no manso servil; • a corveia, trabalho compulsório nas reservas senhoriais; • as banalidades, imposto pago pelo uso de instalações pertencentes ao senhor, como forno e moinho 2.4 OS CAVALEIROS Os cavaleiros eram nobres que se dedicavam à guerra. A lealdade o seu senhor e a coragem representavam as principais virtudes de um cavaleiro. Por muito tempo, para ser cavaleiro, bastava possuir um cavalo e uma espada. Em troca de serviço militar a um senhor, o cavaleiro recebia seu feudo, onde erguia uma fortaleza. Pouco a pouco, porém, as exigências para se tornar um cavaleiro foram se tornando mais rigorosas: além de defender o seu feudo e o de seu senhor, ele deveria professar a fé católica e honrar as mulheres. O jovem nobre iniciava a aprendizagem aos 7 anos, servindo como pajem na casa de um senhor, onde aprendia equitação e o manejo das armas. Aos 14 anos, tornava-se escudeiro de um cavaleiro, passando, pelo menos, a seu serviço, tratando de seu cavalo e de suas armas, ao mesmo tempo em que aprendia com ele as artes do combate. Tomava parte em corridas, em lutas livres e praticava esgrima. Para se preparar para torneios e combates, aprendia a correr a quintana: tratava-se de galopar em grande velocidade em direção a um boneco de madeira e cravar-lhe a lança entre os olhos. O boneco era munido de um braço e montado sobre um pino de ferro. Quem não acertava o alvo com a lança, fazia o boneco girar; ao girar, o braço do boneco batia nas costas do cavaleiro. Depois do tempo de aprendizagem, se o jovem fosse considerado preparado e digno, estava pronto para ser armado cavaleiro. (link para os dez mandamentos do cavaleiro PRONTO) 2.5 O COTIDIANO, MENTALIDADES E ASPECTOS CULTURAIS NO PERÍODO MEDIEVAL Como o Período Medieval foi bastante longo (aproximadamente mil anos), todos os aspectos da vida cotidiana – moradia, vestuário, alimentação, etc. – passaram por mudanças importantes e variaram muito de um lugar para o outro. De modo geral, a população estava concentrada no campo (cerca de 80% das pessoas viviam na zona rural) e, apesar de alguns períodos de maior crescimento demográfico, o número de habitantes era pequeno. Estima-se que em paris, a maior cidade europeia da época, tinha uma população de 160 mil habitantes, em 1250. E, em 1399, o número total de habitantes do continente europeu não passava de 74 milhões, baixo crescimento da população resultava do elevado número de mortes, pois a média de vida, na época, não ultrapassava os 40 anos de idade. Os historiadores calculam que, de cada 100 crianças nascidas vivas, 45 morriam ainda na infância. Era comum a morte de mulheres durante o parto e os homens jovens morriam nas guerras ou vítimas de doenças para as quais ainda não se conhecia uma cura. Na sociedade medieval, profundamente dominada pela religiosidade e misticismo, era senso comum interpretar o surgimento de doenças e epidemias como sendo resultados da ira divina pelos pecados humanos. A falta de higiene, de água tratada e de um sistema de esgoto, provocou surtos de epidemias que mataram milhares de pessoas. A Peste Negra (link para anexo Peste Negra PRONTO), por exemplo, que se espalhou pela Europa, somente no período de 1348 a 1350, matou cerca de 20 milhões de pessoas. Além das pestes, nesta época, outras doenças provocavam altos índices de mortalidade: tuberculose, sífilis e infecções generalizadas provocadas pela falta de assepsia no tratamento das feridas. Bastante limitada, a medicina não tinha ainda desenvolvido tratamento adequado para muitas doenças. Além disso, as distancias, as dificuldades de locomoção e o número reduzido de médicos tornavam ainda mais crítica a situação dos doentes que na maioria das vezes eram atendidos em boticários ou curandeiras e se medicavam com ervas e rezas. Aliás, essas mulheres curandeiras, que a Igreja tratava como feiticeiras, também foram duramente perseguidas e mortas pela Inquisição, a partir do século XII. Mais dramática ainda era a situação das crianças, muitas vezes abandonadas em estradas, bosques ou mosteiros pelos pais, que não tinham como sustentá-las. Além disso, havia também grande número de órfãos, devido ao elevado índice de mortalidade no parto: a falta de higiene provocava a chamada febre puerperal, que causava a morte da mãe, e a incidência de blenorragia (doença sexualmente transmissível) muitas vezes contaminava o filho, causando cegueira. Numa população supersticiosa, que interpretava todos os acontecimentos naturais como expressão da vontade divina, a doença era vista como punição pelos pecados. Para se livrar desses pecados, as pessoas faziam então penitências, compravam indulgências e procuravam viver de acordo com os mandamentos da Igreja. Mas, como nem sempre conseguiam manter uma vida regrada, casta e desapegada das coisas e prazeres materiais, homens e mulheres viviam em constante preocupação com a morte e com o julgamento de Deus. Sendo praticamente a única referência para a população, em quase todos os assuntos, já que não havia Estados organizados e normas públicas, a Igreja assumia a tarefa de controlar e organizar a sociedade. Um exemplo: como não havia registro público dos nascimentos, o único documento da pessoa era o batistério (link para dicionário). Devido à elevada taxa de mortalidade infantil as crianças eram batizadas logo que nasciam, pois os pais queriam garantir para seus filhos um lugar no Paraíso. Os nomes dos bebês derivavam, em sua maioria, dos nomes de santos, de personagens da Bíblia ou dos avós ou amigos influentes, e em diversas regiões não se usava o nome da família. Também não existia casamento o casamento civil, como hoje, mas apenas um contrato entre as famílias dos noivos. Em geral, e principalmente entre nobres, o casamento era negociado pelas famílias de acordo com o seu interesse em aumentar a posse de terras, a riqueza e o poder, ou para fortalecer alianças militares. Os noivos não participavam desses acertos e, em muitos casos, só se conheciam no dia da cerimônia (a mulher, com cerca de 10 anos, e o homem com mais do dobro da idade dela). O casamento por amor, de verdade, só passou a existir na Europa por volta do século XVII. Geralmente, nas famílias nobres, só o filho mais velho secasava, e os outros se tornavam membros do clero ou cavaleiros errantes, que partiam para as guerras ou em busca de aventuras e fortuna, já que toda a herança dos pais era reservada para o filho primogênito. As mulheres que não se casavam iam para conventos ou se tornavam damas de companhia das casadas. O matrimonio só se tornou um sacramento da Igreja a partir de 1439, por decisão do Concílio de Florença, que também tornou o casamento indissolúvel e proibiu a poligamia e o concubinato. Para a Igreja, a única finalidade do sexo era a procriação e, por isso, os cristãos deveriam regular a frequência e os limites do ato sexual. Casamentos assim, sem que os noivos se conhecessem, acabavam abrindo espaço para grande número de relações extraconjugais, embora os padres ameaçassem os adúlteros com o “fogo do inferno”. Por isso, a literatura medieval é tão fértil em romances proibidos. 2.6 A VIDA COMO ELA ERA Nas famílias camponesas, todos trabalhavam muito. Além de cuidar das terras do senhor do feudo, homens, mulheres e crianças faziam à colheita, moíam os grãos e construíam pontes, estradas, estábulos e moinhos. Ao mesmo tempo, cultivavam seus lotes e cuidavam dos animais e dos trabalhos artesanais e domésticos. Os camponeses viviam em cabanas cobertas de palha, com piso de terra batida e a área interna escura, úmida e enfumaçada. Em geral as cabanas tinham apenas um cômodo, que servia para dormir e guardar alimentos e até animais. Os móveis, bastante rústicos, resumiam-se à mesa e bancos de madeira e os colchões de palha. No almoço ou no jantar, comiam quase sempre pão escuro e uma sopa de vegetais, legumes e ossos. Carne, ovos e queijo eram caros demais, só em ocasiões especiais. Em vários períodos houve falta de alimentos e a fome se espalhou por muitas regiões da Europa, vitimando, os mais pobres. Na mesa dos nobres, entretanto, não faltava uma grande variedade de peixes e carnes, quase sempre secas e salgadas, para se conservar durante o inverno. No verão, para disfarçar o gosto ruim e o mau cheiro da carne estragada, a comida era cozida com especiarias e temperos fortes, raros e exóticos, que vinham do Oriente, custavam caro e eram difíceis de obter. O açúcar, outra raridade, era considerado um luxo e usado até como herança ou para pagamento de dotes. O vinho era consumido em grande quantidade em quase todas as regiões, e os habitantes do norte da Europa também costumavam consumir a cerveja. VERONESE, Paolo. Bodas de Cana.1563. óleo sobre tela: color.; 6,66 x 9,90 cm. Museu do Louvre, Paris. As festas, em especial as de casamento, duravam dias com bebida e comida farta e diversificada: serviam-se vitelas, cabritos, veados e javalis, acompanhados de aves como cisnes, gansos, pavões, perdizes e galos. Havia também apresentação de cômicos, acrobatas, dançarinos, trovadores, cantadores e poetas, para diversão dos convidados. Os jogos e a bebida, bastante comuns nas tavernas de todas as cidades, atraíam os homens que consumiam muito vinho, jogavam dados e se envolviam em brigas e confusões. Por isso, os padres amaldiçoavam as tavernas, apontadas como antros de perdição, mas nem por isso conseguiram acabar com elas. Ao contrário, esses costumes se acentuaram cada vez mais, com o crescimento dos centros urbanos. Sujas e barulhentas, sem esgoto e sem água tratada, as cidades se tornaram focos de contágio e disseminação de doenças e pestes. Nas cidades, aglomeravam-se e conviviam todos os tipos de pessoas e profissões: ricos, comerciantes, taberneiros, artesãos, padeiros, relojoeiros, joalheiros, mendigos, pregadores, vendedores ambulantes, menestréis, etc. E na periferia das cidades, bastante discriminados pela maioria da população, viviam outros grupos: judeus, muçulmanos, hereges, leprosos, homossexuais e prostitutas, que estiveram entre os quais perseguidos e reprimidos pela Inquisição, a partir do século XII. Analfabeta, em sua maioria, a população falava a língua dominante em sua região de origem e os idiomas ainda hoje falados na Europa foi formada nessa época, em consequência dos contatos com pessoas e com línguas de origem germânica ou de outras regiões com o latim, a língua romana. Como não sabiam ler, essas pessoas só tinham acesso à literatura por meio de artistas que se apresentavam em público para ler e contar histórias, declamar poesias ou cantar e encenar espetáculos de teatro nas praças, ruas e tavernas das aldeias e cidades, muitas vezes durante as festas. As moradias dos nobres também se modificaram bastante, ao longo do tempo. Até o século XII, seus castelos se resumiam a uma torre, onde habitava a família do senhor, e eram feitos de madeira, sendo por isso mesmo muito vulnerável a incêndios e a ataques de invasores. A partir dos anos 1200, tornaram- se comuns as construções em pedra e tijolos e os castelos ganham novas dependências, como celeiros, estábulos, muralhas, fossos e torres de vigia, para sua defesa. A mobília também se sofisticou e os nobres passaram a usar tapeçaria e pratarias vindas do Oriente. 2.7 VESTUÁRIO MEDIEVAL As roupas e os sapatos da época eram bastante volumosos e escondiam quase inteiramente o corpo, especialmente o da mulher. As mais jovens até chegavam a revelar o colo, mas a Igreja sempre desaprovou os decotes. Pode-se dizer também que já existia moda, naquele tempo, com a introdução de novidades na forma de vestidos, chapéus, sapatos, jóias, etc. Vestuário básico das mulheres incluía roupa de baixo, saia ou vestido longo, avental e mantos, além de chapéus com formas as mais variadas (imitando a agulha de uma torre, borboletas, toucas com longas tiras) e exageradas (em alguns locais foi preciso alterar a entrada das casas para que as damas e seus chapéus pudessem passar). Na época, cabelos presos identificavam a mulher casada, enquanto as solteiras usavam cabelos soltos. As cores mais usadas pelas mulheres eram o azul real, o bordô e o verde escuro. As mangas e as saias dos vestidos eram bufantes e compridas. As mais ricas usavam acessórios, como leques e joias. http://www.sohistoria.com.br/ef2/medieval/p6.php Para os homens, o vestuário se compunha de meios longos, até a cintura, culotes, gibão (uma espécie de jaqueta curta), chapéus de diversos tamanhos e sapatos de pontas longas. Os tecidos variavam de acordo com a condição social dos cavaleiros, o clima, a ocasião e local e, nos dias de festa, por exemplo, usavam ricas vestimentas, confeccionadas com tecidos orientais, sedas, lã penteada e veludo. E festa é o que não faltava, o ano inteiro, nas feiras e nas datas religiosas e profanas da Europa Medieval. Tanto nos castelos quanto nas vilas, aldeias e cidades, em tempos de fartura, tudo era motivo para comer, beber e dançar, com fantasias, máscaras, procissões, muita alegria e até certos excessos. Os camponeses, apesar do sofrimento e a da penúria, gostavam de festas, danças e músicas. Várias danças folclóricas europeias originam-se de festas e danças populares medievais. BRUEGEL, Pieter. Dança dos camponeses. 1568. Óleo sobre madeira de carvalho: colorido; 114 x 164 cm. Museu Kunsthistoriches, Viena. 2.8 Algumas peculiaridades sobre a sociedade feudal OS CASTELOS Castelo da época do feudalismo Os senhores feudais moravam em castelos fortificados, erguidos em meio às suas terras. Até o século X, eram, geralmente, de madeira. Com o enriquecimento dos senhores feudais, os castelos passam a ser construídos de pedra, formandoverdadeiras fortalezas. Dentro dele viviam, monotonamente, o senhor, sua família, os seus domésticos e, em caso de guerra, todos os vassalos que ali se abrigavam do inimigo comum. O interior do castelo era amplo, mas frio, espartanamente mobiliado, oferecendo pouca comodidade. As únicas diversões eram, especialmente nos dias chuvosos, os cânticos dos jograis e as graças dos bufões. Em dias de sol, periodicamente, o senhor do castelo saía à caça, ou promovia torneios com cavaleiros vizinhos, disputando alegremente o jogo das armas. Os servos da gleba Os mais humildes dos vassalos eram os servos da gleba, que, de tão humildes, não tinham vassalos. Era o mais baixo degrau da sociedade feudal. Além de terem de lavrar a terra de seu suserano, davam-lhe o melhor de suas colheitas. Na guerra deviam lutar a seu lado, às vezes armados apenas com paus ou precárias lanças. Estavam sujeitos a prestar todo e qualquer serviço a seu senhor. Não podiam casar, mudar de lugar, herdar algum bem, se não tivessem a permissão de seu senhor. Moravam em miseráveis choupanas, nas próprias terras de seus suseranos. Ordálio Era o costume de submeter o acusado, de um crime a um perigo, para ver se era culpado. (Por exemplo: colocar a mão em água fervendo; segurar um ferro em brasa. Acreditava-se que, se inocente, Deus produziria um milagre, não deixando que algum mal acontecesse ao presumível culpado). A Igreja lutou contra esse costume, procurando extingui-lo. Os duelos Os nobres costumavam praticar o duelo, para resolver suas questões pessoais. Também contra isso lutou a Igreja, que procurou levar o julgamento dos crimes aos tribunais dos príncipes e senhores, a quem caberia administrar a justiça. A mulher A mulher na sociedade feudal era considerada um mero instrumento, máquina de procriação e objeto de propriedade e posse exclusiva do marido, seu amo e senhor. Não tinha qualquer direito, sequer o de escolher seu futuro marido e quando queriam se casar. O lendário cinturão da castidade Era um artefato de ferro ou de couro que os homens colocavam em suas mulheres e que tinha uma tranca (ou uma espécie de cadeado) para impedir que elas, na ausência de seus maridos, mantivessem relações extraconjugais. O cinto de castidade tinha apenas um orifício (não dois como desenham muitos historiadores e artistas plásticos que tentam resgatar o mito dessa odiosa peça) por onde saiam às fezes e a urina da mulher. O grande problema era que, por não poderem fazer sua higiene, as mulheres acabavam vítimas de infecções urinárias graves por Escherichia coli, uma bactéria que é constituinte da flora normal do intestino, mas que no sistema urinário causa uma infecção gravíssima e que pode causar nefrite, nefrose e levar à morte. Muitas morriam ainda muito jovens por causa desse tipo de costume. A homossexualidade Praticamente não existiam homossexuais declarados e assumidos na idade média, pois a Igreja Católica os punia severamente e, diante do quadro de horrores a que estavam sujeitos, nenhum homem se declarava homossexual ou assumia sua condição e opção sexual. Hábitos A higiene na idade média era o ponto fraco, tanto que possibilitou o alastramento de doenças que quase dizimaram com toda a Europa medieval, especialmente a Peste Negra (peste bubônica) que exterminou quase dois terços da população. Alimentação Basicamente carne de caça, alguns animais domésticos e vegetais. Lazer A diversão dos homens, cavaleiros, suseranos, servos eram, em grande parte os duelos e das mulheres, cuidar dos filhos. Capitulo 3 - História Cultural 3.1 O QUE É HISTÓRIA CULTURAL? Para o autor, Peter Burke, história cultural no mundo de hoje, enfatiza, que as distinções culturais são mais importantes que as politicas econômicas, afirmando que desde o fim da Guerra Fria, “o que vemos não é tanto um conflito internacional de interesses, mas um choque de civilizações O Renascimento marcou o movimento cultural na Europa entre os séculos XV e XVI, buscando na atividade humana os reflexos nas artes e nas ciências. Neste movimento, podemos destacar as cidades italianas que foram pioneiras no movimento intelectual que permaneceu até o meado do século XVII. Este movimento renascentista, também, encontra-se marcado pela transição de uma mentalidade teocêntrica , ou seja, colocava Deus no centro da reflexão humana, a uma mentalidade antropocêntrica, que tinha o homem como centro. Desta maneira, o reconhecimento e a crença na capacidade e no valor do ser humano cresceram contrapondo-se à visão do mundo medieval. 2 Mecenas: eram ricos e poderosos comerciantes, príncipes, condes, bispos e banqueiros que financiavam e investiam na produção de arte como maneira de obter reconhecimento e prestígio na sociedade. 3.2 FATORES QUE INFLUENCIARAM O RENASCIMENTO Com a chegada dos europeus na Ásia, o comércio e a diversificação do contato mercantil de produtos, contribuíram para a ampliação do comércio, acumulando riquezas e fortunas para os governantes europeus. Assim, o clero começou a dar proteção e ajuda financeira aos artistas e intelectuais da época. Com essa ajuda, os governantes tinham por objetivo fazer com que os mecenas2 se tornassem mais populares entre as populações onde atuavam. A Manifestação do Renascimento O comércio passou a se desenvolver na Península Itálica e na Flandes, que originou em grande local de produção artística. Assim, como Veneza, Florença e Génova tiveram um expressivo movimento artístico e intelectual. Portanto, a Itália é considerada um lugar de tradição cultural e artística fruto da herança da cultura greco-romana. A Literatura no Renascimento A Literatura no Renascimento considerou as obras clássicas como: Erasmo de Roterdão, Nicolau Maquiavel, Cervantes, Shakespeare e Luís de Camões nos géneros literários. Fizeram, no entanto, uma imitação criativa e inovadora. Para a difusão destas obras literárias também contribuiu a descoberta da imprensa (Gutemberg, meados do século XV). A Ciência no Renascimento Não só o homem se encontrava no centro das preocupações renascentistas, porém a natureza também era objeto de conhecimento. O homem ideal seria aquele que procurasse a compreensão e o domínio do homem e da natureza através das artes, mas também das ciências, numa crença nas capacidades da razão humana para decifrar os enigmas do mundo. O saber renascentista assentava assim numa mentalidade racionalista, ou seja, só se considerava válido o conhecimento que, comprovado pela observação e pela experiência humana, pudesse ser explicado de forma racional e inteligível. Nesta época promoveu-se o desenvolvimento de vários domínios do saber como a Astronomia (Nicolau Copérnico - teoria Heliocêntrica), a Medicina (Anatomia do corpo humano), a Matemática (Pedro Nunes - O Tratado da Esfera), a Geografia (Duarte Pacheco Pereira - Esmeraldo de Situ Orbis),a Botânica (Garcia da Orta – Colóquio dos simples e Drogas das Cousas Medicinais da Índia) e outras. Arte no Renascimento A arte renascentista inspirou-se nas obras greco-romanas classistas. Na arquitetura renascentista, a ocupação do espaço pelo edifício baseia-se em relações matemáticas estabelecidas de tal forma que o observador possa compreender a lei que o organiza, de qualquer ponto em que se coloque. Principais características Abóbadas de Berço Arcos de Volta-Perfeita Frontões nas portas e nas janelas Pilastras e colunas encimadas por capiteisclássicos (dóricos, jónicos ou coríntios) Cúpulas Ideal da simetria absoluta Ponto de Fuga Os principais arquitetos renascentistas Brunelleschi É um exemplo de artista completo renascentista, pois foi pintor, escultor e arquiteto. Realizou importantes trabalhos de arquitetura, entre eles a cúpula da catedral de Florença e a Capela de Pazzi. Giuliano de Sangallo Foi um dos mais famosos arquitetos renascentistas. Realizou trabalhos importantes como a Igreja de Santa Maria Delle Carceri e a Basílica de S. Pedro. PINTURA A pintura teve como objetivo fundamental a imitação da Natureza tal como os olhos a observam – naturalismo -, embora, por vezes, os artistas procurassem embelezar eliminando um ou outro aspecto menos agradável, de forma a que as suas obras provocassem o êxtase/fascínio dos seus admiradores. Principais características Perspectiva Técnica do Sfumato Retrato A temática Clássica O volume A inserção na Natureza Serenidade Inicia-se o uso da tela e da tinta a óleo Principais pintores do Renascimento Botticelli Van Eyck Leonardo da Vinci Miguel Ângelo Rafael Piero della Francesca ESCULTURA O conhecimento da anatomia permitiu no campo artístico, uma melhor representação do corpo humano, com o cálculo rigoroso das proporções. A perspectiva geométrica e o sistema das proporções modificaram, completamente, o trabalho dos artistas. A escultura deixou de estar ao serviço do sagrado, adquirindo autonomia. Principais Características Deixa de ser apenas um ornamento de edifícios Recupera a representação do nú Estátuas equestres Interesse pela figura humana Conjunto marcado pela monumentalidade e pela proporção Conjunto marcado pela sua concepção e geometria Principais escultores do Renascimento Miguel Ângelo Donatello 3.3 TEXTO COMPLEMENTAR: HISTÓRIA CULTURAL: ORIGENS, CONCEITOS E CRÍTICAS Para Burker, a denominada história cultural é uma das práticas historiográficas mais comuns e difundidas nos dias de hoje. Mas, apesar de seu sucesso, seus conceitos e sua história não possuem uniformidade entre os historiadores. Procuraremos neste ensaio analisar as diferenças e as semelhanças nas suas interpretações. O termo nova história cultural foi difundido a partir dos anos 1980, mas entre alguns autores que analisaram a sua definição, ela possui dois eixos de identificação: os que defendem que está ligada diretamente, como herdeira e ao mesmo tempo questionadora, de uma história cultural que tem raízes desde o século XVIII; em segundo, aqueles que acreditam que este “movimento” possui raízes mais recentes, vinculadas objetivamente na tradição historiográfica francesa, conhecida como história das mentalidades, surgida após os anos 1960. Examinaremos cada uma em detalhes. Em seguida, concederemos um panorama sintético dos debates conceituais envolvendo a disciplina, e por último, algumas críticas teóricas e metodológicas efetuadas tanto pelos opositores como pelos adeptos da nova história cultural. No final dos anos 1980, o historiador britânico Peter Burke realizou uma conferência no Brasil, onde procurava determinar os mais recentes paradigmas da historiografia, especialmente os advindos da França e relacionados aos Annales. Sob o epíteto de “a nova história”, caracterizou esta tendência como algo situado entre a história total e a estrutural. Esse movimento seria basicamente ocasionado por uma crise geral dos paradigmas, especialmente concentrados em algumas críticas: a política pensada além das instituições e a história pensada além da política; uma preocupação maior com as estruturas do que com a narrativa dos acontecimentos; deslocamento do interesse pela vida e obra dos grandes homens e grandes datas para as pessoas e acontecimentos comuns; a necessidade de se ir além dos documentos escritos e registros oficiais; a história não seria objetiva, mas sujeita a referenciais sociais e culturais de um período. Tentando determinar como e de que maneira surgiu essa nova história, Burke retorna ao início dos Annales, com Bloch e Febvre e sua oposição aos rankenianos, para em seguida ir ainda mais para trás, chegando a Jacob Burckhardt e aos acadêmicos do século XVIII que pensavam a história muito além da política, considerando as maneiras de pensar de uma sociedade, o chamado “espírito da época”. Na realidade, Burke estava sendo influenciado naquele momento pela obra de Jacques Le Goff, que publicou uma coletânea em 1978 com o nome de A Nova História. Para Le Goff essa denominação remetia essencialmente a uma continuidade da historiografia francesa, onde os analistas ocupavam uma posição central, em pelo menos três gerações de pesquisadores oferecendo novas perspectivas metodológicas, temáticas e problematizadoras - toda forma de história nova seria uma tentativa de história total, sendo a mais fecunda das perspectivas a longa duração. Posteriormente, em 1991, o texto de Burke foi modificado para servir de introdução ao livro A escrita da História, publicado três anos depois de sua palestra inicial. Nele, as recentes tendências investigativas recebiam influências de outras partes, como Inglaterra e Estados Unidos e questões como a do relativismo cultural, a micro história e o construtivismo apontavam direcionamentos muito além da tradição francesa. Um pouco antes da publicação do livro de Burke, em 1989, a historiadora norte- americana Lynn Hunt realizou uma coletânea utilizando o termo que definiria e popularizaria esta tendência historiográfica em ascensão: a nova história cultural. Segundo Hunt, além da terceira e quarta geração dos Annales, o interesse pelas práticas simbólicas foi também enfatizado por autores marxistas, antropólogos, críticos literários (narrativa e linguagem) e filósofos (análise do discurso), todos apontando que as relações econômicas e sociais são campos de produções culturais. Também os documentos não seriam simples reflexos transparentes do passado, mas ações simbólicas com significados diferentes conforme os autores e suas estratégias. Era o início da supremacia dos estudos culturais na historiografia. Em outro texto publicado em 1997, novamente procurando definir as origens da história cultural, Peter Burke se distancia muito mais de uma ligação direta e única com a historiografia francesa. Tentando se desvincular de uma perspectiva linear e de continuidade, ele recorre aos antecedentes dos motivos culturais na Europa, ainda com os humanistas do Renascimento, estudando a língua e a literatura, até chegar à história da música e das artes durante o Setecentos. Durante o século XIX, surge o que ele denomina de história cultural clássica, especialmente na Alemanha, onde se percebe um interesse das elites pela cultura – aqui como sinônimo de arte, filosofia e literatura. Com relação aos historiadores da primeira metade do século XX, aponta algumas deficiências em comum: ignoram a sociedade e a economia; seu postulado de unidade cultural é injustificado; a ideia de tradição é muito tradicional e fixa e o conceito de cultura é equiparado com o produzido pela elite. Essas ideias seriam aprofundadas e organizadas em uma concepção mais esquemática, no livro O que é história cultural? Publicado em 2004. Aqui Peter Burke concebe quatro fases para esse movimento historiográfico: a fase clássica, durante o Oitocentos; a história social da arte na década de 1930; a história da cultura popular nos anos 1960; e finalmente, a nova história cultural posterior aos anos 1970. Entre todos os antecessores, dois mereceram maior atenção com seus clássicos: Jacob Burckhardt (A cultura do renascimento na Itália, 1860) e Johan Huizinga (O outono da Idade Média,1919), mas também a obra de Aby Warburg e Ernest Gombrich, ambos trabalhando com a noção de esquemas ou fórmulas culturais de origem psicológica, que foram fundamentais para as gerações seguintes. Mas a maior influência acadêmica que Burke aponta para o surgimento da história cultural praticada durante a década de 1970 e 1980, teria vindo das confluências com os estudos de antropologia, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. Com uma perspectiva mais restrita ao âmbito francês, um estudo de Ronaldo Vainfas e outro de Roger Chartier, vinculam diretamente o surgimento da nova história cultural como resposta e continuidade à história das mentalidades. Esse movimento recusaria o conceito de mentalidades, o considerando muito fluido, ambíguo e pouco preciso, sem articulações entre o psicológico e o social. Mas não negam o mental, nem os vínculos com a antropologia e a longa duração: “É lícito afirmar, portanto, que a história cultural é, neste sentido, um outro nome para aquilo que, nos anos 1970, era chamado de história das mentalidades”. Outros dois elementos vão caracterizar a nova história cultural: a preocupação com o resgate do popular e a busca pelo coletivo (estratificações e conflitos). Mas, reafirmando seu caráter plural e a multiplicidade de enfoques, Ronaldo Vainfas apresenta ao menos três vertentes atuais: 1. A praticada por Carlo Ginzburg, com suas noções de cultura popular e circularidade cultural; 2. A história cultural de Roger Chartier e seus conceitos de representação e apropriação; 3. A produzida por Edward Thompson e seus estudos sobre movimentos sociais e cotidianos das classes populares. Seguindo esta mesma perspectiva de que a nova história cultural foi criada em torno da oposição dos conceitos da história das mentalidades, Roger Chartier questiona o posicionamento de Lynn Hunt de 1989 – de que este movimento historiográfico seria unificado e coerente. Para Chartier, a diversidade dos objetos de investigação, das perspectivas metodológicas e os conceitos teóricos apresentam, pelo contrário, um movimento totalmente sem unidade de abordagem, mas construído em torno de um intercâmbio de debates, especialmente recusando a redução da história a uma só dimensão e o primado político-social na historiografia. A mais recente reconstituição histórica também é originada de um francês, mas ao contrário de Roger Chartier e Ronaldo Vainfas, percebe o movimento concomitantemente em torno de dois eixos de estudos culturais, um anglo-saxão e outro francês. O estudo de Pascal Ory entende a prática de história cultural, no caso francês, situada à margem da denominada história das mentalidades, vinculando o movimento a partir do artigo teórico de Georges Duby, Histoire culturelle, originalmente de 1969, mas republicado na coletânea Por une histoire culturelle (1997). Emblemático, o texto de Duby conclama para um inventário do fenômeno cultural, seus símbolos e signos, vocabulários, gestos rituais, enfim, da relação entre os mecanismos mentais e sua articulação em um imaginário de base histórica. Mas apesar de sua importância, o texto de Duby foi pouco conhecido e comentado, num período em que os debates sobre a estrutura eram centrais na historiografia francesa. Foi somente a partir dos anos 1980 que as perspectivas antropológicas e culturalistas teriam penetrado de forma incisiva na academia da França. Na tradição anglo-saxônica, os estudos deste tema teriam se iniciado com a contrapartida britânica do artigo de Duby, Em busca da história cultural, de Ernest Gombrich, publicado em 1969, seguido de diversas obras de Natalie Zemon Davis, Peter Burke e Robert Darnton. Os conceitos Sendo originadas de diferentes heranças e tradições, a nova história cultural vem privilegiando objetos, domínios e métodos bem diferentes, sendo difícil realizar um levantamento completo. Assim, identificaremos algumas questões comuns, lembrando que as abordagens são diversas. São as matrizes que geram as práticas sociais e os comportamentos, que dão coesão e explicação para a realidade. Geram identidade tanto para o indivíduo quanto para o grupo e são portadoras do simbólico, que é construído social e historicamente – portanto, a “realidade do passado só chega ao historiador por meio de representações”. Para Chartier, o conceito de representação permite articular três modalidades da relação com o mundo social: a delimitação e classificação das múltiplas configurações intelectuais; as práticas de reconhecimento de uma identidade social; as formas institucionalizadas que marcam a existência de um grupo. Assim, não existem práticas ou estruturas que não sejam produzidas pelas representações. Todo tipo de narrativa pode ser lida culturalmente, além das formas, sendo que o leitor pode participar da construção de seu sentido, originando a historicidade dos textos. Para a historiadora Sandra Pesavento, isso acabou englobando até mesmo as narrativas do passado como sendo representações, sendo a história cultural “uma representação que resgata representações, que se incumbe de construir uma representação sobre o já representado”. E a partir daí, passou-se a empregar um novo conceito, o de imaginário, que seriam as ideias e representações de uma determinada época, criadas para dar sentido ao mundo. Com isso, pesquisadores como Jacques Le Goff e Cornelius Castoriadis pensam que todo o campo da experiência humana pode ser abarcado pelo imaginário. Mas, o historiador britânico Peter Burke, ao contrário de Sandra Pesavento, percebe que houve um movimento contrário – primeiro ocorreram as teorizações do imaginário social, para em seguida passar-se às ideias de representação e construtivismo na nova história cultural. Inicialmente os estudos de imaginário tiveram dois trabalhos paradigmáticos na historiografia francesa, a obra As três ordens ou o imaginário do feudalismo (1978), de Georges Duby, e O nascimento do purgatório (1981), de Jacques Le Goff. Estes trabalhos pensavam como as representações tiveram o poder de modificar a realidade, não sendo simples reflexos da estrutura social. Para Burke, com o tempo, os conceitos de imaginário e representação tornaram-se limitados, e os historiadores culturais passaram a pensar que toda a realidade era produzida por meio de representações – portanto uma influência das ideias construtivistas, comuns na filosofia e crítica literária, atrelada também a outros conceitos pós-modernos, como o relativismo e o subjetivismo. É a construção social da realidade, não existindo praticamente o indivíduo e o mundo real fora das representações. Tradicionalmente, os historiadores trataram a cultura popular como um sistema simbólico coerente e autônomo, enquanto outros, dependentes de um sistema de dominação e desigualdade social, compreenderam a cultura popular a partir de suas dependências em face à cultura dos dominados. No primeiro caso, a cultura popular é pensada como independente, e no segundo, totalmente definida pela sua distância em relação aos dominantes. Assim, Carlo Ginzburg definiu seu conceito de cultura popular tanto pela oposição à cultura letrada, mas ao mesmo tempo, pela relação que mantém com a cultura dominante, filtrada pelos seus próprios interesses e valores. Para Roger Chartier, houve uma recusa nestes esquemas categóricos. O poder dos modelos culturais dominantes não anularia a recepção dos dominados, sendo que na distância das normas e dogmas, existem as resistências e apropriações, campo próprio das tradições partilhadas. Chartier rejeita o modelo ginzburgiano de dicotomia da cultura popular/cultura erudita, adotando uma visão mais abrangente e não homogênea de cultura. Alguns antropólogos aceitam que as culturas populares não são totalmente dependentes, nem completamenteautônomas, nem simples imitações ou totalmente criativas. Como qualquer cultura, elas não são homogêneas e são construídas em uma situação de dominação, por serem grupos sociais subalternos. Adotando certa influência de Chartier, mas percebendo que é impossível abandonar o modelo binário de popular e erudito (sem eles seria difícil analisar as interações), Peter Burke recomenda o seu emprego sem muita rigidez, colocando os dois termos em uma estrutura mais ampla. No mundo contemporâneo, existem duas crises relacionadas entre si e que influenciaram muitos dos debates da nova história cultural: a da modernidade e a crise da História. A primeira é referente às problemáticas elaboradas após os anos 1960 à cultura moderna, à visão racionalista de origem oitocentista sobre a História e as raízes iluministas sobre o conhecimento da realidade. A crise da História seria relacionada tanto ao seu objeto quanto as suas formas tradicionais de conhecimento e método. Em ambas houve as críticas sobre o conhecimento “real” (objetivo) da natureza. Quanto ao linguistic turn (giro ou virada lingüística), situado também após os anos 1960, seria o encontro de diversas correntes teóricas que tinham como pressuposto comum, a filosofia da linguagem: Hayden White, Michel Foucault, Michel de Certeau, Ankersmit, Paul Veyne, entre outros, tendo essencialmente a ideia de que “nada existe fora do texto ou da linguagem”. A maior influência metodológica destas assertivas foi de que as fontes passaram a ser vistas não mais como textos inocentes e totalmente transparentes, sendo escritas com diferentes estratégias e finalidades. Contra esse uso incontrolado do referencial de texto, alguns historiadores culturais conclamaram que a experiência não pode ser reduzida à ordem do discurso. Natureza e realidade estão imbricadas a toda experiência narrativa, sendo que “o que está fora do texto, está também dentro dele” e o combate da noção de prova histórica como sendo positivista seria um ponto de vista totalmente ingênuo dos pós-modernistas. Os dados empíricos devem ser investigados em sua interação com a narrativa. E nem sempre as estratégias dos discursos são totalmente parecidas com os processos práticos, pois as linguagens disponíveis são mais limitadas que os recursos que os indivíduos e os grupos sociais possuem. Na prática histórica dos dias de hoje, exige-se a compreensão conjunta de como os discursos constroem as relações de dominação, e como eles mesmos são dependentes de interesses contrários, separando o poder de legitimação das representações que asseguram a submissão. Para os novos historiadores culturais, as relações econômicas, sociais e mentais são campos de práticas e produções culturais. As práticas envolvem todo o espaço da experiência vivida e a cultura permite ao indivíduo pensar essa experiência, ou seja, criar as formulações da vivência. Todo simbolismo é fator de identidade, e toda cultura é cultura de um grupo: “a história é, ao mesmo tempo e indissociavelmente, social e cultural”. Assim, o estudo das práticas tornou-se um dos paradigmas da nova história. Ao invés de se estudar apenas as instituições, as correntes filosóficas, teológicas, as teorias, parte-se para a história da experiência humana em todos os seus sentidos. Dentre todos os campos investigados, a prática religiosa é uma das que mais vem preocupando os especialistas em história das religiões, por exemplo. Mas entre as formas mais populares da história das práticas, certamente é a história da leitura, passando por pesquisadores como Carlo Ginzburg, Michel de Certeau e principalmente, Roger Chartier. Imbricada a este campo, são os estudos da vida cotidiana, sendo a encruzilhada de abordagens recentes da sociologia e da filosofia. Ambas têm como ponto em comum o mundo da experiência humana, sendo os comportamentos e valores aceitos como centrais em uma sociedade. Atualmente os historiadores tentam abordar as regras latentes da vida cotidiana, indo de encontro tanto da história social quanto à cultural. O cotidiano inclui ações, atitudes, hábitos e rituais. O desafio maior aos pesquisadores é tentar determinar as relações entre as estruturas do cotidiano com as mudanças e os grandes acontecimentos: “o cotidiano só tem valor histórico e científico no interior de uma análise de sistemas históricos que contribuam para explicar seu funcionamento (...) fórmula vazia que a cada época serve para preencher um conteúdo diferente”. As maiores críticas externas à prática da nova história cultural vieram inicialmente, de autores vinculados a um referencial marxista, como Ciro Flamarion Cardoso. Inicialmente, ele considera que os usos dos conceitos de cultura são polissêmicos demais e muitas vezes, totalmente opostos. Mas também as aplicações da metodologia antropológica seriam diferenciadas, conforme o autor. A principal ideia que Cardoso mantém sobre a história cultural, especialmente a francesa, é de seu radicalismo: que o conhecimento humano não passaria de um conjunto de ideias e representações, sem base material, econômica e social. Cardoso não nega o valor e a importância das produções simbólicas, mas considera que elas são criadas a partir de respostas sociais e materiais a eventos de ordem histórica e não podem fazer parte de uma natureza humana (que é irreal e idealizada) e desprovida de dimensão histórica. Apesar de se concentrar bibliograficamente na tradição francesa, como em Roger Chartier, o historiador Ciro Cardoso muitas vezes generalizou o movimento da nova história cultural como derivado diretamente do pós-modernismo. Um e outro seriam indissociáveis, especialmente nas questões de relativismo, subjetividade e construtivismo. Na realidade, o autor acaba omitindo os referenciais de outros importantes expoentes, como o britânico Peter Burke e o italiano Carlo Ginzburg, este último radicalmente oposto ao não realismo epistemológico contemporâneo e à virada linguística. Outro historiador brasileiro, Ronaldo Vainfas, percebeu com mais sutileza a pluralidade desta prática historiográfica, mas do mesmo modo que Cardoso elaborou críticas teóricas para a vertente francesa. O referencial de representação de Roger Chartier, faz com que o social só tenha sentido dentro das práticas culturais, nos símbolos de construção da realidade, enfim, o que Vainfas denomina de ‘tirania do cultural”. Os excessos do conceito de representação também foi percebido por outro historiador, Pierre Vilar, que considera válido ao historiador recuperar os diferentes sentidos sociais que as simbolizações ocupam nos mais variados espaços temporais. Quanto às críticas internas, elas vieram logo em meados dos anos 1980. Lynn Hunt enfatizou a falta de teorias unificadas e programas objetivos. Peter Burke neste período, enumerou pelo menos quatro campos de problemas. Primeiro, com as definições, ocasionadas por campos inéditos aos historiadores, como em relação à cultura popular: quem é o povo? Quais são suas fronteiras ou divisões? Com relação às fontes, como superar as limitações das fontes escritas e oficiais? Os dois últimos problemas seriam a falta de explicações e sínteses, devido à fragmentação disciplinar que a história se encontrava nesta época. Seis anos depois, em 1997, Burke reforçava as críticas para os exageros da teoria das representações e do construtivismo: “A invenção jamais está livre de coerções”. O problema essencial para os historiadores, segundo ele, seria “revelar uma unidade subjacente sem negar a diversidade do passado”. Mas ao mesmo tempo, evitar cair em uma excessiva simplificação – a de que as culturas são homogêneas, sem diferenças ou conflitos. Um dos mais completos balanços internos do movimento, porém, foi publicado por Burke em 2004. Entre os vários pontos de discussão, elealega que a ideia de construção cultural, apesar de ter sido uma saudável reação contra o determinismo social e econômico, em alguns casos foi muito excessiva. Outros pontos já haviam sido detectados antes, mas agora haviam se tornado mais claros, entre eles a falta de definição de cultura e dos métodos a serem seguidos, além do perigo de fragmentação. Apesar das conquistas do construtivismo cultural, seria necessária uma história social da cultura: “Pode ter muito bem ter chegado o tempo de ir além da virada cultural (...) A NHC pode estar chegando ao fim de seu ciclo”. No Brasil, alguns historiadores diretamente envolvidos neste movimento historiográfico, como Sandra Jatahy Pesavento, apresentam nítidas contradições. De um lado, defende o conceito de que história é uma forma de ficção controlada – influenciada objetivamente por Hayden White e a virada lingüística – mas em questões metodológicas, nega qualquer tentativa de apagar as fronteiras entre história e literatura ou mesmo de que é impossível o distanciamento entre o pesquisador e seu objeto, como apregoa o subjetivismo pós-modernista. Ao mesmo tempo, defende o caráter científico da disciplina, o que é inviável dentro deste contexto de “sensibilidade do indivíduo”. Concordando com vários posicionamentos de Ciro Cardoso, o historiador Ronaldo Vainfas reitera que a história pós-modernista exagerou, criando uma justificativa contrária ao determinismo da estrutura, porém, também radical, a de “teorias voluntaristas da consciência”, incapazes de fornecer generalizações consistentes. Os embates dos paradigmas continuam, e mais do que nunca, podemos afirmar que a prática da nova história cultural vem apresentando inovações, contribuições extremamente importantes para a historiografia, mas que não são uníssonas, unindo pesquisadores díspares e de influências variadas. Bibliografia: Fonte: Revista de História. 3 Luthier: Luthier é uma palavra de origem francesa, que significa "fabricante de alaúde".Com o passar do tempo, a palavra passou a designar a profissão de todo aquele que constrói um instrumento musical, apesar de muitos não concordarem com esse uso genérico, achando que ela deve ser associada apenas aos que fabricam artesanalmente instrumentos de corda. No Brasil o profissional que conserta instrumentos musicais também é chamado de luthier, mesmo não fabricando nenhum tipo de instrumento. Na verdade a luteria é uma arte que agrega conhecimentos de outras artes, marchetaria, marcenaria, desenho, química, pintura, matemática, eletrônica, etc. Um bom luthier deverá ainda, dominar várias técnicas de construção do instrumento. Capitulo 4 – Mediadores culturais do final do século XIX 4.1 Batuque – Cacá Machado (história e música no Brasil) Para historiadores que têm a história da cultura no horizonte e, mais especificamente, a colocam em diálogo com as diversas linguagens artísticas como a música, as afirmações de Marc Bloch ( historiador francês do século XX ) são de uma atualidade extraordinária e alento para continuar persistindo neste diálogo. Mas, provavelmente, é a metáfora do luthier 3a mais sugestiva para os historiadores que têm a música como objeto de suas pesquisas. A sugestão de Marc Bloch é claramente dirigida à linguagem escrita, mas é possível dar um passo adiante e ampliar para o registro dos sons. Isto e, para os historiadores que têm interesse pela música não basta somente a linguagem escrita para compreender e traduzir o passado; ele tem que levar em conta os sons desse passado e sua escuta no presente. Claro que por diversos motivos, esta não é uma tarefa simples, já que na maioria das vezes esses são impossíveis de serem recuperados ou escutados pelo historiador. Como uma arte do tempo que desaparece no mesmo ano de sua execução, resta a ela registrar-se em primeiro lugar na memória, depois na linguagem e notação para não se perder. Com a capacidade da memória musical reduzida e, principalmente, sem conhecer a linguagem, a notação e a teoria musical, é difícil para o historiador penetrar neste universo intrincado e desconhecido. Essa linguagem exige especializações técnicas evidentes- que a distingue das outras artes. No século XX, o desenvolvimento da “musica em conserva” materializada nos fonogramas significou enorme impacto e transformou profundamente os processos de memorização, registro, divulgação e reprodução da música, criando um novo mundo de sons, técnicas, sociabilidades e escutas. Ao lado das inumeráveis fontes indiretas, o fonograma, mas aparecem assim como recurso valioso e mais acessível para o historiador chegar aos sons do passado. Porém, seria a 4 Oitocentista: adjetivo de dois gêneros (relativo ao século XIX entre 1800 a 1899) escritor ou personagem patidario da arte dessa época. Fonte: Dicionário Houaiss. associação de todos esses elementos, certamente em condições desiguais e distintas a depender da época e temática abordada pelo historiador, que nos levariam à “sensibilidade dos sons” do passado. Além das dificuldades de lidar com objeto evanescente, com a tecnicidade da linguagem musical e as suas fontes, campos do conhecimento próximos da História assumiram melhor, durante décadas, a tarefa de compreender a construção, o funcionamento e a difusão da música na sociedade. Todas elas surgiram no século XIX em razão do tardio ingresso da musica e dos músicos no universo do “belo artístico”, até então restrito às artes visuais e plásticas. Nessa época, na Europa o músico deixou de ser simples artesão e transformou-se em artista individual do mesmo modo que a música europeia transitou da condição manufatura funcional para liturgias religiosas e das cores, e simples entretenimento cortesão, para tornar-se obra artística única. Nestas condições a música pôde, então, ser compreendida como fenômeno artístico e cultural pelos novos conhecimentos em forma de disciplina que surgiam no século XIX. A musicologia, bem de acordo com essa mentalidade oitocentista4, surgiu com a pretensão de ser a “ciência da música”, com o objetivo de entender e explicar cientificamente o discurso interno da linguagem musical. Para esboçar os limites de uma história da música, a musicologia deveria tratar também dos estilos, gêneros artistas e sua coletividade. A sociologia da música aparece neste quadro, concorrendo com as pretensões de compreender a música para além das análises formalistas internas da linguagem e apresentando caminho diverso da natureza dos sons e suas linguagens. A etnomusicologia seguindo o caminho de pensar sobre uma correspondência direta com o individuo e a sociedade, levando em conta os modos como eles organizavam os sons em forma de música, como a produziam, divulgavam e criavam gostos, surgiu um pouco mais tarde, com o objetivo de entender a música da cultura e para além do horizonte eurocêntrico da “musica culta”, abrindo espaço para as músicas populares orientais, africanas, indígenas e mesmo as europeias. A história da música como área especifica é a mais jovem das histórias da arte, cuidou da abordagem no tempo da música, classificando épocas e estilos, determinando a linearidade dos gêneros e exaltando os grandes artistas e suas obras, produzindo uma historiográfica muito tradicional de gênero predominante biográfico. “Bem, recentemente apoiando-se em um conceito mais moderno de arte”, ela passou a incluir autores e obras “mais triviais” e permitiu o surgimento de uma “historia social da musica”. O historiador de ofício manteve-se distante da música e dos sons, talvez por essas razões, poucos
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