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CRIMINOLOGIA Noções Básicas – 1 – Definição (Antonio Garcia-Pablos de Molina) – “Ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social” Franz Von Lizst – Propôs que a ciência penal seria tripartida em direito penal, criminologia e política criminal. No que a criminologia se diferencia das outras duas? Em relação ao método. O direito penal e a política criminal se ocupam dos mesmos objetos, mas o método da criminologia é diverso. O criminólogo acumula conhecimentos de várias áreas para tentar entender o fenômeno criminal. Sua aproximação com a realidade não se dá através da lente da lei. O método do direito é dedutivo (há uma lei geral que se aplica ao caso). O método da criminologia é empírico e indutivo, pois o contado com o objeto é imediato. A política criminal não tem um método próprio. É uma estratégia de ação política orientada pelo saber criminológico. Escolha e poder. Objeto. 1. Crime: Para o direito penal, o crime é o ato típico, antijurídico e culpável. Para a criminologia, esse conceito é insuficiente. Shecaira propõe outros elementos do crime que favoreçam sua compreensão pelo criminólogo. O fato será criminalizável se atender a esses requisitos. a) Incidência aflitiva (produção de sofrimento). (ex – lei 4888/65, proíbe a utilização da expressão “couro sintético” – pg 45 do livro). b) Incidência massiva. Fato que se repete, não isolado. (Ex. Lei 7643/87 – Molestar cetáceo) c) Persistência espaço-temporal – (ex. Lei geral da Copa – tipos penais de falsificação do logo da FIFA, com vigência até 31 de dezembro de 2014) d) Inequívoco consenso quanto à efetividade da intervenção penal – Pensar no consumo de álcool – drogas, aborto – a intervenção penal lesa o bem-jurídico, em vez de protegê-lo. 2. Criminoso. O que é? Concepções criminológicas: a) ente biológico? – Antropologia criminal, criminologia clínica, paradigma etiológico – exame criminológico? b) Ente sociológico? – Teorias sociais: fatores sociais que levam ao crime – pobreza? desestruturação familiar? – perigo de estigmatização da pobreza. c) Ente jurídico? Teoria da rotulação social – é criminoso quem a lei disser que é. Não existe realidade ontológica no crime, o desvio é gerado pela lei. d) Ente político (Thompson) – o d. penal exerce funções ocultas. Criminalização dos movimentos sociais. Política do medo. Ex – Cracolândia – transformou-se uma questão de saúde em uma questão criminal. 3. Vítima. - Direito romano – proibição da autotutela. O conflito é subtraído das mãos da vítima e o Estado se substitui às partes. A insuficiência desse modelo passou a ser constatada no pós-2ª Guerra Mundial, especialmente pela comunidade judaica. Preocupação com a vítima. Benjamin Mendelsohn – 1º vitimólogo – Professor da Universidade Hebraica de Jerusalém – “Um horizonte novo na ciência biopsicossocial: a vitimologia (1947). Israel Drapkin – 1ª Conferência de vitimologia (anos 70). Discussão atual – Lei Maria da Penha 11.340/06 – Retira ou dá voz à vítima? A lei é ou não paternalista? 4. Controle Social. Não se resume à repressão penal (Prisão e Polícia). O controle poderá ser formal ou informal. Formal – proveniente de fonte estatal. Imediatamente penal ou não. Políticas públicas são uma espécie de controle formal (iluminação pública, complementação de renda, lazer). Quanto ao controle informal, têm-se fatores econômicos, religiosos, tradicionais etc. Objeto da aula – escolas do consenso (creem no crime como ente real – pergunta – por que as pessoas cometem crimes? E não porque alguns fatos e pessoas são criminalizadas?) Nascimento da Criminologia – Escola positiva italiana ou antropologia criminal – período semi-científico (esforço científico, mas com equívocos metodológicos muito profundos) Não há consenso quanto ao momento de nascimento da criminologia. Jorge Figueiredo Dias e Manoel da Costa Andrade sustentam que o nascimento teria sido pela via da publicação de “Dos delitos e das penas” de Beccaria (1764). Shecaira e LFG e Antonio Garcia-Pablos de Molina sustentam que a criminologia não teve um momento de nascimento, específico, sendo um apanhado de teorias concebidas na segunda metade do séc. XIX e mesmo antes. A maioria dos autores veem na publicação de “O homem delinquente” (1876) de Cesare Lombroso, o momento de nascimento da criminologia. O termo criminologia nasceu em 1879, com Topinard. “O homem delinquente” Livro de 1876 – Lombroso reúne e sistematiza diversas ideias precedentes, construindo uma teoria antropológica sobre o delinquente, a partir da observação médica de sujeitos encarcerados. Idéias principais – Atavismo (salto geracional de uma característica primitiva) – ideia de Lucas Craniometria e fisionomia – Franz Joseph Gall (1800). Frenologia – Johann Caspar Spurzheim (1815) Criminoso nato – Gaspar Virgílio Degenerescência – Benito Morel - Lombroso desenvolve a teoria de que a delinquência seria resultado de uma caracterísitica biológica do indivíduo. -Essa característica seria gerada por degenerescência da espécie, pela via da transmissão atávica. Assim, traços primitivos reapareceriam em alguns indivíduos. - Esses traços seriam constatáveis pelo exame antropológico (ex. – terceira fossa occiptal), pela fisionomia e por sintomas correlatos (epilepsia larvar). - Contrapõe-se, assim, à ideia de livre arbítrio, da escola clássica. - A função do direito penal seria a contenção do criminoso, propondo- se a recuperação para os recuperáveis. Causas do crime – tríptico lombroseano: 1 – Regressão atávica 2 – Taras degenerativas 3 – Fatores externos (apenas como desencadeantes). A escola positiva ainda teve como precursores Rafaele Garófalo, autor de criminologia, que cunhou o termo “temibilidade”, afirmando que seria possível aferir o grau de probabilidade de um indivíduo ser criminoso pelas suas características – Noção de periculosidade. Também Enrico Ferri, autor de Sociologia criminal. Trouxe fatores sociais à escola positiva. Elaborou a classificação quíntupla dos criminosos: 1- natos; 2 – loucos; 3 – ocasionais; 4 – por hábito adquirido; e 5 – passionais. O nível de degenerescência diminui de acordo com as classes, aumento a importância da solicitação externa. No Brasil, Nina Rodrigues foi o grande expoente da escola positiva. Incoerência de se aplicar igualmente a legislação penal a todos os indivíduos de uma nação tão heterogênea e sem identidade própria como a brasileira. Em sua obra mais famosa – As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil (1938) – ele defende haver três tipos de mestiços: os superiores, nos quais predominariam os caracteres da raça branca civilizada, os comuns, indivíduos aproveitáveis para determinados tipos de trabalho, e os degenerados, portadores de anomalias físicas e psíquicas irremediáveis. Não se poderia conceber, portanto, de forma fictícia, a existência de um livre arbítrio de que estariam imbuídos todos os indivíduos, dada a irresponsabilidade total ou atenuada que se poderia esperar dos mestiços degenerados e comuns, respectivamente. Nesses casos, não caberia à repressão penal pautar-se pelo paradigma da responsabilidade individual, funcionando simplesmente como medida de contensão em benefício da defesa da sociedade. Grande opositor – Gabriel Tarde (As leis da imitação, criminalidade comparada) – O tipo criminoso é um tipo profissional. As características apontadas por Lombroso são as características adquiridas pela vida do crime. Problemas da escola positiva – Erro metodológico (estuda-se o preso, e não o criminoso). O preso é aquele que sofre preconceito social e, por isso, é mais vulnerável à ação do estadorepressor. E o criminoso do colarinho branco? Idéias racistas e eugenistas. Nascimento da criminologia científica – Primeira Metade do Século XX – Chicago. Escola de Chicago/ Ecológica ou Arquitetura Criminal. Salto populacional – 1840 – 4.470 habitantes – 1900 – mais de um milhão de habitantes. Entroncamento ferroviário – cidade industrial – navegação pelos Grandes Lagos. Imigração de negros do sul e de europeus pobres do entre-guerras. Formação de guetos de proteção (onde se falavam as línguas de origem e preservavam-se costumes) Leis puritanas e rígidas. Lei seca (1920 – 1933) Os povos dos guetos passaram a administrar as economias marginais. – Máfias (Al Capone, os intocáveis) Principais autores – William Thomas, Robert Park, Ernest Burgess. Idéias centrais – A criminalidade é fruto da desorganização social urbana. A cidade degradada é ocupada por enclaves étnico-sociais que absorvem a cultura criminal por conta da perda de suas raízes. Divisão da cidade em 5 zonas (o Loop – centro industrial – e 4 circulos concêntricos.) as regiões afastadas do centro são ocupadas pelas classes proprietárias e, as mais próximas, por enclaves (áreas de delinquência). Proposta – revitalização das áreas degradadas (desmonte de armazéns, reforma) e resgate das raízes (lazer, escotismo, música, atividades culturais). Méritos – abriu um campo novo para a criminologia – Política criminal não é política penal – iluminação publica e planejamento da cidade são interesse criminal). Demérito – Concepção burguesa e etnocêntrica de organização social – não reconhece as organizações marginais (ex – Cornerville – William Foote-Whyte) – Projeto Singapura, CDHU – não levam em consideração as necessidades da comunidade, não criam laços entre os moradores). Teoria da associação diferencial Edwin Sutherland (1883-1950) Influências – Escola de Chicago e G. Tarde. Período pós quebra da bolsa de 1929 – Welferismo/New Deal – Crescimento da intervenção estatal na economia. Surgem os crimes do “colarinho branco” (White collar crimes) Idéias principais – o crime é uma conduta aprendida, assim como qualquer outra. O aprendizado se dá pela convivência em determinados grupos. Alguns grupos transmitem a seus membros a conduta delinquente. Há associações diferenciais nas classes altas. Crimes de alta complexidade (ex. – sonegação fiscal – envolve organização, conhecimentos de contabilidade, poder de suborno etc.). Bases – 1 – o comportamento criminal e um comportamento aprendido 2 – É aprendido mediante a interação com outras pessoas em um processo comunicativo 3 – A maior carga de aprendizagem se dá nas relações sociais mais próximas 4 – o aprendizado inclui a técnica do delito, além da própria justificação do ato. 5 – surge o delinquente quanto às definições favoráveis à violação da norma superam as desfavoráveis. Sutherland foi o primeiro a postular que o crime do colarinho branco era sim um crime em termos criminológicos. Problema – desconsideração da autonomia ética e da subjetividade do indivíduo. Teoria da anomia Émile Durkheim (fundador da sociologia), cunhou o termo anomia para designar uma situação de falta de objetivos sociais e ausência de normas. Enfraquecimento da consciência coletiva. O crime, para Durkheim, apenas era um problema social se, dada sua elevada incidência, pudesse indicar um esfacelamento dos valores sociais (anomia). Em níveis normais, o crime servia para reforçar os próprios valores da consciência coletiva (atos, valores, processos partilhados por uma sociedade). Robert K. Merton apropria-se desse conceito e constrói uma teoria criminológica em “Teoria social e estrutura social” (1938). Para Merton, haveria anomia quando os modos não conformistas de adaptação à sociedade superassem os modos conformistas. Merton construiu uma tipologia relativa aos modos de adaptação individual, levando em conta o grau de adesão às metas culturais e o nível de acesso aos meios institucionalizados para atingir tais metas. As metas culturais mais evidentes na sociedade ocidental são comumente relacionadas ao capital, ao poder e ao status, ao passo que os meios institucionais ligam-se ao aparato econômico, político e educacional necessário à consecução desses fins. A internalização das finalidades sociais aliada à disponibilidade dos meios institucionais para a persecução desses fins acarreta uma situação que Merton denominou conformidade. A par desse modo de adesão, o autor cita quatro modos não conformistas de adaptação: a inovação, o ritualismo, o retraimento e a rebelião. A saber, a inovação configurar-se-ia pela adesão aos fins sociais sem a obtenção de meios socialmente legítimos para atingi-los (-/+). O ritualismo seria caracterizado pela presença desses meios sem a internalização das metas sociais, ou seja, pela compulsão à obediência às normas sem que, com isso, tenha-se como objetivo qualquer progressão social (+/-). O retraimento seria a hipótese em que o indivíduo não possui nem os fins sociais e nem os meios, de modo a colocar-se em posição apática em relação aos valores culturais (-/-). Por fim, a rebelião seria caracterizada por uma adoção apenas parcial dos fins e dos meios, aliada a uma perspectiva de mudança social estrutural no que concerne à concepção valorativa das metas culturais (+-/+-). Teoria das subculturas delinquentes Albert K. Cohen (1955): Delinquent boys: the culture of the gang. As gangues de jovens formam-se como reação à sensação de frustração por conta da impossibilidade de alçar às metas da sociedade WASP. Assim, os valores são adotados por sua forma invertida. A destruição passa a ser cultuada porque o jovem de classe média cultua a propriedade. Conceito psicanalítico de formação-reativa (defesa psíquica que se manifesta pela renuncia do desejo e adoção do seu oposto). Características da delinquência subcultural: 1 – malícia (prazer perverso na conduta) 2 – não-utilitarismo 3 – negatividade.