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A poesia sacra, lírico-amorosa e satírica de Gregório de Matos

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Prévia do material em texto

Literatura Brasileira 
Poética
A poesia sacra, lírico-amorosa e satírica de Gregório de Matos
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Ms. Helba Carvalho
Revisão Textual:
Prof. Ms. Malu Rangel
5
• Introdução
• O Processo de Catequização no Brasil
 
 Atenção
Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as 
atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
 · Nesta unidade, faremos uma reflexão sobre a poesia de 
Gregório de Matos no contexto do Brasil-Colônia. Além disso, 
discutiremos as principais características da época, o Período 
Barroco, no século XVII, envolvendo as questões sociais, 
religiosas, históricas e literárias presentes.
A poesia sacra, lírico-amorosa e satírica 
de Gregório de Matos
6
Unidade: A poesia sacra, lírico-amorosa e satírica de Gregório de Matos
Contextualização
Link:
• http://arquivos.cruzeirodosulvirtual.com.br/materiais/disc_graduacao/2014/1sem/2mod/lit_
bra_poe/un_I/contextualizacao.pdf
http://arquivos.cruzeirodosulvirtual.com.br/materiais/disc_graduacao/2014/1sem/2mod/lit_bra_poe/un_I/contextualizacao.pdf
http://arquivos.cruzeirodosulvirtual.com.br/materiais/disc_graduacao/2014/1sem/2mod/lit_bra_poe/un_I/contextualizacao.pdf
7
Introdução
Ponto de Partida
(Disponível em http://pt-br.mouse.wikia.com/wiki/1-_O_Barroco. Acesso em 19/07/2013).
Observe e analise a imagem acima. Como você a interpreta? Observe cuidadosamente as 
cores e as formas. O que ela te faz lembrar? A pintura nos remete a um paradoxo, no qual 
o sagrado e o profano estão inseridos. Ela nos revela a oposição entre o claro e o escuro, a 
representação do Bem e do Mal, do pecado e do perdão, representados por meio do amor entre 
o homem e a mulher e também pela figura escura de um abutre, que representa o profano. 
Tais paradoxos e dualidades marcaram a arte barroca e estão presentes na obra literária do 
poeta Gregório de Matos (século XVII), conhecido pelo epíteto de “Boca do Inferno”, cuja vida 
e obra estudaremos nessa unidade.
Contexto Histórico
Antes de entrarmos na obra poética de Gregório de Matos, vamos conhecer um pouco 
dos aspectos históricos e culturais da época colonial. Sabemos que quanto mais informações 
obtivermos a respeito do contexto histórico, maior será o nosso poder de apreciação e 
entendimento da obra literária. Vamos entender e interpretar esse conceito de Barroco, que é 
revestido por influências religiosas e mudanças de pensamento da época. 
Como todos sabem, o homem dos séculos XVI e XVII encontrava-se envolto nos dogmas 
da Igreja Católica, principalmente. As dualidades e os paradoxos regiam sua vida, que se 
concretizava por meio de regras a serem seguidas, obedecidas e controladas pelo Clero em 
nome da fé cristã.
Os fatos que deram início aos conflitos entre o homem e a Igreja, aconteceram, mais 
precisamente, a partir da fusão da religião com a política, ou seja, da união do Estado e da 
Igreja. Como você deve se lembrar, aprendemos, desde o Ensino Fundamental, que essas duas 
8
Unidade: A poesia sacra, lírico-amorosa e satírica de Gregório de Matos
instituições, na época, sempre foram sinônimo de poder e riqueza e, para manter essa união e 
poder, se utilizavam de meios controladores e punitivos para com a sociedade. As consequências 
desses desmandos distanciavam a Igreja cada vez mais da sua verdadeira missão, que era difundir 
e expandir a fé cristã católica, de acordo com os ensinamentos morais deixados por Jesus por 
meio da Bíblia. A Igreja e o Estado concretizavam força e poder e, por isso, controlavam a vida 
não só das camadas populares como também da classe de letrados, filósofos e aristocratas. 
Nesse período, surge uma nova classe social na Europa, a burguesia, classe dos comerciantes, 
contrária ao poder e as imposições da Igreja. Contudo, o ponto que deflagrou o conflito do 
homem com a igreja aconteceu quando o Papa Leão X declarou que qualquer cristão poderia 
comprar o perdão por seus pecados por meio do pagamento de indulgências. 
Essa declaração desencadeia a Reforma Protestante, quando Martinho Lutero rompe com 
a igreja e passa a combater seus ideais. Muitos países da Europa se convertem a essa nova 
doutrina, porém Portugal e Espanha conservam sua fé cristã. Em 1542, o Concílio de Trento 
reúne os líderes da Igreja e criam uma série de medidas tomadas pela Contrarreforma, com o 
propósito de combater o movimento dos protestantes, expandir a religião católica e estendê-la 
às colônias no Oriente e Ocidente. Esse período é marcado por conflitos, perseguições e mortes. 
A Inquisição, criada pelo Tribunal do Santo Ofício, combate os judeus e islâmicos, considerados 
pecadores, além de atuar como investigadores de pessoas suspeitas de heresia e bruxaria e 
punir os fiéis rebeldes que passam a praticar as novas doutrinas protestantes. 
Esse momento de angústia e perseguições não só atingia as classes instruídas, mas, também, 
as camadas populares. Nesse momento da História, a população não aceita mais ser comandada 
pelos dogmas impostos pela Igreja e busca autonomia. Percebemos, aqui, que o homem desejava 
se libertar das imposições da Igreja e do Estado, mas não desejava libertar-se da fé cristã.
Caso você queira saber mais sobre esse período de conflitos e mudanças, 
assista ao filme Martim Lutero, a Reforma Protestante no youtube: 
• https://www.youtube.com/watch?v=Z9E-9tBIpY8.
 Para revitalizar o poder da Igreja Católica, criou-se a Companhia de Jesus, composta por 
jesuítas, que eram responsáveis pela catequização das populações nas colônias do continente 
americano e asiático. O resultado disso foi a conversão de um grande número de pessoas na 
doutrina católica, resgatando o prestígio da Igreja.
O Processo de Catequização no Brasil 
No Brasil, a catequização ocorreu de maneira muito conturbada, pois as pessoas enviadas 
de Portugal para colonizar o Novo Mundo pertenciam a uma classe de desajustados, que não 
desejavam se enraizar na Colônia mas, sim, explorá-la, enriquecer e retornar à terra natal. À 
medida que esses homens se estabeleciam, começavam a perceber que no Brasil, ainda que 
Colônia de Portugal, devido às diferenças culturais e religiosas dos nativos, a rigidez quanto aos 
ensinamentos e dogmas da Igreja Católica originários da cultura da Europa, em muitos casos, 
eram suspensos. A população, ao ser catequizada nas colônias, passava por um processo de 
https://www.youtube.com/watch?v=Z9E-9tBIpY8
9
conversão religiosa, pois já tinham suas crenças ligadas aos mitos. Como aprendemos, índios 
e negros já carregavam suas tradições, cultuavam os elementos da natureza (Sol, Lua, etc.) 
e imagens que, para os olhos da Igreja católica, eram consideradas símbolos de cultos pagãos. 
Em meio a todo esse processo de adaptação entre povos de diferentes culturas religiosas, os 
portugueses começaram a criar vínculos com essa nova terra e, a partir da formação de famílias, 
se enraizaram. Seus filhos, de forma preconceituosa, eram chamados de “mazombos” pela 
Coroa de Portugal.
Conforme Roncari (2005, p.97), os colonos portugueses contavam com uma vida dupla: de 
um lado, o controle rígido da Igreja católica e da cultura europeia e, do outro, a necessidade de 
absorver e entender os costumes e crenças das populações indígenas e africanas da Colônia. Em 
meio a essa nova realidade, impregnada de conflitos existenciais, os portugueses esforçavam-se 
para manter a vida familiar de acordo com os dogmas da Igreja e as Lei do Estado de Portugal 
e, em contraponto, relacionar-se com a cultura dos escravos e índios. 
A literatura surge em meio a esse contexto de Reforma e Contrarreforma, Protestantismo, 
catequização e controle da Igreja Católica na vida de todos. Assim observa Roncari:
(...) devido a dificuldade de alguém colocar-se ou sequer pensar-se fora 
da órbita desse poder criado pela associação entre a Igreja e monarquias 
absolutista; e, em parte , pela própriapolítica da Igreja de controlar 
e colocar a arte, em geral, e a literatura, em particular, a serviço da 
propaganda e promoção de símbolos, valores e sentimentos religiosos. (...) 
todo livro ou publicação deveria receber a aprovação e licença da Mesa 
do Santo Ofício da Inquisição para não ser censurado (...) e propagar a fé 
católica. (2005, p.97)
Nosso primeiro momento nesta unidade de estudo foi, então, conhecermos um pouco da 
história da Europa, mais especificamente de Portugal, e, também, do Brasil Colônia nos séculos 
XVI e XVII. 
Nesse segundo momento de estudo, vamos entender e conhecer melhor as características do 
Barroco. A partir das leituras anteriores, podemos observar que o estilo barroco nasce em meio 
a conflitos entre o homem, a Igreja, o Estado, as grandes descobertas ultramarinas e o contato 
com diversas culturas.
 Como afirma Alfredo Bosi, “o Barroco passa por todo esse impacto dentro de um mundo 
preso à Contrarreforma (...) em luta com os novos ideais do Protestantismo” (BOSI, 1994, p.29). 
Vale lembrar que a arte barroca reflete a tensão entre o Teocentrismo e o Antropocentrismo. 
No primeiro, Deus é centro do todas as coisas e, no segundo, ocorre uma inversão de papéis. É 
nesse conflito entre a razão e a emoção que o estilo barroco nasce. 
Roncari (2005, p.97) define a literatura no Brasil no século XVII como “útil e agradável”, 
destinada ao homem branco à serviço dos valores e interesses religiosos, além de ser responsável 
por propagar a fé cristã e os sentimentos da Igreja. Não podemos esquecer também que a 
circulação de livros e/ou qualquer manifestação artística eram controladas pelo Santo Ofício da 
Inquisição que tinha poder para liberar ou censurá-las. Por isso, muitas vezes, os artistas eram 
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Unidade: A poesia sacra, lírico-amorosa e satírica de Gregório de Matos
obrigados a expressar seus sentimentos de acordo com ensinamentos e dogmas da Igreja e do 
Estado. Mesmo com esse controle, a manifestação artística, no caso, a literatura, não poderia 
ignorar e descartar esse ambiente social de insatisfação e abuso de poder que impediam o 
homem de agir, pensar e o tornava refém da Igreja Católica. Porém, alguns escritores e pintores 
revelaram e manifestaram esse lado de libertação e rebeldia do homem. 
Também não podemos ignorar que a literatura era destinada aos proprietários rurais, senhores e 
donos de fazendas que conservavam uma vida no campo e estruturavam sua vida na colônia em 
meio as plantações de algodão, cana de açúcar e tabaco. Esse proprietário de terras não só guardavam 
o poder e controle de suas famílias como também de todos os que viviam e trabalhavam para eles, 
tais como: mulher, filhos, escravos, empregados domésticos, agregados que deviam obediência para 
ter proteção. Não era permitido a nenhum deles possuir uma vida independente.
Roncari afirma: 
O grande proprietário rural, na figura do pai e senhor estendia domínio 
e autoridade sobre o conjunto de seus familiares e homens livres que 
precisavam (...) submeter-se a ele, muitas vezes, decidindo seus destinos; 
os escravos,(...) seu mando era absoluto (...) vida e morte. (1995, p.99)
Como pensarmos em vida literária em uma sociedade tão rústica? 
Quando pensamos nessa sociedade em formação no Brasil, descobrimos que poucos 
frequentavam os colégios dos jesuítas e, quando o faziam, eram os que pretendiam seguir 
carreira eclesiástica. Alguns proprietários rurais contratavam professores particulares, mas o 
aprender ler e escrever não era permitido para as mulheres, por exemplo, que aprendiam 
apenas a lavar, a coser e a fazer renda. 
A vida social acontecia em algumas cidades litorâneas como Salvador, na Bahia, que era o centro 
do poder político e administrativo da Colônia, onde ficava o Senado da Câmara, o governador geral 
e os grandes representantes da autoridade da Coroa portuguesa no Brasil, além de Pernambuco, 
no Recife. Nessas cidades se estabeleciam comerciantes e os proprietários rurais que possuíam casas 
nesses centros, utilizadas para passar temporadas. Algumas pessoas viviam na cidade: brancos e 
mestiços livres, que viviam de ofícios como os de alfaiate, marceneiro, ourives, ferreiro, santeiro, 
oficiais das tropas, soldados, serviçais, etc. Trabalhavam, ainda, nas casas das autoridades e senhores 
de terras. Para os escravos e africanos, a regra no campo e na cidade não sofria nenhuma alteração: 
independente do tipo de serviço, continuavam escravizados.
No Brasil do século XVII, as práticas literárias germinaram nesse ambiente “urbano” da Bahia 
e de Recife, envolvidas por uma sociedade de base rural que se relacionava com as tribos 
indígenas e africanas e continuava a carregar as raízes da cultura europeia. Essa convivência 
com diferentes raças, costumes, religiões e crenças causaram certa tensão, e o universo literário 
da época se perpetuou entre duas vertentes: a do sagrado e a do profano. No período, a poesia é 
11
considerada um exercício presente no cotidiano: criavam-se trovas, glosas, romances em versos, 
desafios, poesias satíricas, trocas de cartas e leitura de sermões nas igrejas. Podemos dizer que 
a prática literária estava ligada, de forma intrínseca, à oratória, pois, na sua maioria, os gêneros 
textuais citados eram recitados, declamados e pregados por mestres da oratória, visto que a 
maioria da população não sabia ler nem escrever. É nesse período que a literatura passa a fazer 
parte da vida urbana. O poeta Gregório de Matos ganha fama e destaque no meio literário e 
agrada ao público em geral.
Nesta unidade da disciplina Literatura Brasileira, que estuda a poética, vamos nos concentrar, 
agora, na poesia e estilo de Gregório de Matos, cujos poemas são de cunho lírico-amoroso, 
filosófico, religioso e satírico.
Em um primeiro momento, vamos trabalhar a definição do sagrado e do profano presente 
na poesia gregoriana. Para esse entendimento, selecionamos o livro O Sagrado e o Profano: a 
essência das religiões, baseado nas leituras de Rudolf Otto, livro que analisa a experiência das 
religiões, escrito por Mircea Eliade que, por meio de um estudo fenomenológico e histórico, 
procura nos mostrar a relação do homem com os fatos religiosos desde os primórdios, e 
como essa visão foi se transformando perante o modo de pensar e agir do homem moderno e 
materialista. Estamos no mundo da dualidade e do paradoxo: do sagrado e do profano, do Bem 
e do Mal, do céu e do inferno, do pecado, do perdão divino carregado de punições e castigos, 
e é nesse berço que a poesia de Gregório de Matos se concretiza e enraíza.
Antes de mergulharmos entre esses dois mundos, o do homem religioso e o do homem não-
religioso, devemos conhecer um pouco sobre a definição e importância do Mito. 
Você pode definir e entender o que significa a palavra “mito”? E por que essa definição é 
importante para esse estudo? 
Podemos dizer que os mitos foram criados para compreendermos melhor a nossa existência, 
e estão diretamente ligados a eventos religiosos. 
Desde os primórdios, os mitos existem. Pensamos, então, que segundo seus ensinamentos, 
narrados e protagonizados por entes sobrenaturais e ligados a fatos reais, somos o que somos. 
E, por meio das historias sagradas de deuses e semideuses, conseguimos compreender melhor 
a nossa origem e, ao mesmo tempo, somos ensinados e doutrinados a seguir algumas regras 
primordiais para nossa convivência e relação com o outro. 
Devemos pensar que, através do mito, muitos de nossos atos, considerados sagrados ou 
não, se repetem durante toda a nossa existência. E os repetimos porque fomos doutrinados a 
acreditar que isso é verdadeiro. Por isso, uma série de eventos narrados nos tempos míticos são 
rememorados e permanecem nos dias de hoje. Os ritos acontecem em diferentes religiões e têm 
como base o primeiro ensinamento, a primeira narração.
De maneira geral, para realizarmos um ritual, precisamos conhecer a sua “origem”. Isto é: o 
mito narra como ele foi efetuado pela primeiravez e o modo como aconteceu . 
Vamos pensar em algo próximo a nós, a comemoração do Ano Novo, por exemplo. Não 
importa qual calendário é seguido pelos povos, mas o mundo comemora essa data desde os 
tempos antigos. O homem arcaico passou a comemorar essa data para encerrar um ciclo e 
começar outro, além de estar relacionada às plantações e às colheitas. Todos nós comemoramos 
essa passagem, não importa a religião, agradecemos ao ser supremo “Deus” por todas as nossas 
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Unidade: A poesia sacra, lírico-amorosa e satírica de Gregório de Matos
conquistas e fazemos nossos pedidos para o ano que começa. Cada religião segue um ritual e é 
nessa forma de comemorar e agradecer que entenderemos a definição do sagrado e do profano. 
Para Pensar
 As pessoas criadas no catolicismo, no Ano Novo, seguem um ritual: assistem a uma missa , rezam e 
agradecem a Deus pela vida e saúde do ano que passou e do que virá, porém alguns rituais inseridos 
nessa comemoração, influenciados por outras religiões, que para a Igreja são considerados profanos, 
foram aceitos e incorporados à comemoração. Muitos católicos oferecem presentes a Iemanjá, pulam 
sete ondas para ter sorte, brindam com drinques e bebidas alcoólicas, que segundo a ideia arcaica, 
traz vitalidade e saúde, e fazem barulho (o estouro dos fogos de artifício afastam os perigos) – 
esses atos, na Antiguidade, representavam atos purificadores. Mesmo sendo uma festa pagã , é 
comemorada no mundo todo.
Esses eventos acontecem desde o princípio, e o homem arcaico, através dos mitos, narra essas 
comemorações. Porém, para ele, todo e qualquer rito tinha uma explicação; ou seja, ele sabia 
o porquê daquela cerimônia. No mundo moderno, o homem, muitas vezes, segue ritos sem 
entender sua origem, simplesmente porque deve seguir os costumes religiosos de sua família ou 
porque absorveu tal costume, que faz parte do viver em sociedade, faz parte da cultura do lugar. 
“Viver” os mitos implica, pois, uma experiência verdadeiramente 
“religiosa”, pois ela se distingue da experiência ordinária da vida quotidiana. 
A “religiosidade” dessa experiência deve-se ao fato de que, ao ritualizar 
os eventos fabulosos, exaltantes, significativos, assiste-se novamente às 
obras criadoras dos Entes Sobrenaturais; deixa-se de existir no mundo de 
todos os dias e penetra-se num mundo transfigurado, aurora, impregnado 
da presença dos Entes Sobrenaturais. Não se trata de uma comemoração 
dos eventos míticos, mas de sua reiteração. O indivíduo evoca a presença 
dos personagens dos mitos e torna-se contemporâneo deles. Isso implica 
igualmente que ele deixa de viver no tempo cronológico, passando a 
viver no Tempo primordial, no Tempo em que o evento teve lugar pela 
primeira vez. É por isso que se pode falar no “tempo forte” do mito: é 
o Tempo prodigioso, “sagrado”, em que algo de novo, de forte e de 
significativo se manifestou plenamente. Reviver esse tempo, reintegrá-
lo o mais freqüentemente possível, assistir novamente ao espetáculo 
das obras divinas, reencontrar os Entes Sobrenaturais e reaprender sua 
lição criadora é o desejo que se pode ler como em filigrana em todas as 
reiterações rituais dos mitos. Em suma, os mitos revelam que o mundo, o 
homem e a vida têm uma origem e uma história sobrenaturais, e que essa 
história é significativa, preciosa e exemplar. 
(Disponível em <http://pt.scribd.com/doc/60591375/Mircea-Eliade-
Mito-e-Realidade>. Acesso em 17 de julho de 2013).
Conforme vimos, pode-se dizer que as festividades do Ano Novo nos coloca entre duas 
direções: a manifestação do sagrado que acontece através de atos religiosos e agradecimentos 
ao “Pai” e também a manifestação do profano, com ritos que não pertencem e não são 
aceitos na fé cristã. Porém, as duas modalidades, o sagrado e o profano, convivem num mesmo 
espaço. Entenda, aqui, que as festividades religiosas estão ligadas aos mitos, e que a oposição, 
http://pt.scribd.com/doc/60591375/Mircea-Eliade-Mito-e-Realidade
http://pt.scribd.com/doc/60591375/Mircea-Eliade-Mito-e-Realidade
13
o profano, só pode se concretizar se tivermos a presença do sagrado.
Assim, Mircea Eliade (1992, p.62) observa que toda festa religiosa, todo Tempo Litúrgico, 
se refere à ritualização de um evento sagrado, indefinidamente recuperável e repetível, por 
isso é considerado circular. Aqui podemos pensar na missa, uma festa religiosa, na qual somos 
convidados especiais de Jesus Cristo e o nosso anfitrião é Deus, o Pai todo poderoso. Nessa 
reunião, adoramos, agradecemos e glorificamos Pai e Filho, além de pedirmos graças e perdão 
por nossas imperfeições e pecados.
 Então, como viver o sagrado em um mundo moderno, dessacralizado? Segundo Mircea 
Eliade (1992, p.15), “o sagrado e o profano constituem as duas modalidades de ser e existir 
no Mundo”. O homem moderno e religioso deseja manter-se nesse universo sagrado, porém 
vive em um mundo dessacralizado, individualista, insensível e materialista e, devido a esse 
distanciamento de Deus, o profano torna-se parte da realidade. 
Agora que conhecemos o contexto histórico, social, político e religioso, estamos prontos para 
entender e analisar as poesias de Gregório de Matos. Para darmos início ao estudo, que tal 
começarmos por uma poesia sacra, cuja temática é de cunho religioso? Leia o poema com 
bastante atenção e reflita sobre como a presença do paradoxo sagrado e profano e a questão 
religiosa permeiam todo o texto. Observe que o conflito do homem barroco está presente no 
fazer poético de Gregório de Matos. 
Aplicando a teoria na prática
A Christo S. N. Crucificado estando o poeta na 
última hora de sua vida.
Meu Deus, que estais pendente de um madeiro,
Em cuja lei protesto de viver,
Em cuja santa lei hei de morrer,
Animoso, constante, firme e inteiro:
Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer;
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai, manso Cordeiro.
 
Mui grande é o vosso amor e o meu delito;
Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor que é infinito.
Esta razão me obriga a confiar,
Que, por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.
(Disponível em <http://literaturaaprendiz.blogspot.com.
br/2011/02/meu-deus-que-estais-pendente.html>. Acesso em 
15/07/2013)
http://literaturaaprendiz.blogspot.com.br/2011/02/meu-deus-que-estais-pendente.html
http://literaturaaprendiz.blogspot.com.br/2011/02/meu-deus-que-estais-pendente.html
14
Unidade: A poesia sacra, lírico-amorosa e satírica de Gregório de Matos
O soneto sacro “A Christo S. N. Crucificado estando o poeta na última hora de sua vida”, de 
Gregório de Matos, revela a tensão que o homem moderno e religioso dos séculos XVI e XVII 
vivia diante de um mundo dessacralizado e materialista. Neste soneto, fica evidente a presença 
temática do pecado x perdão. O eu-lírico, consciente de seus pecados, ora diante da imagem 
de Jesus crucificado e deseja ser perdoado. Para isso, o poeta elabora um jogo de ideias 
através dos versos que, segundo seu pensamento, podem convencer Deus de que o verdadeiro 
culpado de sua perdição é o próprio viver em um mundo degradado, carregado de devassidão, 
que o influencia a sair do espaço sagrado para viver no profano. Devido ao sistema de vida 
na Colônia ser instável, o mesmo impunha a todos um conflito existencial, que oscilava entre o 
Bem e o Mal pois somente assim conseguiriam sobreviver.
Na primeira estrofe do poema, o eu-lírico revela que está diante da imagem de Cristo crucificado e 
onipotente, em busca do perdão pelos pecados cometidos. O uso das antíteses, figura de linguagem 
muito utilizada no Barroco, encontra-se presente. São imagens de “viver” e “morrer”, que marcam 
a transitoriedade da vida. “Meu Deus, que estais pendente de um madeiro,/Em cuja lei protesto de 
viver,/Em cuja santa lei hei de morrer,/Animoso, constante, firme e inteiro”: No último verso, o eu-
lírico utiliza os adjetivos “animoso”, “constante”, “firme” e “inteiro” para demonstrar que, mesmoem pecado, continua forte e valente, certo de que será perdoado.
Na 2ª estrofe, o eu-lírico, de forma racional, reconhece a efemeridade da vida: “a morte é certa” 
e se aproxima. Declara e reforça que é um pecador e cobra que Deus o redima de seus pecados, já 
que a missão do divino é perdoar o filho. “Neste lance, por ser o derradeiro,/Pois vejo a minha vida 
anoitecer;/ É, meu Jesus, a hora de se ver/A brandura de um Pai, manso Cordeiro.”
O termo carpe diem reaparece e trata de mostrar a importância de aproveitar a vida, pois 
o tempo passa logo. Esse tema, já muito utilizado pelos poetas árcades, significa “aproveite o 
dia”, expressão latina presente na obra do pensador Horácio, poeta lírico e satírico, filósofo da 
Roma Antiga e grande inspirador da escola literária do Arcadismo. 
Na 3ª estrofe do poema de Gregório de Matos, o eu-lírico confessa que tanto o amor divino 
como seus pecados são grandes, mas, mesmo assim, o amor de Deus é infinito para absolvê-
lo de todas as culpas: “Mui grande é o vosso amor e o meu delito;/Porém pode ter fim todo o 
pecar,/E não o vosso amor que é infinito.”
Por fim, na última estrofe do poema, o eu-lírico, diante de tantos conflitos existenciais e 
sentimentos negativos, suaviza sua culpa e suplica para Deus, que é só amor, que o salve e 
o livre dos pecados cometidos por viver em um mundo caótico e profanado. Observe: “Esta 
razão me obriga a confiar,/Que, por mais que pequei, neste conflito/Espero em vosso amor de 
me salvar.”
Lembramos que a supremacia do profano sobre o sagrado representa os dois modos de ser 
do homem no mundo. Diante disso, entendemos que o pecador só pode ser perdoado por Deus, 
infinito amor, caso realmente peque. Assim, entendemos que as dualidades fazem parte de um 
mundo conflituoso e imperfeito e tais dualidades se refletem nas atitudes e comportamentos 
do homem moderno religioso e não-religioso. Ambos necessitam acreditar na existência do Pai 
Deus e de seu filho Jesus Cristo para livrar o homem de todos os pecados.
Vimos aqui um pouco da poesia sacra de Gregório de Matos, cuja vertente conceptista e 
sacra tenta seduzir o leitor e, para isso, valoriza o conteúdo através de um jogo de ideias, com 
raciocínio lógico e racional que facilita a apreciação do texto. As comparações acontecem por 
meio da utilização de metáforas, hipérboles e analogias. Nesse momento, o homem busca a 
razão e a fé para encontrar respostas quanto a sua existência no Cosmo. 
Sobre a segunda parte da análise, importa dizer, em primeiro lugar, que a poesia satírica 
de Gregório de Matos lhe concebeu o epíteto de “Boca do Inferno”. O autor critica, de forma 
contundente, os problemas sociais, políticos, econômicos e religiosos que se apresentavam no 
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Brasil Colônia, mais especificamente na Bahia dos séculos XVI e XVII. Porém, não podemos 
esquecer que a vertente crítica desse gênero poético não perdoava ninguém: autoridades como 
políticos e ordens religiosas (padres e freiras), a nobreza, a burguesia, pobres, negros, índios, 
mulatos, mestiços, enfim, todos eram alvo de difamação. 
Cabe dizer que a poesia lírica gregoriana, ao tematizar o amor obsceno, busca inspiração 
nas mulheres negras e índias, que, devido aos costumes naturais e simples de viver em meio à 
natureza, eram vistas pelo homem branco como objetos de prazer e representação do pecado e 
do amor carnal. O poema a seguir retrata o preconceito do poeta em relação à mulher negra, 
colocando-a como objeto sexual e na condição de serva do homem branco. Perceba que o 
poema se constrói por meio de uma linguagem popular, na qual Gregório de Matos revela o 
desejo carnal e o desrespeito por outras raças, no caso, negros. Observe durante a leitura que 
as imagens criadas reforçam o desejo sexual do poeta. A presença do profano perpassa todo o 
poema, mas para o poeta desejar uma mulher na condição de serva não significa pecar, pois ele 
a enxerga como um objeto, algo inferior que pode ser usado. 
Indo o poeta passear pela ilha da cajaiba, encontrou lavando roupa a mulata Annica 
e lhe fez este romance.
Achei Anica na fonte
lavando sobre uma pedra
mais corrente, que a mesma água,
mais limpa, que a fonte mesma.
Salvei-a, achei-a cortês,
falei-a, achei-a discreta
namorei-a, achei-a dura,
queixei-me, voltou-se em penha.
Fui dar à Ilha uma volta,
tornei à fonte, e achei-a:
riu-se, não sei se de mim,
e eu ri-me todo p’ra ela.
Dei-lhe segunda investida,
e achei-a com mais clemência,
desculpou-se com o amigo,
que estava entonces na terra.
Conchavamos, que eu voltasse
na segunda quarta-feira,
que fosse à costa da Ilha,
e não pusesse o pé em terra,
Que ela viria buscar-me 
com segredo, e diligência,
para na primeira noite
lhe dar a sacudidela.
Depois de feito o conchavo
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Unidade: A poesia sacra, lírico-amorosa e satírica de Gregório de Matos
passei o dia com ela,
eu deitado a uma sombra,
ela batendo na pedra.
Tanto deu, tanto bateu
co’a barriga, e co’as cadeiras,
que me deu a anca fendida
mil tentações de fodê-la.
Quando lhe vi a culatra
tão tremente, e tão tremenda,
punha eu os olhos em alvo,
e dizia, Amor, paciência.
O sabão, que pelas coxas
corria escuma desfeita,
dizia-lhe eu, que seriam
gotas, que Anica já dera.
Porque segundo jogava
desde a popa à proa, a perna,
antes de eu lhe ter chegado,
entendi, que se viera.
De quando em quando esfregava.”
a roupa ao carão da pedra,
e eu disse “mate-me Deus
com puta, que assim se esfrega.”
Anica a roupa torcia,
e torcendo-a ela mesma,
eu era, quem mais torcia,
que assim faz, quem não pespega.
Estendeu a roupa ao sol,
o qual, levado da inveja
por quitar-me aquela glória,
lha enxugou a toda a pressa.
Recolheu Anica a roupa,
dobrou-a, e pô-la na cesta,
foi para casa.(...)
(Disponível em http://www.literaturabrasileira.ufsc.
br/documentos/?action=download&id=28602#-1. 
Acesso em 13 de julho de 2013).
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=28602#-1
http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=28602#-1
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 Vamos conhecer agora a poesia satírica de Gregório de Matos que caracteriza, mais 
precisamente, o comportamento das pessoas e de autoridades da época. 
Epílogos
Que falta nesta cidade? ... Verdade.
Que mais por sua desonra? ... Honra.
Falta mais que se lhe ponha? ... Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade, onde falta
Verdade, honra, vergonha.
(...)
Quais são meus doces objetos? ... Pretos.
Tem outros bens mais maciços? ... Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos? ... Mulatos.
Dou ao Demo os insensatos,
Dou ao demo o povo asnal,
Que estima por cabedal
Pretos, mestiços, mulatos.
Quem faz os círios mesquinhos? ... Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas? ... Guardas.
Quem as tem nos aposentos? ... Sargentos.
Os círios lá vêm aos centos, (círios-sacos de farinha)
E a terra fica esfaimada,
porque os vão atravessando
Meirinhos, guardas, sargentos.
E que justiça a resguarda? ... Bastarda.
É grátis distribuída? ... Vendida.
Que tem, que a todos assusta? ... Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa
O que El-Rei nos dá de graça,
Que anda a justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.
Que vai pela clerezia? ... Simonia. (venda de coisas 
sagradas)
E pelos membros da Igreja? ... Inveja.
Cuidei, que mais se lhe punha? ... Unha. (unha-
avareza,tirania, opressão)
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Unidade: A poesia sacra, lírico-amorosa e satírica de Gregório de Matos
Sazonada caramunha! (Experimentada lamentação!)
Enfim, que na Santa Sé
O que se pratica, é
Simonia, inveja, unha.
E nos frades há manqueiras? ... Freiras.(manqueira- 
Vícios, defeitos; doença infecciosa)
Em que ocupam os serões? ... Sermões.
Não se ocupam em disputas? ... Putas.
Com palavras dissolutas
Me concluo na verdade,
Que as lidas todas de um frade
São freiras, sermões, e putas.
O açúcar já se acabou? ... Baixou.
E o dinheiro se extinguiu? ... Subiu.
Logo já convalesceu? ... Morreu.
À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece:
Cai na cama, e o mal lhe cresce,
Baixou,subiu, e morreu.
A Câmara não acode? ... Não pode.
Pois não tem todo o poder? ... Não quer.
É que o governo a convence? ... Não vence.
Quem haverá que tal pense,
Que uma Câmara tão nobre
Por ver-se mísera, e pobre
Não pode, não quer, não vence!
(Disponível em <http://valiteratura.blogspot.com.
br/2010/08/discreta-e-formosissima-maria-enquanto.
html> Acesso em 13/07/2013)
O professor de literatura e músico José Miguel Wisnik musicou este poema de 
Gregório de Matos para algumas apresentações de peças no Teatro Oficina e, 
depois, em shows próprios. Veja no seguinte link: 
http://www.youtube.com/watch?v=m4J1OZExWAc - (Acesso em 01/04/2014)
http://valiteratura.blogspot.com.br/2010/08/discreta-e-formosissima-maria-enquanto.html
http://valiteratura.blogspot.com.br/2010/08/discreta-e-formosissima-maria-enquanto.html
http://valiteratura.blogspot.com.br/2010/08/discreta-e-formosissima-maria-enquanto.html
http://www.youtube.com/watch?v=m4J1OZExWAc 
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Neste poema satírico, Gregório de Matos mostra, de forma categórica, a desordem em que 
se vivia no Brasil Colônia, especialmente na Bahia. O poeta acentua os vícios negativos de uma 
sociedade na qual portugueses, negros escravos, índios, mulatos e mestiços eram obrigados a 
conviver e a criar uma nova sociedade. Percebemos que o eu-lírico, que também representa a 
voz do poeta, encontra-se revoltado e indignado com os desmandos do governo que explora 
a terra e a sociedade em benefício de seus interesses e enriquecimento próprio. Para acentuar 
seu tom de crítica ao sistema, Gregório de Matos, por meio dos epílogos, elabora perguntas e 
respostas que tratam de assuntos que, na época, não agradaram à Igreja e ao Estado. Entenda, 
aqui, que os epílogos nada mais são que versos interrogativos que se encerram com a resposta 
final. Observe: “Que falta nesta cidade?................Verdade” (pergunta e resposta). Cabe 
ressaltar que esse tipo de formação de versos é uma característica do estilo Barroco. A rima 
presente na formação do poema, inclusive, tem como objetivo acentuar e produzir um eco 
denunciador na voz do eu-lírico. 
Entenda que cada verso e estrofe desse poema se referem a uma lista de críticas diretas ao 
governo, autoridades, policiais, militares e membros da Igreja com o propósito de denunciar 
a desonestidade, a corrupção, a incompetência e os maus-tratos sofridos pela população. Ao 
mesmo tempo em que denuncia incompetência das autoridades, o poeta também se mostra 
preconceituoso em relação aos negros, índios, mestiços e mulatos. A discriminação é notada 
quando essas pessoas são comparadas a objetos e animais: “Quais são os seus doces objetos?....
Pretos, / Tem outros bens mais maciços?.....Mestiços/Quais destes lhe são mais gratos?...Mulatos./ 
Dou ao demo os insensatos/ dou ao demo o povo asnal(...)”.
Na sequência, o eu-lírico declara a existência de uma justiça vendida que trabalha em 
benefício do Estado e da Igreja. Não bastasse isso, ressalta a imoralidade dos membros do clero. 
Inclusive a linguagem utilizada pelo poeta concretiza a ideia da desonestidade, do descaso e da 
incompetência das autoridades portuguesas. 
Para encerrar a imagem, o poeta denuncia a péssima situação da Bahia, mostrando a 
decadência e a crise que assolavam não só os donos de terras, mas também toda população 
de ricos e pobres. Enfim, a crise econômica aconteceu pela incompetência daqueles que 
controlavam a sociedade: o Governo e a Igreja. “O açúcar já se acabou? ... Baixou./E o dinheiro 
se extinguiu? ... Subiu./Logo já convalesceu? ... Morreu./À Bahia aconteceu/O que a um doente 
acontece: Cai na cama, e o mal lhe cresce,/Baixou, subiu, e morreu.” O poeta para expressar e 
representar o coletivo da época, compara a instabilidade financeira com uma doença que não 
tem cura. “A Câmara não acode? ... Não pode./Quem haverá que tal pense/Que uma câmara 
tão nobre/Por ver-se mísera, e pobre/Não pode, não quer, não vence!” O poeta encerra o poema 
declarando a decadência e a miséria econômica que se instalava na Colônia, mais exatamente 
dirigida à Bahia, e denuncia a impossibilidade de alcançar uma nova organização social, política 
e econômica em um mundo que foi corrompido e profanado por interesses financeiros de uma 
falsa autoridade e sociedade portuguesa que imperava sobre as classes menos favorecidas. 
A seguir, analisaremos o soneto “Lágrimas de Amor: Fogo e Neve”, se refere à poesia lírico-
amorosa gregoriana, que é construída em torno de conflitos e contradições do poeta como amor 
e sofrimento, amor e pecado, amor espiritual e amor carnal. Podemos encontrar nesse soneto 
a presença das características do Cultismo, que é uma linha de pensamento que descreve 
o mundo por meio de sensações e sentidos marcados por figuras de linguagem (antítese e 
a sinestesia), muito bem arranjadas pelo poeta para reforçar o amor e o desejo, ou seja, as 
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Unidade: A poesia sacra, lírico-amorosa e satírica de Gregório de Matos
dualidades do homem barroco. A mulher é representada pelo poeta de maneira dual: por um 
lado como anjo e por outro como um demônio que leva o eu-lírico à perdição que, por sua vez, 
também caracteriza o sagrado e o profano. 
Lágrimas de Amor: Fogo e Neve
Ardor em firme coração nascido
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:
Tu, que em um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado; (incontido)
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal em chamas derretido.
 
Se és fogo como passa brandamente,
Se és neve, como queima com porfia? (insistência)
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!
 
Pois para temperar a tirania, (equilibrar o domínio do Amor)
Como quis que fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria.”
(Disponível em http://www.usinadeletras.com.br/
exibelotexto.php?cod=3289&cat=Ensaios&vinda=S. 
Acesso em 13/07/2013)
A linguagem rebuscada valoriza as descrições e sentimentos do poeta. Como podemos 
observar, o soneto se forma por meio das oposições: quente/frio, fogo/neve, vermelho/
branco, incêndio/água, ardor/pranto, rio/fogo, fogo/brando, neve/queima, neve/ardente. As 
ideias contrárias dialogam com cada verso para mostrar o pensamento conflituoso entre o 
prazer pagão e a fé religiosa. A inconstância traduzida nas oposições encontradas no soneto, 
demonstram a impossibilidade e o distanciamento da amada, por isso a metáfora do fogo e 
da neve. Pensamos: o fogo representa o desejo carnal, o ardor no coração e a neve, o lado 
espiritual, a pureza e o arrependimento. Nesse caso, dois tipos de amores se revelam e dialogam 
através da dimensão visual da palavra: “Incêndio em mares de água disfarçado;/Rio de neve 
em fogo convertido”. Observe nesses versos que o poeta sufoca esse sentimento de desejo que 
cresce de forma incontrolável, porém não pode ser consumado. A expressão da angústia é 
percebida na formação de palavras sinestésicas e de efeito visual e tátil: “Se és fogo, como 
passas brandamente,/Se és neve, como queimas com porfia?/ Mas ai, que andou Amor em 
ti prudente!”. O conflito entre o corpo e a alma, aqui, é concretizado pelo poeta na voz do 
eu- lírico: “Pois para temperar a tirania,/Como quis que aqui fosse a neve ardente,/Permitiu 
parecesse a chama fria.”. A musa do poeta é retratada como anjo e fonte de perdição e pecado 
do homem barroco. 
(Dispon�vel em http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=3289&cat=Ensaios&vinda=S. Acesso em 13/07/2013)
(Dispon�vel em http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=3289&cat=Ensaios&vinda=S. Acesso em 13/07/2013)
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Perceba que os poemas analisados guardam a maioria dos elementos caracterizados na 
poesia do período Barroco. O poeta, em sua obra, mostra a relação da sociedade portuguesa 
com a sociedade colonial, formada por escravos negros, índios, mulatos e mestiços, de forma 
que o poder do homem branco português predomine sobre as outras raças. Outra questão 
presente na poesia de Gregório de Matos é a críticae o desprezo que o poeta sentia pelos dogmas 
da Igreja Católica e clérigos que dominavam, de forma arbitrária, a vida das pessoas da época. 
Apresenta a vida do homem em um mundo dessacralizado, que se traduz em oposições como: 
Bem/Mal; Deus/Diabo; amor/ódio, pureza/pecado, espírito/matéria. Enfim, a poesia de Gregório 
de Matos é construída em um mundo contraditório e ambíguo: Reforma/Contrarreforma, Razão/
Fé, Teocentrismo/Antropocentrismo.
Nosso estudo em torno do Barroco termina aqui. Porém, não se esqueça de visitar os sites 
indicados para saber mais a respeito e refletir sobre a formação da sociedade colonial brasileira 
em um mundo de tensão, dualidades e corrupção. 
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Unidade: A poesia sacra, lírico-amorosa e satírica de Gregório de Matos
Material Complementar
Para saber mais sobre a poesia de Gregório de Matos, acesse os dois links sugeridos abaixo:
 » http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=873&sid=190
Acesso em 16/4/2014.
 » http://books.scielo.org/id/yhzv4/pdf/santos-9788579830204-16.pdf
Acesso em 16/4/2014.
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=873&sid=190
http://books.scielo.org/id/yhzv4/pdf/santos-9788579830204-16.pdf
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Referências
BOSI, Alfredo Bosi. História Concisa da Literatura Brasileira. 42.ed. São Paulo: Cultrix, 1994.
CEIA, Carlos, s.v. “Metalinguagem”. E-Dicionário de Termos Literários, coord. de Carlos Ceia, 
ISBN: 989-20-0088-9, http://www.edtl.com.pt, acessado em 06-02-2012.
ELIADE, Mirce. Mito e Realidade. http://pt.scribd.com/doc/60591375/Mircea-Eliade-Mito-e-
Realidade acessado em 05-07-2013.
ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. 1.ed. São Paulo: Martins Fontes,1992.
RONCARI, Luiz. Literatura Brasileira: Dos Primeiros Cronistas aos últimos Românticos. 
2.ed. São Paulo: EDUSP,1995. 
http://www.edtl.com.pt
http://pt.scribd.com/doc/60591375/Mircea-Eliade-Mito-e-Realidade
http://pt.scribd.com/doc/60591375/Mircea-Eliade-Mito-e-Realidade
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Unidade: A poesia sacra, lírico-amorosa e satírica de Gregório de Matos
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