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MOVIMENTO DE ÁTOMOS E ÍONS NOS MATERIAIS – DIFUSÃO Julio C. G. Milan Abel André C. Recco “Assim como a água flui da montanha para o mar a fim de minimizar sua energia potencial gravitacional, átomos e íons tendem a se difundir para eliminar diferenças de concentração e produzir composições homogêneas e uniformes, ou seja, ocorre um processo de redução de energia do sistema, o que torna o material termodinamicamente estável.” DIFUSÃO Difusão→ fluxo de quaisquer espécies químicas, como íons, átomos, elétrons e lacunas, ou ... …fenômeno de transporte de massa (matéria) por movimentação atômica (no caso de metais), de cátions e ânions (no caso de cerâmicas iônicas) e de macromoléculas (no caso de polímeros). Depende: • Gradiente de concentração; • Temperatura. A difusão ocorre no interior de sólidos, líquidos e gases. DIFUSÃO Exemplos: • Cementação para o endurecimento superficial de aços; • Difusão de dopantes em componentes semicondutores; DIFUSÃO Exemplos: • Cerâmicas condutoras → a difusão de íons, elétrons ou lacunas desempenha papel importante na condutividade elétrica de cerâmicas condutoras, como a zircônia (ZrO2) • Produção de garrafas plásticas para bebidas → difusão do CO2 DIFUSÃO Exemplos: • Oxidação do alumínio → camada de óxido (Al2O3) impede difusão do oxigênio; • Recobrimentos e filmes finos → evitar difusão de vapor d’água, do oxigênio e outros elementos; • Fibras ópticas e componentes microeletrônicos → fibra de sílica revestida com polímero para evitar difusão de moléculas de água. DIFUSÃO DIFUSÃO Considerações Gerais: • Os átomos em um cristal só ficam estáticos no zero absoluto; • Com o aumento da temperatura as vibrações térmicas dispersam ao acaso os átomos para posições de menor energia; • Movimentos atômicos podem ocorrer pela ação de campos elétrico e magnético, se as cargas dos átomos interagirem com o campo; • Nem todos os átomos tem a mesma energia, poucos tem energia suficiente para difundirem. DIFUSÃO Difusão de Ar/He e Cu/Ni Considere uma caixa contendo uma membrana impermeável que a divide e duas partes. Um lado contém argônio puro e o outro hélio puro. •O que vai acontecer se a membrana for removida? •https://phet.colorado.edu/sims/html/diffusion/latest/diffusion_pt_BR.html • O que acontece se trocar o argônio e o hélio por um monocristal de Cobre e outro DIFUSÃO Taxa de movimentação dos átomos e íons se relaciona com a temperatura ou energia térmica que os átomos contêm; T – temperatura (K) Q – energia de ativação (cal/mol) necessária para que um número de Avogadro ou íons de átomos se mova C0 – constante R – constante universal dos gases (1,987 cal/mol.K) 𝑇𝑎𝑥𝑎 = 𝐶0. 𝑒 −𝑄/𝑅𝑇 DIFUSÃO Cu-Ni DIFUSÃO Mecanismos de Difusão DIFUSÃO – consiste simplesmente na migração passo a passo dos átomos de uma posição para outra na rede cristalina. Para este movimento é necessário: 1. Existência de uma posição adjacente vazia, e 2. Energia suficiente para quebrar as ligações atômicas com seus átomos vizinhos e então causar uma distorção na rede durante o seu deslocamento. Dois modelos são dominantes para a difusão nos metais: • Difusão por lacunas; • Difusão intersticial. DIFUSÃO Difusão por Lacunas MOVIMENTO DE ATOMOS MOVIMENTO DE LACUNAS → átomos substitucionais trocam de posição com lacunas existentes no reticulado cristalino. ⚫ A movimentação é função do número de lacunas presentes. ⚫ O número de lacunas aumenta exponencialmente com a temperatura. ⚫ A movimentação do átomo ocorre em uma direção e a de lacunas ocorre na direção contrária. •AUTODIFUSÃO (difusão de átomos de mesma espécie) •INTERDIFUSÃO (difusão de átomos de espécies diferentes) DIFUSÃO Difusão Intersticial → átomos intersticiais migram para posições intersticiais adjacentes não ocupadas do reticulado. ⚫ Não há a necessidade de existir lacunas vizinhas. ⚫ Em metais e ligas, difusão de impurezas de raio atômico muito pequeno em relação ao raio atômico da matriz. Exemplos: hidrogênio, carbono, nitrogênio e oxigênio no aço. ⚫ Difusão intersticial é muito mais rápida que a difusão substitucional (por lacunas). DIFUSÃO Para ocorrer a movimentação dos átomos são necessárias duas condições: 1) deve existir um espaço livre adjacente. 2) o átomo deve possuir energia suficiente para quebrar as ligações químicas e causar uma distorção no reticulado cristalino. ENERGIA DE ATIVAÇÃO MECANISMOS DE DIFUSÃO Energia suficiente para que o átomo salte para sua nova posição; É a barreira de energia que precisa ser superada pela ativação térmica; Vencer barreira de energia → energia de ativação Q; Par de difusão → termo para indicar a combinação de um átomo de um elemento químico em difusão em um material hospedeiro; Baixa energia de ativação → difusão mais fácil. ENERGIA DE ATIVAÇÃO PARA DIFUSÃO Energia de ativação para a difusão aumenta com o aumento da temperatura de fusão em metais. ENERGIA DE ATIVAÇÃO EM RESUMO A difusão dos intersticiais ocorre mais rapidamente que a difusão de lacunas, pois os átomos intersticiais são menores e então tem maior mobilidade. Além disso, há mais posições intersticiais que lacunas na rede, logo, a probabilidade de movimento intersticial é maior que a difusão de lacunas. MECANISMOS DE DIFUSÃO Primeira Lei de Fick – Estado estacionário • A primeira lei de Fick – É uma equação que descreve a relação que existe entre o fluxo de átomos (Fluxo de difusão) e o gradiente de concentração. Define o coeficiente de difusão; • Coeficiente de Difusão (D) – Coeficiente que varia com a temperatura e que descreve a velocidade de difusão de um tipo de átomo, íon ou outro componente difunde em uma matriz; • Fluxo de difusão (J) – taxa de transferência de massa através do material; • Gradiente de concentração – A taxa de variação da composição em função da distância em um material. TAXA DE DIFUSÃO – 1ª Lei de Fick [Kg][m]-2[s]-1 [átomos][m]-2[s]-1 Forma diferencial 𝐽 = 𝑀 At 𝐽 = 1 𝐴 dM dt Fluxo de Difusão, (J) é a massa, (M), (ou número de átomos) que se difunde através e perpendicularmente a uma seção transversal de área unitária do sólido, por unidade de tempo. Matematicamente: 1ª LEI DE FICK – Estado Estacionário Se o fluxo difusional não varia com o tempo→ regime estacionário Ex.: difusão de átomos de um gás através de uma placa metálica para a qual as concentrações em ambas as superfícies da placa são mantidas constantes 1ª LEI DE FICK – Estado Estacionário Gradiente de Concentração [átomos][m]-3 Co e Cf = Constantes Fluxo de difusão não varia ao longo do tempo ESTADO ESTACIONÁRIO LEI DE FICK dC dx 𝐽 = −𝐷 dC dx dC dx 1ª LEI DE FICK – Estado Estacionário As unidades para J são quilogramas ou átomos por metro quadrado por segundo (kg/m2·s ou átomos/m2·s) D – coeficiente de difusão (m2/s) Força motriz – o que induz a ocorrência de uma reação. Na difusão no estado estacionário, o gradiente de concentração é a força motriz. 𝐽 = −𝐷 dC dx 1ª LEI DE FICK – Estado Estacionário Exemplo prático da difusão em estado estacionário: Purificação de gás hidrogênio. Um dos lados de uma chapa fina de paládio metálico é exposta ao gás impuro, composto pelo hidrogênio e outros componentes gasosos, como o nitrogênio, o oxigênio e o vapor d’água. O hidrogênio se difunde seletivamente através de uma chapa, para o lado oposto, que é mantido sob uma pressão de hidrogênio constante e inferior. 1ª LEI DE FICK – Estado Estacionário Exercício: Uma placa de ferro é exposta a 700 °C a uma atmosfera carbonetante (rica em carbono) em um de seus lados e uma atmosfera descarbonetante (deficiente em carbono) no outro lado. Se uma condição de regime estacionário é atingida, calcule o fluxo difusional do carbono através da placa, caso as concentrações de carbono nas posições a 5 e a 10 mm abaixo da superfície carbonetante sejam 1,2 e 0,8 Kg/m3, respectivamente. Considere um coeficiente de difusãode 3x10-11 m2/s nessa temperatura. 1ª LEI DE FICK – Estado Estacionário Solução A primeira Lei de Fick, Equação 5.2, é usada para determinar o fluxo difusional. A substituição dos valores acima nessa expressão resulta em 𝐽 = −𝐷 dC dx A maioria das situações práticas envolvendo difusão ocorre em condições de estado NÃO estacionário – o fluxo de difusão e o gradiente de concentração em um ponto específico no interior do sólido variam ao longo do tempo. Perfis de concentração para um processo de difusão em estado não estacionário, tomados em três diferentes instantes de tempo, t1, t2 e t3. 2ª LEI DE FICK – Estado Não Estacionário • Segunda Lei de Fick – Corresponde à equação diferencial parcial que descreve a taxa com que os átomos são redistribuídos em um material, por difusão. 2ª LEI DE FICK – Estado Não Estacionário LEI DE FICK Se o coeficiente de difusão independe da composição 𝜕𝐶 𝜕𝑡 = 𝜕 𝜕𝑥 𝐷 𝜕𝐶 𝜕𝑥 𝜕𝐶 𝜕𝑡 = 𝐷 𝜕2𝐶 𝜕𝑥2 2ª LEI DE FICK – Estado Não Estacionário Hipóteses adotadas: 1. Antes da difusão a composição no sólido é uniforme com concentração Co; 2. O valor de x na superfície do sólido é zero e aumenta em direção ao centro do sólido; 3. O valor de t zero corresponde ao instante em que a difusão inicia; 4. Sólido semi-infinito com concentração na superfície constante C. 2ª LEI DE FICK – Estado Não Estacionário É O MESMO QUE DIZER QUE (condições de contorno) Para t=0, C=Co em 0 x Para t > 0, C=Cs em X=0, sendo que a concentração na superf. permanece cte. C=Co em X= Cx concentração em uma prof. X após um tempo t 𝐶𝑥 − 𝐶0 𝐶𝑠 − 𝐶0 = 1 − erf 𝑥 2 2 Dt função erro de Gauss 2ª LEI DE FICK – Estado Não Estacionário É uma função erro de Gauss Se quero atingir uma determinada concentração Cl no material, posso calcular o tempo para atingir esta concentração a uma distância x da superfície da peça Importante em processos como CEMENTAÇÃO 𝐶𝑥 − 𝐶0 𝐶𝑠 − 𝐶0 = 1 − erf 𝑥 2 2 Dt erf 𝑧 = 2 2 𝜋 න 0 𝑧 𝑒−𝑦 2 dy Τ𝑥 2 2 Dt 2ª LEI DE FICK – Estado Não Estacionário IMPORTANTE •Os estágios finais de homogeneização são lentos; • A velocidade de difusão diminui com a diminuição do gradiente de concentração; • O gradiente de difusão varia com o tempo gerando acúmulo ou esgotamento de soluto. EXEMPLOS DO LIVRO • Indicativo da velocidade de difusão Depende: – da natureza dos átomos em questão – do tipo de estrutura cristalina – da temperatura D0 = constante calculada para um determinado sistema (átomos e estrutura) Qd = Energia de ativação para a difusão R = Constante dos gases T = Temperatura absoluta D0 [m] 2[s]-1 Qd [J] 2[mol]-1 R [J][K]-1[mol]-1 T [K] 𝐷 = 𝐷0exp − 𝑄 RT A energia de ativação pode ser considerada como a energia necessária para produzir o movimento difusivo de um mol de átomos. Energia de ativação alta → coeficiente de difusão relativamente pequeno. O COEFICIENTE DE DIFUSÃO EFEITO DO MECANISMO DE DIFUSÃO EFEITO DA TEMPERATURA © 2 0 0 3 B ro o k s/ C o le , a d iv is io n o f T h o m so n L ea rn in g , In c. T h o m so n L ea rn in g ™ is a t ra d em ar k u se d h er ei n u n d er l ic en se . Logaritmo do coeficiente de difusão versus o inverso da temperatura absoluta para vários metais. EFEITO DA TEMPERATURA © 2 0 0 3 B ro o k s/ C o le , a d iv is io n o f T h o m so n L ea rn in g , In c. T h o m so n L ea rn in g ™ is a t ra d em ar k u se d h er ei n u n d er li ce n se . EFEITO DA COMPOSIÇÃO FATORES QUE FAVORECEM A DIFUSÃO • Baixo empacotamento atômico • Baixo ponto de fusão • Ligações fracas (Van der Walls) • Baixa densidade • Raio atômico pequeno • Presença de imperfeições FATORES QUE DIFICULTAM A DIFUSÃO • Alto empacotamento atômico • Alto ponto de fusão • Ligações fortes (iônica e covalentes • Alta densidade • Raio atômico grande • Alta qualidade cristalina 2EFEITOS DA ESTRUTURA NA DIFUSÃO • A sinterização é um tratamento térmico utilizado para conferir resistência a um compactado de partículas. • Utilizado na metalurgia do pó e no processamento de materiais cerâmicos. • Os mecanismos de difusão são responsáveis pelo efeito de crescimento de grãos em materiais. • Pode ser utilizado em processos de junção DIFUSÃO E PROCESSOS ©2003 Brooks/Cole, a division of Thomson Learning, Inc. Thomson Learning™ is a trademark used herein under license. DIFUSÃO E PROCESSOS ©2003 Brooks/Cole, a division of Thomson Learning, Inc. Thomson Learning™ is a trademark used herein under license. Crescimento de grãos ©2003 Brooks/Cole, a division of Thomson Learning, Inc. Thomson Learning™ is a trademark used herein under license. DIFUSÃO E PROCESSOS 1. A superfície de uma engrenagem de aço com 0,1 % C deve ser endurecida por cementação. Na cementação a gás, as engrenagens de aço são colocadas em uma atmosfera gasosa que mantém uma concentração de 1,2 % C na superfície do aço, a uma temperatura elevada. Em decorrência dessa condição, o carbono se difunde da superfície para o interior do material. Para obter as propriedades mecânicas do projeto, o aço deve conter 0,45 % C a uma profundidade de 0,2 cm abaixo da superfície. Desenvolva um tratamento térmico por cementação que produza esse perfil de concentração de carbono. Suponha que a temperatura seja suficientemente elevada (900 °C, pelo menos), para que o ferro tenha uma estrutura CFC. EXERCÍCIO Argumento da função de erro z Valor da função de erro erf(z) 0,55 0,5633 0,60 0,6039 0,65 0,6420 0,70 0,6778 0,75 0,7112 0,80 0,7421 0,85 0,7707 0,90 0,7970 0,95 0,8209 1,00 0,8427 1,1 0,8802 1,2 0,9103 Par de difusão Q (cal/mol) D0 (cm2/s) Difusão intersticial C no ferro CFC 32.900 0,23 C no ferro CCC 20.900 0,011 N no ferro CFC 34.600 0,0034 N no ferro CCC 18.300 0,0047 H no ferro CFC 10.300 0,0063 H no ferro CCC 3.600 0,0012 EXERCÍCIO Tem-se que: Cs = 1,2 % C, C0 = 0,1 % C, Cx = 0,45 % C em x=0,2 cm. A partir da 2ª lei de Fick 𝐶𝑆 − 𝐶𝑋 𝐶𝑆 − 𝐶0 = erf 𝑥 2 2 Dt EXERCÍCIO Tem-se que: Cs = 1,2 % C, C0 = 0,1 % C, Cx = 0,45 % C em x=0,2 cm. A partir da 2ª lei de Fick 0,68 = erf 0,2cm 2 2 Dt 𝐶𝑆 − 𝐶𝑋 𝐶𝑆 − 𝐶0 = erf 𝑥 2 2 Dt 0,1cm 2 Dt = 0,71 Dt = 0,1 0,71 2 = 0,0198cm2 EXERCÍCIO Qualquer combinação de D e t cujo produto seja 0,0198 cm2 produzirá o perfil de concentração desejado. No caso em que o carbono se difunde pelo ferro CFC, o coeficiente de difusão depende da temperatura, conforme: 𝐷 = 𝐷0exp −𝑄 RT De tabela: 𝐷 = 0,23exp −32.900 1,987.𝑇(𝐾) = 0,23exp −16.558 𝑇 EXERCÍCIO Portanto, o tempo e a temperatura de tratamento térmico estão relacionados por: 𝑡 = 0,0198 𝐷 = 0,0198 0,23exp −16. Τ558 𝑇 = 0,0861 exp −16, Τ558 𝑇 Eis algumas combinações típicas de temperatura e tempo: ➢ Se T=900°C = 1173 K, então t=116.174 s = 32,3 h ➢ Se T=1.000°C = 1.273 K, então t=36.360 s = 10,7 h ➢ Se T=1.100°C = 1.373 K, então t=14.880 s = 4,13 h ➢ Se T=1.200°C = 1.473 K, então t=6.560 s = 1,82 h EXERCÍCIO
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