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Rafaela Carvalho de Oliveira Silvia Gattai GESTÃO POR COMPETÊNCIAS *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Copyright Universidade Positivo 2016 Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Campo Comprido Curitiba-PR – CEP 81280-330 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca da Universidade Positivo – Curitiba – PR O48 Oliveira, Rafaela Carvalho de. Gestão por competências [recurso eletrônico]. / Rafaela Carvalho de Oliveira, Silvia Gattai. – Curitiba : Universidade Positivo, 2016. 144 p. : il. Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader. Modo de acesso: <http://www.up.edu.br> Título da página da Web (acesso em 03 out. 2017). ISBN: 978-85-8486-288-7. 1. Administração de pessoal. 2. Desempenho. 3. Recursos Humanos. I. Gattai, Silvia. II. Título. CDU 658.3 Superintendente Reitor Pró-Reitor Acadêmico Coordenador Geral de EAD Coordenadora de Operações de EAD Autoria Supervisão Editorial Parecer Técnico Validação Institucional Layout de Capa Imagem de Capa Prof. Paulo Arns da Cunha Prof. José Pio Martins Prof. Carlos Longo Prof. Renato Dutra Profa. Manoela Pierina Tagliaferro Profa. Rafaela Carvalho de Oliveira e Profa. Silvia Gattai Bianca de Brito Nogueira e Fabieli Campos Higashiyama Edilene Garcia Francine Ozaki e Regiane Rosa Valdir de Oliveira Juliano Henrique FabriCO KOL Soluções em Gestão do Conhecimento Ltda EPP Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão Ícones Afirmação Contexto Biografia Conceito Esclarecimento Dica Assista Curiosidade Exemplo Sumário Apresentação ..................................................................................................................10 As autoras ........................................................................................................................ 11 Capítulo 1 Contextualizando e definindo o conceito de competência ....................................................13 1.1 Mudanças no ambiente de negócios e suas implicações para as organizações ........ 13 1.1.1 O ambiente organizacional em mudança ...............................................................................................................14 1.1.2 Impactos das mudanças no campo da gestão de pessoas: a necessidade de novos modelos .............................15 1.2 Gestão de pessoas: do modelo tradicional ao estratégico ........................................ 17 1.2.1 Gestão tradicional de pessoas ................................................................................................................................17 1.2.2 Gestão estratégica de pessoas como pano de fundo para a utilização do conceito de competência ...................19 1.3 Entendendo o conceito de competência ...................................................................20 1.3.1 O conceito de competência sob diferentes abordagens ........................................................................................ 21 1.3.2 O significado da competência no campo da gestão de pessoas .......................................................................... 22 Referências ......................................................................................................................25 Capítulo 2 Gestão de pessoas por competências .............................................................................27 2.1 Conceitos de gestão por competências .....................................................................27 2.1.1 Definindo a gestão por competências .................................................................................................................. 28 2.1.2 Entendendo e diferenciando competências organizacionais, individuais e de equipes ........................................ 29 2.1.3 Articulação entre competências organizacionais e individuais ..............................................................................31 2.2 Conceitos complementares: complexidade e espaços ocupacionais ........................33 2.2.1 Complexidade ........................................................................................................................................................ 33 2.2.2 Espaços ocupacionais ............................................................................................................................................ 34 2.3 Interfaces da gestão de competências com outros temas ........................................36 2.3.1 Articulação entre estratégia organizacional, desempenho e gestão por competências....................................... 37 2.3.2 Articulação entre estratégia organizacional, cultura e gestão por competências ................................................ 38 2.3.3 Articulação entre visão baseada em recursos e gestão por competências .......................................................... 39 2.3.4 Articulação entre complexidade, espaços ocupacionais e gestão por competências ............................................41 Referências ......................................................................................................................43 Capítulo 3 Modelo de gestão por competências ..............................................................................45 3.1 Estrutura, etapas e responsabilidades na implantação de um modelo de gestão por competências ..................................................................45 3.1.1 Estrutura e etapas do modelo de gestão por competências ................................................................................. 46 3.1.2 Responsabilidades da área de gestão de pessoas e das demais áreas organizacionais na implantação da gestão baseada em competências .................................................................................................. 50 3.1.3 Sensibilização e divulgação da gestão baseada em competências: por que e como fazer ................................... 52 3.2 Mapeamento de competências .................................................................................53 3.2.1 Premissas para o levantamento de dados para o sistema de gestão por competências ...................................... 53 3.2.2 Utilização de entrevistas, questionários e grupos focais para levantamento de dados ....................................... 54 3.2.3 Mapeando competências nos dados coletados .................................................................................................... 55 3.3 Mensuração e certificação de competências ............................................................57 3.3.1 Mensuração de competências por níveis de proficiência ...................................................................................... 57 3.4 A utilização dos indicadores na gestão por competências ........................................59 3.4.1 Utilização de indicadores em gestão de pessoas por competências ..................................................................... 59 Referências ......................................................................................................................62 Capítulo 4 Práticas de recrutamento e seleção com foco em competências ...................................63 4.1 Criação e manutenção de um banco de talentos estruturado por competências .....63 4.1.1 Como construir um banco de talentos com ênfase em competências .................................................................. 64 4.1.1 Administrando o banco de talentos .......................................................................................................................66 4.2 Recrutamento e seleção de pessoas por competências ............................................67 4.2.1 Fontes e métodos para o recrutamento de pessoas com base em competências ............................................... 68 4.2.2 Levantamento do perfil profissional ..................................................................................................................... 69 4.2.3 Instrumentos para seleção por competências ...................................................................................................... 69 4.2.4 O Método STAR (situação-tarefa-ação-resultado) para seleção por competências ............................................ 70 4.3 Entrevistas comportamentais com foco em competências ......................................72 4.3.1 Construção do roteiro de perguntas para entrevistas comportamentais por competências: orientações e modelos ........73 4.3.2 Aplicação da entrevista comportamental por competências ................................................................................74 4.3.3 A avaliação da entrevista comportamental: o papel do profissional de RH e dos demais participantes ............. 75 4.3.4 Mensuração dos resultados da entrevista comportamental com foco em competências ....................................76 4.4 Jogos e dinâmicas com foco em competências ........................................................78 4.4.1 Aplicação de jogos e dinâmicas com foco em competências ............................................................................... 78 Referências ......................................................................................................................82 Capítulo 5 Desenvolvimento de pessoas com foco em competências .............................................83 5.1 Educação Corporativa e desenvolvimento de competências .....................................83 5.1.1 A Educação Corporativa: contexto de surgimento, conceito e objetivos ............................................................... 83 5.1.2 Diferenças entre os centros tradicionais de Treinamento e Desenvolvimento e os Sistemas de Educação Corporativa ......86 5.1.3 Educação Corporativa com foco em competências ............................................................................................... 89 5.2 Prática de Educação Corporativa com foco em competências ..................................91 5.2.1 Como criar um programa de Educação Corporativa com base nos resultados do mapeamento de competências ...........91 Referências ......................................................................................................................96 Capítulo 6 Práticas de desenvolvimento profissional com foco em competências ..........................97 6.1 Ferramentas para formação e desenvolvimento profissional com base em competências ........................................................................97 6.1.1 Trilhas de aprendizagem baseadas em competências ........................................................................................... 97 6.1.2 Coaching, mentoring e programas on-the-job ..................................................................................................... 100 6.1.3 Treinamento e-learning ....................................................................................................................................... 104 6.2 Plano de Desenvolvimento Individual (PDI)por competências ...............................106 6.2.1 Como implantar o Plano de Desenvolvimento Individual por competências ..................................................... 106 Referências .................................................................................................................... 111 Capítulo 7 Avaliação de desempenho por competências ............................................................... 113 7.1 Avaliação de desempenho e processo de gestão de desempenho ........................ 113 7.1.1 Avaliação de desempenho e gestão do desempenho: conceitos e relação com a estratégia organizacional .....114 7.1.2 Avaliações centradas em metas e objetivos estratégicos .....................................................................................116 7.1.3 Avaliações orientadas para o desenvolvimento das competências aliadas às estratégias organizacionais .........117 7.1.4 Avaliações em rede................................................................................................................................................119 7.2 Ferramentas para avaliação de desempenho com foco em competências .............121 7.2.1 O medidor de competências: elaboração, aplicação e mensuração de resultados ..............................................121 7.2.2 Como construir, aplicar e interpretar a avaliação 360º ....................................................................................... 123 7.3 A prática de feedback no contexto da avaliação de desempenho por competências ........126 7.3.1 Importância, responsabilidades e dificuldades envolvendo feedback da avaliação de desempenho por competências ..................................................................................................126 7.3.2 Como aplicar e receber feedback da avaliação de desempenho por competências .............................................127 7.3.3 O feedback como instrumento para elaboração do Plano de Desenvolvimento de Competências .....................128 Referências ....................................................................................................................129 Capítulo 8 Remuneração e carreira com foco em competências ...................................................131 8.1 Conceituando carreira para o modelo de gestão por competências .......................131 8.1.1 Conceito e tipos de carreira ...................................................................................................................................131 8.1.2 O significado da carreira no modelo de gestão por competências e o impacto da estratégia organizacional ....133 8.2 Remuneração por competências .............................................................................135 8.2.1 Compreendendo o papel da remuneração no modelo de gestão por competências .........................................135 8.2.2 Como elaborar um sistema de remuneração por competências .........................................................................137 8.3 Reconhecimento .....................................................................................................139 8.3.1 Implicações legais de um modelo de remuneração por competências .............................................................. 140 8.3.2 Diferenças entre remuneração e reconhecimento: conceitos e exemplos práticos ............................................ 140 Referências ....................................................................................................................142 As constantes transformações no ambiente empresarial exigem modelos de ges- tão eficazes e mecanismos para promover o desenvolvimento organizacional. Como o domínio de competências que compõem o desenvolvimento profissional confere às empresas um desempenho superior ao de seus concorrentes, seus gestores precisam direcionar esforços para desenvolvê-las. Assim, abre-se espaço para a gestão por com- petências, que oferece aos profissionais uma alternativa aos modelos gerenciais tra- dicionalmente utilizados. Nesta obra, estudaremos sua origem, sua definição, sua aplicabilidade e funcionalidade e os impactos nos processos específicos da gestão de pessoas, com foco no desempenho organizacional. Com esses conhecimentos, os pro- fissionais estarão preparados para mapear e planejar a gestão por competências, vi- sando a um melhor desempenho pessoal e organizacional. Apresentação Dedico com carinho aos alunos da área de gestão, para que possam viajar pelomundo da gestão de pessoas, em especial, da gestão por competências. As autoras Rafaela Carvalho de Oliveira é Mestre em Administração pela UFSC e Especialista em Comportamento Organizacional e Gestão de Pessoas pela ESAB. É graduada em Administração também pela UFSC e em Direito pelo Cesusc. Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/8295009830671727> Aos alunos e alunas desejo, com carinho, uma leitura prazerosa e significativa dos conceitos e práticas de Gestão por Competências. Silvia Gattai é Doutora em Administração pela Universidade de São Paulo (USP), Mestre em Administração pela Universidade Metodista de São Paulo e gradua- da em Psicologia pela mesma instituição de ensino. Possui experiência de 30 anos em gestão de pessoas em grandes empresas. Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/6493947491193812> 1 Contextualizando e definindo o conceito de competência Rafaela Carvalho de Oliveira Neste capítulo, estudaremos o conceito de competência e conheceremos a sua importância e relevância para nós, como pessoas e profissionais, e também para as or- ganizações contemporâneas. Antes, entretanto, precisamos compreender as mudan- ças que vêm ocorrendo no mundo do trabalho e das organizações, bem como os seus reflexos para a gestão de pessoas e para o trabalhador. Identificaremos, assim, a ne- cessidade da aplicação de novos modelos de gestão diante dos desafios da contempo- raneidade. Essas transformações levam as organizações a adotarem um modelo mais estratégico, o qual abre espaço para a gestão por competências. 1.1 Mudanças no ambiente de negócios e suas implicações para as organizações Vivemos em um mundo em constante transformação. A primeira mudança signi- ficativa que vem ocorrendo em escala global é o surgimento de uma sociedade basea- da na informação, que se manifesta por meio do rápido desenvolvimento tecnológico; a segunda é o processo de globalização, que quebra barreiras geográficas, removendo obstáculos para a comercialização de bens e serviços (VERGARA, 2009). Ora, se o ambiente de negócios está dentro desse mundo globalizado, fica claro que ele também se transforma constantemente, afinal, conseguimos aplicar em nos- sas empresas tecnologias advindas dos países mais distantes e conhecemos casos de sucesso de organizações de todas as partes do mundo, pois temos um volume expres- sivo de informação disponível. Com a globalização e as novas tecnologias, como a internet, por exemplo, podemos comprar produtos da China com a mesma facilidade que os adquirimos em nossas cidades. A competição é global, ou seja, os concorrentes não são apenas as empresas do mesmo bairro ou vizinhança: podem ser companhias que se encontram em lugares geo- graficamente distantes. Quem se mantiver estático e preso aos pro- cessos e políticas de outrora, ficará para trás. © S er ge y N iv en s // Sh ut te rs to ck Gestão por CompetênCias 14 Assim, é preciso que as empresas contem com estratégias bem definidas e de conhe- cimento de todos os envolvidos para que possam ser executadas. Nesse sentido, a co- municação é uma aliada para que a empresa se mantenha competitiva, uma vez que todos precisam estar cientes dos rumos que a organização pretende tomar. Além dis- so, é imprescindível que os colaboradores tenham qualificações profissionais ade- quadas, de modo a permitir que a organização desenvolva suas atividades, sempre da melhor forma possível, no intuito de cumprir seus objetivos organizacionais. Esse cenário leva ao aumento da exigência de maior valor agregado dos produ- tos e/ou serviços oferecidos, ou seja, o valor percebido pelo cliente/consumidor, consi- derando preço versus benefício em comparação com a concorrência. O valor agregado não representa o preço do produto ou serviço, mas sim um diferencial, que, na visão do cliente, justifica a escolha de determinado produto/serviço, em vez de outros si- milares ofertados no mercado. A entrega rápida, o atendimento personalizado, a ga- rantia estendida, os serviços de pós-venda e uma marca renomada são exemplos de atributos que agregam valor. Para que a organização seja competitiva e agregue valor aos seus produtos e ser- viços, é preciso que se mantenha sempre atualizada, dando a devida atenção para o desenvolvimento das pessoas e dos processos e, principalmente, buscando sempre o melhor e mais adequado modelo de gestão. Por esse motivo, nesta seção, estudare- mos como essas transformações impactam as organizações. 1.1.1 O ambiente organizacional em mudança Como a concorrência se tornou global, os níveis de competição estão cada vez mais acirrados, por isso as organizações precisam se tornar mais flexíveis, adaptáveis e rápidas nas respostas às inovações e aos problemas na reorganização de estruturas e processos. Nesse sentido, precisamos ter ciência de que as empresas estão passando por trans- formações que nem sempre são iniciadas internamente, mas que são forçadas pela neces- sidade de se manterem vivas em um mercado global dinâmico e exigente (NERI, 1999). Para permanecerem competitivas, muitas or- ganizações estão realizando parcerias, coope- rações, enfim, alianças que configuram novas relações com concorrentes e fornecedores, em busca de minimizar as ameaças que possuem em comum ou por necessidade de redução de custos (VERGARA, 2009). Estamos falando das mudanças no ambiente organizacional, mas, afinal, quais são elas? © O ne O 2 / / S hu tt er st oc k Gestão por CompetênCias 15 As transformações pelas quais as empresas vêm passando podem ser dividi- das em três áreas principais. A primeira é a tecnológica, que impacta diretamente as formas de organização do trabalho, os fluxos de tarefas e a exigência de novas habi- lidades por parte dos colaboradores. A evolução tecnológica introduz processos que muitas vezes dispensam a presença do colaborador, possibilita maior rapidez e volume no fluxo de informações e permite a criação da organização virtual ou teletrabalho (VERGARA, 2009). A organização virtual, o teletrabalho ou trabalho remoto são as atividades realizadas fora do ambiente organizacional. Essa é uma prática comum em algumas áreas, como publicida- de e marketing, possível graças à internet, aos notebooks e a maiores opções de controle de resultados. O segundo tipo de transformação é a organizacional, que se refere a novas es- truturas, caracterizadas pela redução de níveis hierárquicos; desenvolvimento de com- posições em rede; ênfase em equipes multidisciplinares, multifuncionais e com alto grau de autonomia (autogerenciadas); maior delegação de tarefas; compartilhamen- to de poder e visão estratégica por parte de todos os colaboradores, e não apenas da cúpula (VERGARA, 2009). Por fim, existem as mudanças na dimensão humana, que estão ligadas às pes- soas e incluem as relações de trabalho, a responsabilidade do colaborador dentro da organização, o papel da organização no desenvolvimento e na construção da carreira dos colaboradores, a ética, entre outros fatores. O compartilhamento de responsabili- dades, a descentralização na tomada de decisão, a busca por autorrealização das pes- soas, e não apenas bons salários, são exemplos de algumas das transformações que afetam diretamente as pessoas. No próximo item, abordaremos os impactos que essas alterações geram no campo da gestão de pessoas. 1.1.2 Impactos das mudanças no campo da gestão de pessoas: a necessidade de novos modelos As mudanças no ambiente organizacional impactam diretamente a gestão de pessoas. A maior parte das alterações nos processos e estruturas da empresa tende a gerar reflexos no trabalho dos colaboradores, nos cargos, nas funções e atividades de forma geral. Além disso, o perfil das pessoas que compõem as organizações está mudando, e nós precisamos estar atentos. Para que possamos visualizar melhor como ocorre esse impacto, as principais transformações na gestão de pessoas, identificadas por Dutra (2009), são listadas a seguir. Gestão por CompetênCias 16• Alteração do perfil das pessoas exigido pelas empresas: o colaborador pas- sa do perfil obediente e disciplinado para o autônomo e empreendedor. Essa nova exigência reflete em mudança na cultura organizacional, para estimular e apoiar a iniciativa (proatividade), criatividade e a busca autônoma de resulta- dos para a organização. • Deslocamento do foco da gestão de pessoas, que passa do controle para o desenvolvimento: os colaboradores eram vistos como objetos de controle e tinham uma postura mais passiva. No novo contexto, busca-se o desenvolvi- mento mútuo, ou seja, a empresa, ao se desenvolver, também aprimora seus colaboradores e vice-versa. • Maior relevância das pessoas no sucesso do negócio ou da empresa: as pes- soas precisam estar comprometidas com a organização de forma integral, ou seja, mobilizando todo o seu potencial e gerando vantagem competitiva. Além disso, elas precisam pertencem à organização, fazer para dela por meio de suas ações e atuação, como parceiras para o desenvolvimento. Nesse cenário, os co- laboradores passam a representar o patrimônio intelectual da empresa. Nesse cenário de mudança, possibilita- -se o compartilhamento de responsabilida- des, o que significa que as empresas oferecem meios para que os colaboradores se desen- volvam (pessoal e profissionalmente). Assim, cada profissional passa a ser o responsável pela própria carreira, de forma comprometida com os resultados pessoais e organizacionais (VERGARA, 2009). Os profissionais de ges- tão de pessoas precisam saber como lidar com essa nova situação e se manter atualizados, afinal, cada alteração significativa exige uma reação na reestruturação de políticas, estratégias ou processos. Embora seja necessário que a gestão de pessoas consiga se adaptar a essas trans- formações, ainda não há um modelo de gestão de pessoas totalmente estabelecido e adequado para atender às necessidades que advêm delas, que possa substituir integral- mente o modelo tradicional. Mesmo assim, o modelo de gestão de pessoas está se refor- mulando, migrando para um modelo com enfoque estratégico, como veremos a seguir. © A nd re sr / / S hu tt er st oc k Gestão por CompetênCias 17 1.2 Gestão de pessoas: do modelo tradicional ao estratégico A gestão de pessoas, responsável por auxiliar os gestores na busca, na avaliação, na capacitação e no crescimento das pessoas, representa uma das principais áreas da organização, visto que é por intermédio das equipes que as atividades são realizadas e os propósitos da empresa são atingidos. Como vimos, a gestão de pessoas vem sofrendo alterações advindas das mudan- ças no ambiente de negócios e no ambiente organizacional. Essas alterações levam à configuração de dois modelos: o tradicional e o estratégico. De forma resumida, o tradicional está relacionado à área responsável pelos pro- cessos de recrutamento e seleção, treinamento, avaliação e por todos os processos e assuntos relativos às pessoas inseridas na organização. O estratégico também é res- ponsável pelos processos e pelas pessoas, mas busca sempre o alinhamento da gestão de pessoas com a estratégia da organização. Para que possamos entender melhor a diferenciação entre os dois modelos, preci- samos conhecer alguns detalhes e as especificidades de cada um. 1.2.1 Gestão tradicional de pessoas A área de gestão de pessoas é responsável pelas políticas e práticas necessárias para a administração do trabalho dos colaboradores, de forma a criar condições que le- vem ao crescimento e desenvolvimento tanto dos indivíduos quanto das empresas nas quais eles trabalham (CHIAVENATO, 2010). O autor resume as políticas e práticas de gestão de pessoas em seis processos básicos: • agregar pessoas (recrutamento e seleção): busca incorporar novas pessoas à empresa; • aplicar pessoas (desenho organizacional e avaliação de desempenho): inclui todos os processos utilizados para desenhar, orientar e acompanhar as atividades desempenha- das na empresa, como a avaliação de de- sempenho, por exemplo; • recompensar pessoas (remuneração, benefícios e incentivos): procurar incen- tivar o trabalho das pessoas, de modo que elas possam satisfazer suas necessi- dades pessoais; • desenvolver pessoas (treinamento e desenvolvimento, aprendizagem e gestão do conhecimento): objetiva a capacitação e o incremento do desenvolvimento das pessoas; © S up ha ki t7 3 / / S hu tt er st oc k Gestão por CompetênCias 18 • manter pessoas: pressupõe a preocupação com a qualidade de vida no traba- lho e a atenção aos fatores de higiene, segurança e ergonomia. Busca a criação de condições ambientais satisfatórias para realização das atividades; • monitorar pessoas: utiliza bancos de dados e sistemas de informações geren- ciais para acompanhar as pessoas, de forma a controlar seu desempenho. No modelo tradicional de gestão de pessoas, o foco está nos processos operacio- nais. No de recrutamento e seleção, por exemplo, a empresa procura encontrar a pes- soa mais adequada para ocupar um cargo disponível, e a área de gestão de pessoas desempenha seu papel de forma independente, sem muita conexão com as outras áreas da organização. O processo seletivo não está alinhado com as diferentes áreas da empresa, o que dificulta muito o caminho em direção ao cumprimento dos objeti- vos estratégicos da organização. Vamos compreender esse cenário por meio de um exemplo. Suponha que uma padaria está contratando um padeiro. É preciso encontrar (nor- malmente com urgência) uma pessoa que possa ocupar a vaga disponível e, para isso, a gestão tra- dicional de pessoas foca o processo seletivo. Não há muita preocupação com as pessoas, com pla- nejamento e desenvolvimento de carreira ou ainda com o alcance dos objetivos organizacionais. Além disso, o responsável pela produção da padaria e o superior imediato do padeiro podem nem participar do processo seletivo, visto que, no modelo tradicional, a responsabilidade sobre os processos operacionais de gestão de pessoas é exclusiva da área de gestão de pessoas. Esse modelo de gestão vem mudando em consequência das mudanças organi- zacionais e das alterações no perfil dos colaboradores. Isso porque, com a velocidade das mudanças internas e externas às organizações, passou a ser necessário contar com pessoas mais autônomas e proativas, um perfil bastante diferente do que vinha sen- do procurado no passado, quando o foco estava na obediência e submissão (DUTRA, 2009; NERI, 1999). Nesse sentido, a área de gestão de pessoas está deixando lentamente de ser cen- tralizadora e de decidir todo e qualquer assunto relativo às pessoas da organização, abrindo cada vez mais espaço para gestão de pessoas como função. Ou seja, a respon- sabilidade pela gestão passa a ser compartilhada por todos os gerentes de linha da or- ganização, enquanto as atividades operacionais, antes centralizadas na área da gestão © D ei M os z / / S hu tt er st oc k Gestão por CompetênCias 19 de pessoas, são transferidas para terceiros. É por esse motivo que algumas organizações contratam empresas terceirizadas para realizar processos seletivos, por exemplo. As atividades de linha estão diretamente ligadas à operacionalização da empresa, isto é, às ati- vidades-fim e aos objetivos da organização. Por exemplo: produção. Assim, os gerentes de li- nha são os responsáveis diretos por essas áreas. Essa descentralização dos processos é necessária para que todas as decisões da empresa possam ser tomadas em tempo hábil. Segundo Dutra (2009), essa mudan- ça de paradigma torna necessário contar com pessoas muito comprometidas com os objetivos e as estratégias organizacionais. Assim, o modelo tradicional de gestão de pessoas passou a perder espaço, permitindo que a gestão estratégica começasse a ser inserida nas organizações. 1.2.2 Gestão estratégica de pessoas como pano de fundo para a utilização do conceito de competência A ideia de gestão estratégica de pessoas não é recente, massua aplicabilidade sim. Seu conceito surgiu na década de 1980, nos Estados Unidos, nas universidades de Michigan e Harvard. De acordo com Girardi (2010), ainda que cada instituição contasse com uma abordagem específica, as duas defendiam que missão, visão, estratégia, es- trutura e gestão de pessoas precisavam estar integradas e intervir de forma conjun- ta no planejamento estratégico. Assim, com base nessas propostas, começou a busca pelo alinhamento entre gestão de pessoas e estratégia organizacional. Para entender melhor como a gestão de pessoas passou a adotar um modelo mais estratégico, não deixe de ler a obra Recursos Humanos Estratégicos: novas perspectivas para os profissionais de RH, de Ulrich (2000). Essa integração tem o objetivo de alcançar sempre o melhor desempenho possí- vel, bem como gerar estímulos à inovação e à flexibilidade. Nesse cenário, os profis- sionais da área de gestão de pessoas precisam desempenhar diferentes atividades e funções operacionais e estratégicas, controlar os colaboradores, mas também ser par- ceiros e cumprir seus objetivos, sempre agregando valor e criando vantagem competi- tiva para a organização. Gestão por CompetênCias 20 Considerando essa visão, Chiavenato (2010) apresenta quatro novos papéis da gestão de pessoas: • administrar as estratégias de gestão de pessoas: ajudar a impulsionar a es- tratégia organizacional; • administrar a infraestrutura da empresa: oferecer uma base de serviços à orga- nização, de modo a auxiliá-la a obter eficiência e eficácia em todos os processos; • administrar a contribuição dos colaboradores: buscar transformar os colabo- radores em parceiros, agentes empreendedores; • administrar a mudança: ajudar a organização a ser criativa, renovadora e inovadora. Na gestão estratégica de pessoas, os colaboradores passam a ser mais importantes para o universo empresarial e, para que eles sejam altamente comprometidos com a or- ganização, é importante que a definição de uma estratégia de gestão de pessoas prece- da as demais estratégias. Nesse contexto, é preciso buscar o engajamento das pessoas (colaboradores) para alcançarem os objetivos organizacionais e, de forma paralela, seus objetivos pessoais. Assim como o colaborador contribui para que a empresa atinja seus resultados e seja bem-sucedida, a empresa auxiliará no desenvolvimento do colaborador. Outra questão importante é que, na gestão estratégica de pessoas, o foco sai do cargo e passa para o indivíduo, assim, a preocupação excessiva com o cargo abre espa- ço para as competências. Desse modo, podemos falar em um modelo no qual a área de gestão de pessoas deve assumir um papel importante no desenvolvimento das estraté- gias organizacionais, considerando que é a responsável por atrair, manter e desenvol- ver as competências necessárias ao alcance dos objetivos organizacionais. Mas o que é competência? Entenderemos melhor esse conceito a partir de agora. 1.3 Entendendo o conceito de competência Antes de iniciarmos nossa caminhada no conhecimento da gestão por competên- cias, é preciso ter clareza sobre o que é competência. Em que consiste esse termo que ouvimos falar tantas vezes e em diferentes contextos? Para uma melhor compreensão, vamos conhecer primeiramente seu significado no campo da gestão de pessoas e, pos- teriormente, sob diferentes abordagens. Gestão por CompetênCias 21 1.3.1 O conceito de competência sob diferentes abordagens A noção de competência se desenvolveu a partir da percepção das mudanças sig- nificativas no modelo de julgamento avaliativo dos colaboradores que as organizações realizavam e das alterações nas práticas de gestão de pessoas. O conceito de competência foi utilizado pela primeira vez, de forma estruturada, pelo psicólo- go americano David McClelland (1917-1998), em 1973, ao buscar um meio mais efetivo para os processos de seleção de pessoas nas organizações (DUTRA, 2009). Para um melhor entendimento sobre a competência, é necessário conhecermos as principais escolas que estudam esse tema: a americana e a francesa. Para os auto- res americanos, como McClelland (1973) e Boyatzis (1982), a competência é vista como um conjunto de qualificações que permite melhor desempenho no trabalho ou em de- terminada situação (apud DUTRA, 2009). É uma abordagem altamente voltada para o desempenho por meio do desenvolvimento das três dimensões da competência: co- nhecimentos, habilidades e atitudes (CHA). Assim, para os autores dessa escola, esses elementos podem ser previstos e estruturados, com o intuito de definir um conjunto ideal de qualificações para que a pessoa apresente os melhores resultados em suas ati- vidades. Nesse sentido, as pessoas possuem ou adquirem competências que as auxi- liam na realização de suas tarefas. Por outro lado, os autores franceses, como Le Boterf (1994) e Zarifian (1996), defendem que a competência está associada às realizações das pessoas, à entrega e à agregação de valor (apud DUTRA, 2009). Nessa visão, a competência, no contexto profissional, não representa uma lista de atributos individuais das pessoas, mas sim a combinação de conhecimentos, habilidades e atitudes que são efetivamente demons- trados no exercício das atribuições de cada um. Como apenas a existência desses atri- butos não garante que eles serão efetivamente aplicados, a competência só se revela quando aplicada em contexto adequado. A abordagem francesa compreende, assim, que a competência está relacionada à capacidade de iniciativa da pessoa, ou seja, de ir além das atividades prescritas, compreendendo e dominando novas situações no am- biente de trabalho, de forma responsável. Ao estudar as escolas americana e francesa, podemos entender que a competên- cia é inerente à pessoa, e não ligada à qualificação para ocupar um cargo. Para unificar ambas as visões, Carbone et al. (2009) apresentam outra proposta. Os autores con- cordam que a competência representa os conhecimentos, habilidades e atitudes para exercer uma atividade, mas de forma combinada com o desempenho demonstrado em determinado contexto, por meio da efetiva aplicação (mobilização) desses elementos. Gestão por CompetênCias 22 1.3.2 O significado da competência no campo da gestão de pessoas É comum ouvirmos falar que determinada pessoa tem competência para executar uma tarefa. Mas o que isso significa? O que configura uma pessoa competente? Afinal, o que é competência? A competência pode ser definida como “[...] a qualidade de quem é capaz de apre- ciar e resolver certo assunto, fazer determinada coisa, significa capacidade, habilidade, aptidão e idoneidade” (BOOG, 1991, p. 16). Para Resende (2003, p. 32), ela é [...] a transformação de conhecimentos, aptidões, habilidades, interesse, vontade, etc. em resultados práticos. Ter conhecimento e experiência e não saber aplicá-los em favor de um objetivo, de uma necessidade, de um compromisso, significa não ser competente. Assim, podemos dividir a competência em três dimensões complementares: o conhecimento (o saber), a habilidade (saber fazer) e a atitude (querer fazer), como afirma Leme (2005). As três dimensões da competência Conhecimentos AtitudesHabilidades Técnica Capacidade Saber como Identidade Determinação Querer fazer Informação Saber o quê Saber o porquê Competência Fonte: DURAND, 2000 apud BRANDÃO; GUIMARÃES, 2001, p. 10. © F ab ri CO Gestão por CompetênCias 23 Observando a figura, podemos compreender que, para ter competência, é preci- so unir a posse de informações, a técnica e a determinação em querer aplicar o que se sabe. Para Fischer et al. (2008), entretanto, esse enfoque é pouco instrumental, visto que não representa uma garantia de que essas características agregarão valor à organi- zação. Por isso, os autores defendem que é necessário incorporar a noção de entrega. Mas o que esse termo significa no contexto empresarial? Ainda conforme Fischer et al. (2008), diz respeito a verificar o quanto a pessoa está comprometida e efetivamentese envolve no trabalho e nas atividades que desen- volve, não apenas focando os resultados. Realizar essa observação é importante porque o colaborador pode não estar tão engajado e, dessa forma, não agregar tanto valor quanto parece para a organização. Por exemplo, um funcionário tem conhecimento em informática. Caso ele consiga apli- car esse conhecimento, colocando-o em prática, dizemos que ele tem habilidade. Mas e se ele tiver conhecimento e habilidade, mas não quiser aplicá-los? Dizemos, então, que falta atitude, que está intimamente relacionada ao comportamento adequado das pessoas. Resumidamente, são as características pessoais que levam o indivíduo a pra- ticar (ou não) o que conhece e sabe. Podemos dividir as competências em técnicas e comportamentais. Os conheci- mentos e as habilidades são considerados competências técnicas, ou seja, no caso de nosso exemplo, as competências técnicas do funcionário seriam seu conhecimento em informática e sua capacidade de colocá-lo em prática. Considerando o contexto em- presarial, eles abrangem tudo que a pessoa precisa saber para realizar suas tarefas, desempenhar sua função na organização e ser um especialista técnico (LEME, 2005). Ainda segundo o autor, as competências comportamentais representam o que a pes- soa precisa demonstrar como um diferencial competitivo que resulte em desempenho superior e resultados melhores. As competências comportamentais do colaborador do nosso exemplo poderiam ser iniciativa, proatividade e foco em resultados. Ao pensar na empresa e nas pessoas como parceiros, podemos perceber que ocorre uma troca de competências. A organização transfere parte do seu patrimônio para os colaboradores, de forma a enriquecê-los, preparando-os para enfrentar novas situações profissionais e pessoais e, em contrapartida, eles desenvolvem suas capaci- dades individuais, transferindo para a companhia o aprendizado e permitindo que seja possível enfrentar novos desafios organizacionais (DUTRA, 2009). Assim, em busca dessa agregação de valor, passa a ser mais adequado trabalharmos com a conceitua- ção de competência de Fernandes (2013, p. 48): “[...] um conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes [...] que um indivíduo mobiliza e aplica, de forma reiterada, den- tro de um contexto profissional, agregando valor à organização e a si mesmo”. Gestão por CompetênCias 24 Analisando as diferentes abordagens sobre competências, conseguimos perceber a possibilidade de integrar a estratégia organizacional à gestão de pessoas por inter- médio das competências. Dessa forma, podemos perceber que, para chegarmos à ges- tão por competências, um longo percurso foi percorrido. Ela surge em decorrência do impacto das mudanças no ambiente de negócios e das transformações organizacionais na gestão de pessoas, o que resultou em inovações no modelo de gestão. Gestão por CompetênCias 25 Referências BRANDÃO, H. P.; GUIMARÃES, T. A. Gestão de Competências e Gestão de Desempenho: tecnologias distintas ou instrumentos de um mesmo construto? Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 41, n. 1. p. 8-15, jan./mar. 2001. BOOG, G. G. O Desafio da Competência: como enfrentar as dificuldades do presente e preparar sua empresa para o futuro. São Paulo: Best Seller, 1991. CARBONE, P. P. et al. Gestão por Competências e Gestão do Conhecimento. Rio de Janeiro: FGV, 2009. CHIAVENATO, I. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organi- zações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. DUTRA, J. S. Competências: conceitos e instrumentos para a gestão de pessoas na empresa moderna. São Paulo: Atlas, 2009. FERNANDES, B. R. Gestão Estratégica de Pessoas com Foco em Competência. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. FISCHER, A. L. et al. Absorção do conceito de competência em gestão de pessoas: a percepção dos profissionais e as orientações adotadas pelas empresas. In: DUTRA, J. S.; FLEURY, M. T.; RUAS, R. L. (Orgs.). Competências: conceitos, métodos e expe- riências. São Paulo: Atlas, 2008. GIRARDI, D. Gestão do Conhecimento e Gestão de Pessoas: consultoria interna de RH – pesquisa nas maiores indústrias catarinenses. Florianópolis: Pandion, 2010. LEME, R. Aplicação Prática de Gestão de Pessoas: mapeamento, treinamen- to, seleção, avaliação e mensuração de resultados de treinamento. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005. NERI, A. A. Gestão de RH por Competências e a Empregabilidade. São Paulo: Papirus, 1999. RESENDE, E. O livro das Competências: desenvolvimento das competências: a me- lhor auto-ajuda para pessoas, organizações e sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003. ULRICH, D. Recursos Humanos Estratégicos: novas perspectivas para os profissionais de RH. Futura: São Paulo, 2000. VERGARA, S. C. Gestão de Pessoas. São Paulo: Atlas, 2009. 2 Gestão de pessoas por competências Rafaela Carvalho de Oliveira Com as constantes mudanças que o ambiente de negócios vem passando, novas atividades (ou atividades reformuladas) começam a ser desempenhadas no interior das organizações, o que exige de seus membros novas competências. Colaboradores que não possuem as competências necessárias para que a organização alcance seus obje- tivos podem trazer perdas para a empresa; realizar trabalho com qualidade inferior à esperada; ter menor produtividade; entre outros problemas, como deixar a empresa defasada em relação à concorrência. Nesse sentido, a gestão de pessoas por competências é uma importante aliada da gestão estratégica, pois as políticas, os processos e as ações ligadas à área buscarão oferecer apoio à estratégia organizacional por meio da ênfase nas competências hu- manas. Entretanto, se a organização não possuir seus objetivos, estratégias, missão e visão definidos de forma clara, não será possível aplicá-la adequadamente. Ao longo deste capítulo, estudaremos as dimensões do conceito de gestão por competências, compreenderemos a articulação das competências organizacionais e individuais e o conceito de competência considerando os espaços ocupacionais e seus níveis de complexidade. Analisaremos a gestão por competências em suas interfaces com a estratégia, o desempenho e a cultura da organização, bem como articularemos a visão baseada em recursos e a gestão por competências. 2.1 Conceitos de gestão por competências A gestão por competências é um princípio gerencial que objetiva impulsionar os colaboradores a alcançarem a competência profissional, adquirindo habilidades e apri- morando as que eles já possuem. Esse modelo de gestão está intimamente ligado à gestão estratégica de pessoas e vem ganhando espaço no contexto organizacional brasileiro, por ser uma ferramen- ta que caracteriza a identificação das competências essenciais, proporcionando maior produtividade, assertividade, ambientes participativos e motivacionais e comprometi- mento de todo o nível hierárquico. Para compreender a gestão por competências corretamente, precisamos concei- tuá-la e conhecer seus objetivos, suas etapas e o seu funcionamento, o que estudare- mos a partir de agora. Gestão por CompetênCias 28 2.1.1 Definindo a gestão por competências A gestão de competências é um modelo de gestão que visa reconhecer, formar e ampliar conhecimentos, habilidades e atitudes, de forma que agregam valor à or- ganização e aos indivíduos (DUTRA, 2010). Para Fernandes (2013), a gestão por com- petências se refere à definição e formalização de um conjunto de competências que a organização espera de seus colaboradores e utiliza sistematicamente como parâmetro para trabalhar suas pessoas. A gestão por competências tem como objetivos: o planejamento, a captação, o desenvolvimento e a avaliação das competências necessárias para que a organização alcance seus objetivos, sendo que essa avaliação deve ocorrer em todos os níveis: indi- vidual, por equipe e organizacional (BRANDÃO; GUIMARÃES, 2001). Para os autores, esse é um processo contínuo que se inicia com a formulação da estratégia da organiza- ção e segue com o estabelecimentode objetivos organizacionais, com a definição de indicadores de desempenho e com a identificação das competências necessárias para concretizar o desempenho esperado. Esse tipo de gestão compreende quatro etapas principais, segundo Leme (2005): Mapear as competências organizacionais (atributos/recursos coordenados que geram valor para a organização); Identi�car as competências que cada função requer; Identi�car as competências que cada colaborador possui (competências atuais); Fazer o cruzamento das informações apuradas, identi�cando o gap de treinamento e desenvol- vimento necessários para cada colaborador competências necessárias). © F ab ri CO . ( A da pt ad o) . Gestão por CompetênCias 29 Gap é uma lacuna, um espaço vazio que precisa ser preenchido por novas competências. Depois de fazer o mapeamento das competências e a identificação dos gaps, pode-se começar o treinamento e o desenvolvimento por competências, com o objetivo de desen- volver as competências que o colaborador não possui, mas que são necessárias para que ele exerça sua função satisfatoriamente. Quando a organização não contar com o número suficiente de pessoas para realizar suas atividades e atingir seus objetivos, ou não tiver co- laboradores com as qualificações e/ou competências requeridas para tanto, é necessário realizar a seleção por competências, ou seja, buscar indivíduos no mercado ou interna- mente para preencher as lacunas da empresa. Essas pessoas precisam apresentar o máxi- mo de competências compatíveis com o esperado para a função que será executada. Para que a gestão por competência obte- nha êxito em auxiliar a empresa a atingir seus resultados, todos os seus processos precisam estar alinhados com as competências organiza- cionais e com as competências requeridas por cada função, as quais precisam, por sua vez, es- tar de acordo com a estratégia organizacional. Até agora, compreendemos o conceito de competência atrelado às pessoas, mas ele também pode estar relacionado à própria organização. Compreenderemos melhor essa diferença no próximo item. 2.1.2 Entendendo e diferenciando competências organizacionais, individuais e de equipes Estamos acostumados com o conceito de competência relacionado às compe- tências individuais, ou seja, de cada pessoa. Contudo, esse conceito também pode ser aplicado às equipes e à organização. Nesse sentido, as competências organizacionais podem ser entendidas como atributos da organização que levam à eficácia e ao alcan- ce dos objetivos estratégicos. Elas também podem ser definidas como: [...] um conjunto de recursos coordenados que geram valor à organização, são difíceis de imitar, podem ser transferidos a outras áreas, produtos ou serviços da organização, e im- pactam o desempenho organizacional em um fator-chave a seu sucesso. (FERNANDES; FLEURY; MILLS, 2006, p. 50). © A nd re sr // S hu tt er st oc k Gestão por CompetênCias 30 Ao levarmos em consideração os estudos de Gramigna (2002), podemos classifi- car as competências organizacionais de acordo com os quatro tipos alistados abaixo. São fundamentais para a sobrevivência da organização, identi�cadas e de�nidas como as mais importantes para o sucesso do negócio. Devem ser percebidas pelos clientes/consumidores (oferecer benefícios reais); ser de difícil/impossível imitação e permitir acesso a diferentes mercados. Um exemplo é o dos Correios, que possuem a logística como competência essencial. Ainda que existam outras empresas que realizem entregas, nenhuma consegue atingir tantas regiões. Consideradas estratégicas, estabelecem a vantagem competitiva da empresa e são reconhecidas pelos seus clientes como algo que a distingue da concorrência. Esse tipo de competência é identi�cado na missão da empresa. Um exemplo é a Coca-Cola, que conta com milhões de pontos de distribuição. Esse é um diferencial, mas não uma competência essencial. São necessárias para manter a organização funcionando. Por exemplo: para as lojas virtuais, uma boa logística para atender aos clientes é uma competência básica que a empresa precisa ter. Competências que não estão ligadas à atividade-�m da organização e que podem ser repassadas a fontes externas com maior competência e valor agregado. Servem de base para outras atividades da empresa. Por exemplo: uma companhia pode contratar terceiros para exercer atividades como contabilidade, engenharia, segurança, entre outras, desde que não estejam ligadas à �nalidade da organização. Essenciais Diferenciais Terceirizáveis (ou de suporte) Básicas © F ab ri CO . ( A da pt ad o) . As diferentes competências organizacionais são importantes não apenas para a sobrevivência da empresa, mas também influenciam a forma como os clientes a enxer- gam. Também é preciso ter em mente que as competências individuais influenciam as organizacionais e são influenciadas por elas. Esse fato explicita a necessidade de não restringirmos o conceito de competência às pessoas, e sim expandirmos nosso hori- zonte também para as organizações e as equipes. Uma equipe não representa apenas um conjunto de colaboradores que traba- lham juntos – isso seria um grupo. Para que uma equipe seja formada, é necessário que exista um elemento de identidade, algo que una as pessoas (VERGARA, 2009). Desse modo, um grupo passará a ser uma equipe quando possuir objetivos comuns, critérios definidos de associação e quando cada membro se perceber como parte integrante, valorizando mais a visão do todo do que sua própria. Contudo, não estamos falando Gestão por CompetênCias 31 em igualar as pessoas, fazer com que suas características pessoais sejam anuladas, mas sim em integrar as diferenças individuais em um todo, de forma que, ainda que preservemos essas diferenças, o todo sempre será maior do que elas. Em cada equipe se manifestam competências coletivas, ou seja, competências de equipe emergidas das relações sociais estabelecidas entre os seus membros e da sinergia das competências individuais de cada um (LE BOTERF, 1999). Para compreen- dermos a diferença entre as competências individuais e as de equipe, vamos supor uma equipe com bom desempenho em uma organização. Diante de problemas críti- cos, entretanto, um de seus membros apresenta uma desenvoltura maior e melhor que a dos outros colaboradores, o que demonstra que ele possui uma competência in- dividual que se destaca. Mas apenas o fato de esse profissional ter essa competência pode não ser o sufi- ciente para que a empresa tenha resultados positivos em outros casos. Por outro lado, se todos os colaboradores forem capazes de lidar com as adversidades com a mesma desenvoltura, podemos dizer que essa é uma competência de equipe, que impactará diretamente o desempenho do grupo. Assim, podemos considerar as competências de equipe como sendo um desdo- bramento das competências organizacionais, mas de forma específica para uma equipe, e não para toda a organização. No próximo item, trataremos das articulações entre essas competências organizacionais e as individuais. Quando uma competência de equipe for representativa para a organização como um todo (ou para uma área com tamanho significativo), ela poderá ser considerada uma competência organizacional. 2.1.3 Articulação entre competências organizacionais e individuais O desenvolvimento de toda e qualquer competência organizacional está vincula- do às pessoas. Como ressalta Fernandes (2013), o modo pelo qual os profissionais são gerenciados, inspirados, desenvolvidos e recompensados desempenha papel essencial na configuração da competência organizacional, pois as pessoas são a base da compe- tência da organização. Desse modo, as competências individuais não podem ser pensadas de forma ge- nérica e individual, mas precisam estar atreladas às competências essenciais da organi- zação (DUTRA, 2009). Gestão por CompetênCias 32 Vamos ver um exemplo dessa conexão entre as competências individuais e orga- nizacionais: Relação entre estratégia,competências organizacionais e competências individuais Definição das Competências por Eixo Entregas exigidas das pessoas em cada eixo de carreira em função da estratégia e das competências organizacionais. Estratégia Competências Organizacionais Competências Individuais Volume de Vendas Excelência Operacional (bens de consumo, commodities) • Custo • Qualidade • Processo produtivo • Distribuição • Monitoramento de mercado • Comercialização • Parcerias estratégicas • Orientação a custos e qualidades • Gestão de recursos e prazos • Trabalho em equipe • Planejamento • Interação com sistemas • Multifuncionalidade • Relacionamento interpessoal Foco na Customização Inovação em Produtos (produtos para clientes ou segmentos específicos) • Inovação de produtos e processos • Qualidade • Monitoramento tecnológico • Imagem • Parcerias tecnológicas estratégicas • Capacidade de inovação • Comunicação eficaz • Articulação interna e externa • Absorção e transferência de conhecimentos • Liderança e trabalho em equipe • Resolução de problemas • Utilização de dados e informações ténicas • Aprimoramento de processos/produ- tos e participação em projetos Fonte: DUTRA, 2009, p. 27. (Adaptado). Observando o quadro exposto, podemos perceber que, para cada estratégia or- ganizacional, haverá competências organizacionais e individuais envolvidas que se influenciam mutuamente. Desse modo, as competências individuais originam a com- petência organizacional. Se os colaboradores de uma empresa possuem e sabem apli- car a competência capacidade de inovação, por exemplo, podemos dizer que a própria empresa tem uma estratégia de inovação em produtos. Com base no exemplo e em tudo o que foi exposto até aqui, podemos concluir que as competências organizacionais e as individuais têm a mesma importância e precisam estar alinhadas para que a empresa atinja os seus objetivos. Gestão por CompetênCias 33 Ter competências é fundamental para os colaboradores, mas eles também precisam se desenvolver para agregar valor à empresa para a qual trabalham. Para compreender como isso ocorre, estudaremos no próximo item dois conceitos complementares: comple- xidade e espaços ocupacionais. 2.2 Conceitos complementares: complexidade e espaços ocupacionais Para uma melhor compreensão da gestão por competências, precisamos traba- lhar com dois conceitos complementares: a complexidade e os espaços ocupacionais. Vamos conhecer um pouco mais sobre cada um deles dentro do contexto da gestão por competências. 2.2.1 Complexidade Para Dutra (2010), a evolução do mercado e a forte concorrência entre as empre- sas fez com que a complexidade das atribuições e responsabilidades dos colaborado- res se tornasse um elemento de diferenciação, isto é, eles precisam desenvolver sua capacidade de assumir e executar atribuições e responsabilidades mais complexas. Não basta, então, que um colaborador possua as competências necessárias para contribuir no alcance dos objetivos organizacionais. É necessário, além disso, que ele as mobilize de forma a agregar valor para a organização, o que pressupõe que ele con- siga perceber as demandas de determinado contexto e, a partir daí, mobilizar suas competências para atendê-la. Por essa razão, a base do reconhecimento e da diferen- ciação das pessoas dentro de uma empresa é a agregação de valor. Podemos entender o desenvolvimento profissional como o aumento da agregação de valor da pessoa para o meio (organização). Mas como podemos medir essa agrega- ção de valor? Como podemos dizer que uma pessoa agrega mais valor do que outra? Para saber quem agrega mais valor à empresa, podemos medir o nível de com- plexidade das atribuições e responsabilidades de cada colaborador. À medida que essa complexidade aumenta, o colaborador agrega mais valor à empresa. Por isso, no con- texto da gestão por competências, é muito importante que as pessoas estejam em constante desenvolvimento. Desse modo, podemos dizer que a construção de uma carreira representa uma sucessão de graus de complexidade. O que faz com que uma pessoa lide com tarefas de maior complexidade? Isso está relacionado ao nível de compreensão que a pessoa tem do contexto no qual ela se in- sere. Quanto maior for esse entendimento, maior será a capacidade de se envolver Gestão por CompetênCias 34 com atribuições mais complexas. Para que uma pessoa tente elevar o seu nível de com- preensão do contexto, ela precisa de mais experiência e formação. Normalmente, quem consegue fazer essa combinação tende a acelerar o seu desenvolvimento. Para que possamos entender o conceito de complexidade, é preciso compreender a diferença entre complexidade e dificuldade. Vamos pensar em dois analistas de gestão de pessoas: um júnior e um sênior. O cargo de ambos é igual, mas os termos júnior e sênior configuram a complexidade dele, ou seja, demonstram o aumento das atribuições e res- ponsabilidades inerentes a essa função, bem como uma maior expectativa de entrega. Entre as atribuições e responsabilidades do analista júnior, estão: executar os pro- cessos de recrutamento e seleção; acompanhar a avaliação de desempenho; auxiliar no desenvolvimento dos treinamentos e capacitações; apoiar participantes e clientes inter- nos; entre outras. Já o analista sênior precisa: planejar e desenvolver processos de recru- tamento e seleção; elaborar a metodologia de avaliação de desempenho específica da organização; planejar treinamentos e capacitações com base nas necessidades dos cola- boradores; fornecer subsídios para a tomada de decisão por parte dos gestores; apoiar a equipe de gestão de pessoas na realização dos processos etc. Para que um colaborador possa aumentar o nível de complexidade e migrar de jú- nior para sênior, ele deverá demonstrar maior experiência na área, melhor formação e maior capacidade para lidar com essa complexidade. Existem diversas formas de mensurar a complexidade. Uma delas é pela medição do intervalo de tempo entre a tomada de decisão e a possibilidade de avaliação dos resultados que dela decorrem. Nesse caso, quanto maior o tempo, maior deve ser o entendimento do contexto exigido para que a decisão seja a mais acertada. O gran- de desafio é descobrir qual a maneira mais apropriada de estabelecer critérios para a mensuração efetiva desse tempo (DUTRA, 2001). O conceito de complexidade ajuda a entender a integração que ocorre entre as práticas da gestão de pessoas, mais especi- ficamente, a relação entre o desenvolvimento profissional, a carreira e a remuneração. Para que possamos compreender melhor a complexidade, entretanto, precisamos en- tender como ela se conecta com os espaços ocupacionais. 2.2.2 Espaços ocupacionais Para que possamos mensurar a agregação de valor, precisamos medir a comple- xidade das atribuições e responsabilidades das pessoas. Esses dois elementos costu- mavam ser chamados de espaços ocupacionais. Com o passar do tempo, o conceito foi aprimorado, e agora, segundo Dutra (2009), podemos dizer que os espaços ocupacio- nais buscam estabelecer a correlação entre complexidade e entrega (o quanto a pes- soa mobiliza as competências que possui). Gestão por CompetênCias 35 É possível ampliar o nível de complexidade das atribuições e responsabilidades sem precisar alterar a função desse colaborador dentro da organização. Chamamos esse processo de ampliação do espaço ocupacional, e ele decorre de dois fatores, como mostra a imagem: Fatores que influenciam o espaço ocupacional Necessidades da organização Competências individuais e coletivas ESPAÇO OCUPACIONAL NA ORGANIZAÇÃO © F ab ri CO Fonte: DUTRA, 2009, p. 51. (Adaptado). Observando a imagem, podemos concluir que a ampliação do espaço ocupacional acontece devido às necessidades da organização e às competências (individuais e cole- tivas) para atendê-las. Vamos pensar nas atribuições e responsabilidades de uma secretária. A secre- tária de ontem precisava ter conhecimento em datilografia,atender o telefone, en- viar fax, acompanhar reuniões e receber os clientes (normalmente, da mesma região da empresa). Hoje, ela precisa ter conhecimentos de informática, saber trabalhar com smartphones, conhecer novas tecnologias (videoconferências, por exemplo), ter maior disponibilidade de horários, dominar outros idiomas para conversar com clientes de di- versos países etc. Isso quer dizer que as organizações atuais delegam mais poder de decisão a essas profissionais, das quais se espera a administração dos recursos neces- sários para o bom andamento das atividades dos escritórios. Podemos verificar, por meio do exemplo, que devido às necessidades da organi- zação e às novas competências, o espaço ocupacional da secretária aumentou, fazen- do com que ela passasse a ter mais atribuições e responsabilidades. Ainda hoje, as organizações tendem a identificar e recompensar as pessoas por conta das tarefas realizadas, e não pela entrega, justamente porque ainda não con- seguem levar em consideração o espaço ocupacional. Para que possamos conhecer o Gestão por CompetênCias 36 espaço ocupacional de cada pessoa, é necessário ir além do desenho de cargos, que é mais genérico, e precisamos conhecer as reais atribuições e responsabilidades de cada colaborador. Um reflexo disso é que tendemos a sobrecarregar as pessoas mais compe- tentes com atribuições mais complexas, mas sem oferecer o devido reconhecimento. O desenho de cargos é a estrutura do cargo. Para Bohlander e Sell (2009), ele deve contemplar atividades, deveres e responsabilidades inerentes ao trabalho, que contribuirão tanto para o alcance dos objetivos da empresa quanto para a satisfação dos funcionários. Precisamos prestar atenção aos perigos de não considerarmos o espaço ocupacio- nal. Vamos pensar em uma loja na qual o colaborador tem como função vender roupas e, por causa disso, possui metas de vendas. Normalmente, premiamos o profissional que vende mais, aquele que traz mais lucro para a organização, certo? Quanto melhor fo- rem os resultados das metas, mais atribuições e responsabilidades serão incorporadas ao vendedor. Suponhamos que Maria seja a melhor vendedora da loja: ela sempre bate to- das as metas e é um modelo para os colegas. Ao perceber o excelente desempenho da vendedora, o gerente passou a solicitar que ela acompanhasse as compras da empresa, lidando também com os fornecedores. Como resultado desse aumento de atribuições, Maria deixou de bater as metas de vendas e acabou sendo repreendida pela gerência. A incorporação da nova responsabilidade não foi levada em conta pela empresa na hora de avaliar o desempenho da funcionária. Outra situação que merece nossa atenção é que o diferencial do vendedor não está no volume de vendas, mas nas competências mobilizadas durante o atendimento ao cliente. Esse colaborador se dedica mais, encanta os clientes, mas talvez não venda tanto porque leva mais tempo atendendo a cada um. Isso nos leva a refletir que tanto o espaço ocupacional (atribuições e responsabilidades) quanto a entrega (mobilização de competências) precisam ser levadas em consideração na hora de avaliar os colabo- radores e reconhecer seu trabalho. Agora que já conhecemos a relação da complexidade e dos espaços ocupacionais com a gestão por competências, precisamos verificar a relação de outros temas com esse modelo de gestão. 2.3 Interfaces da gestão de competências com outros temas A gestão por competências não atua de forma isolada na organização, ela se rela- ciona com muitos outros temas, como: estratégia organizacional, desempenho, cultu- ra, recursos e espaços ocupacionais. Agora, vamos detalhar como ocorre a articulação entre cada um desses temas e a gestão por competências. Gestão por CompetênCias 37 2.3.1 Articulação entre estratégia organizacional, desempenho e gestão por competências Para acompanhar as mudanças nos modelos de gestão e no papel estratégico das pessoas na organização, é necessário integrar cada vez mais a estratégia organizacio- nal à gestão de pessoas, de forma a incentivar e monitorar o desempenho das pessoas e da organização. Dessa forma, podemos dizer que a gestão por competências visa aumentar o de- sempenho organizacional por meio do desempenho individual de seus colaboradores. Nesse sentido, o desenvolvimento e a retenção de competências são de extrema im- portância para as organizações que veem o talento de seus profissionais como peça fundamental no diferencial de negócio em relação à concorrência. Em relação à mensuração do desempenho da empresa, tradicionalmente, ela está voltada aos indicadores financeiros. Contudo, esse cenário está mudando. Um impor- tante aliado dessa nova proposta é o Balanced Scorecard (BSC), um método desen- volvido na década de 1990 por Kaplan e Norton, que permite avaliar o desempenho organizacional por meio da decomposição da estratégia em objetivos e indicadores e do alinhamento do desempenho das pessoas com o da organização (FERNANDES, 2013). O banco Santander utiliza o BSC considerando os assuntos mais relevantes em relação à sus- tentabilidade. Para conhecer mais detalhes sobre o BSC do Santander, acesse o site institucio- nal do banco e confira. Utilizando o BSC, é possível traduzir a missão e a estratégia organizacional em ob- jetivos, que são organizados por indicadores ligados a dimensões (financeira, clientes, processos internos e aprendizagem/crescimento) que orientam todos os envolvidos so- bre os caminhos para atingir o sucesso. A ideia é que todas as pessoas canalizem ener- gia e competências para alcançar os objetivos estratégicos. Cada colaborador tem a possibilidade de acompanhar e observar nitidamente seu desempenho, em caráter indi- vidual, verificando como ele está conectado ao desempenho organizacional. Em outras palavras, cada um sabe como está (ou não) contribuindo para o desempenho global. Assim, precisamos saber que as atividades devem estar alinhadas à estratégia or- ganizacional, de forma que a organização e seus colaboradores tenham o melhor de- sempenho possível. Esse desempenho pode ser mensurado utilizando meios como o BSC, que nos permite monitorar e conhecer cada detalhe da empresa, entre eles, as competências que estão sendo mobilizadas, e agregam valor. Em resumo, as compe- tências indicam o nível de presteza de uma empresa para executar suas estratégias. Gestão por CompetênCias 38 2.3.2 Articulação entre estratégia organizacional, cultura e gestão por competências A cultura organizacional se insere no contexto da gestão por competências ao influenciar diretamente as estratégias e, consequentemente, as competências orga- nizacionais. Ela define quais são os comportamentos adequados dentro do ambiente organizacional e como devem ser as relações da organização com seus stakeholders (clientes, colaboradores, concorrentes, fornecedores etc.). Em português, o termo stakeholders pode ser traduzido como parte interessada. Refere-se a quem tem interesse legítimo no desempenho de uma organização. De acordo com Schein (2009), a cultura organizacional representa o produto de- corrente do aprendizado gerado com base nas experiências compartilhadas por pes- soas (equipe/grupo). Para o autor, a cultura é aprendida e pode ser desenvolvida por meio de experiência e se modificar ao longo do tempo. Além disso, é possível que exis- tam subculturas diferentes dentro da organização, contanto que todas sejam conver- gentes com a cultura organizacional. A cultura organizacional pode ser considerada um meio de controle dos compor- tamentos individuais, de modo a integrar os objetivos de cada um aos objetivos orga- nizacionais. Nesse sentido, os valores da empresa podem ser difundidos por meio de treinamento, mobilização e até repressão dos comportamentos negativos ou não acei- táveis. Quem se comportar dentro do padrão desejado, com a obtenção de bons resul- tados, pode ser premiado e indicado como modelo a ser seguido. Podemos citar como exemplo o caso da Natura. A empresaafirma prezar pela responsabilidade social e pelo desenvolvimento sustentável, adotando práticas para reduzir a emissão de gases do efeito estufa e utilizando embalagens recicladas em seus produtos. Segundo o site institucional da organização, “[...] a existência da nossa em- presa deve ajudar a tornar o meio ambiente e a sociedade melhores. Queremos gerar impacto positivo econômico, social, ambiental e cultural” (NATURA, 2015, s. p.). Assim, podemos dizer que, entre as competências organizacionais da Natura, en- contram-se as relacionadas à sustentabilidade, e os colaboradores que respeitarem os procedimentos operacionais definidos pela empresa como parte de sua estratégia para promover a sustentabilidade devem ser reconhecidos e servir de modelo para os demais. Desse modo, todos saberão que a organização valoriza quem tem comportamentos que se relacionam a essa competência, que é compatível com a cultura organizacional. Gestão por CompetênCias 39 Em resumo, podemos dizer que os colaboradores que assimilarem da melhor for- ma a cultura organizacional terão maior alinhamento com os objetivos e estratégias da organização e tenderão a apresentar melhores resultados. Há ainda a expectativa de que esses colaboradores influenciem os colegas e, em consequência, disseminem e consolidem ainda mais a cultura. Dessa forma, novas competências individuais podem ser desenvolvidas, buscando conexão com as competências organizacionais e com os rumos da empresa. Em contrapartida, se não houver esse alinhamento da cultura organizacional com a estratégia, a organização terá muita dificuldade em disseminar seus valores e cren- ças de modo que contribuam para o alcance de seus objetivos. A cultura organizacional oferece particularidade à organização, pois é um fator de difícil imitação (pré-requisito das competências essenciais). Podemos perceber, então, que a cultura organizacional tem um papel de destaque para a formulação da estratégia organizacional. É necessário que seja mantido um alinhamento entre cultura, estraté- gia e gestão por competências, para que a organização apresente melhores resultados e um bom desempenho. Nesse sentido, é fundamental existir uma articulação entre re- cursos e a gestão por competências, que é o que estudaremos a partir de agora. 2.3.3 Articulação entre visão baseada em recursos e gestão por competências Algumas empresas apresentam um crescimento exponencial, enquanto outras não conseguem o mesmo resultado. Por que isso ocorre? Uma das razões é a forma como a empresa gerencia e faz uso dos seus recursos produtivos. Primeiramente, precisamos saber que a gestão por competências pode ser vista como originária da teoria da visão da empresa baseada em recursos, que enxerga a organização como a associação de recursos que são empregados para gerar ganhos. Cada organização possui recursos que outras empresas não têm, além disso, os re- cursos podem ser utilizados de formas diferentes por cada uma das empresas, o que reflete nos resultados e no desempenho e, consequentemente, no crescimento dife- renciado (FERNANDES, 2013). Entendemos assim que os recursos são condicionantes do sucesso da empresa frente à concorrência. Podemos dizer que a organização terá estratégias bem-sucedi- das quando a combinação e a utilização dos recursos ocorrer de forma adequada. De forma muito resumida, quem dominar melhor seus recursos terá vantagem competiti- va. Os recursos podem ser divididos em seis categorias, conforme a tabela a seguir: Gestão por CompetênCias 40 As categorias de recursos organizacionais Categoria de recursos Descrição Tangíveis (físicos, palpáveis) Construções, plantas, equipamentos, licenças exclusivas, posição geográfica, patentes, colaboradores. Praticamente tudo que tenha forma física. Competências individuais Conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes que as pessoas aplicam no contexto profissional. Procedimentos e sistemas Conjunto de documentos (físicos ou digitais) que determinam regras de funcio- namento da empresa, desde o processo de compras, sistemas de recrutamento e seleção, avaliação de desempenho e remuneração etc. Valores e cultura Recurso intangível desenvolvido ao longo do tempo, quase sempre dependente das atitudes dos fundadores e eventos passados. Incluem memória de aconteci- mentos significativos, valores, crenças e comportamentos preferenciais. Redes de relacionamento Grupos de interesse (internos e externos): relacionamento dos colaboradores com fornecedores, clientes, governo e consultores. Importante para a mudança Reconhecer quando recursos valiosos se tornam ultrapassados e necessitam mudar ou mesmo ser destruídos. Fonte: MILLS et al. (2002, p. 20-21) citado por FERNANDES; FLEURY; MILLS, 2006, p. 50. (Adaptado). Um exemplo da integração dos recursos e das competências é o uso de formu- lários em uma avaliação de desempenho de um colaborador. O material que apresen- ta os dados finais da avaliação, antes de ser lido e interpretado pelo profissional de gestão pessoas, não possui utilidade alguma, é somente um papel ou um arquivo de computador. Para que seja efetivamente útil, é preciso que uma pessoa leia, organize e interprete, ou seja, que utilize suas competências para dar sentido e utilidade ao re- curso. Assim, por meio da mobilização das competências, o colaborador fará com que aquele formulário seja um recurso utilizado adequadamente. Como podemos ver no quadro, as competências individuais representam recursos da empresa, contudo, para que possamos perceber a articulação entre recursos e ges- tão por competências, precisamos resgatar o conceito de competência organizacional, que pode ser entendida como toda essa ação de mobilização dos recursos. Nesse sen- tido, a competência organizacional é resultado de recursos integrados e coordenados que levam a um nível específico de desempenho em uma atividade, como podemos vi- sualizar na figura abaixo: Gestão por CompetênCias 41 Competência organizacional e recursos Recurso A Recurso CRecurso B © F ab ri CO Fonte: FERNANDES, 2013, p. 20. (Adaptado). Segundo Fernandes (2013, p. 20), “[...] a elipse representa os limites da compe- tência; os recursos internos sustentam e constituem a competência; as setas sobre a elipse destacam a ideia de coordenação ou articulação dos recursos”. Por exemplo, um hospital possui, entre suas competências organizacionais, rea- lizar cirurgias de alta complexidade. As competências individuais de um cirurgião são um recurso e, somadas às de outros cirurgiões que participam de grupos de pesqui- sa e desenvolvem conjuntamente novas técnicas, é uma capacidade. Para se chegar à competência, é necessária a integração de outros recursos, como salas cirúrgicas, pro- cedimentos de excelência, equipamentos etc. Quando todos os recursos necessários são incluídos e articulados de forma consistente, tem-se a competência organizacional de realizar cirurgias de alta complexidade. Em resumo, com uma integração adequada dos recursos é possível desenvolver competências organizacionais. Dessa forma, os recursos se encontram diretamente re- lacionados à gestão por competências. 2.3.4 Articulação entre complexidade, espaços ocupacionais e gestão por competências Com a inserção do conceito de competência no cenário organizacional, os colabora- dores passaram a ter que possuir conhecimentos, habilidades e atitudes compatíveis com as atividades que exercem. É nesse quadro que está inserida a gestão por competências, que se preocupa com a entrega realizada pelos colaboradores, ou seja, a efetiva mobi- lização das competências que agregam valor à organização. Nesse sentido, precisamos compreender a conexão entre os conceitos de complexidade e o espaço ocupacional. Gestão por CompetênCias 42 Esse espaço existe em decorrência da correlação entre complexidade e entrega e, por meio de sua ampliação, podemos perceber o desenvolvimento do colaborador, isto é, o resultado da capacidade que
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