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Princípios do Direito Tributário – Parte II Professora Poliana Braga Princípio da Anterioridade Nonagesimal A regra da anterioridade nonagesimal, também denominada de noventena ou anterioridade mitigada, determina que União, Estados, Distrito Federal e Municípios não poderão exigir criação ou aumento de tributo antes de transcorrido noventa dias da data em que tenha sido publicada a respectiva Essa regra constitucional originou-se nas Contribuições Sociais da Seguridade Social (art. 195, § 6º, da CF), estendida como regra para todas as espécies tributárias por meio da Emenda Constitucional 42, de 2003. Lei instituidora (art. 150, III, “c”, da CF). Indagações !!!! E se o tributo fosse criado/majorado no dia 17 de dezembro? Já seria ele exigível no próximo 1º de janeiro? Como forma de externar mais uma “segurança jurídica” ao contribuinte, a referida EC 42/2003 determinou um prazo mitigado (menor) que deve ser respeitado pelo poder público para a cobrança da nova carga tributária. Esse prazo mínimo será de 90 dias, também contados da publicação da lei, que impedem a exigência da nova carga tributária (eficácia suspensa). Neste caso a cobrança não ocorrerá já em 1º de janeiro, mas sim será deslocada para meados do mês de março. Observação Ambas as anterioridades (anual e nonagesimal) existem como regra no nosso ordenamento e contam-se do mesmo momento: a publicação da lei. A aplicação não consistirá na inicial utilização da anterioridade (anual) para, só após, iniciar-se a outra (noventena). Ambas serão aplicadas ao mesmo tempo e iniciando-se no mesmo momento da publicação. Assim, caso um tributo venha a ser criado no início do ano (ex.: junho do ano 01), alcançará primeiro o prazo de 90 dias (ex.: setembro do ano 01), mas ainda não poderá ser exigível em face da anterioridade anual (ex.: ficará para 1º de janeiro do ano 02). Em síntese, além do respeito aos princípios da irretroatividade e anterioridade anual, o poder público só poderá exigir a nova carga tributária (criação/aumento) após o transcurso do prazo de 90 dias da publicação da lei respectiva. Exceção: esse período somente será aplicável nas situações em que o contribuinte necessita de segurança jurídica, não se aplicando nos casos de redução ou extinção dos tributos. Nessa situação, a aplicação será imediata por se tratar de verdadeiro benefício Exceções à regra da anterioridade nonagesimal Medidas de urgência ou protetivas (finalidade extrafiscal da tributação), o art. 150, § 1º, da CF determina situações em que não haverá a aplicação do prazo de noventa dias, a saber: Empréstimos Compulsórios para Calamidade Pública e Guerra (art. 148, I, da CF), Imposto de Importação – II, Imposto de Exportação – IE, Imposto sobre Renda e Proventos de Qualquer Natureza – IR, Imposto sobre Operações Financeiras – IOF (art. 153, I, II, III, V , da CF) e Imposto Extraordinário de Guerra – IEG (art. 154, II, da CF), bem como a fixação da base de cálculo do IPVA e IPTU (arts. 155, III, e 156, I, da CF). Exceções 2 - Modificação do prazo e atualização monetária: seguindo as mesmas observações já explanadas na anterioridade anual, também serão aqui aplicadas. Assim, a mera modificação de prazo ou atualização monetária não significaria um aumento da carga tributária e, consequentemente, não necessita esperar o prazo de 90 dias. 3- Retirada de desconto e revogação de isenção: reiterando os argumentos desenvolvidos na anterioridade anual, o STF consagrava entendimento de que a retirada dos descontos ou revogação de isenção não respeitaria as anterioridades. Entretanto, em recente julgado, passou a aplicar as anterioridades (anual e nonagesimal), sob argumento de que seriam aumentos indiretos da tributação (RE 564.225/RS). FORMAS DE APLICAÇÃO DAS ANTERIORIDADES A anterioridade anual e nonagesimal vivem, como regra, harmonicamente e serão aplicadas de forma conjunta, ambas contando da mesma data: a publicação. Objetivo dos 90 dias - a intenção do constituinte seria a de conceder prazo para que o contribuinte realizasse seu planejamento financeiro e honrasse a carga tributária. Para tanto, deverá o poder público respeitar o exercício financeiro e, pelo menos, noventa dias. Alguns exemplos quanto a regra da aplicação da anterioridade anual e nonagesimal: Publicação da Lei (Cria ou Aumenta) x Anterioridade Anual x Anterioridade Nonagesimal Prevalece / Data da Exigência 17.03.X1 01.01.X2 17.06.X1 = Anual 01.01.X2 22.11.X1 01.01.X2 22.02.X2 = Nonagesimal 22.02.X2 25.09.X1 01.01.X2 25.12.X1 = Anual 01.01.X2 PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO CONFISCO Conforme estabelece o art. 150, IV , da Constituição Federal, é vedado à União, Estados, Distrito Federal e Municípios instituir tributo com efeito confiscatório. Essa determinação tem por base os direitos e garantias fundamentais do cidadão, no sentido de proteger o direito de propriedade previsto no caput do art. 5º da CF, bem como em seu inciso XXII, evitando a utilização de elevada carga tributária que retire esse direito. O confisco aceito no nosso País seria apenas aquele aplicável a sujeitos que praticam algum ato ilícito, como forma de punição, perdendo bens para o Estado (art. 5º, XLVI, “b”, da CF). Se o tributo não constitui sanção por ato ilícito e o confisco só existiria como tal, como conclusão lógica: o tributo não pode ter efeito confiscatório. Algumas considerações Nosso sistema tributário comporta pulverização de competências entre as esferas políticas (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) e com essa análise individualizada dificilmente chegaríamos à noção de “peso” na identificação do efeito confiscatório. De forma diversa, poderíamos encontrar o efeito confiscatório no conjunto de todas as espécies em todos os entes. A aplicação do princípio da vedação ao confisco às multas tributárias.??? Considerando que muitos entes políticos estabeleciam (e ainda estabelecem) multas tributárias em percentuais elevadíssimos, questionamentos começaram a chegar ao judiciário, requerendo a extensão do princípio também para as infrações, obstando a cobrança em valores desarrazoados. Conclusão Acatando a tese oposta, o Supremo Tribunal Federal adotou posicionamento ampliativo consagrando a vedação ao efeito confiscatório também as multas tributárias. O raciocínio adotado pela corte foi bem simples: reinterpretar o sentido da palavra tributo, constante no mencionado inciso, para Crédito Tributário. Orientação do STF - Assim, a vedação ao efeito confiscatório da tributação obsta que o poder público eleve em excesso a carga tributária, bem como as multas resultantes de ilícitos dessa natureza. PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE TRÁFEGO Consiste na proibição em utilizar o tributo como forma de limitar a locomoção das pessoas no território nacional (art. 150, V, da CF). Essa garantia fundamental também repercutirá na seara tributária quando o art. 150, V , da CF determina proibição aos entes políticos em “estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público”. Contudo, a própria Carta Magna prevê especifica tributação que limita a livre locomoção de bens no território nacional, qual seja: o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS. O pedágio foi excepcionado da regra de um princípio tributário, seria ele também tributo? O Supremo Tribunal Federal exarou entendimento de que o pedágio poderia ser instituído e cobrado pelo próprio ente político que realizasse a manutenção de via alternativa. Prestado esse serviço público, específico e divisível, poderia cobrar a contraprestação tributária da modalidade taxa (art. 77 do CTN). Desse modo, apesar da aparente confusão, aconselha-se adotar em provas o atual entendimento do STF no sentido de que não mais existe pedágio com natureza jurídica de tributo. PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA Segundoexplana o § 5º do art. 150 da CF, “a lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços”. Apesar da previsão constitucional apenas ter mencionado os impostos, a Lei 12.741/2012 regulamentou tal princípio e estabeleceu outras espécies além dele, aplicando-se também às contribuições do PIS/PASEP, COFINS e CIDE. Objetivo - A intenção, portanto, seria esclarecer ao consumidor-contribuinte os tributos que oneram indiretamente aquelas mercadorias e serviços adquiridos, dando-lhes maior transparência sobre o real valor da carga tributária. Exemplo do princípio da transparência O art. 150 da CF, agora no § 6º, ao estabelecer que “Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2º, XII, g”. Ademais, atente-se que a parte final desse mesmo parágrafo 6º traz pertinente remissão ao art. 155, § 2º, XII, “g”, também da CF, como forma de ressaltar que benefícios fiscais do ICMS serão concedidos não por lei específica, mas sim por convênio no âmbito da CONFAZ – Conselho Nacional de Política Fazendária. A ideia é que os Estados e Distrito Federal deliberem e concedam conjuntamente incentivos a esse imposto, evitado a existência de guerra fiscal.
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