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VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E A FUNÇÃO SOCIAL DA LEI MARIA DA PENHA

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2
FACULDADE ESTÁCIO 
COORDENAÇÃO DO CURSO DE DIREITO
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E A FUNÇÃO SOCIAL DA LEI MARIA DA PENHA
RECIFE-PE
2019
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E A FUNÇÃO SOCIAL DA LEI MARIA DA PENHA
Pré-projeto de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na Faculdade Estácio, como requisito básico para a obtenção da Avaliação da disciplina de TCC em Direito Penal.
Área de concentração: Direito Penal
Disciplina: TCC
Orientador: 
RECIFE-PE
2019
SUMÁRIO
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5
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6
6
11
14
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................
1.1. JUSTIFICATIVA.......................................................................................................
1.2. PROBLEMÁTICA.....................................................................................................
1.3. OBJETIVOS.............................................................................................................
1.3.1. Objetivo geral.......................................................................................................
1.3.2. Objetivos específicos...........................................................................................
1.4 HIPÓTESES............................................................................................................
2. REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................................
2.1. CONTEXTO HISTÓRICO, CULTURAL E ECONÔMICO DA VIOLÊNCA DOMÉSTICA E SEUS PROBLEMAS............................................................................
2.2 HISTÓRICO E DEFINIÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA....................................
REFERÊNCIAS.............................................................................................................
1 INTRODUÇÃO
A Lei nº 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, em seu art. 5º expõe as formas de violência doméstica, tais como, a agressão física, moral, psicológica, patrimonial e sexual. De acordo com uma pesquisa feita pelo Instituto AVON/IPSOS, mesmo depois da entrada em vigor da Lei Maria da Penha muitas mulheres continuam sendo vítimas de violência doméstica e muitas quando não sofrem violência física são alvo de agressões psicológicas e todos os tipos de agressão podem ser conjugados com a agressão psicológica. Como as agressões são constantes no ambiente familiar e se dão de diferentes formas, pretende-se neste trabalho, especificamente, investigar as principais consequências psicológicas decorrentes da violência doméstica, na qual as vítimas são, prioritariamente, as mulheres, e os danos à integridade física e mental que podem ser ocasionados na saúde da mulher e na sua vida individual e familiar.
1.1 JUSTIFICATIVA
Ressalta-se que, o estudo acerca deste tema é de grande relevância na conjuntura atual, uma vez que é notório, no cenário mundial, o crescimento da violência contra mulheres, constituindo um problema social e de saúde pública que afeta a integridade física e psíquica da mulher, além de constituir uma grave violação aos direitos humanos. Desta forma, é necessário que pesquisas sejam realizadas acerca do tema, com o intuito de investigar e compreender essa problemática, que interfere diretamente no âmbito social e na saúde da mulher vítima de violência doméstica.
1.2 PROBLEMÁTICA
O presente trabalho apresenta, em linhas gerais, uma abordagem sobre as consequências psicológicas que afetam a saúde física e mental da mulher vítima de violência doméstica e suas relações no âmbito familiar. Para tanto, inicialmente, apresenta-se uma abordagem sobre os aspectos que envolvem a Lei Maria da Penha e a violência doméstica (física ou psicológica), com a finalidade de demonstrar os avanços que a referida lei trouxe no tocante às várias formas de agressão. 
Diante de tal fato levanta-se a pergunta condutora deste trabalho: Quais medidas necessárias ao que se refere a violação à integridade física e psicológica contra a mulher?
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo geral
· Analisar no tocante da Lei a diferenciação entre a atenção dada em tal procedimento;
1.3.2 Objetivos específicos
· Mostrar que a violência contra a mulher é um problema de saúde pública, por isso são criados mecanismos a fim de protegê-las, como, as políticas públicas: iniciativas do Estado e da sociedade civil.;
· Verificar na jurisprudência o que a maioria dos doutrinadores entendem sobre a visão social da Violência Doméstica;
· Distinguir sequelas da violência psicológica entre a física;
1.4 HIPÓTESES
Dessa forma, existiu a preocupação de trazer aqui a questão da inferioridade da mulher, a violência física e psicológica sofrida por ela, o perfil dessas vítimas, as Políticas Públicas, as criações de delegacias da mulher, criação de casas de abrigo, o papel da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, a existência do Pacto, bem como, as Políticas Públicas na recuperação do agressor e a criação da Lei. Tudo isso é tratado nesse trabalho de maneira prática e objetiva, para que o público leigo possa ser introduzido no tema e possa fazer uma leitura diferenciada, que não a usual, quando o assunto for violência contra as mulheres.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. CONTEXTO HISTÓRICO, CULTURAL E ECONÔMICO DA VIOLÊNCA DOMÉSTICA E SEUS PROBLEMAS.
Para se trabalhar tal tema é fundamental compreender a importância ideológica dessa inferioridade, bem como a interpretação sob o ponto de vista econômico, já que esses fatores contribuem para que ocorra tal violência.
O homem desde a Antigüidade, sempre foi o ser ativo, era ele quem trabalhava, ele quem mantinha a família, ele quem mantinha a sociedade, por isso é considerado como o elemento ativo ou positivo.
A mulher por outro lado socialmente falando sempre teve um papel mais passivo, ela ficava com o cuidar da casa, dos filhos, todavia não tinha uma participação ativa na sociedade, vemos então a mulher como elemento passivo ou negativo.
Todos sonham com a felicidade, mas a mulher deposita este sonho no casamento: ser a rainha do lar, ter uma casa para cuidar, filhos para criar e um marido para amar. Não há casamento em que as casadoiras não suspirem pelo buquê da noiva. Ao depois, venderam para a mulher a idéia de que ela é frágil e necessita de proteção e delegaram ao homem o papel de protetor, de provedor. Daí à denominação, do sentimento de superioridade à agressão é um passo.(DIAS, 2015)
Conforme Freitas (2011): Dessa forma a violência doméstica é reflexo de uma cultura onde a mulher é vista como ser inferior que deve se subjugar ás vontades muitas vezes cruéis de seus parceiros. 
Fica fácil observar que homens e mulheres ocupam posições diferentes na sociedade brasileira. Segundo Heleieth I. B. Saffioti, A identidade social da mulher, assim como a do homem, é construída através da atribuição de distintos papéis, que a sociedade espera ver cumprido pelas diferentes categorias de sexo. A sociedade delimita, com bastante precisão, os campos em que pode operar a mulher, da mesma forma como escolhe os terrenos em que pode atuar o homem.
Ainda diz, que a socialização dos filhos, por exemplo, constitui tarefa tradicionalmente atribuída às mulheres. Mesmo quando a mulher desempenha uma função remunerada fora do lar, continua a ser responsabilizada pela tarefa de preparar as gerações mais jovens para a vida adulta. A sociedade permite à mulher que delegue esta função a outra pessoa da família ou a outrem expressamente assalariado para este fim. (SAFFIOTTI, 2013) 
Ocorre que a mulher só tem essa “permissão” de seu conjugue quando, muitas vezes, é necessário para se garantir o sustento dos filhos, complementar o salário do marido, ou ainda para o seu próprio sustento, caso contrário o lugar onde ela é bem vista, é no ceio da família, exercendo o papel de dona-de-casa, cabendo ao esposo o trabalho remunerado. 
Apenas nas classes dominantes a delegação desta tarefa de socialização dos filhos não necessita de legitimação da necessidadede trabalhar. Este tipo de mulher pode desfrutar de vida ociosa, pelo menos no que tange ao trabalho manual que a educação dos filhos exige. Contudo, esta mulher não está isenta de orientar seus rebentos, assim como de supervisionar o trabalho de serviçais contratados, em geral também mulheres, para o desempenho desta função.
Assim podemos notar que a vida da mulher pode ser variada, dependendo de sua classe social, se formos tomar por base a classe média, encontraremos mulheres desde donas-de-casa, que se dedicam exclusivamente ao marido e aos filhos, como aquelas que trabalham fora. Estas encontramos por exemplos secretárias, que financeiramente ganham pouco e por isso não podem se dar o luxo de contratar alguém para que lhes façam o serviço doméstico. (SAFFIOTTI, 2013) 
Embora encontremos todas essa diferenças, essas mulheres possuem algo em comum, que é o fato de terem a responsabilidade pela casa e pelos filhos, essa característica imputada às mulheres, foi atribuição da nossa sociedade.
É por essa ótica que ainda hoje afirmam com naturalidade que a mulher deve se ocupar do espaço doméstico, deixando para o homem o espaço público. Segundo Saffioti (2013), dada a desvalorização do papel doméstico, os poderosos têm interesse em instaurar a crença de que este sempre foi desempenhado por mulheres.
O fator preocupante é que desde a mais remota Antiguidade até no mundo contemporâneo, esses valores são passados de gerações a gerações, dificultando a igualdade entre homens e mulheres, claro que hoje as mulheres estão cada vez mais ocupando o seu espaço, mas ainda de forma tímida e desvalorizada.
É de extrema importância compreender como a naturalização dos processos socioculturais de discriminação contra a mulher constitui o caminho mais fácil e curto para legitimar a superioridade dos homens. 
Segundo Dias (2011), a desigualdade sociocultural é uma das razões da discriminação feminina, e, principalmente, de sua dominação pelos homens, que se vêem como superiores e mais fortes.
Ainda diz que o homem se tem como proprietário do corpo e da vontade da mulher e dos filhos. A sociedade protege a agressividade masculina, constrói a imagem da superioridade do sexo que é respeitado por sua virilidade.
Afetividade e sensibilidade não são expressões da masculinidade. Desde o nascimento é encorajado a ser forte, não chorar, não levar desaforo para casa, não ser “mulherzinha”. Os homens precisam ser super-homens, não lhes é permitido ser apenas humanos. Essa errônea consciência masculina de poder é que lhes assegura o suposto direito de fazer uso de sua força física e superioridade corporal sobre a mulher.
Um fator bastante usado para justificarem as discriminações praticadas contra as mulheres é o fato de o homem ser detentor de uma força física maior que as mulheres, ora, em uma sociedade onde se encontra máquinas trabalhando, fazendo força física, não impedem que qualquer ser humano ganhe seu sustento, esse discurso mais uma vez esta sendo usado para camuflar a constante discriminação sofrida pelas mulheres. (SAFFIOTTI, 2013, p. 125)
O autor ainda diz que, a força dessa ideologia da “inferioridade” da mulher é tão grande, que até elas assumem serem inferiores aos homens, mesmo muitas vezes tendo um rendimento maior em seus trabalhos, ou seja, o mero fato de a mulher deter, em geral, menos força física não é suficiente para decretar sua inferioridade. Trazendo também o fato de que do ponto de vista biológico, o organismo feminino é muito mais diferenciado que o masculino, estando já provada sua maior resistência. Tanto assim é que as mulheres, estatisticamente falando, vivem mais que os homens. A sobrevida feminina em relação aos homens já alcançou oito anos nos Estados Unidos, estando entre cinco e seis no Brasil. É bem verdade que à medida que se introduzem fatores de risco – tabagismo, tensão nervosa provocada pela competição no trabalho, pela duplicação da jornada de trabalho (no lar e fora dele) as vantagens femininas ficam reduzidas. 
Não se trata, de desejar provar a superioridade da mulher em relação ao homem. O argumento biológico só foi usado para mostrar a ausência de fundamentação científica da ideologia da inferioridade feminina.
Outro fator também bastante usado na tentativa de ratificar a inferioridade da mulher é dizer que elas são menos inteligentes que os homens, quando na verdade a ciência já mostrou que a inteligência pode se desenvolver em grau maior ou menor dependendo da estimulação que recebe.
O argumento de que há muito poucas mulheres dentre os grandes cientistas, grandes artistas, até cozinheiros, tenta provar que também em termos de inteligência a mulher é inferior ao homem. Os portadores e divulgadores desta ideologia esquecem-se de medir as oportunidades que foram oferecidas, ou melhor, negadas às mulheres. Ao se atribuir a elas a responsabilidade praticamente exclusiva pela prole e pela casa. (SAFFIOTTI, 2013)
Diante disso podemos observar que para se ter igualdade de oportunidades, há de se ter a divisão das responsabilidades por homens e mulheres, em qualquer atividade, inclusive nos serviços domésticos, mas não pode ser visto como uma forma de auxílio, ou ajuda, pois quando isso acontece quer dizer que a responsabilidade é do outro.
Isto posto, mesmo a igualdade sendo um preceito Constitucional, elencada no artigo 5° inciso I, que diz que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, essa igualdade passou a travar cotidianamente lutas para fazer cumprir o que esta consagrado na Constituição Federal Brasileira de 1988.
A sujeição feminina é profunda, o que deve ser averiguado através de vários aspectos. Primeiro, os patrões pagam menos às empregadas mulheres, mesmo quando elas desempenham as mesmas tarefas que os homens. Segundo, com frequência, as mulheres são submetidas a testes vexatórios, visando a controlar sua vida reprodutiva. Quando o teste revela gravidez, a mulher, muitas vezes é sumariamente despedida do emprego.
O país não possui políticas públicas o suficiente para promover a autonomia econômica das mulheres, distribuir o poder político entre os gêneros e estimular a liberdade reprodutiva feminina.
A discriminação no mercado de trabalho ainda é grande. Se deixar o barco correr conforme os ventos sopram, vamos demorar mais 500 anos para chegar em um nível razoável de igualdade. Para que as mulheres tenham realmente direitos iguais aos dos homens não só no papel, mas também na vida cotidiana, há que se tomar medidas para acelerar esse processo.
Existe também um pré-conceito em relação às mulheres, que impede sua entrada em mercados de trabalho e ambientes, que os homens conservam como espaços de sua propriedade, uma vez que foram por eles culturalmente apropriados.
Estes pré-conceitos acabam enraizados, fazendo com que, mulheres, como todas as categorias discriminadas, de tanto ouvirem que são inferiores aos homens, passam a acreditar em sua própria inferioridade.
Assim, torna-se bem claro o processo de construção social da inferioridade. O processo correlato é o da construção social da superioridade. Da mesma forma como não há ricos sem pobres, não há superiores sem inferiores. Logo, a construção social da supremacia masculina exige a construção social da subordinação feminina. Mulher dócil é a contrapartida de um homem macho.
Mulher frágil é a contraparte de macho forte. Mulher emotiva é a outra metade de homem racional. Mulher inferior é a outra face da moeda do macho superior. (SAFFIOTTI, 2013)
O que importa observar é que a manutenção desses preconceitos são mantidos porque interessam àqueles que pagam salário irrisórios as mulheres, que as submetem a condições subumanas de trabalhos, que se negam a assinar a carteira de trabalho de suas empregadas, não é por acaso que esses preconceitos são nutridos diariamente, uma vez que já foi provado a capacidade da mulher em atuar no mercado de trabalho, competindo de igual com o homem.
Não se pode esquecer também a agressividade como componente básico da personalidade competitiva, ela integra necessariamenteo modelo de macho. Ou seja, cabe a ele tomar iniciativas, assumir sempre uma posição ofensiva, intransigente, duro, firme, e etc. (SAFFIOTTI, 2013, p. 215)
Trás ainda que quando se diz que “a mulher consegue tudo do marido se for habilidosa, se souber usar do jeitinho”, na verdade, está-se afirmando que a mulher deve sempre ficar na sombra. Se for mais culta que o marido, deve calar-se em público, a fim de não humilhá-lo. Se tiver, porventura, um salário superior ao dele, deve manter o fato em segredo, pois seria inadmissível rebaixar o marido, que é, inclusive legalmente, o chefe da família. Se for segura de si e de suas convicções deve fingir hesitação, de modo a deixar parecer que as decisões são tomadas por ele.
Dessa forma, a mulher mais uma vez obedece ao modelo que lhe é imposto, disfarçando as suas qualidades, para que o seu sucesso não exponha o fracasso do marido, e por não querer entrar em competição com ele, e muito menos colocar em xeque a autoridade do chefe da família, anulando-se fica tudo socialmente mais correto. Calcula-se que o homem haja estabelecido seu domínio sobre a mulher há cerca de seis milênios. Um exemplo disso diz respeito ao poder político, mesmo hoje a participação da mulher é ínfima. Segundo Saffioti, além de Lídia Guiler, que ocupou a presidência da Bolívia em 1979, em circunstâncias excepcionais, apenas duas outras mulheres chegaram à presidência da república: Isabelita Perón, na Argentina, e Corazón Aquino, nas Filipinas. 
A primeira, por ter sido eleita vice-presidente em chapa integrada por seu marido, após a morte deste. A segunda foi eleita muito mais em razão do que representou seu marido, assassinado pela ditadura de Ferdinand Marcos, do que pelo trabalho de oposição política ao regime totalitário, que realizou após haver enviuvado. 
2.2 HISTÓRICO E DEFINIÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Violência significa agressividade, hostilidade, coação, constrangimento, cerceamento, ameaça, imposição, intimidação. Assim, baseia-se intimamente em negar a existência do outro, negar suas convicções, seus direitos, bem como em subjugá-lo. Manifesta-se através da opressão, da tirania e inclusive, pelo abuso da força, ou seja, ocorre sempre quando é exercido o constrangimento sobre uma pessoa a fim de que a obrigue a fazer ou deixar de fazer um ato qualquer (GERHARD, 2016).
De acordo com Jesus (2017), na Argentina há uma média de 3.500 casos de violência doméstica atendidos anualmente pelo Centro de Atendimento a Mulher de Buenos Aires. No Centro de Atenção a Vítimas da Cidade de Córdoba, aproximadamente 3.500 pessoas são atendidas por ano, sendo que a maioria são vítimas de abuso sexual e de violência conjugal. Em relação às denúncias, estimam-se entre cerca de 5.000 a 7.000 por ano. Na Bolívia, entre os anos de 1994 e 1998, cerca de 7.307 casos de violência doméstica foram denunciados.
No Chile, segundo Jesus (2017), cerca de 50% das mulheres chilenas já sofreram algum tipo de violência. A violência psicológica e a violência física são as que se apresentam com maior frequência, seguidas da violência sexual.
Anualmente, são registrados 4.500 crimes sexuais. Entre cada dez mulheres, de sete a oito já foram forçadas a manter relações sexuais.
Na subclassificação “violência física grave” (murros ou golpes com objeto), as vítimas de certas regiões do Chile responderam afirmativamente em 53,8% em cada caso. Na consulta “tentou estrangulá-la?”, 15,4% 12 responderam afirmativamente em determinada região. Outra região mostrou que 7% das vítimas admitiram ter s com uma arma. (JESUS, 2017, p. 28).sofrido tentativa de queimaduras, 22,7%foram ameaçadas ou agredida
Enquanto isso, conforme o mesmo autor, na Colômbia apenas mais de 5% dos casos são denunciados, sendo que a mulher colombiana é a mais atingida pela violência intrafamiliar. Entre os anos de 1996 a 2000, as denúncias de violência doméstica aumentaram de 51.451 para 68.585. Na Costa Rica, em 1995, cerca de 8.325 pessoas foram atendidas em instituições públicas de tratamento e prevenção da violência doméstica. Já no ano de 1998, foram 46.531 atendimentos. O feminicídio representa 61% dos homicídios praticados na Costa Rica.
Segundo dados da Pesquisa Nacional de Violência contra as Mulheres, 67% das costarriquenhas maiores de 15 anos já sofreram a menos um incidente de violência física ou sexual em algum momento de sua vida. Sessenta e cinco por cento delas sentiram sua vida em perigo no momento do incidente. A maioria dos agressores é de homens conhecidos pelas mulheres, incluindo parceiros e familiares. (JESUS, 2017, p. 30).
No Brasil, entre os anos de 1997 e 2017, foram registrados cerca de 57.473 casos de violência doméstica pelas Delegacias Especializadas de Atenção à Mulher de Porto Alegre. Deste total, 50% tratavam-se de crimes de ameaça, lesão corporal e estupro. Em São Paulo, no ano de 2017, foram registrados 49.279 de violência contra a mulher. No Rio de Janeiro, no mesmo período, foram registrados 43.590 casos (JESUS, 2017).
Ainda, segundo Gerhard (2018), em relação às mulheres vítimas de violência doméstica no Rio Grande do Sul, no ano de 2017, foram registrados 42.891 casos de mulheres vítimas ameaça, 25.964 vítimas de lesão corporal, 1.162 vítimas de estupro, 92 casos de feminicídios consumados e 241 de feminicídio tentado. Neste mesmo ano, o instrumento mais utilizado para cometer feminicídio foi a arma branca (44,35%), seguida da arma de fogo (40,91%), da força física (11,36%) e de ferramentas (3,41%). Já a motivação para a prática do feminicídio tem a separação como responsável por 54,55% dos casos, discussões e brigas como 27,27%, traição 9,09% e vingança 9,09%.
O instante em que a mulher diz não querer mais permanecer com o seu agressor é o momento mais delicado, pois se comprova pela estatística que o sentimento de posse emerge e a frase do varão aparece: “se não é minha, não vai ser de ninguém”, remontando ao tempo do patriarcado, onde culturalmente as mulheres eram consideradas objetos, ou seja, posse do homem. (GERHARD, 2018, p. 45).
De acordo com Gerhard (2018), em relação à etnia das vítimas de feminicídio no ano de 2017, tem-se: 83,70% brancas, 15,22% pardas e negras e 1,09 indígenas. Quanto à escolaridade, verifica-se que 72,50% das vítimas cursaram apenas o ensino fundamental, 13,75% cursaram o ensino médio, 7,50% o ensino superior e 6,25% são apenas semialfabetizadas. Desta forma, é perceptível que as mulheres com mais instrução possuem maior poder aquisitivo, então possuem condições de solicitar outros serviços de proteção para resolver suas demandas judiciais em relação à violência doméstica.
No tocante à idade das vítimas no ano de 2017: 8,70% possuíam de 12 a 17 anos; 23,91% possuíam de 18 a 24 anos; 5,43% possuíam de 25 a 29 anos; 14,13% possuíam de 30 a 34 anos; 13,04% possuíam de 35 a 39 anos; 4,35% possuíam de 40 a 44 anos; 11,96% possuíam de 45 a 49 anos; 3,26% possuíam de 50 a 54 anos; 5,43% possuíam de 55 a 59 anos e por fim, 9,78% possuíam mais de 60 anos de idade. Assim, verifica-se que a violência se encontra presente em todas as faixas etárias, da menina com 12 anos de idade até a mulher com mais de 60 anos, nos mais variados índices (GERHARD, 2018).
REFERÊNCIAS
BASTOS, Tatiana Barreira. Violência doméstica e familiar contra a mulher: análise da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006): um diálogo entre a teoria e a prática. 2. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2013.
BRASIL. Constituição de 05 de outubro de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 09 set. 2015.
_____. Decreto nº 1.973 de 1º de agosto de 1996. Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher. Disponível em: <http://legis.
senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=122009>. Acesso em: 18 de
set. 2015.
_____. Decreto nº 4.316 de 30 de julho de 2002. Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. Disponívelem: <http://www.pla
nalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4316.htm>. Acesso em: 20 de set. 2015.
_____. Lei n. 11.340 de 07 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 18 mar. 2015.
BUCCI, Maria Paula Dallari. Políticas públicas e direito administrativo. São Paulo:
Saraiva, 2002.
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 5. ed.
revisada e ampliada. São Paulo: Saraiva, 2007.
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 10. ed. São Paulo: LTr,
2011.
DIAS, Maria Berenice. A lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
FERNANDES, Maria da Penha Maia. Sobrevivi posso contar. 1. ed. Fortaleza: Armazém da Cultura, 2016.
GERHARD, Nadia. Patrulha Maria da Penha. 1. ed. Porto Alegre: Age Editora, 2018.
JESUS, Damásio de. Violência Contra à Mulher. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Direitos fundamentais sociais: considerações acerca da legitimidade política e processual do Ministério Público e do sistema de justiça para sua tutela. Porto Alegre: Liv. do Advogado, 2016.
RIBEIRO, Dominique De Paula. Violência contra a mulher. 1. ed. Brasília: Gazeta Jurídica, 2015.
TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São Paulo: Brasiliense, 2015.

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