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EBAPE - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas Curso: Interpretações do Brasil Docente: Ana Camarano Grupo: Clarisse Borges, Marcelo Marques e Pedro Merquior Resenha: Histórias da Gente Brasileira – Vol. III Parte 1 A passagem da Monarquia para a República foi conturbada. Nos primeiros anos do novo regime o Brasil sofreu uma desorganização econômica financeiro devido a dois fatores: o regime de trabalho livre nas lavouras e o Decreto 164 (encilhamento), de Rui Barbosa. Assim a Bolsa iniciou um período em que, por um lado havia ações de companhias novas e por outras companhias indo à falência. Os próximos anos após a proclamação foram marcados por muitas revoltas sociais e tensões políticas. Além disso, foi feita uma “europeização” da cidade do Rio de Janeiro, a capital. Em contraste, houve um combate às tradições culturais africanas mesmo algumas das figuras mais importantes do país serem negros e mulatos, como o presidente Mulato Nilo Peçanha e Machado de Assis, Mario de Andrade, Oracy Nogueira, etc. O sistema político implantado era sólido, tinha o apoio da elite, os cafeicultores paulistas. Deixou para trás a antiga república da espada, formada por políticos egressos do exercito com perfil centralizador. Deodoro da Fonseca, presidente da republica da espada, renunciou após pressão dos militares. Floriano Peixoto, vice de Deodoro, assumiu e acabou por acentuar ainda mais as tendências ditatoriais. Durante seu governo, enfrentou duas grades revoltas: a Federalista e Armada. A primeira foi uma guerra civil no sul do Brasil em que os opositores de Júlio Castilhos, governador do Rio Grande do Sul, queriam ele fora da governança. Já a revolta armada refletia o descontentamento da Força Armada com o prestígio político da Marinha em relação ao exercito. A revolta não teve muito apoio político e popular. Após a haver confrontos em Niterói, se espalhou para o sul e depois foi contida por Floriano Peixoto. A eleição de um civil marcou a republica do café com leite, que foram trinta anos de domínio politico de oligarquia locais. Seu nome: Rodrigo Alves, o primeiro presidente da era. Reurbanizou a capital do Rio de Janeiro, construiu palácios, avenidas, melhorou o saneamento. Foi nessa época em que as Brigadas sanitárias começaram, elas, acompanhados da polícia, obrigavam a população a vacinar e logo depois levou a Revolta da vacina. Afonso Pena, sucessor de Rodrigo Alves, foi responsável por firmar com os cafeicultores de são Paulo o Convênio de Taubaté. Tal convênio consistiu em um empréstimo de 15 milhões de libras para estocagem e queima de café. Além disso, ele modernizou portos do país e criou parque indústrias. Entretanto, seu governo durou pouco: morreu antes de completar seu mandato e seu vice, Nilo Peçanha assumiu o poder. Hermes da Fonseca, sucessor de Nilo, foi eleito depois de uma sangrenta disputa eleitoral contra Rui Barbosa. Durante seu poder ele necessitou enfrentar duas revoltas muito importantes: Chibata e Contestado. A primeira foi a revolta dos militares da Marinha que se rebelaram contra seus salários baixos, péssimas condições de trabalho, alimentação, contra as chibatas que os castigavam. Já a guerra do contestado consistiu em uma revolta dos sertanejos pobres que foram expulsos de suas terras devido a via ferroviária “Brazil Railway”. Encontraram apoio na figura de José Maria, que se dizia escolhido por deus para criar uma terra com autoridade próprias, ignorado qualquer autoridade, esses povoados se chamava Contestados. Olhando o cenário exterior, se aproximou a Primeira grande guerra, entretanto o Brasil não participou dos combates. O país estava relutante em mandar reforços aos aliados, já que muito se passava no território nacional. Faltando um mês para o fim da guerra, e após ter três navios mercantis atacados, o Brasil declara guerra a Alemanha. Em 1922 Artur Bernardes assume sob a tensão da Revolta tenentista e mais tarde do movimento coluna Prestes. A primeira revolta tenentista teve um triste final, participantes da revolta foram mortos pela tropa leal, evento conhecido como Os dezoito do Forte. A Revolta Esquecida, segunda revolta tenentista que ocorreu em São Paulo, resultou da insatisfação dos militares com a crise econômica e com a concentração de poder nas mãos dos politicas paulistas e mineiros. Reivindicavam voto secreto, justiça gratuita e instauração do ensino publicam obrigatório, entretanto a revolta foi combatida. Os perdedores marcharam-se para ao sul e juntaram-se aos oficiais gaúchos comandados por Luís Carlos Prestes, e assim surgia a Coluna Prestes. Ela consistia em uma divisão revolucionaria que percorreria o Brasil para propagar a ideia revolucionarias entre as comunidades rurais. Washington Luís, presidente em 1930, obteve um governo estável, mas ao final de sua candidatura rompeu com antiga politica café com elite indicando um paulista, Júlio prestes, já que esse podia garantir proteção aos produtores de café. Assim, em oposição ao governo de Prestes e com apoio mineiro, foi lançada a candidatura de Getúlio Vargas e foram apoiados pelos tenentes que haviam combatido. Todavia, Prestes tinha mais apoio no Brasil e ganhou a eleição causando fúria no sul. A revolução se estendeu ao Rio de Janeiro e em 34 de outubro depôs Washington Luís e Vargas tomou posse. Os revolucionários prometiam acabar com a república dos fazendeiros, a presença de um estado forte, centralizador, paternalista e gestor da economia. A Revolução Constitucionalista de 1932 foi uma campanha que queria o fim da interferência federal nos estados. “São Paulo livre, civil e paulista”. Assim, civis paulistas começaram a ingressar no corpo da infantaria. Apesar de a revolução ter sido derrotada, conseguiram convocar a assembleia constituinte e influenciar na escolha do interventor local. Getúlio se viu obrigado a aceitar uma constituição de cunho liberal. A nova constituição abriu espaço para a criação de outros partidos, entre eles a Aliança Nacional Libertadora. A intentona comunista foi um manifesto da ANL em que desafiava o governo Vargas, propondo uma nova revolução, mas, segundo a Lei de Segurança Nacional fechou o partido. Apesar de uma rebelião acontecer no rio, logo foi controlada pelo governo. Todos participantes foram presos, torturados e mortos. Além disso, a prisão do líder do Partido Comunista foi mais um pretexto pata a decreto do Estado de Guerra, em 1936. Nesse período, Vargas aboliu os partidos e o parlamento, prendeu seus adversários e criou uma nova constituição a Polaca, época chamada de Estado Novo. Uma nova corrente de pensamento chegou ao Brasil: O fascismo. Ação Integralista Brasileira, movimento antissocialista, antissemita e antiliberal, comandada por Plinio Salgado. Tentaram tirar o ditador do poder, mas foi fracassado. Getúlio os jogou na ilegalidade, o movimento foi controlado e seu líder exilado. O estado novo seguia firme. Em 1933 foi criada a Delegacia Especial de Segurança Politica Social (DESP) com o objetivo de vigiar e restringir comportamentos contra o governo de Vargas. Foi uma forma de centralização e ditar as regras do controle social. As prisões se enchiam cada vez mais e Vargas determinou o uso do arquipélago de Fernando de Noronha para presos políticos. A partir de 1939 estoura a Segunda Guerra Mundial. O Brasil foi representado pela FEB, força militar do país, lembrado sempre pela alcunha “A Cobra vai Fumar”. Mesmo que não muito lembrada pelo seu povo, os resultados foram de ordem expressiva, principalmente nos campos de guerra na Itália. Foram mais de 20 mil alemães capturados, 80 canhões e 1,5 mil viaturas. Os “pracinhas” retornaram ao Rio de Janeiro em meados de 1945, ano do final decretado da guerra, com vitória para o lado dos Estados Unidos, do qualo Brasil estreitaria de forma intensa as relações nos anos seguintes, de Guerra Fria. A guerra, porém, levou muitos dos nossos, mostrando que, como o autor enfatiza, ela não era aquela “aventura romântica”. No Brasil, durante a guerra, o governo era de Getulio Vargas. Após a experiência de Estado Novo e asfkasklç, Vargas elegeu-se novamente sem dificuldade, batendo Eduardo Gomes, da UDN. O “Pai dos Pobres” voltava ao poder após a experiência da ditadura e a deposição em 1945. Seu governo “democrático” é marcado por um caráter mais melancólico, que culmina no seu suicídio. Porém, é importante destacar que, democrático ou não, seus governos foram marcados por reformas econômicas que beneficiaram os mais pobres e os trabalhadores (vide a promulgação da CLT). O período analisado trouxe transformações relevantes para a sociedade brasileira. Ao longo das primeiras décadas do século, o êxodo rural, pujante industrialização e ocupação de novos espaços pelos novos ricos garantiram uma tradicional divisão, na qual medidas urbanizadoras, vide Pereira Passos, incluíram colocar abaixo conhecidos redutos das camadas mais pobres da sociedade (os famosos cabeças de porco). É curioso, porém, que a urbanização andou a passos curtos. Mas se as capitais “fervilhavam”, como estava o interior? O Norte e o Nordeste, por exemplo, também vivenciaram transformações, mas não na ordem daquelas provincianas. Do interior nem sempre aqueles que dali vieram guardam a imagem caricata difundida pelas fases do modernismo, mas sim de uma forma afetuosa que lutava contra a velocidade das mudanças dos grandes centros. Afinal, nessa vida “caía o tempo com a leveza dos grãos de uma ampulheta”. Parte 2 No início do século XX, o setor de transportes brasileiro viu a chegada da modernidade. Primeiramente, falaremos sobre os céus: O Zeppelin e o avião (havia cerca de 13 voos comerciais no Brasil apenas) são os exemplos mais emblemáticos desse período. No entanto, eles são citados mais como uma curiosidade do que propriamente uma nova forma de transporte usada no país. O transporte aéreo, principalmente o Zeppelin, era extremamente caro e seletivo. Assim, apenas uma parcela pequena da população tinha acesso a ele. Em segundo lugar, falaremos sobre o transporte terrestre cujo foco ocorre no transporte sobre trilhos. O transporte urbano era feito basicamente por bondes que em alguns lugares se mantiveram, por um longo período, utilizando-se de tração animal enquanto que, em outros, os bondes se tornaram elétricos. Isso era, na maioria das cidades, a principal forma de transporte das pessoas, sejam elas ricas ou pobres, pois a presença de carros particulares era raríssima, inclusive na capital. Pode-se observar a importância do bonde no cotidiano das pessoas através de músicas da época que o retratavam recorrentemente. Em seguida, vale ressaltar os trens que exerceram importante papel no transporte de distâncias maiores. Eles eram utilizados para o transporte de mercadorias (interiorização da produção, troca interior e litoral, ganhos de escala) e de pessoas (como é visto em várias obras literárias da época, como por exemplo o livro Recordações do Escrivão Isaías Caminha). A malha ferroviária, mesmo sendo pequena, ajudava a reduzir distâncias. Embora pequena, houve significativo aprimoramento dela, no início do século XX, fruto de um processo de privatizações liderado pelo presidente Campos Sales. Com a iniciativa privada no comando, a malha ferroviária mais que dobrou no período. Uma das obras mais polêmicas e ambiciosas da época foi a feita pelo empreendedor americano Percival Farquhar que construiu a estrada de ferro Madeira-Mamoré numa região pouco habitada e explorada do país (amazônica). Essa empreitada teve uma série de dificuldades principalmente com relação a morte maciça de trabalhadores (empregou-se cerca de 20 mil pessoas) devido as condições precárias de trabalho e de clima, além de doenças tropicais trazidas pelos mosquitos. Oswald Cruz foi contratado para tentar mitigar as doenças. Por fim, ocorreram, como em qualquer processo de mudanças, brigas entre o status quo e o novo status quo, protegido pelo governo. De um lado, senhores de terra (principalmente os senhores de engenho do Nordeste na medida em que os cafeicultores paulistas tinham uma relação próxima e de ajuda mútua com os ferroviários) e de outro os ferroviários. Os interesses desses grupos às vezes não eram compatíveis o que gerou algumas brigas e divergências no início da expansão ferroviária, mas que depois foram mitigados. A chegada do automóvel ao Brasil se iniciou pela Bahia, com um carro provido de um motor a vapor que paulatinamente foi sendo substituído pelo automóvel à explosão. Os carros eram artigo de luxo e, portanto, aguçavam a curiosidade de muitas pessoas, principalmente, no interior e nas regiões mais pobres do país. Um grave problema surgido com a chegada do automóvel foi a falta de habilidade para a direção das pessoas, assim sendo, as primeiras legislações de trânsito surgem com regras como limite de velocidade nas cidades e a necessidade de se ter habilitação para dirigir um carro. Além disso, novas profissões vão surgir como a de motorista e de mecânico (com a abertura das primeiras oficinas no país). Algumas pessoas criticavam o automóvel, ao considerarem-no como apenas uma distração da modernidade, sem conter utilidade práticas em termos produtivos. A partir de 1930, com Vargas, o esforço de desenvolvimento focou todo na rodovia, deixando de lado as ferrovias estrangeiras que foram estatizadas e que pararam, infelizmente, de receber investimentos. Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, haviam cerca de 200 mil carros no Brasil. No entanto, durante a guerra, haviam limitações de importação de produtos não essenciais e peças de automóvel estavam nesse grupo, assim, um tímido processo de substituições de importação no setor de autopeças e suas fábricas ocorreu. Havia uma grande desigualdade entre as casas dos mais ricos e as casas dos mais pobres. As casas dos ricos eram casas grandes com largos jardins e muito conforto para as elites de norte a sul do país. Além disso, elas usualmente adotavam variados estilos arquitetônicos importados da Europa, sem ter a adoção fiel a um estilo específico, pois seus donos gostavam de experimentar as tendências, enquanto que a população mais carente abitava casas de cômodo onde não havia higiene, acesso a água encanada, esgoto, ou seja, com condições precárias de vida. Normalmente, essas casas eram antigos casarões transformados em vários cômodos onde as pessoas se amontoavam lá. Pereira Passos, no famigerado Bota Baixo, focou justamente nesse tipo de casa, os chamados cortiços. Neocolonialismo é uma tendência arquitetônica que vai surgir em vários lugares e que se refere em basicamente resgatar o passado colonial no estilo de construção (usando o mesmo estilo da época colonial). Uma das grandes questões sociais brasileiras do começo do século XX era a falta de habitação que gerava crescimento dos aluguéis e falta de higiene sanitária. De 30 a 64, o governo respondeu a essa necessidade com programas de construção de casas populares, renovação de leis (lei do inquilinato) e financiamento de fundos públicos para a área específica da habitação. Anos 40, o crescimento extensivo de construções foi substituído por uma verticalização maior em vários locais (Conjunto Residencial de Realengo e de Del Castilho por exemplo.) O rádio foi um fenômeno importante no Brasil, pois permitiu que as informações e tendências chegassem mais rapidamente a população. Epitácio Pessoa foi o responsável pela inauguração, em 1922, da radiofonia (transmissão de rádio) à distância e sem fios. Outro importante personagem foi Roquette-Pinto, um dos grandes responsáveis pela disseminação do uso do rádio no Brasil. Ele acreditava no potencial educacionalque o rádio tinha para com a população. Além disso, o rádio foi percebido como um importante instrumento para propaganda política principalmente por Vargas que instituiu a Hora do Brasil e estatizou uma das principais rádios brasileiras da época do Estado Novo: a Rádio Nacional do Rio de Janeiro (fundado em 1936). O uso de rádio no Brasil, em princípio, era de exclusividade do governo federal que a usava para a transmissão de informações internas do governo. No entanto, o surgimento do rádio de galeno fez com que essa proibição fosse de difícil controle devido a facilidade de sua montagem pela população. Assim, o rádio de galeno foi um importante instrumento para a popularização da transmissão de informação via ondas de rádio. A população usava o rádio para ouvir peças de teatro, apresentações de óperas e de orquestras. Houve um acompanhamento em termos de imprensa escrita do rádio com colunas sobre a programação do rádio, sobre os personagens e as vidas pessoais dos atores, juntamente com uma profissionalização da profissão de artista de rádio. Outro ponto relevante é a figura do fonógrafo que servia para fazer gravações, reproduções e armazenagens de áudio. Um uso famoso do fonógrafo foi feito por Roquette-Pinto para gravar melodias e canções de povos indígenas que nunca haviam tido contato com humanos. Ao final da década de 50 com o advento da televisão, o rádio começa a perder prestígio, culminando no fim da era de ouro do rádio que de grosso modo vai de fins dos anos 20 até fins dos anos 50, durando cerca de 30 anos. Havia um sentimento de modernidade entre os intelectuais que acreditavam que os brasileiros deveriam se portar civilizadamente como a burguesia europeia. No entanto, a realidade brasileira estava muito aquém da europeia e, portanto, muitas pessoas continuavam a ter hábitos considerados não civilizados como comer com as mãos, sentados a esteira e cozinhando com fogões a lenha ou a carvão. As cozinhas ainda eram muito desorganizadas e poucas tinham relação com o que se vê atualmente ou nas propagandas de revistas da época (fogão elétrico ou a gás eram raridades). As casas urbanas tinham quintas com árvores frutíferas e pomares numa espécie de transição entre o ambiente rural e urbano, além disso o quintal se portava como espaço de confraternização. Desvinculação entre cozinha e sala de jantar (que passou a ser espaço de ostentação) apenas nos palacetes, nas casas dos mais abastados e, muitas vezes, apenas em ocasiões festivas, no restante do tempo e na maioria dos lares, a cozinha exercia ainda o papel de sala de jantar. Guardar comida era um problema, pois poucas pessoas tinham geladeira e mesmo as que tinham, sofriam, pois a geladeira da época era uma versão rudimentar do que entendemos como geladeira hoje. Usando vários espaços da casa para guardar alimentos, fez com que problemas de infestação de insetos surgissem nas residências, principalmente naquelas sem geladeira. Culinária tornou-se algo requintado com a comercialização de livros de receita voltados ao público mais rico e alfabetizado. Algumas tradições surgiram ou se mantiveram do tempo colonial como a compra de alimentos frescos trazidos a porta de casa ou a reunião para se alimentar fora de casa com amigos e familiares no mercado central. Bares e botequins se espalhavam e se tornavam ponto de encontro após um dia de trabalho, juntamente com a popularização da cerveja no início do século XX. A fome, no Brasil apresentou várias facetas. Primeiramente, uma “fome política” que mais do que fome, se tratou de um racionamento que ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. Esse racionamento, por sua vez, não foi um racionamento por necessidade, mas sim por jogo político do governo Vargas durante o Estado Novo. O motivo para realizá-lo era que o governo gostaria de maior apoio popular para entrar na Guerra e enfrentar a ameaça nazifascista, assim, promovendo o racionamento, o governo buscava conscientizar a população sobre a necessidade de lutar contra o nazifascismo. A população mais carente foi a que mais sofreu com essa falta de alimentos, provocando um espírito de mobilização nacional maior. Assim, Vargas conseguiu trazer a guerra para o cotidiano. De fato, nessa época, o Brasil sofreu com a fome, fundamentalmente a população mais pobre, principalmente as famílias do sertão nordestino (os habitantes dos vales úmidos do Nordeste, por exemplo, não sofreram). A vida do negro/pardo pós-abolição era uma vida pobre, marginalizada em que o preconceito era latente e a representatividade política pequena. No entanto, nem todos os escravos passaram a viver em condições violentas e de extrema necessidade, alguns, influenciados pela mentalidade paternalista, que vigorava em maior escala no Nordeste, mantiveram-se atrelados aos seus antigos senhores numa relação dual em que eles eram considerados da “família”, mas deveriam obedecer como um funcionário. No entanto, vale ressaltar que não era a maioria que detinha essa melhor qualidade de vida, assim, a questão da violência dos tempos de escravidão permanecia fruto do preconceito racial e social. Os ex- escravos deixaram as localidades em que eram escravos, no período pós-abolição? Em princípio não, muitos buscavam ocupações na própria fazenda em que trabalhavam ou em outras localidades da região (comprando pequenas propriedades), muitas vezes, era do interesse dos fazendeiros em manter a mão de obra na forma, agora, assalariada. Esses escravos obtiveram maior estabilidade do que aqueles que saíram em busca de emprego. Na maioria das vezes, esses conseguiram apenas empregos temporários em fazendas. Os descendentes daqueles que permaneceram nas regiões em que foram escravos começaram a circular pelos estados e pelo país buscando colocações principalmente próximas as capitais que cresciam (migração campo- cidade) e necessitavam de mão de obra para o abastecimento de alimentos e de produtos para a cidade. Houve um movimento em prol dessa migração na medida em que a imigração proveniente da Europa havia diminuído e, portanto, necessitava-se de outra fonte de mão de obra: os jornais e linhas férreas da época incentivavam esse tipo de migração. Outras razões importantes para a migração era o fato de que os negros buscavam reencontrar familiares separados pela escravidão e buscavam também maior e melhor acesso a educação apesar de insistentemente negada a eles. O grande exemplo dessa migração campo-cidade pode ser visto no trabalho de Coutinho da Costa sobre a migração entre o Vale do Paraíba e o Rio de Janeiro. Observa-se que após a Abolição não houve uma migração em massa para a cidade e sim posterior entre os anos de 1920 e 1940, ela foi empreendida por jovens homens, filhos de ex escravos que não conseguiam a estabilidade/sobrevivência dos pais, eles, assim, buscavam com a migração melhores condições de vida. O subúrbio e a baixada fluminense, segundo mesmo autor, não cresceram em termos populacionais devido as reformas de Pereira Passos e a expulsão da população carente do centro da cidade, mas sim devido a migração em busca de trabalho e de oportunidades que essas regiões forneciam. As mulheres sem educação tinham como principal fonte de sustento o trabalho doméstico que permitia a inserção na cidade. O trabalho doméstico constitui até hoje uma das maiores heranças escravistas no dia a dia brasileiro. Seja em termos de ter uma trabalhadora doméstica seja em termos de ter apenas recentemente o seu emprego reconhecido como um emprego formal. Ele era visto pelos brasileiros pós escravidão como uma espécie de bondade dos patrões de mantê-las como parte da família tendo como contrapartida a obediência. Certamente em menores termos, mas até hoje essa lógica se mantém. Apesar dos programas de higienização “social” propostos por Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, a limpeza das casas e das pessoas não era levado à sério damesma maneira. A higiene pessoal, no início do século XX, era pouco valorizada e algumas poucas ações em termos de higiene já eram consideradas suficientes pela população. A maioria das casas, nas cidades e no campo, não tinha água ou esgoto encanados (apenas fossas bem precárias). Assim, a ideia de corpo moderno: limpo e higienizado não se democratizava por motivos pessoais dos brasileiros e por motivos de estrutura. Além disso, as condições sanitárias eram ruins para se fazer suas necessidades fisiológicas o que propiciava o surgimento de infecções. O banho, uma das instituições fundamentais para a higiene nos tempos modernos, era tido no senso comum do início do século XX como se fizesse mal à saúde. Para completar a desvalorização do banho deve-se ter em mente que era uma tarefa complicada e custosa se banhar, pois exigia o uso de rios e riachos onde mulheres e homens se dividiam para aqueles que não possuíam água em casa e para os outros, com acesso à água encanada ou a algum tipo de poço, o uso de bacias. A ideia de um alto padrão de higiene pessoal focado no banho e em condições sanitárias melhores para se realizar as necessidades fisiológicas foi exportada pelos americanos, como parte do American Way of Life, após a Segunda Guerra. Isso tornou-se assim, uma obsessão nacional e, a partir disso, uma série de produtos relacionados a essa higiene pessoal melhorada começaram a surgir. Muitos deles, importados e de melhor qualidade, tinham acesso restrito a elite, no entanto, muitos produtos utilizados pela população podiam ser de fabricação caseira como o sabonete e o banho de cheiro que se impõe como algo importante no dia a dia das pessoas. De modo geral, o banheiro transformou-se em um ambiente privado onde o homem conseguia escapar na vida moderna seja tomando banho no chuveiro seja sentado ao vaso sanitário, além disso a necessidade de banho todo o dia e de uma série de produtos para ser realizado a higiene pessoal teve uma forte influência americana que liderava o mercado de produção de uma série desses produtos (vaso sanitário, chuveiro e papel higiênico, por exemplo). A agitação cultural tomou conta das cidades no início do século XX (mais especificamente ao final da primeira guerra e durante os anos 20). Um primeiro ponto importante é a mudança do centro de lazer das pessoas que deixou de ser o ambiente doméstico e passou a ser a rua onde as pessoas, na medida do possível, se perfumavam e se arrumavam para a vida pública. As cidades se remodelavam tornando-as mais atraentes para as pessoas saírem de suas casas e ocuparem o espaço público, além disso, havia uma crença de que sociedades mais civilizadas como a europeia tinham como base de diversão, o ambiente público e, portanto, o seu estímulo era visto como fundamental para uma evolução civilizatória. Cada grupo se divertia à sua maneira de acordo com seus códigos culturais, é claro que, alguns grupos sofriam maior repressão da polícia como, por exemplo, os negros durante os seus blocos. Os grupos se formavam devido a opções políticas comuns, visões sociais comuns ou pertencimento a mesma classe social/trabalhadora/étnica. Portanto, esse tipo de lazer ao ar livre ajuda na consolidação de costumes e ritmos principalmente dos grupos menos favorecidos. Uma economia do entretenimento se desenvolveu, criando empregos e movimentando as economias das cidades. Grandes figuras dessa nova economia do entretenimento eram os teatros e o circo. Figuras relevantes do imaginário nacional surgiram nessa época como a melindrosa e o almofadinha. Vale ressaltar ainda que a associação da juventude feminina com a figura da melindrosa representava um rompimento entre gerações da maneira de se portar da mulher que se tornava mais libertadora. A mulher brasileira se aproximava mais da mulher americana que dançava e se divertia abertamente do que da mulher francesa muito mais recatada. Além disso, com a vinda das companhias estrangeiras e, consequentemente, das artistas europeias ocorreu a introdução da valorização nos espetáculos da figura da mulher sedutora que tinha braços e seios de fora. A sociedade brasileira torna-se aos poucos menos conservadora em termos principalmente da figura feminina que era ainda muito retida e com pouca expressão na sociedade. O grande chamariz público para que as pessoas saíssem de suas casas era definitivamente o cinema. Para se der uma ideia da magnitude que o cinema tinha no Brasil, estima-se uma média de 2 sessões de cinema por habitante maior que 15 anos no ano de 1929, isso numa população cuja maioria ocupava o campo onde se tinha pouco acesso a cinema. O cinema afetava o imaginário amoroso da população principalmente através dos musicais onde um casal com um amor platônico e idealizado vive uma vida autônoma dos problemas e da sociedade. O amor se comporta como uma instituição acima de todas, demonstrando que viver uma grande paixão era mais importante do que qualquer outra coisa devendo-se combater tudo aquilo que atrapalhasse esse amor. Assim, o amor nessas películas tinha um comportamento paradoxal. Se por um lado, o amor era defendido pela sociedade como uma busca legitima do homem, por outro, o amor tornava-se um elemento antissocial de emancipação de todas as hierarquias e cadeias tradicionais. Diferentemente dos dias de hoje, ir ao cinema, em grande parte das salas, era um programa factível para todos, apesar da infraestrutura ser pior (cadeiras de madeira, pessoas em pé, calor insuportável). O cinema era a grande atividade cultural da época e as pessoas tratavam os personagens como ícones da moda e da beleza. Outro importante papel do cinema era o de informar a população sobre o que estava acontecendo no país e ao redor do mundo, isso ocorria, pois, as películas antes da exibição das fitas propriamente ditas, exibiam o “natural” que era uma coletânea das principais notícias da semana. Deve-se sempre ter em mente que não haviam televisões na época e, portanto, o único contato visual que as pessoas tinham com uma tela era através do cinema. Assim, durante a Segunda Guerra, imagens do conflito eram mostradas antes das sessões como estratégia do governo para sensibilizar a população para a séria ameaça que o nazismo representava. A influência da indústria cinematográfica sobre os costumes e hábitos da sociedade começava a mostrar suas garras. Além do cinema, outras atividades como cassinos, clubes, choperias, bares, bordéis, grupos de dança (principalmente em locais com acesso mais difícil a cultura) surgiam. Vale ressaltar que essas novidades modernas dos anos 20, 30 foram um fenômeno tipicamente urbano. No interior, ainda se mantinha uma vida pacata onde a ida a uma praça para saber das notícias das pessoas através da conversa era o principal meio de diversão e descontração. As festas nacionais foram importantes elementos da coletivização da diversão que se inicia no começo do século XX. Uma das principais festas, nesse sentido, era o carnaval que se tornava ano após ano no fenômeno que vemos hoje: uma festa extremamente popular em que todos celebram à sua maneira, certamente, o carnaval é a festa mais importante da identidade brasileira. O carnaval, ao longo das décadas de 20 e 30, foi crescendo e tornando-se cada vez mais importante, principalmente no Rio de Janeiro que era a capital e centro cultural do país, mas, as outras cidades brasileiras, também o celebravam. O carnaval é e era uma época de transgressões, em que regras sociais se afrouxam e coisas imorais, de acordo com as normas e costumes da sociedade, passam a ser mais toleradas. Além disso, a sexualidade da mulher, principalmente da mulher negra, ficava em evidência durante o carnaval. Vale relembrar que o comportamento da mulher durante todo o ano, com exceção ao Carnaval, era doméstico, com pouca relevância no espaço público, portanto, o carnaval era uma forma de resistênciadessas mulheres contra a opressão do cotidiano que inibia os seus desejos de liberdade. Para os negros, o carnaval cujo principal estilo musical é o samba, era uma forma de lutar contra a discriminação sofrida por eles na medida em que o samba que passou a ser um patrimônio nacional reconhecido e valorizado por todos surgiu como uma música da comunidade negra e, assim, sofria preconceitos como se fosse um gênero inferior. De modo geral, o Carnaval servia como um espaço em que as pessoas podiam assumir a pele de diferentes personagens e deixar um pouco de lado o “eu” com todos os seus problemas e defeitos. A partir de 1932, com o prefeito Pedro Ernesto, os desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro começam a se profissionalizar com subvenções do governo e desfiles. Em 1949, a Rádio Continental realizou a primeira transmissão do carnaval carioca. A figura das festas de santos eram e ainda são muito populares no Brasil, algumas, celebradas durante o início do século XX, já não são tão celebradas como eram, enquanto que outras, surgiram, como é o caso da Festa de Padre Cícero. A mais celebrada festa de santo do Brasil era a festa de São João que até hoje é celebrada, mas perde, nos dias atuais para o Natal em termos de importância. A partir de relatos como o de Carolina Nabuco e Carlos Heitor Cony, percebe-se que a população daquela época não levava o Natal tão a sério como levava a Festa de São João e como levamos o Natal hoje. Contribuiu para o aumento da importância do Natal, a figura do Papai Noel, nascida nos EUA e que chega ao Brasil após a Segunda Guerra Mundial. Do Norte ao Sul do Brasil, havia uma série de celebrações de santos que possuíam diferentes tamanhos (algumas restritas a poucas localidades, outras celebradas em todo o país) e em menor ou maior grau ainda sobrevivem aos tempos atuais. Um exemplo de uma festa que permanece até hoje como uma importante data de celebração no Brasil é o Círio de Nossa Senhora do Nazaré que ocorre todos os anos em Belém. O fenômeno do surgimento e crescimento da prática de esportes ao longo do século XIX na Europa, está muito relacionado com o desenvolvimento das cidades, de uma cultura de interação urbana e de uma mentalidade em busca de higiene e saúde. As cidades se tornavam mais densamente povoadas e essa interação mais próxima entre pessoas juntamente com os desenvolvimentos ditos acima, criou-se um ambiente propício ao surgimento dos Esportes que não eram mais aqueles esportes ligados a aristocracia em que a atividade física era limitada ou aqueles brutais ligados aos mais pobres. No Brasil, o esporte aparece, durante a Belle Époque, trazido por imigrantes que vieram morar no Brasil ou por aqueles que vinham a trabalho como os marinheiros ingleses que jogavam futebol no porto. A prática esportiva era mais recorrente entre os homens do que entre as mulheres. Os homens assistiam mais aos eventos no espaço público e assim vivenciavam mais as emoções coletivas que o esporte proporciona. Já para as mulheres, o esporte servia para desenvolver o corpo e a beleza, sem perder a postura frágil feminina. Nessa linha, Maria Lenk, tentando defender o esporte para as mulheres, argumentava que a natação era um esporte que garantia mais saúde para as mulheres e ao mesmo tempo que não as deixava com aparência “bruta”. De fato, o grande propulsor para a prática esportiva foi a saúde que passou a ser vista como consequência da atividade física. Nessa onda, as mulheres começaram também a praticar esportes como tênis e ciclismo (era visto mais como uma forma de passeio que esporte), no entanto, havia muita resistência a esse fato, pois muitos acreditavam que essa prática era imoral, pois desvirtuava a mulher dos seus papéis principais na sociedade: dona de casa e mãe. No entanto, médicos e higienistas defendiam a prática de esportes pelas mulheres por uma razão extremamente machista, mas que ajudou na prática de esportes pelas mulheres. Eles defendiam que as mulheres sem o esporte estariam mais suscetíveis a doenças ligadas a mente e ao adultério, pois sem distrações, só restava as mulheres sonhar com amores impossíveis e em como seduzir outros homens. Nascia assim uma nova mulher em que elegância andava lado a lado com a saúde. As modalidades em que as mulheres no início do século tinham alguma participação eram a natação, hipismo e o tênis. No caso dos últimos dois, havia a prática em conjunto com os homens, em igualdade de condições. Apesar disso, os três esportes eram esportes praticados pela elite que ia a clubes associados para praticá-los. A canoagem, por outro lado, se popularizou na medida em que era praticado ao ar livre aos olhos de todos e possuía entre seus praticantes, pessoas pertencentes ao povo. Assim, a sua prática era disseminada em todas as classes. No entanto, a supremacia do remo seria prontamente substituída pelo esporte que até hoje é o mais popular entre nós, brasileiros: o futebol. Ele foi trazido por pessoas que chegaram em diferentes cidades, trazendo da Europa a novidade desse esporte que começava a fazer sucesso no antigo continente. À princípio, o futebol era praticado por amadores e principalmente pela elite, depois da sua profissionalização, ele começou a ganhar a relevância que vemos atualmente. A perda de espaço da canoagem e a ascensão do futebol pode ser visto com clubes de canoagem no Rio que passaram a contar com uma área dedicada ao futebol como é o caso do Club de Regatas Vasco da Gama e do Clube de Regatas do Flamengo. No início, havia pequena participação negra nos times de futebol que aos poucos foram sendo integrados aos elencos. O futebol foi usado politicamente por Vargas durante o Estado Novo. Nele, Vargas buscava defender a tese da democracia racial no país, buscando construir uma identidade nacionalista para a “raça brasileira” que tinha em sua singularidade, a mestiçagem, o seu ponto forte. Os esportistas eram os representantes dessa raça e de sua força, assim, Vargas incentivava a práticas de desportes para a descoberta de novos talentos, através da associação das aspirações da juventude ao esporte. Assim, Vargas foi importantíssimo para a institucionalização do futebol brasileiro. A vestimenta foi importante para a formação da personalidade e para o posicionamento das pessoas na sociedade. A moda feminina, ao longo da primeira metade do século XX, sofreu maiores e mais frequentes mudanças do que a masculina. Houve o surgimento do batom, a valorização da saúde e a desvalorização de maquiagens que serviam apenas para esconder de maneira covarde a feiura, para se tornar belo de verdade, segundo o senso comum da época, era preciso se exercitar, tornar-se mais magra e mais saudável. As roupas das mulheres foram se tornando mais confortáveis, menos pesadas e sufocantes, um movimento de libertação. As mulheres em alguns casos tiveram certo empoderamento ao começarem a ingressar na universidade, usar roupas que antes eram consideradas masculinas, numa espécie de protesto contra a opressão machista da sociedade. Apesar disso, o papel da mulher manteve-se bem restrito ao lar. O padrão de beleza feminina foi se tornando palpável e reconhecido por todos através dos concursos de beleza que ocorriam e através da influência das atrizes que estrelavam os filmes hollywoodianos. Paris não era mais para os brasileiros a referência principal de moda e de tendências, Hollywood toma esse papel com seus filmes, atores e atrizes. Por outro lado, o surgimento de cada vez mais produtos relacionados a beleza feminina, incentivou uma economia que auxiliava mulheres a se tornarem mais belas e mais próximas do padrão de beleza, é claro que os exercícios se mantinham importantes, mas apenas eles não eram suficientes. A influência Hollywoodiana teve o seu caráter negativo, na medida em que, nesse período, os filmes tratavam a mulher sempre como uma jovem, maliciosae sensual. Se por um lado, ela representava uma mulher com mais atitude e mais escolhas, por outro representava uma mulher sensualizada transformando-a em um objeto de consumo, o corpo da mulher se transforma em um objeto de desejo fetichista. Nesse período a velhice passa a ser rechaçada e deixada de lado, é vergonhoso ser mulher velha. Os homens tinham obsessão pela moda e estar vestido e se comportando de acordo com as tendências europeias ou os filmes norte-americanos. A moda masculina se mantém muito próxima ao longo de todo o início do século XX e semelhante ao que se via no século XIX com apenas algumas mudanças. Apenas nos anos 40, algumas mudanças maiores ocorrem com a figura dos jeans e de outros itens “made in USA” (camisa branca usada abaixo da camisa social, camisa quadriculada, etc). Parte 3 Quanto à vida pessoal do brasileiro, houve mudanças em diversos aspectos durante o período da República Velha e do Estado Novo. Num primeiro momento, a maternidade. A começar pela hora do parto, que se dava dentro de casa, com as mulheres da família e uma parteira. Em outra parte da casa, os homens comemoravam o nascimento. Como os partos aconteciam de maneira muito precária, deu-se uma mudança sanitarista que buscava deixar de lado as rígidas tradições e substituí-las pela modernidade, a partir de acompanhamento médico, leite artificial, etc.; a maternidade científica. Nesse ponto também é consolidado o papel da mulher enquanto mãe, sendo seu principal dever reproduzir e criar filhos fortes para a pátria, mesmo que isso significasse abrir mão de suas vontades pessoais. A mulher que não tivesse filhos poderia nem ser considerada uma verdadeira mulher. Todavia, com a industrialização, o número de mães que eram também trabalhadoras seguia aumentando. As condições em que essas mulheres viviam, uma dupla jornada exaustiva, as tornaram protagonistas de protestos e greves por salários melhores. Para evitar essas ocorrências, foi criado e normatizado um discurso de incentivo para que as mulheres voltassem a se dedicar apenas à sua vida doméstica. Getúlio Vargas selou um acordo com a Igreja que também incentivava o papel de mãe e esposa, e as mulheres que não o cumprissem seriam taxadas como anormais, que estariam pondo em risco o futuro da nação. Esse duplo papel também reprimia a sexualidade feminina, limitando-a apenas à reprodução, além de tornar absurda a ideia de divórcio, questão abordada mais a frente no texto. Até mesmo o II Congresso Internacional Feminista, no início do século XX, parecia acreditar no papel predestinado da mulher enquanto mãe, apelando para que as mesmas o cumprissem. Nessa época, já existia resistência contra esses papeis femininos, evidenciada em publicações de mulheres da época e nos discursos de mulheres mais velhas, arrependidas de terem dedicado sua vida apenas a essas supostas obrigações. Cabia à mulher criar e educar as crianças, repreendendo-as quando necessário. Entretanto, os castigos mais árduos, aqueles físicos, costumavam vir do pai, que punia a criança em casos de indisciplina. O lugar da criança, para muitos, era dentro de casa; a primeira infância pertencia à família e à privacidade, sem a presença do Estado nesse ambiente, onde se construíam as primeiras memórias. Para algumas crianças, contudo, o lugar seria no trabalho. Desde muito novas, algumas crianças exerciam tarefas para ajudar a família, que tendiam a dificultar conforme a idade aumentava. Algumas outras, porém, trabalhavam para garantir sua sobrevivência. Fica evidente que embora seja retratada uma época de um século atrás, o quadro das relações familiares se mostra muito atual em diversos aspectos. Embora tenha havido uma grande evolução no que diz respeito aos papeis domésticos, principalmente da mulher, a situação atual ainda é de ruptura com o cenário tradicional descrito no livro, e não de completa superação. A figura do pai enquanto provedor e chefe da casa e da mãe como responsável pelo lar e pelos filhos está se tornando obsoleta, mas ainda é a realidade para grande parte da população brasileira. O paradigma da família tradicional brasileira ainda permanece resistente para as massas populares, ainda que existam diversas frentes sociais determinadas a rompê-lo. Um aspecto no qual a realidade das famílias mostrava-se, de fato, muito distante do atual, eram as brincadeiras infantis. Estas aconteciam principalmente na rua, ao ar livre, onde acontecia a aproximação das crianças mais ricas com as mais pobres, e onde não havia tanta diferença nas brincadeiras de meninas e meninos. Existiam brinquedos manufaturados, mas eram produzidos na Europa, e apenas quem vinha de família abastada os possuíam. Os brinquedos começaram a ser produzidos aqui de maneira artesanal, pelos imigrantes, que produziam brinquedos mais simples e que simulavam a vida adulta, e aos poucos essa produção foi se consolidando. O ensino brasileiro era voltado para filhos dos senhores de terra, mas com a industrialização e a necessidade de mão de obra, foi amplificado e passou a atender mais setores. A alfabetização e o ensino ocorriam, normalmente, dentro de casa, onde as mães ensinavam seus filhos. Com o aumento do número de escolas, as mães foram sendo substituídas por mestras - mulheres que deviam levar uma vida “correta” para poder lecionar - que, assim como as mães, exerciam papéis corretivos sobre crianças desviantes, e isso se dava por meio de castigos corporais. As escolas eram, frequentemente, ambientes precários, com materiais e móveis improvisados, quase nenhuma higiene e transmissão frequente de doenças. O número de crianças abandonando a escola por diversos motivos também era alto. As escolas comunitárias foram ambientes em que as crianças brasileiras passaram a estudar com imigrantes, e onde as crianças negras puderam começar a frequentar uma escola, uma vez que isso era proibido antes. As crianças pobres também frequentavam essas escolas, que, inclusive, eram mistas, pois meninas e meninos estudavam juntos. A puberdade carregava seus tabus, tanto para as meninas quanto para os meninos. No caso das mulheres, a menstruação, um tabu, que não devia ser mencionado nem com outras mulheres - ainda que começassem a surgir as propagandas de absorventes mais modernos que as toalhinhas. Algumas jovens sequer sabiam da existência da menstruação, gerando um susto quando acontecia pela primeira vez. Quanto às mudanças corporais, os seios eram considerados extremamente eróticos, e por isso deveriam ser escondidos. Ainda assim, esperava-se que, quando desenvolvido, o corpo da mulher tivesse a silhueta das mulheres de propagandas. No caso dos homens, por sua vez, a masturbação masculina - pois nem se falava em prazer feminino - era altamente repreendida, dizendo-se até que gerava sequelas como falta de memória e declínio de inteligência. Pode-se notar que o pudor extremo era regra, de maneira que até falar sobre atos sexuais era repreendido, quanto mais praticá-los cedo demais, e por isso não havia nenhuma forma de educação sexual para os jovens, pois a mesma poderia ser considerada um incentivo para os adolescentes praticarem atos libidinosos, e por isso era comum a transmissão de DSTs entre os jovens que começavam suas experiências. Também na adolescência surgem as primeiras experiências amorosas. Nas ruas, os jovens praticavam o flirt, com muitas e variadas definições, mas que em suma são os sinais trocados pelos jovens para conquistar uns aos outros. A conquista se dava a distância, na rua, com sinais nas roupas e movimentos, e depois seria um encontro mais próximo, como numa festa. O rapaz acompanhando a moça até em casa e mais um encontro à porta consolidavam o namoro. Quando esse se tornava sério, o rapaz ia até a família da prometida e pedia autorização de seu pai - caso ele dissesse sim, esses eram normalmente os casais que maispra frente estariam noivos. A partir daí, os encontros e saídas do casal eram cheios de regras e supervisionados, evitando contato demais. A pureza da moça era zelada com muita cautela, como é muito destacado pela autora no livro, uma vez que caso a mesma perdesse a virgindade antes de se casar, seria malvista e poderia acabar ficando sozinha. A urbanização trouxe mudanças nos relacionamentos, que passaram a se tornar menos distantes. Com a participação de mulheres em ambientes de trabalho, a proximidade de homens e mulheres se tornou muito maior, e os tradicionais métodos de conquista e romantismo foram sendo substituídos por idas a danças, ao cinema, etc, além da possibilidade de um deslocamento mais fácil para o encontro dos pretendentes. Vale ressaltar a importância da influência da família na escolha de um par. Dificilmente uma moça se casaria com alguém que a família não aprovasse, seja porque não era um bom moço, por religião ou etnia. Em caso de divórcio, o julgamento que os divorciados, mas principalmente a noiva, recebem é claro e vem de diversas fontes. O livro cita uma revista que chegou até a dizer que, nesses casos, a culpa era das mães que não souberam educar. Como dito anteriormente, o papel da mulher era também o papel de esposa, e dentro do matrimônio era ela a responsável pelo sucesso do casamento, que era medido pelo bem-estar do homem. As orientações eram de que a mesma não devia se queixar para que não incomodasse o marido, devendo realizar as tarefas domésticas e cozinhar, além de se manter arrumada para o esposo. Além disso, a infidelidade por parte dos maridos era comum e não era julgada pela sociedade, pois representava só suprir uma vontade, e “era da natureza do homem”, enquanto a infidelidade vinda da mulher era julgada e talvez até punida, e considerada inepta para criar os filhos, mostrando que, como ressalta a autora, o machismo agia de diversas formas e com pesos diferentes para uma mesma ação. À parte dos relacionamentos tradicionais, como viviam os homens homossexuais na época (não existiam muitos registros da vida de mulheres lésbicas). Os homossexuais eram considerados doentes, muitas vezes sendo internados ou expulsos de casa. Por isso, muitos fugiam para as grandes cidades buscando mais oportunidades, e toda essa movimentação acabou criando nas cidades alguns espaços de subcultura homossexual, mas mesmo ali as demonstrações de afeto eram reprimidas. Alguns sexólogos e médicos da época eram contra o posicionamento rígido da Igreja, pois diziam que os homossexuais portavam um desvio do qual não tinham culpa. Ainda tratando enquanto doença, havia quem se posicionasse a favor do casamento homossexual. Para finalizar, nesse período, diversas doenças assolaram o Brasil. A principal doença que atingiu o Brasil foi a pandemia gripe espanhola, que, principalmente no Rio de Janeiro, teve um efeito devastador, principalmente pela falta de estrutura de instituições de saúde. Isso gerou então uma culpabilização do governo pela falta de instrumentos para agir. Carlos Chagas, no Rio de Janeiro, liderou a campanha que implantou hospitais e postos de emergência, o que ajudou a amenizar a crise. A peste bubônica também passou por território brasileiro pouco após a pandemia da gripe espanhola, devastando ainda mais o cenário e a vida dos cidadãos. A tuberculose também foi uma doença muito presente, e quase sempre descoberta muito tarde, sem tratamento, era como uma sentença de morte para quem fosse diagnosticado. Tão grave era a doença que Getúlio Vargas buscou dar um novo rumo ao posicionamento do Estado em relação a doença, dando apoio e suporte econômico para instituições e eventos sobre a doença e elaborou um plano de combate a mesma. Algumas outras doenças, como a sífilis, que embora não tão letal foi marcante pelas sequelas, e a febre amarela também marcaram esse período. Desde essa época vem o combate ao aedes aegypti, mosquito portador de diversas doenças, incluindo febre amarela. Nesse período as técnicas alternativas de tratamento de doenças eram ordinariamente utilizadas, entre elas, a homeopatia, que apesar de nunca ter sido comprovada como eficaz, tornou-se muito popular na época (quando foi trazida ao Brasil) principalmente entre as classes mais altas. Chegando no fim do ciclo da vida, a morte. Naquela época, as pessoas costumavam morrer em casa, perto de seus parentes, que eram os responsáveis por todos os rituais para enterro do falecido. Havia também o anúncio da morte até mesmo através de jornais, e o enterro se tornava interessante dependendo de quem era o morto e qual foi a causa, existindo então uma questão de prestígio sobre a pessoa morta. Com o avanço da medicina e das tecnologias, a expectativa foi aumentando, e algumas doenças deixaram de ser causas tão comuns para a morte, embora outras tenham se tornado causas mais frequentes, além dos casos generalizados de machismo que a autora destaca como uma causa de morte. Mas esse avanço da medicina e da sociedade num geral também fez com que os doentes passassem a morrer em hospitais, com médicos e os familiares mais próximos por perto. Além disso, o saudosismo e a veneração de ausentes deixaram de ser tão presentes e influentes na vida das pessoas, uma vez que a mesma ganha um ritmo muito mais acelerado.
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