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IBRA - Resenha Livro Histórias da Gente Brasileira Vol. III

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EBAPE - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas 
Curso: Interpretações do Brasil 
Docente: Ana Camarano 
Grupo: Clarisse Borges, Marcelo Marques e Pedro Merquior 
 
Resenha: Histórias da Gente Brasileira – Vol. III 
 
Parte 1 
A passagem da Monarquia para a República foi conturbada. Nos primeiros anos do novo 
regime o Brasil sofreu uma desorganização econômica financeiro devido a dois fatores: o 
regime de trabalho livre nas lavouras e o Decreto 164 (encilhamento), de Rui Barbosa. Assim 
a Bolsa iniciou um período em que, por um lado havia ações de companhias novas e por outras 
companhias indo à falência. 
Os próximos anos após a proclamação foram marcados por muitas revoltas sociais e 
tensões políticas. Além disso, foi feita uma “europeização” da cidade do Rio de Janeiro, a 
capital. Em contraste, houve um combate às tradições culturais africanas mesmo algumas das 
figuras mais importantes do país serem negros e mulatos, como o presidente Mulato Nilo 
Peçanha e Machado de Assis, Mario de Andrade, Oracy Nogueira, etc. 
O sistema político implantado era sólido, tinha o apoio da elite, os cafeicultores 
paulistas. Deixou para trás a antiga república da espada, formada por políticos egressos do 
exercito com perfil centralizador. Deodoro da Fonseca, presidente da republica da espada, 
renunciou após pressão dos militares. Floriano Peixoto, vice de Deodoro, assumiu e acabou por 
acentuar ainda mais as tendências ditatoriais. 
Durante seu governo, enfrentou duas grades revoltas: a Federalista e Armada. A 
primeira foi uma guerra civil no sul do Brasil em que os opositores de Júlio Castilhos, 
governador do Rio Grande do Sul, queriam ele fora da governança. Já a revolta armada refletia 
o descontentamento da Força Armada com o prestígio político da Marinha em relação ao 
exercito. A revolta não teve muito apoio político e popular. Após a haver confrontos em Niterói, 
se espalhou para o sul e depois foi contida por Floriano Peixoto. 
A eleição de um civil marcou a republica do café com leite, que foram trinta anos de 
domínio politico de oligarquia locais. Seu nome: Rodrigo Alves, o primeiro presidente da era. 
Reurbanizou a capital do Rio de Janeiro, construiu palácios, avenidas, melhorou o saneamento. 
Foi nessa época em que as Brigadas sanitárias começaram, elas, acompanhados da polícia, 
obrigavam a população a vacinar e logo depois levou a Revolta da vacina. 
Afonso Pena, sucessor de Rodrigo Alves, foi responsável por firmar com os 
cafeicultores de são Paulo o Convênio de Taubaté. Tal convênio consistiu em um empréstimo 
de 15 milhões de libras para estocagem e queima de café. Além disso, ele modernizou portos 
do país e criou parque indústrias. Entretanto, seu governo durou pouco: morreu antes de 
completar seu mandato e seu vice, Nilo Peçanha assumiu o poder. 
Hermes da Fonseca, sucessor de Nilo, foi eleito depois de uma sangrenta disputa 
eleitoral contra Rui Barbosa. Durante seu poder ele necessitou enfrentar duas revoltas muito 
importantes: Chibata e Contestado. A primeira foi a revolta dos militares da Marinha que se 
rebelaram contra seus salários baixos, péssimas condições de trabalho, alimentação, contra as 
chibatas que os castigavam. Já a guerra do contestado consistiu em uma revolta dos sertanejos 
pobres que foram expulsos de suas terras devido a via ferroviária “Brazil Railway”. 
Encontraram apoio na figura de José Maria, que se dizia escolhido por deus para criar uma terra 
com autoridade próprias, ignorado qualquer autoridade, esses povoados se chamava 
Contestados. 
Olhando o cenário exterior, se aproximou a Primeira grande guerra, entretanto o Brasil 
não participou dos combates. O país estava relutante em mandar reforços aos aliados, já que 
muito se passava no território nacional. Faltando um mês para o fim da guerra, e após ter três 
navios mercantis atacados, o Brasil declara guerra a Alemanha. 
 Em 1922 Artur Bernardes assume sob a tensão da Revolta tenentista e mais tarde do 
movimento coluna Prestes. A primeira revolta tenentista teve um triste final, participantes da 
revolta foram mortos pela tropa leal, evento conhecido como Os dezoito do Forte. 
A Revolta Esquecida, segunda revolta tenentista que ocorreu em São Paulo, resultou da 
insatisfação dos militares com a crise econômica e com a concentração de poder nas mãos dos 
politicas paulistas e mineiros. Reivindicavam voto secreto, justiça gratuita e instauração do 
ensino publicam obrigatório, entretanto a revolta foi combatida. Os perdedores marcharam-se 
para ao sul e juntaram-se aos oficiais gaúchos comandados por Luís Carlos Prestes, e assim 
surgia a Coluna Prestes. Ela consistia em uma divisão revolucionaria que percorreria o Brasil 
para propagar a ideia revolucionarias entre as comunidades rurais. 
Washington Luís, presidente em 1930, obteve um governo estável, mas ao final de sua 
candidatura rompeu com antiga politica café com elite indicando um paulista, Júlio prestes, já 
que esse podia garantir proteção aos produtores de café. Assim, em oposição ao governo de 
Prestes e com apoio mineiro, foi lançada a candidatura de Getúlio Vargas e foram apoiados 
pelos tenentes que haviam combatido. Todavia, Prestes tinha mais apoio no Brasil e ganhou a 
eleição causando fúria no sul. A revolução se estendeu ao Rio de Janeiro e em 34 de outubro 
depôs Washington Luís e Vargas tomou posse. Os revolucionários prometiam acabar com a 
república dos fazendeiros, a presença de um estado forte, centralizador, paternalista e gestor da 
economia. 
A Revolução Constitucionalista de 1932 foi uma campanha que queria o fim da 
interferência federal nos estados. “São Paulo livre, civil e paulista”. Assim, civis paulistas 
começaram a ingressar no corpo da infantaria. Apesar de a revolução ter sido derrotada, 
conseguiram convocar a assembleia constituinte e influenciar na escolha do interventor local. 
Getúlio se viu obrigado a aceitar uma constituição de cunho liberal. A nova constituição abriu 
espaço para a criação de outros partidos, entre eles a Aliança Nacional Libertadora. 
A intentona comunista foi um manifesto da ANL em que desafiava o governo Vargas, 
propondo uma nova revolução, mas, segundo a Lei de Segurança Nacional fechou o partido. 
Apesar de uma rebelião acontecer no rio, logo foi controlada pelo governo. Todos participantes 
foram presos, torturados e mortos. Além disso, a prisão do líder do Partido Comunista foi mais 
um pretexto pata a decreto do Estado de Guerra, em 1936. Nesse período, Vargas aboliu os 
partidos e o parlamento, prendeu seus adversários e criou uma nova constituição a Polaca, época 
chamada de Estado Novo. 
Uma nova corrente de pensamento chegou ao Brasil: O fascismo. Ação Integralista 
Brasileira, movimento antissocialista, antissemita e antiliberal, comandada por Plinio Salgado. 
Tentaram tirar o ditador do poder, mas foi fracassado. Getúlio os jogou na ilegalidade, o 
movimento foi controlado e seu líder exilado. 
O estado novo seguia firme. Em 1933 foi criada a Delegacia Especial de Segurança 
Politica Social (DESP) com o objetivo de vigiar e restringir comportamentos contra o governo 
de Vargas. Foi uma forma de centralização e ditar as regras do controle social. As prisões se 
enchiam cada vez mais e Vargas determinou o uso do arquipélago de Fernando de Noronha 
para presos políticos. 
A partir de 1939 estoura a Segunda Guerra Mundial. O Brasil foi representado pela FEB, 
força militar do país, lembrado sempre pela alcunha “A Cobra vai Fumar”. Mesmo que não 
muito lembrada pelo seu povo, os resultados foram de ordem expressiva, principalmente nos 
campos de guerra na Itália. Foram mais de 20 mil alemães capturados, 80 canhões e 1,5 mil 
viaturas. Os “pracinhas” retornaram ao Rio de Janeiro em meados de 1945, ano do final 
decretado da guerra, com vitória para o lado dos Estados Unidos, do qualo Brasil estreitaria de 
forma intensa as relações nos anos seguintes, de Guerra Fria. A guerra, porém, levou muitos 
dos nossos, mostrando que, como o autor enfatiza, ela não era aquela “aventura romântica”. 
 No Brasil, durante a guerra, o governo era de Getulio Vargas. Após a experiência de 
Estado Novo e asfkasklç, Vargas elegeu-se novamente sem dificuldade, batendo Eduardo 
Gomes, da UDN. O “Pai dos Pobres” voltava ao poder após a experiência da ditadura e a 
deposição em 1945. Seu governo “democrático” é marcado por um caráter mais melancólico, 
que culmina no seu suicídio. Porém, é importante destacar que, democrático ou não, seus 
governos foram marcados por reformas econômicas que beneficiaram os mais pobres e os 
trabalhadores (vide a promulgação da CLT). 
 O período analisado trouxe transformações relevantes para a sociedade brasileira. Ao 
longo das primeiras décadas do século, o êxodo rural, pujante industrialização e ocupação de 
novos espaços pelos novos ricos garantiram uma tradicional divisão, na qual medidas 
urbanizadoras, vide Pereira Passos, incluíram colocar abaixo conhecidos redutos das camadas 
mais pobres da sociedade (os famosos cabeças de porco). É curioso, porém, que a urbanização 
andou a passos curtos. 
 Mas se as capitais “fervilhavam”, como estava o interior? O Norte e o Nordeste, por 
exemplo, também vivenciaram transformações, mas não na ordem daquelas provincianas. Do 
interior nem sempre aqueles que dali vieram guardam a imagem caricata difundida pelas fases 
do modernismo, mas sim de uma forma afetuosa que lutava contra a velocidade das mudanças 
dos grandes centros. Afinal, nessa vida “caía o tempo com a leveza dos grãos de uma 
ampulheta”. 
 
Parte 2 
No início do século XX, o setor de transportes brasileiro viu a chegada da modernidade. 
Primeiramente, falaremos sobre os céus: O Zeppelin e o avião (havia cerca de 13 voos 
comerciais no Brasil apenas) são os exemplos mais emblemáticos desse período. No entanto, 
eles são citados mais como uma curiosidade do que propriamente uma nova forma de transporte 
usada no país. O transporte aéreo, principalmente o Zeppelin, era extremamente caro e seletivo. 
Assim, apenas uma parcela pequena da população tinha acesso a ele. 
Em segundo lugar, falaremos sobre o transporte terrestre cujo foco ocorre no transporte 
sobre trilhos. O transporte urbano era feito basicamente por bondes que em alguns lugares se 
mantiveram, por um longo período, utilizando-se de tração animal enquanto que, em outros, os 
bondes se tornaram elétricos. Isso era, na maioria das cidades, a principal forma de transporte 
das pessoas, sejam elas ricas ou pobres, pois a presença de carros particulares era raríssima, 
inclusive na capital. Pode-se observar a importância do bonde no cotidiano das pessoas através 
de músicas da época que o retratavam recorrentemente. Em seguida, vale ressaltar os trens que 
exerceram importante papel no transporte de distâncias maiores. Eles eram utilizados para o 
transporte de mercadorias (interiorização da produção, troca interior e litoral, ganhos de escala) 
e de pessoas (como é visto em várias obras literárias da época, como por exemplo o livro 
Recordações do Escrivão Isaías Caminha). A malha ferroviária, mesmo sendo pequena, ajudava 
a reduzir distâncias. Embora pequena, houve significativo aprimoramento dela, no início do 
século XX, fruto de um processo de privatizações liderado pelo presidente Campos Sales. Com 
a iniciativa privada no comando, a malha ferroviária mais que dobrou no período. Uma das 
obras mais polêmicas e ambiciosas da época foi a feita pelo empreendedor americano Percival 
Farquhar que construiu a estrada de ferro Madeira-Mamoré numa região pouco habitada e 
explorada do país (amazônica). Essa empreitada teve uma série de dificuldades principalmente 
com relação a morte maciça de trabalhadores (empregou-se cerca de 20 mil pessoas) devido as 
condições precárias de trabalho e de clima, além de doenças tropicais trazidas pelos mosquitos. 
Oswald Cruz foi contratado para tentar mitigar as doenças. Por fim, ocorreram, como em 
qualquer processo de mudanças, brigas entre o status quo e o novo status quo, protegido pelo 
governo. De um lado, senhores de terra (principalmente os senhores de engenho do Nordeste 
na medida em que os cafeicultores paulistas tinham uma relação próxima e de ajuda mútua com 
os ferroviários) e de outro os ferroviários. Os interesses desses grupos às vezes não eram 
compatíveis o que gerou algumas brigas e divergências no início da expansão ferroviária, mas 
que depois foram mitigados. 
A chegada do automóvel ao Brasil se iniciou pela Bahia, com um carro provido de um 
motor a vapor que paulatinamente foi sendo substituído pelo automóvel à explosão. Os carros 
eram artigo de luxo e, portanto, aguçavam a curiosidade de muitas pessoas, principalmente, no 
interior e nas regiões mais pobres do país. Um grave problema surgido com a chegada do 
automóvel foi a falta de habilidade para a direção das pessoas, assim sendo, as primeiras 
legislações de trânsito surgem com regras como limite de velocidade nas cidades e a 
necessidade de se ter habilitação para dirigir um carro. Além disso, novas profissões vão surgir 
como a de motorista e de mecânico (com a abertura das primeiras oficinas no país). Algumas 
pessoas criticavam o automóvel, ao considerarem-no como apenas uma distração da 
modernidade, sem conter utilidade práticas em termos produtivos. A partir de 1930, com 
Vargas, o esforço de desenvolvimento focou todo na rodovia, deixando de lado as ferrovias 
estrangeiras que foram estatizadas e que pararam, infelizmente, de receber investimentos. Às 
vésperas da Segunda Guerra Mundial, haviam cerca de 200 mil carros no Brasil. No entanto, 
durante a guerra, haviam limitações de importação de produtos não essenciais e peças de 
automóvel estavam nesse grupo, assim, um tímido processo de substituições de importação no 
setor de autopeças e suas fábricas ocorreu. 
Havia uma grande desigualdade entre as casas dos mais ricos e as casas dos mais pobres. 
As casas dos ricos eram casas grandes com largos jardins e muito conforto para as elites de 
norte a sul do país. Além disso, elas usualmente adotavam variados estilos arquitetônicos 
importados da Europa, sem ter a adoção fiel a um estilo específico, pois seus donos gostavam 
de experimentar as tendências, enquanto que a população mais carente abitava casas de cômodo 
onde não havia higiene, acesso a água encanada, esgoto, ou seja, com condições precárias de 
vida. Normalmente, essas casas eram antigos casarões transformados em vários cômodos onde 
as pessoas se amontoavam lá. Pereira Passos, no famigerado Bota Baixo, focou justamente 
nesse tipo de casa, os chamados cortiços. Neocolonialismo é uma tendência arquitetônica que 
vai surgir em vários lugares e que se refere em basicamente resgatar o passado colonial no estilo 
de construção (usando o mesmo estilo da época colonial). Uma das grandes questões sociais 
brasileiras do começo do século XX era a falta de habitação que gerava crescimento dos 
aluguéis e falta de higiene sanitária. De 30 a 64, o governo respondeu a essa necessidade com 
programas de construção de casas populares, renovação de leis (lei do inquilinato) e 
financiamento de fundos públicos para a área específica da habitação. Anos 40, o crescimento 
extensivo de construções foi substituído por uma verticalização maior em vários locais 
(Conjunto Residencial de Realengo e de Del Castilho por exemplo.) 
O rádio foi um fenômeno importante no Brasil, pois permitiu que as informações e 
tendências chegassem mais rapidamente a população. Epitácio Pessoa foi o responsável pela 
inauguração, em 1922, da radiofonia (transmissão de rádio) à distância e sem fios. Outro 
importante personagem foi Roquette-Pinto, um dos grandes responsáveis pela disseminação do 
uso do rádio no Brasil. Ele acreditava no potencial educacionalque o rádio tinha para com a 
população. Além disso, o rádio foi percebido como um importante instrumento para propaganda 
política principalmente por Vargas que instituiu a Hora do Brasil e estatizou uma das principais 
rádios brasileiras da época do Estado Novo: a Rádio Nacional do Rio de Janeiro (fundado em 
1936). O uso de rádio no Brasil, em princípio, era de exclusividade do governo federal que a 
usava para a transmissão de informações internas do governo. No entanto, o surgimento do 
rádio de galeno fez com que essa proibição fosse de difícil controle devido a facilidade de sua 
montagem pela população. Assim, o rádio de galeno foi um importante instrumento para a 
popularização da transmissão de informação via ondas de rádio. A população usava o rádio para 
ouvir peças de teatro, apresentações de óperas e de orquestras. Houve um acompanhamento em 
termos de imprensa escrita do rádio com colunas sobre a programação do rádio, sobre os 
personagens e as vidas pessoais dos atores, juntamente com uma profissionalização da profissão 
de artista de rádio. Outro ponto relevante é a figura do fonógrafo que servia para fazer 
gravações, reproduções e armazenagens de áudio. Um uso famoso do fonógrafo foi feito por 
Roquette-Pinto para gravar melodias e canções de povos indígenas que nunca haviam tido 
contato com humanos. Ao final da década de 50 com o advento da televisão, o rádio começa a 
perder prestígio, culminando no fim da era de ouro do rádio que de grosso modo vai de fins dos 
anos 20 até fins dos anos 50, durando cerca de 30 anos. 
Havia um sentimento de modernidade entre os intelectuais que acreditavam que os 
brasileiros deveriam se portar civilizadamente como a burguesia europeia. No entanto, a 
realidade brasileira estava muito aquém da europeia e, portanto, muitas pessoas continuavam a 
ter hábitos considerados não civilizados como comer com as mãos, sentados a esteira e 
cozinhando com fogões a lenha ou a carvão. As cozinhas ainda eram muito desorganizadas e 
poucas tinham relação com o que se vê atualmente ou nas propagandas de revistas da época 
(fogão elétrico ou a gás eram raridades). As casas urbanas tinham quintas com árvores frutíferas 
e pomares numa espécie de transição entre o ambiente rural e urbano, além disso o quintal se 
portava como espaço de confraternização. Desvinculação entre cozinha e sala de jantar (que 
passou a ser espaço de ostentação) apenas nos palacetes, nas casas dos mais abastados e, muitas 
vezes, apenas em ocasiões festivas, no restante do tempo e na maioria dos lares, a cozinha 
exercia ainda o papel de sala de jantar. Guardar comida era um problema, pois poucas pessoas 
tinham geladeira e mesmo as que tinham, sofriam, pois a geladeira da época era uma versão 
rudimentar do que entendemos como geladeira hoje. Usando vários espaços da casa para 
guardar alimentos, fez com que problemas de infestação de insetos surgissem nas residências, 
principalmente naquelas sem geladeira. Culinária tornou-se algo requintado com a 
comercialização de livros de receita voltados ao público mais rico e alfabetizado. Algumas 
tradições surgiram ou se mantiveram do tempo colonial como a compra de alimentos frescos 
trazidos a porta de casa ou a reunião para se alimentar fora de casa com amigos e familiares no 
mercado central. Bares e botequins se espalhavam e se tornavam ponto de encontro após um 
dia de trabalho, juntamente com a popularização da cerveja no início do século XX. 
A fome, no Brasil apresentou várias facetas. Primeiramente, uma “fome política” que 
mais do que fome, se tratou de um racionamento que ocorreu durante a Segunda Guerra 
Mundial. Esse racionamento, por sua vez, não foi um racionamento por necessidade, mas sim 
por jogo político do governo Vargas durante o Estado Novo. O motivo para realizá-lo era que 
o governo gostaria de maior apoio popular para entrar na Guerra e enfrentar a ameaça 
nazifascista, assim, promovendo o racionamento, o governo buscava conscientizar a população 
sobre a necessidade de lutar contra o nazifascismo. A população mais carente foi a que mais 
sofreu com essa falta de alimentos, provocando um espírito de mobilização nacional maior. 
Assim, Vargas conseguiu trazer a guerra para o cotidiano. De fato, nessa época, o Brasil sofreu 
com a fome, fundamentalmente a população mais pobre, principalmente as famílias do sertão 
nordestino (os habitantes dos vales úmidos do Nordeste, por exemplo, não sofreram). 
A vida do negro/pardo pós-abolição era uma vida pobre, marginalizada em que o 
preconceito era latente e a representatividade política pequena. No entanto, nem todos os 
escravos passaram a viver em condições violentas e de extrema necessidade, alguns, 
influenciados pela mentalidade paternalista, que vigorava em maior escala no Nordeste, 
mantiveram-se atrelados aos seus antigos senhores numa relação dual em que eles eram 
considerados da “família”, mas deveriam obedecer como um funcionário. No entanto, vale 
ressaltar que não era a maioria que detinha essa melhor qualidade de vida, assim, a questão da 
violência dos tempos de escravidão permanecia fruto do preconceito racial e social. Os ex-
escravos deixaram as localidades em que eram escravos, no período pós-abolição? Em princípio 
não, muitos buscavam ocupações na própria fazenda em que trabalhavam ou em outras 
localidades da região (comprando pequenas propriedades), muitas vezes, era do interesse dos 
fazendeiros em manter a mão de obra na forma, agora, assalariada. Esses escravos obtiveram 
maior estabilidade do que aqueles que saíram em busca de emprego. Na maioria das vezes, 
esses conseguiram apenas empregos temporários em fazendas. Os descendentes daqueles que 
permaneceram nas regiões em que foram escravos começaram a circular pelos estados e pelo 
país buscando colocações principalmente próximas as capitais que cresciam (migração campo-
cidade) e necessitavam de mão de obra para o abastecimento de alimentos e de produtos para a 
cidade. Houve um movimento em prol dessa migração na medida em que a imigração 
proveniente da Europa havia diminuído e, portanto, necessitava-se de outra fonte de mão de 
obra: os jornais e linhas férreas da época incentivavam esse tipo de migração. Outras razões 
importantes para a migração era o fato de que os negros buscavam reencontrar familiares 
separados pela escravidão e buscavam também maior e melhor acesso a educação apesar de 
insistentemente negada a eles. O grande exemplo dessa migração campo-cidade pode ser visto 
no trabalho de Coutinho da Costa sobre a migração entre o Vale do Paraíba e o Rio de Janeiro. 
Observa-se que após a Abolição não houve uma migração em massa para a cidade e sim 
posterior entre os anos de 1920 e 1940, ela foi empreendida por jovens homens, filhos de ex 
escravos que não conseguiam a estabilidade/sobrevivência dos pais, eles, assim, buscavam com 
a migração melhores condições de vida. O subúrbio e a baixada fluminense, segundo mesmo 
autor, não cresceram em termos populacionais devido as reformas de Pereira Passos e a 
expulsão da população carente do centro da cidade, mas sim devido a migração em busca de 
trabalho e de oportunidades que essas regiões forneciam. As mulheres sem educação tinham 
como principal fonte de sustento o trabalho doméstico que permitia a inserção na cidade. O 
trabalho doméstico constitui até hoje uma das maiores heranças escravistas no dia a dia 
brasileiro. Seja em termos de ter uma trabalhadora doméstica seja em termos de ter apenas 
recentemente o seu emprego reconhecido como um emprego formal. Ele era visto pelos 
brasileiros pós escravidão como uma espécie de bondade dos patrões de mantê-las como parte 
da família tendo como contrapartida a obediência. Certamente em menores termos, mas até hoje 
essa lógica se mantém. 
Apesar dos programas de higienização “social” propostos por Oswaldo Cruz e Carlos 
Chagas, a limpeza das casas e das pessoas não era levado à sério damesma maneira. A higiene 
pessoal, no início do século XX, era pouco valorizada e algumas poucas ações em termos de 
higiene já eram consideradas suficientes pela população. A maioria das casas, nas cidades e no 
campo, não tinha água ou esgoto encanados (apenas fossas bem precárias). Assim, a ideia de 
corpo moderno: limpo e higienizado não se democratizava por motivos pessoais dos brasileiros 
e por motivos de estrutura. Além disso, as condições sanitárias eram ruins para se fazer suas 
necessidades fisiológicas o que propiciava o surgimento de infecções. O banho, uma das 
instituições fundamentais para a higiene nos tempos modernos, era tido no senso comum do 
início do século XX como se fizesse mal à saúde. Para completar a desvalorização do banho 
deve-se ter em mente que era uma tarefa complicada e custosa se banhar, pois exigia o uso de 
rios e riachos onde mulheres e homens se dividiam para aqueles que não possuíam água em 
casa e para os outros, com acesso à água encanada ou a algum tipo de poço, o uso de bacias. A 
ideia de um alto padrão de higiene pessoal focado no banho e em condições sanitárias melhores 
para se realizar as necessidades fisiológicas foi exportada pelos americanos, como parte do 
American Way of Life, após a Segunda Guerra. Isso tornou-se assim, uma obsessão nacional e, 
a partir disso, uma série de produtos relacionados a essa higiene pessoal melhorada começaram 
a surgir. Muitos deles, importados e de melhor qualidade, tinham acesso restrito a elite, no 
entanto, muitos produtos utilizados pela população podiam ser de fabricação caseira como o 
sabonete e o banho de cheiro que se impõe como algo importante no dia a dia das pessoas. De 
modo geral, o banheiro transformou-se em um ambiente privado onde o homem conseguia 
escapar na vida moderna seja tomando banho no chuveiro seja sentado ao vaso sanitário, além 
disso a necessidade de banho todo o dia e de uma série de produtos para ser realizado a higiene 
pessoal teve uma forte influência americana que liderava o mercado de produção de uma série 
desses produtos (vaso sanitário, chuveiro e papel higiênico, por exemplo). 
A agitação cultural tomou conta das cidades no início do século XX (mais 
especificamente ao final da primeira guerra e durante os anos 20). Um primeiro ponto 
importante é a mudança do centro de lazer das pessoas que deixou de ser o ambiente doméstico 
e passou a ser a rua onde as pessoas, na medida do possível, se perfumavam e se arrumavam 
para a vida pública. As cidades se remodelavam tornando-as mais atraentes para as pessoas 
saírem de suas casas e ocuparem o espaço público, além disso, havia uma crença de que 
sociedades mais civilizadas como a europeia tinham como base de diversão, o ambiente público 
e, portanto, o seu estímulo era visto como fundamental para uma evolução civilizatória. Cada 
grupo se divertia à sua maneira de acordo com seus códigos culturais, é claro que, alguns grupos 
sofriam maior repressão da polícia como, por exemplo, os negros durante os seus blocos. Os 
grupos se formavam devido a opções políticas comuns, visões sociais comuns ou pertencimento 
a mesma classe social/trabalhadora/étnica. Portanto, esse tipo de lazer ao ar livre ajuda na 
consolidação de costumes e ritmos principalmente dos grupos menos favorecidos. 
Uma economia do entretenimento se desenvolveu, criando empregos e movimentando 
as economias das cidades. Grandes figuras dessa nova economia do entretenimento eram os 
teatros e o circo. Figuras relevantes do imaginário nacional surgiram nessa época como a 
melindrosa e o almofadinha. Vale ressaltar ainda que a associação da juventude feminina com 
a figura da melindrosa representava um rompimento entre gerações da maneira de se portar da 
mulher que se tornava mais libertadora. A mulher brasileira se aproximava mais da mulher 
americana que dançava e se divertia abertamente do que da mulher francesa muito mais 
recatada. Além disso, com a vinda das companhias estrangeiras e, consequentemente, das 
artistas europeias ocorreu a introdução da valorização nos espetáculos da figura da mulher 
sedutora que tinha braços e seios de fora. A sociedade brasileira torna-se aos poucos menos 
conservadora em termos principalmente da figura feminina que era ainda muito retida e com 
pouca expressão na sociedade. 
O grande chamariz público para que as pessoas saíssem de suas casas era 
definitivamente o cinema. Para se der uma ideia da magnitude que o cinema tinha no Brasil, 
estima-se uma média de 2 sessões de cinema por habitante maior que 15 anos no ano de 1929, 
isso numa população cuja maioria ocupava o campo onde se tinha pouco acesso a cinema. O 
cinema afetava o imaginário amoroso da população principalmente através dos musicais onde 
um casal com um amor platônico e idealizado vive uma vida autônoma dos problemas e da 
sociedade. O amor se comporta como uma instituição acima de todas, demonstrando que viver 
uma grande paixão era mais importante do que qualquer outra coisa devendo-se combater tudo 
aquilo que atrapalhasse esse amor. Assim, o amor nessas películas tinha um comportamento 
paradoxal. Se por um lado, o amor era defendido pela sociedade como uma busca legitima do 
homem, por outro, o amor tornava-se um elemento antissocial de emancipação de todas as 
hierarquias e cadeias tradicionais. 
Diferentemente dos dias de hoje, ir ao cinema, em grande parte das salas, era um 
programa factível para todos, apesar da infraestrutura ser pior (cadeiras de madeira, pessoas em 
pé, calor insuportável). O cinema era a grande atividade cultural da época e as pessoas tratavam 
os personagens como ícones da moda e da beleza. Outro importante papel do cinema era o de 
informar a população sobre o que estava acontecendo no país e ao redor do mundo, isso ocorria, 
pois, as películas antes da exibição das fitas propriamente ditas, exibiam o “natural” que era 
uma coletânea das principais notícias da semana. Deve-se sempre ter em mente que não haviam 
televisões na época e, portanto, o único contato visual que as pessoas tinham com uma tela era 
através do cinema. Assim, durante a Segunda Guerra, imagens do conflito eram mostradas antes 
das sessões como estratégia do governo para sensibilizar a população para a séria ameaça que 
o nazismo representava. A influência da indústria cinematográfica sobre os costumes e hábitos 
da sociedade começava a mostrar suas garras. Além do cinema, outras atividades como 
cassinos, clubes, choperias, bares, bordéis, grupos de dança (principalmente em locais com 
acesso mais difícil a cultura) surgiam. Vale ressaltar que essas novidades modernas dos anos 
20, 30 foram um fenômeno tipicamente urbano. No interior, ainda se mantinha uma vida pacata 
onde a ida a uma praça para saber das notícias das pessoas através da conversa era o principal 
meio de diversão e descontração. 
As festas nacionais foram importantes elementos da coletivização da diversão que se 
inicia no começo do século XX. Uma das principais festas, nesse sentido, era o carnaval que se 
tornava ano após ano no fenômeno que vemos hoje: uma festa extremamente popular em que 
todos celebram à sua maneira, certamente, o carnaval é a festa mais importante da identidade 
brasileira. O carnaval, ao longo das décadas de 20 e 30, foi crescendo e tornando-se cada vez 
mais importante, principalmente no Rio de Janeiro que era a capital e centro cultural do país, 
mas, as outras cidades brasileiras, também o celebravam. O carnaval é e era uma época de 
transgressões, em que regras sociais se afrouxam e coisas imorais, de acordo com as normas e 
costumes da sociedade, passam a ser mais toleradas. Além disso, a sexualidade da mulher, 
principalmente da mulher negra, ficava em evidência durante o carnaval. Vale relembrar que o 
comportamento da mulher durante todo o ano, com exceção ao Carnaval, era doméstico, com 
pouca relevância no espaço público, portanto, o carnaval era uma forma de resistênciadessas 
mulheres contra a opressão do cotidiano que inibia os seus desejos de liberdade. Para os negros, 
o carnaval cujo principal estilo musical é o samba, era uma forma de lutar contra a 
discriminação sofrida por eles na medida em que o samba que passou a ser um patrimônio 
nacional reconhecido e valorizado por todos surgiu como uma música da comunidade negra e, 
assim, sofria preconceitos como se fosse um gênero inferior. De modo geral, o Carnaval servia 
como um espaço em que as pessoas podiam assumir a pele de diferentes personagens e deixar 
um pouco de lado o “eu” com todos os seus problemas e defeitos. A partir de 1932, com o 
prefeito Pedro Ernesto, os desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro começam a se 
profissionalizar com subvenções do governo e desfiles. Em 1949, a Rádio Continental realizou 
a primeira transmissão do carnaval carioca. 
A figura das festas de santos eram e ainda são muito populares no Brasil, algumas, 
celebradas durante o início do século XX, já não são tão celebradas como eram, enquanto que 
outras, surgiram, como é o caso da Festa de Padre Cícero. A mais celebrada festa de santo do 
Brasil era a festa de São João que até hoje é celebrada, mas perde, nos dias atuais para o Natal 
em termos de importância. A partir de relatos como o de Carolina Nabuco e Carlos Heitor Cony, 
percebe-se que a população daquela época não levava o Natal tão a sério como levava a Festa 
de São João e como levamos o Natal hoje. Contribuiu para o aumento da importância do Natal, 
a figura do Papai Noel, nascida nos EUA e que chega ao Brasil após a Segunda Guerra Mundial. 
Do Norte ao Sul do Brasil, havia uma série de celebrações de santos que possuíam diferentes 
tamanhos (algumas restritas a poucas localidades, outras celebradas em todo o país) e em menor 
ou maior grau ainda sobrevivem aos tempos atuais. Um exemplo de uma festa que permanece 
até hoje como uma importante data de celebração no Brasil é o Círio de Nossa Senhora do 
Nazaré que ocorre todos os anos em Belém. 
O fenômeno do surgimento e crescimento da prática de esportes ao longo do século XIX 
na Europa, está muito relacionado com o desenvolvimento das cidades, de uma cultura de 
interação urbana e de uma mentalidade em busca de higiene e saúde. As cidades se tornavam 
mais densamente povoadas e essa interação mais próxima entre pessoas juntamente com os 
desenvolvimentos ditos acima, criou-se um ambiente propício ao surgimento dos Esportes que 
não eram mais aqueles esportes ligados a aristocracia em que a atividade física era limitada ou 
aqueles brutais ligados aos mais pobres. No Brasil, o esporte aparece, durante a Belle Époque, 
trazido por imigrantes que vieram morar no Brasil ou por aqueles que vinham a trabalho como 
os marinheiros ingleses que jogavam futebol no porto. A prática esportiva era mais recorrente 
entre os homens do que entre as mulheres. Os homens assistiam mais aos eventos no espaço 
público e assim vivenciavam mais as emoções coletivas que o esporte proporciona. Já para as 
mulheres, o esporte servia para desenvolver o corpo e a beleza, sem perder a postura frágil 
feminina. Nessa linha, Maria Lenk, tentando defender o esporte para as mulheres, argumentava 
que a natação era um esporte que garantia mais saúde para as mulheres e ao mesmo tempo que 
não as deixava com aparência “bruta”. De fato, o grande propulsor para a prática esportiva foi 
a saúde que passou a ser vista como consequência da atividade física. Nessa onda, as mulheres 
começaram também a praticar esportes como tênis e ciclismo (era visto mais como uma forma 
de passeio que esporte), no entanto, havia muita resistência a esse fato, pois muitos acreditavam 
que essa prática era imoral, pois desvirtuava a mulher dos seus papéis principais na sociedade: 
dona de casa e mãe. No entanto, médicos e higienistas defendiam a prática de esportes pelas 
mulheres por uma razão extremamente machista, mas que ajudou na prática de esportes pelas 
mulheres. Eles defendiam que as mulheres sem o esporte estariam mais suscetíveis a doenças 
ligadas a mente e ao adultério, pois sem distrações, só restava as mulheres sonhar com amores 
impossíveis e em como seduzir outros homens. Nascia assim uma nova mulher em que 
elegância andava lado a lado com a saúde. As modalidades em que as mulheres no início do 
século tinham alguma participação eram a natação, hipismo e o tênis. No caso dos últimos dois, 
havia a prática em conjunto com os homens, em igualdade de condições. Apesar disso, os três 
esportes eram esportes praticados pela elite que ia a clubes associados para praticá-los. A 
canoagem, por outro lado, se popularizou na medida em que era praticado ao ar livre aos olhos 
de todos e possuía entre seus praticantes, pessoas pertencentes ao povo. Assim, a sua prática 
era disseminada em todas as classes. No entanto, a supremacia do remo seria prontamente 
substituída pelo esporte que até hoje é o mais popular entre nós, brasileiros: o futebol. Ele foi 
trazido por pessoas que chegaram em diferentes cidades, trazendo da Europa a novidade desse 
esporte que começava a fazer sucesso no antigo continente. À princípio, o futebol era praticado 
por amadores e principalmente pela elite, depois da sua profissionalização, ele começou a 
ganhar a relevância que vemos atualmente. A perda de espaço da canoagem e a ascensão do 
futebol pode ser visto com clubes de canoagem no Rio que passaram a contar com uma área 
dedicada ao futebol como é o caso do Club de Regatas Vasco da Gama e do Clube de Regatas 
do Flamengo. No início, havia pequena participação negra nos times de futebol que aos poucos 
foram sendo integrados aos elencos. O futebol foi usado politicamente por Vargas durante o 
Estado Novo. Nele, Vargas buscava defender a tese da democracia racial no país, buscando 
construir uma identidade nacionalista para a “raça brasileira” que tinha em sua singularidade, a 
mestiçagem, o seu ponto forte. Os esportistas eram os representantes dessa raça e de sua força, 
assim, Vargas incentivava a práticas de desportes para a descoberta de novos talentos, através 
da associação das aspirações da juventude ao esporte. Assim, Vargas foi importantíssimo para 
a institucionalização do futebol brasileiro. 
A vestimenta foi importante para a formação da personalidade e para o posicionamento 
das pessoas na sociedade. A moda feminina, ao longo da primeira metade do século XX, sofreu 
maiores e mais frequentes mudanças do que a masculina. Houve o surgimento do batom, a 
valorização da saúde e a desvalorização de maquiagens que serviam apenas para esconder de 
maneira covarde a feiura, para se tornar belo de verdade, segundo o senso comum da época, era 
preciso se exercitar, tornar-se mais magra e mais saudável. As roupas das mulheres foram se 
tornando mais confortáveis, menos pesadas e sufocantes, um movimento de libertação. As 
mulheres em alguns casos tiveram certo empoderamento ao começarem a ingressar na 
universidade, usar roupas que antes eram consideradas masculinas, numa espécie de protesto 
contra a opressão machista da sociedade. Apesar disso, o papel da mulher manteve-se bem 
restrito ao lar. O padrão de beleza feminina foi se tornando palpável e reconhecido por todos 
através dos concursos de beleza que ocorriam e através da influência das atrizes que estrelavam 
os filmes hollywoodianos. Paris não era mais para os brasileiros a referência principal de moda 
e de tendências, Hollywood toma esse papel com seus filmes, atores e atrizes. Por outro lado, o 
surgimento de cada vez mais produtos relacionados a beleza feminina, incentivou uma 
economia que auxiliava mulheres a se tornarem mais belas e mais próximas do padrão de 
beleza, é claro que os exercícios se mantinham importantes, mas apenas eles não eram 
suficientes. A influência Hollywoodiana teve o seu caráter negativo, na medida em que, nesse 
período, os filmes tratavam a mulher sempre como uma jovem, maliciosae sensual. Se por um 
lado, ela representava uma mulher com mais atitude e mais escolhas, por outro representava 
uma mulher sensualizada transformando-a em um objeto de consumo, o corpo da mulher se 
transforma em um objeto de desejo fetichista. Nesse período a velhice passa a ser rechaçada e 
deixada de lado, é vergonhoso ser mulher velha. Os homens tinham obsessão pela moda e estar 
vestido e se comportando de acordo com as tendências europeias ou os filmes norte-americanos. 
A moda masculina se mantém muito próxima ao longo de todo o início do século XX e 
semelhante ao que se via no século XIX com apenas algumas mudanças. Apenas nos anos 40, 
algumas mudanças maiores ocorrem com a figura dos jeans e de outros itens “made in USA” 
(camisa branca usada abaixo da camisa social, camisa quadriculada, etc). 
Parte 3 
Quanto à vida pessoal do brasileiro, houve mudanças em diversos aspectos durante o 
período da República Velha e do Estado Novo. Num primeiro momento, a maternidade. A 
começar pela hora do parto, que se dava dentro de casa, com as mulheres da família e uma 
parteira. Em outra parte da casa, os homens comemoravam o nascimento. Como os partos 
aconteciam de maneira muito precária, deu-se uma mudança sanitarista que buscava deixar de 
lado as rígidas tradições e substituí-las pela modernidade, a partir de acompanhamento médico, 
leite artificial, etc.; a maternidade científica. Nesse ponto também é consolidado o papel da 
mulher enquanto mãe, sendo seu principal dever reproduzir e criar filhos fortes para a pátria, 
mesmo que isso significasse abrir mão de suas vontades pessoais. A mulher que não tivesse 
filhos poderia nem ser considerada uma verdadeira mulher. 
Todavia, com a industrialização, o número de mães que eram também trabalhadoras 
seguia aumentando. As condições em que essas mulheres viviam, uma dupla jornada exaustiva, 
as tornaram protagonistas de protestos e greves por salários melhores. Para evitar essas 
ocorrências, foi criado e normatizado um discurso de incentivo para que as mulheres voltassem 
a se dedicar apenas à sua vida doméstica. Getúlio Vargas selou um acordo com a Igreja que 
também incentivava o papel de mãe e esposa, e as mulheres que não o cumprissem seriam 
taxadas como anormais, que estariam pondo em risco o futuro da nação. Esse duplo papel 
também reprimia a sexualidade feminina, limitando-a apenas à reprodução, além de tornar 
absurda a ideia de divórcio, questão abordada mais a frente no texto. Até mesmo o II Congresso 
Internacional Feminista, no início do século XX, parecia acreditar no papel predestinado da 
mulher enquanto mãe, apelando para que as mesmas o cumprissem. Nessa época, já existia 
resistência contra esses papeis femininos, evidenciada em publicações de mulheres da época e 
nos discursos de mulheres mais velhas, arrependidas de terem dedicado sua vida apenas a essas 
supostas obrigações. 
Cabia à mulher criar e educar as crianças, repreendendo-as quando necessário. 
Entretanto, os castigos mais árduos, aqueles físicos, costumavam vir do pai, que punia a criança 
em casos de indisciplina. O lugar da criança, para muitos, era dentro de casa; a primeira infância 
pertencia à família e à privacidade, sem a presença do Estado nesse ambiente, onde se 
construíam as primeiras memórias. Para algumas crianças, contudo, o lugar seria no trabalho. 
Desde muito novas, algumas crianças exerciam tarefas para ajudar a família, que tendiam a 
dificultar conforme a idade aumentava. Algumas outras, porém, trabalhavam para garantir sua 
sobrevivência. 
Fica evidente que embora seja retratada uma época de um século atrás, o quadro das 
relações familiares se mostra muito atual em diversos aspectos. Embora tenha havido uma 
grande evolução no que diz respeito aos papeis domésticos, principalmente da mulher, a 
situação atual ainda é de ruptura com o cenário tradicional descrito no livro, e não de completa 
superação. A figura do pai enquanto provedor e chefe da casa e da mãe como responsável pelo 
lar e pelos filhos está se tornando obsoleta, mas ainda é a realidade para grande parte da 
população brasileira. O paradigma da família tradicional brasileira ainda permanece resistente 
para as massas populares, ainda que existam diversas frentes sociais determinadas a rompê-lo. 
Um aspecto no qual a realidade das famílias mostrava-se, de fato, muito distante do 
atual, eram as brincadeiras infantis. Estas aconteciam principalmente na rua, ao ar livre, onde 
acontecia a aproximação das crianças mais ricas com as mais pobres, e onde não havia tanta 
diferença nas brincadeiras de meninas e meninos. Existiam brinquedos manufaturados, mas 
eram produzidos na Europa, e apenas quem vinha de família abastada os possuíam. Os 
brinquedos começaram a ser produzidos aqui de maneira artesanal, pelos imigrantes, que 
produziam brinquedos mais simples e que simulavam a vida adulta, e aos poucos essa produção 
foi se consolidando. 
O ensino brasileiro era voltado para filhos dos senhores de terra, mas com a 
industrialização e a necessidade de mão de obra, foi amplificado e passou a atender mais 
setores. A alfabetização e o ensino ocorriam, normalmente, dentro de casa, onde as mães 
ensinavam seus filhos. Com o aumento do número de escolas, as mães foram sendo substituídas 
por mestras - mulheres que deviam levar uma vida “correta” para poder lecionar - que, assim 
como as mães, exerciam papéis corretivos sobre crianças desviantes, e isso se dava por meio de 
castigos corporais. 
As escolas eram, frequentemente, ambientes precários, com materiais e móveis 
improvisados, quase nenhuma higiene e transmissão frequente de doenças. O número de 
crianças abandonando a escola por diversos motivos também era alto. As escolas comunitárias 
foram ambientes em que as crianças brasileiras passaram a estudar com imigrantes, e onde as 
crianças negras puderam começar a frequentar uma escola, uma vez que isso era proibido antes. 
As crianças pobres também frequentavam essas escolas, que, inclusive, eram mistas, pois 
meninas e meninos estudavam juntos. 
A puberdade carregava seus tabus, tanto para as meninas quanto para os meninos. No 
caso das mulheres, a menstruação, um tabu, que não devia ser mencionado nem com outras 
mulheres - ainda que começassem a surgir as propagandas de absorventes mais modernos que 
as toalhinhas. Algumas jovens sequer sabiam da existência da menstruação, gerando um susto 
quando acontecia pela primeira vez. Quanto às mudanças corporais, os seios eram considerados 
extremamente eróticos, e por isso deveriam ser escondidos. Ainda assim, esperava-se que, 
quando desenvolvido, o corpo da mulher tivesse a silhueta das mulheres de propagandas. 
No caso dos homens, por sua vez, a masturbação masculina - pois nem se falava em 
prazer feminino - era altamente repreendida, dizendo-se até que gerava sequelas como falta de 
memória e declínio de inteligência. Pode-se notar que o pudor extremo era regra, de maneira 
que até falar sobre atos sexuais era repreendido, quanto mais praticá-los cedo demais, e por isso 
não havia nenhuma forma de educação sexual para os jovens, pois a mesma poderia ser 
considerada um incentivo para os adolescentes praticarem atos libidinosos, e por isso era 
comum a transmissão de DSTs entre os jovens que começavam suas experiências. 
Também na adolescência surgem as primeiras experiências amorosas. Nas ruas, os 
jovens praticavam o flirt, com muitas e variadas definições, mas que em suma são os sinais 
trocados pelos jovens para conquistar uns aos outros. A conquista se dava a distância, na rua, 
com sinais nas roupas e movimentos, e depois seria um encontro mais próximo, como numa 
festa. O rapaz acompanhando a moça até em casa e mais um encontro à porta consolidavam o 
namoro. Quando esse se tornava sério, o rapaz ia até a família da prometida e pedia autorização 
de seu pai - caso ele dissesse sim, esses eram normalmente os casais que maispra frente 
estariam noivos. A partir daí, os encontros e saídas do casal eram cheios de regras e 
supervisionados, evitando contato demais. A pureza da moça era zelada com muita cautela, 
como é muito destacado pela autora no livro, uma vez que caso a mesma perdesse a virgindade 
antes de se casar, seria malvista e poderia acabar ficando sozinha. 
A urbanização trouxe mudanças nos relacionamentos, que passaram a se tornar menos 
distantes. Com a participação de mulheres em ambientes de trabalho, a proximidade de homens 
e mulheres se tornou muito maior, e os tradicionais métodos de conquista e romantismo foram 
sendo substituídos por idas a danças, ao cinema, etc, além da possibilidade de um deslocamento 
mais fácil para o encontro dos pretendentes. 
Vale ressaltar a importância da influência da família na escolha de um par. Dificilmente 
uma moça se casaria com alguém que a família não aprovasse, seja porque não era um bom 
moço, por religião ou etnia. Em caso de divórcio, o julgamento que os divorciados, mas 
principalmente a noiva, recebem é claro e vem de diversas fontes. O livro cita uma revista que 
chegou até a dizer que, nesses casos, a culpa era das mães que não souberam educar. 
Como dito anteriormente, o papel da mulher era também o papel de esposa, e dentro do 
matrimônio era ela a responsável pelo sucesso do casamento, que era medido pelo bem-estar 
do homem. As orientações eram de que a mesma não devia se queixar para que não incomodasse 
o marido, devendo realizar as tarefas domésticas e cozinhar, além de se manter arrumada para 
o esposo. Além disso, a infidelidade por parte dos maridos era comum e não era julgada pela 
sociedade, pois representava só suprir uma vontade, e “era da natureza do homem”, enquanto a 
infidelidade vinda da mulher era julgada e talvez até punida, e considerada inepta para criar os 
filhos, mostrando que, como ressalta a autora, o machismo agia de diversas formas e com pesos 
diferentes para uma mesma ação. 
À parte dos relacionamentos tradicionais, como viviam os homens homossexuais na 
época (não existiam muitos registros da vida de mulheres lésbicas). Os homossexuais eram 
considerados doentes, muitas vezes sendo internados ou expulsos de casa. Por isso, muitos 
fugiam para as grandes cidades buscando mais oportunidades, e toda essa movimentação 
acabou criando nas cidades alguns espaços de subcultura homossexual, mas mesmo ali as 
demonstrações de afeto eram reprimidas. Alguns sexólogos e médicos da época eram contra o 
posicionamento rígido da Igreja, pois diziam que os homossexuais portavam um desvio do qual 
não tinham culpa. Ainda tratando enquanto doença, havia quem se posicionasse a favor do 
casamento homossexual. 
Para finalizar, nesse período, diversas doenças assolaram o Brasil. A principal doença 
que atingiu o Brasil foi a pandemia gripe espanhola, que, principalmente no Rio de Janeiro, 
teve um efeito devastador, principalmente pela falta de estrutura de instituições de saúde. Isso 
gerou então uma culpabilização do governo pela falta de instrumentos para agir. Carlos Chagas, 
no Rio de Janeiro, liderou a campanha que implantou hospitais e postos de emergência, o que 
ajudou a amenizar a crise. A peste bubônica também passou por território brasileiro pouco após 
a pandemia da gripe espanhola, devastando ainda mais o cenário e a vida dos cidadãos. 
A tuberculose também foi uma doença muito presente, e quase sempre descoberta muito 
tarde, sem tratamento, era como uma sentença de morte para quem fosse diagnosticado. Tão 
grave era a doença que Getúlio Vargas buscou dar um novo rumo ao posicionamento do Estado 
em relação a doença, dando apoio e suporte econômico para instituições e eventos sobre a 
doença e elaborou um plano de combate a mesma. Algumas outras doenças, como a sífilis, que 
embora não tão letal foi marcante pelas sequelas, e a febre amarela também marcaram esse 
período. Desde essa época vem o combate ao aedes aegypti, mosquito portador de diversas 
doenças, incluindo febre amarela. Nesse período as técnicas alternativas de tratamento de 
doenças eram ordinariamente utilizadas, entre elas, a homeopatia, que apesar de nunca ter sido 
comprovada como eficaz, tornou-se muito popular na época (quando foi trazida ao Brasil) 
principalmente entre as classes mais altas. 
Chegando no fim do ciclo da vida, a morte. Naquela época, as pessoas costumavam 
morrer em casa, perto de seus parentes, que eram os responsáveis por todos os rituais para 
enterro do falecido. Havia também o anúncio da morte até mesmo através de jornais, e o enterro 
se tornava interessante dependendo de quem era o morto e qual foi a causa, existindo então uma 
questão de prestígio sobre a pessoa morta. Com o avanço da medicina e das tecnologias, a 
expectativa foi aumentando, e algumas doenças deixaram de ser causas tão comuns para a 
morte, embora outras tenham se tornado causas mais frequentes, além dos casos generalizados 
de machismo que a autora destaca como uma causa de morte. Mas esse avanço da medicina e 
da sociedade num geral também fez com que os doentes passassem a morrer em hospitais, com 
médicos e os familiares mais próximos por perto. Além disso, o saudosismo e a veneração de 
ausentes deixaram de ser tão presentes e influentes na vida das pessoas, uma vez que a mesma 
ganha um ritmo muito mais acelerado.

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