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Cap5 - Homem Cordial

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Felipe Moreti Bolini						Lucas Silva Soares da Costa
Resumo Cap. 5 “O Homem Cordial”
Raízes do Brasil – Sérgio Buarque de Holanda
	Holanda inicia o capítulo externalizando que “O ESTADO NÃO É uma ampliação do círculo familiar”. Para Holanda, há uma descontinuidade, uma oposição, entre o Estado e o círculo familiar, e acreditar que essas instituições são a extensão uma da outra, é uma herança romântica do século XIX. Na realidade, a formação do estado se dá por uma transgressão do círculo familiar, quando o comum reina sobre o privado e a ordem familiar (em sua forma pura) é abolida.
	A partir dessa argumentação, inicia-se a discussão acerca do fato de crises serem geradas pela sobreposição das leis gerais sobre as particulares, partindo da análise comparativa entre as velhas corporações e grêmios de artesãos, com a “escravidão dos salários”, nas usinas modernas. Enquanto nas velhas corporações patrões e empregados dividiam o chão da fábrica, faziam ambos o mesmo trabalho e compartilhavam de uma rotina e vivência próxima da familiar, nas usinas modernas os funcionários tornaram-se apenas números, havendo funções diferenciadas para empregados e patrões, de tal forma que o ambiente familiar deixou de existir, e criou-se uma tendência de “libertar” o indivíduo das amarras familiares, forçando-o a partir para a vida na sociedade.
	Essas tendências se evidenciaram na pedagogia científica moderna da época, que contrariava vários aspectos da educação tradicional, fomentando a obediência da criança apenas nas situações em que ela compreendesse as opiniões e regras, podendo inclusive fomentar a não obediência aos pais quando esses forem falhos. 
	Nessa linha argumentativa, Holanda discorre acerca do fato de o âmbito familiar (sobretudo quando patriarcal) ser deveras repressor e impeditivo quando se trata da convivência dos indivíduos na sociedade. Holanda dá créditos ao surgimento das instituições de ensino superior (ressaltando as jurídicas de São Paulo e Olinda), dizendo que eles permitiram que os indivíduos adolescentes obtivessem sua independência familiar, alcançando senso de responsabilidade. Apesar disso, Holanda reforça que não é possível apagar completamente os laços familiares, de tal forma que julga a seguinte frase de Joaquim Nabuco como totalmente coesa: “em nossa política e em nossa sociedade, são só os órfãos, os abandonados, que vencem a luta, sobrem e governam”.
	Apesar de toda essa argumentação contrária ao âmbito familiar restritivo, há uma ressalva a ser feita: tal âmbito familiar é restritivo, podendo até chegar a ser escola para psicopatas, apenas nos dias de hoje; antigamente ele contribuía para a harmonia e coincidência entre as virtudes que se exigiam fora do lar.
	Na realidade brasileira, o processo de urbanização trouxe grandes desequilíbrios sociais. Tendo em vista que os detentores de posições públicas se formaram no ambiente patriarcal e restritivo familiar, durante o processo de urbanização houve uma confusão entre os domínios público e privado. Dessa forma, a distinção feita por Weber entre funcionário “patrimonial” e “puro burocrata” é muito oportuna: o funcionário “patrimonial” possui como área de interesse a própria política, as benécias advindas de um cargo político são uma consequência, não um objetivo, diferente do estado burocrático, onde há especialização de funções e esforços para garantir as benécias. Os candidatos a cargos públicos são escolhidos pela confiança, e não pela capacidade, o que demonstra falta de ordenação do estado burocrático.
	Na história do Brasil houve a predominância daqueles que visavam apenas as benécias de um cargo público e que buscavam implementar suas vontades particulares, oriundas de ambientes fechados e pouco acessíveis, como a família.
	“Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será a cordialidade – daremos ao mundo o “homem cordial””, que apresenta a influência dos padrões de convívio humano, advindos do meio patriarcal e rural. Contudo, essas características não são virtudes ou demonstração de civilidade, haja vista que a civilidade é acompanhada da coercitividade, como bem demonstra a polidez da cultura japonesa.
	O brasileiro engana ao passar a imagem de polido, mas possuir uma conduta ordinária de convívio exatamente contrária, e justamente essa simulação que passa a imagem de um povo polido é o resultado do “homem cordial”, uma maneira do homem se libertar do pavor de viver consigo mesmo e passar a viver nos outros. 
	Com tudo isso, uma das grandes características do homem cordial é a aversão aos ritualismos sociais, evidenciada na utilização de diminutivos para gerar a familiarização de pessoas ou objetos. Algo similar ocorre com a omissão do nome de família no tratamento social. Fatores muito diferentes dos Portugueses, por exemplo. Essa questão de tratarmos pessoas apenas pelo primeiro nome pode ser relacionada com o fato de que o uso apenas do prenome auxilia a abolir psicologicamente as barreiras determinadas pelo fato de existirem famílias diferentes e independentes. 
	O desconhecimento de convívio que não seja ditada por uma ética de fundo emotivo representa um aspecto da vida brasileira que poucos estrangeiro conseguem penetrar com facilidade, como o fato de um vendedor ter de tratar um cliente como amigo para poder vender algo à ele, ou então o fato de apresentarmos imensa, e talvez até desrespeitosa, intimidade com os santos (santa Teresinha – herança do velho catolicismo).
	O comportamento do brasileiro é exatamente oposto ao comportamento japonês, onde o ritualismo invade o terreno da conduta social para dar-lhe mais rigor. No Brasil, é precisamente o rigorismo do rito que se afrouxa e se humaniza, e é justamente essa frouxidão das obrigações que fez com que os fiéis, nos cultos, dispensassem todo o esforço, diligência e tirania sobre si, o que corrompeu nosso sentimento religioso, fazendo com que nenhuma elaboração política fosse possível se não fora de um culto que só apelava para os sentimentos e sentidos, e não para a razão e vontade. 
	Normalmente nossa reação ao meio em que vivemos não é uma reação de defesa. A vida íntima do brasileiro nem é coesa, nem disciplinada, para envolver e dominar toda a sua personalidade, integrando-a no conjunto social. Ele é livro, pois, para abandonar todo o repertório de ideias, gestos e formas que encontre em seu caminho, assimilando-os frequentemente sem maiores dificuldades.

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