Buscar

Curso de Capacitação Esquizofrenia na Infancia Hotmart (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 60 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 60 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 60 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Curso de Capacitação: Esquizofrenia na 
Infância 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. O que é esquizofrenia na infância? 
 
Esquizofrenia – Definição 
 
Trata-se de um transtorno mental crônico e grave que afeta o modo como 
uma pessoa pensa, sente e se comporta. Provoca alterações no 
comportamento, indiferença afetiva, pensamentos confusos e dificuldades para 
se relacionar com pessoas. Pessoas com esquizofrenia podem parecer que 
perderam o contato com a realidade. Embora a esquizofrenia não seja tão 
comum como outros transtornos mentais, os sintomas podem ser muito 
incapacitantes. 
O termo esquizofrenia foi criado pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler em 
1911, a partir das raízes gregas schizo (dividida) e phrene (mente) = mente 
fendida. 
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a esquizofrenia é uma 
patologia psiquiátrica crônica, grave que leva a distorções no pensamento, no 
comportamento, na percepção e emoções. 
A esquizofrenia geralmente tem seu início no final da adolescência ou 
início da fase adulta. Porém, a esquizofrenia de início precoce é definida como 
o aparecimento de sintomas psicóticos específicos e prejuízos nas funções 
adaptativas entre os 13 e os 17 anos. E a esquizofrenia de início muito 
precoce aparece antes dos 13 anos de idade. 
Os critérios diagnósticos para esquizofrenia em crianças são os mesmos 
para a forma adulta, exceto que as crianças deixam de atingir os níveis 
esperados de desempenho social e acadêmico. 
A imaturidade normal do desenvolvimento da linguagem e a separação 
entre a realidade e a fantasia tornam difícil o diagnóstico da esquizofrenia em 
crianças, principalmente, com idade abaixo dos sete anos. 
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a esquizofrenia é uma 
patologia psiquiátrica crônica, grave que leva a distorções no pensamento, no 
comportamento, na percepção e emoções. Geralmente tem seu início no final 
da adolescência ou início da fase adulta. 
Segundo informações da Associação Brasileira de Psiquiatria, a doença 
tem predominância no sexo masculino e nem sempre é diagnosticada no seu 
início. Existem os chamados ‘sintomas precoces’ que podem aparecer meses ou 
anos antes da doença se exteriorizar – e em alguns dos casos esses sintomas 
são confundidos com depressão ou outros tipos de transtornos de semelhantes 
ao da esquizofrenia. 
Para abordar a transmissão genética de doenças mentais, é inevitável ter 
de diferenciar os aportes congênitos e ambientais na etiopatogenia dos 
transtornos. Essa distinção, já difícil e polêmica para a psiquiatria de adultos, é 
ainda mais difícil e polêmica na psiquiatria de crianças: qual a porcentagem da 
doença a ser atribuída a fatores genéticos, congênitos, estruturais? E qual a 
correspondente porcentagem, quanto resta a ser atribuído a fatores ambientais, 
estresse familiar, maus tratos ou deficiência no vínculo primordial mãe-bebê? 
Obviamente são respostas impossíveis de serem dadas com precisão. Cada 
escola de pensamento, cada período de evolução da psicopatologia da infância 
tem respondido mais ou menos a essas perguntas, seguindo a tendência do 
momento. 
Outra complicação na psiquiatria da infância é a própria nomenclatura, a 
começar pelo termo psicose ou psicoses da infância: elas englobam ou não o 
autismo e os transtornos globais do desenvolvimento? O estado atual dos 
conhecimentos e as investigações em psicopatologia e nosografia das doenças 
mentais em crianças aponta para uma clara distinção entre os transtornos 
invasivos do desenvolvimento (TID), presentes desde o início (senão explícitos, 
pelo menos latentes), e os transtornos psicóticos, que, assim como nos adultos, 
representam uma quebra num funcionamento prévio. 
Nos últimos decênios, vinha se travando uma discussão acirrada entre o 
lado dito organicista e o lado psicanalítico, ou talvez psicodinâmico. De onde 
provinham os sintomas tão peculiares e tão graves dessas crianças 
ensimesmadas, alheias? De uma incapacidade fisiológica cerebral para se 
comunicarem ou de uma rejeição psicológica, uma recusa ativa ao contato com 
os outros? Do hardware ou do software? Nos últimos anos, essa discussão 
perdeu o sentido, uma vez que se comprovou inegavelmente a causa genética 
desse transtorno. Ou melhor, o padrão de herança familiar genético é que foi 
comprovado, pois, enquanto não se localizar com precisão qual cromossomo e 
qual(is) gene(s) está(ão) envolvido(s), ainda se estará investigando a causa 
propriamente dita. O que se pode afirmar é que a causa NÃO é psicológica, 
mesmo se a evolução, a patoplastia e a apresentação do quadro são únicas, 
estas sim sendo "causadas" pelo ambiente psicológico. 
Uma pesquisa da psiquiatra brasileira Mônica Zilbovicius sobre um grupo 
de 21 crianças com autismo revelou uma "hipoperfusão bem localizada, no giro 
temporal superior e no sulco temporal superior". 
Na esquizofrenia, os fatores biológicos são primários, e os fatores 
psicossociais têm influência muito importante. O componente genético é 
comprovado por estudos de família, adoção e gêmeos. Atualmente, pesquisas 
mais refinadas em biologia molecular e técnicas moleculares mapeiam os genes 
que tornam os indivíduos suscetíveis à esquizofrenia18. 
Os fatores de risco pré-natais e perinatais para a esquizofrenia são 
pesquisados, tentando identificar os comprometimentos cerebrais no 
neurodesenvolvimento. Complicações de gravidez e de parto, exposição pré-
natal a viroses e achados neuropatológicos, como anormalidades na 
citoarquitetura, são comprovadamente associados a um maior risco de 
desenvolver esquizofrenia. Assim, é consistente o achado de diminuição 
volumétrica do cérebro, aumento dos ventrículos laterais, além de diminuição do 
lobo temporal na região do hipocampo em pacientes esquizofrênicos adultos. As 
alterações histopatológicas são sugestivas mais de disgenesia do que de 
degeneração, como redução de neurônios corticais e periventriculares, ausência 
de células de gliose e alteração da posição das células piramidais. 
Quanto à neuroquímica, a principal teoria é a hipótese dopaminérgica, 
uma vez que a maioria dos neurolépticos ou antipsicóticos são bloqueadores de 
dopamina7; esta teoria sugere um aumento na atividade do sistema 
dopaminérgico mesolímbico, importante na modulação da aquisição, motivação 
e emoção. 
Além da dopamina, outras substâncias biogênicas provavelmente 
também estão envolvidas: a noradrenalina, a serotonina e outros neuropeptídeos 
neurotransmissores. Estudos de neuroimagem com PET e SPECT apontam 
receptores de neurotransmissores em diferentes regiões cerebrais, além de 
confirmarem o bloqueio de receptores D2 pelos neurolépticos (talvez D4 com a 
clozapina). 
A abordagem pelo neurodesenvolvimento vem sendo mais estudada e 
pode ser compreendida ao menos por dois aspectos: desenvolvimento normal 
de início, submetido a uma lesão no período mais crítico do desenvolvimento 
(trauma perinatal, infecção viral congênita), alterando a citoarquitetura; ou 
desenvolvimento já de início alterado, não aparente nos primeiros anos e 
evidenciado durante a maturação por algum fator estressor. Esta segunda 
hipótese explica por que, dos indivíduos submetidos às mesmas condições 
patogênicas, apenas aqueles com vulnerabilidade maior evoluem para 
esquizofrenia. 
Os raros estudos bioquímicos em crianças portadoras de esquizofrenia 
são pouco conclusivos. Por exemplo, a comparação de níveis plasmáticos de 
beta-endorfina imunorreativa em crianças autistas, esquizofrênicas e normais 
não mostra alterações em crianças com esquizofrenia não tratada e mostra 
aumento dos níveis de beta-endorfina em associação com a administração de 
neurolépticos. Outro estudo comparou o metabolismo de catecolamina e a 
dopamina-beta-hidroxilase plasmática, encontrando diferença significativa no 
subgrupo dos pacientes com esquizofrenia - nível baixo de pDBH. 
A neurobiologia da esquizofreniade início na infância ainda precisa ser 
melhor estudada, tanto para melhorar a definição e o entendimento da patologia 
quanto para melhorar a abordagem terapêutica e o prognóstico. 
 
 
2. Diagnóstico e quadro clínico 
 
Os critérios diagnósticos utilizados para esquizofrenia pela Associação 
Americana de Psiquiatria (DSM-IV, 1994) e pela Classificação Internacional de 
Doença da Organização Mundial da Saúde (CID-10, 1992) são bastante 
semelhantes entre si, e ambos ressaltam sintomas equivalentes quando de início 
na infância. Os critérios diagnósticos pelo DSM-IV para esquizofrenia. Para o 
diagnóstico, são necessários pelo menos dois dos seguintes sintomas: delírios, 
alucinações (sintomas positivos), discurso desorganizado, comportamento 
grosseiramente desorganizado ou catatônico ou sintomas negativos (apatia 
marcante, pobreza do discurso, embotamento ou incongruência de respostas 
emocionais, retraimento social). Esses sintomas iniciais duram pelo menos 1 
mês (ou menos se tratados com sucesso). É importante ressaltar que o 
diagnóstico é evolutivo, sendo necessário um mínimo de 6 meses de doença, 
incluindo a fase ativa. 
 
A- Sintomas característicos: no mínimo dois dos seguintes quesitos, cada qual 
presente por uma porção significativa de tempo durante o período de 1 mês (ou 
menos, se tratados com sucesso): 
▪ delírios 
▪ alucinações 
▪ discurso desorganizado (por exemplo, frequente descarrilhamento ou 
incoerência) 
▪ comportamento amplamente desorganizado ou catatônico 
▪ sintomas negativos: embotamento afetivo, alogia ou abulia 
Nota: apenas um sintoma do critério A é necessário quando os delírios são 
bizarros ou as alucinações consistem de vozes que comentam o comportamento 
ou os pensamentos da pessoa, ou de duas ou mais vozes conversando entre si. 
 
B- Disfunção social/ocupacional: por uma porção significativa do tempo, áreas 
importantes do funcionamento, tais como trabalho, relações interpessoais ou 
cuidados pessoais estão acentuadamente abaixo do nível alcançado antes do 
início (ou, quando o início se dá na infância ou adolescência, incapacidade de 
atingir o nível esperado de realização interpessoal, acadêmica ou profissional). 
 
C- Duração: sinais contínuos da perturbação persistem pelo período mínimo de 
6 meses. Este período de 6 meses deve incluir pelo menos 1 mês de sintomas 
que satisfazem o critério A (isto é, sintomas da fase ativa) e pode incluir períodos 
de sintomas prodrômicos ou residuais. Os sinais da perturbação podem ser 
manifestados apenas por sintomas negativos ou por dois ou mais sintomas 
relacionados no critério A, presentes de uma forma atenuada (por exemplo, 
crenças estranhas, experiências perceptuais incomuns). 
 
D- Exclusão de transtorno esquizoafetivo e transtorno de humor: o 
transtorno de humor com características psicóticas foram descartados, por que: 
(1) nenhum episódio depressivo maior, maníaco ou misto ocorreu 
concomitantemente aos sintomas da fase ativa; ou (2) se os episódios de humor 
ocorreram durante os sintomas da fase ativa, sua duração total foi breve com 
relação à duração dos períodos ativo e residual. 
 
 E- Exclusão de substância/condição médica geral: a perturbação não se 
deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por exemplo, uma droga 
de abuso, um medicamento) ou uma condição médica geral. 
 
 F- Relação com um transtorno global do desenvolvimento: se existe um 
histórico de transtorno autista ou de outro transtorno de desenvolvimento, o 
diagnóstico adicional de esquizofrenia é feito apenas se delírios ou alucinações 
proeminentes também estão presentes pelo período mínimo de 1 mês (ou 
menos, se tratados com sucesso). 
Classificação do curso Longitudinal (pode ser aplicada apenas 1 ano após o 
aparecimento inicial dos sintomas da fase ativa). 
 
O delírio é uma alteração do juízo de realidade, onde existem crenças 
errôneas, habitualmente envolvendo a interpretação equivocada de percepções 
ou experiências. Seu conteúdo pode incluir temas de caráter persecutório, 
referencial, somático, religioso ou grandioso. Os delírios bizarros são 
considerados especialmente característicos da esquizofrenia7. 
As alucinações são alterações da sensopercepção que podem ocorrer 
em qualquer modalidade sensorial (auditiva, visual, olfativa, gustativa e tátil). 
Alucinação é a percepção clara e definida de um objeto (voz, ruído, imagem) 
sem a presença do objeto estimulante real. A alucinação auditiva é mais comum 
e é percebida como uma voz distinta do pensamento do próprio paciente. 
A desorganização do pensamento pode acontecer nas situações em 
que o paciente salta de um assunto para outro; as respostas não estão 
relacionadas com as perguntas e o discurso geralmente é incompreensível. 
Com relação ao comportamento amplamente desorganizado, podem 
aparecer dificuldades no desempenho da vida diária, tais como preparar as 
refeições ou manter a higiene e a aparência pode ser de acentuado desleixo6. 
Essa alteração chama a atenção dos pais, pois geralmente a criança já tinha 
alcançado essa fase de autonomia. 
O afeto embotado ou inadequado é uma das características marcantes 
dos pacientes com esquizofrenia em qualquer idade. É difícil notar ressonância 
afetiva, normalmente se percebe um distanciamento afetivo com sorriso ou 
expressão facial tola na ausência de um estímulo adequado. 
O diagnóstico de esquizofrenia na infância envolve a exclusão de outros 
distúrbios de saúde mental e a determinação de que os sintomas não são 
devidos ao abuso de substância, medicação ou uma condição clínica. 
O processo de diagnóstico pode envolver: Exame físico. Isso pode ser feito 
para ajudar a excluir outros problemas que possam estar causando sintomas e 
para verificar se há complicações relacionadas. Testes e exames. Estes 
podem incluir testes que ajudam a excluir condições com sintomas 
semelhantes, e triagem de álcool e drogas. O médico também pode solicitar 
estudos de imagem, como uma ressonância magnética ou tomografia 
computadorizada. 
Avaliação psicológica. Isso inclui observação de aparência e 
comportamento, perguntando sobre pensamentos, sentimentos e padrões de 
comportamento, incluindo quaisquer pensamentos de autoagressão ou 
prejudicar outros, avaliando a capacidade de pensar e funcionar em um nível 
adequado à idade e avaliar humor, ansiedade e possíveis sintomas psicóticos. 
Isto também inclui uma discussão da família e da história pessoal. 
 
2.1 Diagnóstico diferencial 
 
Quando se suspeitar de um diagnóstico de esquizofrenia na infância, é 
sempre importante ter em mente alguns pontos. O primeiro é a idade de início 
do quadro, lembrando que a esquizofrenia é um quadro evolutivo e tem uma 
história prévia aparentemente normal. São extremamente raros os quadros 
iniciados antes dos 7 anos de idade. Outro ponto importante é o histórico familiar, 
onde com frequência se observam outros indivíduos afetados. Não é um 
diagnóstico simples e pode ser difícil de diferenciar de outros quadros, 
principalmente o transtorno afetivo bipolar, sendo necessárias, muitas vezes, 
reavaliações ao longo do tempo. 
 
2.2 Transtornos do humor 
 
O transtorno afetivo bipolar na infância com frequência tem uma 
apresentação muito semelhante às psicoses infantis. O quadro de mania do 
transtorno afetivo bipolar na infância muitas vezes se apresenta com delírios e 
alucinações, o que confunde seu diagnóstico. Aproximadamente metade dos 
pacientes com transtorno bipolar com início na adolescência teve erroneamente 
o diagnóstico de esquizofrenia no passado, revelando grande dificuldade deste 
diagnóstico na infância e adolescência. Com o tratamento medicamentoso da 
mania, o quadro tende a remitir, e aparentemente não se observa "defeito" após 
esse episódio. Normalmente, na esquizofrenia, após o quadro psicótico, o 
indivíduo tende a apresentar certos prejuízos, como déficit no contatosocial e 
diminuição da volição - os chamados sintomas negativos da doença. 
 
2.3 Transtorno global do desenvolvimento (autismo infantil/síndrome de 
Asperger) 
O autismo infantil é uma entidade distinta da esquizofrenia com início na 
infância, não apenas por questões conceituais, mas também com base na 
fenomenologia, genética, correlações biológicas e quadros neurológicos 
associados, que o distinguem da esquizofrenia. Normalmente, o diagnóstico é 
estabelecido por volta dos 3 anos de idade, apesar de se poder concluí-lo antes 
dessa idade. De um modo geral, não é difícil diferenciar as duas entidades, uma 
vez que, na esquizofrenia, as crianças não apresentam as anormalidades de fala 
encontradas no autismo, como ausência de fala ou fala sem papel de 
comunicação. Talvez a maior dificuldade no diagnóstico diferencial seja com 
relação aos adolescentes autistas de melhor funcionamento ou com síndrome 
de Asperger (a cognição nesses casos não está muito comprometida), onde a 
presença de linguagem e o processo de pensamento podem ser confundidos 
com quadros delirantes. Entretanto, outros sintomas presentes no paciente 
autista desde os primeiros anos de vida o distinguem da esquizofrenia. 
 
2.4 Quadros orgânicos 
 
É de extrema importância que as psicoses funcionais sejam diferenciadas 
dos quadros orgânicos, sendo muitas vezes necessária uma investigação 
maciça de possíveis causas, que incluem não só uma história clínica detalhada 
e exame físico, mas muitas vezes também exames laboratoriais e de imagem. 
O delirium (diferentemente de delírio) é um quadro confusional orgânico agudo 
que se caracteriza por déficit de atenção, confusão, flutuações no estado de 
consciência ao longo do dia, muitas vezes com alucinações, ilusões e, às vezes, 
episódios de agitação psicomotora. De um modo geral, o quadro tem início 
agudo e, muitas vezes, quando instalado, é confundido com quadro psicótico. As 
causas de delirium são amplas, necessitando de ampla investigação clínica. Em 
um número significativo de casos, não se encontra um fator causal para o 
delirium, o que não afasta uma etiologia orgânica. É um quadro grave, muitas 
vezes podendo levar o indivíduo à morte. Uma vez corrigida a causa, há 
remissão do quadro, podendo o indivíduo retornar ao estado normal ou ficar com 
algum déficit cognitivo ou outra sequela. As causas dos são bastante variadas: 
quadros confusionais pós-ictais das epilepsias, lesões no sistema nervoso 
central (tumores, traumatismos, malformações, outros), doenças degenerativas 
(coréia de Huntington, distúrbios de depósito de lipídios), distúrbios metabólicos 
(endocrinopatias, doença de Wilson), tóxicos (abuso de anfetaminas, cocaína, 
alucinógenos, fenciclidina e solventes, cada vez mais frequentes em nosso 
meio), além do uso de medicações, como os corticosteroides e os 
anticolinérgicos, e intoxicação por metais pesados. Doenças infecciosas, como 
meningite, encefalite e a infecção pelo vírus HIV, também devem ser 
descartadas9. Os quadros demenciais na infância, que poderiam ser confundidos 
com a esquizofrenia, são extremamente raros; além do mais, quando ocorrem, 
são acompanhados por marcado declínio intelectual e alterações neurológicas. 
 
2.5 Transtornos do comportamento, quadros emocionais e dissociativos 
 
Crianças com problemas de comportamento ou emocionais graves 
algumas vezes apresentam atitudes que parecem pouco adequadas ou mesmo 
bizarras aos nossos olhos, as quais são descritas como "sintomas psicóticos". 
Quando comparadas às psicoses infantis, não se observam delírios ou 
alucinações. Normalmente, os comportamentos da criança estão associados a 
questões emocionais sérias, que requerem uma investigação psicodinâmica 
cuidadosa, algumas vezes envolvendo questões de abuso ou negligência contra 
a criança. A abordagem nesses casos muitas vezes exige da equipe de saúde 
atitudes no sentido de proteger a criança. 
 
2.6 Transtornos de comunicação 
Crianças com distúrbios da fala e linguagem podem parecer ter alterações 
no pensamento e, com isso, ser confundidas com crianças psicóticas. Uma 
avaliação cuidadosa mostra que não há alterações no conteúdo do pensamento, 
e outros sintomas psicóticos, como delírios e alucinações, estão ausentes. 
Outros fatores que muitas vezes confundem esses quadros são as alterações de 
comportamento associadas. 
 
2.7 Outras psicoses 
 
A esquizofrenia na infância se diferencia das demais psicoses por ter um 
caráter mais crônico e com maior comprometimento não só intelectual, mas em 
diversas áreas. De um modo geral, as psicoses reativas ou psicogênicas têm 
uma resposta bastante favorável e rápida à medicação. Um fator estressor é 
facilmente observado nessas crianças. As psicoses reativas têm sido descritas 
com maior frequência em países em desenvolvimento ou em imigrantes, onde 
os fatores externos favorecem o desenvolvimento da psicose. 
 
2.8 Outros quadros 
 
Os transtornos de personalidade são entidades diagnósticas que 
praticamente só são utilizadas na população adulta, uma vez que, sendo a 
criança um ser em desenvolvimento, ainda não possui as estruturas de 
personalidade totalmente formadas. Entretanto, alguns transtornos de 
personalidade, como o transtorno de personalidade antissocial, têm como 
requisito uma história de transtorno de conduta anterior aos 15 anos. Na 
verdade, o que parece é que os transtornos de personalidade se iniciam na 
infância e se estendem até a idade adulta, sendo o continuum de uma mesma 
entidade. Sob esses aspectos, os transtornos de personalidades, esquizoide, 
esquizotípica e paranoide seriam quadros importantes no diagnóstico diferencial 
da esquizofrenia na infância. 
 
 2.9 Curso e prognóstico 
 
O curso da esquizofrenia é bastante variado e influenciado por diversos 
fatores, como idade de início, tipo de esquizofrenia, gênero, além de fatores 
individuais e ambientais que podem interferir em seu prognóstico. Normalmente, 
o curso da doença é flutuante, inicialmente com uma fase prodrômica, seguida 
por uma fase ativa, de crise, com sintomatologia variada, onde normalmente é 
feito o diagnóstico. Com a evolução, episódios de crise, recuperação e fase 
residual são observados. Na esquizofrenia, normalmente após a estabilização 
da crise, o indivíduo não volta ao estado anterior; geralmente se percebe alguma 
alteração na afetividade e no pragmatismo: o chamado "defeito" pós-crise. 
 O prognóstico da doença é reservado, apesar de as novas terapêuticas 
farmacológicas terem favorecido muito uma melhora da doença. Fatores de um 
melhor prognóstico são: início tardio, fator precipitante claro, início agudo, 
antecedente social favorável, como trabalho e relacionamentos interpessoais, 
presença de sintomas depressivos, ser casado (o que claramente não se aplica 
aqui), sintomas positivos (delírios e alucinações) e suporte familiar e social 
favorável. Fatores de um pior prognóstico seriam: início precoce, não existência 
de fatores precipitantes, fatores pré mórbidos, como má adaptação social e no 
trabalho, comportamentos autísticos, sintomas negativos, pouco suporte familiar 
e social, não remissão no período de 3 anos, muitas recaídas. A esquizofrenia 
na infância acaba tendo um pior prognóstico principalmente pelo início precoce 
e pela predominância de sintomas negativos. 
 
2.10 Exames complementares 
 
A utilização de exames complementares para o diagnóstico de esquizofrenia 
não se faz necessária, a menos como exclusão de causa orgânica. O diagnóstico 
é eminentemente clínico, de acordo com a sintomatologia apresentada e sua 
evolução. Os estudos por imagem têm sua importância, não diagnóstica, mas 
sim pela propriedade de uma maior compreensão de estruturas cerebrais 
envolvidas na doença. Estudos através de tomografia computadorizada de 
crânio têm revelado uma dilatação de ventrículos consequente a uma redução 
do parênquima cerebralem alguns pacientes. Esses mesmos achados têm sido 
encontrados em crianças, já evidenciando o comprometimento e também a 
gravidade de áreas cerebrais atingidas. Estudos utilizando ressonância 
magnética têm revelado diferenças no volume de áreas do lobo temporal e 
parietal em adultos com esquizofrenia, especialmente redução na porção 
anterior do complexo amígdala-hipocampo, mais notadamente no lado 
esquerdo. Essas alterações não são observadas nas crianças e parece que 
começam a surgir com a adolescência. 
 
3. Características Clínicas 
 
Normalmente, as crianças com esquizofrenia passam a se desinteressar 
pelas atividades realizadas anteriormente, acompanhadas de isolamento. No 
início, o quadro é facilmente confundido com depressão, pois a criança torna-
se retraída, perde o interesse pelas atividades habituais e passa a apresentar 
distorções do pensamento e da percepção. 
Como ocorre com os adultos, a criança pode ter alucinações, delírios e 
paranoia, temendo que as outras pessoas estejam maquinando para lhe causar 
danos ou que estejam controlando seus pensamentos. A criança 
esquizofrênica também pode apresentar contenção das emoções, nem a sua 
voz nem suas expressões faciais alteram-se em resposta a situações 
emocionais. Eventos que normalmente provocam o riso ou o choro podem não 
produzir qualquer resposta. 
O início do quadro da esquizofrenia na infância costuma ser lento, podendo 
levar meses ou anos para se chegar ao diagnóstico devido à interpretação da 
alteração do comportamento como período de transição entre as fases normais 
do desenvolvimento ou como consequência de algum acontecimento marcante. 
Quando os sinais e sintomas estão presentes, como os delírios e as 
alucinações, com queda no rendimento escolar, insônia, agitação, 
agressividade o diagnóstico é mais evidente. As crianças com esquizofrenia 
podem ter risos inadequados ou chorar sem serem capazes de explicar o 
motivo. 
 
3.1 Epidemiologia 
 
As pesquisas demonstram que aproximadamente 1% da população é 
afetada pela esquizofrenia. Os estudos sobre a hereditariedade ou a genética da 
esquizofrenia não têm sido totalmente conclusivos, mas está comprovado que o 
fator de risco é influenciado pela presença da patologia em parentes diretos. A 
prevalência de esquizofrenia entre os pais de crianças afetadas é cerca de 8%. 
Estima-se que 0,1 a 1% dos casos de esquizofrenia tenha iniciado antes dos dez 
anos de idade e cerca de 4% antes dos 15 anos. 
Os meninos parecem ter leve preponderância entre as crianças com 
esquizofrenia, com uma razão estimada de 1,67 meninos para cada menina. 
Alguns diagnósticos em psiquiatria infantil não são muito precisos. Uma vez que 
a criança é um ser em desenvolvimento, esses quadros só irão se configurar 
mais claramente ao longo dos anos. 
 
3.2 Estudos genéticos 
 
Os componentes genéticos estão entre os mais importantes elementos 
desta rede, sendo que distintas alterações devem ocorrer no genoma para que 
a doença se estabeleça. Acredita-se que essas alterações produzam um 
significativo desequilíbrio de certas vias fisiológicas, que por sua vez 
desencadeiam o processo patológico. 
As similares taxas mundiais de prevalência da esquizofrenia, além da 
similaridade de sintomas e evolução clínica nas diversas populações, sugerem 
fortemente que a esquizofrenia não resulte de determinados padrões ambientais 
ou étnicos. 
O envolvimento de componentes genéticos é fortemente sugerido 
principalmente por estudos que investigam o padrão de herança da doença, 
incluindo gêmeos, pais e filhos afetados, e estudos de famílias completas. A taxa 
de concordância para esquizofrenia é da ordem de 41 a 65% entre gêmeos 
monozigóticos e de 0 a 28% entre gêmeos dizigóticos. 
As buscas de marcadores biológicos – principalmente alterações 
genômicas, alterações de expressão gênica ou alterações na atividade ou na 
expressão de proteínas – que possam determinar o desenvolvimento da doença 
ou mesmo apontar caminhos que possam elucidar a sua patogênese, têm sido 
o alvo principal de diversos grupos de pesquisa nos últimos anos. 
Apesar da evidência da importância de fatores genéticos, mudanças na estrutura 
cerebral e vias neuroquímicas, ainda não é possível saber exatamente qual é a 
causa da esquizofrenia. 
 
3.3 Estudos bioquímicos 
 
O sistema dopaminérgico consiste principalmente de três vias: 
nigroestriatal, mesolímbico e mesocortical, e tuberoinfundibular. Há também 
vários tipos de receptores dopaminérgicos, com diferentes localizações 
cerebrais. São conhecidos os receptores D1, D2, D3, D4 e D5; sabe-se que os 
antipsicóticos atuam de modo indiferenciado nos diversos receptores e sua 
administração por tempo prolongado (3 a 4 semanas) leva a uma diminuição do 
ritmo de atividade, fenômeno conhecido por bloqueio de despolarização. Esse 
fenômeno ocorre nos sistemas nigroestriatal e mesolímbico. Assim é possível 
inferir que a atividade excessiva de alguns sistemas dopaminérgicos ocorre na 
esquizofrenia. 
 
3.4 Estudos do neurodesenvolvimento 
 
Os fatores de risco pré-natais e perinatais para a esquizofrenia são 
pesquisados tentando identificar os comprometimentos cerebrais no 
neurodesenvolvimento. Complicações de gravidez e de parto, exposição pré-
natal a viroses e achados neuropatológicos, como anormalidades na 
citoarquitetura, são comprovadamente associados a um maior risco de 
desenvolver esquizofrenia. Assim, é consistente o achado de diminuição 
volumétrica do cérebro, aumento dos ventrículos laterais, além de diminuição do 
lobo temporal na região do hipocampo em pacientes esquizofrênicos adultos. As 
alterações histopatológicas são sugestivas mais de disginesia do que de 
degeneração, como redução de neurônios corticais e periventriculares, ausência 
de células de gliose e alteração da posição das células piramidais. 
Além da dopamina, outras substâncias biogênicas provavelmente 
também estão envolvidas: a noradrenalina, a serotonina e outros neuropeptídeos 
neurotransmissores. Estudos de neuroimagem com PET e SPECT apontam 
receptores de neurotransmissores em diferentes regiões cerebrais, além de 
confirmarem o bloqueio de receptores D2 pelos neurolépticos. 
A neurobiologia da esquizofrenia de início na infância ainda precisa ser 
melhor estudada, tanto para melhorar a definição e o entendimento da patologia 
quanto para melhorar a abordagem terapêutica e o prognóstico. 
 
4. Tipos de Esquizofrenia 
 
Esquizofrenia simples: A esquizofrenia simples apresenta mudanças na 
personalidade. O paciente prefere ficar isolado – o que inibi seu convívio social 
–, é disperso aos acontecimentos do dia a dia e insensível no que diz respeito a 
afetos. 
 
Esquizofrenia paranoide: O isolamento social também está presente na 
esquizofrenia paranoide – ou paranoica, como é conhecida. O portador da 
doença enfrenta problemas como falas confusas, falta de emoção e tende a 
achar que está sendo perseguido por pessoas ou espíritos. 
 
Esquizofrenia desorganizada: Conhecida também como ‘esquizofrenia 
hebefrênica’, esse tipo é caracterizado por um comportamento mais infantil, 
respostas emocionais descabidas e pensamentos sem nexo. 
 
Esquizofrenia catatônica: O paciente diagnosticado com esquizofrenia 
catatônica mostra um quadro de apatia. Pode ficar na mesma posição por horas, 
causando também a redução da atividade motora. 
 
Esquizofrenia residual: Existe a alteração no comportamento, nas emoções e 
no convívio social, mas não na frequência dos demais tipos. 
 
Esquizofrenia indiferenciada: Pacientes que não se enquadram perfeitamente 
em um dos tipos de esquizofrenia, contudo, podem desenvolver algumas das 
características citadas acima. 
 
4.1 Subtipos de esquizofrenia 
 
Podemos subdividir a esquizofrenia em cinco tipos, de acordo com a 
sintomatologia predominante na ocasião da avaliação. São eles: tipo paranoide, 
desorganizado ou hebefrênico,catatônico, indiferenciado ou simples e tipo 
residual8,13. A esquizofrenia paranoide é o tipo mais comum; no quadro clínico, 
predominam delírios e alucinações, além da perturbação do afeto e 
pragmatismo. No tipo desorganizado ou hebefrênico, a característica principal é 
a desorganização do pensamento; o discurso é incoerente, as associações de 
ideias são ilógicas; o prognóstico é ruim, principalmente pelo rápido 
desenvolvimento de sintomas negativos, como embotamento afetivo e perda da 
volição. A forma catatônica se caracteriza pelos sintomas psicomotores 
proeminentes, que podem se alternar, como hipercinesia, estupor ou obediência 
automática e negativismo. Atitudes e posturas forçadas podem ser mantidas por 
longos períodos, e episódios de agitação extrema podem ocorrer. Por razões 
desconhecidas, esta forma de esquizofrenia tem sido pouco vista nos dias atuais. 
A forma indiferenciada é a mais complicada de ser caracterizada; o quadro 
preenche critérios para esquizofrenia, mas não satisfaz os critérios para o tipo 
paranoide, desorganizado ou catatônico. Muitas vezes, esta forma de 
esquizofrenia é confundida com transtorno de personalidade. O tipo residual é a 
forma crônica da doença, onde se percebe uma progressão clara dos sintomas 
psicóticos da esquizofrenia; no estágio mais tardio, há predominância de 
sintomas negativos. 
 
5. Quando consultar um médico 
 
Pode ser difícil saber como lidar com mudanças comportamentais vagas. 
O professor ou outro profissional da escola pode alertar para mudanças no 
comportamento da criança. 
Procurar aconselhamento médico se a criança: 
 
• Tiver atrasos de desenvolvimento em comparação com outros irmãos ou 
colegas; 
• Parar de realizar atividades diárias, como tomar banho ou vestir-se; 
•Não quiser mais se socializar; 
•Estiver apresentando um baixo desempenho acadêmico; 
•Apresentar estranhos rituais alimentares; 
•Demonstrar excessiva suspeita dos outros; 
• Mostrar uma falta de emoção ou mostra emoções inadequadas para a 
situação; 
•Apresentar ideias e medos estranhos; 
•Confundir sonhos ou programas da televisão para a realidade; 
•Apresentar ideias, comportamento ou fala estranhos; 
• Tiver comportamento violento ou agressivo ou agitação. 
 
Estes sinais e sintomas gerais não significam necessariamente que o 
seu filho tem esquizofrenia na infância. Poderiam indicar uma fase, outro 
transtorno de saúde mental, como depressão ou um transtorno de ansiedade, 
ou uma condição médica. Procure atendimento médico o mais rápido possível 
se tiver dúvidas sobre o comportamento ou desenvolvimento da criança. 
 
Pensamentos suicidas e comportamento 
 
Pensamentos suicidas e comportamento são comuns entre as pessoas 
com esquizofrenia. Se você tem uma criança ou adolescente que está em 
perigo de tentar suicídio ou fez uma tentativa de suicídio, certifique-se que 
alguém permanece com ele ou ela, e busque atendimento médico. 
 
Causas 
 
Não se sabe o que causa a esquizofrenia na infância, mas pensa-se que 
ela se desenvolve da mesma forma que a esquizofrenia adulta. Os 
pesquisadores acreditam que uma combinação de genética, química cerebral 
e meio ambiente contribui para o desenvolvimento da doença. Não está claro 
por que a esquizofrenia começa tão cedo na vida de alguns e não de outros. 
Problemas com certos produtos químicos cerebrais naturais, incluindo 
neurotransmissores chamados dopamina e glutamato, podem contribuir para a 
esquizofrenia. Estudos de neuroimagem mostram diferenças na estrutura 
cerebral e no sistema nervoso central de pessoas com esquizofrenia. Enquanto 
os pesquisadores não estão certos sobre o significado dessas mudanças, eles 
indicam que a esquizofrenia é uma doença cerebral. 
 
Fatores de Risco 
 
Embora a causa precisa da esquizofrenia não seja conhecida, certos 
fatores parecem aumentar o risco de desenvolver ou desencadear 
esquizofrenia, incluindo: 
• Ter histórico familiar de esquizofrenia; 
• Aumento da ativação do sistema imunológico, como a inflamação ou doenças 
autoimunes; 
• Idade avançada do pai; 
• Algumas complicações da gravidez e do nascimento, tais como a desnutrição 
ou a exposição às toxinas ou aos vírus que podem afetar o desenvolvimento 
do cérebro; 
• Tomar drogas psicoativas ou psicoativas (alterando a mente) durante a 
adolescência. 
 
Complicações 
 
Se não tratada adequadamente, a esquizofrenia na infância pode resultar em 
graves problemas emocionais, comportamentais e de saúde. Complicações 
associadas à esquizofrenia podem ocorrer na infância ou mais tarde, tais como: 
• Suicídio, tentativas de suicídio e pensamentos de suicídio; 
• Auto ferimento; 
• Transtornos de ansiedade, transtornos de pânico e transtorno obsessivo-
compulsivo (TOC); 
• Depressão; 
• Abuso de álcool ou outras drogas, incluindo tabaco; 
• Conflitos familiares; 
• Incapacidade de viver de forma independente, frequentar a escola ou 
trabalhar; 
• Isolamento social; 
• Saúde e problemas médicos; 
• Problemas legais e financeiros e falta de moradia; 
• Comportamento agressivo, embora raro. 
 
6. Tratamento e Terapia 
 
Embora não exista cura para a esquizofrenia, muitas pessoas com essa 
doença podem levar uma vida produtiva e satisfatória com o tratamento 
adequado. A recuperação é possível através de uma variedade de serviços, 
incluindo programas de medicação e reabilitação. A reabilitação pode ajudar 
uma pessoa a recuperar a confiança e as habilidades necessárias para viver 
uma vida produtiva e independente na sociedade. 
O portador de esquizofrenia é incapaz de avaliar seu próprio comportamento. 
Neste caso, pessoas próximas ao paciente são quem identificam os sintomas e 
procuram ajuda médica. 
Com acompanhamento de um psicólogo, psiquiatra e medicamentos é 
possível que a frequencia das crises diminuam e o paciente consiga viver de 
maneira mãos tranquila. O acompanhamento de um especialista é 
indispensável. 
Como as causas ainda são desconhecidas, os tratamentos se concentram 
na eliminação dos sintomas da doença. Os tratamentos incluem: 
O tratamento das psicoses está voltado para duas vertentes: farmacológica e 
socioeducativa. A base do tratamento farmacológico restringe-se aos 
neurolépticos ou antipsicóticos. A eficácia dessas drogas sobre as psicoses tem 
sido demonstrada em vários trabalhos. Infelizmente, os estudos dessas drogas 
na infância são em número infinitamente menor que em adultos. Por uma série 
de razões, as pesquisas com os neurolépticos iniciam-se na população adulta, e 
somente após alguns anos essas drogas são autorizadas para uso na infância. 
Nos últimos anos, tem surgido um número importante de neurolépticos 
(atípicos) com eficácia comprovada e menores efeitos adversos, porém sua 
utilização no tratamento das psicoses infantis ainda é restrita. O haloperidol, uma 
droga já utilizada há vários anos, continua sendo uma boa escolha para o 
tratamento das psicoses infantis (dose de 0,02 a 0,12 mg/kg/dia)9. Apesar de 
terem efeitos colaterais, como sintomas extrapiramidais e acatisia, estes são 
facilmente controlados, e são drogas extremamente seguras. Outra boa opção 
seria a risperidona, que apresenta um risco de discinesia tardia bem inferior ao 
haloperidol. A olanzapina também tem sido utilizada no tratamento das psicoses 
infantis, com boa resposta. 
 
Existem dois tipos principais de medicação antipsicótica: 
 
Os antipsicóticos típicos (“convencionais”) controlam efetivamente os sintomas 
“positivos”, como alucinações, delírios e confusão da esquizofrenia. Alguns 
antipsicóticos típicos são: 
 
• Clorpromazina (Thorazine) 
• Haloperidol (Haldol) 
• Mesoridazina (Serentil) 
• Perfenazina (Trilafon) 
• Flufenazina (Proxlixina) 
• Tioridazina (Mellaril) 
• Thiothixene (Navane) 
• Trifluoperazina (Stelazine) 
 
Os antipsicóticos atípicos (“de nova geração”) tratam os sintomas positivos e 
negativos da esquizofrenia,frequentemente com menos efeitos colaterais. 
Alguns antipsicóticos atípicos são: 
 
• Aripiprazol (Abilify, Aristada) 
• Asenapina (Saphris) 
• Brexpiprazol (Rexulti) 
• Cariprazina (Vraylar) 
• Clozapina (Clozaril, FazaClo, Versacloz) 
• Iloperidona (Fanapt) 
• Lurasidona (Latuda) 
• Olanzapina (Zyprexa) 
• Paliperidona (Invega) 
• Quetiapina (Seroquel) 
• Risperidona (Risperdal) 
• Ziprasidona (Geodon) 
 
Uma terceira categoria menor de drogas usadas para tratar a esquizofrenia 
é conhecida como “agentes antipsicóticos diversos”. Os agentes antipsicóticos 
diversos funcionam de maneira diferente dos medicamentos antipsicóticos 
típicos ou atípicos. A loxapina (Adasuve, Loxitane) é um desses antipsicóticos 
diversos e é usada para tratar a agitação em pessoas com esquizofrenia. 
Os efeitos colaterais são comuns com drogas antipsicóticas. Eles variam de 
efeitos colaterais leves, como boca seca, visão turva, constipação, sonolência e 
tontura que geralmente desaparecem depois de algumas semanas para efeitos 
colaterais mais graves, como problemas com o controle muscular, estimulação, 
tremores e carrapatos faciais. A nova geração de drogas tem menos efeitos 
colaterais. No entanto, é importante conversar com seu psiquiatra antes de fazer 
qualquer alteração na medicação, pois muitos efeitos colaterais podem ser 
controlados. 
 
Abordagem psicossocial 
 
Na literatura não existem trabalhos mostrando que determinadas técnicas 
psicoterápicas são efetivas no tratamento da esquizofrenia na infância9. Parece 
que ações socioeducativas voltadas ao funcionamento da família, soluções de 
problemas e habilidades de comunicação têm sido mais efetivas na diminuição 
das crises. No nosso meio, o tratamento desses casos em nível de hospital/dia 
(HD) tem mostrado uma evolução mais favorável. De um modo geral, a criança 
permanece no HD cerca de duas a cinco vezes por semana, por meio período, 
onde é assistida por uma equipe multidisciplinar. A família também participa de 
algumas atividades, onde é realizado um trabalho de orientação sobre a doença 
e muitas vezes tenta-se abordar possíveis fatores dinâmicos que possam 
interferir no quadro. 
 
Orientação familiar e terapia familiar 
 
A presença de uma criança doente em uma família quase que 
inevitavelmente acaba levando a um desequilíbrio nas relações familiares, 
principalmente quando se trata de doença mental. Muitas vezes, um ser doente 
acaba mobilizando sentimentos variados, como culpa, raiva, medo, vergonha, 
fracasso, entre outros, os quais necessitam ser trabalhados. Em algumas 
situações, uma orientação familiar pode solucionar o problema. Entretanto, nas 
famílias onde as relações já eram conflituosas, o surgimento de uma criança 
doente somente favorece a rede de problemas já existente, e a criança não tem 
a possibilidade de mudanças, sendo necessário um processo de terapia de 
família com o objetivo de uma melhor compreensão e solução desses conflitos. 
Hoje, muitas pessoas com diagnóstico de esquizofrenia vão à escola, trabalham, 
casam-se e têm filhos. O ganhador do Prêmio Nobel de Matemática de 1994, 
John Nash, viveu com esquizofrenia por trinta anos. Proporcionando um 
ambiente acolhedor, medicação apropriada, tratamento e incentivo, podemos 
capacitar pessoas com esquizofrenia a serem membros produtivos de nossa 
comunidade. 
 Contudo, representações negativas de pessoas com esquizofrenia na 
televisão, cinema e outros meios de comunicação, continuam a perpetuar o 
estigma e piorar ainda mais a discriminação. 
 Como disse uma paciente, "Quando você é hospitalizado por causa de uma 
perna quebrada, as pessoas lhe mandam flores ou vão visitá-lo. Mas se você for 
internado por causa de uma doença mental, as pessoas não mandam flores, e 
não visitam você." 
Muitos pacientes relatam que o apoio consistente de pais, amigos, profissionais 
de saúde ou professores, foi um fator importante em sua reabilitação. 
 
Temos aqui alguns depoimentos de pessoas que sofreram discriminação: 
 
"Uma noite a polícia me parou para verificar a placa de meu carro. Estava escuro. 
As luzes estavam piscando. Eu estava apavorada e tremendo. Quando o policial 
se aproximou de meu carro, eu estava tão assustada que não conseguia falar. 
Ele me acusou de não colaborar. Eu tentei dizer que sofria de esquizofrenia. ‘O 
que isso tem a ver?’ respondeu ele." 
 
Elizabeth Anderson 
Professora 
Vocalista 
Casada por cinco anos 
Diagnóstico de esquizofrenia há três anos 
 
"Eu estava grávida quando recebi o diagnóstico de esquizofrenia. Os pais de 
meus amigos perguntaram: ‘Quando será o aborto?’" 
 
Michele Miserelli 
Mãe 
Diagnóstico de esquizofrenia em 1988 
Porta-voz da Sociedade de Esquizofrenia do Canadá 
Hoje já ouvimos vozes de esperança 
"Eu tinha acabado de me graduar em Inglês quando recebi o diagnóstico de 
esquizofrenia há dezoito anos atrás. Durante muito tempo eu não conseguia me 
concentrar o suficiente para ler. Mas com minha nova medicação, posso ler 
novamente. Toco violão e adoro violoncello." 
 
Elizabeth MacDonell 
Grau de Bacharel em literatura inglesa 
Toca violão em uma orquestra local 
Viveu com esquizofrenia por 18 ano 
 
 
O que você pode fazer? 
 
• Cuidado com as palavras que você usa. "Louco", "maluco", "psicopata", 
são palavras que ferem. 
• Ajude a conscientizar os outros de como nossas palavras e atitudes 
machucam. Não ria de piadas cruéis. Faça com que os outros saibam que 
a ignorância dói. 
• Ajude pessoas que possam estar sofrendo dos sintomas iniciais de uma 
doença mental. 
• Participe. Ligue para seu grupo local de Apoio à Esquizofrenia. Se não 
houver um em sua comunidade, ou se desejar mais informações sobre o 
Programa Mundial de Combate ao Estigma e à Discriminação (Worldwide 
Program to Fight Stigma and Discrimination), entre em contato com a 
Associação Mundial de Psiquiatria (WPA) – por telefone, fax, ou e-mail – 
para receber informações sobre programas nacionais em seu país. 
 
Psicoterapia na esquizofrenia 
 
A psicoterapia tem se mostrado um importante recurso terapêutico, 
associado ao tratamento farmacológico, na recuperação e na reabilitação do 
indivíduo esquizofrênico. Por meio de abordagens educativas, suportivas, 
interpessoais ou dinâmicas, visa-se recuperar o indivíduo no nível psíquico, 
interpessoal e social. 
 
Objetivos da psicoterapia 
 
Encontram-se resumidos a seguir os objetivos comuns, levantados por 
vários autores, que podem ser atingidos na psicoterapia de um paciente com 
diagnóstico de esquizofrenia: 
 
1. Oferecer continência e suporte. 
2. Oferecer informações sobre a doença e modos de lidar com ela. 
3. Restabelecer o contato com a realidade. O paciente deve ser capaz de 
reconhecer experiências reais e diferenciá-las das alucinatórias ou delirantes. 
Isso pode ser alcançado por meio do teste de realidade, feito pela intervenção 
direta do terapeuta ou pelos próprios pacientes no caso da psicoterapia de grupo. 
4. Integrar a experiência psicótica no contexto de vida do paciente, ou seja, dar 
um sentido à experiência psicótica. 
5. Identificar fatores estressores e instrumentalizar o paciente a lidar com os 
eventos da vida. Os fatores desencadeantes de crises estão intimamente 
relacionados com as recaídas e o prognóstico da doença. Discutir formas de 
suportar, modificar ou compreender melhor as situações vividas pelos pacientes 
podem ajudá-los a ter uma melhor evolução na sua doença. Algumas estratégias 
usadas são a busca de solução de problemas e o planejamento de metas, 
conseguidas pela orientação direta do terapeuta ou por discussões grupais. 
6. Desenvolver maior capacidade de diferenciar, reconhecer e lidar com 
diferentes sensações e sentimentos. 
7. Crescimento emocional associado à mudança nos padrões de 
comportamento, resultando em melhora na qualidade de vida e na adaptação 
social fora do setting terapêutico. 
8. Conquistade maior autonomia e independência. Aumentando-se a 
capacidade de gerenciar a própria vida, melhora-se também a autoestima. 
9. Diminuição do isolamento. Outro sintoma proeminente nos pacientes 
esquizofrênicos é o autismo. Em geral, esses pacientes apresentam pouca 
possibilidade de troca e de registro de experiências negativas no contato com as 
pessoas – geralmente paranoides. A oportunidade de experimentarem contatos 
positivos, individualmente ou em grupo, pode possibilitar a diminuição do 
autismo. 
10. Observação dos pacientes. Pode-se observar, durante o processo 
psicoterápico, o funcionamento e o comportamento dos pacientes - de esquiva, 
de inibição, de desconfiança ou de inadequação - como também, a presença de 
sintomas psicopatológicos - delírios, alucinações, auto referência, depressão, 
entre outros. Essa observação pode ajudar o clínico na avaliação de determinado 
paciente. É mais aconselhável que a consulta clínica seja realizada por um 
psiquiatra que não seja o terapeuta do paciente. O que modifica as 
características dos diferentes tipos de intervenção será a ênfase dada a um ou 
outro objetivo. 
 
O papel do terapeuta 
 
Os pacientes esquizofrênicos geralmente apresentam pouca condição de 
suportar altos níveis de tensão. Por isso, o terapeuta deve ser ativo e monitorar 
a expressão dos afetos no encontro terapêutico, criando, assim, um clima de 
compreensão, respeito e empatia. Podem-se sugerir temas, estimular a 
participação e organizar a conversa, ou seja, coordenar ativamente a sessão. 
Sua fala deve ser concreta e de fácil entendimento, aproximando-se ao máximo 
do universo e da linguagem dos pacientes. Algumas intervenções possíveis do 
terapeuta são: afirmação, conselho, validação, encorajamento, reforço, 
clarificação, confrontação, elaboração e atribuição de significado. O processo de 
interpretação é um caso especial de atribuição de significado. Ele tem, 
geralmente, o sentido de tornar conscientes pensamentos e sentimentos que, 
anteriormente, eram inconscientes. Os grupos terapêuticos não são tão eficazes 
como as sessões individuais na revelação de processos emocionais 
inconscientes. Na psicoterapia de pacientes esquizofrênicos, as interpretações 
são mais úteis quando se referem a sentimentos que estão obviamente 
presentes (como os inferidos diretamente de expressões faciais ou gestos), mas 
que não estão acessíveis à percepção consciente do indivíduo. 
 
A interpretação da transferência deve ocupar um pequeno espaço no 
tratamento. O terapeuta deve ser habilidoso ao colocar suas intervenções para 
não confrontar demais ou desautorizar os pacientes. 
Esses pacientes podem fazer projeções no terapeuta e distorcerem a realidade. 
Um terapeuta menos neutro ajudará o paciente a discriminar o que é fantasia do 
que não é. É mais adequado trabalhar com o momento atual, no aqui e agora, e 
fazer pouca investigação ou alusões ao passado. Muitos pacientes têm 
dificuldade em discriminar memória de fantasia. 
É necessário ao terapeuta conter, compreender, processar e devolver em 
palavras ou atitudes o que está sendo vivenciado na sessão. Só assim haverá 
uma maior chance da psicoterapia ser eficaz. 
Uma outra tarefa importante do terapeuta é a de estar atento para oferecer a 
intervenção adequada àquele determinado tipo de paciente, naquela 
determinada fase da doença. Não superestimar os pacientes, nem oferecer uma 
proposta aquém das suas capacidades. 
 
Seleção e encaminhamento de pacientes 
 
A eficácia da psicoterapia exige que o diagnóstico seja um passo 
essencial no processo. Uma avaliação e um diagnóstico cuidadosos ajudam a 
determinar se o paciente é adequado para a psicoterapia e, se for, qual o tipo de 
abordagem que lhe será de maior benefício. 
Para avaliação e fornecimento de informações, é interessante que sejam feitas 
entrevistas individuais com cada paciente antes do ingresso numa psicoterapia. 
Essa prática contribui para o aumento da taxa de adesão ao tratamento. 
Desse modo, devem-se considerar no paciente o diagnóstico nosológico, 
o grau de comprometimento e o tempo de evolução da doença, os sintomas 
psicopatológicos predominantes, a fase da doença, a capacidade de adaptação 
a situações de estresse, as circunstâncias de vida, a forma habitual de 
relacionar-se, as defesas predominantemente usadas, a eficácia ou não no 
controle e expressão dos impulsos e dos afetos, a capacidade de distinguir os 
sentimentos ou emoções como provenientes do seu mundo interno ou externo, 
a capacidade de expressão verbal, o estilo de comunicação e a existência de um 
tema ou área problemática que se destaque dentre outras.18 
Além disso, deve-se avaliar a motivação do paciente para o tratamento. 
Caso não exista, considerar a possibilidade de criar estratégias de mobilização 
ou sensibilização. As habilidades ou preferências dos pacientes e as 
experiências anteriores positivas ou negativas devem ser consideradas. 
Pode ser necessária a mobilização da família. Uma família mobilizada pode 
contribuir estimulando o paciente, facilitando o seu acesso ao tratamento ou 
reforçando a sua importância. 
A partir desses elementos, pode-se ter uma ideia da condição do paciente, qual 
sua demanda e suas necessidades primordiais, e fazer uma avaliação da 
capacidade de tolerância ou suportabilidade do paciente ao setting terapêutico 
(seja ele em grupo ou individual). 
Também é necessário considerar, nas intervenções grupais, os objetivos 
de cada grupo. Para a formação de grupos novos é interessante buscar a maior 
homogeneidade possível, seja nas características individuais de cada paciente 
ou nas suas necessidades, para assim facilitar a coesão. 
Para cada intervenção, dependendo dos seus objetivos, haverá diferentes 
critérios de inclusão e de exclusão. 
 
Utilizando-se o modelo tridimensional para a classificação de sintomas 
psicopatológicos em negativos, positivos e de desorganização, sugerimos que: 
 
a) Pacientes com predomínio de sintomas positivos intensos podem não se 
beneficiar de intervenções grupais. Enquanto não haja estabilização de seu 
quadro clínico, com a consequente redução dos sintomas, esses pacientes, em 
geral, não devem ser incluídos em grupos. Uma possibilidade, nesses casos, 
pode ser a intervenção psicoterápica individual. O terapeuta poderá acompanhar 
o paciente durante sua recuperação, oferecendo suporte e continência e, 
posteriormente, encaminhá-lo a um grupo. Entretanto, em grupos coesos é 
possível a inclusão de pacientes com sintomas positivos moderados. Os outros 
pacientes podem funcionar como auxiliares daqueles mais sintomáticos. Um 
certo conteúdo psicótico, abertamente apresentado, pode ser útil para estimular 
debates. 
 
b) Pacientes com predomínio de sintomas negativos podem se beneficiar de 
grupos psicoterápicos e de intervenções individuais. Ainda que não participem 
ativamente, podem aproveitar a experiência. É importante avaliar o grau de 
ameaça que o paciente sente no contato com o outro antes de encaminhá-lo a 
um grupo. 
 
c) Para pacientes com predomínio de sintomas de desorganização, são mais 
indicadas intervenções em terapia ocupacional. 
Pacientes estáveis com razoável controle dos sintomas podem se 
beneficiar de diferentes formas de intervenções psicoterápicas. Nesses casos, a 
complexa gama de variáveis individuais e grupais precisará ser considerada na 
decisão da melhor indicação. O enfoque poderá estar na recuperação das 
habilidades sociais, na aceitação da doença, na diminuição do isolamento, no 
desenvolvimento emocional, no resgate da história individual, entre outros. Os 
vários objetivos poderão se distribuir em diferentes tipos de intervenções 
individuais e grupais, como por exemplo, grupos operativos, grupos 
interpessoais, psicoterapia individual, terapia ocupacional individual ou grupal. 
A psicoterapia grupal pode combinar-se à psicoterapia individual em 
diferentes momentos no decurso do tratamento. Os efeitos terapêuticos de uma 
abordagem adicionam-se àoutra e amplificam-se. É recomendado, portanto, que 
a equipe terapêutica organize um plano de tratamento moldado para cada 
paciente. 
 
Família e Doença Mental 
 
A concepção e compreensão atual sobre a estrutura da família nuclear no 
mundo ocidental estão centradas na afeição e na intensificação das relações 
entre pais e filhos na privacidade de suas casas (Melman, 2001), começou a se 
ampliar na Europa, a partir do século XVII, e nesse sentido, amplia e 
problematiza a concepção de família (Neder, 2002), pois, para ela, não existiria 
histórica e antropologicamente, um modelo-padrão de organização familiar. 
Assim, deve-se pensar as famílias de forma plural, para que construa uma 
democracia baseada na tolerância com as diferenças. Portanto, é nessa idéia 
das inúmeras possibilidades de formatação de grupos familiares que implicam 
aceitação, tolerância e, não raro na solidariedade com a singularidade que a 
presença da diferença remete e, nesse contexto, coloca-se a doença mental. Os 
significados e representações sobre os transtornos mentais podem não ser 
compartilhados igualmente por todas as pessoas que vivem numa mesma casa, 
o que resulta em diferentes atitudes e vivências ante os problemas (Melman, 
2001), pois as subjetividades e objetividades de cada componente do grupo 
familiar que possuem representações e valores diferenciados a respeito do 
doente mental são determinadas historicamente, e ainda, esse olhar recebe a 
influência e os reflexos de outros contextos, como a religiosidade, o fator 
socioeconômico, a cultura e outros. Dessa forma: 
O adoecimento de um membro da família representa, em geral, um forte 
abalo. Para a maioria das pessoas a enfermidade significa uma grande ruptura 
na trajetória existencial. A vivência de catástrofe desestrutura as formas 
habituais de lidar com situações do cotidiano. Muitos familiares não estão 
preparados para enfrentar os problemas, não sabem como agir. Encarando as 
dificuldades, tentando explicar o aparecimento da doença, essas pessoas 
mergulham na turbulência de suas dúvidas e conflitos (Melman, 2001, p. 19-20). 
No entanto, a convivência com a doença e o adoecer, seja física ou 
psiquiátrica, acaba por representar uma dificuldade e um desgaste ao grupo 
familiar, isso tudo, podendo ser ampliado se este adoecer for longo, com 
manifestações agudas e, sobretudo, for vivido, como incapacitante e 
estigmatizador (Cavalheri, 2003). Ao remeter-se às singularidades da doença 
mental, encontra-se que: 
Os transtornos mentais e comportamentais exercem considerável impacto 
sobre os indivíduos, as famílias e as comunidades. Os indivíduos não só 
apresentam sintomas inquietadores de seu distúrbio como sofrem também por 
estarem incapacitados de participar em atividade de trabalho e lazer, muitas 
vezes em virtude da discriminação. Eles se preocupam pelo fato de não poderem 
arcar com suas responsabilidades para com a família e os amigos, e temem ser 
um fardo para os outros (OPAS/OMS, 2001, p. 51). 
A situação acaba por sobrecarregar as rotinas familiares, implicando 
mudanças das atividades diárias desse grupo, como os cuidados com a casa, o 
trabalho, a escola e os cuidados pessoais. A isso, soma-se o quadro de sintomas 
que o indivíduo poderá apresentar o que significará cuidados intensivos por parte 
da família, para acompanhamento em consultas, com a higiene, alimentação, 
sono, medicação e outros (Cavalheri, 2003). 
Assim, a sociedade frente à doença mental e todo o movimento de crítica, 
desospitalização e afluência da reforma psiquiátrica na atualidade, acabaram por 
configurar: 
“uma nova realidade na qual um número cada vez maior de pessoas passaram 
a ser assistidas em serviços extra-hospitalares. Esses fenômenos introduziram 
novos elementos no campo de negociação entre famílias e o campo da saúde 
mental, obrigando as partes implicadas a rediscutir as bases de uma nova 
relação” (Melman, 2001, p. 61). 
Nesse sentido, há de se considerar que a real possibilidade de reinserção 
social do indivíduo com transtorno mental implica envolvimento e 
comprometimento do grupo familiar e isto, independe como a família se constitui, 
pois ela continua representando a garantia de sobrevivência e proteção de seus 
membros (Cavalheri, 2003). Dessa forma, no que diz respeito as relações 
sociais, 
Não é difícil perceber que o processo de inclusão começa na família, pois 
ela precisa se dar conta da importância de uma pessoa com deficiência ter 
estreitas e íntimas com as outras, participando da vida normal, integrando-se em 
grupos sociais diversos. Nesse caso, a aceitação por parte dos pais será o fator 
fundamental para o desenvolvimento da criança ao longo da vida, estimulando a 
convivência com os demais membros da sociedade, as atividades culturais, 
esportivas, de lazer e outros (FGV/IBR/CPS, 2004, p. 44). 
A importância da valorização das famílias, como um espaço de produção 
de identidade social básica para qualquer criança, portanto, um lugar de 
formação de uma cidadania ativa, cuja construção desta identidade seja em seu 
aspecto individual ou coletivo, deve, também, passar pela tolerância com a 
diversidade humana (Neder, 2002). 
O objeto deste estudo foi um Programa de Educação Especial no 
município de Indaiatuba e, que possui como objetivo central, a perspectiva da 
inclusão educacional dos alunos em classes comuns da rede regular de ensino 
ou, em outras palavras, busca "trabalhar a política sociopedagógica da inclusão" 
(Ferretti, Milan, & Sanches, 2004). 
Entretanto, ainda que um programa de caráter e características 
educacionais possui em sua estrutura ações e serviços (Classes de Apoio e 
Oficinas Pedagógicas) que, sob o ponto de vista da educação inclusiva, mantém 
o aluno deficiente excluído de um contexto socioeducacional regular. 
Por outro lado, as Salas de Recursos e as Orientações Pedagógicas em 
Caráter Itinerante do Programa Educação Especial, têm a qualidade de 
complementar o ensino regular em seus níveis de escolarização, promovendo e 
auxiliando, assim, no processo de inclusão. 
Entre todos os alunos matriculados no Programa - deficientes físicos, 
intelectuais, auditivos, visuais e com dificuldades acentuadas de aprendizagem, 
fez-se a opção de apoiados no Estudo de Caso, realizar entrevista semi-
estruturada e gravada, com a família do aluno com diagnóstico de Transtorno 
Mental e com acompanhamento psiquiátrico. A unidade de análise [família] é de 
fundamental importância na vida do indivíduo, pois o grupo familiar é a primeira 
e importante vinculação afetiva e social da criança, seguida da sua entrada no 
ambiente socioeducacional da escola. Portanto, nesse contexto, o papel da 
família é essencial no desenvolvimento da vida escolar do aluno. 
É importante ressaltar que, o diagnóstico de Transtorno Mental (OMS, 
1993), foi utilizado em razão da Classificação de Transtornos Mentais e de 
Comportamento da CID-10 ser referência na prática dos serviços de saúde 
mental no Brasil. No entanto, segundo a Organização Mundial de Saúde (1993), 
“O termo 'transtorno' é usado [...] de forma a evitar problemas ainda maiores 
inerentes ao uso de termos tais como 'doença' ou 'enfermidade'. 'Transtorno' não 
é um termo exato, porém é usado [...] para indicar a existência de um conjunto 
de sintomas ou comportamentos clinicamente reconhecível associado, na 
maioria dos casos, a sofrimento e interferência com funções pessoais” (OMS, 
1993, p. 05). 
Por outro lado, frente à utilização corrente de termos como: doença mental 
e loucura, encontrados na literatura também são utilizados para manter-nos fiel 
às revisões literárias realizadas e ao socialmente representado. A opção pelo 
diagnóstico de Transtorno Mental e, em tratamento psiquiátrico, deve-se ao fato 
de o tema ser um desafio à Educação, suscitando controvérsias na maioria das 
vezes e, ainda, entender que a própria nosografia psiquiátrica em relação ao 
doente mental é excludente e responsiva a um processo dialético histórico-
estrutural deconstrução da doença mental. 
Por conseguinte, a unidade de análise que foi parte do objeto de estudo: 
a família do aluno com diagnóstico de Transtorno Mental referiu-se 
exclusivamente ao aluno com diagnóstico médico inicial nesta categoria e, em 
tratamento psiquiátrico. 
Assim, com a análise da entrevista com o familiar, fundamentada com o conceito 
das Representações Sociais, sob a perspectiva da Psicologia Social Crítica e 
com base no enfoque histórico-estrutural da dialética Exclusão/Inclusão, 
entende-se que haveria a necessidade de se buscar uma resposta à seguinte 
questão: 
“Como são as representações sociais da família do aluno com diagnóstico de 
Transtorno Mental matriculado no Programa de Educação Especial no município 
de Indaiatuba frente à perspectiva de sua inclusão educacional?” 
 
As representações sociais: “... representam, por excelência, o espaço do 
sujeito social, lutando para dar sentido, interpretar e construir o mundo em que 
ele se encontra. Para mais além das estruturas dadas da vida social, elas 
oferecem a possibilidade da novidade, da autonomia, daquilo que ainda não 
existe, mas poderia existir” (Jovchelovitch, 2000, p. 41). 
Por outro lado, a construção do objeto de pesquisa é um processo pelo 
qual o fenômeno de Representação Social é simplificado e tornado 
compreensível pela teoria, para a finalidade da pesquisa (Sá, 1998). 
 
 
Método 
 
Participantes 
 
Foram entrevistadas duas mães de alunos regularmente matriculados no 
Programa de Educação Especial, com diagnóstico de Transtorno Mental, 
conforme a Classificação Internacional de Doenças - 10 [CID-10] (OMS, 1993), 
e, em tratamento psiquiátrico. 
Para que as participantes desta pesquisa tivessem seus direitos 
resguardados, sem que fossem infringidos os princípios éticos, o presente 
projeto foi submetido à: 
 
(1) Aprovação no Comitê de Ética da Escola de Enfermagem da 
Universidade de São Paulo; 
 
(2) Pedido de autorização institucional à Secretaria Municipal de 
Educação; 
 
(3) Na abordagem inicial aos sujeitos da pesquisa, foi facultada a 
possibilidade de participarem ou não do estudo e informados, previamente, de 
que, uma eventual negação, não lhes acarretaria prejuízos. Foram esclarecidos 
da necessidade da gravação, cada um receberia uma identificação fictícia para 
manter o anonimato, e os dados contidos nos depoimentos seriam publicados e 
divulgados em periódicos e eventos científicos nacionais e internacionais. Ao 
final da abordagem foi esclarecido que a colaboração deles seria relevante aos 
profissionais da educação e da saúde mental; 
 
(4) Consentimento Livre e Esclarecido foi obtido com as colaboradoras. 
Assim, foi importante a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 
com as participantes, a fim de clarificar informações que possam ter ficado 
obscuras. Em seguida, o mesmo foi assinado pelas participantes e pelo 
pesquisador; 
 
(5) Foi firmado compromisso com as participantes de que teriam suas 
dúvidas, quanto à pesquisa, esclarecidas sempre que necessário. 
 
A primeira análise dos prontuários escolares indicou 15 alunos que, 
inicialmente, enquadravam-se no diagnóstico de Transtorno Mental e de 
Comportamento e encontravam-se em assistência psiquiátrica, sendo oito do 
sexo masculino e sete do feminino. Considerando que, a classificação de 
Transtornos Mentais e de Comportamento é ampla e implica inúmeras diretrizes 
diagnósticas, assim, para fins deste estudo, após uma segunda análise dos 
prontuários dos alunos e novas consultas à Direção e Coordenação do 
Programa, realizou-se dois Estudos de Casos. 
Nos dois casos escolhidos, os documentos - o parecer médico e os registros, 
asseguravam, circunscrevendo e ou indicando, conforme documentos em 
prontuários das alunas, em um primeiro momento, exclusivamente, o diagnóstico 
inicial de Transtorno Mental e, encontrava-se em tratamento psiquiátrico, 
conforme informação verbal da Coordenadora do Programa. 
Assim, entrevistaram-se as mães das seguintes alunas: 
1. Lélia (D1), sexo feminino, dez anos, aluna de Classe de Apoio / Educação 
Infantil, com diagnóstico de Transtorno Desintegrativo da Infância com 
características Psicóticas [F84.3]; com acompanhamento psiquiátrico 
(convênio privado) e psicológico em unidade de saúde pública municipal 
e prescrição medicamentosa de Haldol. Frequentou a partir de 2001, a 
Sala de Recursos do Programa de Educação Especial, em período 
contrário ao da Pré-Escola. Em 2002, foi matriculada em período integral 
e, exclusivamente, no Programa de Educação Especial que passou a 
frequentar regularmente. 
 
2. Íris (D2), sexo feminino, 14 anos, aluna de Oficina Pedagógica, com 
registro de diagnóstico de Esquizofrenia e com acompanhamento em 
unidade de saúde pública municipal nos setores de Psiquiatria e Terapia 
Ocupacional; não havia registro de prescrição medicamentosa. 
Frequentou a Pré-Escola, posteriormente o Ensino Fundamental regular 
comum e foi matriculada, em 1999, em período integral e, exclusivamente, 
no Programa de Educação Especial, onde permaneceu desde então. 
 
 
Procedimentos de Coleta e Análise dos Dados 
 
Os aspectos éticos foram cumpridos, conforme as Resoluções do 
Conselho Nacional de Saúde (CNS) dispostas por meio da Resolução n.º 96, de 
10 de outubro de 1996 (Brasil, 1996), que aprovou as diretrizes e normas 
regulamentadoras de pesquisa, envolvendo seres humanos (Brasil, 1996). A 
pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Escola de Enfermagem da 
Universidade de São Paulo e autorizada pela Secretaria Municipal de Educação. 
Para a análise dos discursos dos entrevistados, foi utilizada a proposta de 
Análise de Conteúdo de Bardin (1994), definida por ela como um "conjunto de 
técnicas de análise de comunicações" (p. 42) que, por meio de procedimentos 
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo dos dados coletados, 
possibilita a inferência de conhecimentos que se referem às condições de 
produção e ou recepção (variáveis inferidas) das comunicações. 
 
 
Resultados 
 
Entre as muitas questões para estudo que acabaram por emergir, 
destaca-se aquela em que o familiar revelaria o seu entendimento frente à 
perspectiva de retorno do filho ao ensino regular comum. 
 
Portanto, para a mãe de Lélia, a perspectiva da inclusão escolar na rede 
regular comum:"... seria uma tentativa?..." (D1.37). Justificada por ela em razão 
da filha:"... ela não sabe escrever nada." (D1.38). Por outro lado, a mãe de Íris 
relatou: "é... eu fiquei pensando nisso o ano passado quando ela terminou no 
ano passado..." (D2.33). Pois,"... será que a minha filha vai ficar sempre só 
frequentando aqui... não vai ter condição nunca de frequentar uma escola 
normal..." (D2.34),"... aí, eu fico pensando, mas... do jeito que ela está como ela 
vai ter condição de frequentar uma escola normal..." (D2.35). 
No entanto, para esta mãe:"... podia até tentar não é? Para ver como ela 
se comporta agora não é? Depois desse tempo todo, não é?" (D2.36). 
A análise desta categoria indicou que as mães da alunas representaram 
a perspectiva de inclusão escolar como uma tentativa, uma vez que as alunas 
não estavam, ainda, alfabetizadas. Entretanto, encontramos que nas 
proposições Educação Inclusiva haveria um lugar para Lélia e Íris, uma vez que 
implicaria: “... uma reforma radical nas escolas em termos de currículo, 
avaliação, pedagogia e formas de agrupamento dos alunos nas atividades de 
sala de aula. Ela é baseada em um sistema de valores que faz com que todos 
se sintam bem-vindos e celebra a diversidade que tem como base o gênero, a 
nacionalidade, a raça, a linguagem de origem, o background social, o nível de 
aquisição educacional ou a deficiência (Mittler, 2003, p. 34). 
 
A educação inclusiva é uma aplicação prática de um movimento mundial 
denominado de inclusão social que propõe um novo paradigma e implica um 
processo bilateral, das pessoas excluídas e da sociedade, na construção de uma 
parceria que busca efetivar a equiparaçãode oportunidades (Mendes, 2002). 
Nesse sentido, embora o debate sobre a educação inclusiva não tenha nascido 
no contexto da educação especial, se aplica também a ela, na medida em que 
sua clientela também faz parte daquela população historicamente excluída da 
escola e da sociedade (Mendes, 2002). 
Para melhor compreender, a importância da ampliação da proposição de 
uma sociedade inclusiva, ao entrevistar as mães, foi possível, ainda, entender a 
dialética exclusão/inclusão, pois as duas alunas haviam frequentado a Pré-
escola (Educação Infantil). Embora, a legislação brasileira vigente na época não 
obrigasse a matrícula escolar da criança na faixa etária até seis anos e 11 
meses, ambas possuíam um antecedente de frequência na modalidade de 
Educação Infantil, relatado por uma das mães: "Ela estudou na Escola... é 
prezinho também..." (D1.4). 
Por outro lado, foi na Pré-escola que as alunas apresentaram 
comportamentos diferenciados mais acentuados, que foram assim pontuados 
pelas mães,"... desde os quatro aninhos que ela está na escolinha, mas ela 
nunca teve progresso nenhum..." (D1.5)"...quando ela entrou no prezinho que 
ela começou com essas dificuldades aí..." (D2.38) 
Essas mães representaram, ainda, o período da Pré-escola, como um 
espaço lúdico, mas também de proposições pedagógicas. Para a mãe de Lélia, 
nos momentos de brincadeira:"...ela conseguia ficar" (D1.10) 
No entanto, "...na hora de fazer alguma atividade, algum desenho, ela se 
recusava..." (D1.11).Por outro lado, a mãe de Íris relatou que independente das 
atividades propostas,"...ela atormentava muito as outras crianças, atrapalhava 
as crianças no que elas estavam fazendo, negócio de, às vezes, beliscar, puxar 
cabelo, tirava a atenção das crianças" (D2.4) 
Naquele período, a relação com as professoras foram, assim, descritas: 
para a mãe de Lélia "...ela ficava num cantinho, e lá ela ficava..." (D1.12) e 
"...nunca participou de desenhar" (D1.13). 
Já para a mãe de Íris, sua filha apresentava o seguinte comportamento:"...ficava 
só atrás da professora, ela fazia lição e... fazia ali... , às vezes, de desenhar ou 
pintar alguma coisa ou ela rasgava, ou ela amassava..." (D2.7).Ainda,"...ficava 
só ali, atrás da professora... chegava uma hora que ela ficava rodando, só queria 
ficar atrás da professora..." (D2.8). 
Somando-se a isso, "...na época, eu não sei se ela chegou cuspir, mas, 
mais tarde ela começou com esse negócio de cuspir..." (D2.5).No contexto pré-
escolar, a mãe de Lélia, entendeu que:"...bom ela estudava na escolinha só que 
lá eles acharam que não era problema de lá..." (D1.7). 
Naquele momento, por indicação da Unidade Escolar e por meio do Grupo 
de Apoio Pedagógico (GAP) da Secretaria Municipal de Educação (SEME),"...ela 
estava fazendo tratamento no Departamento de Reabilitação Física e Mental 
(DEREFIM) com a Psicóloga..." (D1.14) e,"...foi ela que indicou essa Escola 
[Programa de Apoio à Educação Especial - PAEE] aqui..." (D1.15).Naquele 
período a mãe relatou ter havido um momento de discussão intersetorial: "Fez 
uma vez... [...] foi a doutora, que é psicóloga do Departamento de Reabilitação 
Física e Mental (DEREFIM), com a professora que ela estudava." (D1.72). 
Como resultado da discussão, houve a indicação, por meio de laudo 
psicológico do Departamento de Reabilitação Física e Mental (DEREFIM), que a 
aluna, em horário contrário ao da Pré-escola, começou a frequentar o Programa 
de Apoio à Educação Especial (PAEE). Foi interessante constatar que essa mãe 
passou a representar o Programa como uma proposta escolar, pois:"...ela 
começou a frequentar a escolinha, enquanto que estava no pré... [...] 
brincando..." (D1.9). 
Nesse ponto, observa-se uma confusão e ambiguidade na fala dessa 
mãe, pois, para ela o papel da Educação Infantil, tanto poderia representar um 
espaço somente para brincadeiras, como um espaço de aprendizagem e, ainda, 
um misto entre um e outro. 
A experiência da mãe de Íris, no contexto pré-escolar, frente aos 
comportamentos e atitudes da filha, foi relatada da seguinte maneira: "...na 
época do prezinho... eu não estava levando ela em lugar nenhum..." (D2.39). 
Entretanto: "...quando ela foi indicada, quando eu coloquei ela no prezinho, 
quando ela não estava se enturmando lá, estava dando problemas, eles 
indicaram para mim levar no Programa de Apoio à Educação Especial (PAEE)..." 
(D2.1). 
Em sua fala ficou claro, haver sido orientada a importância da filha receber 
assistência, no caso, frequentar em horário contrário ao da Pré-escola, a Sala 
de Recursos do Programa de Apoio à Educação Especial (PAEE), a mãe 
ressaltou:"...eu, não aceitei muito porque... ficava naquela, eu não queria.... 
aceitar dela ir para uma escola especial..." (D2.2)."...achava que com o tempo 
isso aí ia... ela ia melhorar, que ia acabar frequentando a escola normal e, na 
época, pela dificuldade que eu tinha, eu acabei não levando, ela estava no 
prezinho, porque na época não tinha perua nem para pegar nem para levar de 
volta..." (D2.3), 
Para Jerusalinsky (1997), o papel da escola é fundamental, pois é nesse 
espaço de entrar e sair, um lugar de trânsito, que faz dela uma instituição 
"normal" da sociedade, não estando representada socialmente como um 
depósito, como o é um hospital psiquiátrico. Nesse sentido, espera-se de 
alguém, que ao frequentar a escola sinta-se mais reconhecido socialmente do 
que aquele que não frequenta. Pois, é assim que, muitos "psicóticos púberes ou 
adolescentes, reclamam que querem ir à escola com seus irmãos, precisamente 
porque isso funcionaria para eles, como um signo de reconhecimento de serem 
capazes de circular, numa certa porção, pela norma social" (Jerusalinsky ,1997, 
p. 91). 
 
Discussão 
 
A contribuição e relevância deste estudo devem-se ao fato de que as 
questões que envolvem a construção da doença mental têm sofrido 
modificações ao longo da história humana em um processo histórico-estrutural 
de exclusão/inclusão, portanto, com verdades historicamente produzidas e 
variadas. 
Por outro lado, existe uma ideia subjacente de que a loucura não é parte 
da esfera ou de competência, também, das proposições do processo ensino e 
ou aprendizagem regular ou especial e, ainda, servindo para fortalecimento de 
paradigmas que estabelecem uma linha divisória entre "normal" e "anormal". 
Com a educação inclusiva, é necessário romper com paradigmas, a fim de 
estabelecer um novo lugar escolar implicado na diversidade e que a segregação 
de alunos e o distanciamento mútuo entre família e escola, não são mais 
possíveis. Ainda, há uma necessidade premente de ações intersetoriais e de 
complementaridade de ações, sobretudo na formulação e implementação das 
políticas públicas. Assim, justifica-se a importância deste estudo em razão de, 
historicamente, sempre houve uma tendência da instituição escolar de 
homogeneizar seus alunos, sendo a educação inclusiva, antes de tudo, uma 
provocação que propõe uma educação para todos, sem exceção. As propostas 
político-pedagógicas, assim como o cotidiano escolar em seus processos 
pedagógicos e de avaliação do desenvolvimento do aluno, segundo as 
concepções da educação inclusiva, também, devem ser submetidas a um novo 
olhar e distintas práticas. 
Ensino/aprendizagem é chamada para participar efetivamente do 
desenvolvimento escolar em todos os seus aspectos. Isso dado, espera-se com 
esse estudo que a unidade escolar frente à organização e execução das 
proposições da educação inclusiva, além de buscar ou ampliar sua articulação 
com a família do aluno com transtorno mental, venha a contribuir para um 
trabalho produtivo com as diferenças, conflitos, desentendimentos e 
desestabilizações que implicam as relações com a diferença, especialmente, se 
considerarmos que as políticas intersetoriais que envolvem as áreas de 
educação, de saúde e social precisam ser revistas e ampliadas. 
Na especificidade deste estudo, encontram-se alguns caminhos para 
melhor entender a problemática que envolve a

Outros materiais