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Negócios (20200703-PT)

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Sexta-feira, 3 de julho de 2020 | Diário | Ano XVI | N.º 4277 | € 2.90 
Diretor André Veríssimo | Diretor adjunto Celso Filipe FIM DE SEMANA
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Independentes vão 
poder trocar para 
apoio mais alto 
ECONOMIA 10 e 11
Trabalhadores que já fizeram descontos e estão a receber pela redução de 
atividade vão poder aderir ao apoio extraordinário. Saiba se compensa mudar. 
Poderemos 
caminhar para 
a imortalidade 
Entrevista 
a Joaquim 
Sampaio Cabral 
M
ig
ue
l B
al
ta
za
r
Epidemia 
chega em 
força ao 
emprego 
dos homens 
ECONOMIA 12
Boicote 
de marcas 
está a 
enfraquecer 
o Facebook 
EMPRESAS 18 e 19
José Manuel de 
Mello, o empresário 
que nunca desistiu 
As tensões do regulador 
com os governos e a sua 
influência na política 
EMPRESAS 14 a 16
SÉRIE 5 DIAS BANCO DE PORTUGAL 
Neeleman sai e Estado 
fica com 72,5% da TAP 
PRIMEIRA LINHA 4 a 7
Governo anunciou a compra da posição do empresário 
por 55 milhões, no mesmo dia em que nacionalizou 
participação de Isabel dos Santos no capital da Efacec. 
2 
|
 SEXTA-FEIRA 
|
 3 JUL 2020
HOME PAGE
OPINIÃO
HOME PAGE
O presidente do go-verno espanhol, Pedro Sánchez, considera “inevitá-vel” uma reforma 
fiscal, com uma maior tributação 
nos escalões mais altos do IRPF 
(Imposto sobre o Rendimento das 
Pessoas Físicas, correspondente 
ao IRS em Portugal). 
O chefe do governo espanhol 
anunciou ainda, numa entrevista 
ao La Sexta, citada pelo El País, 
que será também “inevitável” uma 
subida dos impostos sobre as 
grandes empresas (IRC). 
O governo espanhol realiza 
hoje um Conselho de Ministros 
extraordinário – o ordinário seria 
na próxima terça-feira, 7 de julho 
– para debater estas medidas e 
também a injeção de fundos pú-
blicos (pelo Instituto de Crédito 
Oficial) nas empresas num total 
de 50.000 milhões de euros. 
Esta foi a primeira entrevista 
de Sánchez desde o estado de 
emergência. O presidente do go-
verno falou assim sobre as medi-
das pensadas para reforçar a re-
ceita e para destinar recursos às 
pessoas mais afetadas economi-
camente pela crise da covid-19. 
Esta conversa aconteceu no dia 
em que o Executivo chegou a acor-
do com as entidades patronais e 
sindicatos para reforçar o empre-
go. Sánchez convocou para hoje 
um ato com os líderes da CEOE e 
Cepyme, CC OO e UGT, para as-
sinar um “pacto para a revitaliza-
ção económica e para o emprego”. 
Quanto ao Fundo de Recupe-
ração europeu, no valor de 750 mil 
milhões de euros, o presidente do 
governo disse que nos próximos 
dias estará com os seus homólo-
gos de Portugal (já na próxima se-
gunda-feira, dia 6), Suécia e Ho-
landa, para transmitir a posição de 
Espanha. 
Sánchez recordou que Espa-
nha, nos termos do que está deli-
neado, contribuirá para esse fun-
do com 9% – acima dos 6% com 
que contribuirá a Holanda, que é 
uma das mais críticas do progra-
ma e que faz parte do chamado 
grupo dos frugais (a par com a 
Áustria, Dinamarca e Suécia). 
O país vizinho foi um dos mais 
duramente atingidos pela pande-
mia na Europa. Desde o início do 
surto, Espanha contabiliza 250 
mil casos positivos de infeção pelo 
novo coronavírus e mais de 28 mil 
vítimas mortais. E Pedro Sanchéz 
assumiu que foram cometidos er-
ros na gestão da crise sanitária. 
“Olhando agora, vemos que agi-
mos tarde”, admitiu, advertindo 
que a pandemia ainda não desa-
pareceu e que não se pode “baixar 
a guarda”.  
NEGÓCIOS
Na primeira entrevista após o estado de emergência no país vizinho, o 
presidente do governo espanhol disse que será necessário aumentar impostos 
para obter receitas e poder acudir às pessoas mais afetadas pela pandemia. 
O líder do governo espanhol admitiu que foram cometidos erros na gestão da crise sanitária. 
Sanchéz considera 
“inevitável” subida de 
impostos em Espanha “António Costa enfrenta a maior crise económica com um elenco 
governativo muito 
fraco.”
ARMANDO ESTEVES 
PEREIRA
Pedro Sanchéz 
indica que será 
necessário subir 
impostos para 
classes mais 
altas e para 
as grandes 
empresas. 
PÁGINA 8
“É a evidência de 
que a sociedade e a 
economia estão 
ativamente a 
explorar 
alternativas.”
BERNARDO RODO
PÁGINA 26
“É neste país que 
vivemos. Um país 
onde o Governo não 
discute se não é 
melhor fechar a 
TAP.”
CAMILO LOURENÇO
PÁGINA 25
“Melhor do que 
um plano são 
bons objectivos; 
melhor ainda é 
fazer mesmo.”
FERNANDO ILHARCO
PÁGINA 25
Dani Duch/Reuters
 SEXTA-FEIRA 
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 3 JUL 2020 
|
 HOME PAGE 
| 
3
DIA
S im, a TAP é demasiado importante para cair, mas se resgatá-la a tornar demasiado pequena para resistir, será que vale o esforço? Vamos pa-gar até 1.200 milhões para ver. É bom que valha a pena. 
Dizer que há uma solução para resgatar a TAP talvez seja 
uma afirmação excessiva. Na verdade, nada garante que a 
intervenção do Estado possa assegurar à companhia uma 
vida diferente da que tem há demasiados anos: prejuízos 
atrás de prejuízos. 
 A pandemia deixou a TAP insolvente. Na ausência de 
dinheiro privado, só podia entrar o do Estado, com o cor-
respondente poder para intervir na gestão da companhia. 
A hostilidade entre Governo e David Neeleman impunha a 
saída do empresário como condição. O segundo nunca gos-
tou da reversão que repôs 50% do capital nas mãos do Es-
tado e o Governo nunca gostou da forma como era destra-
tado, de que é exemplo o caso dos bónus. 
A montante está uma questão: devem os contribuintes 
salvar a companhia, quando há tantas outras necessidades 
a que acorrer? A TAP desempenha um papel estratégico, 
que só por romantismo se pode achar que seria assumido 
em pleno por outras companhias. Não é só a ligação aos ar-
quipélagos, aos PALOP, aos principais destinos da emigra-
ção. O desenvolvimento do turismo português tem benefi-
ciado, e muito, com as novas rotas da companhia aérea, em 
particular para os Estados Unidos e o Brasil. 
A TAP transporta cerca de metade dos turistas que visi-
tam o país, que vai precisar do turismo para a retoma, mes-
mo que a recuperação do setor possa ser mais lenta. A com-
panhia é um ativo valioso para a economia e a soberania. 
Isso não justifica tudo, nem qualquer preço. Para a TAP 
subsistir é preciso encontrar um modelo em que as rotas, 
como um todo, tenham rentabilidade. E isso só acontecerá 
se for liderada por um gestor privado, com experiência e 
uma visão para o setor, que possa gerir a empresa não se-
gundo critérios políticos, mas de racionalidade financeira. 
 David Neeleman e Antonoaldo Neves tinham essa vi-
são, e mesmo falhando o regresso aos lucros, fizeram apos-
tas estratégicas bem-sucedidas, modernizaram a frota e re-
solveram o sumidouro de dinheiro que era a manutenção 
aeronáutica no Brasil. Qual será agora o plano? 
A TAP terá de emagrecer. Por força da pandemia e por 
força de Bruxelas. Mas tanto esforço só valerá a pena se pu-
der manter uma dimensão que assegure a sua relevância. 
A companhia não recebe um coração novo, apenas um 
“bypass”. Quanto tempo será capaz de viver com ele? 
EDITORIAL
Um “bypass” 
para a TAP 
678
ANDRÉ VERÍSSIMO 
Diretor 
averissimo@negocios.pt
EDP dispara mais de 4% em dia 
de ganhos no setor energético 
Variação este ano: 16,1% 
Valor em bolsa: 
16.403,2 milhões de euros
A EDP disparou num dia que foi de 
ganhos expressivos para o setor 
energético europeu. A empresa lide-
rada por António Mexia ganhou 
4,45% para os 4,486 euros por ação. 
Foi a sexta sessão consecutiva de ga-
nhos para a elétrica portuguesa. Não 
foi, porém, a única empresa do se-
tor a registar ganhos expressivos. 
Também a EDP Renováveis e a Galp 
Energia subiram mais de 2% na ses-
são desta quinta-feira.  
AÇÃO 
FOTOFRASE
NÚMERO
4,45% 
General apeado 
no estado da Virgínia 
A remoção de estátuas de figuras da História 
dos Estados Unidos ligadas à escravatura e à 
repressão das minorias continua. A do general 
Stonewall Jackson, do exército da Confederação, 
foi ontem retirada da cidade de Richmond,na 
Virgínia, depois de várias ações legais terem 
tentado evitar o derrube. “One down, more to 
go”, disse um espectador citado pela CBC.
Fotografia: JULIA RENDLEMAN / REUTERS
Sem uma 
gestão mais 
granular do 
risco por parte 
da política de 
saúde, 
podemos ter 
uma vaga de 
falências que 
pode levar a 
uma crise 
financeira.
A farmacêutica suíça 
Novartis aceitou pagar 
678 milhões de dólares 
para encerrar processo 
nos EUA por pagamentos 
ilícitos a médicos. 
“
JAMES BULLARD 
Presidente da Reserva 
Federal de Saint Louis
António Mexia está à frente da 
comissão executiva da elétrica 
portuguesa EDP.
PRIMEIRA LINHA O ESTADO NAS EMPRESAS
O Governo de Passos Coelho aprova 
a venda de 61% da TAP ao consór-
cio Atlantic Gateway, de Humberto 
Pedrosa e David Neeleman, que ti-
nha sido acordada em junho. Os pri-
vados pagaram 10 milhões de euros 
pela participação, tendo ficado de-
terminada uma injeção imediata de 
154 milhões de euros. A recapitali-
zação da TAP SGPS ficou definida 
em 337,5 milhões de euros. 
Um mês depois, o Go-
verno de António Costa 
entende abrir um pro-
cesso negocial para re-
configurar a participa-
ção do Estado na TAP. 
O processo negocial, liderado por 
Diogo Lacerda Machado, culmina 
com a assinatura de um memoran-
do de entendimento e com a re-
compra das ações que deram ao 
Estado 50% da TAP. O Estado au-
menta a sua participação de 34% 
para 50%, tendo a Atlantic Ga-
teway diminuído de 61% para 45%. 
Os restantes 5% foram vendidos 
aos trabalhadores. 
A assembleia-geral da TAP aprova a emissão de 
um empréstimo obrigacionista de 120 milhões de 
euros, a 10 anos, convertível em ações da socie-
dade, subscrevendo a companhia aérea brasilei-
ra Azul, de que Neeleman é acionista, 90 milhões 
de euros e a Parpública 30 milhões. 
O Estado e a Atlantic Gateway assinam o acor-
do para a reversão parcial da privatização de 
2015, assegurando ao Estado 50%. O acordo 
define que o conselho de administração da TAP 
passa a ser composto por 12 membros, dos 
quais seis indicados pelo Estado e seis indica-
dos pela Atlantic Gateway. Por outro lado, o pre-
sidente do conselho de administração seria in-
dicado pelo Estado, enquanto a comissão exe-
cutiva teria três membros indicados pela Atlan-
tic Gateway. 
A presidência executiva 
da TAP muda de mãos. 
Fernando Pinto é subs-
tituído no cargo por An-
tonoaldo Neves, antigo 
número um da Azul.
31.1.201812.11.2015 9.12.2015 6.2.2016 8.3.2016 19.5.2016
CRONOLOGIA
A TAP e os privados
O Governo chegou a acordo com David Neeleman e com a companhia brasi-leira Azul, de forma 
a conseguir injetar 1.200 milhões 
de euros na TAP. O ministro das 
Finanças, João Leão, anunciou 
esta quinta-feira à noite que de 
forma a evitar o colapso da empre-
sa o Estado chegou a um acordo 
que lhe permite assegurar 72,5% 
dos direitos de da TAP SGPS. Os 
22,5% ficarão na Atlantic Ga-
teway, que ficará a ser controlada 
por Humberto Pedrosa, cabendo 
ainda 5% para os trabalhadores. 
Apesar deste reforço do Esta-
do na TAP, o ministro das Infraes-
truturas, Pedro Nuno Santos, 
acrescentou que “não há razão 
para que o Estado não escolha 
uma equipa para gerir a TAP dife-
rente de um privado”. O respon-
sável garantiu que não será o Es-
tado a gerir a TAP, mas que irá 
contratar uma empresa especiali-
zada para procurar gestores pro-
fissionais com competência na 
área da aviação. “É assim que o Es-
tado se deve relacionar com as 
empresas da sua responsabilida-
de”, disse, frisando ainda assim 
que o atual CEO, Antonoaldo Ne-
ves deverá cessar funções no ime-
diato mas que esse processo de se-
leção “não produzirá resultados 
imediatos”. 
O ministro salientou que o Es-
tado pagará 55 milhões de euros 
para David Neeleman sair da 
TAP, “comprando” com isso direi-
tos de voto, direitos económicos e 
direitos de saída, evitando com 
O Estado chegou a acordo para ficar com uma posição maioritária 
na TAP. Pedrosa é o parceiro privado. A gestão ligada a Neeleman 
sai já. O Governo vai recrutar a equipa ao mercado internacional.
A TAP está desde março com a frota praticamente parada.
MARIA JOÃO BABO 
mbabo@negocios.pt 
Estado assume 
72,5% da TAP 
e garante gestão 
profissional
4 
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 SEXTA-FEIRA 
|
 3 JUL 2020
A TAP SGPS anuncia ter al-
cançado, em 2017, lucros 
pela primeira vez em 10 
anos, reportando um resul-
tado líquido de 21,2 milhões 
de euros. A TAP SA, que 
controla a companhia aé-
rea, obtém um lucro de 
100,4 milhões de euros no 
mesmo ano. 
A TAP anuncia prejuízos de 118 milhões de euros em 
2018, regressando ao vermelho. A contribuir para es-
ses resultados, justificou, estiveram problemas opera-
cionais, que geraram atrasos e cancelamentos de voos, 
a que acresceram as greves. Só em indemnizações a pas-
sageiros a TAP pagou 22 milhões de euros. 
22.3.2019
Apesar dos prejuízos de 118 
milhões, a TAP distribui pré-
mios no valor de 1,17 mi-
lhões de euros a 180 traba-
lhadores, incluindo dois de 
110 mil euros atribuídos a 
dois quadros superiores. A 
polémica estala, com o Go-
verno a falar em quebra de 
confiança. 
MAIO DE 2019
Depois de denúncias de trabalhadores, a TAP 
confirma a existência de “casos pontuais de 
tripulantes com ligeiras indisposições” em al-
guns voos dos seus novos aviões A330neo, 
mas garantindo ser uma situação “normal em 
aeronaves novas”.
25.6.2019
A TAP conclui uma 
emissão obrigacionis-
ta a 5 anos de 375 mi-
lhões de euros, pagan-
do uma taxa de 5,75% 
pelo financiamento. 
22.11.201916.4.2018
Com o mal-estar com o parceiro de consórcio, Hum-
berto Pedrosa, e com o Estado, devido aos resultados 
negativos da TAP, é noticiado que David Neeleman 
está em contactos com várias companhias aéreas eu-
ropeias para a aquisição da sua parte na Atlantic Ga-
teway, designadamente com a Lufthansa e a United. 
25.11. 2019
Miguel Baltazar
isso “litigância futura, que garan-
tisse paz à TAP”. Para Pedro Nuno 
Santos, desta forma é possível 
“desbloquear o empréstimo e evi-
tar a falência” da companhia. O 
responsável salientou na confe-
rência de imprensa que foram “al-
gumas semanas largas “ de nego-
ciação para “conseguirmos final-
mente ter as condições que per-
mitirão ao Estado auxiliar a TAP”. 
Segundo disse, o acordo foi 
conseguido, ainda que seja apenas 
“concretizado quando todos os 
documentos forem assinados”, 
apontando para os próximos dias 
a assinatura do acordo. Pedro 
Nuno Santos reconheceu que esta 
opção “não era a opção inicial do 
Estado, que fez ao acionista priva-
do propostas que não foram acei-
tes. “Tínhamos acordo com a Co-
missão Europeia para a injeção 
até 1.200 milhões mas faltava o 
acordo com acionistas privados. 
Não poderíamos fazer interven-
ção de um montante tão elevado 
sem ter garantidas condições mí-
nimas”, recordou, explicando que 
a proposta para que os privados 
acompanhassem a conversão dos 
créditos “não foi aceite”. O Esta-
do, acrescentou, pediu assim ao 
acionista privado que “abdicasse 
dos direitos de saída e no caso da 
Azul abdicasse do direito de con-
versão, que seriam tratados como 
credores comuns e no momento 
certo seriam reembolsados”. Uma 
proposta que, disse, foi também 
recusada. Nesse contexto, o Esta-
do fez então a proposta de paga-
mento de 55 milhões de euros 
para a compra dos direitos de voto 
e de saída de David Neeleman, sa-
lientou, acrescentando que “a na-
cionalização felizmente não foi 
precisa”. “Chegámos a uma solu-
ção acordada, a uma boa solução 
para a TAP. Agora iniciaremos a 
fase mais desafiante”, frisou Pedro 
Nuno Santos. 
O ministro garantiu ainda que 
a opção a que o Governo chegou 
com a Comissão Europeia para o 
cenário de emergência e reestru-
turação “era a opção que estava 
disponível para a TAP tendo em 
conta a avaliação que Comissão 
Europeia fez para a TAP a 31 de 
dezembro de 2019”. “Foi feita por 
indicadores objetivos, e não por 
declarações de membro do Go-
verno”, afirmou. “Estamos a falar 
de companhia com 580 milhões 
de capitais próprios negativos. Em 
nenhum canto do mundoé em-
presa em boa situação financeira”. 
concluiu. 
A TAP SA enquadra-se 
em empresa de 
natureza mercantil 
e nesse sentido não 
tem de integrar o 
perímetro do Estado. 
JOÃO LEÃO 
Ministro das Finanças 
“ Solução acordada 
é uma boa solução 
para a TAP. 
Foi sempre esse 
o nosso objetivo. 
PEDRO NUNO SANTOS 
Ministro das Infraestruturas
“ Nacionalização 
felizmente não chegou 
a ser necessária. Mas 
foi importante estar 
em cima da mesa para 
fecharmos o acordo. 
PEDRO NUNO SANTOS
“
 SEXTA-FEIRA 
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 3 JUL 2020 
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 PRIMEIRA LINHA 
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5
6 
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 SEXTA-FEIRA 
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 3 JUL 2020
PRIMEIRA LINHA O ESTADO NAS EMPRESAS
Ao Observador, David Neeleman 
diz que a TAP irá continuar a pa-
gar prémios. Dias depois Pedro 
Nuno Santos diz que não o permi-
tirá, lembrando que em 2019 a 
empresa voltou a apresentar pre-
juízos de 105,6 milhões. A 10 de 
março, a comissão executiva vol-
ta atrás nessa intenção justifican-
do-a com o impacto da pandemia 
nas reservas. 
Com a covid-19, a TAP anuncia a primeira re-
dução de atividade, devido às restrições im-
postas ao transporte aéreo e a acentuada que-
da da procura, cortando 98% dos voos pro-
gramados. A 1 de abril, recorre ao lay-off 
abrangendo 90% dos trabalhadores. Medidas 
excecionais já prolongadas até 31 de julho. 
O primeiro-ministro admite 
a nacionalização da TAP, de-
pois de o mesmo terem fei-
tos os ministros das Finan-
ças e da Economia. Os priva-
dos defendem que apenas é 
precisa “uma garantia esta-
tal” para se financiar. Pedro 
Nuno Santos recusa ceder e 
diz que “agora a música é 
outra”. 
Bruxelas aprova a injeção de emergência até 1,2 mil mi-
lhões de euros na TAP, mas diz que, como já estava em di-
ficuldade antes da covid-19, tem seis meses para devolver 
o empréstimo ou propor uma reestruturação. A TAP diz 
ser “óbvio” que não vai conseguir pagar. O Governo põe 
condições à ajuda, como o reforço do seu controlo e a con-
versão de créditos dos privados em capital. 
O conselho de administra-
ção da TAP chumba a pro-
posta do Estado com as 
condições para o emprés-
timo de até 1.200 mi-
lhões, voltando a pairar a 
ameaça de nacionaliza-
ção. No mesmo dia, a TAP 
anuncia prejuízos de 395 
milhões de euros no pri-
meiro trimestre. 
10.6.2020 29.6.202014.2.2020 19.3.2020 14.4.2020
CRONOLOGIA
A TAP e os privados
David Neeleman aceita sair da 
TAP por 55 milhões de euros. A 
solução para a empresa fica ape-
nas dependente de a Azul aceitar 
ceder o direito de converter em 
capital o empréstimo obrigacio-
nista de 90 milhões. 
1.7.2020
A 1 de fevereiro de 2017 iniciava o 
mandato na Parpública para o trié-
nio até 2019 com quatro elemen-
tos executivos. Miguel Cruz era o 
presidente executivo, e tinha como 
seu vice Carlos Durães da Concei-
ção, e vogais Maria Amália Freire 
de Almeida e Mário Pinto Lobo. 
O mandato terminou e a Par-
pública aguardava por novas no-
meações. Miguel Cruz, entretan-
to, foi chamado, em junho, para a 
pasta de secretário de Estado do 
Tesouro, com a promoção de João 
Leão a ministro das Finanças. 
Sem Miguel Cruz, a Parpública 
ficou com três elementos executi-
vos. Mas, uns dias depois, a empre-
sa de capitais públicos comunicou 
a saída de Maria Amália de Almei-
da com efeitos a 16 de junho. E a 2 
de julho novo comunicado. Mário 
Pinto Lobo renunciou ao cargo a 26 
de junho, tendo a Parpública acres-
centado que a sua saída, no entan-
to, produzirá efeitos nos termos da 
lei, ou seja, no final do mês seguinte 
ao da renúncia. E é assim que Má-
rio Pinto Lobo ainda se mantém na 
Parpública, acompanhando o úni-
co elemento que não renunciou. 
Carlos Durães Guimarães foi para 
a Parpública em 2010, pela mão do 
então ministro das Finanças Teixei-
ra dos Santos, que já tinha sido o res-
ponsável pela sua nomeação para a 
direção-geral do Tesouro, cargo que 
ocupou a partir de 2007 e até sair 
para a “holding” pública. 
Neste momento em que a Par-
pública está no centro de um dos 
casos polémicos – é através dela 
que o Estado detém a participação 
na TAP –, a empresa tem dois ele-
mentos executivos, um deles de-
missionário. Contactados pelo Ne-
gócios, a Parpública e o Ministério 
das Finanças garantem que a co-
missão executiva está em plenas 
funções. “A comissão executiva en-
contra-se no efetivo exercício das 
suas funções”, diz fonte oficial da 
Parpública, lembrando que Mário 
Pinto Lobo só sairá no final de ju-
lho. As Finanças sustentam que “o 
vogal que renunciou manter-se-á 
temporariamente em funções, tal 
como a lei estabelece, pelo que es-
tão asseguradas as condições de 
gestão da empresa”, garantindo que 
“o Governo espera concluir em bre-
ve o processo de eleição do novo 
conselho de administração para o 
mandato 2020-2022”.  AM 
Miguel Cruz foi para o Governo e a presidência da Parpública 
ficou vazia. Ficaram apenas dois gestores executivos. 
E um deles até já pediu para sair. Fica até ao final do mês. 
Parpública está apenas 
com dois gestores 
e um já pediu para sair 
Poucos são os processos de na-
cionalização depois da PREC 
(processo revolucionário em 
curso), que em março de 1975 
tornou público muito do uni-
verso empresarial português. 
Depois desse período, as na-
cionalizações inscritas nos li-
vros de História aconteceram 
nos tempos recentes. E com go-
vernos socialistas. Teixeira dos 
Santos anunciou, em novembro 
de 2008, que iria propor a na-
cionalização do BPN, justifi-
cando-a com a situação “muito 
delicada”. O então ministro das 
Finanças falou de uma situação 
“anómala e extraordinária”. 
E assim a 11 de novembro de 
2008 foi publicado em Diário 
da República o diploma que na-
cionalizou todas as ações do 
Banco Português de Negócios, 
ao mesmo tempo que aprovou 
o regime jurídico de apropria-
ção pública por via de naciona-
lização. 
E é ao abrigo desse diploma 
que o Estado tem nas suas mãos 
o poder de “apropriação públi-
ca, por via de nacionalização, no 
todo ou em parte, de participa-
ções sociais de pessoas coletivas 
privadas, quando, por motivos 
excecionais e especialmente 
fundamentados, tal se revele ne-
cessário para salvaguardar o in-
teresse público”. Esses atos fica-
ram à distância de um decreto-
-lei, ou seja, de uma decisão do 
Governo, sem passagem pelo 
Parlamento. Este ano o Gover-
no também do PS anuncia a na-
cionalização da Efacec, amea-
çando fazer o mesmo à TAP. 
O diploma que consagra es-
ses atos diz que é devida indem-
nização aos acionistas das em-
presas nacionalizadas, “tendo 
por referência o valor dos respe-
tivos direitos, avaliados à luz da 
situação patrimonial e financei-
ra” à data da nacionalização. 
Para determinar o valor, que 
tem de ter em conta o patrimó-
nio líquido, “o Governo promo-
ve a realização de uma avaliação 
a efetuar, pelo menos, por duas 
entidades independentes”. Ava-
liação que tem 30 dias para ser 
realizada, prorrogável uma vez 
pelo mesmo período. Findo este 
processo, o Governo tem 15 dias 
para fixar a indemnização.  AM
Nacionalizações 
obrigam a avaliação 
independente 
Miguel Cruz saiu da Parpública 
para a Secretaria de Estado. 
Tiago Petinga/Lusa
 SEXTA-FEIRA 
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 3 JUL 2020 
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 PRIMEIRA LINHA 
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PRIMEIRA LINHA O ESTADO NA ECONOMIA
U ma nacionalização--relâmpago para evi-tar o colapso da Efa-cec, com o Governo a 
prometer “a sua imediata repriva-
tização, a executar no mais curto 
prazo possível”. Em causa está a 
participação de controlo (71,73%) 
da empresa detida pela empresá-
ria angolana Isabel dos Santos, 
cuja passagem para a esfera do Es-
tado português contou com o 
apoio dos acionistas minoritários, 
o Grupo José de Mello e a Têxtil 
Manuel Gonçalves (TMG). 
O Governo já tinha avisado 
que estava disponível para fazer 
tudo o que fosse necessário para 
viabilizar a Efacec. Esta quinta-
-feira, 2 de julho, o Conselho de 
Ministros aprovou a nacionaliza-
ção da posição de Isabel dos San-
tos, alegando que a situação da 
empresa era insustentável. 
“Impõe-se uma intervenção 
do Estado que viabilize a sua con-
tinuidade de forma a garantira es-
tabilidade do valor financeiro e 
operacional da empresa, que gera 
um volume de negócios na ordem 
dos 400 milhões de euros, e per-
mitindo, assim, a salvaguarda dos 
cerca de 2.500 postos de trabalho, 
da valia industrial, do conheci-
mento técnico e da excelência em 
áreas estratégicas”, justifica-se no 
comunicado do Conselho de Mi-
nistros. 
 
Nacionalização a que preço? 
A nacionalização acaba com a in-
definição acionista na Efacec, mas 
o que é que se passou com o pro-
cesso de venda dessa mesma po-
sição de controlo da empresa, que 
tinha recebido cerca de 10 propos-
tas de compra? O Negócios ques-
tionou o Ministério da Economia, 
mas não obteve resposta até ao fe-
cho desta edição. 
E face ao imbróglio judicial em 
que se encontram as empresas de-
tidas por Isabel dos Santos, quan-
to é que o Estado vai desembolsar 
e a quem vai pagar? O ministro 
Siza Vieira apenas reconheceu 
que “tem de haver uma discussão 
para saber quem tem direito a re-
ceber a indemnização”. 
Os grupos José de Mello e 
TMG, que se mantêm na estrutu-
ra acionista da Efacec, detendo a 
meias os restantes 28%, aplaudi-
ram publicamente a nacionaliza-
ção da empresa. Em comunicado 
conjunto, manifestaram “a sua sa-
tisfação por ter sido encontrada 
uma solução que permite desblo-
quear a situação de impasse em 
que a empresa se encontrava”. 
“Face à importância e relevân-
cia da Efacec no panorama indus-
trial em Portugal, face à elevada 
qualificação dos seus colaborado-
res e face à necessidade de prote-
ger os interesses de clientes e for-
necedores, era urgente encontrar 
uma via para a empresa prosseguir 
a sua atividade e materializar o seu 
potencial de desenvolvimento”, 
defendem os acionistas minoritá-
rios da empresa. 
Esta mesma quinta-feira, o 
Presidente da República promul-
gou o diploma do Governo “desti-
nado a salvar a Efacec”, como o 
classificou. Marcelo Rebelo de 
Sousa justificou a decisão tendo 
em conta “o acordo dos restantes 
acionistas privados”, a “natureza 
transitória da intervenção” e a 
“abertura simultânea de processo 
de reprivatização da posição ago-
ra objeto de intervenção pública”. 
Aliás, ressalvou, “não se pode 
nem deve entender este passo 
como nacionalização duradoura, 
antes como solução indispensável 
de passagem entre soluções dura-
douras de mercado”. Mas, admi-
tiu, “o passo dado é crucial e impe-
rioso para impedir o esvaziamen-
to irreversível de uma empresa 
com grande relevância para a eco-
nomia portuguesa, quer externa, 
quer internamente, quer em ter-
mos de emprego, quer em termos 
de inovação e produção industrial 
nacional” . 
 
Isabel, salvadora e carrasca 
A Efacec estava em falência téc-
nica em 2013, com prejuízos su-
periores a 90 milhões de euros, 
a que se somaram mais de 20 
milhões em 2015. E foi em no-
vembro desse ano que Isabel dos 
Santos passou a controlar a em-
presa, convertendo prejuízos em 
lucros logo no ano seguinte. 
De acordo com os últimos re-
sultados conhecidos, a Efacec fe-
chou 2018 com lucros de 14,1 mi-
lhões de euros e vendas de 433,2 
milhões. Em 31 de maio passado, 
tinha uma dívida bancária de 80 
milhões de euros e uma emissão 
obrigacionista de 58 milhões, 
tendo-se agravado a sua dívida a 
fornecedores.  *Com ABO e PC 
Governo decidiu nacionalizar a posição de controlo de Isabel dos Santos na Efacec. 
Governo põe a Efacec 
em sentido de Estado 
Financeiramente bloqueada há já seis meses, refém de uma acionista maioritária 
judicialmente cercada e de um processo de venda a passo de caracol, a Efacec acaba 
de ser nacionalizada, com o Governo a prometer a sua “imediata” reprivatização. 
Ricardo Castelo
RUI NEVES* 
ruineves@negocios.pt
“
A excecionalidade 
da intervenção 
do Estado [na Efacec] 
deve ser feita 
por período restrito 
no tempo (...), 
estando prevista 
a sua imediata 
reprivatização, 
a executar no mais 
curto prazo possível. 
GOVERNO 
Comunicado 
do Conselho de Ministros 
“
71,7 
NACIONALIZAÇÃO 
O Estado português 
fica temporariamente 
com 71,73% do capital 
da Efacec, a participação 
da empresária angolana 
Isabel dos Santos. 
8 
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 SEXTA-FEIRA 
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 3 JUL 2020
que acontece no futebol, o desporto 
mais popular e mediatizado, acaba por 
ser uma metáfora da vida. E o que su-
cedeu com Bruno Lage, um treinador 
que pegou no Benfica em crise e con-
seguiu ser campeão com um registo no-
tável, valorizando ainda jovens jogado-
res, mas que poucos meses depois da 
glória é despedido por causa de uma sé-
rie negra de jogos, mostra-nos que tudo 
é transitório. Quem deve olhar com 
atenção para a história de Lage é Antó-
nio Costa, que ainda nem tem rival para 
o cargo de primeiro-ministro, mas que 
tal como o ex-treinador dos encarna-
dos pode rapidamente ser vítima dos 
resultados. 
Também Costa com Centeno nas 
Finanças conseguiu um registo inédi-
to na democracia. Os ventos favoráveis 
da política do BCE e a explosão do tu-
rismo aceleraram a economia e permi-
tiram saldos inéditos nas contas públi-
cas e estabilidade social. 
Mas tudo a pandemia levou. Os nú-
meros mais recentes do desemprego 
mostram apenas uma pequena parte da 
tragédia económica que vivemos. O 
confinamento provocou uma destrui-
ção massiva de postos de trabalho e ar-
rasou negócios que até fevereiro tinham 
expectativas francamente positivas. 
A queda do PIB nos últimos quatro 
meses foi a mais acelerada desde 1928. 
Do impacto real do novo coronavírus 
só vamos poder ter uma ideia nos pró-
ximos meses. O apoio da rede lançada 
pela Segurança Social, como o paga-
mento de parte dos salários aos traba-
lhadores do lay-off, permitiu mitigar o 
primeiro impacto do vírus na econo-
mia, mas quando esses apoios desapa-
recerem há empresas que não vão 
aguentar o quadro de pessoal que ti-
nham antes da crise. E há negócios que 
pura e simplesmente desapareceram 
com a crise e não vão regressar. 
A evolução dos contágios na Área 
Metropolitana de Lisboa também dei-
xa mais a nu as faltas de resposta na luta 
contra a pandemia. Há abundantes si-
nais de fraca resposta das autoridades, 
desde o caos dos transportes, a proble-
mas de coordenação que revelam a in-
capacidade em monitorizar todos os in-
fetados para poder travar o surto, o que 
levou até o próprio presidente da Câ-
mara de Lisboa a dizer que “há muitos 
chefes” e “poucos operacionais” no ter-
reno. 
António Costa enfrenta a maior cri-
se económica com um elenco governa-
tivo muito fraco. Enquanto Lage no 
Benfica tinha o melhor plantel dispo-
nível da liga portuguesa, Costa conta 
com alguns ministros e ministras que 
nem numa liga política distrital tinham 
lugar.  
Costa e a síndrome de Lage 
Em poucos meses, Bruno Lage passou de campeão a despedido. De herói de uma narrativa inédita a vilão das derrotas. Mas 
não é só no futebol que as coisas mudam rapidamente. Na política, pode acontecer o mesmo. António Costa ainda goza de gran-
de popularidade, mas se não tiver cuidado pode ser vítima da mesma síndrome por causa dos maus resultados da economia. 
ARMANDO ESTEVES PEREIRA
CONTAS CORRENTES
O
Nuno Veiga/Lusa
REABERTURA DE FRONTEIRAS 
Durante séculos os dois vizinhos ibéricos viveram de costas 
voltas. Em 1986, tudo mudou com a adesão de ambos à en-
tão Comunidade Europeia. A raia que antigamente separa-
va transformou-se em ponto de reunião. Aumentou a inter-
dependência económica. Subitamente em meados de mar-
ço, a pandemia provocou um encerramento das fronteiras, 
causando grande prejuízo aos dois países, particularmente 
às cidades e vilas raianas. Esta semana voltaram a reabrir, 
com direito a cimeira de chefes de Estado e de Governo. 
Os contribuintes portugueses, que já 
são banqueiros forçados, são de 
novo os acionistas maioritários da 
TAP. É fundamental salvar uma em-
presa estratégica, por isso a mão vi-
sível do Governo era quase inevitá-
vel. A companhia é decisiva para a 
economia portuguesa, mas é impor-
tante que mantenha o seu papel de 
ligação intercontinental e cabe à ges-
tão cuidar que o bilhete paraos con-
tribuintes não seja demasiado eleva-
do. Há que salvar a empresa, mas 
respeitando o nosso dinheiro.  
Os portugueses 
são donos da TAP
Algo completamente 
diferente 
PODER DA CHINA EM HONG KONG 
A entrada em vigor da nova lei de segurança nacional em 
Hong Kong é um reforço do poder central do império 
chinês no antigo território administrado pelos britâni-
cos. A mão pesada de Pequim sobre os manifestantes é 
uma ameaça para a democracia neste oásis de liberda-
de. No regime chinês não há coincidências, por isso não 
deixa de ser simbólico que a entrada em vigor da nova le-
gislação tenha sido a 1 de julho, aniversário da devolução 
desta antiga joia do império britânico à China. 
SALDO 
NEGATIVO
SALDO 
POSITIVO
 SEXTA-FEIRA 
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 3 JUL 2020 
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 SEMANA 
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A TAP é estratégica, a Efacec é estratégica. Com esta palavra mágica os decisores públicos dispensam-se 
de apresentar o custo e o benefício das opções possíveis para as empresas em apuros, cujos problemas 
nunca são indissociáveis da influência política. Já aqui estivemos – e aqui continuaremos a estar. 
MODERADO RADICAL 
BRUNO FARIA LOPES
Gráfico da semana
Na política está a montar-se um pas-
sa-culpas entre António Costa e o 
melhor amigo Lacerda Machado – 
que supostamente acompanhou a 
gestão da TAP – e o ministro Pedro 
Nuno Santos. O ministro tem um es-
tilo demasiado irascível, mas é difí-
cil argumentar que a Comissão Eu-
ropeia não considerou a TAP viável 
por causa daquilo que Pedro Nuno 
Santos diz no Parlamento português 
– em Bruxelas olha-se mais para os 
números. E os números mostram 
uma companhia numa situação mui-
to frágil. A TAP estava em transfor-
mação e expansão quando a pande-
mia chegou, aumentando a dívida 
para investir, mas isso não chega para 
deixar passar a gestão de fininho, 
nem as acções de Neeleman desde 
que chegou à empresa.  
 
Artigo em conformidade 
com o antigo Acordo Ortográfico 
qui estamos, de novo, neste lugar: uma 
empresa, desta vez pública e privada, 
que toda a gente diz ser “estratégica”, 
com uma gestão privada que teve um 
suposto acompanhamento por parte do 
Estado e que, perante um choque eco-
nómico, precisa de dinheiro público 
para sobreviver, num cenário em que 
Bruxelas considera a empresa inviável 
e carente de uma reestruturação pro-
funda. O resultado expectável será, por 
isso, um esforço financeiro dos contri-
buintes em quem ninguém nesta altu-
ra consegue pôr um tecto – contribuin-
tes que têm uma série de perguntas a 
que ninguém ainda deu uma resposta. 
O parágrafo anterior diz respeito à 
TAP, mas precisamente quando termi-
nei de o escrever saíram as notícias so-
bre a nacionalização da Efacec, o que 
me leva à primeira pergunta sem res-
posta. O que justifica o envolvimento 
de recursos públicos avultados nestas 
empresas? Sei que dirão que a TAP é 
estratégica, e que a Efacec é estratégi-
ca, mas essa não é a forma de fazer po-
lítica pública – não sou eu que o digo, é 
a OCDE, por exemplo, 
no seu guia de boas prá-
ticas sobre compra de 
empresas com recursos 
públicos, no qual fala em 
análise custo-benefício. 
Sobre a TAP, por 
exemplo, eu posso intuir 
que o seu carácter estra-
tégico tem a ver com o 
papel da transportadora 
para a indústria do turis-
mo num país periférico no qual esse tu-
rismo valia 14% do PIB antes da pan-
demia. Mas nem essa intuição, nem a 
conversa emocional da companhia de 
bandeira que serve “a diáspora” e “a 
CPLP” e afins servem por si só para jus-
tificar o investimento de largas cente-
nas de milhões na TAP. 
A política prepara-se para repetir o 
erro do Novo Banco, no sentido em que 
não apresenta uma análise quantitati-
va sobre os cenários possíveis para as 
empresas – cenários todos eles maus, 
que levam à escolha da hipótese menos 
desfavorável para o Estado e o interes-
se colectivo. Este pode 
ser um argumento algo 
inocente, uma vez que as 
análises quantitativas 
podem ser dobráveis à 
vontade da política. 
Mas, ainda assim, é um 
mínimo olímpico de 
transparência e de res-
peito mostrar quais 
eram as opções, que cus-
tos tinham, o que moti-
vou a escolha. O Parlamento poderia 
fazer mais nesta frente, já para não fa-
lar no poder da palavra que o Presiden-
te da República tem, mas que infeliz-
mente desbarata. 
Este erro não é só importante pela 
opacidade na afectação de grandes re-
cursos públicos num país em que o cus-
to de oportunidade de não aplicar esse 
dinheiro noutro lado é enorme (com-
pare-se estes valores com os que o Go-
verno planeia gastar em saúde e educa-
ção em plena pandemia). O erro é es-
pecialmente relevante porque, quer na 
TAP quer na Efacec, a situação das em-
presas não é separável da influência da 
política. 
Na TAP, a política teve a ver com a 
privatização da empresa e a escolha 
destes accionistas privados, com a far-
sa que foi a recompra das acções em 
2016 (que, para fazer a “figura” de que 
o Estado tinha controlo estratégico da 
TAP tornou mais cara a saída de Nee-
leman da empresa em caso de naciona-
lização), com o acompanhamento que 
o Estado fez dessa gestão privada e, por 
fim, com o fracasso em demonstrar em 
Bruxelas a viabilidade da empresa. Na 
Efacec, tem a ver com o acolhimento 
totalmente acrítico que a política deu 
à entrada de dinheiro angolano de ori-
gem altamente incerta, neste caso di-
nheiro de Isabel dos Santos. 
No final ninguém se responsabili-
za, ninguém responde e ninguém escla-
rece qual o custo-benefício das opções 
tomadas. A pandemia terá as costas lar-
gas. Os contribuintes também.  
 
Artigo em conformidade 
com o antigo Acordo Ortográfico 
A
Dói muito? É “estratégico”, sr. contribuinte 
Quer na TAP 
quer na 
Efacec, a 
situação das 
empresas não 
é separável da 
influência da 
política. 
SEMPRE NO VERMELHO PROFUNDO 
Capitais próprios da TAP, em milhões de euros 
A situação financeira da TAP foi sempre extremamente 
frágil e não melhorou depois da privatização. 
A autópsia à gestão privada da TAP 
Fonte: Tribunal de Contas, TAP
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 SEXTA-FEIRA 
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 3 JUL 2020
ECONOMIA
O s trabalhadores in-dependentes que já fizeram descontos para a Segurança Social e que estão 
a receber o apoio à redução de 
atividade (que tem o valor míni-
mo de 219,4 euros) vão poder 
aderir ao novo apoio extraordi-
nário de 438,81 euros que será 
pago de julho a dezembro, escla-
receram ao Negócios deputados 
do PS. No entanto, a proposta 
implicará também novas obriga-
ções contributivas durante até 
três anos, pelo que deverão ava-
liar se a adesão compensa. 
Em causa está o apoio ex-
traordinário para trabalhadores 
independentes e da economia 
informal, que foi aprovado na vo-
tação da especialidade no âmbi-
to do Orçamento suplementar. 
Estão abrangidos os trabalhado-
res “que estejam em situação de 
desproteção económica e social 
e em situação de cessação de ati-
vidade, como trabalhadores por 
conta de outrem ou como traba-
lhador independente, por moti-
vo de paragem, redução ou sus-
pensão da atividade laboral ou 
quebra de, pelo menos, 40% dos 
serviços habitualmente presta-
dos”. 
A questão não tem sido clara 
porque o apoio se dirige, em pri-
meiro lugar, a quem não tem 
apoio nenhum. Por outro lado, 
numa entrevista ao Eco publica-
da na segunda-feira o vice-pre-
sidente da bancada do PS João 
Paulo Correia disse que este 
apoio não se aplicaria aos inde-
pendentes já cobertos pelo apoio 
em vigor. 
No entanto, a proposta apro-
vada na especialidade prevê ex-
pressamente que o novo apoio 
(de 438,81 euros) possa ser atri-
buído “em alternativa” aos 
apoios extraordinários que já 
existem, como os dos indepen-
dentes ou o dos informais. 
Questionado pelo Negócios 
sobre o sentido da norma que foi 
aprovada, o deputado João Pau-
lo Correia referiu esta quinta-
-feira que o sentido da proposta 
se foi consolidando durante o 
trabalho na especialidade e que 
o texto aprovado pressupõe “a 
migração” para o novo apoio. 
Também a deputada do PS 
Marina Gonçalves, que acompa-
nhou a votação na especialidade,responde que “um trabalhador 
com apoio no âmbito do artigo 
26.º do DL 10-A/2020, de 13 de 
março pode, por via do apoio que 
aprovamos, transitar para este 
novo regime”. 
 
E será que compensa? 
O apoio que já existe para os in-
dependentes termina em setem-
bro, não se sabendo ainda se será 
estendido, enquanto o novo ter-
mina em dezembro. No entanto, 
é preciso ter em conta que quem 
aderir ao novo subsídio de 
438,81 euros cria novas obriga-
ções contributivas por um prazo 
de 30 meses além do apoio. 
É que a proposta também diz 
que “a atribuição do apoio pres-
supõe a integração no sistema de 
Segurança Social, pelo menos, 
durante 30 meses findo o prazo 
de concessão do apoio”. A con-
tribuição equivale à do trabalha-
dor independente (21,4%) “com 
base, pelo menos, no valor de in-
cidência do apoio” (438,81 eu-
ros), o que dá cerca de 94 euros 
por mês. De julho a dezembro só 
se paga um terço deste valor, mas 
o remanescente deve ser pago ao 
longo dos doze meses de 2021, 
sem juros. 
A proposta inicial do PS pre-
SEGURANÇA SOCIAL 
Os independentes que já estão a receber apoio podem aderir à nova prestação de 439 euros, se esta for 
mais alta do que o que recebem, esclarecem os deputados do PS. Ficam, no entanto, com novas 
obrigações contributivas durante três anos, pelo que devem avaliar se compensa essa troca. 
Independentes podem 
trocar de apoio mas têm 
de ver se compensa 
O orçamento retificativo foi votado na especialidade esta semana. Esta sexta-feira vai a votação final global. 
Um trabalhador 
com apoio [pode] 
transitar para 
este novo regime. 
MARINA GONÇALVES 
Deputada do PS 
“
CATARINA ALMEIDA PEREIRA 
catarinapereira@negocios.pt 
via que a estes 30 meses de obri-
gação contributiva que come-
çam a contar em janeiro fossem 
subtraídos os meses de descon-
to que os independentes já têm. 
No entanto, a proposta que aca-
bou por ser corrigida durante a 
votação na especialidade é me-
nos favorável neste ponto, uma 
vez que limita a dedução, sendo 
apenas considerados os 12 me-
ses anteriores à data de conces-
são do apoio. 
Assim, um independente 
 SEXTA-FEIRA 
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 3 JUL 2020 
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 ECONOMIA 
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11
pode receber 2.632,86 euros 
de julho a dezembro. No entan-
to, numa situação limite, pode 
não ter rendimentos a partir de 
janeiro mas terá ainda de pagar 
a maior parte das contribui-
ções que ao longo de 36 meses 
totalizam 3.380 euros, caso 
não tenha tido descontos para 
a Segurança Social, ou 2.254 
euros, caso tenha tido descon-
tos nos doze meses anteriores 
ao apoio. 
Tudo depende das contri-
buições que tenha e das futuras 
perspetivas de trabalho, que 
nalguns casos a esta distância 
podem ser difíceis de avaliar. O 
deputado José Soeiro, do Blo-
co de Esquerda, que tinha uma 
proposta sem “período de fide-
lização”, tem vindo a alertar 
para o facto de a troca poder 
não compensar. 
“Contas feitas, as pessoas 
que entretanto não encontra-
rem um emprego poderão vir a 
pagar em contribuições um va-
lor superior ao apoio a receber, 
mesmo se, ao manter contri-
buições, estão a constituir di-
reitos futuros (acesso a subsí-
dio de desemprego, pensão de 
reforma, entre outros)”, lê-se 
num texto divulgado pelo Blo-
co de Esquerda. 
Também é possível a inscri-
ção no regime dos trabalhado-
res por conta de outrem ou no 
serviço doméstico com remu-
neração mensal, que têm re-
gras próprias. 
Além de se dirigir a traba-
lhadores informais, indepen-
dentes, e do serviço doméstico, 
a proposta abre a porta à inte-
gração de advogados e solicita-
dores, ao estabelecer que os 
trabalhadores abrangidos por 
sistema de proteção social di-
ferente do da Segurança Social 
também beneficiam do apoio, 
que é pago pelo respetivo siste-
ma. O Bloco de Esquerda viu 
aprovada uma proposta que al-
tera o próprio regulamento da 
Caixa de Previdência dos Ad-
vogados e Solicitadores. 
A proposta também revela 
que o Governo ainda vai regu-
lamentar o apoio.  
Pedro Simões
O novo apoio de 438 euros que 
será pago entre julho e dezem-
bro também se dirige a trabalha-
dores informais e a versão final 
da proposta do PS que acabou 
por ser aprovada na especialida-
de, no âmbito do Orçamento re-
tificativo, cria uma nova via para 
que estes trabalhadores denun-
ciem os empregadores respon-
sáveis pelo trabalho não decla-
rado. 
O novo apoio pode ser re-
querido mediante apresentação 
de documento comprovativo do 
trabalhador de rendimentos de 
trabalho (de 40% ou mais) ou 
através de uma declaração sob 
compromisso de honra. 
“Sempre que a declaração 
sob compromisso de honra indi-
que a existência de trabalho por 
conta de outrem não declarado, 
o serviço competente da Segu-
rança Social, além da ação de fis-
calização a que houver lugar, re-
mete a informação à Autorida-
de para as Condições do Traba-
lho para os devidos efeitos”, lê-
-se na proposta aprovada. 
A ideia é que a inspeção do 
trabalho possa responsabilizar 
o empregador pela situação de 
trabalho irregular e reclamar o 
pagamento integral dos salários 
e as contribuições para a Segu-
rança Social. O processo não 
será, no entanto, automático. 
De acordo com o deputado 
José Soeiro foi o Bloco de Es-
querda que propôs o aditamen-
to desta norma, que não consta-
va da proposta original do Parti-
do Socialista (PS). 
A ideia deste novo apoio foi 
apresentada em linhas gerais no 
âmbito do Programa de Estabi-
lização Económico e Social 
(PESS), em junho. 
A proposta que foi aprovada 
na especialidade, no Orçamen-
to suplementar, que é votado 
esta sexta-feira em votação final 
global, também prevê que o 
apoio seja regulamentado pelos 
membros do Governo responsá-
veis pelas áreas das finanças, Se-
gurança Social e justiça. 
A vinculação de trabalhado-
res não declarados tem como 
contrapartida a obrigatoriedade 
de descontos durante um perío-
do de 36 meses (ver texto à di-
reita), o que implica o pagamen-
to das respetivas contribuições. 
 
NISS na hora 
já teve 80 mil adesões 
Esta quinta-feira a ministra do 
Trabalho, Ana Mendes Godi-
nho, afirmou em entrevista ao 
Público e à Rádio Renascença 
que o número de Segurança So-
cial na Hora (NISS na hora), 
criado em janeiro, abrangeu até 
ao momento 80.700 pessoas 
que estavam “fora do sistema de 
Segurança Social e que entra-
ram no sistema”. 
O programa “NISS na hora” 
dirige-se a cidadãos estrangei-
ros que queiram exercer ativida-
de profissional por conta de ou-
trem, como trabalhadores do 
serviço doméstico ou como in-
dependentes. Também pode ser 
pedido pelas entidades empre-
gadoras.  
CATARINA ALMEIDA PEREIRA
Parlamento cria nova 
via para denunciar 
trabalho informal 
Os trabalhadores informais que percam 
rendimento vão poder denunciar o 
empregador quando pedem o novo apoio de 
438 euros. Informação segue para a ACT. 
A Autoridade 
para as 
Condições do 
Trabalho poderá 
verificar a 
denúncia e 
reclamar dívidas 
ao empregador. 
PSD e Bloco 
viabilizam 
hoje o 
retificativo 
A proposta de Orçamento re-
tificativo do Governo, que so-
freu algumas alterações no 
Parlamento, será aprovada 
esta sexta-feira com a absten-
ção do PSD e do Bloco de Es-
querda. Quanto ao PCP, vota-
rá contra a proposta, o que 
acontece pela primeira vez 
desde que António Costa é pri-
meiro-ministro. 
Depois da votação na espe-
cialidade que decorreu na quar-
ta e quinta-feira, os deputados 
reúnem-se esta sexta para a vo-
tação final. Tendo o PS 108 dos 
230 deputados, basta a absten-
ção do Bloco de Esquerda para 
que o diploma seja aprovado. 
Ainda assim, o PS conta com o 
conforto da abstenção do se-
gundo maior grupo parlamen-
tar, o PSD, sabe o Negócios. As 
declarações de Rui Rio e as vi-
tórias alcançadas pelo partido 
nas votações na especialidade 
apontam para que o partido via-
bilize o documento, confirmou 
fonte do partido ao Negócios. 
“Nós deixámos passar o Orça-
mento suplementar na genera-
lidade e provavelmente na vo-
tação global final por uma ques-
tão de interesse nacional. Era 
gravíssimo que oOrçamento 
suplementar chumbasse e o 
país ficasse sem meios finan-
ceiros para responder àquilo 
que é necessário”, afirmou o 
presidente do PSD no sábado 
passado. 
O Bloco de Esquerda ain-
da não se pronunciou sobre a 
votação final, mas a posição as-
sumida inicialmente não deixa 
margem para um chumbo. “A 
Mesa Nacional do Bloco de Es-
querda, esperando a inscrição 
dos avanços negociais (...) de-
cide viabilizar o Orçamento do 
Estado suplementar, fazendo 
depender o sentido de voto fi-
nal do aprofundamento do al-
cance das medidas relativas ao 
SNS, lay-off, subsídio de de-
semprego e proteção da habi-
tação”, lê-se na resolução de 7 
de junho.  ME 
12 
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 SEXTA-FEIRA 
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 3 JUL 2020
ECONOMIA
À medida que vai au-mentando o rasto de destruição da pande-mia de covid-19 no 
mercado de trabalho, este ganha 
também novas matizes. Se no iní-
cio, as vítimas foram sobretudo as 
mulheres, a situação inverteu-se 
em maio e junho, com os homens 
a ganharem uma posição destaca-
da nos empregos destruídos. Sete 
em cada dez empregos perdidos 
no trimestre centrado em maio 
eram detidos por homens. 
De acordo com as estimativas 
do Instituto Nacional de Estatísti-
ca (INE), entre o trimestre centra-
do em fevereiro e o centrado em 
maio foram destruídos 88 mil em-
pregos (sem ajustamento da sazo-
nalidade), dos quais 66 mil eram 
detidos por homens. Estes dados 
representam uma inversão com-
pleta face ao que se verificou nos 
primeiros meses da crise em que a 
esmagadora maioria dos empre-
gos eliminados pertenciam a mu-
lheres, tal como o Negócios escre-
veu há cerca de duas semanas. 
Com efeito, até abril, nove em 
cada dez empregos destruídos 
eram de mulheres, mostram os 
dados do INE, que reiterou ao Ne-
gócios que as estimativas sobre a 
desagregação dos empregos por 
sexo têm enorme segurança. Se 
recuarmos a março, a tendência 
era a mesma: 88% dos empregos 
desaparecidos eram femininos. 
Embora o INE confirme esta 
tendência de destruição de em-
pregos por género – primeiro nas 
mulheres e agora nos homens –, 
não cabe ao organismo oficial de 
estatísticas avançar explicações 
para o fenómeno. No entanto, é 
provável que a justificação resida 
sobretudo num fator que distin-
gue esta crise das precedentes: o 
encerramento das escolas. 
O Governo mandou encerrar 
todas as escolas do país a partir de 
16 de março. Sem terem onde dei-
xar as crianças, é provável que al-
gumas famílias tenham sido obri-
gadas a prescindir de um dos em-
pregos. Tendo as mulheres ainda 
hoje um papel mais relevante no 
cuidado às crianças e tendo mui-
tas vezes empregos mais mal re-
munerados, é possível que tenham 
sido estas a sacrificar primeiro o 
seu emprego, sobretudo nos seto-
res com mais informalidade, que 
acaba por impedir o acesso aos 
apoios da Segurança Social. 
Curiosamente, os dados do 
Instituto do Emprego e Formação 
Profissional não denotam estas di-
ferenças por género na destruição 
do emprego. Ao longo de março, 
abril e maio, as inscrições de ho-
mens e mulheres nos centros de 
emprego caminharam lado a lado, 
numa proporção idêntica. 
No entanto, vale a pena lem-
brar que os dados do IEFP têm 
uma natureza distinta dos do INE. 
Além de serem registos adminis-
trativos, estes números do IEFP 
revelam o número de pessoas que 
se inscreveram nos centros de em-
prego para poderem receber o 
subsídio de emprego e/ou porque 
ambicionam encontrar novo em-
prego. Já os dados do INE, além 
de resultarem de inquéritos a 
amostras representativas da po-
pulação empregadas, dizem res-
peito à variação do número de em-
pregos, desagregados, neste caso, 
por sexo. 
 
Mulheres prestes a 
tornarem-se maioritárias 
Os homens continuam a ser uma 
posição maioritária na população 
empregada, mas a diferença é, nes-
te momento, muito pequena. O di-
ferencial era enorme até à crise fi-
nanceira mas depois disso redu-
ziu-se de forma substancial, man-
tendo a distância estável ao longo 
dos últimos anos em que o merca-
do de trabalho foi recuperando. 
Resta saber agora como ficará 
a distribuição do emprego com 
esta nova crise. Neste momento, e 
depois da forte destruição de em-
pregos masculinos em maio, a di-
ferença é de apenas 68 mil num to-
tal de 4,66 milhões de empregos. 
MERCADO DE TRABALHO 
Epidemia chegou em força ao 
emprego dos homens em maio 
As mulheres foram as primeiras a sentir as ondas de choque da epidemia no mercado 
de trabalho, mas a situação inverteu-se rapidamente. Sete em cada dez empregos 
destruídos no trimestre centrado em maio eram de homens. 
MANUEL ESTEVES 
mesteves@negocios.pt 
PRIMEIRO AS MULHERES, DEPOIS OS HOMENS 
Número de empregos destruídos, desagregados entre homens e mulheres (em milhares) 
A crise no mercado de trabalho provocada pela pandemia sentiu-se primei-
ro nas mulheres. Em março, mas também em abril, 90% dos empregos des-
truídos eram de mulheres. No trimestre centrado em maio, 70% eram mas-
culinos e, por serem muitos, isso equilibrou a distribuição por sexo. 
Fonte: INE.
MULHERES PESAM CADA VEZ MAIS NO EMPREGO 
Número de empregos detidos por mulheres e homens (em milhares) 
O diferencial entre homens e mulheres na população empregada reduziu-
-se de forma muito significativa na crise financeira cujos efeitos no mer-
cado de trabalho se prolongaram até 2013. Depois, a distância estabilizou 
e resta saber o que acontecerá após a atual crise. 
Fonte: INE.
68 
DIFERENCIAL 
Neste momento, 
há apenas mais 
68 mil homens 
do que mulheres na 
população empregada. 
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CÉU ABERTO
UNIÃO EUROPEIA
Fundo Europeu de
Desenvolvimento Regional
SÉRIE 5 DIAS
GOVERNAÇÃO DO BANCO DE PORTUGAL 
A lei diz que o governa-dor do Banco de Por-tugal é “inamovível”, que só em circunstân-
cias muito específicas, que nun-
ca foram aplicadas, pode ser exo-
nerado pelo Governo. E diz tam-
bém que a instituição goza de 
“autonomia”. Mas no terreno 
contam-se histórias um pouco 
diferentes. Ao longo da vida da 
instituição, muitos foram os epi-
sódios de tensão entre o banco 
central e o Executivo que mos-
tram as consequências de rela-
ções demasiado próximas – ou 
excessivamente frias – entre os 
dois centros de poder. 
Muitos dos episódios de dis-
cordância ou de tentativa (frus-
trada ou conseguida) de influen-
ciar as decisões do regulador sur-
giram com a resolução do Ban-
co Espírito Santo (BES) e a cria-
ção do Novo Banco. E os proble-
mas começaram ainda antes da 
queda da instituição financeira. 
Conta uma fonte, que pediu para 
não ser identificada, que o valor 
da injeção de 4,9 mil milhões de 
euros feita no Novo Banco, 
aquando da divisão do BES em 
banco bom e banco mau, teve in-
terferência direta do Governo e 
da então ministra das Finanças, 
Maria Luís Albuquerque. 
Apesar de o ónus do montan-
te ser assumido pelo BdP, a mi-
nistra terá pressionado para que 
a injeção não fosse mais avulta-
da, desde logo, pela perceção da 
restrição financeira que existia 
ainda em 2014. Portugal tinha 
decidido sair do programa de 
resgate da troika sem apoio cau-
telar apenas uns meses antes, em 
maio, e tinha uma pressão enor-
me para mostrar credibilidade 
perante os mercados. 
Contactada, Maria Luís Albu-
querque recusou fazer quaisquer 
comentários sobre o assunto, fri-
sando que já disse tudo o que ti-
nha a dizer no âmbito da comis-
são de inquérito parlamentar. 
Mas as divergências no caso 
BES não ficaram por ali. Tam-
bém no desenho do plano sobre 
o que fazer com o Novo Banco, 
várias fontes contam ao Negó-
cios que o BdP tinha inicialmen-
te uma ideia diferente. Por 
exemplo, não estaria nas inten-
ções do supervisor fazer uma 
venda rápida do Novo Banco – 
isso não foi abordado no fim de 
semana de 2 e 3 de agosto, quan-
do a resolução foi decidida, ga-
rante uma fonte próxima do pro-
cesso. A ideia da venda rápida 
terá sido do governo de Passos 
Coelho e acabou por vingar. 
 
Tensão continua com Costa 
Mais tarde, no primeiro manda-
to de António Costa, o Novo 
BdP é independente na lei, 
mas não selivra de tensões 
Na lei a 
independência 
está consagrada, 
mas no terreno 
as interferências 
e as pressões vão 
surgindo ao sabor 
da gravidade 
dos acontecimentos. 
MARGARIDA PEIXOTO 
margaridapeixoto@negocios.pt 
Ainda ministro das Finanças, Mário Centeno acusou o governador do Banco de Portugal Carlos Costa – a quem deve suceder – de falha de informação grave no caso Banif. 
14 
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 SEXTA-FEIRA 
|
 3 JUL 2020
3.ª feira 
As propostas no 
Parlamento
5.ª feira 
Os bancos 
centrais
6.ª feira 
Independência
2.ª feira 
Os casos
4.ª feira 
Os governadores 
e os 
administradores
Banco volta a ser motivo de for-
tes atritos. No final de 2015, o 
banco estava descapitalizado e 
só se vislumbravam duas opções: 
ou reforçar a instituição finan-
ceira, com nova intervenção do 
Fundo de Resolução, ou passar 
dívida do banco bom para o mau. 
A solução, adotada em de-
zembro, de passar algumas obri-
gações do perímetro do Novo 
Banco para o BES foi ideia do 
Banco de Portugal, mas muito 
controversa. O Governo de An-
tónio Costa sofreu com ela: no 
arranque do seu mandato, num 
momento em que precisou de 
conquistar a confiança dos in-
vestidores, Portugal comprou 
uma guerra com fundos de inves-
timento como a Pimco e a 
BlackRock. 
Apesar de só ter tomado pos-
se em novembro, este era já o se-
gundo tropeção do Executivo do 
PS com Carlos Costa, o governa-
dor que foi escolhido por José 
Sócrates, mas reconduzido con-
tra a vontade dos socialistas pou-
co antes de o Executivo de Pas-
sos Coelho e Paulo Portas termi-
nar o mandato. 
O primeiro embate tinha sido 
também em dezembro, a propó-
sito da resolução do Banif. Na 
quarta-feira seguinte à notícia da 
TVI que põe em causa o futuro do 
banco, o Banco Central Europeu 
retirou ao Banif o acesso a linhas 
de liquidez, uma informação que 
o Governo diz não ter recebido 
por parte do Banco de Portugal. 
Mais tarde, quando veio a pú-
blico que a iniciativa tinha parti-
do do próprio BdP, Ricardo 
Mourinho Félix, então secretá-
rio de Estado Adjunto, do Tesou-
ro e das Finanças, acusou o go-
vernador de “falha de informa-
ção grave”, uma expressão pró-
xima da “falta grave”, o único 
motivo que pode justificar a exo-
neração. O então ministro das 
Finanças, Mário Centeno, rea-
firmou a acusação de que Carlos 
Costa tinha cometido uma “fa-
lha grave de transmissão de in-
formação”, o que deu gás ao PCP 
e ao BE para pedirem a demis-
são de Carlos Costa. 
 
A saga dos dividendos 
Outro motivo de discórdia fre-
quente tem a ver com a entrega 
de dividendos por parte do Ban-
co de Portugal ao Estado. Duas 
fontes contam ao Negócios que 
desde o primeiro orçamento de 
Mário Centeno que a pressão 
para aumentar os montantes foi 
sempre muito forte. 
As entregas referentes a 
2016, 2017 e 2018 foram sempre 
em crescendo até atingirem 645 
milhões de euros. Em maio des-
te ano, o banco central liquidou 
607 milhões de euros a favor do 
Estado, referentes a 2019. Os va-
lores foram preciosos para cum-
prir o objetivo de baixar o défice 
orçamental. 
Mas uma terceira fonte asse-
gura que a pressão não foi um ex-
clusivo do Governo de António 
Costa. Já no tempo de Passos 
Coelho existia, “a diferença é que 
no anterior governo o BdP não 
aceitou”, diz. 
 
A demissão de um vice 
Mas na história do BdP, ainda 
antes de a independência estar 
tão consagrada na lei como 
atualmente, há um episódio co-
nhecido de alta tensão. Passou-
-se em 1993, era Miguel Beleza 
governador do Banco de Portu-
gal, António Borges o seu vice, 
Braga de Macedo o ministro das 
Finanças. O governo pedia uma 
política de desvalorização do es-
cudo, mas António Borges pros-
seguia com a tese do “escudo for-
te”. Um dia, na cerimónia da to-
mada de posse de um novo ges-
tor do BdP, Braga de Macedo 
acusa o regulador de ignorar a 
economia real. António Borges 
sentiu as palavras do ministro 
como uma tentativa de ingerên-
cia e demitiu-se, em conflito com 
o Executivo. 
Miguel Beleza permaneceu 
ainda até 1994, chegando a tra-
balhar com Eduardo Catroga, 
mas por pouco tempo. O ex-mi-
nistro das Finanças nega ao Ne-
gócios que a saída de Beleza te-
nha acontecido por divergências 
de política. “Não houve grandes 
tensões, houve uma coordena-
ção na política monetária”, asse-
gura Catroga. “Desvalorizar o es-
cudo era uma decisão partilha-
da”, frisa, lembrando que foi pre-
ciso procurar a estabilidade 
cambial para o processo de ade-
são ao euro. 
Catroga diz que Beleza colo-
cou o lugar à disposição por mo-
tivos pessoais e lembra que na-
quela altura, ainda antes das al-
terações à lei orgânica do BdP 
que viriam a conferir mais auto-
nomia ao governador e ao banco 
central, era suposto haver uma 
coordenação próxima com o 
Executivo.  
Miguel Beleza, então governador, e o vice António Borges tiveram momentos de tensão com Braga de Macedo. 
É de facto 
surpreendente que 
[a informação] não 
tenha sido transmitida 
na altura devida. (...) 
É uma falha grave 
que nós reputamos 
de falha grave 
de transmissão 
de informação. 
MÁRIO CENTENO 
Ex-ministro das Finanças, em 2016 
 
Não houve grandes 
tensões, houve 
uma coordenação 
na política monetária. 
EDUARDO CATROGA 
Ex-ministro das Finanças, sobre a 
sua relação com Miguel Beleza, ex-
-governador do Banco de Portugal.
“
Ainda ministro das Finanças, Mário Centeno acusou o governador do Banco de Portugal Carlos Costa – a quem deve suceder – de falha de informação grave no caso Banif. 
Miguel Baltazar
Jorge Paula
 SEXTA-FEIRA 
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 EMPRESAS 
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 3 JUL 2020
SÉRIE 5 DIAS
GOVERNAÇÃO DO BANCO DE PORTUGAL
N ão é só o Governo que pode exercer pressão sobre as decisões do Banco de Portugal 
(BdP). Também o banco central 
tem ferramentas que interferem 
de forma quase direta no desem-
penho do Executivo – mesmo ten-
do em conta que as políticas cam-
bial e monetária já estão centrali-
zadas a nível europeu. 
Desde logo, a credibilidade 
que o banco foi construindo con-
fere um poder valioso ao seu de-
partamento de “research” econó-
mico. “O Banco de Portugal pode 
ter um papel de oposição pela pa-
lavra”, lembra um economista, 
que já lidou de perto com o banco 
central, ao Negócios. A análise 
económica e as projeções que o 
banco vai publicando são uma for-
ma de ancorar ou tirar o tapete às 
medidas de política que estejam a 
ser decididas pelo Executivo. 
Por exemplo, em junho, o BdP 
publicou projeções para a reces-
são esperada este ano que põem 
em causa o cenário macroeconó-
mico subjacente ao Orçamento do 
Estado (OE) suplementar. Isso 
alimentou as críticas da oposição, 
que questionou o novo ministro 
das Finanças, João Leão, sobre se 
poderia garantir que a retificação 
à lei do OE será suficiente para as-
segurar as necessidades de finan-
ciamento esperadas até ao final de 
2020. 
É que o Governo projetou uma 
recessão de 6,9% para o PIB, en-
quanto o BdP diz que a contração 
será, pelo menos, de 9,5%, a pior 
desde 1928. Num cenário mais ad-
verso, que admite uma nova vaga 
da pandemia no outono, com ne-
cessidade de reintroduzir medi-
das de confinamento, a recessão 
poderá atingir os 13,1%. 
Com o mandato a chegar ao 
fim (termina agora a 10 de julho), 
os custos de Carlos Costa assumir 
uma projeção bastante mais nega-
tiva que o Executivo são diminu-
tos, lembra o mesmo economista. 
A política macroprudencial é 
outra forma que o BdP tem de in-
terferir no sistema financeiro com 
uma ligação direta à economia. 
Por exemplo, o banco central pode 
impor medidas que restringem a 
concessão de crédito por parte da 
banca, limitando o crescimento do 
consumo. Também pode pressio-
nar diretamente os bancos a resol-
ver problemas de grandes empre-
sas, sob pena de lhes exigir a cons-
tituição de mais provisões para co-
brir riscos dos ativos. 
Já os governos não podem 
pressionar a banca nos mesmos 
moldes, ficando mais limitados se 
o banco central for avesso às suas 
ideias, ou beneficiados se o enten-
dimento fluir. 
“Aindependência do BdP foi 
uma das condições, ainda antes 
dos critérios de Maastricht, para 
Portugal aderir ao euro”, frisa Pe-
dro Braz Teixeira, economista e 
diretor do gabinete de estudos do 
Fórum para a Competitividade, 
sublinhando a importância de a 
política monetária ser indepen-
dente do Governo. 
“O poder da palavra que os 
bancos centrais têm pode ser mui-
to construtivo”, reforça, lamentan-
do que o BdP tenha sido demasia-
das vezes “omisso” nesta forma de 
poder, nomeadamente no que diz 
respeito às reformas necessárias 
para promover o crescimento eco-
nómico. 
As projeções do Banco de Portugal para a economia colocam pressão sobre João Leão, novo ministro das Finanças.
Manuel de Almeida/Lusa
BdP também 
pode afetar 
política 
do Governo 
O “poder da palavra” do Banco 
de Portugal é uma forma de 
interferir diretamente na economia, 
nomeadamente no momento de fazer 
projeções económicas. Mas há mais. 
MARGARIDA PEIXOTO 
margaridapeixoto@negocios.pt 
O poder da palavra 
que os bancos centrais 
têm pode ser muito 
construtivo. 
PEDRO BRAZ TEIXEIRA 
Economista e coordenador 
do gabinete de estudos do 
Fórum para a Competitividade 
“
O BdP opôs-se a vários pontos da re-
forma da supervisão financeira de-
sejada por Mário Centeno. Nomea-
damente, à sujeição do banco à fis-
calização da Inspeção-Geral de Fi-
nanças, um serviço na dependência 
do Ministério das Finanças. O Exe-
cutivo garantia que era uma mera 
clarificação da lei, mas os peritos do 
BdP entendiam que seria uma por-
ta aberta à ingerência do Executivo 
nas matérias do Banco. A reforma 
demorou muito e acabou por cair. 
A oposição forte e 
a reforma que caiu 
3.ª feira 
As propostas no 
Parlamento
5.ª feira 
Os bancos 
centrais
6.ª feira 
Independência
2.ª feira 
Os casos
4.ª feira 
Os governadores 
e os 
administradores
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 SEXTA-FEIRA 
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 3 JUL 2020
EMPRESAS
C omeçou discreto e com poucas partilhas, mas rapidamente se tornou viral. Até esta quinta-
-feira, pelo menos 530 empresas 
já tinham “desamigado” o Face-
book da sua lista de gastos com pu-
blicidade. A marcas como a Coca-
-Cola, a Adidas ou a Ford junta-
ram-se nas últimas horas a Lego, 
a Sony e a Target. 
O golpe de Estado virtual e 
temporário, patrocinado pelo 
grande capital, pretende que 
Mark Zuckerberg tome medidas 
contra a maré de ódio e desinfor-
mação que passou a inundar a 
rede social mais popular do mun-
do. Dois anos depois do escânda-
lo com a Cambridge Analytica, 
conseguirá o Facebook sobreviver 
intacto a mais uma polémica? 
Para Rita Figueiras, este é mais 
um capítulo da já longa crise repu-
tacional em que o Facebook mer-
gulhou nos últimos anos. “Não dá 
para comparar a situação atual 
com a da Cambridge Analytica, 
ainda que sejam manifestações di-
ferentes do mesmo problema”, 
aponta a investigadora em Comu-
nicação Política e professora da 
Universidade Católica. 
Se com a Cambridge Analyti-
ca esteve em causa a privacidade 
e a recolha de dados sem o consen-
timento dos utilizadores, “ e a cul-
pa pôde ser diretamente atribuí-
da ao Facebook”, desta vez a bom-
ba rebentou no seio da sociedade 
norte-americana, e levou a rede 
por arrasto. 
A morte de George Floyd às 
mãos da polícia acendeu o rasti-
lho do movimento “Stop Profit for 
Hate” (chega de dar lucro ao 
ódio), mas o facto de haver elei-
ções nos EUA dentro de poucos 
meses não será alheio à proporção 
que o manifesto “antiódio” tomou, 
consideram os especialistas. 
“O Facebook não pode ser res-
ponsabilizado pelos problemas 
sociais dos EUA nem pela polari-
zação crescente, a meses das pre-
sidenciais”, diz Rita Figueiras, mas 
“é claro que a forma como a rede 
gere os fluxos de informação con-
tribui para acentuar tendências 
que já existem na sociedade. Não 
há uma causa-efeito, é uma rela-
ção dinâmica”. 
 
Anunciantes “vão regressar” 
O algoritmo volta a ser o inimigo 
a abater. “O que está aqui em cau-
sa é o facto de, supostamente, o al-
goritmo do Facebook dar prima-
zia a conteúdos polémicos, por-
que geram mais partilhas, mais in-
teração e, consequentemente, 
mais publicidade”, explica Fer-
nando Batista, presidente da As-
sociação de Marketing Digital. 
Apesar da pressão para agir, à 
semelhança do que fez o Twitter, 
que passou a sinalizar possíveis 
notícias falsas, Zuckerberg tem-
-se mantido irredutível. “Não mu-
daremos as nossas políticas pelo 
facto de uma pequena parte da 
nossa receita ou qualquer percen-
tagem da nossa receita estar 
ameaçada. Acredito que todos os 
anunciantes vão regressar breve-
mente à plataforma”, disse esta se-
mana o fundador da rede social 
aos funcionários do Facebook, se-
gundo o site especializado em tec-
nologia “The Information”. 
Uma posição que se coaduna, 
diz Rita Figueiras, com o poder 
desmesurado que a plataforma 
conquistou na última década e 
meia, “graças a vazios legais, por-
que as nossas leis estavam feitas 
para uma sociedade analógica”. 
“Os grandes anunciantes, 
como estes que agora aderiram ao 
boicote, sempre tiveram um gran-
de poder negocial face aos meios 
de comunicação. E com as tecno-
lógicas não têm. A dificuldade que 
a Europa e os EUA têm sentido 
em produzir legislação que regu-
le a ação destas empresas espelha 
bem o poder que elas têm.” Para a 
docente, só com legislação será 
possível “ter algum controlo sobre 
o comportamento destas empre-
sas, e responsabilizá-las”. 
O sentimento de impunidade 
conquistado por Zuckerberg está 
também espelhado na declaração 
que proferiu aos trabalhadores, re-
ferem os especialistas. É que, ape-
sar do boicote de 530 grandes 
marcas, o Facebook conta com 
mais de oito milhões de anuncian-
tes, e são os pequenos e médios a 
base das suas receitas. “E estes não 
vão aderir ao boicote, porque, de 
todas as redes, o Facebook é a que 
tem a maior taxa de conversão 
para as marcas”, refere Fernando 
Batista. 
 No ano passado, a empresa fa-
turou 62 mil milhões de euros em 
publicidade, o que tem levado os 
analistas a classificar o protesto 
como simbólico, pelo menos ao 
nível do impacto financeiro. 
“Isto está longe de ser uma 
questão financeira”, corrobora 
Carlos Coelho, presidente da Ivity 
O fundador do Facebook, Mark Zuckerberk, afirma que a rede não mudará a sua política.
REDES SOCIAIS
Boicote de marcas 
enfraquece 
Facebook mas só 
a lei o pode travar 
Centenas de marcas estão a suspender a publicidade 
no Facebook, em protesto contra a disseminação 
de conteúdos de ódio e notícias falsas. Especialistas 
acreditam que a maior rede social do mundo só poderá 
ser responsabilizada através de legislação. 
ANA SANLEZ 
anasanlez@negocios.pt 
530 
BOICOTE NOS EUA 
Já são mais de meio 
milhar as marcas que se 
juntaram ao movimento 
#StopHateforProfit, que 
contesta as políticas de 
moderação do Facebook.
 SEXTA-FEIRA 
|
 3 JUL 2020 
|
 EMPRESAS 
| 
19
De um lado a Coca-Cola, a Mi-
crosoft e a Starbucks. Do outro, 
uma rede social que chega a qua-
se metade da população mun-
dial. Um embate de Golias con-
tra Golias, que ainda agora co-
meçou. O que leva, afinal, algu-
mas das maiores marcas do 
mundo a unirem-se em torno de 
um inimigo virtual comum? 
“Uma das características 
deste movimento é o facto de ser 
liderado por marcas que têm 
opinião própria, quando a maior 
parte delas não tem. A maioria 
das marcas limita-se a vender 
coisas. Mas cada vez mais os 
consumidores exigem saber o 
que as marcas defendem, e não 
só, o que vendem”, resume Car-
los Coelho, presidente da Ivity 
Brand Corp e especialista em 
marcas. 
Quando começou a ver os 
primeiros sinais do movimento 
contra o Facebook, o responsá-
vel percebeu que a história esta-
va a ser feita. Pela primeira vez, 
ummovimento organizado de 
gigantes da publicidade decide 
dizer não à segunda maior mon-
tra de anúncios do mundo (a pri-
meira é o Google). 
A polarização de opiniões 
nas redes tornou-se demasiado 
forte, considera Rita Figueiras, 
professora da Universidade Ca-
tólica, e fez soar os alertas. “As 
grandes marcas não têm interes-
se em ver os seus produtos asso-
ciados a conteúdos divisivos. Até 
podem ter preocupações sociais 
genuínas mas, no fundo, interes-
sa-lhes estar numa plataforma 
que as aproxime do maior nú-
mero possível de pessoas, não 
que as aproxime de umas e afas-
te de outras”. 
E não é pela falta de publici-
dade que as marcas vão deixar 
de vender, sustentam. “A Coca-
-Cola ou a Starbucks não ven-
dem bebidas no Facebook, ven-
dem estilos de vida. Não acredi-
to que terão um decréscimo nas 
vendas por desaparecerem tem-
porariamente das redes. Pelo 
contrário, isto pode funcionar 
como uma campanha de rela-
ções públicas muito forte, que 
pode trazer mais reconhecimen-
to do que muitos anúncios. As 
empresas estão a passar uma 
ideia de responsabilidade so-
cial”, destaca Fernando Batista, 
presidente da Associação de 
Marketing Digital. 
É essa a mensagem que as 
marcas têm tentado passar. A 
Volkswagen anunciou a suspen-
são dos anúncios no Facebook e 
no Instagram, que também per-
tence a Mark Zuckerberg, du-
rante o mês de julho, argumen-
tando que “o ódio e a desinfor-
mação perigosa não devem pas-
sar incólumes”. Uma ideia se-
melhante foi transmitida pela 
Adidas e a Reebok, segundo as 
quais, “conteúdos racistas, dis-
criminatórios e de ódio não têm 
lugar na nossa marca nem na 
nossa sociedade”. 
A Unilever, uma das maiores 
anunciantes do mundo e dona 
de marcas como a Dove ou a 
Lipton, foi mais longe, ao cortar 
a publicidade das redes até ao 
fim do ano, por considerar que 
as plataformas digitais “não es-
tão a acrescentar valor às pes-
soas nem à sociedade”. 
Fernando Batista acredita 
que o movimento não vai ficar 
por aqui, e que ao longo dos pró-
ximos dias é provável que se tor-
ne global, e não apenas centrali-
zado nos Estados Unidos. “Acre-
dito que até em Portugal há mar-
cas que facilmente poderiam 
juntar-se ao protesto”, atira, sem 
dar exemplos. 
Apesar de não duvidar da in-
tenção legítima de algumas mar-
cas, e das suas preocupações so-
ciais, Fernando Batista não tem 
dúvidas de que, em alguns casos, 
o boicote “não passa de uma es-
tratégia de marketing”. Para ou-
tras, “é a pressão de pares “, que 
é “muito forte nos EUA”, que está 
a criar o efeito bola de neve. “Se 
a Apple aderisse ao movimento, 
outras tecnológicas iriam atrás.” 
Mas na maior parte dos ca-
sos, os especialistas creem que a 
adesão em massa tem que ver 
com o facto “de as marcas terem 
percebido que o consumo é cada 
vez mais ideológico e que, por 
isso, têm de assumir posições, 
caso contrário, não têm razão de 
existir”, considera o líder da 
Ivity. Para Carlos Coelho, “as 
marcas globais são demasiado 
importantes para estarem cala-
das e a publicidade não pode ser 
apenas entretenimento”.  
ANA SANLEZ
“Há marcas portuguesas que 
poderiam juntar-se ao protesto” 
A Unilever suspendeu os anúncios no Facebook até ao fim do ano. 
O fundador do Facebook, Mark Zuckerberk, afirma que a rede não mudará a sua política.
Afolabi Sotunde/Reuters
Stephen Lam/Reuters
“
Cada vez mais os 
consumidores exigem 
saber o que as marcas 
defendem, e não 
apenas o que vendem. 
CARLOS COELHO 
Presidente da Ivity Brand Corp 
 
 
A Coca-Cola ou a 
Starbucks não vendem 
bebidas, vendem 
estilos de vida. Não 
terão um decréscimo 
nas vendas por 
desaparecerem 
temporariamente 
das redes. 
FERNANDO BATISTA 
Presidente da Associação 
de Marketing Digital 
“
Brand Corp e especialista em 
marcas. “Mark Zuckerberg tem-
-se comportado como a camisa 
branca da internet, que vai bem 
com tudo e agrada a toda a gente. 
Mas chegámos a um momento 
em que vai ter de tomar uma po-
sição”, aponta o especialista. 
Para Carlos Coelho, o poder 
que o fundador do Facebook con-
quistou “confere-lhe uma enorme 
responsabilidade, e não basta con-
tinuar a advogar eternamente a 
defesa da liberdade de expressão”. 
Caso contrário, conclui o especia-
lista, aquele que é o homem com 
mais amigos do mundo “corre o 
sério risco de perder a sua confian-
ça”.  
Fechar a torneira da publicidade foi a forma que as marcas encontraram 
para pressionar o Facebook a mudar de política. Especialistas em marketing 
defendem que a adesão ao boicote pode beneficiar imagem das empresas. 
E ntre 1 de julho de 2020 e 20 de setembro estão abertas as candidatu-ras à 9.ª edição do Pré-
mio Saúde Sustentável, uma ini-
ciativa do Negócios e da Sanofi, 
orientada para a divulgação e in-
centivo de boas práticas da sus-
tentabilidade da saúde em Portu-
gal, que conta com metodologia 
de avaliação desenvolvida pela 
Everis. 
A edição deste ano, por deci-
são unânime do júri, será dedica-
da à partilha das boas práticas em 
contexto de covid-19, com o obje-
tivo de reconhecer e distinguir 
projetos ou instituições que se te-
nham destacado na luta contra a 
pandemia que desde março inva-
diu Portugal. 
É a primeira vez que o Prémio 
Saúde Sustentável, que teve a sua 
primeira edição em 2012, é dedi-
cado a um tema. Como diz Fran-
cisco del Val, general manager da 
Sanofi, “a expectativa em relação 
a esta edição especial é elevada e 
acreditamos que seremos agrada-
velmente surpreendidos com can-
didaturas de excelência. Existem 
muitas instituições com projetos 
altamente diferenciadores e equi-
pas dedicadas que têm sido certa-
mente determinantes no comba-
te à pandemia”. 
Este ano, o Prémio Saúde Sus-
tentável reparte-se por cinco ca-
tegorias: Prevenção e Promoção 
da Saúde, Cuidados de Saúde 
Centrados no Cidadão, Promoção 
e Sustentabilidade Económica, 
Integração de Cuidados e Inova-
ção e Transformação Digital. É 
ainda atribuído por decisão do 
júri, o Prémio Personalidade, que 
distinguirá quem se tenha desta-
cado na promoção de práticas sus-
tentáveis na área da saúde, em 
contexto covid-19. 
 
69 prémios em oito edições 
O prémio tem divulgado e incen-
tivado as melhores práticas para a 
sustentabilidade da saúde em Por-
tugal e premiado anualmente ins-
tituições prestadoras de cuidados 
de saúde. Ao longo destas oito edi-
ções premiaram-se personalida-
des relevantes na área dos cuida-
dos de saúde, da investigação e da 
prática da medicina como José 
Pereira Miguel, Odete Santos-
-Ferreira, João Lobo Antunes, 
Manuel Sobrinho Simões, João 
Rodrigues Pena, Francisco Geor-
ge, Fernando Pádua e Cristina Re-
sende de Oliveira. 
Nas suas várias categorias, 
que foram sofrendo evoluções ao 
longo do tempo, foram distingui-
das 56 instituições de vários pon-
tos do país. Entre vencedores (35) 
e menções honrosas (34) já foram 
entregues 69 prémios. Destacam-
-se o Centro Hospitalar de 
Gaia/Espinho e a USF Marginal 
com três distinções, depois, com 
duas distinções, o Centro Hospi-
talar do Porto, Centro Hospitalar 
e Universitário de Coimbra, Hos-
pital CUF Descobertas, Hospital 
de Braga, Hospital da Figueira da 
Foz, IPO do Porto, Santa Casa da 
Misericórdia de Arcos de Valde-
vez, ULS de Matosinhos, USF de 
Valongo, e ULS do Litoral Alen-
tejano. Apenas por uma vez, na 
edição de 2013 houve uma parti-
lha de prémio entre o Centro 
Hospitalar de São João e a ULS 
Matosinhos na categoria de Cui-
dados Hospitalares. 
Estas oito edições ajudam a 
compreender e mostram a evo-
lução da saúde em Portugal, em 
particular do Serviço Nacional 
de Saúde. Como referia Cristina 
Resende de Oliveira, a persona-
lidade eleita em 2019, “a saúde é 
um dos fatores mais importan-
tes para a estabilidade social e 
económica de qualquer país. 
Uma população com saúde é 
fundamental para o trabalho e 
para o progresso da sociedade”. 
Acrescentava que “a existência 
de um SNS como o nosso, que 
permite que o indivíduo inde-
pendentemente da sua condição 
de nascimento tenha iguais pers-
petivas de atendimento

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