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DIREITO CIVIL IV: DIREITOS REAIS (das Coisas) Prof. Luís Eduardo Lessa Ferreira Doutorando em Direito Privado - UFPE Mestre em Direito Privado - UFPE RECIFE, 2019. Conteúdo Programático 1.1. Conceito 1.2. Características 1.3. Classificação 1.4. Diferença entre direitos reais e obrigacionais 1.5. Objeto do direito das coisas 1.6. Sujeitos 1.7. Obrigação propter rem Direito das coisas x Direitos Reais a) Direito das coisas.: Conteúdo de relações jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas determinadas ou determináveis. COISAS é tudo aquilo que não é humano. // Clóvis Bevilacqua, Silvio Rodrigues, WBM, MHD, Rizzardo, Paulo Lôbo. L.C. Penteado. b) Direitos Reais.: Conjunto de categorias relacionados à propriedade. Formam o conteúdo principal de Direito das Coisas, mas não exclusivamente. Existem institutos que compõem o D. das Coisas e que não são direitos reais. // Caio Mário, Orlando Gomes, CC de Farias e N Rosenvald. Prefere-se Direito das Coisas... … Pois, explica todas as relações jurídicas estudadas na disciplina. Depois, por que o Código Civil de 2002 adotou a nomenclatura “Direito das Coisas”. 1.1 Conceito Nas palavras de Orlando Gomes, O Direito das Coisas regula o poder dos homens sobre os bens e os modos de sua utilização econômica. (GOMES, Orlando. Direitos reais. 14ª ed., atualizada por Humberto Theodoro Júnior. p. 1. Rio de Janeiro: Forense, 1999). É de se frisar que bem consiste na coisa útil e rara, suscetível de apropriação pelo homem. “É o campo do direito patrimonial cujas regras tratam do poder dos homens sobre as coisas apropriáveis.” Conceito Objeto: As coisas apropriáveis são aquelas úteis e raras que podem ser objeto de propriedade, diante do interesse econômico que elas despertam. Excluem-se os bens abundantes, sem valoração econômica (ex: água do mar, o ar atmosférico, luz solar.. obs: energia solar tem valor, todavia permanece com a característica de ser abundante). A coisa pública também não é apropriável. (ver bens públicos, arts 98 a 103) Uma ilha pode ser particular, mas a praia sempre é pública. Conceito As coisas podem ser apropriadas devido a uma relação jurídica contratual (ex: compra e venda) ou pela captura ( = ocupação, onde não há relação com pessoas, ex: pesca). A aquisição decorrente de contrato se diz derivada, porque a coisa já pertenceu a outrem; a aquisição derivada da ocupação se diz originária porque a coisa nunca teve dono. Conceito Surge aí um primeiro aspecto dos Direitos Reais, que os distingue dos Direitos Pessoais: estes têm por objeto uma prestação humana, enquanto aqueles possuem por objeto um bem. Duas doutrinas buscam a primazia na compreensão dos Direitos Reais. A realista, que considera o Direito Real como o poder imediato na pessoa sobre a coisa, e a personalista, que prega existir nos Direitos Reais uma relação jurídica entre pessoas, como nos Direitos Pessoais. Conceito Teoria Personalista: os direitos reais são relações jurídicas estabelecidas entre pessoas, mas intermediadas por coisas. “A diferença está no sujeito passivo. Enquanto no Direito Pessoal, esse sujeito passivo - o devedor - é pessoa certa e determinada, no direito real seria indeterminada, havendo uma obrigação passiva universal, A DE RESPEITAR O DIREITO - obrigação que que caracteriza sempre que há uma violação. Teoria Realista ou Clássica: o direito real constitui um poder imediato que a pessoa exerce sobre a coisa, com eficácia contra todos (erga omnes). É a teoria que prevalece. 1.2 Características MHD: 1. Oponibilidade erga omnes, 2. Existência de um direito de sequela, que segue a coisa; 3. Previsão de um direito de preferência a favor do titular de um direito real; 4. Possibilidade de abandono dos direitos reais; 5. viabilidade de incorporação da coisa por meio da posse; 6. Previsão da usucapião como forma de aquisição; 7. obediência a um rol taxativo de institutos (P. da tipicidade dos Direitos Reais) 8. Regência pelo Princípio da Publicidade dos atos. (Tradição e Registro). 1.2.1 DIREITOS REAIS SÃO ABSOLUTOS (?). A oponibilidade erga omnes traz a ideia de que os Direitos Reais são absolutos (P. do absolutismo). Todavia, N. Rosenvald e C.C. de Farias corrigem a afirmação: “não significa dizer que os direitos reais geram um poder ilimitado de seus titulares sobre os bens que se submetem a sua autoridade. Claro que, em caso de colisão que envolvem direitos fundamentais, deve-se buscar a solução na técnica de ponderação (R. Alexy)”. Ex. D. de Propriedade vs. Proteção Ambiental. 1.2.2 Direito de sequela Sequela é o “direito de reaver a coisa” do art. 1228. É o direito de reivindicar coisa de quem quer que injustamente a detenha. Vem do verbo “seguir”. Dá-se quando o proprietário persegue a coisa para recuperá-la, não importando com quem a coisa esteja. É um poder do titular do direito real de seguir a coisa para recuperá-la de quem injustamente a possua. É uma característica fundamental dos direitos reais, e não só da propriedade, mas do usufruto, superfície, hipoteca, etc. Não existe nos direitos obrigacionais, cuja poder é sobre a conduta, não sobre a coisa, e é por isso que os direitos reais são mais fortes/poderosos do que os direitos pessoais. 1.2.3 Preferência Preferência: interessa aos direitos reais de garantia (penhor, hipoteca, e alienação fiduciária). É uma grande vantagem sobre as garantias pessoais/obrigacionais como aval e fiança (arts. 961, 1419 e 1422). Falaremos depois mais dessa característica que dá prioridade ao credor hipotecário ou pignoratício. 1.2.4 Abandono Isso não é uma contradição ao aspecto absoluto do direito de propriedade, em que, salvo as limitações legais, o proprietário pode fazer com a coisa o que bem entender, inclusive, abandoná-la, nascendo para outrem o direito à usucapião. O abandono é uma forma de perda da propriedade. Os direitos reais são suscetíveis de abandono porque só possuem o sujeito ativo, o titular do direito. 1.2.7 tipicidade Art. 1.225. São direitos reais: I - a propriedade; II - a superfície; III - as servidões; IV - o usufruto; V - o uso; VI - a habitação; VII - o direito do promitente comprador do imóvel; VIII - o penhor; IX - a hipoteca; X - a anticrese. XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007) XII - a concessão de direito real de uso. (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007) XII - a concessão de direito real de uso; e (Redação dada pela Medida Provisória nº 700, de 2015) Vigência encerrada XII - a concessão de direito real de uso. (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007) XII - a concessão de direito real de uso; e (Redação dada pela Medida Provisória nº 759. de 2016) XII - a concessão de direito real de uso; e (Redação dada pela Lei nº 13.465, de 2017) XIII - os direitos oriundos da imissão provisória na posse, quando concedida à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou às suas entidades delegadas e respectiva cessão e promessa de cessão. (Incluído pela Medida Provisória nº 700, de 2015) Vigência encerrada XIII - a laje. (Incluído pela Medida Provisória nº 759. de 2016) XIII - a laje. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017) https://www.google.com/url?q=http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11481.htm%23art10&sa=D&ust=1565709060687000&usg=AFQjCNEwSlJ83P0gX4oWwJWmSRjnydA-Aw https://www.google.com/url?q=http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11481.htm%23art10&sa=D&ust=1565709060687000&usg=AFQjCNEwSlJ83P0gX4oWwJWmSRjnydA-Aw https://www.google.com/url?q=http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Mpv/mpv700.htm%23art3&sa=D&ust=1565709060687000&usg=AFQjCNHumJlX-4_1_gePQ2bkRzlxRfHtSg https://www.google.com/url?q=http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Congresso/adc-023-mpv700.htm&sa=D&ust=1565709060687000&usg=AFQjCNE6ohzVXwnnxA5RrlrcbZ9zxJZGfAhttps://www.google.com/url?q=http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11481.htm%23art10&sa=D&ust=1565709060688000&usg=AFQjCNHBbOrWZUju1IAloO9i0421RVSuug https://www.google.com/url?q=http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Mpv/mpv759.htm%23art25&sa=D&ust=1565709060688000&usg=AFQjCNEB8e9xzlPtlComJeqPQbhzxYeLTg https://www.google.com/url?q=http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13465.htm%23art55&sa=D&ust=1565709060688000&usg=AFQjCNHBQW7XX5_8gtRH6q1Mw6vCc1-A2w https://www.google.com/url?q=http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Mpv/mpv700.htm%23art3&sa=D&ust=1565709060688000&usg=AFQjCNH-Kepx_7l6KVX20u19TuuEYxfJwQ https://www.google.com/url?q=http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Congresso/adc-023-mpv700.htm&sa=D&ust=1565709060689000&usg=AFQjCNEYd1rZMHWWsnCs4s4y9wlpFozd5Q https://www.google.com/url?q=http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Mpv/mpv759.htm%23art25&sa=D&ust=1565709060689000&usg=AFQjCNFLW83z6QrfKotsbRULC7B41rmzRA https://www.google.com/url?q=http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13465.htm%23art55&sa=D&ust=1565709060689000&usg=AFQjCNE1O_JvAQ_fGHSsa8Xw1JwCwjRIoA Tipicidade vs. autonomia privada. Apesar do reconhecimento da tipicidade legal, o princípio da autonomia privada é tutelado no OJB, o que faz surgir como desafios de regulação, as possibilidades da multipropriedade: resultando da fusão da propriedade individual e coletiva nas convenções de condomínio, no shopping center, flat e time sharing. RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. MULTIPROPRIEDADE IMOBILIÁRIA (TIME-SHARING). NATUREZA JURÍDICA DE DIREITO REAL. UNIDADES FIXAS DE TEMPO. USO EXCLUSIVO E PERPÉTUO DURANTE CERTO PERÍODO. PARTE IDEAL DO MULTIPROPRIETÁRIO. PENHORA. INSUBSISTÊNCIA. PRECEDENTE DA TERCEIRA TURMA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. (STJ - REsp: 1681874 RS 2017/0154643-5, Relator: Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data de Publicação: DJ 11/10/2017) 1.3 Classificação A) Quanto à propriedade do bem - Direitos reais sobre coisa própria: apenas a propriedade. - Direitos reais sobre coisa alheia: incidem sobre bem de propriedade de outrem. Ex: hipoteca, penhor, servidão etc. O direitos reais sobre coisa alheia podem ser: - direitos reais de gozo ou fruição - direitos reais de garantia - direito real de aquisição Classificação B) Quanto aos poderes do titular do direito real - Direitos reais limitados: o proprietário reúne apenas algumas das faculdades inerentes à propriedade; - Direitos reais ilimitados: o proprietário reúne todas as faculdades inerentes à propriedade (uso, gozo, disposição e reivindicação). 1.4 Diferença entre Obrigações e Direitos Reais DIREITOS REAIS DIREITOS OBRIGACIONAIS RJ PESSOA-COISA. sujeito passivo não é determinado, mas toda a coletividade (sujeito passivo universal) RJ. Pessoa-pessoa P. da Publicidade (tradição ou registro) P. da autonomia privada Efeitos: Erga Omnes Efeitos: Inter partes A coisa responde (sequela) Os bens do devedor respondem (p. da resp. patrimonial) Rol taxativo. Rol exemplificativo Caráter permanente caráter transitório. 1.5 Objeto do direito das coisas Direitos Reais : é determinado, é poder sobre uma coisa corpórea (via de regra), se bem que neste séc XXI a propriedade imaterial (patentes) se revela mais valiosa que a corpórea (petróleo, terras) Direitos Obrigacionais: objeto indeterminado até a satisfação do crédito; incorpóreo (regra geral, a prestação, a conduta, o serviço, a omissão) 1.6 sujeitos Direitos Reais: absoluto (toda a sociedade), é ERGA OMNES, ou seja, contra todos, pois toda a sociedade precisa respeitar a propriedade do dono sobre os bens dele, e de cada um de nós. A característica erga omnes é oponível a toda e qualquer pessoa. Direitos Obrigacionais: relativo (o devedor); só posso cobrar a dívida do devedor e não de todos; não se pode exercer um direito de crédito contra um estranho, mas se exerce contra todos a propriedade sobre seus bens. 1.7 Obrigação propter rem Obrigações propter rem: obrigações decorrentes de um direito real. Decorrem da lei (ex lege) e não da vontade do titular do direito (ex voluntate). Podem constituir obrigações positivas ou obrigações negativas. Alfredo Buzaid em sua obra Ação declaratória no direito brasileiro,leciona: "A obrigação propter rem constitui um direito misto, por ser uma relação jurídica na qual a obrigação de fazer está acompanhada de um direito real, fundindo-se os dois elementos numa unidade, que a eleva a uma categoria autônoma". Exemplos São obrigações "propter rem": - A obrigação que tem o condômino de contribuir para a conservação ou divisão do bem comum; -A obrigação dos proprietários de imóveis vizinhos de concorrer para as despesas de construção de tapumes divisórios; -A obrigação do adquirente de um bem hipotecado de saldar a dívida que a este onera se quiser libera-lo; -A obrigação que tem o proprietário de coisas incorporadas ao patrimônio histórico e artístico nacional de não destruir ou realizar obras que modifique a aparência destes; -A obrigação dos proprietários de imóveis confinantes de concorrer para as despesas de demarcação e renovação dos marcos divisórios destruídos; -A obrigação negativa no caso da servidão, onde o dono do prédio serviente não pode embaraçar o uso legítimo da servidão; -A obrigação do proprietário de prestar caução referente a dano iminente em prédio vizinho; -As obrigações atinentes ao direito de vizinhança; APLICAÇÃO: Caso Prático Antônio celebrou contrato de compromisso de compra e venda de bem imóvel com Ricardo, em 02 de fevereiro de 2016, tendo por objeto seu apartamento situado no bairro do Recreio, no Rio de Janeiro, no valor de R$ 800.000,00. A escritura não foi registrada no respectivo Cartório de Registro de Imóveis. Diante da inadimplência desde o ano de 2014, o condomínio ajuíza a Ação de Cobrança (referente às cotas condominiais em atraso), em face do promitente vendedor, que alega ilegitimidade passiva. Sustenta Ricardo (promitente vendedor) que a promessa de compra e venda já teria transferido a responsabilidade pelo pagamento da cota condominial ao promitente comprador, e que a propriedade do bem imóvel fora transferida no ano de 2016 para Antônio. Aplicação: Caso Prático. INDAGA-SE: a) A responsabilidade pelo pagamento de cotas condominiais tem qual natureza jurídica? b) No Código Civil Brasileiro há algum dispositivo legal acerca da responsabilidade pelo pagamento das cotas condominiais que possa ser utilizado pelo condomínio, na respectiva ação ajuizada? Explique a sua resposta com a devida fundamentação. c) Na hipótese narrada, pode-se afirmar que houve transferência da propriedade do bem imóvel, mediante o contrato celebrado entre Antônio e Ricardo? Explique sua resposta com a devida fundamentação. Respostas a. Obrigação propter rem b. Sim. Acerca da imputabilidade utilizada pelo condomínio, no que tange a cobrança das cotas condominiais em atraso, encontra-se na regra do artigo 1245, § 1º do Código Civil. c. Diante da hipótese narrada, não houve a transferência da propriedade imóvel entre as partes contratantes, pois a transferência a propriedade imóvel, por ato inter vivos, ocorre com o respectivo registro no Cartório de Registro de Imóveis (terminologia atual Serviço Registral de Imóveis – SRI), conforme o disposto no artigo 1245, caput, do Código Civil. Questão objetiva (OAB) Sobre as obrigações propter rem é correto afirmar que: a) São obrigações que constituem verdadeiros direitos reais, uma vez que existem em função da existência desses. Portanto, o titular do direito real, será o titular da obrigação propter rem. b) Renúncia ao direito real libera sempre o renunciante da obrigação propter rem. c) Ocorrendo a transferência da coisa sobre a qual incide uma obrigação propter rem esta estará automaticamente extinta. d) São obrigaçõesde natureza ambulatória, o que significa afirmar que a titularidade acompanha sempre o direito real, como é o caso do IPTU e da taxa de condomínio. e) Para a caracterização da obrigação propter rem importa identificar quem era o seu titular à época do fato gerador. Resposta Gabarito: D
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