Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO CIVIL IV: DIREITOS REAIS (das Coisas) Prof. Luís Eduardo Lessa Ferreira Doutorando em Direito Privado - UFPE Mestre em Direito Privado - UFPE RECIFE, 2019. Conteúdo Programático III Unidade - Propriedade 3.4. Modos de aquisição da propriedade imobiliária 3.4.3 Usucapião de coisa imóvel Usucapião: Conceito e natureza jurídica Etimologia da palavra: usus (do latim, uso) + capionem (do latim, aquisição), que significa aquisição pelo uso. A usucapião é entendida, assim, como a aquisição de direito real através do exercício da posse mansa, pacífica, continuada e duradoura. É sabido que não apenas a propriedade pode ser adquirida através da usucapião, mas outros direitos reais, tais quais a servidão e o uso (usucapião de uso de linha telefônica). Dessa forma, a usucapião transforma um estado de fato (posse) em um estado de direito (propriedade, servidão etc). A usucapião é forma originária de aquisição da propriedade. Usucapião: Conceito André Eduardo de Carvalho Zacarias: a usucapião é o modo de aquisição da propriedade e de outros direitos reais, pela posse prolongada da coisa com a observância dos requisitos legais (Anotações sobre a usucapião: de acordo com a Lei n° 10.406/2002. São Paulo: EDJUR, 2006. p. 16). Roberto J. Pugliese: é um instituto criador, que pela ação do possuidor, no exercício do direito inerente à posse jurídica da coisa passível de ser possuída, transforma a posse, ou seja, o estado de fato jurídico, em outro, isto é, a propriedade ou qualquer dos seus desmembramentos nos limites da permissibilidade fática ou jurídica (Direito das coisas. São Paulo: LEUD, 2005. p. 218). Usucapião: Doutrina Corrente subjetivista: o fundamento da usucapião é a presunção de que o proprietário abandonou o bem, renunciando-o tacitamente. Corrente objetivista: a aquisição da propriedade através da usucapião repousa na utilidade social do bem em questão. A usucapião tem, assim, como fundamento a consolidação da propriedade, dando juridicidade a uma situação de fato: a posse unida ao tempo. A posse é o fato objetivo, e o tempo, a força que opera a transformação do fato em direito (DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito das coisas. 22.ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 156). Usucapião: Requisitos pessoais A) Pessoais: referem-se às características pessoais, bem como atitudes do adquirente e do proprietário. Assim, para usucapir, é necessário que o adquirente tenha capacidade jurídica, na forma da lei civil. Por outro lado, também não corre o prazo da usucapião contra os absolutamente incapazes. Além disso, considerando ser a prescrição uma espécie de prescrição aquisitiva (frise-se que há críticas à expressão), há que serem observadas as causas obstativas, suspensivas e interruptivas da prescrição elencadas nos arts. 197 a 202, CC/2002. Usucapião: requisitos reais B) Reais: referem-se ao objeto da usucapião, é dizer, aos bens e direitos suscetíveis de usucapião. Assim é que podem ser usucapidos os bens apropriáveis, estando, pois, excluídos os bens fora do comércio, os bens públicos e bens que, pela natureza da relação jurídica que autoriza a posse do possuidor, não podem ser usucapidos, como, p.ex., o condômino usucapir área condominial. Súmula n° 340, STF: Bens Públicos . Aquisição por usucapião. Desde a vigência do Código Civil [1916], os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião Usucapião: Requisitos Formais C) Formais: os requisitos formais referem-se à posse (que deve ser exercida com animus domini), ao prazo e à sentença judicial (declaratória). A posse deve ser justa, não sendo condição essencial a boa-fé. Dessa forma, a posse há de ser: mansa, pacífica, pública, contínua e duradoura. Usucapião: Acessio possessionis É possível haver “soma de posses” para efeito de reconhecimento da usucapião. É a denominada acessio possessionis (art. 1.243 do CC). Usucapião: Espécies a)- extraordinária b)- ordinária c)- especial - urbana (pro misero) - rural (pro labore) d)- coletiva (estatuto da cidade) e)- familiar ou matrimonial f)- extrajudicial ou administrativa USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA Usucapião Extraordinária (art. 1.238 do CC) Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé, por meio da usucapião extraordinária. Nessa espécie, não há necessidade de justo título ou boa-fé, sendo indiferente a intenção do possuidor (também chamado de prescribente). O prazo poderá ser reduzido para dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel sua moradia habitual, ou ainda, se nele houver realizado obras ou serviços de caráter produtivo, o que se denominou de “posse-trabalho”. USUCAPIÃO ORDINÁRIA - 1242, CC Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. O prazo poderá ser reduzido para cinco anos se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelado posteriormente, desde que os possuidores nele tivessem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimento de interesse social e econômico (posse-trabalho). Em razão da exigência do registro, ainda que cancelado, ao lado da posse-trabalho, convencionou-se designar tal instituto de usucapião tabular ou de livro. Trata-se de forma ordinária de prescrição aquisitiva, prevista no CC. USUCAPIÃO CONSTITUCIONAL - ESPECIAL RURAL Usucapião Constitucional (ou Especial) Rural ou Pro Labore (art. 191 da CF; art. 1.239 do CC) Adquire a propriedade aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia. ATENÇÃO: Quando a posse ocorre sobre área superior aos limites legais, não é possível a aquisição pela via da usucapião especial, ainda que o pedido restrinja a dimensão do que se quer usucapir (Enunciado 313 do CJF). USUCAPIÃO CONSTITUCIONAL URBANA Usucapião Constitucional (ou Especial) Urbana ou Pro Misero (art. 183 da CF; art. 1.240 do CC) Também de matriz constitucional, adquire a usucapião urbana ou pro misero, aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Não pode ser conferido mais de uma vez ao mesmo possuidor. USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA COLETIVA Usucapião Especial Urbana Coletiva (art. 10 do Estatuto da Cidade) Conforme dispõe o Estatuto da Cidade (art. 10): “Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.” Atenção: Usucapião Urbana Coletiva A sentença, de natureza declaratória, além de servir como documento hábil ao registro da propriedade, também terá o condão de criar um condomínio especial indivisível, não sendo passível de extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços (2/3) dos condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio. É possível a “soma da posse”/ “acessio possessionis”/ a fim que se cumpra o requisito temporal de cinco anos, contanto que ambas sejam contínuas. USUCAPIÃO FAMILIAR Usucapião Familiar (art. 1.240-A do CC) Aquele que exercer, por dois anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até duzentos e cinquenta metros quadrados cuja propriedade divida comex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. O dispositivo foi incluído no CC pela Lei 12.424/2011, instituindo a chamada usucapião familiar, pró-família ou por abandono de lar conjugal, cujo direito somente poderá ser reconhecido ao possuidor uma vez. Usucapião Indígena Fonte: (art. 33 da Lei 6.001/73) O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos consecutivos, trecho de terra inferior a cinquenta hectares, adquirir-lhe- á a propriedade plena. A previsão legal não se aplica às terras do domínio da União, ocupadas por tribais, às áreas reservadas de que trata o Estatuto do Índio, nem às terras de propriedade coletiva de grupo tribal. Usucapião ou desapropriação? Art. 1.228, §4º e 5º do CC. 4o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. § 5o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. Art. 1228, §4 e 5° do CC/02 1. Parte da doutrina entende se tratar de nova espécie de usucapião onerosa. 2. Em sentido diverso, Flávio Tartuce entende tratar-se de desapropriação. ***A tese da desapropriação judicial é corroborada pelos Enunciados 308 e 311 das Jornadas de Direito Civil, que expressamente fazem menção ao instituto como espécie de “desapropriação” Art. 1228, §4 e 5° do CC/02 - Desapropriação. A lei apenas determina que “o juiz fixará a justa indenização”, mas não estabelece a quem compete o efetivo pagamento. Com isso, surgem duas correntes: a primeira, entendendo que o pagamento deve ser feito pelos próprios possuidores; em sentido diverso, uma segunda corrente defende que o pagamento seja feito pelo Município, quando se tratar de imóvel urbano, ou pela União, quando se tratar de imóvel rural. Os Enunciados 84 e 308 são no sentido de que o pagamento seja feito pelos possuidores, salvo na hipótese de serem estes de baixa renda, quando então o pagamento seria feito pela Administração. QUESTÕES - 01 Ano: 2011 Banca: CESPE Órgão: DPE-MA Prova: CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público Com relação à usucapião especial rural, assinale a opção correta. A) Deve-se adotar, na ação de usucapião especial, o procedimento comum ordinário, sendo o MP obrigado a intervir em todos os atos. B) A usucapião especial pode ser invocada como matéria de defesa, mas, nesse caso, a sentença não vale como título para a transcrição no registro de imóveis. C) À luz da CF, para que alguém adquira um bem em razão da usucapião constitucional rural, a área de terra em zona rural não pode ser superior a cinquenta hectares. D) Para a aquisição de imóveis rurais pela usucapião, é necessário apresentar o justo título, documento hábil que garanta e comprove o direito. E) Segundo a legislação em vigor, as terras habitadas por silvícolas também podem ser objeto de usucapião especial. QUESTÕES - 01 Ano: 2011 Banca: CESPE Órgão: DPE-MA Prova: CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público Com relação à usucapião especial rural, assinale a opção correta. A) Deve-se adotar, na ação de usucapião especial, o procedimento comum ordinário, sendo o MP obrigado a intervir em todos os atos. B) A usucapião especial pode ser invocada como matéria de defesa, mas, nesse caso, a sentença não vale como título para a transcrição no registro de imóveis. C) À luz da CF, para que alguém adquira um bem em razão da usucapião constitucional rural, a área de terra em zona rural não pode ser superior a cinquenta hectares. D) Para a aquisição de imóveis rurais pela usucapião, é necessário apresentar o justo título, documento hábil que garanta e comprove o direito. E) Segundo a legislação em vigor, as terras habitadas por silvícolas também podem ser objeto de usucapião especial. Q2 Ano: 2011 Banca: FCC Órgão: PGE-MT Prova: FCC - 2011 - PGE-MT - Procurador do Estado Sobre a usucapião especial rural prevista no artigo 191 da Constituição Federal, é correto afirmar: . A) É modo derivado de aquisição da propriedade rural. B) É modo originário de aquisição da propriedade rural não superior a 50 hectares, bastando transcurso de lapso temporal ininterrupto de 5 anos, justo título e boa-fé. C) É modo derivado de aquisição da propriedade rural não superior a 50 hectares, bastando transcurso de lapso temporal ininterrupto de 5 anos, justo título e boa-fé. D) É modo originário de aquisição da propriedade ru-ral não superior a 50 hectares, bastando transcur-so de lapso temporal ininterruptos de 5 anos sem oposição. E) É modo originário de aquisição da propriedade rural não superior a 50 hectares, bastando o exercício de posse ininterrupta e sem oposição por 5 anos, tornando a área produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia e não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano. Q2 Ano: 2011 Banca: FCC Órgão: PGE-MT Prova: FCC - 2011 - PGE-MT - Procurador do Estado Sobre a usucapião especial rural prevista no artigo 191 da Constituição Federal, é correto afirmar: . A) É modo derivado de aquisição da propriedade rural. B) É modo originário de aquisição da propriedade rural não superior a 50 hectares, bastando transcurso de lapso temporal ininterrupto de 5 anos, justo título e boa-fé. C) É modo derivado de aquisição da propriedade rural não superior a 50 hectares, bastando transcurso de lapso temporal ininterrupto de 5 anos, justo título e boa-fé. D) É modo originário de aquisição da propriedade ru-ral não superior a 50 hectares, bastando transcur-so de lapso temporal ininterruptos de 5 anos sem oposição. E) É modo originário de aquisição da propriedade rural não superior a 50 hectares, bastando o exercício de posse ininterrupta e sem oposição por 5 anos, tornando a área produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia e não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano. q3 Ano: 2015 Banca: FCC Órgão: TJ-GO Prova: FCC - 2015 - TJ-GO - Juiz Substituto Antonio é proprietário de um imóvel urbano, mas ganha a vida como agricultor familiar em um imóvel rural de 30 hectares. Todos os dias, dirige-se, com sua família, a este imóvel rural para cultivá-lo e com isto garantir o sustento de todos. Antonio ajuizou ação pretendendo adquirir a propriedade do imóvel rural comprovando que exerce posse, sem oposição, com animus domini, por cinco anos ininterruptos. A ação deverá ser A) extinta, sem resolução de mérito, diante da ilegitimidade de parte no polo ativo. B) julgada procedente. C) julgada improcedente. D) julgada parcialmente procedente. E) extinta, sem resolução de mérito, diante da impossibilidade jurídica do pedido. q3 Ano: 2015 Banca: FCC Órgão: TJ-GO Prova: FCC - 2015 - TJ-GO - Juiz Substituto Antonio é proprietário de um imóvel urbano, mas ganha a vida como agricultor familiar em um imóvel rural de 30 hectares. Todos os dias, dirige-se, com sua família, a este imóvel rural para cultivá-lo e com isto garantir o sustento de todos. Antonio ajuizou ação pretendendo adquirir a propriedade do imóvel rural comprovando que exerce posse, sem oposição, com animus domini, por cinco anos ininterruptos. A ação deverá ser A) extinta, sem resolução de mérito, diante da ilegitimidade de parte no polo ativo. B) julgada procedente. C) julgada improcedente. D) julgada parcialmente procedente. E) extinta, sem resolução de mérito, diante da impossibilidade jurídica do pedido.
Compartilhar