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DIREITO CIVIL IV: DIREITOS REAIS (das Coisas) Prof. Luís Eduardo Lessa Ferreira Doutorando em Direito Privado - UFPE Mestre em Direito Privado - UFPE RECIFE, 2019. Conteúdo Programático II Unidade. 2. Da Posse; 2.1 Evolução histórica; 2.2 Teoria Subjetiva x Teoria Objetiva; 2.3 Posse x Propriedade x Detenção; 2.4 Classificação e Características; 2.5 Natureza Jurídica; 2.6 Composse; Da Posse Conceito: a posse é um “direito de natureza especial” (Flávio Tartuce, p.944). Isso Porque a posse é o domínio fático que a pessoa exerce sobre a coisa. Duas correntes buscam justificar a posse como categoria jurídica: teoria subjetiva (savigny) x teoria objetivista (Ihering) Teoria subjetiva (Savigny) Entende a posse como o poder direto que a pessoa tem de dispor fisicamente de um bem com a intenção de tê-lo para si e de defendê-lo contra a intervenção ou agressão de quem quer que seja. DOIS ELEMENTOS: A) CORPUS: elemento material. = poder físico ou disponibilidade sobre a coisa; B) ANIMUS DOMINI: elemento subjetivo = caracterizado pela intenção de ter a coisa para si, de exercer sobre ela o direito de propriedade. *O locatário, o comodatário, não seriam possuidores, por não terem animus domini. Teoria objetiva (Ihering) Para a constituição da posse, bastaria que a pessoa dispusesse fisicamente da coisa, ou que tenha mera possibilidade de exercer esse contato. Dispensa a intenção de ser dono. A posse como um elemento: corpus, o elemento material. Justamente por ser o único elemento visível e suscetível de comprovação. Corpus é a atitude do possuidor, em relação à coisa, de explorá-la economicamente. Logo, dentro do conceito de corpus, está a intenção: não de ser dono, mas de explorar a coisa com fins econômicos. É A TEORIA ADOTADA NO BRASIL. Da dogmática da posse. Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. Basta o exercício de um dos atributos do domínio para que a pessoa seja considerada possuidora. *locatário, usufrutuário, depositário são possuidores, podendo fazer uso das ações possessórias. 1. Posse direta: 2. Posse indireta: “ter não é possuir” 1. Estudo da posse como um direito autônomo; 2. A função social da posse; 3. “A autonomia da posse cada vez mais se afirma, tendo sido fortalecida pelas investigações iluminadas pelo direito civil constitucional. Os fundamentos da posse precisam ter em conta a promoção dos valores sociais constitucionalmente estabelecidos e sua relação com os direitos fundamentais.” (Paulo Lôbo). Função social da posse - princípio implícito no CC. Valorização da Posse-trabalho: Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. Relação da posse com demais institutos 1. Posse x Detenção. Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário. Posse x detenção MHD: Detentor = fâmulo da posse, gestor da posse, servidor da posse. Tem a coisa apenas em virtude de uma situação de dependência econômica ou de um vínculo de subordinação (ato de mera custódia). Exerce uma posse em nome de outrem. Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. Exemplos 1. entrega do carro para o manobrista; 2. caseiro da casa de praia; Jurisprudência: “a ocupação irregular de área pública não induziria a posse, mas ato de mera detenção” (STJ, Resp. 556.721/DF, Min. Eliana Calmon. DJ 15.09.2005) “há mera detenção na entrega de veículo para dono de uma empresa que estaria incumbido de vendê-lo” (TJSP. Apelação 0957508-2/00 dj. 04.05.2005) Conversão da detenção em posse É possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese de exercício em nome próprio dos atos possessórios. Classificação da posse 1. Posse direta x posse indireta (desdobramento da posse): Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. Posse direta = aquela que é exercida por quem tem a coisa materialmente, havendo um poder físico imediato (ex. locatário) Posse indireta = exercida por meio de outra pessoa, havendo exercício de direito geralmente decorrente da propriedade. Ex. locador. Classificação da Posse 2. Posse justa ou injusta: P. Justa: é aquela que não apresenta vício da violência, da clandestinidade ou da precariedade, sendo uma posse limpa. P. Injusta: Adquirida por meio de ato de violência, ato clandestino ou precário. violência, clandestinidade e precariedade 1. violência: por meio de esbulho, força física ou violência moral. Ex. Crime de roubo, invasão violenta de propriedade que cumpre a função social. 2. clandestinidade: às escondidas. de forma oculta, à surdina, na calada da noite. Ex. crime de furto. invasão - sem violência - de uma propriedade que cumpre a função social. 3. precariedade: abuso de confiança ou de direito. Ex. crime de estelionato, ou apropriação indébita. Esbulho pacífico. (ex. locatário que não devolve o bem após o fim do contrato). atenção 1. OBS: um só critério configura a posse como injusta! 2. A posse injusta não pode ser oposta contra aquele de quem se tirou a coisas, mas pode ser oposta à terceiros. O efeito da posse injusta é inter partes. 3. Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. 4. Posse injusta não tem a posse usucapível, ou seja, não pode adquirir a coisa por usucapião. classificação da posse 1. Posse de boa-fé: possuidor ignora os vícios ou os obstáculos que lhe impedem a aquisição da coisa, ou quando tem um justo título que fundamente a sua posse. 2. Posse de má-fé: situação em que alguém sabe do vício que acomete a coisa, mas mesmo assim pretende exercer o domínio fático sobre esta. Atenção: posse justa ou injusta = critério objetivo; boa-fé ou má-fé = critério subjetivo. // posse injusta de boa-fé: quem compra um carro roubado, mas desconhece a procedência. classificação da posse 1. Posse nova: é a que conta de menos de um ano e dia. 2. Posse velha: conta com pelo menos um ano e dia. Importância: art. 558 do CPC: Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial. Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput , será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório. classificação da posse 1. posse ad interdicta: regra geral, é a posse que pode ser defendida pelas ações possessórias diretas ou interditos possessórios. 2. posse as usucapionem : exceção à regra. TEMPO+ pacífica, duradoura, com os requisitos do justo título e da boa-fé. Efeitos materiais da posse Tipo do possuidor Frutos Benfeitorias Responsabilidades pela perda ou deterioração da coisaPossuidor de boa-fé Sim. Sim. necessárias e úteis (indenização e retenção) Somente responde por dolo ou culpa Possuidor de má-fé Não. Responde pelos frutos colhidos e pelos que deixou de colher. Sim. Somente benfeitorias necessárias (indenização, retenção não) Responde, ainda que por fato acidental. Interditos possessórios. Interdito possessórios são as ações possessórias diretas. Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. § 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. Interditos possessórios Risco ou ameaça à posse Ação de interdito proibitório Turbação Ação de manutenção de posse. Esbulho Ação de reintegração de posse. P. DA FUNGIBILIDADE DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS NPCP: Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados. Pedidos das ações possessórias. Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de: I - condenação em perdas e danos; II - indenização dos frutos. Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária e adequada para: I - evitar nova turbação ou esbulho; II - cumprir-se a tutela provisória ou final. *Ademais: lucros cessantes e danos emergentes. Legítima defesa da posse e o desforço imediato Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. § 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
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