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1 
 
Disciplina: História da Educação de Surdos 
Autores: Esp. Liliane Assumpção Oliveira 
Revisão de Conteúdos: Esp. Murillo Hochuli Castex 
Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki 
Ano: 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas 
páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de 
Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em 
cobrança de direitos autorais. 
 
 
2 
 
Liliane Assumpção Oliveira 
 
 
 
 
 
História da Educação de Surdos 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2019 
Curitiba, PR 
Editora São Braz 
 
3 
 
Editora São Braz 
Rua Cláudio Chatagnier, 112 
Curitiba – Paraná – 82520-590 
Fone: (41) 3123-9000 
 
 
 
 
 
Coordenador Técnico Editorial 
Marcelo Alvino da Silva 
 
Revisão de Conteúdos 
Murillo Hochuli Castex 
 
Revisão Ortográfica 
Juliano de Paula Neitzki 
 
Desenvolvimento Iconográfico 
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
OLIVEIRA, Liliane Assumpção. 
História da Educação de Surdos / Liliane Assumpção Oliveira. – Curitiba: Editora 
São Braz, 2019. 
84 p. 
ISBN: 978-85-5475-360-3 
1.Surdos. 2. Libras. 3. Protagonismo. 
Material didático da disciplina de História da Educação de Surdos – Faculdade 
São Braz (FSB), 2019. 
Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 
 
4 
 
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO 
 
Caro(a) aluno(a), 
Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! 
 
 Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, 
nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de 
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão 
Universitária. 
 A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e 
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do 
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas 
também brasileiros conscientes de sua cidadania. 
 Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar 
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as 
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão 
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e 
grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e 
estudantes. 
 
 
 Bons estudos e conte sempre conosco! 
 Faculdade São Braz 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Sumário 
Prefácio ................................................................................................................. 07 
Aula 1 – Começo de conversa: conhecendo o passado ......................................... 08 
Apresentação da Aula 1 ......................................................................................... 08 
 1.1 Registros Históricos .................................................................................. 08 
 1.2 Antiguidade ............................................................................................... 08 
 1.3 Idade Média e Idade Moderna .................................................................. 09 
 1.3.1 Mudança de paradigma – religião x razão .............................................. 10 
 1.3.2 O Século da Prosperidade ..................................................................... 12 
 1.4 Idade Contemporânea .............................................................................. 13 
 1.4.1 Congresso de Milão ............................................................................... 15 
Conclusão da aula 1 .............................................................................................. 16 
Aula 2 – Em frente: compreendendo o presente .................................................... 16 
Apresentação da Aula 2 ......................................................................................... 16 
 2.1 Marcos históricos da surdez no Brasil ....................................................... 17 
 2.2 Avanços a partir de 1950 no mundo e no Brasil ......................................... 19 
 2.3 Avanços Sociais e Tecnológicos ............................................................... 22 
Conclusão da aula 2 .............................................................................................. 24 
Aula 3 – Ao alcance das mãos ............................................................................... 25 
Apresentação da Aula 3 ......................................................................................... 25 
 3.1 Tempo de novas perspectivas .................................................................. 25 
 3.1.1 Protagonismo da Surdez ....................................................................... 25 
 3.1.2 Comunidade e Cultura Surda ................................................................. 28 
 3.2 O desenvolvimento tecnológico ................................................................ 30 
 3.3 A Libras diante de todos ............................................................................ 31 
Conclusão da Aula 3 .............................................................................................. 34 
Aula 4 – Políticas públicas e legislação para a Surdez ........................................... 34 
Apresentação da Aula 4 ......................................................................................... 34 
 4.1 Fases da história dos surdos ..................................................................... 35 
 4.2 A importância das leis ............................................................................... 36 
 4.3 Conquistas legais da área da surdez ........................................................ 40 
 4.3.1 Lei da Libras – Lei 10.436/2002 ............................................................. 40 
 4.3.2 Decreto 5.626/2005 ............................................................................... 41 
 4.3.3 Lei 12.319/2010 ..................................................................................... 42 
Conclusão da aula 4 .............................................................................................. 43 
Aula 5 – Movimentos Surdos – educação, sociedade e cidadania ......................... 44 
Apresentação da aula 5 ......................................................................................... 44 
 
6 
 
 5.1 A busca por direitos .................................................................................. 44 
 5.1.1 A origem dos Movimentos Surdos .......................................................... 44 
 5.1.2 Movimentos Surdos no Brasil ................................................................ 46 
 5.1.3 Brasil – Mobilizações a partir de 1990 .................................................... 48 
 5.1.4 Difusão e oficialização da Libras ............................................................ 51 
Conclusão da aula 5 .............................................................................................. 52 
Aula 6 – História cultural dos surdos ...................................................................... 52 
Apresentação da aula 6 ......................................................................................... 52 
 6.1 Historicismo, história crítica e história cultural ........................................... 53 
 6.1.1 Historicismo ........................................................................................... 53 
 6.1.2 História cultural ...................................................................................... 54 
 6.1.3 História crítica ........................................................................................55 
 6.2 Cultura Surda ............................................................................................ 56 
 6.3 Artefatos culturais dos surdos ................................................................... 57 
 6.3.1 Literatura surda ...................................................................................... 57 
Conclusão da aula 6 .............................................................................................. 60 
Aula 7 – Cultura Surda ........................................................................................... 60 
Apresentação da aula 7 ......................................................................................... 60 
 7.1 Artes Plásticas .......................................................................................... 61 
 7.1.1 Jennifer Lescouët – França .................................................................... 61 
 7.1.2 Ellen Mansfield – Estados Unidos .......................................................... 62 
 7.1.3 Billy Saga – Brasil .................................................................................. 63 
 7.1.4 Lucas Ramon – Cartoon – Brasil ............................................................ 63 
 7.2 Teatro ....................................................................................................... 64 
 7.3 Cinema e Vídeo ........................................................................................ 65 
 7.4 Entretenimento ......................................................................................... 66 
 7.5 Produção Científica .................................................................................. 67 
Conclusão da aula 7 .............................................................................................. 69 
Aula 8 – Relações familiares .................................................................................. 69 
Apresentação da aula 8 ......................................................................................... 69 
 8.1 Memórias .................................................................................................. 70 
 8.2 A família – primeira parte da história ......................................................... 70 
 8.2.1 A descoberta .......................................................................................... 71 
 8.2.2 A aceitação ............................................................................................ 72 
 8.3 Pais surdos e filhos ouvintes ..................................................................... 74 
Conclusão da aula 8 .............................................................................................. 75 
Índice Remissivo ................................................................................................... 77 
Referências ........................................................................................................... 81 
 
 
7 
 
Prefácio 
Olá, aluno! Seja bem-vindo! A disciplina de História da Educação de 
Surdos tem o objetivo de contextualizar as fases, processos, dificuldades e 
avanços que acompanham a comunidade surda no decorrer dos tempos. 
Assim, nas primeiras aulas serão apresentadas as realidades das 
pessoas surdas, desde a Antiguidade até os dias atuais, seguindo uma 
sequência cronológica, com o intuito de estabelecer a relação entre as épocas e 
os acontecimentos, para que haja a compreensão de todo o cenário e das 
concepções próprias que eram disseminadas em cada momento. 
Na sequência, as aulas irão detalhar os avanços nas políticas públicas e 
na legislação em atenção às pessoas com deficiência e que, paralelamente, 
também foram importantes para os surdos, visto que estiveram por muito tempo 
à margem da sociedade. 
Você conhecerá os movimentos dos surdos que tomaram força para a 
busca da garantia de seus direitos civis, a composição de órgãos representativos 
que lutaram pelas causas do povo surdo e, ainda, verificar a influência direta 
desses movimentos nos principais marcos para o reconhecimento da surdez 
como diferença. 
Também serão apresentadas várias manifestações da cultura surda, nas 
diferentes áreas, sejam artísticas ou científicas, para que isso permita 
acompanhar grandes ativistas surdos que hoje em dia são nomes de destaque 
em nível nacional ou mundial. Acredita-se que por meio dessas informações haja 
a ampliação da possibilidade de formação de uma nova consciência a respeito 
dos surdos, com o enfoque no seu potencial e suas capacidades, deixando de 
considerá-las, como ocorreu por longos anos, apenas pela sua limitação. 
Finalmente, serão abordadas algumas questões familiares que 
influenciam a vida dos surdos e de seus parentes próximos, esclarecendo alguns 
pontos importantes da dinâmica familiar. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
8 
 
Aula 1 – Começo de conversa: compreendendo o passado 
 
Apresentação da aula 1 
 
Olá, aluno (a)! Iniciaremos a disciplina de História da Educação de Surdos 
com esta primeira aula, intitulada: Começo de conversa: compreendendo o 
passado, na qual você irá conhecer como foram os primeiros registros sobre a 
surdez e a educação de surdos, desde a Antiguidade até a Idade 
Contemporânea. Esse será o trajeto que seguiremos para compreender todos 
os processos e marcos históricos que contribuíram para as concepções 
existentes hoje, que norteiam a educação de surdos. 
 
1.1 Registros Históricos 
 
A principal contribuição do estudo da história é que, a partir do passado, 
pode-se compreender o presente. Na educação de surdos, isso não é diferente. 
Dessa forma, apresentam-se a seguir os principais acontecimentos e episódios 
que constituem a história das pessoas surdas, bem como as consequências de 
cada fato e as transformações ocorridas a partir delas, que nos levam a 
compreender todo o processo que envolve a surdez, o indivíduo surdo, a 
educação destas pessoas e as implicações na sociedade nos dias atuais. 
 
1.2 Antiguidade 
 
A história da educação de surdos mescla-se, na Antiguidade, com a 
história das pessoas com deficiência. Embora não haja muitos registros, sabe-
se que todas as pessoas com características diferentes da maioria eram 
segregadas. 
As primeiras informações de que se tem conhecimento remetem às 
noções de que as pessoas com deficiência eram basicamente ligadas ao 
misticismo e ao ocultismo, sem nenhuma base científica para o desenvolvimento 
de conceitos reais. Nesse sentido, não se compreendia nem se respeitava a 
diferença individual. 
 
9 
 
Desde os primórdios da humanidade, houve atrocidades como a 
eliminação dessas pessoas, manifestada por práticas de assassinato de todos 
aqueles que eram considerados fora dos padrões da época. 
Obviamente, naquela época, havia muita limitação de informações e 
temor em relação às situações desconhecidas. Isso contribuiu para a 
marginalização das pessoas com qualquer tipo de deficiência e gerou sua 
exclusão social, pois eram tidas como inferiores e desqualificadas. 
As ações discriminatórias estavam presentes nas principais civilizações 
da Antiguidade e a eliminação dos surdos e das outras minorias acontecia de 
diferentes formas. Como exemplo, citamos os chineses, que os atiravam ao mar, 
os gauleses, que os sacrificavam aos deuses e os gregos, que os lançavam do 
alto de rochedos. 
Porém, outros povos, como os egípcios e persas, consideravam os surdos 
criaturas privilegiadas, enviadas dos deuses, pois, segundo suas crenças, 
acreditavam que eles podiam se comunicar em segredo com os deuses. 
Pregavam um forte sentimento humanitário e de respeito, sendo que protegiam 
e tributavam adoração aos surdos, que, no entanto, não tinham vida social ativa, 
tampouco direito à educação. 
A primeira referência escrita aos surdos encontra-sena Torá, que é a lei 
fundamental do judaísmo, em que se lê: “Quem dá a boca ao homem? Quem o 
torna mudo ou surdo, capaz de ver ou cego? Não sou Eu, Javé?” (Êxodo, 4:11), 
ou “[...] não amaldiçoes o mudo nem coloques obstáculos ao cego” (Levítico, 
19:14). Por esta ótica, o indivíduo era surdo por vontade do Senhor e, por isso, 
nada os homens poderiam fazer. Assim, alguns eram aceitos, mas privados de 
direitos, continuando com sua sobrevivência comprometida. 
O filósofo Aristóteles afirmava que somente poderia haver raciocínio 
naqueles que desenvolviam linguagem e, naquele tempo, esse conceito estava 
estreitamente vinculado à fala. Assim, os surdos continuavam sofrendo com as 
práticas discriminatórias e segregacionistas. 
 
1.3 Idade Média e Idade Moderna 
 
Houve um período muito escasso de referências sobre a surdez entre o 
ano 1 D.C. e o final da Idade Média, mas as sociedades acreditavam que as 
 
10 
 
pessoas com deficiência eram impuras e condenadas por Deus, sendo 
castigadas por Ele com o acometimento da diferença física ou de alguma 
doença. Contudo, com o advento do cristianismo, a teologia ocidental passou a 
considerar a todos como “filhos de Deus” e, assim, deveriam ser amados, não 
pelo que pudessem ter ou fazer, mas por sua condição de seres humanos. Ainda 
assim, as opiniões eram controversas. Santo Agostinho (354-430), filósofo e 
teólogo cristão muito influente, defendeu a ideia de que os pais de filhos surdos 
estariam pagando por algum pecado que haviam cometido. Por outro lado, 
aceitava que os surdos podiam se comunicar por meio de gestos, que 
substituiriam a fala e que, assim, poderiam apreender os ensinamentos cristãos 
e garantir a salvação de suas almas. 
Também há relatos de que monges beneditinos da Itália, por volta do ano 
de 530, na Idade Média, usavam uma forma de língua de sinais para se 
comunicarem entre si, já que viviam sob um rígido voto de silêncio. 
 
1.3.1 Mudança de paradigma – religião x razão 
 
Os dados sobre os surdos tornam-se mais disponíveis no final da Idade 
Média, período no qual surgem os primeiros trabalhos voltados à educação de 
surdos e sua integração na sociedade. Assim, foi um marco importante pela 
mudança de paradigma, pois se abandonou a perspectiva religiosa para assumir 
a perspectiva da razão, ou seja, iniciou-se a análise das deficiências por uma 
concepção científica possibilitada pelos avanços das pesquisas médicas, 
oriundas principalmente da Europa. 
Um dos estudiosos que contribuiu para a ampliação dos conhecimentos 
em relação aos surdos foi o médico italiano Girolamo Cardano (1501-1576), que 
defendeu que a audição e a fala não eram indispensáveis para a compreensão 
das ideias, ou seja, a surdez não implicaria em diminuição da condição mental, 
apenas seria uma barreira para a comunicação. 
Na mesma época, Pedro Ponce de Leon (1520-1584), monge beneditino, 
fundou a Escola para Surdos em Madri, na Espanha, com um método que incluía 
a datilologia, a escrita e a fala. 
 
11 
 
Vocabulário 
Datilologia: soletração das letras do alfabeto manual; comunicação feita por meio 
de sinais feitos com os dedos. 
 
Um marco no campo jurídico foi a posição de Lasso, jurista espanhol, na 
defesa dos direitos hereditários aos surdos, após concluir que aqueles que 
aprendiam a falar deixariam de ser mudos e, dessa forma, deveriam usufruir dos 
mesmos direitos dos “falantes nativos”. 
Após a difusão dessas novas concepções, o padre e educador espanhol 
Juan Pablo Bonet (1579-1633) criou o alfabeto manual, desenvolvendo seu 
trabalho pela aprendizagem das letras do alfabeto manual, passando ao treino 
auditivo, à pronúncia dos sons das letras, depois às sílabas sem sentido, até 
chegar às palavras concretas e abstratas, finalizando com as estruturas 
gramaticais complexas. 
 
 
Alfabeto Manual 
Fonte: https://www.timetoast.com/timelines/historia-das-pessoas-surdas 
 
O médico inglês John Bulwer publicou, em 1644, sua obra em que 
descreveu centenas de gestos e defendeu que a única forma de comunicação 
natural para surdos era a língua de sinais. 
 
 
12 
 
1.3.2 O Século da Prosperidade 
 
O século XVIII foi um dos períodos mais prósperos da educação de 
surdos, pois nele foram fundadas várias escolas ao redor do mundo. Além disso, 
também houve grande evolução qualitativa no âmbito educacional, com a 
ascensão de métodos e grande difusão mundial. 
Na Alemanha, Samuel Heinicke (1729-1790), considerado o “Pai do 
Oralismo”, iniciou as bases desta filosofia de trabalho, que privilegiava 
exclusivamente a fala para a educação de surdos. Fundou, em 1778, a primeira 
escola de oralismo puro em seu país, atendendo cerca de 9 alunos. 
Paralelamente ao trabalho de Heinicke, destacou-se, na França, um dos 
principais nomes da educação de surdos, o abade Charles Michel de L’Epée 
(1712-1789), pioneiro na adoção de um método de educação coletiva. Defendeu 
o uso da língua de sinais na educação de surdos, acreditando no potencial desta 
língua para que os indivíduos pudessem participar da vida social ativa, 
dominando vários assuntos e podendo exercer diferentes profissões. Dessa 
forma, reuniu os surdos dos arredores de Paris e fundou a primeira escola 
pública para surdos, o Instituto Nacional de Surdos-Mudos, precursora no uso 
da língua de sinais. Dentre suas principais contribuições, estão: 
 
a) A tentativa de fazer todos os surdos aprenderem a ler e a escrever por 
meio da integração da gramática da língua francesa com a língua de sinais; 
b) Adoção de um método de educação coletiva; 
c) Reconhecimento e valorização do surdo como pessoa e de sua língua. 
 
Na Inglaterra, Thomas Braidwood (1715-1806) foi o educador que criou 
um método utilizando o alfabeto manual com as duas mãos, alfabeto este 
utilizado até hoje em seu país. 
 
13 
 
 
Alfabeto Manual Britânico 
Fonte: http://www.supercoloring.com/pt/desenhos-para-colorir/conjunto-do-alfabeto-da-
linguagem-de-sinais-britanica 
 
1.4 Idade Contemporânea 
 
Em 1779, o francês Pierre Desloges (1747-1799), que ensurdeceu aos 
sete anos, como sequela da Varíola, publicou um livro sem título oficial 
conhecido, no qual defendeu o uso da língua de sinais e posicionou-se contra as 
ideias oralistas que se fortaleciam naquele período. Seu livro foi considerado a 
primeira publicação de um surdo. 
Na América, uma grande contribuição para a educação de surdos veio por 
meio de Thomas Gallaudet (1787-1851), que se interessou pela surdez a partir 
da observação de crianças brincando no seu jardim e de uma pequena surda 
que ficava à margem, rejeitada pelas outras crianças. Tocado pelo isolamento 
causado pela surdez, pelo mutismo da menina e pelo fato de não haver nenhum 
trabalho específico nos Estados Unidos, dirigiu-se ao continente europeu para 
conhecer as escolas de surdos e seu trabalho educacional. Após ser recusado 
em Londres, seguiu para Paris, onde conheceu Laurent Clerc, surdo francês e 
educador que o acompanhou aos Estados Unidos para que fundassem juntos a 
primeira escola daquele país baseando o seu ensino na Língua Gestual, em 
 
14 
 
1817, em que era ensinada uma mescla do francês gestualizado com o inglês e 
que mais tarde estruturou-se como ASL (American Sign Language). 
A escola foi um sucesso imediato e isso impulsionou a abertura de outras 
escolas de surdos pelos Estados Unidos, sendo que quase todos os professores 
de surdos passaram a usuários fluentes de língua de sinais e muitos eram surdos 
também. Uma das instituições fundadas na época foi o Instituto de Colúmbia, 
que, graças a Edward Miner Gallaudet, filho de Thomas Gallaudet, deu origem à 
Universidade Gallaudet, em Washington, que é até hoje referência na educação 
de surdos. 
 A Idade Contemporânea foi marcada pela disputa entre o método alemão, 
oralista, e o método francês, que utilizava a língua de sinais da educação de 
surdos. Porém, alguns fatores contribuírampara o fortalecimento da metodologia 
oralista no mundo todo. 
 O primeiro fator foi o aumento de pesquisas relacionadas à origem e 
causas da surdez, juntamente com publicações referentes ao treinamento para 
uso dos resíduos auditivos. Outro marco importante foi a manufatura das 
primeiras próteses auditivas, ou seja, os primeiros aparelhos de amplificação 
sonora, impulsionados pela invenção da pilha eletrolítica, por Alessandro Volta, 
em 1800. 
No ano de 1823, foi fundado o Instituto de Surdos-Mudos e Cegos, em 
Portugal, por decisão do rei D. João VI, com a implementação do alfabeto manual 
e comunicação gestual. 
No ano de 1838, Jean-Marc Itard, médico do Instituto de Paris, obteve 
resultados significativos com o início das tentativas cirúrgicas para recuperação 
da audição. Anos mais tarde, na Inglaterra, foi publicado um tratado sobre 
cirurgia e patologia do ouvido, o que conferiu respeito clínico e científico à 
otologia. 
 
Vocabulário 
Otologia: ramo da medicina que estuda a anatomia, fisiologia e patologia da 
orelha ou ouvido. 
 
 
15 
 
Alexander Graham Bell (1847-1922) dedicou-se ao estudo da acústica e 
fonética, ficando conhecido por registrar a patente do telefone. Abriu, em Boston, 
no ano de 1872, uma escola oralista para professores de surdos. 
No ano de 1878, como consequência do avanço e da divulgação das 
pesquisas médicas e práticas pedagógicas com surdos no mundo inteiro, foi 
realizado, em 1878, em Paris, o I Congresso Internacional sobre a Instrução de 
Surdos, que foi cenário de intensos debates e dividiu opiniões em dois grandes 
grupos. Um deles defendia a importância do uso dos sinais do ambiente 
educacional e o outro acreditava que somente a fala poderia promover a 
integração social dos surdos. 
 
1.4.1 Congresso de Milão 
 
O marco histórico de maior impacto para a surdez foi o II Congresso 
Internacional sobre a Educação de Surdos, que aconteceu na cidade de Milão, 
em 1880. Este evento pode ser considerado o mais obscuro de toda a história 
que acompanha os surdos em nível mundial, de modo que suas deliberações 
repercutiram por quase um século. Isso se deve ao fato de a organização ter 
sido feita por uma maioria de ouvintes, que defendiam o método oralista. 
 
 Importante 
Neste congresso, o método oral foi votado como o único adequado na educação 
de surdos, sendo o uso da língua de sinais proibido nas escolas. As alegações 
eram de que a utilização dos “gestos” prejudicaria a aprendizagem da fala, da 
leitura labial e a organização das ideias. Também se definiu a separação dos 
alunos que já utilizavam a língua de sinais daqueles recém-admitidos, para que 
não houvesse a “contaminação” provocada pelo uso dessa língua, ou seja, os 
novos não deveriam ter contato e aprender os sinais. Havia neste evento a 
participação de poucos professores surdos, mas que tiveram seu direito de voto 
negado. Assim, dos 164 representantes ouvintes, apenas 5 da delegação 
americana votaram contra essas decisões. 
Com esta nova perspectiva, a educação formal ficou submetida à importância da 
aquisição da fala, resultando em um nível muito baixo de escolarização por parte 
dos surdos, já que os conteúdos foram suprimidos ou reduzidos, em detrimento 
da expressão oral. 
 
 
16 
 
Conclusão da aula 1 
 
Nesta aula, você pôde refletir sobre alguns marcos da história da 
educação de surdos e suas consequências nos processos, tanto educacionais 
como sociais desses indivíduos. Assim, é de fundamental importância entender 
os contextos de cada período, suas limitações, inquietações e, também, os 
avanços. Buscou-se, por meio dessa cronologia, apresentar os fatos, desde o 
período da segregação na Antiguidade, até a tentativa de oralização de todos os 
surdos, por meio das deliberações do Congresso de Milão. Esta foi a primeira 
etapa para se chegar aos dias atuais e compreender todos os caminhos 
traçados, para que hoje os surdos possam ter sua língua oficializada, respeitada 
e difundida. 
 
Atividades de Aprendizagem 
 
A autora Nídia Regina Limeira de Sá, em seu livro Educação de Surdos: a 
caminho do bilinguismo, EDUFF, 1999, nos apresenta, em um dos capítulos, 
uma ponderação sobre a História dos surdos contada pelos ouvintes. Leia, 
reflita e produza um texto com a análise dos principais tópicos apontados pela 
autora, tentando colocar-se no lugar dos surdos diante da realidade 
apresentada. 
 
 
 
Aula 2 – Em frente: compreendendo o presente 
 
Apresentação da aula 2 
 
Olá, caro (a) aluno (a)! Nesta aula iremos conhecer como ocorreu o 
processo histórico no Brasil, como foi o rompimento com os ideais defendidos no 
Congresso de Milão e acompanhar as inovações dos últimos anos. Essas 
informações serão a base para que possamos chegar à compreensão dos 
princípios filosóficos, políticos e sociais que hoje compõem as diretrizes da 
educação de surdos. Você também tomará ciência das lutas, das barreiras e 
mobilizações pelas quais os surdos passaram no transcorrer do tempo, para 
garantirem os direitos hoje conquistados. 
 
17 
 
2.1 Marcos históricos da surdez no Brasil 
 
A história da educação de surdos brasileira se inicia em 1855, com a 
chegada de Eduard Huet (1822- S/D), professor surdo francês, com o objetivo 
de ensinar crianças surdas beneficiadas com bolsas de estudo do governo. 
Seu trabalho baseava-se no método francês, ou seja, com o uso da língua 
de sinais e também com a escrita. Os alunos que apresentavam aptidões para 
desenvolver a oralidade também aprendiam por meio da estimulação da fala e 
da leitura labial, porém, esse trabalho era secundário. 
Em 26 de setembro de 1857, foi fundado o Imperial Instituto de Surdos-
Mudos, no Rio de Janeiro, que contava inclusive com uma verba para auxílio 
orçamentário para a instituição. Além disso, a Lei 939 designou uma pensão 
anual para cada aluno admitido. 
A partir da chegada de Huet, os surdos do Brasil tiveram os primeiros 
contatos com a língua de sinais, por isso, a Libras tem em sua origem a influência 
e características híbridas com a língua francesa. 
 
 
Imperial Instituto de Surdos-Mudos 
Fonte: file:///C:/Users/Dell/Downloads/9998-39481-1-PB.pdf 
 
Por muitos anos, as meninas surdas brasileiras não tiveram acesso à 
educação, pois a admissão no Instituto Imperial era restrita para alunos do sexo 
masculino. Além disso, havia o argumento de que as meninas eram dóceis, 
calmas, tranquilas e obedientes às famílias e, por isso, não precisavam de 
nenhuma instrução. 
 
18 
 
Em 1862, a direção do Instituto passou para o Dr. Manuel de Magalhães, 
que, por não ser especialista na área, comprometeu o atendimento. O local foi 
considerado um asilo para surdos, até que foi demitido e substituído por Tobias 
Leite. 
Sob sua administração, o professor A. J. Moura e Silva relatou ao governo 
o fato de que nem todas as pessoas surdas estavam sendo beneficiadas pelo 
método oralista e, dessa forma, houve a permissão para que a escola utilizasse 
a língua de sinais. Portanto, a instituição serviu como centro de integração para 
o fortalecimento do desenvolvimento da Língua Brasileira de Sinais. 
Com o aumento no número de alunos, oriundos de diversas localidades, 
esses estudantes colaboraram muito com a difusão da Libras em suas cidades 
de origem, assim que deixavam o Instituto. 
 Outro marco foi a publicação do primeiro dicionário de língua de sinais no 
Brasil, em 1875, por um ex-aluno do Instituto, chamado Flausino José da Gama, 
então com 18 anos. 
 Apesar disso, em torno de 1911, devido à tendência determinada pelo 
Congresso de Milão, que se dissipou mundialmente, o atendimento do local 
passou a assumir exclusivamente o método do oralismo na educação dos 
surdos, restabelecendo a estimulação da fala e da leitura labial. 
Em 1957, o Instituto, sob a direção de Ana Rímola de Faria Dória, passou 
a ser denominado Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), nome quepersiste até hoje. 
 
 
Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES 
Fonte: http://www.libras.com.br/ines 
http://www.libras.com.br/ines
 
19 
 
A partir de 1960, começam a surgir no país várias escolas para surdos. 
Como exemplo, é possível citar a Escola Concórdia em Porto Alegre (RS), o 
Instituto Santa Terezinha para Meninas, na cidade de São Paulo, a Escola de 
Surdos de Vitória (ES) e o Centro de Audição e Linguagem Ludovico Pavoni, na 
Capital Federal, Brasília. 
 
Curiosidade 
O dia 26 de setembro marca o Dia Nacional do Surdo. Esta data foi escolhida 
por remeter ao dia de fundação, em 1857, do INES – Instituto Nacional de 
Educação de Surdos. Tem o objetivo de relembrar o processo histórico da 
educação de surdos, de suas lutas, de comemorar as conquistas educacionais, 
culturais e os avanços legais. 
 
2.2 Avanços a partir de 1950 no mundo e no Brasil 
 
As primeiras organizações de surdos em nível mundial surgiram na 
Europa. 
Em 1951, em Roma, foi fundada a WFD – World Federation of the Deaf –
Federação Mundial de Surdos. 
No campo dos estudos médicos referentes à otologia, foram realizados 
diversos experimentos e, a partir de 1955, surgiram novos modelos de próteses 
auditivas, com o uso de moldes inseridos na orelha, conforme a figura abaixo: 
 
20 
 
 
Evolução das próteses auditivas 
Fonte: http://www.museudoaparelhoauditivo.com.br/publicacoes-a-evolucao-dos-
aparelhos-auditivos.php 
 
Somente em 1958, em Manchester, na Inglaterra, é que se começa a 
verificar o início da ruptura com as práticas designadas em Milão, com o 
Congresso Internacional sobre o Moderno Tratamento Educativo da Surdez, no 
qual se extingue o método oral puro na maioria dos países europeus. Passa-se 
a assumir o método materno-reflexivo, também oralista, mas um pouco mais 
flexível. 
Contudo, o maior avanço se deu com a publicação, em 1960, do artigo 
Sign language structure: an outline of the usual communication system of the 
american deaf, por William Stokoe, o qual demonstrou que a língua de sinais tem 
uma estrutura semelhante às línguas orais e desenvolveu o conceito de 
querema, isto é, a unidade mínima da língua é o equivalente gestual de um 
fonema da língua oral. Este artigo foi a semente de todas as pesquisas que 
floresceram nos Estados Unidos e na Europa a respeito das línguas de sinais, a 
partir de então. 
Em 1961, Jorge Sérgio L. Guimarães, um surdo brasileiro publica um livro 
de crônicas, contando suas experiências, intitulado Até onde vai o Surdo. 
 Partindo-se do insucesso da metodologia oralista e contando com a 
insatisfação de muitos professores, desenvolveram-se pesquisas sobre as 
línguas de sinais e sua aceitação. Assim, iniciou-se um período de surgimento 
 
21 
 
de uma nova proposta educacional, idealizada pelo americano Roy Holcomb, 
denominada de Comunicação Total, em 1968. 
A proposta baseava-se na utilização da língua de sinais, alfabeto manual, 
leitura labial e fala, dependendo da possibilidade do aluno. Esse método foi 
adotado a partir de 1969, pela Universidade Gallaudet, nos Estados Unidos. 
Nesse mesmo ano, foi publicado no Brasil o livro Linguagem das Mãos, 
de autoria do padre americano Eugênio Oates, que é composto por 1258 
fotografias com os sinais. 
 
Linguagem das Mãos 
Fonte: https://eventos.set.edu.br/index.php/enfope/article/viewFile/1283/145 
 
A FENEIDA – Federação Nacional de Educação e Integração dos 
Deficientes Auditivos – foi criada em 1977 e era composta somente por pessoas 
ouvintes envolvidas com a surdez. 
Com as pesquisas realizadas pela linguista Lucinda Ferreira Brito sobre a 
Língua Brasileira de Sinais (Libras) e as contribuições de outros estudiosos da 
área, iniciaram-se no Brasil, a partir de 1980, as primeiras propostas da filosofia 
do bilinguismo. Essa filosofia tem por base o ensino de duas línguas no contexto 
escolar, sendo a primeira língua a de sinais e a segunda língua o idioma falado 
no país, neste caso, o português. 
 Em 1982, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e 
Tecnológico (CNPQ) subsidia um projeto de pesquisa denominado de 
Levantamento Linguístico da Língua de Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros 
e sua aplicação na educação, possibilitando vários estudos na área da surdez 
de forma sistematizada. A divulgação dos dados coletados com as pesquisas 
contribuiu para a popularização do interesse na educação de surdos. 
 
22 
 
 O primeiro grande passo no âmbito político das pessoas surdas foi pela 
composição da Comissão de Luta pelos Direitos dos Surdos, que possibilitou a 
participação nas decisões educacionais e políticas públicas para a área. 
No final da década de 80, em 1987, a FENEIDA passa a ser dirigida por surdos, 
que fazem uma reestruturação do estatuto e assumem a luta por direitos com 
credibilidade, passando a ser denominada de FENEIS – Federação Nacional de 
Educação e Integração de Surdos, com sede no Rio de Janeiro. Atualmente, a 
FENEIS mantém regionais nos principais estados brasileiros, sendo uma 
instituição ativa, com todos os membros componentes de sua diretoria surdos. 
No início dos anos 1990, a filosofia do Bilinguismo começa a se projetar 
mundialmente e permeia até hoje os processos pedagógicos voltados à surdez, 
bem como a legislação promulgada a partir deste período, que trata da 
acessibilidade para todas as pessoas com deficiência e de aspectos específicos 
dos surdos, como a oficialização da Libras e a formação de profissionais da área. 
 
2.3 Avanços Sociais e Tecnológicos 
 
Com a ampla difusão possibilitada pela evolução dos meios de 
comunicação e pela tecnologia, as questões relacionadas à surdez passaram a 
fazer parte, pouco a pouco, da rotina das pessoas e a terem espaço no âmbito 
das artes, dos esportes e da ciência. Um exemplo deste amplo alcance foi a 
premiação do Oscar de melhor atriz para a surda Marlee Matlin, pela sua atuação 
no filme Filhos do Silêncio, de 1986. 
 
 Mídias 
 
O filme Filhos do Silêncio narra a história de James Leeds, um professor que usa 
a língua de sinais unida a métodos pouco convencionais. Na escola em que 
acaba de ser contratado, ele conhece Sarah Norman, uma mulher arredia e 
fechada, que continua na escola mesmo após ter se formado. Ao perceber o 
medo que a jovem tem do mundo, ele tenta se aproximar e ajudá-la, e o que era 
um desafio profissional, logo se transforma em paixão. Fonte: 
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-1662/ 
 
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-1662/
 
23 
 
Nos esportes, os surdos começam também a se mobilizar e fundam a 
Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS), em São Paulo, no ano 
de 1994, com o intuito de promover competições entre cidades e/ou estados, 
além da participação em eventos internacionais, nas diversas modalidades. 
 No Brasil, a partir da década de 1990, pôde-se constatar a ampliação da 
oferta de condições que contribuíram para a acessibilidade dos surdos e maior 
participação na sociedade, principalmente, por intermédio de novas tecnologias 
e da comunicação associadas à propagação da Libras. A partir desse período, 
acompanham, também, mudanças significativas na legislação, dispondo da 
inclusão dos surdos e de todas as pessoas com deficiência, nos âmbitos 
educacional, profissional, da saúde e social. 
Os principais marcos serão apresentados a seguir, por ordem cronológica, 
para facilitar a compreensão e a sequência de ideias. 
Um dos estados pioneiros com legislação específica para a surdez foi 
Minas Gerais, que, em 1991, oficializou a Libras pela Lei 10.397. Em 1995, é 
criada a Comissão Pró-oficialização da Libras, com o intuito de alcançar 
abrangência nacional para a língua de sinais. 
 Entre os anos de 1994 e 1995, a TV Educativa exibiu o programa Vejo 
Vozes, o qual era apresentado em Libras. 
As primeiras pesquisas sobre a filosofia do Bilinguismoe sua aplicação 
nas escolas são iniciadas em 1996, pela Dra. Eulália Fernandes, com uma 
parceria do INES com a Universidade do Rio de Janeiro. 
 Em relação ao acesso à informação, destaca-se o uso de Closed Caption 
(CC) ou Legenda Oculta, que é a exibição de legenda diretamente nos aparelhos 
de televisão. Em setembro de 1997, a Rede Globo utiliza pela primeira vez na 
transmissão do Jornal Nacional. 
Em 1998, são distribuídos pela TELERJ (Companhia Telefônica do Rio de 
Janeiro) os primeiros telefones públicos para surdos, conhecidos como TDDs, 
sigla da nomenclatura em inglês de Telecommunications Device for the Deaf. 
Por meio da central de atendimento 1402, foi possibilitada a comunicação entre 
surdos e ouvintes com o uso de telefones convencionais. 
 Nesse mesmo ano, a Libras é oficializada também no estado do Paraná, 
pela Lei 12.095. 
 
24 
 
Em 1999, a FENEIS lança sua primeira revista, com ilustração de capa de 
autoria do desenhista surdo Silas Queirós. Ainda nesse período, o Telecurso 
2000 passa a ser transmitido com legendas, na tentativa de permitir o acesso 
aos surdos. 
 
Conclusão da aula 2 
 
Chegamos ao final de nossa segunda aula. Até aqui você acompanhou 
toda a cronologia que envolve a educação de surdos, os avanços legais, sociais, 
educacionais e tecnológicos que compõem a história até o final da década de 
1990. A organização sequencial do conteúdo foi idealizada com fins didáticos, 
pois funciona como uma régua de tempo, favorecendo a você, aluno (a), a 
contextualização, primeiro, dos aspectos amplos para depois compreender as 
especificidades de cada momento, o que lhe permite uma visão completa de 
todos os aspectos abordados até aqui. 
 
Atividade de Aprendizagem 
 
“Somos notavelmente ignorantes a respeito da surdez, muito mais ignorantes 
do que um homem instruído teria sido em 1886 ou 1786. Ignorantes e 
indiferentes [...]. Eu nada sabia a respeito da situação dos surdos, nem 
imaginava que ela pudesse lançar luz sobre tantos domínios, sobretudo o 
domínio da língua. Fiquei pasmo com o que aprendi sobre a história das 
pessoas surdas e os extraordinários desafios (linguísticos) que elas 
enfrentam, e pasmo também ao tomar conhecimento de uma língua 
completamente visual, a língua de sinais, diferente em modo de minha própria 
língua, a falada”. 
 
SACKS, Oliver. Vendo Vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. Rio de 
Janeiro, Imago, 1989, p. 15. 
 
Baseando-se na citação acima e no conteúdo desta aula, monte uma régua 
de tempo, apontando os fatos que mais lhe chamaram a atenção, explicando 
a relevância de cada item, bem como a contribuição deste estudo para a sua 
formação acadêmica. 
 
 
 
 
 
 
25 
 
Aula 3 – Ao alcance das mãos 
 
Apresentação da aula 3 
 
Olá! Nesta aula, você terá a oportunidade de fazer parte da história. 
Perceberá que é, também, um personagem importante e ativo deste capítulo. A 
partir dos anos 2000, a surdez tornou-se não um aspecto físico que caracteriza 
indivíduos, mas uma identidade cultural manifestada, principalmente, pelo uso 
da língua de sinais e pela aceitação das diferenças no convívio social. Pelo seu 
fator recente e pelos acontecimentos vivenciados por muitos de nós, a história 
aqui contada não é apenas uma narração, mas uma experiência compartilhada. 
Vamos lá? 
 
3.1 Tempo de novas perspectivas 
 
 O período iniciado nos anos 2000 até hoje pode ser comparado à época 
histórica do Iluminismo, no século XVIII, também conhecido por Século das 
Luzes. Isso se deve ao fato de que, naquele tempo, surgiram novas ideias por 
meio da crítica ao passado, do resgate aos direitos individuais, da participação 
popular e pela ascensão da arte e das ciências. 
 Na área da surdez, estes avanços foram concretizados a partir da 
valorização da língua de sinais, da aceitação de suas especificidades e de novos 
conceitos representativos dessa parcela da população. 
 
3.1.1 Protagonismo da Surdez 
 
 Em virtude das transformações sociais, das lutas das pessoas surdas e 
dos avanços educacionais, tanto de estudos a respeito da surdez como de 
estudos dos próprios surdos e de seu protagonismo, surgiram novos conceitos 
que representam essa minoria da população, que são: Identidade Surda, Povo 
Surdo, Comunidade Surda e Cultura Surda. 
 O primeiro conceito é o de Identidade Surda, mas, para compreendê-lo, 
vamos primeiramente entender o que significa identidade. Esse termo indica o 
reconhecimento de que o indivíduo tem de si próprio, por meio do conjunto de 
 
26 
 
características que o compõem. Por essa definição, pode-se, em linhas gerais, 
compreender que a Identidade Surda é o reconhecimento do conjunto de 
características comuns a todos os indivíduos surdos. 
 Aprofundando o assunto, deve-se esclarecer que para a aceitação e o 
reconhecimento da surdez, houve a necessidade de uma mudança na 
concepção de quem é esse indivíduo, que trouxe não somente uma mudança de 
nomenclatura, mas de conceito. Anteriormente, o termo deficiente auditivo era 
usado, pois a visão estava focada na patologia, naquilo que o tornava fora dos 
padrões estabelecidos. Hoje, o termo surdo passa a representar a pessoa 
segundo uma visão de respeito à sua diferença, na aceitação de sua condição, 
na valorização de sua especificidade comunicativa. Dessa forma, define-se que 
a maior diferença entre surdos e ouvintes está relacionada à forma de 
comunicação: gestual ou oral. 
 Aceitar a língua de sinais como um idioma autônomo gerou repercussões 
linguísticas e cognitivas para os surdos, mas também repercussões sociais. A 
língua representa o pensamento, a aprendizagem e, portanto, demonstra a 
capacidade de atuação ativa e participação, da mesma forma que a Língua 
Portuguesa tem essa função para os ouvintes. 
 Um grande marco na emancipação dos surdos e na aceitação de sua 
identidade foi a promulgação da Lei 10.436, de 24 de abril de 2002, que 
reconhece nacionalmente a Libras como a forma de comunicação e expressão, 
com estrutura gramatical própria, que constitui o sistema linguístico de 
transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas 
brasileiras. 
 Portanto, relaciona-se a identidade surda ao uso da língua de sinais, o 
que, por intermédio da interação entre surdos, abre possibilidades de interação, 
de diálogo, e aprendizagens que não são viáveis por meio da oralidade. Assim, 
o reconhecimento da Libras, no Brasil, como natural aos surdos, credita a ela a 
capacidade única de oferecer a esse grupo uma identidade. 
 Pelo prisma da língua, como fator aglutinador das pessoas surdas, surgiu 
outro conceito, o de Povo Surdo, que, por definição, é o grupo composto por 
surdos que compartilham os mesmos costumes, história, tradições e 
peculiaridades. Nesse aspecto, o conceito abrange, além da língua, também a 
forma de percepção do mundo, ou seja, no caso dos surdos, por meio da visão. 
 
27 
 
 Importante 
Portanto, o povo surdo é composto por indivíduos que se comunicam pela língua 
de sinais e que, em virtude do impedimento auditivo, usam a visão como principal 
canal de acesso e apreensão do ambiente que o cerca. 
 
Estas definições foram acompanhadas por novos dispositivos 
tecnológicos e legais, no intuito de garantir o respeito à diferença e de 
proporcionar a inclusão social dos surdos, dando a eles a possibilidade de 
usufruírem dos mesmos direitos dos ouvintes, no que tange à informação, à 
educação e o exercício da cidadania. 
No ano de 2004, a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) 
lançou um software para todas as operadoras de telefonia móvel, o Projeto 
Rybená, com a finalidade de permitir a comunicação do surdo por meio de 
telefones celulares. 
 
 
Rybená 
Fonte: http://portal.rybena.com.br/site-rybena/sobre.html 
 
No decorrer dos anos, a filosofia do Bilinguismo vai se firmando como a 
mais adequada para atender as necessidades dos alunos surdos, cabendo o 
difícil papel deassegurar que os surdos mergulhem no universo cultural da 
surdez e da língua de sinais, aprendam os conteúdos curriculares e se 
desenvolvam plenamente. 
 
28 
 
O Decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005, inclui a Libras como 
disciplina curricular nos cursos de formação de professores, tanto de nível médio 
como superior e, também, dispõe da formação dos profissionais para ensino da 
Libras (instrutores e professores de Libras), bem como dos tradutores/intérpretes 
de Libras/Língua Portuguesa (TILS). Também traz a garantia do ensino bilíngue 
para surdos, em escolas de surdos ou classes regulares com a atuação de 
intérpretes. 
Por meio desse decreto, houve a materialização de ações, principalmente 
envolvendo as políticas públicas do MEC (Ministério de Educação) com a 
exigência de que as instituições de ensino incluíssem a Libras como disciplina 
obrigatória nos currículos, e também pela realização do Exame de Proficiência 
em Libras, para certificar os fluentes desta língua, tanto surdos como ouvintes, 
para que pudessem atuar profissionalmente no ensino e na interpretação. 
 
3.1.2 Comunidade e Cultura Surda 
 
 Com a difusão da Libras em território nacional, houve aumento do 
interesse e procura para aprender este novo idioma. Muitas pessoas que 
anteriormente tinham contato com a língua de sinais eram provenientes, em sua 
maioria, de famílias com surdos, ou atuavam em congregações religiosas que 
mantinham ministérios voltados às pessoas surdas. A atuação era muito mais 
em sentido assistencial do que profissional. 
 Dessa forma, o grupo de pessoas surdas, mas também ouvintes, como 
familiares, intérpretes, professores e amigos que participam e compartilham os 
interesses comuns e a língua de sinais, foi designado como Comunidade Surda. 
Incluem-se também as associações de surdos, federações e igrejas às quais 
eles costumam frequentar. 
Assim, a partir das exigências legais e da divulgação de trabalhos na área, 
aqueles que já estavam no meio migraram suas funções de apoiadores da causa 
para profissionais. Os membros da comunidade surda passaram a atuar nos 
contextos sociais, principalmente na educação, como professores ou intérpretes, 
garantindo o acesso dos surdos ao nível de ensino superior e também abrindo 
um leque de cursos de pós-graduação na área para novos profissionais. 
 
29 
 
Houve a impulsão de surdos buscando formação acadêmica, por 
intermédio da atuação de intérpretes que mediavam a comunicação nas 
instituições de ensino superior, nas mais diversas áreas de formação. Por outro 
lado, também aumentou significativamente o número de ouvintes inscritos em 
cursos de Libras e de formação de intérpretes para assumir as funções tanto em 
escolas e universidades como em empresas e outros serviços. 
Devido a essa demanda, em 2006, iniciou-se o curso de Letras – Libras 
na Universidade Federal de Santa Catarina, com mais 9 polos em outros 
estados. 
Concomitantemente às novas possibilidades que foram surgindo, 
professores surdos passaram a estudar sua própria história e sua língua. Muitos 
publicaram livros, originados das pesquisas acadêmicas de graduação, 
mestrado e até doutorado, tratando de assuntos referentes à surdez e à língua 
de sinais. Uma dessas pesquisas trouxe à luz o conceito de Cultura Surda, 
expressa por autoras como Perlin e Strobel (2008), como sendo o jeito surdo de 
entender o mundo, de modificá-lo e torná-lo acessível e habitável, ajustado às 
suas percepções visuais, abrangendo a língua, as ideias, as crenças, os 
costumes e os hábitos do povo surdo. 
Entretanto, os surdos ainda se configuram como um grupo minoritário, 
que está lutando para que sua cultura seja incluída no contexto social como 
legítima. Diante disso, as manifestações da surdez por meio da chamada 
Pedagogia Visual ou Surda e das manifestações artísticas por diversos canais 
de divulgação se fazem instrumentos importantes para a representatividade 
social da surdez. 
 
 Saiba mais 
Compreenda o que é Pedagogia Surda, com a leitura do artigo da professora 
Shirley Vilhalva, disponível em: https://docplayer.com.br/9388183-Pedagogia-
surda-por-shirley-vilhalva-surda-professora-tecnica-do-cas-sed-ms-e-mail-
svilhalva-brturbo-com-br.html 
 
Como está sendo possível acompanhar, houve a crescente demanda de 
profissionais para atuação na área da surdez e a regulamentação da profissão 
 
30 
 
de Tradutor/Intérprete de Libras foi conquistada pela promulgação da Lei 
12.319/2010. Em seu texto, a lei traz as atribuições inerentes à função, a 
formação mínima exigida, bem como princípios éticos que devem nortear a 
atuação profissional. 
 
3.2 O desenvolvimento tecnológico 
 
Estamos vivendo o ápice da influência tecnológica em nossas vidas, 
nunca antes vista na história. A comunicação ficou muito mais fácil, a 
transmissão de notícias e informações a apenas alguns toques na tela. Esses 
avanços refletiram diretamente na comunidade surda. 
 
Reflita 
A facilidade obtida pela tecnologia, com o uso, por exemplo, de smartphones, 
deixou o mundo explícito em imagens. Já pensou como isso se dá para quem, 
inevitavelmente, conhece e aprende tudo pelo canal visual? 
 
As inovações e aplicativos nos servem para as mais diferentes funções, 
desde apenas entretenimento até o controle de segurança residencial. Existem 
aplicativos que controlam o funcionamento de eletrodomésticos, das luzes de 
uma casa. Há aqueles que nos facilitam o acesso aos serviços públicos, 
eliminando a necessidade de deslocamento e outros, ainda, que nos mantém 
conectados a pessoas, estejam elas próximas ou distantes de nós. 
Visando facilitar a comunicação entre surdos e ouvintes, foram lançados 
dois aplicativos ou softwares que traduzem simultaneamente textos expressos 
na língua portuguesa, tanto orais como escritos, para a Libras. O Hand Talk 
surgiu em 2012 e, no ano seguinte, o ProDeaf. 
 
31 
 
 
Hand Talk 
Fonte: http://www.onacional.com.br/estado/66659/tce-rs+disponibiliza+ferramenta+de+ 
acessibilidade+hand+talk 
 
 
 
ProDeaf 
Fonte: https://www.windowsteam.com.br/prodeaf-e-o-melhor-tradutor-de-libras-para-o-
seu-windows-phone/ 
 
3.3 A Libras diante de todos 
 
De 2017 para cá, a surdez e a Libras tiveram espaço ampliado diante de 
todos nós, com uma visibilidade única após tantos anos de lutas para conquistar 
direitos básicos de cidadania. Embora já houvesse o avanço na legislação e na 
oportunidade de acesso às informações, os surdos ainda eram vistos como uma 
parcela paralela da sociedade. 
 
 
http://www.onacional.com.br/estado/66659/tce-rs+disponibiliza+ferramenta+de+acessibilidade+hand+talk
http://www.onacional.com.br/estado/66659/tce-rs+disponibiliza+ferramenta+de+acessibilidade+hand+talk
 
32 
 
Reflita 
Para exemplificar, de modo a ser de fácil compreensão, pense em uma rua ou 
via pública com três pistas, sendo que a da direita é reservada exclusivamente 
para a circulação de ônibus. Assim era a inserção das pessoas surdas na 
sociedade, ou seja, em uma via paralela, com certa facilidade para avançar, 
porém de forma restrita. Seguia no fluxo, na mesma direção, mas ao lado dos 
ouvintes e não entre eles. 
 
A partir do aumento da exposição da surdez é que houve realmente o 
estabelecimento de uma nova perspectiva, de que estas pessoas compõem a 
sociedade e não somente fazem parte dela. Assim, passaram a ser notadas e 
valorizadas, aceitas com suas características específicas, principalmente 
comunicativa, compreendidas como pessoas ativas e participativas. 
Nesse sentido, o primeiro grande marco atual foi no Enem 2017, no qual 
a proposta para o tema da redação foi: “Desafios para a formação educacional 
dos surdos no Brasil”. Contudo, os efeitos positivos não foram instantâneos. 
Muito se noticiou a respeito da escolha desse tema e do desconhecimento de 
todos em relação a ele. Além disso, muitos estudantes se manifestaram nas 
redes sociais de forma pejorativae preconceituosa, conforme o recorte abaixo: 
 
 
 
 Leia-se: droga, porcaria 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: acervo do autor (2019). 
 
33 
 
Esses fragmentos de uma rede social são apenas dois exemplos dos 
muitos compartilhados na época. Porém, embora as manifestações iniciais 
tenham sido negativas, a verdade é que a partir daquele dia o Brasil viu-se diante 
de um novo debate. Quem são os surdos? Por que há um desafio em sua 
formação educacional? O que acontece com essas pessoas de diferente? 
 Todos os meios de comunicação, fossem eles impressos, digitais e de 
televisão, trouxeram novas informações a respeito dos surdos e sua língua. As 
manchetes se espalharam rapidamente, e, em consequência, novos paradigmas 
surgiram. Todos tiveram, a partir daquele momento, o contato e enfrentamento 
com realidade da surdez; foi um assunto de alcance nacional. 
 Com isso, a surdez pôde ser exposta de uma maneira científica, na qual 
se apresentavam os aspectos da língua de sinais e das potencialidades das 
pessoas surdas e isso certamente foi positivo. Obviamente, ainda se tem muito 
a conquistar, mas este foi um grande passo dado e que se caracteriza hoje como 
um momento histórico a ser referenciado. 
 Em 2018, com a campanha para eleições de presidente, senadores, 
governadores e deputados federais e estaduais, a surdez também alcançou 
visibilidade. Todos os partidos, em suas campanhas nos horários gratuitos e 
obrigatórios de televisão, usaram a janela de intérprete de Libras, além das 
legendas, para promover acessibilidade aos surdos. 
 O recurso do uso de intérpretes também foi verificado nos debates 
televisionados com os candidatos. 
 Outros dois momentos recentes nos quais a surdez foi protagonista foram 
observados na posse presidencial, em janeiro de 2019. Aqui, retrata-se a 
importância dada à Libras e à comunidade surda, sem nenhum enfoque 
partidário ou ideológico, apenas apresentando-se o fato como marco histórico e 
representativo. 
 A Primeira Dama Michelle Bolsonaro fez um discurso no parlatório, em 
Libras, traduzido com voz pela intérprete Adriana Ramos. Essa homenagem aos 
surdos deve-se ao fato de que ela já atuava como voluntária na comunidade 
surda há vários anos. 
No atual governo, pela primeira vez, foram nomeadas duas surdas para 
cargos do segundo escalão. Priscilla Gaspar assume a Secretaria Nacional 
 
34 
 
sobre Direitos das Pessoas com Deficiência e Karin Strobel foi nomeada Diretora 
de Políticas de Educação Bilíngue de Surdos. 
 Finalmente, o último grande acontecimento foi no Carnaval de 2019, no 
qual uma parceria de uma grande cervejaria com uma artista de reconhecimento 
nacional possibilitou a confecção inédita de uma mochila que reproduzia as 
vibrações das músicas tocadas. Pela primeira vez, essa tecnologia inovadora 
permitiu aos surdos sentir a música com o próprio corpo. Anteriormente, havia 
somente a atuação de intérpretes que traduziam as letras em shows, mas essa 
nova possibilidade significa o acesso à música de forma autônoma. 
 
Conclusão da aula 3 
 
Com esta aula, encerra-se a narrativa cronológica sobre a história da 
educação de surdos no mundo e no Brasil. Você pode acompanhar cada 
momento relevante, que hoje se configura como um marco evolutivo para a 
aceitação da surdez como diferença, compreendendo os aspectos de maior 
influência e que contribuíram para a difusão da Libras como um idioma oficial e 
que permite à comunidade surda estar inserida socialmente. 
 
Atividades de Aprendizagem 
 
Elabore um material informativo, pode ser em formato de jornal ou 
apresentação em Power Point, com os principais acontecimentos recentes 
que envolvem a educação de surdos, explicando a importância de cada um. 
Se conseguir, selecione um local de trabalho ou educacional e apresente uma 
palestra usando o material elaborado. 
 
 
 
Aula 4 – Políticas públicas e legislação para a Surdez 
 
Apresentação da aula 4 
 
Olá, aluno (a)! Iniciaremos esta aula apresentando os avanços que 
contribuíram para a inclusão dos surdos na sociedade e que permitiram a eles, 
hoje, serem ativos e participativos. Primeiramente, você conhecerá as fases da 
 
35 
 
história dos surdos por um prisma cultural da surdez, ou seja, pelo florescer de 
seu reconhecimento como diferente, na busca da conquista de seus direitos. A 
seguir, serão apresentadas detalhadamente as leis que promoveram 
gradativamente a inclusão dos surdos nas mais diversas áreas da sociedade, 
desde o âmbito educacional até o profissional. 
 
4.1 Fases da história dos surdos 
 
Nos capítulos anteriores foram narrados cronologicamente os principais 
acontecimentos que marcaram as pessoas com surdez. Analisando os períodos 
passados, podem-se destacar três fases distintas na história que delimitam o 
aspecto cultural da surdez, ou seja, de que forma eram vistos socialmente e de 
que forma eles mesmos se posicionaram diante da realidade vivida. Essas fases 
são: Revelação Cultural, Isolamento Cultural e Despertar Cultural. 
Há evidências, nos registros históricos, de que antes do Congresso de 
Milão, os surdos não tinham problemas com a educação. Essa fase é conhecida 
por Revelação Cultural. Foi um período no qual os surdos viviam em harmonia 
com a sociedade de maneira geral. Embora uma parcela de estudiosos tentasse 
estabelecer a homogeneidade, havia a liberdade de escolarização dos surdos 
dentro de suas condições e os resultados foram satisfatórios, sendo que a 
maioria conseguia ter um bom desenvolvimento de leitura e escrita. Assim, havia 
muitos surdos escritores, artistas e professores. Vários muito bem-sucedidos. 
Porém, na tentativa de estabelecer um padrão, com a crença de que os 
surdos deveriam ser comparados aos ouvintes e deveriam tentar ser como eles, 
de forma mais próxima possível, veio a fase do Isolamento Cultural. Esse fato 
deu-se pela proibição do uso da língua de sinais, pela limitação da educação 
apenas com o método oralista, como consequência das deliberações do 
Congresso de Milão. Nesse período, os surdos se mantiveram unidos e com sua 
língua viva, numa clara resistência contra a imposição ouvintista. Obviamente, 
não podiam manifestar-se livremente, mas, entre eles, a língua de sinais foi 
mantida, mesmo que escondida e aparentemente segregada. 
Por fim, a terceira fase é a do Despertar Cultural, que se iniciou em torno 
de 1960, com as pesquisas sobre as línguas de sinais, o que possibilitou uma 
reflexão no sentido de aceitação como idioma completo e similar aos orais. Foi 
 
36 
 
o período de repensar a opressão dos ouvintes e reassumir publicamente a 
característica da surdez manifestada por sua língua. 
 
4.2 A importância das leis 
 
O ponto alto no período da história da educação de surdos se mescla com 
a história da Educação Especial e está diretamente ligado à mudança na forma 
de visão das pessoas com deficiência, que passaram a ser vistas como cidadãs, 
com direitos e deveres de participação social. 
No Brasil, observaram-se as primeiras ações de atenção, com a previsão 
de leis e políticas públicas para as pessoas com deficiência a partir das 
mobilizações sociais que se tornaram eventos mundiais, em torno da década de 
1960. Esse período foi marcado pela mobilização de famílias e profissionais que 
visavam a democratização da escola, para que abrangesse também as camadas 
menos favorecidas da sociedade. Paralelamente a esse movimento, surgiram as 
primeiras associações de pais e pessoas com deficiência, ou seja, as Apaes. 
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) nº 4024/61, de maneira 
inovadora, pela primeira vez, destinou um título à Educação Especial, 
mencionando a oferta de serviços educacionais às pessoas com deficiência, 
“dentro do possível no ensino regular”. O Estado tinha como meta políticas para 
essa camada da sociedade,e, embora a lei trouxesse novas possibilidades, não 
contemplava nenhum aporte financeiro às instituições. 
Em 1970, foi criado, no MEC, o Centro Nacional de Educação Especial – 
CENESP, responsável pela gerência da educação especial no Brasil, que, sob a 
luz do discurso de integração, impulsionou ações educacionais voltadas às 
pessoas com deficiência e às pessoas com superdotação. O conceito de 
integração se referia à necessidade de as pessoas com deficiência encontrarem 
uma maneira para se identificarem com os demais cidadãos, para, então, 
poderem ser inseridas à convivência dentro da sociedade. Porém, esse conceito 
remetia a uma noção de inferioridade. 
Outro apontamento às pessoas com deficiência veio por meio da Lei de 
Diretrizes e Bases para o ensino de 1º e 2º graus, nº 5.692/71, ao referir-se a 
“tratamento especial” para os alunos com “deficiências físicas, mentais e 
superdotados” como uma forma paralela à educação comum, partindo-se de um 
 
37 
 
entendimento de que estes alunos eram treináveis e, somente assim, poderiam 
integrar-se socialmente. 
A partir de 1980, muitos organismos internacionais sistematizaram 
documentos norteadores de políticas públicas, com vistas à igualdade de direitos 
e oportunidades para todos, independentemente de sua condição física, 
econômica, social ou cultural, o que propiciou a aprovação de inúmeras leis e 
instrumentos jurídicos. 
A Constituição Federal de 1988 tem seu fundamento na promoção do bem 
de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras 
formas de discriminação. Traz, em seu artigo 205, a educação como um direito 
de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da 
cidadania e a qualificação para o trabalho. No artigo 208, garante como dever do 
Estado o acesso aos níveis mais elevados do ensino, bem como a oferta do 
atendimento educacional especializado. A partir de então, se estabelecem novas 
políticas de inclusão, ou seja, capazes de assegurar a garantia de acesso, 
permanência e participação de todos, tanto nos ambientes educacionais como 
profissionais e em toda a abrangência social, respeitando-se as características 
individuais e fazendo com que a sociedade se adapte para recebê-los, sendo 
uma política de resgate da justiça social e acolhimento a todos. 
Na década de 1990, esses princípios foram reforçados e explicitados nos 
textos legais, que se inspiravam em documentos internacionais como a proposta 
de Educação para Todos (Jomtien-Tailândia) e a Declaração de Salamanca 
(Espanha, 1994), que abriram espaço para a ampla discussão sobre a 
necessidade de os governos contemplarem em suas políticas públicas o 
reconhecimento da diversidade dos alunos e o compromisso em atender às suas 
necessidades nos contextos escolares comuns. 
A Política Nacional de Educação Especial, publicada em 1994, 
condicionou o acesso às classes comuns do ensino regular àqueles que "(...) 
possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares 
programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais” 
(MEC/SEESP, 1994, p.19). 
Pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96, ficou 
definido, no artigo 58, que a educação especial é uma modalidade de educação 
escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para os alunos 
 
38 
 
com “necessidades especiais”. O artigo 59 determina que os sistemas de ensino 
deverão assegurar aos alunos: “currículos, métodos, técnicas, recursos 
educativos e organização específica para atender às suas necessidades”. 
Dessa forma, a LDB define como responsabilidade do poder público a 
efetivação da matrícula na rede regular de ensino e a oferta de serviços de apoio 
especializados. Porém, ainda manteve a concepção tradicional ao prever 
classes, escolas ou serviços especializados para alunos considerados sem 
possibilidade de serem integrados no ensino regular em razão de condições 
específicas. 
Em 1995, foram publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais para a 
Educação Básica, porém, nestes documentos não houve sequer nenhuma 
referência ao atendimento dos alunos com deficiência. 
Apenas em 1999, o Governo Federal publicou um caderno intitulado 
“Adaptações Curriculares dos Parâmetros Curriculares Nacionais – Estratégias 
para a educação de alunos com necessidades educativas especiais”, com o 
objetivo de oferecer subsídios ao professor, considerando a inclusão desses 
alunos. Contudo, pode-se observar que esse material tratou o assunto de forma 
superficial e inconsistente. 
Como forma de complementar as orientações, ao final de 2002, foram 
publicados oito fascículos relativos ao Programa “Adaptações Curriculares em 
Ação”, dos quais quatro são específicos por área de atendimento: altas 
habilidades/superdotação, deficiência física/neuromotora, deficiência visual e 
surdez. 
Além das normas específicas de âmbito educacional, foi promulgada, 
paralelamente, a Lei n° 10.098, de Dezembro de 2000, conhecida como Lei da 
Acessibilidade, que estabeleceu as normas gerais e os critérios básicos para 
promover a acessibilidade de todas as pessoas com deficiência ou que 
apresentam mobilidade reduzida, independentemente de qual seja esta 
deficiência (visual, locomotora, auditiva etc.), mediante a eliminação dos 
obstáculos e barreiras existentes nas vias públicas, na reforma e construção de 
edificações, no mobiliário urbano e ainda nos meios de comunicação e 
transporte. 
Em 2006, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o Ministério da 
Educação, o Ministério da Justiça e a Unesco lançaram o Plano Nacional de 
 
39 
 
Educação em Direitos Humanos, com o objetivo de fomentar, no currículo da 
Educação Básica, as temáticas relativas às pessoas com deficiência e 
desenvolver ações afirmativas que possibilitem inclusão, acesso e permanência 
na Educação Superior. 
 Em 2007, no contexto com o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), 
foi lançado o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), reafirmado pela 
Agenda Social de Inclusão das Pessoas com Deficiência, tendo como eixos a 
acessibilidade arquitetônica, a implantação de salas de recursos e a formação 
docente para o atendimento educacional especializado. A lei define a Educação 
Especial como um campo de conhecimento e tipo transversal de ensino que 
perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realizando o atendimento 
educacional especializado e disponibilizando um conjunto de serviços, recursos 
e estratégias específicas que favorecem o processo de escolarização dos alunos 
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas 
habilidades/superdotação nas turmas comuns do ensino regular e a sua 
interação no contexto educacional, familiar, social e cultural. 
Atualmente, o processo educacional é também regido pela Resolução 4, 
de 2 de outubro de 2009, a qual apresenta as diretrizes operacionais para o 
Atendimento Educacional Especializado (AEE) na Educação Básica, modalidade 
Educação Especial, prevendo na sua organização as salas de recursos 
multifuncionais: espaço físico, mobiliário, materiais didáticos, recursos 
pedagógicos e de acessibilidade e equipamentos específicos; matrícula no AEE 
de alunos matriculados no ensino regular da própria escola ou de outra escola; 
cronograma de atendimento aos alunos; plano do AEE: identificação das 
necessidades educacionais específicas dos alunos, definição dos recursos 
necessários e das atividades a serem desenvolvidas; professores para o 
exercício da docência do AEE; outros profissionais da educação: tradutor e 
intérprete de Língua Brasileira de Sinais, guia-intérprete e outros que atuem no 
apoio, principalmente às atividades de alimentação, higiene e locomoção; redes 
de apoio no âmbito da atuação profissional, da formação, do desenvolvimento 
da pesquisa, do acesso a recursos, serviços e equipamentos, entre outros que 
maximizem o AEE. 
Em 2011,instituiu-se o Decreto nº 7.612 com o Plano Nacional dos Direitos 
da Pessoa com Deficiência, conhecido como Plano Viver Sem Limite, que traz 
 
40 
 
em seu texto a regulamentação de: garantia de um sistema educacional 
inclusivo; garantia de que os equipamentos públicos de educação sejam 
acessíveis para as pessoas com deficiência, inclusive por meio de transporte 
adequado; ampliação da participação das pessoas com deficiência no mercado 
de trabalho, mediante sua capacitação e qualificação profissional; ampliação do 
acesso das pessoas com deficiência às políticas de assistência social e de 
combate à extrema pobreza; prevenção das causas de deficiência; ampliação e 
qualificação da rede de atenção à saúde da pessoa com deficiência, em especial 
os serviços de habilitação e reabilitação; ampliação do acesso das pessoas com 
deficiência à habitação adaptável e com recursos de acessibilidade e promoção 
do acesso, do desenvolvimento e da inovação em tecnologia assistiva. 
Vocabulário 
Tecnologia Assistiva: é uma área do conhecimento, de característica 
interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, 
práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à 
atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou 
mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida 
e inclusão social. 
 
4.3 Conquistas legais da área da surdez 
 
Além das leis citadas até aqui, que englobam todas as pessoas com 
deficiência, nos capítulos anteriores você conheceu algumas leis específicas que 
beneficiam e garantem direitos dos surdos. Contudo, agora estes instrumentos 
serão detalhados, para que você possa compreender todas as implicações 
dessas conquistas para a aceitação da surdez como diferença e dos indivíduos 
surdos como cidadãos sem distinção com os ouvintes, no que tange aos direitos 
e deveres. 
 
4.3.1 Lei da Libras – Lei 10.436/2002 
 
Após anos de luta, a comunidade surda comemorou uma grande 
conquista com a publicação da Lei 10.436, de 24 de abril de 2002, com o 
reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação 
 
41 
 
e expressão, determinando que sejam garantidas formas institucionalizadas de 
apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da disciplina de Libras nos cursos 
de formação de professores e parte integrante do currículo. 
A promulgação da Lei 10.436/2002 foi muito importante, pois reconhece 
a Libras como oficial em todo território nacional, fazendo com que o seu uso 
pelas comunidades surdas ganhasse respaldo do poder e dos serviços públicos 
e privados. Além disso, esse reconhecimento é uma forma de garantir 
atendimento e tratamento adequado aos surdos nas diferentes áreas sociais, ou 
seja, na educação, no comércio, nos prestadores de serviço, na saúde 
etc. 
 
4.3.2 Decreto 5.626/2005 
 
O Decreto 5.626/2005 regulamenta a Lei 10.436/2002 e dispõe sobre a 
inclusão da Libras como disciplina curricular, a formação do professor, instrutor 
e tradutor/intérprete de Libras, a certificação da proficiência em Libras, o ensino 
da língua portuguesa como segunda língua para alunos surdos e a inclusão de 
alunos surdos com a organização da educação bilíngue nos sistemas de ensino. 
Por este documento, a Libras deve ser inserida como disciplina curricular 
obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do 
magistério, em nível médio e superior e nos cursos de Fonoaudiologia, de 
instituições de ensino públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos 
sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. 
Assim, qualquer curso de licenciatura, nas diferentes áreas do 
conhecimento, o curso de formação de docentes de nível médio, o curso de 
Pedagogia e o curso de Educação Especial são considerados cursos de 
formação de professores e profissionais da educação para o exercício do 
magistério e, portanto, deverão incluir a Libras em sua grade curricular 
obrigatória. Além desses cursos, também se inclui o de Fonoaudiologia. Para 
os outros cursos de Educação Superior e Educação Profissional, a Libras pode 
ser ofertada como disciplina optativa. 
O decreto propõe também a viabilização da educação bilíngue, ou seja, 
do ensino para surdos ser ministrado em Libras como sua língua natural, também 
chamada neste processo de L1. Ao mesmo tempo, trabalha-se a Língua 
 
42 
 
Portuguesa, como segunda língua ou L2, que deve ser ensinada com métodos 
e técnicas sistematizadas e específicas. 
Para facilitar esse ensino bilíngue, pode-se comparar ao ensino de 
ouvintes nas escolas regulares e aos idiomas como inglês e espanhol. Para os 
ouvintes, o ensino é ofertado em Língua Portuguesa e paralelamente há a 
disciplina de inglês, por exemplo. Para os surdos, a Língua Portuguesa está no 
currículo como o inglês acima citado. É outro idioma, uma língua distinta. Mas, 
certamente, este assunto será aprofundado quando você estudar as filosofias 
educacionais na educação de surdos e as práticas de letramento. 
 Também foram estipuladas no decreto a formação e certificação dos 
professores de Libras, bem como dos intérpretes/tradutores, ou seja, dos 
profissionais que atuam no ensino da Libras e nos que trabalham como 
mediadores de comunicação entre surdos e ouvintes. 
Por fim, a respeito das instituições escolares, o decreto define que as 
instituições responsáveis pela Educação Básica devem garantir a inclusão de 
alunos surdos, por meio da organização de escolas e classes de educação 
bilíngue, abertas a alunos surdos e ouvintes, com professores bilíngues, desde 
a Educação Infantil, passando pelo Ensino Fundamental e também com Ensino 
Médio ou Educação Profissional, com docentes cientes da singularidade 
linguística dos alunos surdos, bem como com a presença de tradutores e 
intérpretes de Libras-Língua Portuguesa. 
 
4.3.3 Lei 12.319/2010 
 
Essa lei regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete da 
Língua Brasileira de Sinais (Libras). Segundo a sua redação, o tradutor/intérprete 
terá competência para realizar interpretação das duas línguas de maneira 
simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras 
e da Língua Portuguesa. 
O intérprete constitui um elemento de importância primordial na educação 
dos surdos, na esfera de classes regulares, pois este profissional deve ser 
devidamente capacitado, fluente em Libras, proporcionando aos surdos receber 
informações, abrindo-lhes oportunidades para que possam construir 
competências e habilidades fundamentais para seu desenvolvimento. 
 
43 
 
Além dos ambientes educacionais, o intérprete pode, também, atuar nos 
processos seletivos para cursos nas instituições de ensino e nos concursos 
públicos; atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das 
instituições e repartições públicas; prestar seus serviços em depoimentos em 
juízo, em órgãos administrativos ou policiais. 
 
 Mídias 
Assista à entrevista com o Professor Dr. Fernando Capovilla à Globo News, 
abordando como tema a Libras e a educação bilíngue de surdos. Nele, você 
poderá conhecer as bases da educação bilíngue, verificar a importância da 
Libras nesse processo, entender as dúvidas dos pais em relação às opções 
educacionais para seus filhos surdos e ter um panorama de como estão os 
encaminhamentos no Brasil. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uVbzA7fpJWE 
 
Conclusão da aula 4 
 
Nesta aula, você pôde acompanhar não somente as políticas públicas 
para a área da surdez, mas um cenário amplo, que inclui todas as pessoas com 
deficiência. Nesse sentido, aprendeu que as mudanças ocorrem a partir da 
mobilização das camadas sociais, na busca por ter seus direitos garantidos. 
Ficou explícita a importância das leis específicas para o reconhecimento da 
Libras, para que o indivíduo surdo possa assumir sua identidade,não mais se 
comparando aos ouvintes, nem almejando ser como um, mas aceitando e 
vivendo a liberdade conquistada, valorizando-se como pessoa e como cidadão. 
 
Atividades de Aprendizagem 
 
Pesquise e elabore um quadro comparativo entre as conquistas e 
instrumentos legais dos surdos com os ouvintes, nas diferentes áreas de 
abrangência. Acrescente ao quadro quantos itens achar necessário: 
 Ouvintes Surdos 
Área Educacional 
Área jurídica 
Saúde 
Profissional 
Esporte e lazer 
Etc.... 
 
 
44 
 
Aula 5 – Movimentos Surdos – educação, sociedade e cidadania 
 
Apresentação da aula 5 
 
Olá, aluno! Nesta aula, você compreenderá todos os processos e lutas 
pelos quais a comunidade surda passou, na busca pela garantia de seus direitos 
e da oficialização da Libras. Irá verificar os principais aspectos que envolveram 
os movimentos surdos, com suas manifestações e reivindicações no cenário 
nacional brasileiro, basicamente pautados na resistência às imposições 
ouvintistas, nos diferentes espaços, sejam educacionais, sociais ou culturais. 
 
5.1 A busca por direitos 
 
Historicamente, os indivíduos surdos foram e são, algumas vezes ainda, 
tratados como deficientes, segundo a perspectiva de que não têm a capacidade 
de viver normalmente em sociedade, sendo privados de direitos e tendo sua 
cidadania não respeitada, principalmente por não se comunicarem oralmente. 
Em virtude disso, os movimentos surdos começaram a partir dos espaços 
de convivência, como as associações e/ou clubes, em que os adultos e jovens 
estabeleceram um intercâmbio cultural e linguístico por meio do uso da Língua 
de Sinais. 
Vale ressaltar que a língua de sinais é um dos fatores importantes na 
reunião de surdos, pois com ela podem se expressar e compartilhar 
experiências. Contudo, outras questões surgiram, ampliando e diversificando as 
mobilizações, de acordo com as realidades locais ou nacionais. Algumas de suas 
manifestações representam inclusive os anseios dos surdos em nível mundial e 
são articuladas por meio da World Federation of the Deaf – WFD, sediada na 
Finlândia. 
 
5.1.1 A origem dos Movimentos Surdos 
 
Pesquisadores e estudiosos das comunidades surdas apontam para o 
fato de que as primeiras reuniões de surdos ocorreram na França, em virtude 
dos festejos comemorativos que marcavam o aniversário do abade L’Epee, 
 
45 
 
nome importante da história desse país. Esses encontros inicialmente foram 
caracterizados por banquetes, em episódio que é narrado por Mottez (1992, p.7): 
 
Quero convidá-lo a registrar o ano de 1834 como uma das grandes 
datas da história dos surdos. Com o primeiro banquete comemorando 
seu nascimento (1834), começa o culto ao Abade L’Epée. Para mim, é 
a data de nascimento da nação surda. É o ano em que pela primeira 
vez os surdos-mudos se outorgam uma espécie de governo. Isto nunca 
havia acontecido. 
 
Os historiadores afirmam que nessas reuniões os surdos reproduziam 
suas experiências de vida por meio de performances e de anedotas, que foram 
sendo transmitidas de geração para geração. Os temas abordados 
relacionavam-se ao isolamento no qual viveram por longos períodos até a nova 
vida em comunidade e às ricas possibilidades que acompanharam o uso da 
língua de sinais. 
Outra referência feita na história sobre o surgimento de associações de 
surdos sugere que os objetivos dessas reuniões eram o lazer, a recreação, a 
assistência e o trabalho. Inclusive esse aspecto de trabalho foi importante, pois 
naquela época muitos surdos não tinham escolarização e as associações 
serviam também para prepará-los para o mercado de trabalho com treinamentos, 
visando uma melhor colocação. 
Assim, no caminho da busca de soluções para a garantia dos direitos dos 
surdos, tanto de acesso à sua língua, à educação, à saúde, ao lazer, como 
também ao trabalho, as associações de surdos dos diferentes continentes 
congregam-se na sua Federação Mundial de Surdos (WFD), permitindo, 
portanto, que os líderes começassem a se manifestar, fazer solicitações e até 
mesmo interferir nas políticas dos governos em seus países. 
A WFD teve papel fundamental diante dos órgãos das Nações Unidas, 
para o reconhecimento formal da língua de sinais como natural dos surdos. 
Foi em torno de 1981 que, por orientação da ONU, os governos 
começaram a se preocupar com a parcela da sociedade com algum tipo de 
deficiência. Dessa forma, os representantes dessas comunidades passaram a 
exigir procedimentos concretos, com vistas ao trabalho dessas pessoas, no 
sentido de promoção da autonomia e independência. As leis, apenas, já não 
eram suficientes para garantir o acesso; eram exigidas ações que as 
efetivassem. 
 
46 
 
A partir de então, houve o crescimento significativo nos movimentos 
engajados com as causas da surdez, por meio do ativismo oriundo das 
associações. Os líderes empunhavam bandeiras de igualdade de oportunidades, 
visando ao exercício pleno da cidadania pelos surdos, de modo que as principais 
reivindicações dos movimentos surdos estavam ligadas aos direitos sociais, à 
acessibilidade e à liberdade de comunicação. 
 
Reflita 
A Empatia atualmente é uma capacidade muito valorizada, pessoal e 
profissionalmente. Você já se imaginou sem seus direitos? Alguma vez, já tentou 
se colocar no lugar do outro, no caso, de um surdo, e não poder comunicar-se 
ou participar socialmente, por não se expressar no mesmo idioma, ou sofrer 
preconceito? 
 
5.1.2 Movimentos Surdos no Brasil 
 
A história da educação de surdos no Brasil já foi apresentada 
cronologicamente na segunda aula, mas vamos ressaltar alguns aspectos 
relevantes para compreender os movimentos sociais dos surdos brasileiros. 
 Com a fundação do INES, em 1857, muitos surdos oriundos de várias 
regiões do país mudaram-se para o Rio de Janeiro, em busca de uma formação 
educacional. Naquele tempo, o instituto funcionava como internato, ou seja, os 
alunos moravam na escola durante o período letivo e nas férias voltavam para 
suas famílias nas cidades de origem. 
Esses alunos foram de extrema importância, pois foram os primeiros 
líderes surdos a difundir a língua de sinais em todo o território nacional. Isso foi 
possível pelo uso da língua de sinais francesa e dos sinais já existentes aqui, 
ainda que não fossem sistematizados, serviam como uma língua brasileira. Após 
essa mescla, observou-se o início formal no uso dos sinais que culminou na 
Libras que usamos até hoje. 
 As comunidades surdas no Brasil, seguindo a mesma tendência mundial, 
organizaram-se, principalmente, por meio de associações, federações e 
confederações. 
 
47 
 
 A primeira associação de surdos brasileira foi formada por um pequeno 
grupo de ex-alunos do INES, que organizavam competições esportivas com 
escolas de ouvintes, em torno de 1930. 
Outra associação foi criada anos mais tarde, em 1953, com apoio da 
Professora Ivete Vasconcelos, que emprestava uma sala de seu prédio para as 
reuniões entre os membros e a presidência do órgão. Era composta por surdos 
da Congregação de Surdos Alvorada do Rio de Janeiro. Essa associação, mais 
tarde, uniu-se aos ex-alunos do INES para desenvolverem conjuntamente 
competições esportivas e lazer. 
 Como já citado, os ex-alunos do INES voltavam para suas cidades, e, 
assim, os surdos dessas localidades começaram também, a exemplo do Rio de 
Janeiro, a unirem-se em associações. A partir daí, surgiram a Associação de 
Surdos-Mudos de São Paulo, em 1954, e a Associação de Surdos de Belo 
Horizonte, em 1956. 
 A FENEIDA (Federação Nacional de Educação e Integração do Deficiente 
Auditivo) surgiu em 1977, mas era apenas composta por profissionais ligados à 
surdez. Em 1987, os surdos conseguiram ganhar espaço, força e legitimidade, 
ao vencerem a eleição para presidência do órgão. Dessa forma, assumiram o 
comando, mudando o nome para FENEIS (Federação Nacional de Educação de 
Surdos) e introduziramuma nova perspectiva de trabalho e atuação. 
Atualmente, existem em torno de noventa instituições organizadas entre 
Confederação, Federações e Associações de Surdos no Brasil. Além da 
FENEIS, as de maior expressividade representativa são a CBDS (Confederação 
Brasileira de Desportos de Surdos) com data oficial de fundação em 1984 e a 
CBS (Confederação Brasileira de Surdos), em 2004. 
 Há também representatividade de surdos em outros âmbitos sociais, 
como Associações de Pais e Amigos dos Surdos, Associações de Intérpretes, 
Escolas para Surdos e Pastorais e Ministérios de Surdos em várias designações 
religiosas. 
 
 
 
48 
 
Curiosidade 
Brasileiros conquistaram 5 medalhas na 23ª edição da Surdolimpíada, que 
aconteceu na Turquia, em 2017. O nadador Guilherme Maia conquistou a inédita 
medalha de ouro, na prova de 200 metros livres e também a de bronze, nos 100 
metros livres. As outras medalhas de bronze foram levadas por Heron 
Rodrigues, no caratê, Alexandre Fernandes, no judô e pela equipe de futebol 
feminino, que derrotou a equipe da Grã-Bretanha. 
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/ 
 
5.1.3 Brasil – Mobilizações a partir de 1990 
 
A partir da década de 1990, as mobilizações e movimentos surdos 
convergiram na busca do reconhecimento da Libras, por meio da oficialização 
promovida por força da lei, garantindo suporte jurídico. 
 Este período foi marcado pela reivindicação da igualdade de 
oportunidades entre surdos e ouvintes por meio de sua língua, com a finalidade 
de garantir direitos sociais e cidadania. O que se estava conquistando era o 
acesso e a participação em todas as esferas sociais, ou seja, saúde, educação, 
trabalho e lazer. Neste momento, ainda não estavam em pauta as demandas 
atuais, como educação bilíngue e respeito à cultura e identidade surda. 
O primeiro grande passo para a luta de reconhecimento legal da Libras 
aconteceu em 1993, por meio da divulgação do documento As comunidades 
surdas reivindicam seus direitos, elaborado pela FENEIS, que defendeu a tese 
de que as línguas de sinais são naturais, completas e equivalentes às línguas 
orais, sob a análise gramatical e linguística. Segundo essa perspectiva, os 
surdos compõem uma minoria que possui uma forma particular de comunicação 
por meio da língua de sinais e, portanto, devem ser reconhecidos e resguardados 
tanto pelo Estado como pela sociedade. Foi nesse documento que o termo 
Libras foi usado para fazer referência à Língua Brasileira de Sinais, ou seja, a 
língua usada pelos surdos brasileiros. 
Paralelamente, outro fator que muito contribuiu, foi a atuação do grupo de 
Estudos da Libras, Aquisição da Linguagem e Aplicação à Educação de Surdos, 
formado na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sob a coordenação da 
professora linguista Lucinda Ferreira Brito, foi organizado o II Congresso Latino 
 
49 
 
Americano de Bilinguismo, no qual houve cursos sobre metodologias de ensino 
com línguas de sinais, ministrados por especialistas de vários países, tanto para 
surdos como para formação de intérpretes brasileiros. Dessa forma, as 
experiências estrangeiras contribuíram para a abertura de uma nova visão sobre 
a surdez, seus direitos, sua língua e sua formação acadêmica. 
No ano seguinte, o ator surdo Nelson Pimenta liderou o grupo “Surdos 
Venceremos”, em uma passeata histórica, que reuniu em torno de duas mil 
pessoas, surdas e ouvintes, na Praia de Copacabana, marcando um impulso 
importante no movimento surdo. Usando faixas, cartazes, slogans e símbolos de 
defesa aos direitos dos surdos e pela valorização e reconhecimento da Libras, 
este ato foi relevante pela visibilidade alcançada. 
 Esses ideais, sendo veiculados e apropriados por vários surdos em 
diferentes cidades do país, transformaram-se gradativamente na principal base 
de alicerce para a identificação cultural e linguística dessa comunidade. 
 Nesse ínterim, além da busca por direitos iguais e cidadania, que marcava 
não somente a área da surdez, mas os movimentos de todas as pessoas com 
deficiência, surgiu uma nova perspectiva de discurso que contemplava as 
especificidades linguísticas do povo surdo. A ideologia que passou a vigorar não 
era mais a da igualdade de oportunidades, mas sim, a valorização dos aspectos 
representativos de uma identidade surda, marcada pelo uso da língua de sinais, 
elemento que constitui os surdos como produtores de cultura própria. 
 
 
Identidade surda 
Fonte: 
http://agenciaalagoas.al.gov.br/media/k2/items/cache/33621aac65a59447f96b9d729eb
2fd6e_XL.jpg 
 
50 
 
A partir desse momento, surgiu a campanha pela oficialização da Libras 
no Congresso Nacional, visando à aprovação de uma lei que legitimasse todo o 
movimento surdo e suas lutas. Inicialmente, as tentativas foram infrutíferas, 
porém, com o apoio de alguns parlamentares, a causa finalmente chegou ao 
plenário do Senado Federal, em 1996, e toda a tramitação prolongou-se por mais 
seis anos. 
Ao mesmo tempo, os surdos começaram a ascender academicamente, 
ganhando espaço, produzindo pesquisas científicas, aliados a ouvintes que 
também militavam pela causa. 
Em 1999, pela parceria de instituições de ensino superior com a FENEIS 
do Rio Grande do Sul, foi organizado o V Congresso Latino Americano de 
Educação Bilíngue, que trouxe vários trabalhos já desenvolvidos também por 
pessoas surdas, com propostas sobre a formação de professores surdos e, 
também, de intérpretes de Libras. 
Juntamente com esse evento, aconteceu a passeata, em Porto Alegre, 
que culminou com a entrega do documento A educação que nós surdos 
queremos, tornando pública a luta e as reivindicações do povo surdo. 
No mesmo rumo, no ano de 2000, foi realizado em Brasília o I Festival de 
Arte e Cultura Surda e, em 2001, a primeira Conferência dos Direitos e Cidadania 
dos Surdos do Estado de São Paulo, com propostas na conquista de seus 
direitos e exercício pleno da cidadania relacionados à educação, à cultura, à 
família, à saúde, aos esportes, aos direitos e deveres, ao trabalho, à Língua de 
Sinais, às associações e ao movimento surdo. 
 Saiba mais 
Acompanhe o trabalho da FENEIS no Brasil. Acesse o link abaixo, do site 
Acessibilidade Inclusiva – uma ação voluntária para ajudar o próximo – e 
encontre informações sobre as regionais em diversos estados, com endereços 
e contatos. 
Disponível em: http://www.acessibilidadeinclusiva.com.br/federacao-nacional-
de-educacao-e-integracao-dos-surdos/ 
 
 
 
 
 
51 
 
5.1.4 Difusão e oficialização da Libras 
 
Com toda a pressão que estava sendo exercida nos órgãos 
governamentais na área da educação, em agosto de 2001 ocorreu um curso de 
capacitação de 80 surdos para serem instrutores de Libras, com o 
desenvolvimento de métodos e materiais didáticos visando uma formação de 
qualidade, para que pudessem atuar em suas regiões como multiplicadores, 
ensinando e difundindo a Libras em todo o país. Essa iniciativa foi do Ministério 
de Educação e Cultura (MEC), em parceria com a FENEIS, por meio do 
Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos. 
Além dessa formação, em 2001, por meio do mesmo programa, houve a 
capacitação de 54 professores/intérpretes de todo o Brasil, para atuarem em 
escolas com alunos surdos. 
Enquanto tais eventos se desenrolavam, o movimento surdo se 
empenhava diante dos parlamentares para agilizarem a votação e aprovação do 
projeto de lei que regulamentava a Libras. Assim, finalmente, diante de muitos 
ativistas surdos e ouvintes, a Lei da Libras, sob nº 10.436/2002, foi aprovada 
pelo Senado e sancionada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. 
Além da oficialização da língua, essa lei também incluiu a disciplina de 
Libras nos currículos de Ensino Básico para Surdos, nas escolas inclusivas e /ou 
bilíngues, um ideal realizado após muitos anos de luta. 
Após reuniões técnicas e consultas públicas, em 2005 foi aprovado o 
Decreto 5.526, que regulamentaa Lei nº 10.436, com teor já apresentado em 
aulas anteriores. Ressalta-se que as escolas de surdos que adotam a 
metodologia do Bilinguismo puderam, a partir desse decreto, oferecer melhores 
condições de ensino e aprendizagem aos seus alunos surdos, com respaldo 
legal e políticas de atendimento. 
Todo esse processo veio com uma vitória conquistada por longas batalhas 
e que, obviamente, demarcam que a luta ainda não acabou. Há muito por se 
avançar na área da surdez, como em todos os âmbitos de lutas que marcam 
todo o povo brasileiro. Os efeitos de uma administração pública que não atua 
seriamente para a garantia de direitos para seus habitantes, seu povo, serão 
sentidos por todos. 
 
 
52 
 
Conclusão da aula 5 
 
Nesta aula, você acompanhou todo o protagonismo dos ativistas surdos, 
primeiramente para garantirem a igualdade de direitos e oportunidades e, em 
seguida, para reconhecer legalmente a Libras em território nacional. 
Compreendeu que o movimento surdo surgiu das interações sociais e produções 
culturais que inspiraram esse povo a reivindicar seu merecido reconhecimento 
e, como consequência, sua valorização. Esse percurso foi marcado por ações 
coletivas expressivas, passeatas, manifestos, busca de apoio e documentos que 
representaram seus desejos e aspirações. 
 
Atividade de Aprendizagem 
 
Redija um texto, de pelo menos 20 linhas, apontando quais são as principais 
necessidades da comunidade surda diante da sociedade atual, baseando-se 
nos avanços já conquistados e analisando o que ainda é possível fazer para 
que seja ampliada a participação desse grupo de pessoas nas mais diversas 
áreas da coletividade. 
 
 
 
Aula 6 – História cultural dos surdos 
 
Apresentação da aula 6 
 
Olá, aluno! Nesta aula, você irá compreender como foram feitos os 
registros da trajetória da educação de surdos, que basicamente ocorreram por 
dois prismas. O primeiro deles foi contado pelos ouvintes, e o segundo é a 
história contada pela própria comunidade surda. Em seguida, irá conhecer as 
principais manifestações culturais dos surdos, expressas nesta aula pela 
literatura. 
 
 
 
 
 
 
53 
 
6.1 Historicismo, história crítica e história cultural 
 
Um povo é constituído pela sua manifestação cultural, que funciona como 
meio integrador e de identificação de pertencimento, compartilhada entre os 
indivíduos que dividem os mesmos espaços sociais. 
 
6.1.1 Historicismo 
 
Diante dos registros que trazem as narrações da história dos surdos ao 
longo do tempo, houve um período em que todas as informações eram 
apresentadas pelos ouvintes, ou seja, pela sua hegemonia, adquirida 
naturalmente por ser maioria. Assim, os estudiosos definem que o Historicismo 
no contexto da surdez é a história que foi concebida pelo colonizador, isto é, 
pelos ouvintes, que representam a dominância social e cultural em relação aos 
que não ouvem. 
Para esclarecer melhor esse conceito, define-se que o historicismo visa 
explicar a conduta, os valores e a sociedade, sempre de acordo com a visão da 
maioria, e, sendo assim, há uma relação direta com dominância e superioridade. 
 Na área da surdez, houve uma evolução do pensamento e aceitação 
dessas pessoas no decorrer da história. Antigamente, os surdos foram 
considerados incapazes e até mesmo chegaram a ser eliminados. No período 
seguinte, a visão clínica foi preponderante, na qual os surdos precisavam ter 
como meta a “normalidade”, ou seja, ser como a maioria da sociedade e, para 
isso, era necessário investir nos aspectos que lhes faltavam, a fala e o 
aproveitamento da audição residual. 
Nesses panoramas, fica claro o conceito de Historicismo, pois coube aos 
ouvintes destacarem seu papel de amparo, assistência, proteção e até de 
responsabilidade pela “libertação” dos surdos, no sentido de tirá-los do 
isolamento social para que pudessem viver em comunidade com os ouvintes, 
desde que se adaptassem a eles. São narrativas carregadas de estigmas e 
preconceitos, como se a surdez tivesse relação direta com algum déficit cognitivo 
e problemas emocionais. Isso gerou nos surdos uma falta de identificação 
cultural, pois não se encaixava adequadamente naquelas narrativas, já que 
 
54 
 
estas não eram a sua representação diante da realidade, e sim a visão dos 
outros diante de si. 
 
6.1.2 História cultural 
 
Recentemente é que a surdez foi aceita como “diferença”, marcada 
principalmente pelo uso da língua de sinais e aspectos específicos de contato 
com o mundo pelo canal visual e sua forma peculiar de apreensão do meio. 
Dessa forma, a nova forma de se registrar a história dos surdos é 
conhecida como História cultural, isto significa que não é mais contada sob a 
visão do ouvinte. Por meio desse registro cultural é que se refletiram os 
movimentos surdos, por meio de relatos e depoimentos das experiências vividas 
pelo próprio povo surdo. A cultura retrata de que forma os surdos vivem, seus 
diálogos cotidianos, as experiências que trocam entre si, suas artes e mitos 
compartilhados, seu jeito de ver, mudar e entender o mundo. 
 A particularidade dos surdos em relação à forma que veem o mundo, de 
maneira diferente da maioria, se dá porque suas vidas se baseiam em 
experiências visuais e pelo fato de não contarem com a experiência auditiva, o 
que muda significativamente a maneira de interação com o meio. 
Conceituando, a cultura surda pode ser definida pelo padrão de 
comportamento compartilhado pelos indivíduos surdos, pela experiência trocada 
com os seus semelhantes nos diversos ambientes sociais, ou seja, na escola, 
nas associações de surdos ou encontros informais. É dessa forma que se origina 
a identificação como pertencente a um povo distinto, caracterizado por 
compartilhar língua de sinais, valores culturais, hábitos e modos de socialização, 
que demarcam a representação no interior de cada um e, assim, a identidade 
cultural. 
Nos dias de hoje, a história cultural dos surdos se manifesta pelas piadas 
e contação de histórias, artes surdas (literatura, teatro, poesia, artes plásticas), 
comportamentos, Pedagogia surda e artefatos tecnológicos em casas e escolas 
de surdos, como, por exemplo, os despertadores vibratórios, Closed Caption ou 
legenda oculta, campainhas luminosas e aplicativos para smartphones e tablets. 
A cultura surda pode ser definida por quatro formas de apresentação: 
 
55 
 
a) Audiológica, que não se refere aos graus de perda e, sim, à 
característica do uso predominante do canal visual; 
b) Social, que se manifesta pela participação na comunidade surda, por 
meio das associações, eventos esportivos, igrejas e festas; 
c) Política, marcada pelas lutas em relação aos direitos civis, educacionais 
e de comunicação; 
d) Linguística, pelo uso da Libras. 
 
 Saiba mais 
De autoria de Silvia Andreis Witkoski, o livro Ser Surda, publicado em 2013, pela 
Editora Juruá, conta a história de vida da professora Rosani Suzin, e que 
certamente repete a de milhares de surdos. É um instrumento relevante para 
auxiliar pais, professores e surdos a reconhecerem e aceitarem a singularidade 
de cada pessoa e o respeito às diferenças. 
 
6.1.3 História crítica 
 
 A história crítica é, de acordo com estudiosos e pesquisadores, a mistura 
entre historicismo e história cultural, porém, com uma característica de tentar 
amenizar a história com discursos adaptados para omitir, esconder ou disfarçar 
a realidade. 
 Essa forma dissimulada de apresentação da história nem sempre é 
consciente, e também se acredita que tem uma intenção sincera e genuína, 
porém, como algumas verdades são difíceis de serem assimiladas ou aceitas, 
acabam escondidas em debates acerca do politicamente correto, que configura 
um discurso que não se efetiva por ações. 
 Na prática, observam-se situações nas quais o surdo é considerado como 
protagonista, mas que, na verdade, ficam apenas como coadjuvantes. Por 
exemplo,temos algumas escolas de surdos que assumem a metodologia 
bilíngue no ensino, mas, se forem analisadas a fundo, percebe-se que o 
bilinguismo não acontece além dos documentos oficiais, no caso, dos projetos 
pedagógicos. 
Provavelmente por força da lei, que garante a educação bilíngue, ou por 
estar em consonância com os anseios da comunidade surda, a escola assume 
 
56 
 
a postura “dita” bilíngue, mas, na prática pedagógica, ainda utiliza mecanismos 
baseados nos modelos orais, sem profissionais bilíngues, usando os sinais 
apenas como apoio para o ensino da língua portuguesa e alguns conceitos, mas 
sem a função de identificação, comunicação, produção e manifestação cultural. 
Dessa forma, a história crítica coloca o surdo em um patamar em que se 
sinta valorizado e aceito, mas age nos bastidores como se fosse dependente do 
ouvinte, como se ao surdo fosse dado o favor de estar presente, de permitir a 
comunicação por meio de sua língua natural, com a mediação de intérpretes 
quando necessário, sem que suas ideias e opiniões sejam realmente 
consideradas. 
 
6.2 Cultura Surda 
 
A definição de Cultura pode ser variável, dependendo do enfoque a ser 
abordado, mas, em linhas gerais, entende-se por cultura o conjunto de valores 
por meio dos quais um grupo de pessoas pratica o mesmo modo de refletir sobre 
si e sobre o mundo, vivendo junto, partilhando crenças e costumes comuns. 
Também deve ser concebida como uma manifestação coletiva, como ferramenta 
de ação histórica, de crescimento e desenvolvimento de certa comunidade, no 
caso, os surdos. 
Cada pessoa possui uma identidade pessoal e cultural. Ao mesmo tempo 
em que cada pessoa é única, também está inserida em um grupo cultural em 
que absorve ideias, pensamentos, reflexões e constitui a sua representação do 
meio que a cerca. 
Observe que, ao longo dos anos, os surdos aos poucos formaram uma 
cultura própria, centrada principalmente em sua forma de comunicação como 
uma expressão cultural diferente dos ouvintes. Nesse sentido, há teóricos que 
afirmam que a cultura surda é o jeito do indivíduo entender o mundo, modificá-lo 
para torná-lo acessível e habitável, ajustando-o às suas percepções visuais e ao 
jeito surdo de se comunicar, sentir, pensar e viver. 
 
 
 
 
 
57 
 
6.3 Artefatos culturais dos surdos 
 
 Até aqui já deve estar internalizada a compreensão de que a cultura e 
identidade surda estão diretamente relacionadas ao uso da língua de sinais. 
Portanto, o uso dessa língua é o que define as possibilidades de interação, 
diálogo, aprendizagem e, consequentemente, de produção cultural. 
 Entende-se por artefatos culturais as produções materiais de determinado 
grupo cultural, que se compõem desde a maneira de vestir-se e comunicar-se 
até expressar ideias, crenças e valores. Assim, os artefatos culturais do povo 
surdo se expressam pela literatura, teatro, artes plásticas, produções 
acadêmicas e outros. 
 
6.3.1 Literatura surda 
 
Não há registros antigos que se referem à literatura surda. Suas 
produções e histórias eram transmitidas de forma direta, de surdo para surdo, na 
língua de sinais. A tecnologia existente hoje abriu novas possibilidades de 
registros, seja por meio de escritos ou por vídeos, que garantem fielmente a 
transmissão dos textos surdos. Portanto, a literatura surda à qual se tem acesso 
é contemporânea, registrada após o avanço da tecnologia, que permite registros 
visuais gravados e que expõem livremente toda a riqueza da produção dos 
surdos. 
Como historicamente a comunidade surda foi reprimida, é por meio da 
literatura surda que os surdos difundem e defendem sua cultura na sociedade, 
apresentando suas tradições e divulgando suas histórias. 
A literatura surda se define como as histórias que são contadas em língua 
de sinais ou escritas, com temas relacionados aos surdos ou não, contada por e 
para surdos, carregando significados culturais relevantes, como a aprendizagem 
visual, o uso das mãos como meio de comunicação e sua forma de interagir no 
mundo. 
 
58 
 
 
Literatura surda 
Fonte: http://www.pplc.us/dlc/images/Rosa-and-Dae-read.jpg 
 
Os recursos mais usados pelos surdos para contar as suas histórias são 
os classificadores e as expressões faciais e corporais, que são recursos da 
língua de sinais com muito apelo visual. 
Essa literatura surda se compõe de histórias, contos, lendas, fábulas, 
anedotas, poesia, jogos, piadas e caricaturas, abrangendo vários estilos. Um dos 
meios mais utilizados e preferidos para a difusão da literatura surda é a gravação 
de vídeos, que são veiculados na internet ou, ainda, em DVDs. Esses materiais 
são extremamente ricos nas suas produções, já que por meio deles os surdos 
podem explorar toda a riqueza de sua língua, das expressões e de 
manifestações visuais. 
Em alguns casos, as produções são feitas exclusivamente em língua de 
sinais, para que não haja prejuízo na mensagem devido à tradução, haja vista 
que as informações visuais nem sempre podem ser expressas por palavras. 
Como exemplo comparativo, temos os filmes de Charles Chaplin, gênio do 
cinema mudo, que não precisou de palavras para tornar o seu personagem, 
Carlitos, um dos mais famosos de todos os tempos. Outro exemplo se apresenta 
sob a forma das piadas, que dependem muito do contexto cultural para terem 
significado e serem engraçadas, aliás, outra característica marcante na literatura 
surda é o humor, que compõe grande parte do acervo surdo. 
As principais obras de humor se referem à imitação de filmes, pessoas, 
animais, objetos que possam ser incorporados e retratados a partir de 
 
59 
 
expressões corporais e faciais; brincadeiras com configurações do alfabeto, dos 
números ou com o movimento dos sinais; brincadeiras com temas polêmicos e 
piadas. 
A literatura clássica universal e brasileira também faz parte das produções 
realizadas a partir da tradução de livros. Esses títulos envolvem tanto a literatura 
infantil como obras para jovens e adultos. Assim, também podemos 
compreender as manifestações da cultura surda, que refletem suas 
experiências, sua forma de ver e sentir. Para os ouvintes, é preciso entender a 
peculiaridade dos surdos e suas características. Embora nunca um ouvinte 
consiga sentir exatamente a experiência vivida por um surdo, quanto mais se 
aproximar de sua cultura, mais conhecer e participar dessa comunidade, melhor 
será a possibilidade de aprendizagem e, também, maior será a qualidade de 
suas experiências. 
Outro estilo que tem forte divulgação entre a literatura surda é a poesia 
em língua de sinais, que aborda, dentre suas principais temáticas, as lutas 
sociais relacionadas aos temas atuais do feminismo, racismo, diversidade sexual 
e de gênero e preconceito. As poesias podem ser gravadas ou ao vivo e os textos 
também podem ser previamente elaborados ou feitos de improviso. 
Além desses materiais em vídeo, há também materiais impressos e 
publicados com autoria de surdos, com temas sobre a surdez, a língua de sinais 
e ainda alguns clássicos mundiais adaptados para possibilitarem uma 
identificação com as personagens. Entre os títulos mais populares, temos: Tibi 
e Joca, uma história de dois mundos; Cinderela Surda; Patinho Surdo e o Kit 
Libras é Legal, composto de várias histórias. Além desses, há os livros 
autobiográficos e, ainda, os livros transcritos pelo sistema SignWriting, que é a 
escrita da língua de sinais. 
 Mídias 
Um dos mais famosos representantes do humor surdo é Duc Hien Nguyen, 
conhecido como "Hii_een". Seu canal no Youtube conta com mais de 20.000, 
inscritos, sendo um grande sucesso, pois sua atuação é extremamente rica em 
expressões faciais e corporais, que o tornam um ícone do povo surdo. Faça sua 
inscrição e acompanhe sua carreira em: 
https://www.youtube.com/channel/UCnOqV3KupR-bPlS-F0jUwkw 
 
 
60 
 
Conclusão da aula 6 
 
Nesta aula, você conheceu de que forma os registroshistóricos podem 
ser divulgados e como a interpretação dos fatos pode ser de certa forma 
manipulada, de acordo com a visão de quem conta ou transmite. Compreendeu 
que na visão dos surdos há um tipo próprio de expressão, resultado da sua 
formação cultural, com sua forma particular de se posicionar no mundo. Também 
conheceu algumas produções literárias da comunidade surda, que trazem 
consigo marcas de suas lutas, sua língua e suas aspirações. 
 
Atividades de Aprendizagem 
 
Pesquise na internet outros representantes da cultura surda que expressam 
literatura por meio de vídeos. Busque, principalmente, de estilos poéticos e 
outros, não apenas os de humor, para verificar as peculiaridades de cada um. 
Escolha o que mais gostou e redija um texto apresentando a obra e suas 
principais características. 
 
 
 
Aula 7 – Cultura Surda 
 
Apresentação da aula 7 
 
Nesta aula será dada continuidade à apresentação das manifestações 
culturais dos surdos, por meio da expressão das artes plásticas, artes cênicas, 
entretenimento e produção científica. Assim, você irá compreender como as 
artes são usadas para interação social e meios de compartilhamento de 
experiências, crenças, valores e ideais sempre com enfoque de valorização da 
cultura surda, em suas produções. Além disso, será possível acompanhar como 
a surdez está presente nas artes, como tema central de obras diversas, o que 
ajuda não somente a divulgar a língua de sinais, como também para mostrar à 
maioria das pessoas toda a riqueza e potencialidade da comunidade surda. 
 
 
 
 
61 
 
7.1 Artes Plásticas 
 
Um dos artefatos culturais dos surdos é a expressão artística, que se 
manifesta por vários meios de veiculação. As artes plásticas representam um 
desses canais de demonstração da arte surda, que tem como principal aspecto 
constitutivo a visualidade, ou seja, a ênfase naquilo que pode ser percebido por 
meio da visão. Diante disso, há muita riqueza de detalhes, formas e cores. 
Os temas abordados nas obras, assim como na literatura, também 
refletem questões inerentes à surdez, ao seu modo de vida, às línguas, lutas e 
comportamentos. Além desses, incluem-se obras de resistência ao ouvintismo, 
que marcam a discriminação e preconceito vivido por muitos surdos e a opressão 
sofrida na imposição da língua oral. 
A seguir, serão apresentados alguns artistas surdos prestigiados e 
reconhecidos no mundo e no Brasil. 
 
7.1.1 Jennifer Lescouët – França 
 
É fotógrafa, com surdez profunda bilateral. Na adolescência, fotografar 
era seu passatempo favorito e, assim, mais tarde formou-se na Escola Superior 
de Fotografia e Audiovisual em Paris. Em sua obra, verifica-se a preferência por 
retratar humanos, notabilizando-se a série de fotografias chamada As Palavras 
do Silêncio, nas quais os retratos reproduzem palavras na língua de sinais 
francesa. 
 
As Palavras do Silêncio 
Fonte: http://www.jlescouet.com/fr/portfolio-33291-0-40-serie-les-mots-du-silence.html 
http://www.jlescouet.com/fr/portfolio-33291-0-40-serie-les-mots-du-silence.html
 
62 
 
7.1.2 Ellen Mansfield – Estados Unidos 
 
É uma artista surda, nascida em Nova Iorque, formada na Escola de Artes 
Visuais, reconhecida pelo seu trabalho com pintura e cerâmica. Sua obra em 
cerâmica usa muitos espelhos, pois, segundo a autora, “é a ferramenta ideal 
para reflexões sobre identidade e arte surda”. Nas pinturas, representa a cultura 
surda principalmente por imagens de olhos e mãos. 
 
 
Resistance artwork, acrylic on canvas 
Fonte: https://www.facebook.com/pg/EllenTileStrokeStudio/photos/?ref=page_internal 
 
 
 
 
Needleye and Watchful eyes 
Fonte: https://www.facebook.com/pg/EllenTileStrokeStudio/photos/?ref=page_internal 
 
https://www.facebook.com/pg/EllenTileStrokeStudio/photos/?ref=page_internal
https://www.facebook.com/pg/EllenTileStrokeStudio/photos/?ref=page_internal
 
63 
 
7.1.3 Billy Saga – Brasil 
 
É cadeirante e ativista pelas causas das pessoas com deficiência e 
direitos humanos. Embora não seja surdo, é um grande nome da Arte Surda, 
pois tem muita aproximação com a cultura surda, acreditando que a união é uma 
força transformadora. Nas suas obras, apresenta a luta contra as práticas 
discriminatórias e impositivas do oralismo, que por muito tempo imperaram entre 
os surdos. Além disso, também aborda a valorização da Libras e respeito à 
identidade surda. A sua arte é representada por vários suportes, principalmente 
fotografia e escultura. 
 
Efeito Borboleta 
Fonte: http://eucurtoartesurda.blogspot.com/ 
 
 
Librascídio 
Fonte: http://eucurtoartesurda.blogspot.com/ 
 
7.1.4 Lucas Ramon – Cartoon – Brasil 
 
As produções culturais surdas também incluem obras impressas como 
histórias em quadrinhos. Por esse viés, temos o cartunista Lucas Ramos Alves, 
 
64 
 
mais conhecido por Tikinho, com dois livros famosos: Três Patetas Surdos e 
Surdo em Vitória. Já expôs seus trabalhos em vários espaços, como a Gibiteca, 
em Curitiba, e Bienal em Minas Gerais e está lançando, neste ano de 2019, o 
livro Os Dinossauros Sobrevivem. 
 
 
Três Patetas Surdos 
Fonte: http://www.emcartaz.net/literatura/tres-patetas-surdos/ 
 
7.2 Teatro 
 
Todos conhecem uma expressão popular que diz: “o corpo fala”. 
Realmente, percebemos que por meio do corpo podem-se comunicar muitas 
coisas. Essa máxima é válida para todos, então para os surdos, com sua forma 
de comunicação peculiar, a frase é ainda mais significativa. 
 Fundada em 2003, a Cia. Arte e Silêncio iniciou seu trabalho 
desenvolvendo pesquisas sobre a arte e cultura surda. Utilizam técnicas de 
mímica junto à língua de sinais, para abordarem assuntos referentes à inclusão 
de surdos e suas particularidades de vida. Sob o comando dos irmãos Rimar 
Romano Segala e Sueli Ramalho, apresentam-se em instituições educacionais, 
empresas e eventos, promovendo o respeito às diferenças. A companhia 
também tem um canal no Youtube com esquetes variadas. 
 Mídias 
Assita alguns vídeos da Cia Arte e Silêncio pelo seu canal no Youtube, pelo link: 
https://www.youtube.com/playlist?list=PL3DB52722ACAE5F88 
 
65 
 
7.3 Cinema e Vídeo 
 
A chamada sétima arte, o cinema, também nos brinda com várias 
produções que trazem como tema central a surdez. Os filmes envolvem assuntos 
diversificados, e, no melhor estilo Hollywood, sempre há conflitos, amores não 
correspondidos e drama. Dentre os mais populares títulos estão: 
 
 Mídias 
E seu nome é Jonas (1979) 
Um menino surdo passa anos em uma instituição para crianças com 
deficiência intelectual, até que sua família descobre o engano e leva-o para 
casa. Na família ouvinte há grande dificuldade para aceitar a diferença e 
também para encontrar os caminhos de sua educação. Sua mãe, muito 
persistente, acaba conhecendo outros surdos e é apresentada a um 
mundo da língua de sinais e da cultura surda. O filme demarca claramente 
a visão divergente entre os métodos de ensino para surdos. Trailer 
disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZqPA9g-YerE 
 
Mr. Holland – Adorável Professor (1995) 
Um músico decide tornar-se professor para aumentar sua renda, e, 
paralelamente, dedica-se a compor uma sinfonia. Passa por grandes 
dificuldades no trabalho e na família, pois o nascimento do filho exige maior 
atenção como provedor. Depois de trinta anos lecionando no mesmo colégio, há 
o momento da despedida. Uma cena importante do filme pode ser assistida em: 
https://www.youtube.com/watch?v=MJ384eYV70k 
 
A família Bélier (2014) 
Nascida em uma família de surdos, Paula, a única ouvinte, enfrenta as questões 
próprias da adolescência como problemas na escola, o primeiro amor e crises 
familiares. Apesar da idade, já tem grande responsabilidade, pois é quem 
administra a fazenda da família, além de ser intérprete entre o irmão e pais 
surdos com as outras pessoas da vizinhança. Porém, sua vida chega a uma 
encruzilhada, quando precisa decidir seguir seu sonho de vida, longe dafamília, 
ou permanecer em casa e deixar a oportunidade passar. Uma cena emocionante 
do filme pode ser acessada em: 
https://www.youtube.com/watch?v=MZLmpWV_T_E 
 
Switched at Birth – Trocadas no nascimento (2011) 
É uma série de televisão produzida pela emissora ABC Family, na qual duas 
adolescentes descobrem que foram trocadas na maternidade. Uma delas 
cresceu em uma família rica, junto com o irmão e os pais, e a outra, que 
ensurdeceu na infância, como consequência de Meningite, vive com a mãe em 
https://www.youtube.com/watch?v=ZqPA9g-YerE
https://culturasurda.net/2016/03/25/mr-holland-adoravel-professor/
 
66 
 
um bairro pobre. Suas famílias resolvem, então, aproximar-se e conviverem 
juntas, mas muitas emoções as acompanham neste processo. 
 
Min e as Mãozinhas (2018) 
Desenho animado criado por Paulo Henrique dos Santos, que trabalha com 
animação há sete anos. Após ter tido dificuldade para se comunicar com uma 
pessoa surda, o autor decidiu criar um desenho usando a Libras, sendo que em 
cada episódio serão ensinados cinco sinais. Seu objetivo, além de divertir 
crianças surdas, é divulgar a língua de sinais entre as crianças ouvintes, 
aproveitando para ensiná-las sobre as diferenças e, consequentemente, ajudar 
para a eliminação do preconceito. O episódio piloto foi lançado no Youtube e 
está disponível no canal Min e as Mãozinhas, no link abaixo: 
https://www.youtube.com/channel/UCJtOTvG4EvBGkvtTVVv8Lpg 
 
 
Min e as Mãozinhas 
Fonte: https://www.portalecoera.com.br/setor-impacte-positivamente/lancado-o-
primeiro-desenho-animado-em-libras/ 
 
7.4 Entretenimento 
 
 A surdez também vem ganhando espaço no entretenimento, 
principalmente fora do Brasil, em que há uma variedade de programas como 
caça talentos. 
 Nyle DiMarco é um surdo americano, ator e modelo nascido em Nova 
Iorque, no ano de 1989. Sua família é praticamente toda de surdos. Formado em 
Matemática pela Universidade Gallaudet, foi vencedor do reality America’s Next 
Top Model, temporada 22, em 2015, obtendo muito sucesso com o público e 
também com os grandes nomes de moda, estampando campanhas para grifes 
como Giorgio Armani e Dolce & Gabbana. Em 2016, Nyle venceu outra 
competição da televisão americana, o Dancing with the Stars, sendo o primeiro 
surdo a vencer esse programa. Anos antes, a atriz surda Marlee Matlin também 
havia participado. Ele dançou ritmos como cha-cha-cha, tango, samba, 
quickstep, paso doble e outros. 
 
67 
 
 
Nyle DiMarco 
Fonte: https://twitter.com/nyledimarco/status/636700135846715392 
 
Outro momento muito emocionante da televisão americana aconteceu em 
2017, no programa America’s Got Talent, com a apresentação de Mandy Harvey, 
uma cantora de 29 anos, que perdeu a audição aos 18. Contra todas as 
tendências, Mandy canta de forma brilhante e afinada, levando a plateia e 
jurados ao delírio, chegando ao final da temporada e conquistando a quarta 
colocação no programa. 
 
 Mídias 
Acompanhe a primeira apresentação de Mandy Harvey em: 
https://www.youtube.com/watch?v=3xALzrB4Sjs 
 
7.5 Produção Científica 
 
No Brasil, com o avanço da escolarização dos surdos, muitos ingressaram 
no ensino superior, e, dessa forma, foi possível termos acesso a documentos 
sobre fatos e estudos em relação à língua de sinais, à história da educação de 
surdos e assuntos pertinentes a essa comunidade. Assim, surgiram os novos 
pesquisadores surdos, que, após a graduação, avançaram seus estudos além 
da especialização, para o mestrado e doutorado. 
Obviamente, é de extrema importância a presença de surdos nas 
instituições de ensino superior, para garantir a diversidade no ensino, a 
efetivação da inclusão e uma educação de qualidade, por meio da valorização 
de suas produções e da relevância social que as acompanha, visto que, para a 
 
68 
 
comunidade surda, esses representantes significam avanços linguísticos, 
educacionais e socioculturais. 
A seguir, serão elencados grandes representantes da surdez nos meios 
acadêmicos brasileiros: 
 
Pós-Doutorado – total de 3: 
 
 Marianne Rossi Stumpf – Educação com ênfase em Informática – 
Universidade Católica Portuguesa em Lisboa; 
 Silvia Andreis Witkosky – Educação – Universidade Federal do Paraná; 
 Gladis Teresinha T. Perlin – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 
 
Doutorado – total de 21: 
 
 Mariana de Lima Isaac L. Campos – Doutorado em Educação – 
Universidade Federal de São Carlos; 
 Flaviane Reis – Doutorado em Educação – Universidade Federal de 
Uberlândia; 
 Carolina Hessel – Doutorado em Educação – Universidade Federal do Rio 
Grande do Sul; 
 Janaina Pereira Claudio – Doutorado em Educação – Universidade 
Federal do Rio Grande do Sul; 
 Ana Regina de Souza e Campello – Doutorado em Educação – 
Universidade Federal de Santa Catarina; 
 Gláucio Castro Junior – Doutorado em Linguística – Universidade de 
Brasília; 
 Armando Nembri – Doutorado em Hist. das Ciências e das Téc. e 
Epistemologia – Universidade Federal do Rio de Janeiro; 
 Cláudio H. Nunes Mourão – Doutorado em Estudos Culturais – 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 
 Rodrigo Rosso Marques – Doutorado em Educação – Universidade 
Federal de Santa Catarina; 
 André Ribeiro Reichert – Doutorado em Linguística Aplicada – 
Universidade do Vale do Rio dos Sinos. 
 
69 
 
E 127 surdos com Mestrado nas diferentes regiões do país, computados 
até o ano de 2018. 
 
Conclusão da aula 7 
 
Nesta aula, você acompanhou todo o potencial do povo surdo nas mais 
diferentes áreas. Acredita-se que este conhecimento contribua para ampliar a 
percepção da capacidade, competência e participação ativa dos surdos na 
sociedade. Muitas vezes se fala em avanços, sucesso e representatividade, mas 
não se apresentam os resultados reais. Assim, aprofundando o tema da cultura 
surda e suas mais diversas formas de manifestação, abrem-se novas 
perspectivas de inclusão, por meio da mudança de paradigma, não com enfoque 
na falta de audição, mas, sim, nas expressões bem-sucedidas da surdez. 
 
Atividades de Aprendizagem 
 
Nesta aula foram citados alguns exemplos de filmes sobre a surdez, que 
marcaram época quando lançados e que contam com diferentes abordagens 
sobre o tema. Para esta atividade, selecione um dos filmes apresentados ou 
pesquise outros títulos, assista e faça um texto apontando os principais 
aspectos da surdez representados, bem como quais as contribuições do filme 
para sua formação acadêmica. 
 
 
 
Aula 8 – Relações familiares 
 
Apresentação da aula 8 
 
Olá! Nesta aula, você terá a oportunidade de compreender como se dá a 
relação do surdo com a família, normalmente ouvinte e de que forma isso exerce 
papel fundamental na formação individual de cada um. Quais as barreiras 
enfrentadas, como pode se dar a referência linguística e qual a importância do 
convívio com outros surdos para a formação de uma identidade saudável são 
algumas das questões que serão abordadas. Se já é sabido que há uma cultura 
 
70 
 
surda, deve-se também ser entendido como é a influência da cultura geral e 
ouvinte no desenvolvimento dessa comunidade. 
 
8.1 Memórias 
 
Ao analisarmos a história geral, podemos observar a rica quantidade de 
fontes para serem consultadas, que comprovam os acontecimentos passados. 
No que se refere à surdez, essas fontes são bem escassas, visto que não se têm 
muitos registros. Isso se deve ao fato de que a história cultural dos surdos foi 
narrada de geração em geração, não de forma escrita, mas sim, por meio da 
língua de sinais. 
Os surdos de antigamente colaboraram muito com a formação histórica, 
deixando depoimentos e testemunhos que foram reproduzidos no decorrer do 
tempo. Muitos fatos não puderam ser preservados em documentos, mas 
compõem a memória daqueles que a viveram. Por sorte, essa história sobreviveu 
a séculos, para que hoje possa ser conhecida e divulgada. 
Atualmente, os registros são feitos por meio da tecnologiaexistente, que 
grava em filmes e fotos todas as manifestações e acontecimentos da 
comunidade surda, que, além de fornecer o conhecimento, também permite a 
compreensão fiel do que se quis dizer. Tudo que é transmitido pela memória dos 
surdos pode ser comprovado pelos registros feitos por jornais, cartas, 
mensagens, filmes e fotos, sejam impressos ou virtuais. 
 
8.2 A família – primeira parte da história 
 
 A família é o primeiro meio social ao qual estamos ligados, desde o 
nascimento. É no convívio familiar que se começa a entender a si próprio, um ao 
outro, aprender, respeitar, partilhar, a ter disciplina e administrar conflitos. Tudo 
isso permanece conosco por toda vida como experiência, aprendizado e 
lembrança. A família é a referência de cada um. 
 Pesquisas apontam que a maioria dos surdos é oriunda de famílias 
ouvintes. Sendo assim, como acontece essa referência? Como ocorrem as 
experiências e aprendizados, se há uma grande barreira na comunicação? É 
 
71 
 
certo também que poucas famílias de surdos conhecem e usam a Libras para a 
comunicação. Dessa forma, muda-se o curso da história. 
 Para compreensão dessas questões, vamos seguir conhecendo como é 
a dinâmica familiar no cotidiano do surdo. 
 
8.2.1 A descoberta 
 
A família que tem alguma criança com deficiência passa, via de regra, 
pelos mesmos processos, desde a descoberta até a aceitação da nova realidade. 
Assim, a família do surdo passa por etapas, até que se adapte e aceite a 
diferença do tão esperado filho. 
O primeiro grande sentimento da família é o choque, o luto. Ter que 
enfrentar que o bebê sonhado não é, naquele momento, o bebê real. Isso pode 
parecer forte, mas não tem nenhum caráter de julgamento. É uma constatação 
feita por pesquisadores que afirmam que, no momento da descoberta, a família 
passa por um período de buscar justificativas, visto que no espaço de tempo que 
envolve o anúncio da gravidez até a chegada do bebê, os pais fazem uma série 
de planos para o futuro do seu filho. No entanto, é preciso que a família encontre 
algum meio de refazer o seu plano inicial e permitir à criança que vem chegando 
ou que já está no convívio familiar, um lugar especial. 
Ao saber que o filho é surdo, para os pais, inicialmente, a sensação é de 
morte, não real, mas simbólica. É a morte dos planos, sonhos e projetos 
concebidos para essa criança. Isso pode acarretar duas situações distintas e 
que, da mesma forma, são prejudiciais; a superproteção dos pais em relação ao 
filho ou um afastamento emocional. Os pais veem um grande futuro na vida de 
seus filhos e, de repente, essas expectativas são rompidas por um diagnóstico. 
Enquanto é bebê, a mãe se disponibiliza a acolher as necessidades e 
demandas do filho, dar um sentido e significado às manifestações que ocorrem 
por meio do choro, principalmente. Porém, na medida em que o filho cresce, as 
demandas comunicativas começam a ser mais exigidas. 
Assim, o filho surdo tenta se comunicar, a família deseja entender, mas 
há efetivamente uma barreira. Devido à dificuldade, os pais começam a decidir 
pela criança, agir por ela, numa relação de pouco diálogo e muita imposição. 
Desse modo, a criança, embora convivendo com a família, fica impedida de 
 
72 
 
desenvolver-se plenamente, sem referência de identidade e, muitas vezes, sem 
convívio com pares surdos. 
Essa realidade é compartilhada por muitos surdos. Isso não significa que 
não haja amor e que a família não tente protegê-lo da melhor forma. Contudo, é 
preciso achar um equilíbrio para que a criança possa desenvolver-se em toda a 
sua plenitude. 
 
8.2.2 A aceitação 
 
Esse processo se dá quando os pais e familiares buscam criar, estimular 
e potencializar as capacidades da criança. Até que isso se estabeleça na família, 
o surdo já esteve privado de muitas informações, pois não compartilha com os 
pais a mesma linguagem. 
A aceitação compreende o período em que se integram as necessidades 
do filho ao resto da vida e a família deve tentar promover um equilíbrio no sentido 
de estabilidade e harmonia, que envolva todos os membros. Reconhece-se que 
a diferença existe, mas esse fato não limita a vida, a integração e as demandas 
familiares. 
Para que haja uma boa formação dos surdos por parte da família, há a 
necessidade de participação efetiva dos pais, visto que o apoio da família 
constitui a base para a socialização do surdo, sua compreensão do mundo e o 
entendimento de suas especificidades. Assim, a forma como a pessoa surda é 
tratada em casa irá determinar a imagem que ela terá de si mesma e isso tem 
influência direta no processo de maturidade, autoimagem e estima. 
Há ainda, nas famílias, uma dicotomia nas relações que envolvem a 
comunicação. Em muitos casos, fica evidente o despreparo da maioria das 
famílias para lidarem com a surdez e apenas uma pequena parte das famílias 
tem interesse em aprender e usar a língua de sinais com o filho, acarretando em 
uma comunicação de baixa qualidade. 
 
 
 
73 
 
Vocabulário 
Dicotomia: divisão de algo em duas partes contrárias. Dois pontos de vista 
alternativos e divergentes. 
 
Ainda referente à comunicação, compreende-se que a família que se 
envolve na comunicação do surdo por meio dos sinais possibilita a ele a 
interação com o mundo e promove o convívio mais agradável e feliz. Porém, 
estudos mostram que a expectativa da família ouvinte é geralmente a de que seu 
filho possa usar a Língua de Sinais entre os surdos e a Língua Portuguesa na 
modalidade oral com os ouvintes. A fala possibilitaria a integração dos filhos no 
mundo dos ouvintes e os sinais, por outro lado, a melhor compreensão e o 
estabelecimento de relações sociais entre iguais. 
Hoje, os pais, ao tomarem conhecimento da surdez do filho, têm uma 
vasta fonte de informações, que podem mostrar caminhos para o 
desenvolvimento da comunicação, da escolha da escola e métodos de ensino 
para surdos e de procedimentos a serem tomados para viabilizar o quanto antes 
o acesso aos bens socioculturais por parte da criança. 
A mudança nos paradigmas familiares seguiu acompanhando o 
movimento surdo na busca de seus direitos e avançou, na medida em que a 
surdez e a língua de sinais foram sendo popularizadas. 
 Importante 
Com a mudança na concepção de pessoa surda, passando a ter um enfoque 
sobre o seu potencial, sua diferença e sua capacidade, as famílias superaram 
possíveis resquícios do passado. O surdo deixou de ser um membro passivo, 
para assumir sua condição atuante na família. 
 
Para que seja possível a construção de uma identidade surda aos filhos 
de ouvintes, é essencial o convívio com outros surdos, para que, partilhando a 
experiência visual, possam apropriar-se de todas as formas de compreender o 
mundo, sendo, para eles, diferente da experiência auditiva. É essa diferença que 
separa a identidade surda da identidade ouvinte, mas que é imprescindível para 
o pleno desenvolvimento do surdo. 
 
74 
 
Além disso, participar da comunidade de surdos permitirá a identificação, 
despertará os mesmos interesses e pontos de vista, fazendo-o sentir-se 
pertencente e aceito, ciente do direito de circular e ter as mesmas oportunidades 
no mundo dos ouvintes, caracterizando-se pela única diferença preponderante, 
que é a de pertencer a uma minoria linguística. 
Os surdos mais velhos relatam que suas vidas mudaram de forma 
significativa a partir do momento em que a Libras passou a fazer parte de seu 
dia a dia. Muitos dos nascidos até a década de 1980 só vieram a ter liberdade 
de comunicação e fluência na Libras já adultos. Afirmam, também, que foi a partir 
do uso da Libras que evoluíram na leitura e escrita da língua portuguesa e isso 
se deu a partir do momento em que a família finalmente entendeu suas reais 
necessidades e passou a respeitá-las. 
 
8.3 Pais surdos e filhos ouvintes 
 
Os filhos ouvintes de pais surdos, conhecidos pelo termoCoda (Children 
of Deaf Adults), possuem também uma peculiaridade cultural e linguística, pois 
pertencem à maioria ouvinte, mas também à minoria surda. 
O primeiro aspecto importante para esses indivíduos é o fato de viverem 
em um ambiente naturalmente bilíngue. Alguns estudos consideram que os 
Codas têm duas línguas maternas: a língua de sinais e a língua oral de seu país. 
Já outros estudos consideram que, para eles, a sua língua materna é a língua 
de sinais. Porém, todos concordam que as experiências de vida dessas crianças 
possibilitam um crescimento linguístico e cultural, que molda a sua identidade. 
Ainda hoje, pode-se observar, por parte de algumas pessoas, a falsa ideia 
de que pais surdos sejam incapazes de assumir o seu papel com autonomia e 
autoridade. Isso é comprovado pelo relato de vários familiares de surdos, que, 
muitas vezes, se posicionam afirmando que os filhos ouvintes assumem 
responsabilidades precocemente, passando a cuidar dos pais. 
Esse processo ocorre quase que inconscientemente, pois diante dessas 
duas realidades, o Coda transmite as informações sonoras ou falas de outras 
pessoas para seus pais surdos e também, em sentido inverso, estabelece a 
mediação de seus pais com os ouvintes. Devido a isso, se atribui aos Codas 
como sendo os primeiros intérpretes das línguas de sinais, já que desde o berço 
 
75 
 
ou da mais tenra idade, ao estarem em contato com as duas línguas distintas, 
tenham sido a ponte de comunicação entre surdos e ouvintes. 
Para os Codas, é muito importante também o convívio com outros 
familiares ouvintes, que possam ser a referência da língua oral, permitindo o 
desenvolvimento global da criança, para que esta cresça saudável linguística e 
emocionalmente. 
Estudos sobre os Codas apontam que eles manifestam uma série de 
reivindicações, para que seus pais considerem, pois a característica bilíngue não 
lhes é intencional e, assim, não os agrada assumir funções na família, 
principalmente de suprir as carências comunicativas de seus pais. São elas: a) 
não fazer do filho um intérprete; b) que não lhes seja dada responsabilidade além 
da ideal para a faixa etária; c) que respeitem a infância e fases da vida do filho; 
d) tenham orgulho de sua comunidade e sua língua, sem comparar com os 
ouvintes; e) que compartilhem valores e informações da cultura surda, mas 
respeitem a diversidade de possibilidades e a mescla à qual os Codas estão 
submetidos. 
Dessa forma, ser Coda é crescer em meio a essa diferença, é viver em 
um contexto visual e linguístico que não é vivenciado por crianças ouvintes, filhas 
de pais ouvintes. É, ao mesmo tempo, uma dádiva e um peso. O importante é 
compreender que ser intérprete pode ser uma opção profissional, mas não uma 
obrigação. Suas escolhas dependerão de muitas variantes, mas, com certeza, 
são influenciadas pela familiarização com a língua de sinais, com a cultura surda, 
com a constituição de sua identidade e, finalmente, de sua história de vida. 
 Saiba mais 
O livro Tibi e Joca – uma história de dois mundos, de Cláudia Bisol conta a 
trajetória de vida de um menino surdo, Joca, desde o nascimento, em uma 
família ouvinte, até o descobrimento de sua identidade junto à comunidade 
surda, o que muda sua vida e de seu amigo Tibi. 
 
Conclusão da aula 8 
 
Nesta aula verificou-se que a surdez desperta efeitos tanto no indivíduo 
como na sua família. A maneira de reagir diante dessa realidade é fundamental 
 
76 
 
para que os rumos das relações familiares sejam tranquilos e, apesar dos 
obstáculos, todos possam transpor as dificuldades e conviver em harmonia. O 
equilíbrio na busca e manutenção de relações sadias é um fator relevante, pois, 
tanto para os surdos se adaptarem ao mundo ouvinte, como para os ouvintes se 
adaptarem ao mundo dos surdos, são necessários: empatia, disponibilidade, 
compreensão, aceitação e respeito às diferenças. 
 
Atividade de Aprendizagem 
 
Como última atividade desta disciplina, realize uma entrevista com um surdo, 
verificando os pontos abordados na aula, como as dificuldades no âmbito 
familiar, as reações da família diante da pessoa surda, como é o 
relacionamento e quais as maiores lições que eles podem lhe dar como 
incentivo na busca de sua formação profissional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
77 
 
Índice Remissivo 
A aceitação ................................................................................................ 
(Informações; dicotomia; linguagem) 
 
72 
A busca por direitos .................................................................................... 
(Associações; convivência; experiências) 
 
44 
A descoberta .............................................................................................. 
(Aceitação; amor; etapas) 
 
71 
A família – primeira parte da história .......................................................... 
(Aprendizado; cotidiano; família) 
 
70 
A importância das leis ................................................................................ 
(Ações; educação; integração) 
 
36 
A Libras diante de todos ............................................................................. 
(Desafios; efeitos; formação) 
 
31 
A origem dos Movimentos Surdos .............................................................. 
(Autonomia; comunidades; independência) 
 
44 
Antiguidade ................................................................................................ 
(Conceitos; direitos; discriminação) 
 
08 
Ao alcance das mãos ................................................................................. 
(Aceitação; diferenças; identidade) 
 
25 
Artefatos culturais dos surdos .................................................................... 
(Aprendizagem; diálogo; interação) 
 
57 
Artes Plásticas ........................................................................................... 
(Cores; formas; visão) 
 
61 
Avanços a partir de 1950 no mundo e no Brasil .......................................... 
(Experimentos; modelos; otologia) 
 
19 
Avanços Sociais e Tecnológicos ................................................................ 
(Acessibilidade; comunicação; mudanças) 
 
22 
Billy Saga – Brasil ...................................................................................... 
(Esculturas; lutas; união) 
 
63 
Brasil – Mobilizações a partir de 1990 ........................................................ 
(Igualdade; oportunidades; respeito) 
 
48 
Cinema e Vídeo ......................................................................................... 
(Filmes; produções; surdez) 
 
65 
Começo de conversa: conhecendo o passado ........................................... 
(História; processos; registros) 
 
08 
 
78 
 
Comunidade e Cultura Surda ..................................................................... 
(Cultura; hábitos; ideias) 
 
28 
Congresso de Milão ................................................................................... 
(Evento; imposição; oralismo) 
 
15 
Conquistas legais da área da surdez .......................................................... 
(Conquistas; implicações; instrumentos) 
 
40 
Cultura Surda ............................................................................................. 
(Ação histórica; crescimento; desenvolvimento) 
 
56 
Cultura Surda ............................................................................................. 
(Artes; entretenimento; pesquisa) 
 
60 
Decreto 5.626/2005 ................................................................................... 
(Educação bilíngue; formação; magistério) 
 
41 
Difusão e oficialização da Libras ................................................................ 
(Ensino; formação; multiplicadores) 
 
51 
Ellen Mansfield – Estados Unidos .............................................................. 
(Imagens; mãos; olhos) 
 
62Em frente: compreendendo o presente ...................................................... 
(Ideais; direitos; lutas) 
 
16 
Entretenimento .......................................................................................... 
(Caça talentos; programas; televisão) 
 
66 
Fases da história dos surdos ...................................................................... 
(Despertar; isolamento; revelação) 
 
35 
História crítica ............................................................................................ 
(Anseios; escola; protagonismo) 
 
55 
História cultural .......................................................................................... 
(Canal visual; hábitos; valores) 
 
54 
História cultural dos surdos ........................................................................ 
(Educação; registros; trajetória) 
 
52 
Historicismo ............................................................................................... 
(Colonizador; dominância; ouvintes) 
 
53 
Historicismo, história crítica e história cultural ............................................ 
(Integração; meios; pertencimento) 
 
53 
Idade Contemporânea ............................................................................... 
(Alfabeto manual; contribuições; otologia) 
 
13 
Idade Média e Idade Moderna .................................................................... 
(Diferenças; fala; gestos) 
 
09 
 
79 
 
Jennifer Lescouët – França ........................................................................ 
(Fotografia; palavras; silêncio) 
 
61 
Lei 12.319/2010 ......................................................................................... 
(Interpretação; proficiência; tradução) 
 
42 
Lei da Libras – Lei 10.436/2002 ................................................................. 
(Comunidades; poder; respaldo) 
 
40 
Literatura surda .......................................................................................... 
(Cultura; histórias; tradições) 
 
57 
Lucas Ramon – Cartoon – Brasil ................................................................ 
(Cartunista; livros; narrativas) 
 
63 
Marcos históricos da surdez no Brasil ........................................................ 
(Desenvolvimento; fortalecimento; integração) 
 
17 
Memórias ................................................................................................... 
(Barreira; história; narrativas) 
 
70 
Movimentos Surdos – educação, sociedade e cidadania ........................... 
(Direitos; lutas; resistência) 
 
44 
Movimentos Surdos no Brasil ..................................................................... 
(Associações; confederações; federações) 
 
46 
Mudança de paradigma – religião x razão .................................................. 
(Avanços; mudança; pesquisa) 
 
10 
O desenvolvimento tecnológico ................................................................. 
(Acessibilidade; aplicativos; comunicação) 
 
30 
O Século da Prosperidade ......................................................................... 
(Evolução; filosofia; métodos) 
 
12 
Pais surdos e filhos ouvintes ...................................................................... 
(Autonomia; bilinguismo; Codas) 
 
74 
Políticas públicas e legislação para a Surdez ............................................. 
(Avanços; conquistas; reconhecimento) 
 
34 
Produção Científica .................................................................................... 
(Academia; instituições; valorização) 
 
67 
Protagonismo da Surdez ............................................................................ 
(Comunidade; cultura; identidade) 
 
25 
Registros Históricos ................................................................................... 
(Educação; história; presente) 
 
08 
Relações familiares .................................................................................... 
(Convívio; identidade; saúde) 
 
69 
 
80 
 
Teatro ........................................................................................................ 
(Corpo; expressão; mímica) 
 
64 
Tempo de novas perspectivas ................................................................... 
(Crítica; participação popular; valorização) 
 
25 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
81 
 
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	Aula 1 – Começo de conversa: compreendendo o passado
	Apresentação da aula 1
	Aula 4 – Políticas públicas e legislação para a Surdez
	Aula 6 – História cultural dos surdos
	Aula 7 – Cultura Surda
	Aula 8 – Relações familiares

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