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Tutoria 5 Fechamento 1 REFERÊNCIAS Moore; embriologia clínica 10ª edição Artigo: Risco potencial do uso de medicamentos durante a gravidez e a lactação por Alinne Souza RIBEIRO e colaboradores, publicado na revista Infarma; ciências farmacêuticas v25, 2013 Manual de teratogênese em humanos da Federação Brasileira das associações de ginecologia e obstetrícia 2011 Informações no endereço eletrônico do Sistema de Informação Sobre Agentes Teratogênicos A letra da Lei e a vida das mulheres- Elisa Batalha- Fio cruz- 2016 DEFEITOS CONGÊNITOS Conceito Também chamados de anomalias são distúrbios do desenvolvimento presentes ao nascimento. São as principais causas de mortalidade infantil (fetal). Podem ser estruturais, funcionais, metabólicas, comportamentais ou hereditários. Os defeitos congênitos têm quatro fatores clínicos importantes: • Malformação • Perturbação • Deformação • Displasia TERATOLOGIA É o ramo da embriologia e da patologia envolvido com a produção, a anatomia do desenvolvimento e a classificação de embriões e fetos malformados. Alguns estágios do desenvolvimento embrionário são mais vulneráveis a perturbações que outros. Até a década de 40 acreditava-se que os embriões estavam protegidos de agentes teratógenos pelas membranas extraembrionárias ou fetais (âmnio e córion) e pelas paredes uterina e abdominal das mães. Em 1941 foram relatados os primeiros casos dos defeitos gerados pelo vírus da rubéola. Em 50 foram constatados defeitos graves dos membros em mães que tinham consumido a talidomida. As causas dos defeitos congênitos são divididas em: • Fatores genéticos, como anormalidades cromossômicas • Fatores ambientais, como fármacos, drogas e vírus • Herança multifatorial fatores genéticos e ambientais agindo em conjunto. DEFEITOS CONGÊNITOS CAUSADOS POR FATORES AMBIENTAIS Causam de 7% a 10% dos defeitos Teratógeno É qualquer agente que possa produzir defeitos congênitos (anomalias congênitas) ou aumentar a incidência de um defeito na população . Fatores ambientais explicam a frase: “Nem tudo o que é familiar é genético.” A diferenciação bioquímica precede a morfológica, portanto teratógenos não parecem causar defeitos até que a diferenciação celular tenha começado, sendo seus mecanismos exatos de perturbação ainda desconhecidos. Déborah Miranda Medicina- XXX - Funorte Diferentes tipos de lesões patológicas podem provocar um defeito final por uma via comum. Por exemplo, a resposta celular inicial tem mais de uma forma -bioquímica, molecular, genética, ou biofísica- resultam em diferentes alterações da célula -morte celular, interação celular ou indução defeituosa, redução da biossíntese de substratos, prejuízo de movimentos morfogênicos e perturbações mecânicas, gerando um defeito final- morte intrauterina, defeitos do desenvolvimento, retardos do desenvolvimento, retardo do crescimento fetal ou perturbações funcionais. Ao considerar a teratogenia, três princípios são importantes: Períodos críticos do desenvolvimento humano O período mais crítico é quando a divisão celular, a diferenciação celular e a morfogênese estão no seu auge. No período da organogênese (4 a 8 semanas) os teratógenos podem induzir defeitos congênitos importantes. Deficiência mental e outros defeitos fisiológicos provavelmente serão resultado de uma perturbação do período fetal ( da nona ao nascimento); Mas cada tecido, órgão e sistema de um embrião têm um período crítico no qual seu desenvolvimento pode ser prejudicado, mas é errado supor que defeitos sempre resultarão de um único evento ocorrido durante o período crítico, ou que seja possível determinar o dia exato em que o defeito foi produzido. Exemplos: Encéfalo: de 3 a 16 semanas e até depois por conta da diferenciação e crescimento rápido no momento do nascimento; Dentes: o desenvolvimento continua após o nascimento, o desenvolvimento dos dentes permanentes pode ser prejudicado por tetraciclinas a partir de 14 semanas aos 8 anos; Sistema esquelético: o período crítico se estende até a infância Durante as duas primeiras semanas perturbações ambientais podem interferir na clivagem do zigoto e na implantação dos blastocistos, contudo, não são conhecidas perturbações que causem defeitos congênitos, porque ou aborta ou o embrião compensa por sua capacidade totipotente. (Teoria do TUDO OU NADA) Os teratógenos podem afetar diferentes sistemas orgânicos que estejam em desenvolvimento ao mesmo tempo, como a talidomida que causa defeitos nos membros e anomalias cardíacas e renais Dose dos fármacos ou compostos químicos Como as pesquisas são, em sua maioria, feitas em animais, a comparação não é fidedigna visto que as respostas em animais correspondem a um nível mais alto que em humanos, portanto não podem ser imediatamente aplicáveis em gestantes, já que o efeito fenotípico é mais intenso. Experimentos em animais sugerem apenas que resultados semelhantes podem ocorrer em humanos, não traz uma garantia da sua ação em embriões, por exemplo. Genótipo do embrião O genótipo do embrião determina se o agente teratogênico prejudicará seu desenvolvimento, já que entre os expostos, nem todos desenvolvem os defeitos. TERATÓGENOS HUMANOS É importante expor os causadores de efeitos nocivos para alertar, principalmente gestantes, sobre o perigo. Prova de teratopatogenicidade Para provar os potenciais teratógenos existem formas prospectivas e retrospectivas de abordagem. Mães expostas aos agentes geralmente geram filhos com defeitos, ou filhos com defeitos, geralmente vieram de mães expostas. Fármacos/Drogas Lícitas e ilícitas ÁLCOOL • Segundo o Sistema de Informações sobre Agentes Teratogênicos (SIAT) de Porto Alegre, RS, em torno de 30,4% das gestantes referem consumo de álcool, em quantidade não especificada, durante a gravidez. • O etanol se distribui livremente no tecido fetal, alcançando as mesmas concentrações no sangue materno, isto porque as enzimas hepáticas fetais, particularmente a álcool desidrogenase, estão em baixos níveis, ocorrendo uma difusão passiva por gradiente de concentração. • O risco teratogênico para uma criança que sofreu uma exposição intrauterina ao etanol é estimado como de moderado a alto • Entre os efeitos, há: Síndrome do álcool fetal (SAF): termo utilizado para descrever o conjunto de sinais encontrados na criança associadas ao alcoolismo materno Efeitos relacionados ao álcool (ERA): designação dada aos indivíduos que não possuem todas as características para serem ditos portadores de SAF, mas apresentam malformações e/ou desordens neuropsicomotoras associadas ao consumo materno de álcool Devido às comprovações sobre o efeito teratogênico do etanol e às controvérsias sobre a existência de doses consideradas seguras, o conselho mais adequado para a mulher, que é gestante ou planeja gestar, é a abstinência de álcool. TABAGISMO O fumo é um dos comportamentos mais prejudiciais durante a gestação, e seus vários componentes causam danos, tanto para a mãe como para o feto, de diferentes maneiras. Sabe-se que a nicotina diminui o fluxo placentário e a circulação fetal, causando episódios de hipóxia- isquemia e desnutrição no feto; O monóxido de carbono reduz a oferta de oxigênio materno e fetal aumentando os níveis de carboxiemoglobina O chumbo é uma neurotoxina e alguns hidrocarbonetos encontrados no cigarro são mutagênicos. Entre as consequências, pode haver: Infertilidade O fumo está implicado em aumento de 30% de infertilidade no período desde a paradado anticoncepcional até a concepção, e a chance de não engravidar no período de 1 ano é duas a três vezes maior, além de diminuir a função ovariana a aumentar a infertilidade tubária, pelo lado paterno, diminui a qualidade dos espermatozoides Abortamento espontâneo Sem estudos conclusivos. Mesmo assim, tem-se certeza de que o risco é essencialmente maior para fumantes pesadas. Alterações placentárias O fumo está significativamente relacionado a aumento de 1,5 vez no risco de placenta prévia e descolamento Restrição de crescimento intrauterino São a vasoconstrição uterina e a redução da perfusão placentária as responsáveis diretas pela restrição do crescimento fetal intraútero. Prematuridade Mulheres que fumam têm 30% mais chance de terem gestações com menos de 37 semanas, e gestantes que fumam 20 cigarros por dia têm risco duas vezes maior de ruptura prematura de membranas antes das 33 semanas de gravidez. Mortalidade perinatal Há 30% mais chance de óbito perinatal e este se dá por condições relacionadas a baixo peso de nascimento, prematuridade e alterações placentárias. Atualmente, 10% dos casos de mortalidade nessa faixa são diretamente causados pelo cigarro, principalmente quando há restrição de crescimento intrauterino. Déficit de atenção Aparece associado ao tabagismo materno durante a gestação. Há evidências da existência de uma relação dose-dependente, isto é, quanto maior o consumo pela gestante, mais severa a sintomatologia da criança. Déficit cognitivo Vários estudos demonstram relação entre o consumo de cigarro pela mãe e várias formas de deficiência cognitiva nos filhos, quando comparados com filhos de mães não fumantes, como deficiência na compreensão verbal, no desenvolvimento de memória, na percepção de estímulos visuais e auditivos, além de níveis mais baixos de quociente intelectual (QI) e atraso do desenvolvimento motor. Tais achados estão relacionados, mais uma vez, à quantidade de cigarros utilizada pela mãe durante a gestação. Malformações congênitas: Fendas orais são uma malformação congênita, cuja relação com o cigarro é a mais estudada, sendo a maioria dos estudos positivos para essa associação. Há aumento de risco de filhos com fendas faciais em mães fumantes de 273%, ocorrendo em 1 a cada 183 nascidos, sendo a proporção normal de 1 caso a cada 500 nascimentos. Este efeito mostra- se claramente dependente do número de cigarros fumados pela mãe durante a gestação. Etiologicamente, a origem das fendas é multifatorial, havendo interação de fatores ambientais (cigarro) com fatores genéticos Fumo passivo Sabe-se que mesmo passivamente, o feto está exposto aos agentes tóxicos do cigarro. Há relatos de que exposição do feto à fumaça do cigarro está associada a aumento da suscetibilidade a doenças respiratórias e a mudanças no sistema imune.21 Além disso, filhos de mães expostas à fumaça do cigarro durante a gestação apresentam uma redução de peso significativa ao nascimento. s uma exposição passiva intensa corresponde à exposição ativa fraca, de 1 a 5 cigarros por dia. COCAÍNA É a droga mais amplamente usada entre mulheres em idade fértil O uso de cocaína durante a gestação pode resultar em vasoconstrição focal ou sistêmica contrações uterinas suficientemente fortes para causar ruptura completa de um útero gravídico já alterado por uma cicatriz de cesariana prévia. Especula-se que as alterações causadas pela cocaína durante a gestação assemelhem-se à pré-eclâmpsia, e talvez isto ocorra pela vasoconstrição, comum nas duas situações. Efeitos na mãe Em mulheres com uso irregular da droga são mais frequentes • Sangramento vaginal • Descolamento de placenta • Natimortalidade Enquanto que em gestantes com uso regular identificaram-se mais alterações crônicas (infecções sistêmicas, anemia, baixo peso de nascimento). A maior incidência de placenta prévia, ruptura prematura de membranas e abortos espontâneos também está comprovadamente associada ao uso de cocaína durante a gestação. Sabe-se ainda que as reações à cocaína são mais exacerbadas durante a gestação, sendo mais frequentes complicações como pneumotórax e convulsões. Efeitos fetais O principal temor baseia-se no seu efeito vasoconstritivo e consequente disrupção do desenvolvimento cerebral, além de se esperar alterações de padrão disruptivo em outros sistemas (por ex. restrição de crescimento intrauterino, defeitos de redução transversal de membros, etc.) MACONHA Não há evidências que seu uso seja um teratógeno humano, mas que nos dois primeiros meses de gestação afeta o crescimento fetal e o peso ANDRÓGENOS E PROGESTÁGENOS Mais conhecido: testosterona A exposição de embriões femininos à testosterona pode resultar na fusão labial e clitoriana. A diferenciação anormal dos órgãos genitais externos associada ao uso de andrógenos tem sido descrita em animais experimentais e seres humanos, da mesma forma que a masculinização da genitália externa de fetos do sexo feminino é descrita em associação com excesso de testosterona endógena Contato com progestina está associada a anomalias cardiovasculares, além de que fetos masculinos podem sofrer de hipoplasia da glande. O risco teratogênico desse hormônio é baixo. Exposição a pílulas anticoncepcionais pode provocar síndrome de VACTERL: anomalia Vertebrais, Anais, Cardíacas, Traqueais, Esofágicas, Renais e dos membros No passado, o uso de progestágenos era associado à virilização de fetos femininos e feminilização de fetos masculinos, mas isto era decorrente de concentração hormonal excessiva dos contraceptivos, o que não ocorre mais atualmente. Além disso, a genitália externa inicia sua diferenciação a partir da oitava semana pósconcepção, quando a gestação já foi diagnosticada, na maioria das vezes. ANTIBIÓTICOS Tetraciclinas se depositam nos ossos e nos dentes do embrião em locais de calcificação ativa. Causa, no primeiro trimestre manchas amarelas nos dentes primários e do 4° ao 9° mês diminuição do crescimento dos ossos longos e coloração amarelada ou marrom dos dentes. Estreptomicina (antituberculose) está relacionada a deficiência auditiva. Penicilina não apresenta problemas. Metronidazol É um antimicrobiano usado principalmente no tratamento de infecções causadas por germes anaeróbios, especialmente bacilos Gram- negativos, e por protozoários. Alguns estudos com animais encontraram indícios de que esta droga seria mutagênica e carcinogênica. Estes achados têm embasamento no seu mecanismo de ação, que envolve a formação de metabólitos ativos que poderiam interagir e alterar o DNA humano. Apesar de ser considerada uma droga segura, alguns especialistas recomendam que seu uso seja evitado durante o primeiro trimestre. Não encontrou-se evidências clínicas que pudessem associar a droga à maior incidência de alguma malformação congênita ANTICOAGULANTES Seu uso implica em reprogramar a fisiologia da coagulação em busca do ponto de equilíbrio entre os riscos de tromboembolismo materno e os de hemorragia, inerente ao anticoagulante, conjugado aos diversos momentos da gestação, do parto e do puerpério De modo geral, pode-se afirmar que na gestante existe um risco 6 vezes maior de ocorrência do tromboembolismo venoso Causas para o tromboembolismo venoso se maior na gestação (embolia pulmonar e trombose aguda) De modo geral, pode-se afirmar que na gestante existe um risco 6 vezes maior de ocorrência do tromboembolismo venoso Dois tipos de anticoagulantes são mais utilizados: as heparinas e os anticoagulantes orais. As heparinas têm ação imediata após a administração,baseada na inibição da trombina e do fator X ativado, catalisando a reação dos mesmos com a antitrombina III (AT-III), enquanto que os anticoagulantes orais (cumarínicos) têm sua ação mais lenta, inibindo a síntese dos fatores vitamina K dependentes, agindo como antagonistas competitivos da vitamina K, (fatores II, VII, IX e X) Para a prevenção e tratamento de tromboembolismo venoso, a heparina é o anticoagulante de escolha pela sua segurança e eficácia bem estabelecidas Os derivados cumarínicos são agentes anticoagulantes oralmente ativos. A varfarina É certamente o mais usado fármaco do grupo, já que os outros membros são mais tóxicos e de uso pouco seguro. Eles cruzam a barreira placentária e são potencialmente teratogênicos, especialmente no primeiro trimestre. A extensa literatura sobre o assunto aponta como maiores problemas a embriopatia (síndrome da varfarina fetal), defeitos do sistema nervoso central, aborto espontâneo, natimortalidade, prematuridade e hemorragias As principais anomalias associadas à exposição no primeiro trimestre da gestação (síndrome da varfarina fetal) são defeitos esqueléticos, incluindo hipoplasia nasal (por falha no desenvolvimento do septo nasal) e condrodisplasia punctata (calcificações puntiformes das epífises ósseas, epífises pontilhadas). Período de maior sensibilidade: 6 a 12 semanas ANTICONVULSIVANTE Aproximadamente 1 a cada 200 gestantes é epiléptica e requer o uso de anticonvulsivantes Os potenciais efeitos adversos dessas drogas incluem crescimento intrauterino restrito, dismorfias, malformações e atraso no desenvolvimento pósnatal. A estratégia de tratamento atual baseia-se no fato de que convulsões são mais prejudiciais à mãe e ao feto do que os próprios fármacos, podendo causar abortamento, hemorragia intracraniana fetal, prematuridade ou outras consequências deletérias. Assim, o objetivo do tratamento é manter a epilepsia sob controle, especialmente convulsões do tipo tônico-clônico, utilizando anticonvulsivantes que minimizem os efeitos adversos tanto para a mãe como para o feto. Para isso é necessário um tratamento monoterápico, com a menor dose efetiva Trimetadiona Seu uso na gestação é fortemente contraindicado devido à sua associação com um quadro muito grave. O padrão de malformações é denominado síndrome da trimetadiona fetal (STF) e consiste em restrição de crescimento pré e pós- natal, anomalias cardíacas, retardo mental, microcefalia, ptose palpebral, sobrancelhas em forma de V, prega epicântica, estrabismo, orelhas displásicas e com baixa implantação, fendas labial e palatina, dentes irregulares, prega simiesca e anomalias renais. A estimativa de risco da STF é de até 83% (baseada apenas em relatos de caso) e o risco de morte neonatal ou na infância chega a 30%. Além disso, há um risco maior de complicações perinatais. É difícil estimar o verdadeiro risco teratogênico desse fármaco, entretanto há consenso de que o risco é alto. Fenitoína (fenil-hidantoína) . É uma das drogas anticonvulsivantes com maior risco para malformações congênitas maiores e, na maioria dos estudos, está entre as drogas com maior potencial teratogênico, quando utilizada em politerapia. Está associada a um padrão de malformações conhecido como síndrome da fenitoína fetal (SFF), que se caracteriza por dismorfias faciais (hipertelorismo, microftalmia, pregas epicânticas, ptose palpebral, orelhas anormais e com implantação baixa, fendas labial e palatina) e dois dos seguintes achados: restrição de crescimento pré ou pós-natal, retardo mental, hipoplasia ungueal e de falanges distais e malformações maiores. Ácido valproico Além de DFTN, outras malformações estão associadas ao uso dessa medicação, como defeitos do SNC, microcefalia, anomalias cardíacas e faciais e retardo mental. ANTIEMÉTICO Fármacos para evitar vômitos e enjoo é importante ressaltar que a maior parte dos agentes antieméticos não costuma estar associada a um potencial teratogênico, e seu emprego obedece a uma relação risco-benefício para a gestante, sendo preferível optar por medicações mais bem estudadas dentro da classe dos antieméticos. ANTINEOPLÁSICOS O câncer na gestação é uma situação muito delicada, pois pode acarretar danos graves tanto para a mãe, quanto para o feto. A ocorrência de câncer durante a gestação é estimada em 0,2 a 1 caso em 1.000 gestações, sendo os mais frequentes o câncer de mama, o câncer de colo de útero e as leucemias. A doença em si já é um fator de risco para a gestação, pois efeitos sistêmicos, principalmente desnutrição e hipertermia, secundárias à neoplasia, podem interferir no desenvolvimento embriofetal. Os agentes antineoplásicos são um grupo de medicamentos bastante conhecidos por seu efeito teratogênico. A maioria deles atua impedindo a replicação celular, interferindo em algum estágio da síntese de DNA ou RNA. Outras vezes, interrompem algum as vias metabólicas essenciais e destroem macromoléculas a grande maioria desses agentes atravessa a barreira placentária e acaba atingindo os tecidos embriônicos e fetais. A teratogenicidade dessas drogas vai depender do tempo de exposição, da dose empregada e das características de permeabilidade placentária O uso de antineoplásicos no primeiro trimestre está associado a aumento na taxa de malformações, a qual varia entre 6 e 17%, parecendo haver um risco maior em casos de quimioterapia combinada, ou concomitante com radioterapia, do que em monoterapia (17 a 12,6% versus 6 a 10,4% respectivamente). Adicionalmente, o emprego de agentes citotóxicos durante o primeiro trimestre de gestação também está associado a aumento na taxa de abortos. No segundo e no terceiro trimestre, após organogênese, o risco está associado a aumento na taxa de prematuridade, restrição do crescimento intrauterino (RCIU) e mortalidade perinatal Alguns testes em animais de agentes quimioterápicos foram realizados, obtendo os seguintes resultados: Metotrexato (antimetabólico): Altamente teratogênico má-rotação intestinal abortamentos. Aminopterina (antimetabólico) Defeitos de sistema nervoso central, palato, membros e outros defeitos esqueléticos. Defeitos de audição, hipertelorismo, hipermobilidade articular, osteoporose. Aumento no índice de abortamentos. ÁCIDO RETINÓICO Em termos de impacto na saúde pública, a teratogenicidade de tais compostos é um fato relevante, já que uma porção significativa da população que faz uso de retinoides por via oral, é constituída por mulheres em idade reprodutiva. Atualmente, os retinoides são uma boa alternativa terapêutica para o tratamento de acne cística, psoríase, entre outras doenças queratinizantes, e sua administração é tanto por via tópica quanto sistêmica Mecanismos da ação teratogênica dos retinoides (Os compostos naturais e sintéticos que possuem uma estrutura química ou propriedades funcionais similares às da vitamina Assim, interferem diretamente na atividade e migração das células da crista neural cranial durante o seu desenvolvimento, levando, portanto a malformações em estruturas crânio-faciais, tímicas, cardíacas e do sistema nervoso central Lembrando que: A vitamina A é lipossolúvel e ocorre sob duas formas na natureza: é derivada de animais, sendo ingerida pela alimentação, em óleos de peixes e fígado, e como provitamina A ou ß-caroteno, precursor da vitamina A, encontrado em alguns vegetais e ingerido também pela alimentação. A vitamina A é necessária para a visão e para o crescimento e manutenção das células epiteliais. O organismo possui um mecanismo de transporte e depósito que mantém a vitamina A em uma forma não tóxica, ligada a proteínas. Desde que essa capacidade de depósito não seja excedida,não se observa aumento de malformações congênitas. Em humanos, 25.000 a 50.000 UI/dia são provavelmente necessárias para ultrapassar essa capacidade e potencialmente resultar em malformações. Os estudos epidemiológicos com respeito ao risco e dose considerados teratogênicos são discordantes. Entretanto, a literatura concorda que doses inferiores a 10.000 UI/dia são seguras ( 3 miligramas) durante a gestação. Os retinoides estão presentes no sangue de todas as pessoas, e dentre outras funções, estimulam a proliferação de células epidérmicas. Na pele, elas perdem a camada de queratina e dessa forma auxiliam o processo de escamação da pele. A isotretinoína também causa a atrofia da glândula sebácea, o que explica o uso e efetividade de suas formas sintéticas para tratamento de acne cística, tanto por via sistêmica quanto na forma tópica. A isotretinoína é considerada um teratógeno muito mais potente em humanos, quando comparada a animais Seus efeitos teratogênicos podem ser agrupados constituindo a síndrome da isotretinoína, o que inclui anomalias do sistema nervoso central, alterações crânio-faciais, malformações cardíacas, distúrbios neurocomportamentais e outras menos frequentes, além de aumentar o risco de aborto espontâneo e prematuridade, segundo alguns estudos epidemiológicos prospectivos Costuma-se recomendar que a paciente não engravide no período de 1 mês a partir da última dose, depois do qual não se espera maiores riscos para gestação. CORTICOSTEROIDE Tradicionalmente, há temor em relação ao uso de corticosteroides durante a gestação, porque há estudos, em modelos animais, demonstrando a associação dos mesmos à ocorrência de fenda palatina e outras malformações em diversos órgãos. Em um estudo de meta-análise encontrou- se um risco aumentado em torno de 3 a 4 vezes para fenda palatina em gestantes expostas a corticoides durante o primeiro trimestre de gestação, o que é compatível com o achado em animais, porém sem outros riscos de malformações maiores Assim, mesmo que a possibilidade da existência de um efeito teratogênico dos corticosteroides não seja completamente descartada, este efeito é na pior das hipóteses bastante pequeno. ENZIMA CONSERVADORA DE ANGIOTENSINA(ECA) Anti-hipertensivos atuam causando insuficiência renal fetal e, por conseguinte, oligoidrâmnio. Este efeito é observado apenas durante o segundo e terceiro trimestres de gravidez, por ser este o momento em que o rim fetal é sensível ao efeito hipotensor dessa classe de medicamentos. Estes agentes inibem a conversão da angiotensina I no peptídeo ativo angiotensina II. Seu uso está contraindicado no período gestacional, estando associados à fetotoxicidade. O maior risco ao feto aparenta estar ligado à exposição no terceiro trimestre, principalmente para os seguintes desfechos: oligoidrâmnio, persistência do ducto arterioso, restrição do crescimento intrauterino, hipoplasia pulmonar, hipocalvária (ossificação incompleta do crânio fetal), displasia tubular renal fetal e insuficiência renal neonatal. Essas anomalias do desenvolvimento foram atribuídas parcialmente a uma ação direta dos inibidores da ECA no sistema renina-angiotensina fetal e parcialmente a uma isquemia resultante de hipotensão materna e redução do fluxo sanguíneo fetoplacentário subsequente. INSULINA E MEDICAMENTOS HIPOGLICEMIANTE A insulina continua sendo o padrão ouro no tratamento de diabetes gestacional e diabetes tipo 2 na gestação, ela alcança o controle glicêmico ideal e não cruza a placenta. Em situações de resistência aumentada à insulina, o tratamento com antidiabéticos orais pode ser interessante, porém como cruzam a placenta e devido ao seu potencial teratogênico, esses agentes não são recomendados durante a gestação. Diabetes Melitos Ensaios clínicos sugerem que o mau controle do diabetes mellitus durante a gestação é uma causa de complicações e malformações fetais, e que a terapia com insulina pode reduzir o risco dessas complicações. É pouco provável que a insulina tenha efeito teratogênico direto porque o próprio diabetes, especialmente quando não tratado, resulta em alterações fetais (hiperglicemia, hipoglicemia, polidrâmnio, macrossomia, hiperinsulinemismo, hipocalcemia, hipercalcemia, prematuridade etc.) Outros antidiabéticos-hipoglicemiantes: Tolbutamina, Cloropropamida podem apresentar risco de hipoglicemia neonatal e outros como Gliburida, Glipizida Mínima transferência placentária Resultados promissores na gestação ANALGÉSICOS Aspirina (AAS) e paracetamol costumam ser usados na gravidez para alívio da febre ou dor. Embora estudos epidemiológicos indiquem que a aspirina não é um agente teratógeno, altas doses são possivelmente lesivas para o embrião ou feto. Pesquisas também mostram que mulheres que fizeram uso de paracetamol no início da gravidez, mostrou uma maior incidência de problemas comportamentais incluindo TDAH entre seus filhos DROGAS TIREOIDIANAS O iodeto de potássio em misturas para tosse e grandes doses de iodo radioativo podem causar bócio congênito. Pois atravessam a membrana placentária e interferem na produção de tiroxina, também pode causar aumento da tireoide e cretinismo (interrupção do desenvolvimento físico e mental e distrofia dos ossos e partes moles). É importante que gestantes evitem até cremes a base de iodo povidona porque pode ser absorvido pela vagina e causar teratogenia Bócio congênito se a mãe receber substâncias além da quantidade necessária para cotrolar a doença. IODO RADIOATIVO É usado no tratamento de hipertireoidismo, câncer de tireoide e de próstata. A tireoide do feto tem mais afinidade aos iodetos do que a da mãe e começa a absorver e incorporar iodetos a partir da décima semana de gestação. Uma dose fracionada de mais de 12,2 mCi é capaz de destruir a tireoide do feto. Não há relatos de efeito deletério imediato em doses usadas em diagnóstico com iodo radioativo, mas existe uma possibilidade teórica de indução de carcinoma de tireoide no concepto. Alguns dados sugerem também que a taxa de aborto espontâneo pode aumentar durante os primeiros 12 meses após o tratamento com iodo radioativo.Assim, há uma recomendação para que as mulheres submetidas a esse tratamento evitem engravidar por, pelo menos, 1 ano após o fim do mesmo, para que permita a excreção de todo radionuclídeo residual e também para que haja uma estabilização dos hormônios tireoidianos. Fármacos psicotrópicos CARBONATO DE LÍTIO Os relatos iniciais do National Register Lithium Babies associando o uso do lítio na gestação a aumento muito importante na frequência de defeitos congênitos cardíacos (principalmente anomalia de Ebstein) datam do início dos anos 1970. Hoje, no entanto, sabe-se que com exceção da eletroconvulsoterapia, o lítio é a opção de primeira linha (não necessariamente primeira escolha) para o tratamento da doença bipolar na gravidez. Os achados atuais apoiam uma associação entre o uso de lítio durante o primeiro trimestre e anomalia de Ebstein entre 0,05 e 0,1%.13 Por outro lado, o uso do lítio no período final da gravidez pode resultar em toxicidade do recém-nascido, incluindo cianose, hipotonia, bradicardia entre outros. A maioria desses efeitos tóxicos é autolimitada, desaparecendo até a completa excreção renal da droga, no período de 1 a 2 semanas. BENZODIAZEPÍNICOS Alguns benzodiazepínicos podem eventualmente ser utilizados para o tratamento de algumas formas de epilepsia, como o clonazepam, flunitrazepam, diazepam e lorazepan (os últimos dois para estados epiléticos). Vide Capítulo 12. Conclusão Acredita-se que as crises convulsivas sejam mais prejudiciais ao feto do quea própria medicação, e apesar de estudos encontrarem um aumento de quase 3 vezes no risco de malformações maiores entre as mulheres em uso de anticonvulsivantes,6 opta-se por tratar a gestante pelo risco de hipoxemia placentária e traumatismos. TRANQUILIZANTES É surpreendente o fato de que uma das maiores tragédias na história da medicina tenha sido o fator desencadeante do aprimoramento de inúmeras novas linhas de pesquisas que delimitaram o surgimento de uma nova ciência – a teratologia. A talidomida, fármaco muito conhecido na década de 1960 pela “tragédia da talidomida”, até hoje figura como uma das incógnitas dessa ciência, principalmente em razão de seus múltiplos mecanismos de ação terapêutica e mecanismos teratogênicos ainda desconhecidos. Sintetizada pela primeira vez em 1954, a talidomida (alfa-[N- ftalimido]-glutarimida), tinha como objetivo inicial agir como anti-histamínico. Estudos realizados em animais falharam em confirmar esse efeito, mas demonstraram suas propriedades sedativas e hipnóticas, comprovando-se assim a capacidade da talidomida de provocar um sono profundo e duradouro. Os resultados em animais não mostravam toxicidade, generalizando para humanos. Paralelamente ao crescimento das vendas, começaram a surgir os primeiros relatos médicos sobre reações adversas, incluindo constipação intestinal, vertigem, sensação de ressaca, perda de memória e polineurites, entre outras. Por seu lado, a Grunenthal minimizava esses relatos, atribuindo- os ao uso de altas doses e por tempo prolongado. malformação congênita, caracterizada pelo desenvolvimento defeituoso dos ossos longos dos braços e pernas e cujas mãos e pés variavam entre o normal e o rudimentar. A esse fenótipo foi dado o nome de focomelia, pela semelhança daquelas crianças com as focas. Apesar de ter sido retirada do mercado na Alemanha e Inglaterra no final de 1962, por total falta de informação quanto aos efeitos adversos já comprovados, o medicamento continuou sendo vendido em nosso país como uma droga “isenta de efeitos colaterais”, pelo menos até junho de 1963. Nesse período (1958-1963), a talidomida foi comercializada em território nacional por diversos laboratórios farmacêuticos, sob diversos nomes de marca. Entre 1963 e 1965, a talidomida foi banida de quase todo o mundo. De acordo com informações obtidas junto à Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida (ABPST), esse medicamento só foi de fato retirado do mercado brasileiro em 1965, ou seja, com pelo menos quatro anos de atraso. O número de vítimas nesse período foi estimado em cerca de trezentos Compostos químicos MERCÚRIO O metilmercúrio é produzido naturalmente no meio ambiente, quando o mercúrio inorgânico é metilado por micro-organismos do solo e da água, sendo bioamplificado na cadeia alimentar aquática. Também é produzido industrialmente para ser usado como fungicida ou subproduto de outros processos químicos. O metilmercúrio é rapidamente absorvido por ingestão, inalação ou absorção cutânea, acumulando-se no corpo com a exposição crônica, que pode provocar parestesias, ataxia, disartria, labilidade emocional e dificuldades visuais e auditivas. Estes sintomas podem estar ausentes até meses após a exposição inicial e, geralmente, são permanentes. Peixes e mamíferos aquáticos contaminados são a maior fonte de exposição ao metilmercúrio. Nos anos 1960, um grande número de recém-nascidos com paralisia cerebral, retardo psicomotor e microcefalia na vila de pescadores da Baía de Minimata, no Japão, chamou a atenção sobre a toxicidade dos derivados orgânicos do mercúrio, já que os peixes da baía estavam contaminados com metilmercúrio.O mesmo quadro (doença de Minamata) foi observado em outros casos de contaminação Exposição Ocupacional alimentar por metilmercúrio A exposição materna a altas doses de metilmercúrio durante a gravidez pode causar dano ao sistema nervoso central do feto bem como anormalidades estruturais e funcionais associadas, entretanto, a frequência de outras malformações não parece estar aumentada. Uma análise integrada de estudos em 3 regiões do mundo concluiu que, para cada aumento em 1 ppm de mercúrio encontrado no cabelo das mães, há um decréscimo de 0,18 ponto de QI na respectiva criança. CHUMBO No passado, a maior parte da exposição humana ao chumbo derivava da queima de aditivos à base de chumbos alquílicos na gasolina. Soldas de chumbo, canos, baterias de armazenamento, materiais de construção (tintas à base de chumbo), tintas, conservantes da madeira, uísque ilegal. Áreas industriais. Efeitos: infertilidade, aborto, parto prematuro, morte fetal e microcefalia. A exposição do feto ao chumbo durante a gestação pode determinar um déficit no desenvolvimento cognitivo da criança. Agentes biológicos CITOMEGALOVÍRUS O citomegalovírus é um DNA vírus cujo grupo possui uma propriedade biológica particular: pode permanecer latente no hospedeiro após a infecção primária e ser reativado periodicamente: o grupo dos herpes-vírus. A reativação pode ocorrer principalmente em períodos de imunodepressão, como AIDS, tratamento imunossupressor e durante a gestação. O vírus pode ser transmitido ao feto durante todo o período gestacional, após uma primo-infecção (adquirida durante a gravidez) materna ou uma reativação, o que torna elevada a incidência de infecção congênita. A transmissão vertical, em casos de reativação da infecção, é, no entanto bem menos frequente (cerca de 1%) e a infecção é menos virulenta. A infecção materna primária leva à ocorrência de recém-nascidos afetados em até 40% das vezes, enquanto apenas 0,5 a 3% dos RN nascidos de mães com infecção secundária serão infectados. Pode haver também transmissão perinatal, quando as principais fontes de transmissão viral são a passagem do feto pelo canal do parto e o leite. Diferentemente de outras infecções congênitas, a taxa da transmissão vertical da citomegalovirose não difere substancialmente, de acordo com a idade gestacional em que a mãe é infectada, sendo semelhante durante todo o período As formas graves da doença são decorrentes de infecções antes da 27ª semana e as formas menos graves ocorrem por infecções no terceiro trimestre. O acometimento de vários órgãos fetais pelo CMV se dá por via hematogênica. O mecanismo patogênico mais provável é a contínua replicação viral nos órgãos afetados e vários tecidos são suscetíveis aos efeitos citotóxicos do CMV RUBÉOLA A rubéola é uma doença viral contagiosa, benigna na maior parte da vida, mas se torna potencialmente muito grave quando infecta gestantes. A forma congênita é caracterizada pela transmissão vertical da infecção para o feto, durante a gestação, por ocasião de viremia decorrente de rimo-infecção materna. Quando uma gestante é infectada, várias situações podem ocorrer: infecção da placenta sem acometimento fetal, infecção placentária e fetal, ausência de infecção fetal, aborto espontâneo, natimorto e reabsorção do embrião. O fato de o sistema imunológico fetal estar imaturo no início da gestação favorece a infecção Um dos efeitos marcantes da infecção é o acentuado retardo de crescimento pré e pós-natal, que se prolonga pelo resto da vida. Apesar de a grande maioria dos defeitos se dar com infecção antes da 16ª semana, há raros relatos de casos de surdez com infecção após 28 semanas, estenose de artéria pulmonar após 24 semanas e retardo de crescimento associado à infecção no terceiro trimestre. Os sistemas mais gravemente acometidos são: sistema cardiovascular, sistema nervoso central, sistema ocular e sistema auditivo. HEPATITE B As crianças infectadas com hepatite B no período perinatal têm um riscomaior (90%) de desenvolver infecção crônica. Se enquadrar em algum grupo de risco para hepatite B, ela deverá ser imunizada. As mulheres com maior risco de contraírem hepatite B são aquelas que trabalham em unidades de saúde ou de segurança pública, fazem hemodiálise ou as que geralmente são expostas a sangue em unidades médicas ou dentárias, ou ainda aquelas que têm contato doméstico com portadores de hepatite B. Também são grupos de risco: as usuárias de drogas intravenosas, mulheres com múltiplos parceiros sexuais Vacina: tríplice viral TOXOPLASMOSE Quando ocorre rimo-infecção por Toxoplasma gondi na gestante, há risco de transmissão transplacentária do parasita para a circulação fetal, o que causa a toxoplasmose congênita. A severidade da doença diminui, à medida que aumenta a idade gestacional em que ocorre a infecção. A infecção materna num momento precoce da gestação (primeiro e segundo trimestres) pode resultar em toxoplasmose congênita grave, morte intrauterina e aborto espontâneo, enquanto num período mais tardio, a infecção é bem menos preocupante, com grande prevalência de formas assintomáticas. Na toxoplasmose congênita grave, observam-se infartos no córtex cerebral e gânglios da base, vasculites periaquedutal e periventricular com necrose, o que pode levar à obstrução dos forames e do aqueduto de Sylvius e consequente hidrocefalia. A retina é afetada por um intenso processo inflamatório e necrótico, que atinge a camada pigmentar dos cones e bastonetes, levando ao quadro de coriorretinite. No miocárdio, ocorre necrose fibrilar, enquanto, nos pulmões, ocorre infiltrado no interstício pulmonar e alveolar. Os fetos com toxoplasmose congênita geralmente parecem normais ao exame ecográfico pré-natal, porém podem aparecer achados, como calcificações intracranianas, dilatação ventricular, hepatomegalia, ascite e aumento da espessura placentária. SÍFILIS Trata-se de uma doença sexualmente transmissível, cujo agente etiológico é o microorganismo Treponema pallidum, bactéria do grupo das espiroquetas, que é transmitida durante atividade sexual por lesão mucocutânea A infecção congênita é classificada em sífilis congênita precoce (manifestações clínicas até os 2 anos de idade) e tardia (manifestações após os 2 anos, geralmente apenas na fase da puberdade). A infecção pode ser transmitida da mãe para o feto por via transplacentária ou pelo contato direto do feto com as lesões durante a passagem pelo canal de parto, em qualquer estágio da infecção materna. Crianças com sífilis congênita precoce podem ser assintomáticas ao nascimento e desenvolver a doença com 10 a 14 dias de vida. O quadro clínico inclui exantema maculopapular ou petéquias, hepatoesplenomegalia, icterícia, anemia, linfadenopatia, coriorretinite, osteocondrite, pseudoparalisia, obstrução nasal. Se este quadro não for tratado, pode ocorrer a sífilis congênita tardia, que geralmente tem início no terceiro ano de vida, com distrofias dentárias, nariz em sela, anormalidades dentárias e ceratite intersticial (tríade de Hutchinson), malformações de palato, surdez neurossensorial, lesões oculares, neurossífilis, alterações articulares e lesões cardiovasculares. HIV As preocupações em relação à infecção pelo HIV, durante a gestação, são relacionadas aos possíveis efeitos diretos do vírus na mãe e no feto e às formas de transmissão da doença ao bebê. Há alguns anos surgiram relatos de casos associando a infecção pelo HIV, durante a gestação, a uma síndrome malformativa caracterizada principalmente por déficit de crescimento, defeitos de face média e microcefalia nos filhos de gestantes infectadas. HERPES SIMPLES O vírus do herpes simples (HSV) é um vírus de DNA que causa infecção tanto nervosa quanto cutânea recorrente, envolvendo com mais frequência lábios ou genitália. A infecção do neonato pode ocorrer intraparto (80% dos casos), transplacentária (somente na rimo-infecção materna) ou pós-parto, podendo ocorrer tanto em infecção primária quanto em recorrentes, ou mesmo em mulheres portadoras assintomáticas que eliminam o vírus na secreção vaginal O quadro do herpes neonatal varia de doença localizada na pele, olhos e boca (vesículas, coriorretinite, ceratoconjuntivite), até encefalite, retardo mental, convulsões e doença disseminada. Na infecção disseminada, além das manifestações da infecção localizada, pode ocorrer inapetência, vômitos, letargia, febre, icterícia colestática, sofrimento respiratório. Atenção: são preconizados pelo SUS os tratamentos e diagnósticos para sífilis, HIV, Toxoplasmose, hepatite B. Possuem vacina pelo SUS: Hepatite e rubéola Agentes físicos RADIAÇÃO IONIZANTE A radiação ionizante pode agir nas células e tecidos do corpo de duas maneiras: pelo efeito direto, que consiste na alteração estrutural do átomo pela adição de energia e consequente ionização, liberando um elétron livre; e do efeito indireto. Este é provocado pela ionização da água intracelular, levando à formação de radicais livres (OH-, H+, H+² e peróxido de hidrogênio), os quais são compostos altamente reativos que atacam moléculas vizinhas. O período pré-implantação é aquele no qual o embrião é menos sensível à radiação. Nos primeiros 14 dias, o efeito mais comum é a falha na implantação do embrião, ou não haver manifestações (lei do tudo ou nada). Na organogênese (até 8 semanas), o sistema nervoso central é bastante suscetível ao efeito teratogênico da radiação ionizante. Da oitava até a décima quinta semana de gestação se estabelece um período muito sensível à radiação, estando as células da haste neuronal sujeitas a maiores danos em decorrência de uma alta atividade mitótica (se houver exposição a doses elevadas, existe alto risco de retardo mental). A partir da 16a até a 25a semana há uma diminuição da sensibilidade do sistema nervoso central (SNC) e de muitos outros órgãos. Após a vigésima quinta semana gestacional, o SNC torna-se bem pouco suscetível a malformações fetais e as anomalias funcionais são pouco prováveis. RADIAÇÃO Pode lesar células embrionárias, cromossomo s, resultando em morte celular, retardo no desenvolvimento mental e do crescimento físico. A dosagem é importante: radiação usada para fins de diagnóstico supõe -se que não são perigosas. HIPERTERMIA Exposição intensa, por exemplo, a ondas eletromagnéticas que elevam a temperatura corporal, ou, mesmo casos de febre alta desencadeados por outros quadros. Defeitos de origem mecânica O concepto está sujeito a alterações mecânicas intrauterinas que podem desfavorecer seu desenvolvimento adequado, provocando os defeitos congênitos. TRAUMA NA GESTAÇÃO A incidência de eventos traumáticos ocorridos com mulheres no período de gravidez tem sua avaliação prejudicada, pois grande parte não chega aos hospitais ou aos serviços de emergência obstétricos, por serem considerados pequenos/leves, ou por ocorrerem em momento precoce na gestação, sem que esta tenha sido sequer constatada, ficando suas repercussões ignoradas. Estima-se, contudo, que cerca de 6 a 7% das gestantes sofram algum tipo de trauma durante a gravidez. Dentre os traumas sofridos pela gestante, os mais rotineiros referem-se a acidentes de trânsito (colisões de veículo e atropelamento), acidentes de trabalho, eventos domésticos, quedas e agressão. Alguns autores propõem que a gestante tenha uma propensão a acidentes por razões como a alteração de sua compleição física, que dificulta sua movimentação e afeta sua rápida resposta (reflexa) aos perigos iminentes. Principais consequências do trauma na gestação Hematoma retroplacentário: descolamento de placenta e anormalidadesda formação placentária, além de doenças hipertensivas induzidas pela gestação. Parece haver maior incidência de partos prematuros e de restrição de crescimento intrauterino no grupo em questão. Hemorragia fetal intracraniana Hemorragia materno-fetal: no caso de o trauma resultar em hemorragia materno-fetal, pode haver isoimunização Rh em mães Rh negativas, devendo- se fazer tratamento com imunoglobulina Rh. Oligoidrâminio O líquido amniótico absorve pressões mecânicas, protegendo o embrião da maioria dos traumas externos, reduzir o volume do líquido pode causar deformações mecânicas de membros Síndrome da banda amniótica: Essas anomalias estão associadas ao estrangulamento de partes fetais in útero, levando a deformações, malformações ou roturas. Pode apresentar também o pé torto ou desenvolvimento congênito do quadril. Compressão prolongada geralmente por deformação do útero. Oligoidrâmnio: diminuição da quantidade de líquido amniótico. Obs: faixas amnióticas. Fatores maternos como teratógenos: DIABETES MELITO: Está associada a incidência duas a três vezes maior de defeitos congênitos. Macrossomia: filho geralmente grande de mãe diabética. Classificação de medicamentos segundo a FDA AS DIFICULDADES PARA TESTES As dificuldades em determinar a teratogenicidade de uma dada droga resultam de uma série de fatores. Em primeiro lugar, por razões éticas, quase todos os ensaios clínicos excluem as mulheres grávidas e estipulam que as mulheres pré-menopáusicas participantes tomem precauções contraceptivas eficazes. Quando os efeitos teratogênicos de drogas são testados em animais, isso ainda deixa de dar a resposta definitiva, pois a relevância de tais estudos para a gravidez humana é discutível. Isto é exemplificado pelo teratógeno talidomida, agora bem conhecido, que apesar de causar deformações graves em cerca de um terço de fetos humanos expostos, não demonstrou teratogenicidade em animais inicialmente testados. Mesmo que malformações devam ser observadas em animais que passaram pelo teste de exposição, a freqüência de malformações muitas vezes é tão baixa que o tamanho das amostras raramente é grande o suficiente para detectar o risco. Consequentemente, muitas vezes o risco não é detectado até uma droga entrar no mercado e ser utilizada há algum tempo e uma amostra grande o suficiente de mulheres seja exposta a ela para que qualquer teratogenicidade venha a ser suspeitada. Com a talidomida, o efeito incapacitante da droga em crianças expostas foi imediatamente visível; no entanto, alterações no feto em desenvolvimento podem ser muito mais sutis, por exemplo, no caso da exposição in-utero ao dietilestilbestrol, que só foi reconhecido como causador de complicações no sistema reprodutivo quando pessoas expostas tentaram conceber. Como exemplo ilustrativo, nós compilamos uma lista de medicamentos sobre os quais pesquisas têm descoberto evidências de efeitos teratogênicos em humanos. Esta lista não é de forma alguma definitiva ou exaustiva e só inclui drogas que estão na lista de medicamentos essenciais da OMS, para os quais evidências humanas estão disponíveis. Há outros agentes não incluídos nesta lista que apresentam forte evidência de teratogenicidade, como, por exemplo, a talidomida e isotretinoína. Estudo epidemiológico: Inicialmente foi feito um levantamento dos fármacos mais dispensados por mulheres na cidade de Aimorés - Minas Gerais, de acordo com informações dos farmacêuticos de 10 farmácias municipais. Os fármacos selecionados foram estudados quanto ao seu potencial risco em gestantes e lactentes de acordo com a classificação de risco da FDA nas classes: A, B, C, D e X e nas classes farmacológicas respectivas. Resultado Dos fármacos selecionados, 1 (4,76%) se enquadrou na categoria de risco A, considerada a mais segura. Na categoria B, 5 (23,8%) fármacos se enquadram nos que ainda estão em estudo em humanos sobre seus efeitos adversos. Na C, 10 (47,61%) estão no grupo que pode apresentar efeitos teratogênicos ou tóxicos para os embriões, enquanto na D foram identificados 4 (19,04%) fármacos que estão na categoria que evidencia risco para os fetos humanos, mas os benefícios em certas situações, como por exemplo, nas doenças graves ou que põem em risco a vida e para as quais não existe outra alternativa terapêutica, podem fazer com que o uso durante a gravidez esteja justificado, apesar dos riscos. Na categoria X, apenas 1 (4,76%) fármaco foi identificado, representando alterações fetais ou evidência de aumento no risco para o feto com base na experiência em humanos Como Proteger Gestantes de agentes teratógenos Intervenções antes da gravidez, incluindo intervenções na população em geral Indústrias que utilizam tais substâncias devem ser obrigadas a medir regularmente os níveis; deve ser exigida inspeção e auditoria para assegurar que esta medição seja realizada. Reuniões regulares de saúde ocupacional para as mulheres que tenham ocupações, particularmente, em risco podem ajudar a prevenir, por exemplo, através da mudança de atividade em preparação para uma gravidez planejada e da detecção de casos de exposição a teratógenos potencialmente perigosos antes de engravidar. Reuniões com um profissional de saúde treinado permitiria, então, a educação e os conselhos de planejamento familiar. Uma regulamentação mais rigorosa sobre a disponibilidade e o acesso aos produtos agrícolas e farmacêuticos (automedicação) permitiria ser mais bem controlada a exposição a estes teratógenos, e os riscos discutidos e minimizados. Campanhas públicas de educação Uma das questões centrais na prevenção de distúrbios congênitos é a frequente a falta de consciência em torno do impacto dos produtos químicos sobre o corpo humano e, especial, sobre o risco de distúrbios congênitos. Programas educacionais de sensibilização Podem assumir diferentes formas: • Educação dos profissionais de saúde • Campanhas públicas que incorporem cartazes, programas de TV/rádio e artigos de jornal para elevar a consciência dos perigos de produtos químicos para a saúde reprodutiva • Incorporação das classes de curta duração sobre os efeitos a longo prazo de produtos químicos nos currículos de ciência do ensino fundamental e médio (em unidades sobre o meio ambiente, a poluição ou a saúde humana) • O aconselhamento sobre cuidados pré- concepção em ambientes de cuidados primários de saúde ou como parte de serviços de planejamento familiar e de saúde reprodutiva que analisem as potenciais exposições a teratógenos, sendo feito sob medida conforme as circunstâncias da mulher e do seu parceiro. Consultas de cuidado pré- concepção representam uma oportunidade adicional e importante para identificar e mitigar os riscos individuais de quem planeja uma gravidez. legislação promulgada para reduzir a exposição dos trabalhadores a teratógenos perigosos ajudará a reduzir as taxas de distúrbios congênitos, para garantir que a saúde e a segurança dos trabalhadores não sejam comprometidas em nome de maiores lucros para a empresa. No setor agrícola, os trabalhadores podem ser expostos a produtos químicos teratogênicos através da pele durante o manuseio; através do nariz, olhos e boca durante a pulverização; e pela boca durante o consumo de alimentos e bebidas contaminados. A exposição pode ser reduzida através do uso de roupas de proteção, como luvas e máscaras durante o manuseio e a pulverização. A equipe do hospital que trabalha regularmente com fontes radiológicas (por exemplo, radiologistas e enfermeiros radiológicos)pode ser protegida por uma série de medidas que reduzem a exposição (por exemplo, aventais de chumbo), ou através do monitoramento dos níveis ambientais e o alerta aos gestores se os níveis de segurança são violados. Uma série de outras ocupações coloca trabalhadores em maior risco de exposição a teratógenos (por exemplo, trabalhadores de serrarias, pintores, trabalhadores da tintura, trabalhadores da produção de agrotóxicos, empregados da fabricação em geral etc.) Leis de proteção materna Muitos países têm leis de proteção materna para proteger os direitos da mãe e reduzir a exposição ocupacional a teratógenos. Serviço de informação de teratologia Programas de educação pública podem fornecer informações sobre o risco de exposição a teratógenos ambientais e farmacêuticos, particularmente durante os primeiros estágios da gravidez. Além disso, é importante ter organizações que possam fornecer conselhos confiáveis sobre casos específicos, a pedido, tanto durante a gravidez como antes da concepção.( O Serviço de Genética Médica (SGM), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), conta com o Sistema de Informação sobre Agentes Teratogênicos (SIAT/BA), totalmente gratuito, sem fins lucrativos, que fornece informações atualizadas a profissionais da área de saúde, pesquisadores e a comunidade em geral sobre os riscos relacionados às exposições a medicamentos e de outros agentes químicos, físicos ou biológicos, potencialmente teratogênicos, ou seja, capazes de causar malformação ao feto durante a gestação.) Legislação trabalhista Onde não existe proteção trabalhista legal para as mulheres grávidas, ou onde tais leis não são devidamente aplicadas, as mulheres estariam com medo de perder o emprego ao revelarem que estão grávidas ou pedirem para mudar suas tarefas profissionais. A implicação disso é que às mulheres grávidas, ou àquelas que estão tentando engravidar, não é dada a condição de que necessitam para a própria proteção e a do feto contra a exposição teratogênica no trabalho. Muitas mulheres que não têm condição psicológica, social ou física de engravidar. Aborto A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica os abortos não como ilegais ou legais, mas como inseguros, parcialmente seguros ou seguros. define como aborto não seguro uma gravidez que é encerrada por pessoas que não possuem as habilidades e informações necessárias ou em um ambiente que não está em conformidade com os padrões médicos mínimos. Quando é realizado em sintonia com as diretrizes e normas da OMS, o risco de complicações graves ou morte é insignificante. A “Pesquisa sobre aborto no Brasil: avanços e desafios para o campo da saúde coletiva”, de Greice Menezes e Estela Aquino, de 2009, mostrou que o perfil das mulheres brasileiras que morrem em decorrência do aborto é de jovens, negras, de estratos sociais menos privilegiados e que residem em áreas periféricas das cidades. “As razões para a interrupção da gravidez incluem a falta de acesso a contraceptivos ou falha destes; preocupações socioeconômicas, como situação de pobreza, baixa escolaridade e desemprego; necessidade de planejar o tamanho da família, como o espaçamento entre filhos; falta de apoio do parceiro; riscos para a saúde materna ou fetal e gravidez resultante de estupro ou incesto”, ABORTO LEGAL NO BRASIL + O aborto é permitido no Brasil em casos de estupro, risco de morte para a mãe ou anencefalia — neste último caso, foi permitido após o STF julgar uma ADPF sobre o tema em 2012. A Lei 12.845/2013 garante atendimento em qualquer hospital do SUS Na prática, ainda há grandes entraves e obstáculos. “Existem barreiras geográficas, organizacionais e alto índice de objeção de consciência por parte das equipes [quando se negam a prestar o cuidado]”, Apenas metade das mulheres que tentam utilizar os serviços — muitas delas meninas e adolescentes estupradas — consegue efetivamente interromper a gravidez. “Pela norma técnica vigente, não é necessário o serviço estar credenciado para fazer o aborto legal. Qualquer serviço de saúde deve atender, mas poucos o fazem”, relata. “E, desde 2005, a mulher não tem que apresentar um boletim de ocorrência do abuso sexual sofrido, mas na ponta do serrviço muitas vezes isso é exigido” A quinta maior causa de mortalidade materna no país são complicações decorrentes de abortos induzidos. Mais da metade das gestações no Brasil (55%) não é planejada. É o que aponta a pesquisa “Nascer no Brasil: inquérito nacional sobre parto e nascimento”, de 2014, que ouviu mulheres nas maternidades, já com a criança nascida. Das cerca de 24 mil entrevistadas, 4.080 (17%) tinham entre 10 e 19 anos; entre elas, o índice de gravidez não desejada atingiu 66%. A coordenadora da pesquisa, Maria do Carmo Leal, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), conta que, para muitas, a gravidez não foi programada mas poderia acontecer na vida delas. Porém, 29% disseram que a criança não caberia de jeito nenhum naquele momento. A juíza de Direito do Pará Andréa Bispo estudou o discurso sociológico no ordenamento jurídico do país que mantém o aborto criminalizado (Radis 187). A justificativa para a criminalização é a naturalização da maternidade como papel tradicional — e, muitas vezes, visto como único — atribuído à mulher na sociedade. Na Constituição Federal, é previsto o acesso a planejamento familiar, e isso significa programar quando engravidar, quantos filhos ter e o intervalo entre as gestações. Esse direito não é efetivamente garantido. Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, tem defendido em público o adiamento do início da atividade sexual entre os jovens como plano para enfrentar a gravidez precoce e a transmissão de infecções sexualmente transmissíveis (IST). Em nota técnica obtida pelo jornal O Globo (26/1), a pasta comandada por Damares afirmava que o início precoce da vida sexual leva a “comportamentos antissociais ou delinquentes” e “afastamento dos pais, escola e fé”, entre outras consequências.
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