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CAPÍTULO 1 Libras A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Entender o conceito da profissão linguísta e sua função. 3 Entender o uso das propriedades da língua de sinais da comunidade Surda. 3 Compreender os vários tipos de sistema de transcrição de sinais. 3 Utilizar os recursos do sistema de transcrição de sinais na prática de transcrição. 10 Língua Brasileira de Sinais 11 Libras Capítulo 1 ContextuaLização Apresentamos a trajetória da comunidade Surda e sua língua como ponto de partida na construção da identidade cultural, sociológica e educacional dos sujeitos Surdos. O texto apresenta três tópicos a serem compreendidos no início do curso, que são: O papel do linguista da Língua de Sinais Brasileira, cuja função é de fazer entender / compreender / captar / registrar o que mostram os sinais durante o comportamento / ação / perfomance dos sujeitos Surdos em um evento comunicativo, sem pré- julgamento ou influência sobre a decisão. Com a inserção da gramática da Língua de Sinais Brasileira, foi necessário entender também as propriedades desta e, finalmente, o uso de vários sistemas de transcrição de língua de sinais para registrá-la de modo fiel, de acordo com sua modalidade viso-gestual. o papeL do Linguista da Língua de sinais brasiLeira Sabemos que a Língua de Sinais Brasileira, conhecida simplesmente por LSB ou LIBRAS, é reconhecida pela Lei no 10.436 de 24 de abril de 2002, no seu artigo e parágrafo 1º (BRASIL, 2002): Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. O objetivo da Lei é enfatizar a necessidade de que a Língua Brasileira de Sinais - Libras seja objeto de uso comunicativo corrente nas comunidades surdas. Além disso, procura assegurar a presença de profissionais (pesquisadores e professores) na área da linguística e de educação, intérpretes nos espaços formais e instituições, como na administração pública direta e indireta; pesquisar acerca da Língua de Sinais Brasileira; difundi-la através das publicações e a inclusão do ensino da Língua de Sinais Brasileira nos cursos de formação de Educação Especial, Fonoaudiologia, disciplinas de Licenciatura, Magistério e profissionais intérpretes, sendo optativo para o aluno e obrigatório para a instituição de ensino. O objetivo da Lei é enfatizar a necessidade de que a Língua Brasileira de Sinais - Libras seja objeto de uso comunicativo corrente nas comunidades surdas. 12 Língua Brasileira de Sinais Veja a lei e sua regulamentação através do Decreto no 5.636/05 de 22 de dezembro de 2005: Lei: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10436.htm Decreto: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/ 2005/decreto/d5626.htm Portanto, o espaço da língua de sinais e suas pesquisas começaram a aparecer nos diversos estados brasileiros através das universidades brasileiras, que desenvolvem pesquisas e conhecimentos na área da linguística e de língua de sinais. Para atender melhor, o artigo 4º da lei afirma (BRASIL, 2002): Art. 4o O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Foi necessária e urgente a implantanção em tempo curto da disciplina de Língua de Sinais Brasileira nos estudos e no ensino em cursos de nível médio e superior. Atualmente, o ensino infantil e básico está em fase da regulamentação através de projeto de lei que tramita no Congresso Nacional. Isso exigiu o processo de criação de conhecimento, através de pesquisas realizadas em outros países, para poder atender a demanda de pessoas interessadas em receber o conhecimento e de aprender a língua da comunidade Surda. Também para organizar os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, requerendo uma estrutura organizada dentro do currículo como as outras línguas orais e orientações aos gestores nas implantações da língua de sinais nos currículos de ensino básico, sem desprestigiar a língua escrita. É fundamental o uso das duas línguas para tornar o cidadão Surdo bilíngue, no que se refere à diferenciação gramatical. 13 Libras Capítulo 1 Atividade de Estudos: 1) Qual a importância do reconhecimento da Língua de Sinais Brasileira para a comunidade Surda. Comente, também, as contribuições que a Lei e seu decreto trouxeram para a sociedade brasileira. ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ Historicamente, os primeiros estudos da língua de sinais já vieram desde o século XIV. Em 1644, o inglês Bulwer J. B. escreveu um livro de língua de sinais inglesa: Chirologia: on the natural language of the hand, acompanhado de figuras das mãos e seus significados. O tema chirologia, traduzido como quirologia, é muito citado por Bulwer(1644) nos seus estudos da língua de sinais porque os gestos das mãos são importantes para os Surdos e são vistos como o domínio da comunicação deles. Menciona, também, que “era recompensa da natureza que os Surdos devem se comunicar através de gestos”, e acredita firmemente na “a necessidade que opera a Natureza nos homens que nascem Surdos e Mudos, que podem discutir, mostrar, sinalizar retoricamente por sinais”. (BUWLER, 1644, p. 5). O livro do autor esclarece que a quirologia é um dicionário de gestos manuais, citando o seu significado e o uso de uma ampla gama de fontes literárias, religiosas e médicas. Quirema é um manual para o uso efetivo do Gesto de falar em público. 14 Língua Brasileira de Sinais Quirologia - Do grego quiro = mão e logia = estudo, ou seja, o estudo ou conhecimento adquirido através das mãos. Técnica de conversação por meio de sinais feitos com os dedos (por exemplo: o alfabeto dos surdos-mudos); DACTILOLOGIA (HOUAISS, 2010). Quirema – segundo Stokoe (1960), são as unidades formacionais dos sinais (configuração de mão, locação e movimento) e o estudo de suas combinações. Segundo os dados da Felipe (1998) outro livro de pesquisa de língua de sinais também apareceu na Inglaterra, em 1895, com o livro denominado: The sign of Language of the deaf and dumb de autoria de R. W. Nevins. Como naquela época não tínhamos muito acesso à informação, devido a distância geográfica e à ausência de computador, os registros foram importantes na área dos estudoslinguísticos. Nos Estados Unidos, os próprios Surdos, oriundos da Gallaudet University, em 1848, publicaram os Annals of the Deaf, que é o inventário da cultura surda americana, juntamente ao inventário de sinais dentro da Língua de Sinais Americana (ASL). Os manuais foram: The sign language: a manual of signs, de J. L. Long, e Handbook of the sign language of the deaf, de S. Michael, no período de 1918 e 1923. Estes inventários foram muito importantes porque ajudaram na pesquisa da evolução de Língua de Sinais Americana. No período de 1923 em diante, nos Estados Unidos, houve imposição do uso da filosofia oralista nas escolas. A pesquisa na área ficou suspensa por causa do conflito de interesse e de ideologia: oralismo X língua de sinais. Em 1960, o estudo da língua de sinais americana (ASL) ficou mais reconhecido quando W.C. Stokoe, pesquisador e professor de inglês da Gallaudet University, percebeu a diferença da gramática linguística utilizada pelos alunos Surdos na sala de aula e fora do contexto educacional. Publicou o artigo Sign Language Structure: an outline of the visual communication system of the American Deaf, na revista Studies in Linguistics, Occasional Papers 8. Em 1965, juntamente à equipe composta de pessoas Surdas e ouvintes, Stokoe, Casterline e Croneberg publicaram A Dictionary of American Sign Language. A partir de então, da década de 70 para cá, milhares de publicações foram editadas em todo o mundo sobre as diversas línguas de sinais, mas a Língua de Sinais Americana ainda está em número maior de pesquisas financiadas pelo governo e instituições de pesquisas. 15 Libras Capítulo 1 Atividade de Estudos: 1) Pesquise em sites de busca e escreva o porquê da área linguistica ter parado seu desenvolvimento durante este período. Quem foi um dos precursores da filosofia oralista nos Estados Unidos? ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ Saiba mais sobre William Stokoe na seguinte página: http://gupress.gallaudet.edu/stokoe.html Se você não souber ler em inglês, utilize um tradutor on-line e tente decifrar a tradução automática. Acesse o link que indicamos a seguir e conheça a família das línguas de sinais existentes no mundo: http://www.ethnologue.com/show_family.asp?subid=23-16 Os estudos linguísticos das línguas de sinais iniciaram com Stokoe (1960), pois até aquele momento, todos os estudos linguísticos concentravam-se nas 16 Língua Brasileira de Sinais análises de línguas orais (faladas) e Stokoe (1960) foi o primeiro a trabalhar diferente, mudou a mentalidade da área linguística, apresentando uma análise descritiva da Língua de Sinais Americana, através da metodologia transcrição de língua de sinais. Isso possibilitou, pela primeira vez, um linguista apresentar os elementos linguísticos de uma língua de sinais. Assim, as línguas de sinais passaram a ser vistas como línguas de fato e de direito linguístico da comunidade Surda. Você pode observar o uso da terminologia “fonema” e “fonética”. Os linguistas têm utilizando os termos fonética e fonologia para tratar de fenômeno natural ou social observável cientificamente nas línguas de sinais, desconsiderando o significado de sua raiz, fon-, que é som, elemento ausente da estrutura da língua de sinais americana. Stokoe, em 1965, no evento internacional de linguistas, propôs o termo “quirema”, retornando a pesquisa do Bulwer (1644), em substituição à terminologia “fonema”, para designar elementos linguísticos de língua de sinais. Havia, na época, duas correntes: a favor - defendendo que o conceito de quirema é o mesmo que de fonema e que o uso de duas terminologias com o mesmo conceito só geraria discussões; contra - o outro argumentava que o novo termo era também incorreto porque este só envolvia a mão, havendo vários outros aspectos e outras partes do corpo envolvidos na realização da língua de sinais, o que não combinaria com esta terminologia. Atividade de Estudos: 1) Pesquise os conceitos dos termos: “fonética” e “fonologia” e responda abaixo: a) Estes termos se aplicam à língua de sinais? ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ b) Explique o porquê da contradição dos termos “fonética e fonologia” para a língua de sinais. ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ Os linguistas têm utilizando os termos fonética e fonologia para tratar de fenômeno natural ou social observável cientificamente nas línguas de sinais, desconsiderando o significado de sua raiz, fon-, que é som, elemento ausente da estrutura da língua de sinais americana. 17 Libras Capítulo 1 c) Como você, como futuro/a pesquisador/a da língua de sinais, vai divulgar a diferença de termos ao público em geral. Onde fará isso? ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ A motivação do uso da terminologia “quirema” tem um processo histórico- cultural em que usamos a língua de sinais como usuários de uma língua e não como árbitros. Aos profissionais línguistas, é imprescindível fazer todas as imersões da língua de sinais para poder comprender e identificar a língua de sinais propriamente dita. Por isso, é fundamental que os linguistas que exercem a profissão ou fazem pesquisa na área da língua de sinais dominam a língua de sinais pela modalidade viso-gestual. Como cita a professora Quadros (2004, p. 28), a “língua é um sistema de signos compartilhados por uma comunidade linguística comum” e para interagir com pessoas Surdas ou pesquisar com os informantes Surdos no território brasileiro dentro do “espaço de língua de sinais brasileira”, é preciso entender e conhecer os “sinalizantes-visuais” desta língua. Sem o conhecimento da língua de sinais seria impossível dar continuidade a esta pesquisa e avaliá-la. Portanto, é importante mostrar que o linguista precisa saber muito sobre a língua envolvida, no caso a língua de sinais, entender bem as culturas do povo Surdo que usa essa língua, ter familiaridade com cada tipo de estrutura, os conteúdos, a interpretação, a tradução e se informar antes sobre o assunto que será abordado no momento de pesquisa. Segundo a pesquisa etnográfica do Erickson (1984, 1986), não se usam critérios de classificação (certo/errado) para a língua de sinais, mas a preocupação é entender / compreender / captar o que mostram os sinais durante o comportamento / ação / perfomance dos sujeitos Surdos em um evento comunicativo. A denominação “familiarização com o estranho” não necessita julgar os valores morais e culturais, mas respeitar e tentar colocar- se no lugar do outro, como, por exemplo, respeitar o espaço e uso efetivo comunicativo da língua de sinais. Isso também implica a ética, que é uma aptidão ou capacidade de mobilizar conhecimentos para satisfazer a um determinado fim e nunca o contrário. É importante mostrar que o linguista precisa saber muito sobre a línguaenvolvida, no caso a língua de sinais, entender bem as culturas do povo Surdo que usa essa língua, ter familiaridade com cada tipo de estrutura, os conteúdos, a interpretação, a tradução e se informar antes sobre o assunto que será abordado no momento de pesquisa. 18 Língua Brasileira de Sinais Sobre a resistência dos pesquisadores ou linguístas à língua de sinais ou à língua sinalizada (WILCOX, 2005), podemos afirmar que ocorre pelo fato de que todos os sinais novos (o que acontece comumente com os linguistas ouvintes quando têm pouco contato com a língua de sinais) que aparecem e suas ideias encontram forçosamente oposição, e não houve uma única inserção que ocorresse sem lutas. A resistência, nesses casos, está sempre na importância dos resultados previstos, pois quanto mais ela aparece, maior será o número de interesses ameaçados. Se for um sinal notoriamente falso ou mal pesquisado, considerado sem consequências, ninguém se perturba com ele e o deixará passar, confiante na sua falta de vitalidade. Mas se é verdadeiro, se está assentado em bases sólidas, se é possível entrever-lhe o futuro, um secreto pressentimento adverte os seus antagonistas de que se trata de um perigo para eles, para a ordem de coisas por cuja manutenção se interessa (no caso de nome e prestígio). E é por isso que se lançam contra ele e os seus adeptos (no caso da comunidade Surda). Para isso, é necessário combater o ego dos linguistas e levar sempre em consideração e lembrar que a Língua de Sinais Brasileira é a primeira língua da comunidade Surda e não valorizar somente os usuários que se utilizam dela como segunda língua. Atividade de Estudos: 1) Qual a crença sobre o papel de linguista no aprendizado da outra língua distinta? ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ 2) Qual a crença sobre a língua de sinais por parte dos linguistas quando a aprendem? ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ A Língua de Sinais Brasileira é a primeira língua da comunidade Surda e não valorizar somente os usuários que se utilizam dela como segunda língua. 19 Libras Capítulo 1 A função dos linguístas de Língua de Sinais Brasileira prevê, na sua competência: • traduzir e interpretar a Língua de Sinais Brasileira para a Língua Portuguesa e vice-versa, não sendo necessário ser intérprete de língua de sinais, cuja profissão e função se diferenciam; • traduzir e interpretar a Língua de Sinais Brasileira para escrita de sinais e vice-versa; • traduzir e interpretar os sistemas fonológicos, morfológicos, sintáticos, pragmáticos e semânticos da Língua de Sinais Brasileira; • entender o sentido e significado de todos os sinais e seus contextos; • defender a língua de sinais da comunidade Surda; • ser neutro nas situações e não interferir nos anseios e desejos do movimento Surdo; • vestir a “camisa” ou “familiarizar-se” com a língua de sinais brasileira e sua cultura; • elaborar projetos, incluindo sempre as pessoas Surdas como pesquisadores/as e não como informantes ou objetos de estudo de campo; • participar, por força da ética, nas Associações e eventos promovidos pela comunidade Surda. Com a regulamentação do decreto baseando da Lei no 10.436/02 cresceu o número significativo de pessoas ouvintes interessadas em pesquisar a Língua de Sinais Brasileira. A profissão dos linguistas também cresceu. A questão do crescimento do número não é pelo ingresso no “mundo dos Surdos”, o que é pouco, mas sim pelos contatos diários, exposição da língua de sinais e aprofundamento do contexto da Surdez, da cultura e da língua de sinais durante a formação acadêmica (licenciaturas e bacharelados), adquirindo, assim, o “estranhamento/familiarização” e choque cultural durante o período de entrada neste mundo. Aqui no Brasil, o primeiro pesquisador autodidata da Língua de Sinais Brasileira foi Flausino da Gama, ex-aluno e repetidor do Instituto Nacional de Surdos-Mudos, atual Instituto Nacional de Educação de Surdos (Rio de Janeiro). Junto com o diretor publicou, em 1875, o livro: Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos, com as figuras dos sinais copiados da 20 Língua Brasileira de Sinais Língua de Sinais Francesa e legendas traduzidas para o português. Neste período não estava envolvido no estudo da Língua de Sinais Brasileira propriamente dita. O objetivo do livro era difundir para a comunidade ouvinte a necessidade de aprender a Língua de Sinais Brasileira para poder comunicar-se com os Surdos. Na década de 1980, em Recife, saiu o primeiro Boletim sobre o estudo da Língua de Sinais, elaborado pelo GELES, da UFPE – Universidade Federal de Pernambuco. Neste Boletim, citou-se que a língua de sinais utilizada pelos surdos das capitais do Brasil era denominada de LSCB, ou seja, Língua de Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros, por causa da existência de outra língua de sinais no Brasil, a LSUK - Língua de Sinais dos índios Urubus- Kaapor, descoberta por um linguista americano do Summer Institute e, depois, apresentada em estudos e registrada em livros pela linguista Lucinda Brito. Para preservar e defender a língua de sinais no contexto político e linguístico, a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos – FENEIS denominou a língua de sinais como LIBRAS – Língua de Sinais Brasileira, em 1988. Alguns linguistas preferem referir-se a ela usando a sigla LSB, seguindo a nomenclatura do padrão internacional da língua de sinais que é Língua de Sinais Brasileira – LSB. Em 1996, em Petrópolis, na Câmara Técnica, com o apoio da CORDE - Coordenadoria Nacional para integração da Pessoa Portadora de Deficiência, responsável pelo evento, procurou-se a introdução de subsídio ao Projeto de Lei da Senadora Benedita da Silva, juntamente com a FENEIS, atualmente Lei Libras no 10.436/02, para a oficialização da LIBRAS em âmbito nacional. Para reafirmar a importância do uso da língua de sinais na sociedade foi criada uma metodologia para ensino de LIBRAS pela FENEIS, com a primeira edição do material “LIBRAS em Contexto”, em parceria com MEC. Atividade de Estudos: 1) Comente sobre a evolução do material de Libras. ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ 21 Libras Capítulo 1 Para reforçar a necessidade de usar a língua de sinais no contexto educacional, foi realizado o II Congresso Latino-americano de Bilinguismo, em 1998, que foi uma era histórica na introdução da proposta de educação bilíngue para os Surdos, assim, podemos mostrar que a língua de sinais é de fato, de direito e verdadeira. Mais tarde, vários/as linguistas começaram a publicar artigos e livros sobre a Língua de Sinais Brasileira, como Lucinda Brito, Eulália Fernandes, Ronice Quadros, Lodenir Karnopp, Tanya Fellipe e muitos outros. Atividade de Estudos: 1) Escreva em duas tabelas os nomes dos linguistas Surdos e Não-Surdos (Ouvintes) em nível brasileiro. ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ 2) Igualmente, escreva os títulos dos estudos da Língua de Sinais Brasileira relevantes para a pesquisa da língua de sinais. ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ Aos poucos, os próprios surdos começaram a participar como pesquisadores das línguas de sinais durante o ingresso nas universidades públicas. A Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1989, abriu o primeiro concurso público para professor assistente na área de Língua de Sinais Brasileira. Como não havia mestrado, a Universidade Federal de Santa Catarina abriu, em 2005, a primeira pós-graduação lato sensu (mestrado) da área linguística. No entanto, ainda temos poucos linguistas Surdos investigando a língua de sinais do seu país. 22 Língua Brasileira de Sinais Conhecendo alguns linguistas Os primeiros linguístas Surdos norte-americanos foram Ted Supalla e Carol Padden Figura 1 – Primeiros linguistas surdos norte-americanos. Fonte: Disponível em: <http://www.bcs.rochester.edu/people/supalla/ supalla1.gif&imgrefurl=http://www.bcs.rochester.edu/people/supalla/&usg=__ dE9I3HG8A7TtKEgZd7MqS>. Acesso em: 26 mai. 2011. No Brasil, a primeira professora concursada na UFRJ, Myrna Salerno, também é pesquisadora da Língua de Sinais Brasileira há vários anos. Figura 2 – Myrna Salerno, primeira professora surda concursada na UFRJ. Fonte: Disponível em < http://br-pt.sonico.com/u/14899294/Myrna-Salerno-Monteir o&usg=__8xehc3v3vqC2l7zv70UtSQ1mNms429>. Acesso em : 25 mai. 2011. A Dra. Ana Regina e Souza Campello foi uma das primeiras surdas a estudar a Língua de Sinais Brasileira na pós-graduação, em 2005. Em seguida, surgiram outras linguistas formadas, assim como Shirley Vilhalva, Heloise Gripp e Nayara Adriano (em ordem nas fotos): 23 Libras Capítulo 1 Figura 3 – Primeiros pesquisadores surdos da Lingua de Sinais Brasileira. Fonte: A autora. propriedades das Línguas e das Línguas de sinais Temos cinco (5) propriedades da língua de sinais. Vamos ver os aspectos de cada propriedade e não se esqueça de acessar os links para que possa entender melhor, visualizando os exemplos de algumas propriedades. a) Flexibilidade e Versatilidade A língua de sinais, como outras línguas faladas, tem suas características próprias e significativas. Diferentemente de outros códigos ou sistemas de comunicação, como o sistema de comunicação de teatro ou de mímica. A língua de sinais pode ser utilizada como meio de persuasão, de sugestão, de pedido, de ordenamento, de elaboração do pensamento no futuro; para fazer planos, emitir diversas opiniões, cantar uma música rap ou hip-hop, influenciar a decisão dos outros e tudo o que existe na comunicação no dia a dia. Para compreender um pouco mais sobre a Flexibilidade e a Versatilidade, acesse os links abaixo: 1 – poesia - http://www.youtube.com/watch?v=TxOiY9VL0AY 2 – questões da prova de Prolibras - http://www.youtube.com/ watch?v=aPEEwDKqWzo 3 – ordem de manifestação em libras - http://www.youtube.com/ watch?v=vc0fzOOz5oM 24 Língua Brasileira de Sinais Atividade de Estudos: 1) A partir dos vídeos e do que foi discutido sobre a flexibilidade e a versatilidade da Língua de Sinais Brasileira, qual relação você conseguiu estabelecer desses dois conceitos teóricos. ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ b) Arbitrariedade Os sinais da língua de sinais (os signos linguísticos) são convencionados e reconhecidos pela comunidade Surda, portanto, todos os sinais convencionados são arbitrários. Isso possibilita o enriquecimento da flexibilidade e versatilidade da língua com o uso das imotivações entre a forma e o significado; e motivação entre a forma e o significado (iconicidade). Também, existem, atualmente, as variações linguísticas de sinais de cada estado do Brasil, assim como as palavras da língua falada. Exemplos: Figura 4 - Árvore – Sinal motivado (tem relação entre a forma e significado) Fonte: Disponível em: <http:// peadportfolio156701b.blogspot. com/2009_09_01_archive.html>. Acesso em: 12 abr. 2011. Figura 5 - Certo – Sinal imotivado (não tem relação entre a forma e significado) Fonte: Disponível em: <www. ines.’.br/dicionariolibras>. Acesso em: 12 abr. 2011 25 Libras Capítulo 1 Homonímia de Sinais Atividade de Estudos: 1) Pesquise no Youtube, ou em outros sites, sobre uma das propriedades da língua de sinais, comentando com seus colegas sobre a arbitrariedade da Língua de Sinais Brasileira. ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ c) Descontinuidade Apresenta sinais distintos entre eles e seus significados são descontinuados através de parâmentros e níveis linguísticos diferentes. Estes sinais não permitem a confusão entre os significados apresentados dentro do contexto no qual será sinalizado. Vamos ver os exemplos abaixos: Figura 6 - Óbvio (Santa Catarina) Fonte: Disponível em: <www. ines.gov.br/dicionariolibras>. Acesso em: 12 abr. 2011. Figura 7 - Oportunidade (Rio de Janeiro) Fonte: Disponível em: <www. ines.gov.br/dicionariolibras>. Acesso em: 12 abr. 2011. 26 Língua Brasileira de Sinais Figura 9 - Igual (os dedos indicadores batem ao mesmo tempo) Fonte: Disponível em: <www. ines.gov.br/dicionariolibras>. Acesso em: 12 abr. 2011. Figura 11 - Nu(a) (A CM “D” esfrega no dorso da mão esquerda em movimento raspante) Fonte: Disponível em: <www. ines.gov.br/dicionariolibras>. Acesso em: 12 abr. 2011. Figura 13 - Férias (o sinal se movimenta em círculo) Fonte: arquivo da autora Mesma Configuração de Mãos Mesmo ponto de locação Movimento diferente Configurações de Mãos diferentes Mesmo Ponto de Locação Movimento diferente Mesma Configuração de Mãos Ponto de Locação Diferente Movimentos diferentes Figura 8 - Irmã(o) (esfregar os dedos indicadores) Fonte: Disponível em: <www. ines.gov.br/dicionariolibras>. Acesso em: 12 abr. 2011. Figura 10 - Procurar (A CM “P” esfrega no dorso da mão do lado esquerdo em movimento circular) Fonte: Disponível em: <www. ines.gov.br/dicionariolibras>. Acesso em: 12 abr. 2011. Figura 12 - Futuro (movimenta-se para frente) Fonte: Disponível em: <http://deolhonofuturoatividades. blogspot.com/2009/04/blog-post. html> . Acesso em: 12 abr. 2011. 27 Libras Capítulo 1 Atividade de Estudos: 1) O que você compreende sobrea descontinuidade da Língua de Sinais Brasileira. ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ d) Criatividade e produtividade Os sinais podem ser produzidos em infinitas sentenças, seguindo de um conjunto finito de regras gramaticais da língua de sinais. São produtivas e criativas, assim como quaisquer outras línguas de diversas modalidades (escrita, visual, falada, retórica, etc.). Abaixo você tem a indicação de dois sites que ilustram a criatividade na língua brasileira de sinais, vale a pena você assisti-los. Rap em Libras - http://www.youtube.com/watch?v=ylyltLkVINw SMS em Libras - http://www.youtube.com/watch?v=0PxbHlBWWgY e) Dupla Articulação A língua de sinais só funciona quando as duas articulações formam uma combinação. Por exemplo, uma unidade mínima por si só não tem significado, mas quando juntar outra unidade mínima, qualquer que seja Configuração de Mãos, Ponto de Locação ou Movimentos, pode dar significado e sentido. Veja o exemplo abaixo: A língua de sinais só funciona quando as duas articulações formam uma combinação. 28 Língua Brasileira de Sinais Figura 14 – Exemplo de dupla articulação Fonte: Disponível em: <www.ines.gov.br/dicionariolibras>. Acesso em: 12 abr. 2011. (Com adaptações). Atividade de Estudos: 1) Pesquise exemplos de dupla articulação na língua brasileira de sinais. _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ Juntando as 3 unidades mínimas (Configuração de Mãos + Movimento + Ponto de Locação) = Pesquisar Movimento (uma unidade mínima) Ponto de Locação (uma unidade mínima) Configuração de Mãos (uma unidade mínima) (palma da mão) 29 Libras Capítulo 1 f) Padrão A língua de sinais tem um conjunto de regras convencionadas pela comunidade Surda e não pode ser produzida de modo incorreto. Assim como todas as línguas, as regras devem ser observadas visualmente. Vamos observar os exemplos de sinais errados e certos abaixo: g) Dependência estrutural A língua de sinais, assim como outras línguas, tem suas relações estruturais entre os elementos e não ocorrem ao acaso. Vamos ver os exemplos abaixo: • J-U-L-I-O AMAR ++++(aspecto durativo) • AMAR++++(aspecto durativo) J-U-L-I-O • FACULDADE SINAL • SINAL FACULDADE A língua de sinais tem um conjunto de regras convencionadas pela comunidade Surda e não pode ser produzida de modo incorreto. certo certo Figura 15 – Sinais corretos e errados na língua de sinais. Fonte: Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/acessasp/3977486434/ in/photostream/>. Acesso em: 12 abr. 2011. errado errado 30 Língua Brasileira de Sinais Atividade de Estudos: 1) Comente sobre a dependência estrutural da língua de sinais brasileira. ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ Seria interessante ver a história do Pinóquio em Língua de Sinais Brasileira. Nele, você poderá ver as infinitas possibilidades que a língua de sinais oferece por ser uma língua criativa, produtiva e é de tirar o fôlego! Link: http://www.youtube.com/watch?v=WNh4-sHwU1E os sistemas de transCrição das Línguas de sinais Há algumas questões que podem ser pensadas na pesquisa de língua de sinais e sua tradução, por exemplo: Como vamos traduzir de modo fidedigno a língua de sinais através dos sinalizantes? Somos capazes de captar todos os sinais e sua expressividade através de expressões faciais? Há tantas questões que podem ser resolvidas com uma ferramenta: transcrição de dados de língua de sinais. A transcrição de língua de sinais é muito importante para a pesquisa de qualquer língua de sinais do mundo. Através dela, podemos estudar, analisar, perceber, pesquisar, descrever, em todos os níveis de análise, uma língua (fonológico, morfológico e sintático). Esta ferramenta é recente nos estudos linguísticos de língua de sinais. Stokoe (1960) foi quem realizou o primeiro trabalho com a Língua de Sinais Americana (ASL). A partir de então, as línguas de sinais foram reconhecidas como língua, graças às pesquisas analíticas e científicas. 31 Libras Capítulo 1 Aqui no Brasil, a introdução da transcrição de língua de sinais foi realizada pela linguista Brito (1982). O processo de transcrição de dados, desde então, vem sofrendo adaptações de metodologias porque a língua de sinais, através da modalidade gesto-visual e trimendisional, dificulta a captação de cada detalhe e do espaço de sinais. Os avanços tecnológicos propiciaram uma melhor descrição das línguas de sinais, conforme apresentam Quadros; Pizzio (2007). Outros autores, McCleary e Viotti (2007), mostraram a grande dificuldade nos sistemas de notação, ou seja, nas formas de representar os sinais nos sistemas de transcrição de dados porque cada grupo de pesquisa utiliza uma notação diferente ou adaptações de um mesmo sistema de notação, de acordo com seu objeto de estudo, dificultando, assim, a padronização e propõem, no futuro, o armazenamento dos trabalhos coletados em um único banco de dados, acessível a qualquer pesquisador. a) Sistema de Transcrição para a LIBRAS As línguas de sinais têm características próprias e existem sistemas de convenções. Antigamente, usavam-se estas convenções (veja tabela a seguir) para escrevê-las, utilizando vídeo para reproduzir a distância. Este sistema, conforme Felipe (1988,1991,1993), é um “Sistema de notação em palavras” porque as palavras de uma língua oral-auditiva são utilizadas para representar aproximadamente os sinais. Estas convenções vêm sendo utilizadas para poder representar, linearmente, uma língua espaço-visual, que é tridimensional. Veja abaixo a tabela comparando os estudos de Brito (1982) e Felipe (1988,1991,1993). Sistema de notação em palavras” porque as palavras de uma língua oral-auditiva são utilizadas para representar aproximadamente os sinais. CATEGORIAS BRITO (1984) FELIPE (1988,1991,1993) GLOSA Letra maiúscula em português para conceitos da LIBRAS: HOMEM TRABALHAR MUITO. O verbo vem sempre na forma infi- nitiva, posto que não há flexão para modo e tempo verbal em LIBRAS. Os sinais da LIBRAS, para efeito de simplificação, serão repre- sentados por itens lexicais da Língua Portuguesa (LP) em letras maiúsculas. Exemplos: CASA, ESTUDAR, CRIANÇA, etc. PALAVRA COM HÍFEN Quando duas ou mais palavras em português são necessárias para tra- duzir o conceito que é representado por um único sinal em LIBRAS, eles devem ser ligados por hífen. NÃO-QUERER, BEBER-PINGA, COMER-MAÇÃ. Um sinal, que é traduzido por duas ou mais palavras em língua portuguesa, será representado pelas palavras corresponden- tes, separadas por hífen, por exemplo: CORTAR-COM-FACA, QUERER-NÃO “não querer”, MEIO-DIA, AINDA-NÃO, etc. 32 Língua Brasileira de Sinais SINAL COM- POSTO Um sinal composto, formado por dois ou mais sinais, que será representado por duas ou mais palavras, mas com a ideia de uma única coisa, serão separa- dos pelo símbolo ^, por exemplo: CAVALO^LISTRA (zebra). DATILOLOGIA Usamos letras separadas pelo hífen quando se trata de soletração digital: #J-O-Ã-O#R-I-O Este tipo de soletração é usado quando se trata denome próprio de pessoa e de lugar ou, então, quando não há sinal para o conceito expresso na palavra da Língua Portuguesa. É o caso dos empréstimos, marcados por #. A datilologia ( alfabeto manual), que é usada para expressar nome de pessoas, de localidades e outras palavras que não pos- suem um sinal, está represen- tada pela palavra separada, letra por letra, por hífen, por exemplo: J-O-Ã-O, A-N-E-S-T-E-S-I-A. SINAL SOLE- TRADO O sinal soletrado, ou seja, uma palavra da língua portuguesa que, por empréstimo, passou a pertencer à LIBRAS por ser ex- pressa pelo alfabeto manual com uma incorporação de movimento próprio desta língua, está sendo representado pela datilologia do sinal em itálico, por exemplos: R-S “reais”, A-C-H-O, QUM “quem”, N-U-N-C-A, etc. DESINÊNCIAS Como se pode observar em Verbo- Direcional e Pronomes (tabela a seguir), não há marcação de gênero nem nos verbos com flexão ou dire- cionais e nem nos pronomes. Assim, se a pessoa é do sexo feminino, esta informação deverá ser inferida através do contexto. No caso de ambigu- idade, o enunciador pode se servir do sinal feminino (sinal que aparece nas expressões menina em oposição a menino) após o pronome ou antes dele. Na LIBRAS não há desinências para gêneros (masculino e feminino) e número (plural), o sinal, representado por palavra da Língua Portuguesa que possui estas marcas, está terminado com o símbolo @ para refor- çar a ideia de ausência e não haver confusão, por exemplo: AMIG@ “amiga(s) e amigo(s)” , FRI@ “fria(s) e frio(s)”, MUIT@ “muita(s) e muito(s)”, TOD@, “toda(s) e todo(s)”, EL@ “ela(s), ele(s)”, ME@ “minha(s) e meu(s)” etc. 33 Libras Capítulo 1 TRAÇOS NÃO MANUAIS As expressões faciais e corporais podem expressar interrogação (___ ____), exclamação (__!___), topicalização (__t___), negação (___ñ___), intensidade (___int___), força ilocucionária (___EFp____), no caso de um pedido, (___EFo___), no caso de uma ordem, etc., e serão re- presentadas, respectivamente, pelos símbolos abaixo, entre os pontilhados acima da porção do enunciado onde elas aparecem: __t___ CARRO, EU COMPRAR NOVO (Eu comprei um carro novo) __ ___ NOME, pro2 (Qual é o seu nome ) ___!____ BONITO Loc1 (Que bonito isto aí!) ___ñ____ ACREDITAR VOCÊ (Não acredito em você) Os traços não-manuais: ex- pressões facial e corporal, que são feitos simultaneamente com um sinal, estão representados acima do sinal ao qual está acrescentando alguma ideia, que pode ser em relação ao: a) tipo de frase ou advérbio de modo: interrogativa ou ... i ... negativa ou ... neg ... etc. Para simplificação, serão utilizados, para a representação de frases nas formas exclamati- vas e interrogativas, os sinais de pontuação utilizados na escrita das línguas orais-auditivas, ou seja: !, ? e ?! b) advérbio de modo ou um intensificador: muito rapidamente exp.f “espantado” etc. Exemplos: exclamativo NOME TRAÇOS NÃO MANUAIS VERBOS COM CONCORDÂN- CIA DE GÊNE- RO ATRAVÉS DE CLASSIFI- CADORES Os verbos que possuem con- cordância de gênero (pessoa, coisa, animal), através de classifi- cadores, estão representados por um tipo de classificador em subscrito. Exemplos: pessoaANDAR, veículoANDAR, coisa-arredondadaCOLOCAR, etc. 34 Língua Brasileira de Sinais VERBOS COM CONCORDÂN- CIA DE LUGAR OU NÚMERO- PESSOAL Os verbos que possuem con- cordância de lugar ou número- pessoal, através do movimento direcionado, estão representados pela palavra correspondente com uma letra em subscrito que indicará: a) a variável para o lugar: i = ponto próximo à 1a pessoa, j = ponto próximo à 2a pessoa, e k’ = pontos próximos à 3a pessoas, e = esquerda, d = direita; b) as pessoas gramaticais: 1s, 2s, 3s = 1a, 2a e 3a pes- soas do singular; 1d, 2d, 3d = 1a, 2a e 3a pes- soas do plural; 1p, 2p, 3p = 1a, 2a e 3a pes- soas do plural; Exemplos: 1s DAR2S “eu dou para “você”, 2sPERGUNTAR3P “você per- gunta para eles/elas”, kdANDARk,e “andar da direita (d) para à esquerda (e) PLURAL Às vezes, há uma marca de plu- ral pela repetição do sinal. Esta marca será representada por uma cruz no lado direto, acima do sinal que está sendo repetido: Exemplo: GAROTA + 35 Libras Capítulo 1 SINAL COM DUAS MÃOS Quando um único enunciado é real- izado com ambas as mãos ao mesmo tempo, colocam-se os sinais simultâ- neos um acima do outro, isto é, em linhas diferentes, vindo na primeira linha o(s) sinal(is) realizado(s) com a mão dominante (mão direita para os destros). Outras estratégias podem ser utiliza- das na transcrição de enunciados e textos, porém, estas são as mais básicas e nos limitaremos a elas, que constam no livro da autora Lucinda Brito. Quando um sinal, que geralmen- te é feito somente com uma das mãos, ou dois sinais estão sendo feitos pelas duas mãos simulta- neamente, serão representados um traço abaixo do outro com indicação das mãos: direita (md) e esquerda (me). Exemplos: IGUAL (md) PESSO@-MUIT@ ANDAR (me) IGUAL (me) PESSOAEM-PÉ (md). VERBO DIRE- CIONAL Quando o verbo é direcional, isto é, apresenta flexão, marcando sujeito e objeto, usamos números de 1 a 3 para marcar as pessoas no singular ou 1p, 2p e 3p para as pessoas do plural. 1DAR2 LIVRO (Eu dei o livro para você) 3pTELEFONAR1 ONTEM (Elas/eles me telefonaram ontem) 3PERGUNTAR1p VERDADE (Ele/Ela nos disse a verdade). PRONOMES Os pronomes em LIBRAS são repre- sentados da seguinte forma: pro3 NÂO-GOSTAR pro1 (Ela/ele não gosta de mim) PRONOME DE- MONSTRATIVO OU ADVÉRBIO DE LUGAR Os pronomes demonstrativos e os advérbios de lugar são representados por Loc i - este/aqui Loc j – esse/aí Loc k – aquele/a, ali/lá Loc é o símbolo para locativo. 36 Língua Brasileira de Sinais CLASSIFICA- DORES Os classificadores são representados pelas iniciais CL: acompanhadas de símbolos de configuração de mãos que são utilizadas para representar a classe semântica que representam. CARRO CL: V BATER CL: G1 POSTE (O carro bateu no poste) Quadro 1 – Comparação dos estudos de Brito (1995) e Felipe (1988, 1991, 1993). Fonte: Disponível em: <http://www.ines.gov.br/ines_ livros/37/37_003.HTM>. Acesso em: 12 abr. 2011. Atividade de Estudos: 1) Para praticar a transcrição de língua de sinais, use os sistemas de Brito e Felipe para analisar os sinais pelo link: http://www. youtube.com/watch?v=xnK25QJgSYc Resposta abaixo: ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ b) Sistemas de transcrição em Libras Com as tecnologias avançadas, foram criados vários sistemas de transcrição de dados em línguas de sinais disponíveis, a seguir você poderá listamos os sistemas mais utilizados, com uma breve explicação e o link para que você possa acessá-los: 37 Libras Capítulo 1 BTS - Berkeley Transcription System - Berkeley System (BTS) foi projetado para a transcrição de sinais através de vídeos com a linguagem ao nível do significado dos componentes. O objetivo do sistema BTS é fornecer um meio de transcrever a língua de sinais com os seguintes objetivos: • Compatibilidade com programas de chat formato e CLAN (Childes); • representação linear numa linha contínua digitada,utilizando apenas caracteres ASCII; • representação ao nível do significado dos componentes; • A representação plena de elementos de verbos polycomponential; • representação dos elementos manual e não-manual; • representação de seu olhar, desvio de função, atenção visual; • representação de gestos e de outros atos comunicativos; • notação das características de interação adulto-criança (sinais das crianças e seus erros, que se sobrepõem através de autocorreção). File Make Pro – Desenvolvido para gerenciar detalhes, monitorar, organizar e arquivar fotos, vídeos e outros arquivos multimídia, exibir informações da web ao vivo, ligadas aos seus dados no seu banco de dados. Possui conexões ao vivo de duas vias para os seus dados SQL e suas organizações. Compartilha dados com o Windows e Mac simultaneamente através da rede ou através da web. Site: <http://www.filemaker.com/>. ANVIL (Annotation of video and language data). Desenvolvido por Michael Kipp, do DFKI (Centro Alemão para Pesquisas em Inteligência Artificial), para a anotação de comunicação não-verbal. Permite múltiplas trilhas customizáveis para anotações. Disponível gratuitamente para fins educacionais e de pesquisa. Para plataformas PC, Mac e Unix. Site: <http://dfki.de/~kipp/ anvil/>. ELAN (EUDICO - Linguistic Annotator). Criado pelo Instituto Max Planck de Psicolinguística especificamente para análise linguística, está sendo desenvolvido junto a um grupo de pesquisadores de línguas de sinais. Permite múltiplas trilhas customizáveis para anotações e vídeos simultâneos. Distribuído gratuitamente para plataformas PC, Mac e Unix. Site: <http://www.lat-mpi.eu/tools/elan/>. 38 Língua Brasileira de Sinais CLAN (Computerized Language Analysis). Desenvolvido na Universidade Carnegie Mellon para analisar dados transcritos no formato CHILDES. Não é um software específico para transcrição a partir de vídeo, mas permite a interligação de trechos da transcrição com trechos de áudio e vídeo. Compatível com o Berkeley transcription system for sign language research (BTS). Distribuído gratuitamente para plataformas PC, Mac e Unix na base de troca de dados com o projeto CHILDES. Site: <http://childes.psy.cmu.edu/>. SIGNSTREAM. Desenvolvido pelo American Sign Language Linguistic Research Project, da Universidade de Boston, especificamente para pesquisa com línguas sinalizadas. Permite múltiplas trilhas customizáveis para anotações e vídeos simultâneos. Disponível para plataforma Mac, mediante compra de licença por uma quantia simbólica. Site: <http://www.bu.edu/asllrp/SignStream/>. TRANSANA. Ferramenta para transcrição e análise qualitativa de dados em áudio e vídeo, desenvolvida no Wisconsin Center for Education Research. Permite interligação de trechos da transcrição com trechos de áudio e vídeo. Transcrição livre, sem predefinição de trilhas. Disponível gratuitamente para plataforma Windows. Site: <http://www.transana.org/>. Destes vários sistemas de transcrição, o ELAN é o que tem sido utilizado pelos pesquisadores, linguistas e bolsistas de projeto de pesquisa de língua de sinais aqui no Brasil, na tentativa de padronizar as transcrições da Língua de Sinais Brasileira. Por esta razão, vamos ler a reprodução da parte do texto base das autoras (QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2008, p.39)sobre o ELAN: [...] é descrito como uma ferramenta de anotação que permite que você possa criar, editar, visualizar e procurar anotações através de dados de vídeo e áudio. Foi projetado especificamente para a análise de línguas, da língua de sinais e de gestos, mas pode ser usado por todos que 39 Libras Capítulo 1 trabalham com corpora de mídias, isto é, com dados de vídeo e/ou áudio, para finalidades de anotação, de análise e de documentação destes. É de fácil interface entre as diferentes informações, permitindo um número ilimitado de registros determinado pelos pesquisadores. Comporta conjuntos de diferentes caracteres e exporta os registros como documentos de texto. Através deste sistema, o pesquisador pode visualizar diferentes blocos de informação simultaneamente (como os vídeos, as glosas, as traduções das glosas, as marcas não-manuais, os sons associados aos sinais, o contexto, os comentários, entre outros.). No momento em que o pesquisador fixa em um ponto determinado da transcrição, imediatamente os outros blocos de informação relacionados a ela aparecem. Os vídeos podem ser salvos como documentos *.mpg ou *.mov e visualizados de diferentes formas. Até quatro vídeos podem ser visualizados simultaneamente, sendo que os mesmos podem ser sincronizados (no caso de vídeos de uma mesma imagem, porém de ângulos diferentes) com o mesmo tempo. É possível, inclusive, abrir uma tela exclusiva para os vídeos que podem ser rodados no tamanho da tela e facilitar a visualização de detalhes. Os vídeos podem ser rodados em diferentes velocidades e cada quadro pode ser localizado apresentando-se uma variedade grande de opções (próximo quadro, quadro anterior, começo do vídeo, final do vídeo, volta um segundo, segue um segundo, volta um pixel (menor unidade de imagem)). aLgumas Considerações Apresentamos, neste capítulo, os objetivos, as funções e a competência dos linguistas da área de língua de sinais. Para ter a “imersão” da Língua de Sinais Brasileira, é fundamental ter na mente a ampliação de conhecimento sobre o uso das propriedades da Língua de Sinais Brasileira utilizada pela comunidade Surda. E para ambientar, gravar, analisar os dados da língua de sinais, use os vários sistemas de transcrição de sinais, de acordo com a possibilidade, o tempo e a facilidade do manuseio das ferramentas na prática de transcrição. Com o desenvolvimento da tecnologia, a ferramenta de transcrição ficou mais fácil e acessível ao público em geral. referênCias BRASIL. Lei no 10.436 de 24 de abril de 2002. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: MEC. Disponível em: < http://www. planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10436.htm>. Acesso em: 25 maio 2011. 40 Língua Brasileira de Sinais BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de Línguas de Sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro: UFRJ, Departamento de Lingüística e Filosofia, 1982. BULWER, J. 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