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Livro Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão

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ANÁLISE DO CASO
O livro escrito por Foucault no ano de 1977 conta a história de Jean Pierre Rivière, um jovem lavrador de 20 anos que comete um crime violento contra sua mãe e irmãos.
	Jean Pierre Rivière, matou com uma foice sua mãe Victoire Brion (grávida de 6 meses), seu irmão Jules Rivière e sua irmã Victoire Riviére. O crime cometido por Pierre, configura o crime de parricídio, segundo o Código Penal Brasileiro é definido como: Crime hediondo, descrito como um homicídio qualificado, combinando-se, ainda, com a circunstância agravante de ter praticado o delito contra ascendente. (Art 121, § 2º, II, III e IV, c/c art 61, alínea “e”, do Código Penal Brasileiro). O crime foi visto por várias testemunhas, estas testemunhas eram, em sua maioria, vizinhos, que o conheciam desde sua infância, nos relatos foi possível observar que Pierre tinha comportamentos cruéis com outras crianças e animais. Fazia brincadeiras maldosas com as crianças, matava animais, como pássaros e sapos. Além disso, segundo os relatos, Pierre cometeu os crimes muito rapidamente, um seguido do outro, depois fugiu impassivelmente em direção a mata, duas das testemunhas chegaram na casa antes de Pierre sair, e ao questionarem ele sobre o crime, ele apenas respondeu que estava fazendo isso para libertar o pai dele das maldades de sua mãe. A maneira como Pierre se divertia era bem diferente da diversão das crianças da mesma faixa etária, sua maneira de brincar pode ser associada a disfunções em seus modelos de funcionamento interno. 
A forma como as crianças brincam reflete a interiorização dos seus modelos internos operantes, pelo que a observação do brincar, da linguagem que acompanha a brincadeira e dos processos mobilizados pela fantasia infantil, se poderão constituir como um método de excelência para aceder a esses modelos durante a infância. Com efeito, a investigação tem vindo a mostrar que crianças com uma vinculação segura tendem a criar narrativas coerentes, que refletem interações familiares positivas, por oposição às crianças com histórias desenvolvimentais marcadas por rupturas, abandonos ou negligência. (BRETHERTON, et al., 1990)
	Após fugir de sua casa, passou dias na mata, foi preso algum tempo depois de ter fugido. Em seu primeiro interrogatório relatou ter realizado tal ato a mando de Deus, no final de seu interrogatório, relata que até aquele momento estava sustentando uma história que não era verdadeira, contou que a motivação do crime foi para que seu pai fosse salvo. Propôs ao juiz que se ele o permitisse, escreveria um memorial, relatando desde sua infância até o dia em que cometeu o crime. 
Pierre inicia o memorial relatando a história do casamento de seus pais, relata que desde o casamento na igreja foi possível observar um sentimento de arrependimento em sua mãe, logo após o casamento, em 1915 nasceu Pierre, Victóire adoeceu logo após o parto, quando estava doente começou a demonstrar desprezo e frieza com sua mãe e seu marido, mesmo após a recuperação de sua doença permaneceu com o mesmo padrão de comportamento. Em seu relato, Pierre descrevia que sua mãe sempre envergonhava seu pai, o acusando de ser infiel, de estar com ela por interesse, devido aos bens de sua herança. 
Os padrões de comportamentos de seu pai eram bem distintos de sua mãe, sempre descrevia seu pai como um homem trabalhador, educado e gentil. Desde seu nascimento foi possível perceber que a relação marido e mulher não era bem estruturada, assim como sua relação com os filhos. 
A criança necessita de uma figura estável para que possa, a partir destas relações ir construindo sua identidade. É importante que durante o processo de construção emotiva da criança, a função de educar e ensinar seja dividida por dois ou mais adultos, pois a criança precisa confirmar os conceitos que lhe foram ensinados. (ALMEIDA, 2002, p.28)
Pelos relatos de Pierre é possível perceber que sua mãe era uma pessoa abusiva e negligente, além de fazer alienação parental, principalmente com sua filha Victóire, pois fazia a criança não obedecer a sua avó materna e concordar com seus comportamentos.
 Segundo estudos de Heide (1994), criminosos parricidas normalmente foram vítimas de algum tipo de abuso e negligência. No caso da mãe de Pierre podemos observar, o abuso físico, caracterizado por maus tratos físicos que produzem dor (Heide, 1994), normalmente este abuso era praticado sobre sua avó, pois a mãe de Pierre foi vista diversas vezes puxando seus cabelos lhe dando tapas. Abuso psicológico caracterizado violência verbal ou ações que humilhem, depreciem, rebaixem a autoestima (Heide, 1994), como o que ela fazia contra o pai de Pierre, pois sua mãe inventava mentiras para humilhá-lo, chantagem emocional e a negligência emocional ocorre quando os pais falham em promover condições favoráveis para que o desenvolvimento da criança seja saudável (dar amor, afeto, apoio, valores morais, etc.) (Heide, 1994) que era praticado contra Pierre, pois sua mãe não tinha uma relação de amor com ele. 
Desde muito jovem Pierre já dava indícios sobre sua personalidade, sempre muito retraído, não interagia, gostava de ficar sozinho, tinha alguns momentos em que tinha alucinações, tendo em vista que sua mãe tinha traços de alienação mental, em um dos relatórios médicos, havia descrito que Pierre havia herdado de sua mãe alienação mental, e que talvez seria essa a motivação do crime, sua disfunção mental e alucinações. Analisando o padrão de comportamento de Pierre, podemos observar que tais comportamentos corresponde aos critérios diagnósticos para o Transtorno de Personalidade Antissocial. Segundo o DSM V: 
O transtorno da conduta envolve um padrão repetitivo e persistente de comportamento no qual os direitos básicos dos outros ou as principais normas ou regras sociais apropriadas à idade são violados. Os comportamentos específicos característicos do transtorno da conduta encaixam-se em uma de quatro categorias: agressão a pessoas e animais, destruição de propriedade, fraude ou roubo ou grave violação a regras. Pessoas com esse transtorno desrespeitam os desejos, direitos ou sentimentos dos outros. Demonstram pouco remorso pelas consequências de seus atos. (DSM V, 2014)
	Após a entrega de seu memorial e seu segundo depoimento, Pierre relatou que queria ser condenado a morte, em um primeiro momento foi condenado a morte, posteriormente o juiz mudou sua condenação para perpétua. Como mencionado anteriormente, além de seu transtorno de personalidade antissocial, Pierre se enquadra no perfil de criminosos parricidas e assassinos em massa. Após sua condenação, ele teve um ultimo comportamento típico de assassinos em massa, o suicídio. Durante seus discursos sempre mencionou que queria ser lembrado por seu pai como o salvador, e que havia matado seu irmão pois o amava muito, e queria preparar seu pai para o momento de sua morte. 
Assassinos em massa em seu último ato pretende ser lembrado, pretende que as pessoas não esqueçam que um dia ele existiu, que teve importância e que era capaz de realizar algo, mesmo que seja a coisa mais terrível do mundo. Por isso, quase sempre quando o banho de sangue acaba o assassino põe fim na própria vida. (SANCHEZ, et al. 2017 p.7) 
Meu posicionamento sobre o caso de Pierre é que indiscutivelmente é culpado pelos crimes cometidos, tendo em vista que houve planejamento, e ele estava plenamente consciente de seus atos, inclusive pelo fato de ter realizado o memorial contando como tudo acontecem, porém não podemos deixar de lado que grande parte da culpa é de seus familiares que mesmo tendo observado diversos comportamentos disfuncionais permaneceram negligentes, pois não interviram quando ele ainda era criança, permitiram que ele tivesse comportamentos perversos com crianças e animais, além devemos salientar que apesar de sua lucidez ao cometer os atos, Pierre tinha um transtorno de personalidade. Devido a trajetória de vida de Jean Pierre Rivière podemos concluir que independente de possuir ou não uma doença, quando estamos inseridos em um ambiente doente,temos mais propensão a adoecer mentalmente. 
REFERÊNCIAS 
American Psychiatric Association (2014). DSM-V: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (5ª Ed.) p.659 e 660.
Bretherton, I., Ridgeway, D., & Cassidy, J. (1990). Assessing internal working models of the attachment relationship. An attachment story completion task for 3-years-old. In M. T. Greenberg, D. Cicchetti, & E. M. Cummings (Eds.), Attachment in the preschool years. Theory, research and intervention (pp. 272- 308). Chicago: The University of Chicago Press.
DE ALMEIDA FERRARI, Dalka Chaves; VECINA, Tereza Cristina Cruz. O fim do silêncio na violência familiar: teoria e prática, p. 28 Editora Agora, 2002.
DELMANTO, EDUARDO DANTE et al. Código penal comentado. Saraiva Educação SA, 2017.
Heide, K. M. (1994). Evidence of Child Maltreatment Among Adolescent Parricide Offenders. International Journal of Offender Therapy and Comparative Criminology, 38 (2)
SANCHEZ, Claudio José Palma et al. O SURGIMENTO DE UM ASSASSINO SEQUENCIAL. ETIC-ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA-ISSN 21-76-8498, v. 13, n. 13, 2017.

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