Buscar

A inspiração das escrituras

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 100 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 100 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 100 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS
 
Loraine Boettner
 
e
 
Benjamin B. Warfield
 
 
Copyright @ 2020, de Editora Monergismo
 Publicado originalmente em inglês sob o título The Inspiration of Scripture (Boettner) e The
Inspiration and Authority of the Bible (Warfield).
■
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por
 E������ M���������
 SCRN 712/713, Bloco B, Loja 28 — Ed. Francisco Morato Brasília, DF, Brasil — CEP
70.760-620
 www.editoramonergismo.com.br
■
1ª edição, 2020
 
Tradução (e adaptação): Valter Graciano Martins
Revisão: Felipe Sabino de Araújo
 
Sumário 
 A INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS
1. Natureza da inspiração das Escrituras
2. Os autores afirmam possuir inspiração
3. Natureza da influência pela qual a inspiração é alcançada
4. Os supostos erros das Escrituras
5. Fidedignidade da Bíblia
6. Posição inconsistente dos modernistas
Conclusão
 
CONCEITO BÍBLICO DE INSPIRAÇÃO
1. O significado dos termos
2. A ideia fundamental de inspiração
3. Passagens Importantes
4. O cumprimento indispensável das Escrituras
5. O testemunho de Cristo acerca da autoria divina
6. O testemunho dos apóstolos
7. A identificação de Deus com as Escrituras
8. Os oráculos de Deus
9. O elemento humano nas Escrituras
10. Os processos divinos para a elaboração das Escrituras
11. O problema da origem: a parte que Deus assumiu
12. O efeito das características humanas: preparação providencial
13. Inspiração: mais que providência
14. Inspiração e revelação
15. As Escrituras serão um livro divino-humano
16. As Escrituras que os escritores neotestamentários possuíam
17. O termo Escrituras abrange o Novo Testamento
 
A INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS
Loraine Boettner
1. Natureza da inspiração das Escrituras
A resposta que damos à pergunta, “que é o cristianismo?”, em
grande medida depende de nosso conceito de “Escrituras”. Se
crermos que a Bíblia é a Palavra de Deus, e portanto infalível,
teremos uma concepção do cristianismo. Em contrapartida, se
admitirmos que ela se trata apenas de uma coleção de livros
humanos, ainda que de valor consideravelmente acima do normal,
teremos uma concepção do cristianismo radicalmente diferente, se é
que de fato lhe podemos chamar legitimamente cristianismo. Assim,
é difícil dar importância demasiada a uma doutrina a respeito da
inspiração das Escrituras.
Em todas as questões de controvérsia entre os cristãos, as
Escrituras são reconhecidas como o supremo tribunal.
Historicamente, elas têm sido a autoridade comum do povo cristão.
Cremos que elas contêm um sistema de doutrina harmônico e
suficientemente completo; que todas suas partes são consistentes
entre si, e que é nosso dever descobrir essa consistência, fazendo
uma investigação cuidadosa do significado de certas passagens.
Entregamo-nos a este Livro sem reservas. Não apelamos para uma
igreja infalível, nem para uma hierarquia eclesiástica, mas para a
Bíblia, Livro digno de toda nossa confiança, afirmamos que ela é a
Palavra de Deus, e que seu cuidado providencial a tem conservado
pura, através dos séculos. Ela é, portanto, a única regra de fé e
prática, inspirada e infalível.
Vemos facilmente que a questão da inspiração é de vital
importância para a igreja cristã. Se ela possui um corpo de
escrituras, definido e autoritativo, ao qual possa recorrer, então a
tarefa de formular suas doutrinas se torna comparativamente fácil.
Tudo quanto é necessário fazer é achar os ensinos das Escrituras e
incorporá-los num Credo. Mas, se as Escrituras não são
autoritativas, se necessitam de ser corrigidas, revistas, e se algumas
de suas partes têm de ser rejeitadas, evidentemente a igreja se vê
diante de uma tarefa muito mais difícil e as opiniões contraditórias
não terão fim, tanto a respeito dos propósitos da igreja como do
corpo de doutrina que deverá formular. E não é de espantar que
hoje tamanha controvérsia se deflagre quando o cristianismo
sustenta uma luta de vida ou morte contra a incredulidade.
Devemos notar que a igreja nunca defendeu nenhuma das
outras doutrinas com tanta tenacidade, nem as ensinou com tanta
clareza como o tem feito com a doutrina da inspiração. Por exemplo,
há considerável diferença de opinião entre as várias denominações
sobre o ensino das Escrituras acerca do batismo, da ceia do Senhor,
da predestinação, da incapacidade humana de o pecador praticar
boas obras, da eleição, da expiação, da graça, da preservação dos
santos, etc.; mas descobrimos que a doutrina da inspiração é
ensinada com tal consistência e clareza, que todos os ramos da
igreja, seja protestante ou romana, têm concordado, instintivamente,
em que a Bíblia é verídica e que suas sentenças são finais.
Mas, ainda que esta doutrina tenha sido histórica, e embora
permaneça até o presente nos credos oficiais das igrejas, é notório,
em toda parte, que a incredulidade conseguiu abrir grandes
brechas. Talvez não exista na história da igreja, nos últimos tempos,
nenhum outro fato tão espantoso como é este do afastamento da fé
na autoridade das Escrituras. Até mesmo o protestantismo, que
aceitou na Reforma, como princípio fundamental, a autoridade
Bíblia, em vez de uma igreja autoritária, tem revelado tendência
para negligenciar a Bíblia. Apesar de nos últimos tempos terem-se
escritos muitos livros e artigos sobre este assunto, temos de
confessar que a maioria procura negar ou enfraquecer as doutrinas
que a igreja tem defendido desde seu início.
A indiferença que ultimamente se tem manifestado para com a
sã doutrina das Escrituras, possivelmente seja a principal causa da
incerteza e da dissensão interna que a igreja ora enfrenta. A
ignorância acerca da natureza da inspiração e a pobreza de
opiniões a esse respeito só podem resultar em confusão.
Atualmente, milhões de cristãos são como aqueles homens cujos
pés pisam areias movediças e cujas cabeças estão no meio do
nevoeiro. Não sabem o que creem a respeito da inspiração e da
autoridade da Bíblia.
Grande parte desta incerteza se deve à investigação crítica
que se deflagrou no século passado; e com frequência ouvimos
dizer que temos de abandonar a pretensão que a igreja nutre a
respeito da inspiração das Escrituras. Daí, a questão premente que
paira hoje: Podemos ter ainda confiança na Bíblia como guia
doutrinário, mestre autoritativo da verdade, ou teremos de encontrar
outra base para nossa doutrina e, portanto, criar um sistema de
doutrina completamente novo?
A maravilhosa unidade da Bíblia só pode ser explicada pelo
fato de ser ela de origem divina. Sem a menor sombra de dúvida,
ela é um livro e no entanto é composta de 66 livros diferentes,
escritos por cerca de 40 autores, durante um período aproximado de
1.600 anos. Os escritores eram de diferentes categorias sociais.
Alguns foram reis e sábios, com a melhor educação de seu tempo;
outros eram vaqueiros e pescadores, sem qualquer cultura. É
impossível ter havido acordo ente eles. No entanto, existe um único
tipo de doutrina e de moral. O espírito e as concepções messiânicas
perpassam de um ao outro lado do Antigo Testamento, aparecendo
desde o princípio do Gênesis, onde se diz que a semente da mulher
haveria de ferir a cabeça da serpente, continuando no ritual do
sistema sacrificial, nos Salmos, nos Profetas Maiores e Menores,
até Malaquias que encerra o Cânon do Antigo Testamento com a
promessa de que “de repente virá a seu templo o Senhor, a quem
vós buscais”. E “Cristo crucificado” é o tema do Novo Testamento. O
maravilhoso sistema de verdade que começou com Moisés é
completado por João no livro do Apocalipse. Nada há, em qualquer
outro livro da história da humanidade, nada que se possa aproximar
deste fenômeno que encontramos na Bíblia.
A existência de um largo e intransponível abismo entre a Bíblia
e os demais livros é evidente até para o mais distraído dos leitores.
“Santo, Santo, Santo” parece estar escrito em todas suas páginas.
Sua leitura nos fala com autoridade e nos sentimos, instintivamente,
sob a obrigação de atender a seus avisos. Sem dúvida, ela exerce
uma influência que nenhum outro livro possui, e somos forçados a
formulara pergunta: “De onde ela vem?”. E, por ser tão única no
poder que exerce, tão sublime nos princípios morais e espirituais
que expõe, e pelos quais ela reivindica continuamente sua origem
divina, não estaremos justificados ao acreditar que esta pretensão é
verdadeira e que de fato ela é a infalível Palavra de Deus?
As expressões inspiração plenária e inspiração verbal são aqui
usadas como sinônimos. Por inspiração plenária queremos dizer
que a influência completa e perfeita do Espírito Santo foi concedida
a toda a Escritura, tornando-a, desta maneira, a revelação
autoritativa de Deus. E embora a revelação chegue até nós através
da mente e da cooperação de homens, ela é, estritamente falando,
a Palavra de Deus. Por inspiração verbal queremos afirmar que a
influência divina que envolveu os escritores sacros foi concedida
não apenas aos pensamentos gerais, mas igualmente às próprias
palavras usadas, de modo que os pensamentos que Deus intentou
revelar-nos foram transmitidos com exatidão infalível. Os escritores
foram instrumentos de Deus, e o que escreveram foi o que Deus
lhes disse.
 
A ���������� � ���������� ���� �������� � ��������
Parece natural que esta inspiração se estenda até mesmo às
próprias palavras, visto que o objetivo da inspiração é conseguir o
registro da verdade. Pensamentos e palavras estão tão
inseparavelmente ligados que, em geral, uma mudança nas
palavras significa uma mudança no pensamento.
Por exemplo, em assuntos humanos, o negociante dita suas
cartas à secretária, usando palavras suas, de modo que elas
encerram aquilo que pretende dizer. Ele não pensa que sua
secretária possa exprimir problemas importantes, delicados e
complexos apresentados apenas em simples termos gerais. Muito
menos o Espírito Santo diria a seu calígrafo: “escreve com este fim.”
A Bíblia pretende falar acerca de um certo número de assuntos que
está absolutamente fora do alcance da sabedoria humana — a
natureza e os atributos de Deus, a origem e os desígnios do homem
e do mundo em que vivemos, a queda do homem no pecado e sua
atual situação, sem esperança, o plano da redenção, inclusive a
vida e morte de nosso Senhor Jesus Cristo, as glórias celestiais e os
tormentos do inferno. É necessário mais do que uma supervisão
geral para que a verdade a respeito desses grandes e
transcendentes assuntos seja apresentada sem erros e sem
preconceitos. Infalibilidade pressupõe que Deus escolheu suas
próprias palavras. Todos quantos têm tentado falar acerca destas
coisas tão profundas, sem uma revelação sobrenatural, pouco mais
têm feito do que mostrar sua ignorância. Tateiam como cegos,
especulam e põem-se a adivinhar, deixando-nos, em geral, numa
incerteza maior do que aquela em que estávamos antes. Na
verdade, estes fatos estão fora do alcance da sabedoria humana.
Basta que consideremos os sistemas pagãos ou as teorias
arrogantes e especulativas dos filósofos, para verificarmos que os
limites de nossa sabedoria espiritual não se podem comparar com
os da Bíblia. Só Deus é capaz de falar com autoridade acerca
desses assuntos; e, entre todos os livros existentes no mundo,
concluiremos que só a Bíblia possui, por um lado, uma descrição
adequada da majestade de Deus; e, por outro lado, uma descrição
aceitável da condição pecaminosa do coração humano e o remédio
satisfatório para essa condição.
Uma mera exposição humana das coisas divinas conteria
erros, em escala maior ou menor, tanto no que diz respeito às
palavras escolhidas para expressar ideias, como na ênfase
proporcional dada às diferentes partes da revelação. Visto que
determinados pensamentos estão ligados inseparavelmente a
determinadas palavras, as expressões têm de ser exatas, ou, caso
contrário, os pensamentos transmitidos serão defeituosos. Por
exemplo, se admitirmos que expressões tais como resgate,
expiação, ressurreição, imortalidade, etc., usadas nas Escrituras,
não têm qualquer autoridade ou significado definido para além
delas, segue-se que as doutrinas que nelas se baseiam, não têm
também autoridade definida. Comparando as Escrituras entre si,
vemos a ênfase que elas dão às palavras que empregam, porquanto
o significado exato depende do uso de determinadas palavras; por
exemplo, quando nosso Senhor diz que “a Escritura não pode
falhar” (Jo 10.35); ou quando ele responde aos saduceus, referindo-
se às palavras de Moisés junto da sarça ardente, em que todo o
peso do argumento depende do tempo do verbo “Eu sou o Deus de
Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó” (Mc 12.26); ou
quando Paulo dá grande ênfase ao fato de que na promessa feita a
Abraão a palavra empregada está no singular — semente, “como de
uma”, e não sementes, “como de muitas”: “e a tua semente, que é
Cristo” (Gl 3.16). Em cada um desses exemplos o argumento gira
em torno do uso de uma única palavra, e em cada caso a palavra é
decisiva, pela autoridade divina que tem por detrás de si. A
mudança exata do significado das palavras tem, frequentemente,
imensa importância para a decisão dos problemas de doutrina e de
vida.
 
U� ������� �������� �� ��������
Para fazermos um estudo sério sobre as doutrinas cristãs,
necessitamos, acima de tudo, possuir a certeza da veracidade da
Bíblia. Se ela é um guia de autoridade absoluta e digno de toda
nossa confiança, então aceitaremos as doutrinas que apresenta. É
possível que não possamos apreender plenamente o significado de
todas as coisas, ou que haja de fato muitas dificuldades em nossas
mentes, porém nunca duvidamos de sua veracidade.
Reconhecemos nossas limitações, mas cremos em todas as
verdades que nos são reveladas. A sorte do cristianismo de fato
está ligada à doutrina da inspiração da Bíblia, porque, a menos que
esta permaneça, nada mais teremos de estável.
Se temos como guia Escrituras dignas de confiança, teremos
um sistema evangélico de teologia distinto de um sistema
naturalista, humanista ou unitariano; na verdade a Bíblia ensina, de
forma clara, um sistema evangélico. Mas se a Bíblia não for um guia
digno de toda nossa confiança, teremos de procurar outra base para
nossa teologia, e é bem provável que fiquemos com pouco mais que
um mero sistema filosófico. Perder a confiança na Bíblia, como livro
inspirado, é fazer desaparecer a confiança em todo o sistema
cristão. Isto nos é lembrado, de forma bem dolorosa, quando
tentamos ler alguns dos recentes livros religiosos, ou até mesmo
teologias sistemáticas, em que os autores não apelam para as
Escrituras, mas para os ensinos dos vários filósofos, em defesa de
seus argumentos. Até hoje temos aceitado as doutrinas pertinentes
ao sistema cristão, porque são ensinadas na Bíblia. E fora da Bíblia
não existe nenhuma outra norma autoritativa.
A menos que a Bíblia possa ser citada como sendo um Livro
inspirado, sua autoridade e utilidade na pregação, no conforto aos
doentes e na morte e instrução em todas as perplexidades, ela fica
empobrecida de forma fatal. Seu “Assim diz o Senhor” fica reduzido
a mera suposição humana, não podendo ser mais considerado
como nossa regra de fé e prática. Atualmente, como em todas as
épocas, os críticos destrutivos, os céticos e os modernistas de toda
espécie concentram seus ataques sobre a Bíblia. Procuram ver-se
livres de sua autoridade porque, de outra forma, seus sistemas não
serão mais que um amontoado de disparates.
Evidentemente, a inspiração que defendemos é a das palavras
originais, hebraicas e gregas, escritas pelos profetas e pelos
apóstolos. Cremos que, se as compreendermos no sentido em que
foram escritas — simples declarações de fatos, figuras de retórica,
idiomatismo e poesia —, então a Bíblia não tem qualquer erro, do
Gênesis ao Apocalipse. Embora não diga muita coisa, todavia aquilo
que diz é verdadeiro, no sentido que tem em vista. Não
reivindicamos infalibilidade para as várias versões e traduções, nem
mesmo para as traduções livres feitas por uma só pessoa e que
ultimamente têm se tornado tão comuns. As traduções variam,
necessariamente, com cada tradutor, e só podem ser consideradas
como exatas apenas na medida em que reproduzemos autógrafos
originais. Além disso, algumas das palavras hebraicas e gregas não
têm um equivalente preciso nas línguas modernas, e às vezes até
os melhores eruditos divergem a respeito do significado de certas
palavras. Em contrapartida, temos de reconhecer que não
possuímos nenhum dos autógrafos originais, e que os Manuscritos
mais antigos que possuímos são cópias de cópias. No entanto, os
mais abalizados eruditos das línguas grega e hebraica afirmam que
em cerca de noventa e nove por cento dos casos temos as palavras
originais, tal era a precisão com que os copistas as reproduziam, e
tão fielmente os tradutores fizeram seu trabalho. Sem dúvida, temos
razão para dar graças a Deus pela Bíblia que nos chegou às mãos
de forma tão pura.
Eis a posição histórica dos protestantes a respeito da
autoridade das Escrituras. Foi defendida por Lutero e Calvino, e
ficou gravada nos credos escritos no período imediato à Reforma. A
doutrina luterana da inspiração foi apresentada na Fórmula de
Concórdia, como segue: “Cremos, confessamos e ensinamos que a
única regra e norma, de acordo com as quais todos os dogmas e
todos os mestres devem ser comparados e julgados, não é outra
senão os escritos proféticos e apostólicos do Antigo e do Novo
Testamento.”
A doutrina da Igreja Reformada foi apresentada na Segunda
Convenção Helvética da seguinte maneira: “Cremos e confessamos
que as Escrituras canônicas dos santos profetas e apóstolos, de
ambos os Testamentos, são a verdadeira Palavra de Deus, e que
possuem autoridade suficiente e inerente, e não humana. Foi o
próprio Deus quem falou aos pais, aos profetas e aos apóstolos, e
continua a falar pelas Sagradas Escrituras.”
Na Confissão de fé Westminster, a Igreja Presbiteriana
declara: “Agradou ao Senhor, em tempos vários e ocasiões
diferentes, revelar-se a si próprio e declarar sua vontade para com
sua Igreja; e depois ... pôs a mesma, completamente, por escrito”.
“A autoridade das Sagradas Escrituras, pela qual deve ser
acreditada e obedecida, depende não de algum testemunho
humano ou de alguma igreja, e sim inteiramente de Deus, seu Autor,
que é a Verdade; portanto, deve ser recebida, visto ser a Palavra de
Deus.” E ainda: “que tanto o Antigo quanto o Novo Testamento
foram inspirados por Deus, e por seu cuidado e providência
singulares foram conservados puros através dos anos”. Mais
recentemente foi defendida por Hodge, Warfield e Kuyper. Estes
homens foram luzeiros e ornamentos do mais elevado tipo de
cristianismo, reconhecido, praticamente, por todos os protestantes.
Afirmaram que a Bíblia não só contém a palavra de Deus, como
uma pilha de restolho pode conter algum trigo, mas que a Bíblia é a
palavra de Deus, em todas suas partes.
 
2. Os autores afirmam possuir inspiração
As razões principais para sustentar-se que a Bíblia é a
inspirada Palavra de Deus são que os próprios autores afirmam
possuir tal inspiração, e que o conteúdo de suas mensagens
confirma essa pretensão. A uniformidade com que os profetas
insistem em que as mensagens que apresentam não eram suas,
mas do Senhor, que suas mensagens eram a Palavra de Deus pura
e sem misturas, que falavam como a recebiam — é um fenômeno
notável das Escrituras. “Assim diz o Senhor” era o tema constante
do profeta ao povo, e isto revela que as palavras que proferiam não
eram suas, mas do Senhor. Paulo e os demais apóstolos
pretendiam falar, não usando palavras ensinadas pela sabedoria de
homens, mas ensinadas pelo Espírito (1Co 2.13). Era considerada
de origem divina não só a substância de seu ensino, mas também a
forma de expressão.
Embora a pretensão de que falavam com autoridade divina
seja característica dos escritores de toda a Bíblia, nunca basearam,
nem sequer uma vez, essa autoridade em sua própria sabedoria ou
dignidade. Falavam como mensageiros ou testemunhas de Deus, e
o que diziam devia ser obedecido, simplesmente porque a
autoridade de Deus estava por detrás deles. Aqueles que os
ouviam, era a Deus que ouviam, e os que se recusavam ouvi-los,
recusavam-se ouvir a Deus (Ez 2.5; Mt 10.40; Jo 13.20).
E, visto que os escritores pretendiam, tão reiteradamente, ter
inspiração, é evidente que, ou estavam inspirados, ou agiam com
presunção fanática. E assim, ou concluímos que a Bíblia é a Palavra
de Deus, ou ela não passa de crassa mentira. No entanto, como era
possível que uma falsidade exercesse influência tão singularmente
benéfica e moralmente enobrecedora que a Bíblia tem produzido em
toda parte onde tem chegado? Para formular-se essa pergunta é
preciso responder-lhe prontamente.
Notemos igualmente que os contemporâneos dos escritores
neotestamentários, assim como os chamados Pais da Igreja,
homens que estavam em melhor posição para julgar se essas
pretensões eram ou não autênticas — aceitaram tais pretensões
sem discutir. Reconheciam a existência de um grande abismo entre
aqueles escritos e os seus. Do mesmo modo que para o moribundo
Walter Scott havia um único Livro, também para aqueles Pais da
Igreja havia uma única Palavra de Deus autoritativa. Baseavam nela
doutrinas e preceitos. Os Evangelhos e as Epístolas contêm
abundância de evidências internas provando que esperavam ser
recebidas, e de fato eram recebidas com reverência e humildade.
Seguindo o curso da história, através dos séculos, a evidência se
torna cada vez mais abundante. Os próprios hereges testificavam
desse fato, ansiosos como estavam de se verem livres dessa
autoridade. Além disso, os próprios escritos não contêm
contradições nem inconsistências que porventura destruam tais
pretensões. Apresentam, com a mais perfeita harmonia, o mesmo
plano de salvação e os mesmos elevados princípios morais.
Portanto, se em primeiro lugar autores sóbrios e honestos
pretendem que suas palavras foram inspiradas por Deus, e em
segundo lugar tais pretensões não só não foram desmentidas, mas
antes foram aceitas por seus contemporâneos; e se, em terceiro
lugar, os próprios escritos não contêm nenhuma evidência
contraditória, então temos, sem sombra dúvida, fenômeno que não
se pode desprezar.
Às vezes dirigimos objeção contra os livros do Novo
Testamento só porque não foram escritos pelo próprio Jesus, mas
somente por seus discípulos, mesmo assim algum tempo depois de
sua morte. No entanto não era razoável esperar que Jesus desse
um relato completo do plano da salvação durante seu ministério
terreno, pois o mesmo não teria sido compreendido senão depois de
sua morte e ressurreição. Na verdade podia tê-lo apresentado em
forma de profecia, mesmo nos dias de sua carne, e de fato anunciou
aos discípulos a natureza geral de seu plano. Mas tudo indica que
até mesmo os discípulos mais íntimos não puderam compreender a
natureza de sua obra até que fossem iluminados pelo Espírito
Santo, no dia de Pentecostes. Vistas assim todas as coisas, o
método mais racional foi o que ele escolheu — a consumação dos
acontecimentos, e em seguida a explicação por meio de escritos
inspirados. Isto estava também de acordo com o modo de agir do
Senhor, através de todo o Antigo Testamento.
 
O ������ ��� E��������� ����� � ����������
A doutrina bíblica do verdadeiro objetivo e função dos profetas,
bem como de seu método de expor a mensagem, é apresentada, de
forma clara, nas palavras do Senhor a Moisés: “Eis que lhes
suscitarei um profeta como tu, do meio de seus irmãos, e porei
minhas palavras em sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe
ordenar” (Dt 18.18). O Senhor podia falar tanto pelos profetas
quanto por seu intermédio. Eles tinham de falar precisamente as
palavras recebidas, e não outras. “Eis que ponho minhas palavras
em tua boca” — disse o Senhor a Jeremias, ao designá-lo profeta
das nações. Do mesmo modo foi dito a Isaías (51.16; 59.21). E a
expressão “Assim diz o Senhor” é reiterada no livro de Isaías cerca
de 80 vezes. Até mesmo o falso profeta Balaão só podia falar o que
o Senhor lhe ordenou que falasse: “E disse o anjo do Senhor a
Balaão: Vai com estes homens; mas falarás somente a palavra que
eu falar-te” (Nm 22.35; 23.5, 12, 16).
Em muitas passagensdo Antigo Testamento, o que se
descreve é simplesmente um processo de ditado, ainda que não se
nos informe por qual método se conseguiu tal ditado. Em outras, nos
é dado a entender que o Senhor falou por intermédio de homens
que de antemão escolheu como seus instrumentos, dirigindo-os de
tal maneira que o que falaram ou escreveram eram palavras de
Deus, e de forma evidente um produto distintamente sobre-humano.
O ensino uniforme do Antigo Testamento é que os profetas falaram
quando a Palavra de Deus lhes era transmitida (Os 1.1; Am 1.3; Mq
1.1; Ml 1.1; etc.).
A palavra hebraica para profeta é nabhi, “porta-voz”, não só
um porta-voz em geral, mas em forma eminente, ou, seja, porta-voz
de Deus. Em nenhum caso o profeta pretende falar movido por sua
própria autoridade. Ser profeta, em primeiro lugar, não provém de
sua própria escolha, e sim uma resposta à vocação divina,
frequentemente uma vocação respondida com relutância; e se ele
fala ou pretende falar, isso se dá somente quando o Senhor lhe diz o
que deve falar.
E, em contraste com esta alta vocação dos verdadeiros
profetas, deveríamos notar os fortes avisos e as denúncias contra
os que pretendiam falar sem uma vocação diretamente divina: “O
profeta que presumir soberbamente falar alguma palavra em meu
nome, e tal palavra não se cumprir, ou o que falar em nome de outro
deus, esse profeta morrerá” (Dt 18.20). Era um caso sério para
meros homens e de mãos impuras pretenderem falar em nome do
Deus Altíssimo! No entanto, como é comum ouvir-se, os críticos
destruidores de nossos dias negam esta afirmação da Bíblia, ou
dizem que necessitamos de uma Bíblia menor, ou, inclusive, de uma
nova Bíblia, composta de assuntos mais modernos! E o erro
cometido ainda por outros, que adicionam algo à Palavra de Deus,
como fazem os católicos com os apócrifos e a tradição; a ciência
cristã, com a “ciência e saúde”, e com a “chave para as Escrituras”;
e os mórmons, com seu “livro de mórmon”. Tudo isso é tão
prejudicial quanto diabólico!
 
T��������� �� J���� �������� �� A����� T���������
É absolutamente evidente que Jesus considerava o Antigo
Testamento como plenamente inspirado. Ele o cita como tal e
baseou nele seu ensino. Uma de suas afirmações mais claras a este
respeito encontra-se em João 10.35, onde, numa controvérsia com
os judeus, sua defesa toma a forma de apelo às Escrituras, e,
depois de citar uma declaração, acrescenta as significativas
palavras: “E a Escritura não pode ser anulada.” A razão pela qual
valia a pena para Jesus, e vale a pena para nós, apelar para as
Escrituras, é que elas “não podem ser anuladas”.
E a palavra que se traduz por “anulada” é a que se usa para a
transgressão da lei, que significa negar as Escrituras. Para ele,
assim como para os judeus, um apelo para as Escrituras equivalia
um apelo para a autoridade cujas determinações eram finais, até
nos mínimos detalhes. Que Jesus considerava toda a Escritura
como sendo a Palavra de Deus, pode ver-se, por exemplo, em
Mateus 19.4. Quando alguns dos fariseus lhe fizeram perguntas a
respeito do divórcio, sua resposta foi: “Não tendes lido que aquele
que os fez no princípio, macho e fêmea os fez, e disse: Portanto,
deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois
numa só carne? ... Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o
homem”. Aqui Jesus declara explicitamente que Deus é o autor das
palavras de Gênesis 2.24: “aquele que os fez ... disse: Portanto,
deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher ...”. E no
entanto, lendo estas palavras no Antigo Testamento, nada há que
indique ter sido Deus quem as proferiu, pessoalmente, visto que são
apresentadas por Moisés, e só podem ser atribuídas a Deus como
seu Autor, na medida em que toda a Escritura é sua Palavra.
Marcos 10.5-9 e 1 Coríntios 6.16 apresentam exemplos
semelhantes. Onde quer que Cristo ou os apóstolos citem as
Escrituras, pensam delas como sendo a voz viva de Deus, e
portanto como que possuindo autoridade divina. Não têm a mínima
hesitação em atribuir a Deus as palavras de autores humanos, ou
de atribuir a autores humanos as palavras de Deus (Mt 15.7; Mc 7.6,
10; Rm 10.5, 19, 20).
Quando repreende fortemente os saduceus, ele lhes diz:
“Errais não conhecendo as Escrituras ...” (Mt 22.29), precisamente
aquilo que Jesus lhes aponta não é o erro deles de não terem
seguido as Escrituras, e sim de as terem rejeitado.
Aquele que acha sua doutrina e prática nas Escrituras não
erra. Tão comum era este uso, e tão indiscutível sua autoridade,
que, em seu conflito mais vibrante, Jesus não precisou de outra
arma além da palavra “Está escrito!” (Mt 4.4, 7; Lc 4.4, 8; 24.26).
Suas últimas palavras, antes de sua ascensão, continham uma
repreensão a seus discípulos por não terem compreendido que tudo
quanto se encontrava escrito nas Escrituras “tinha de ser cumprido”
(Lc 24.44). Se estava escrito que Jesus havia de sofrer estas coisas,
então todas as dúvidas a seu respeito se tornavam absurdas. Os
discípulos deviam basear-se nesta palavra, como um fundamento
seguro. Assim, recebemos o Antigo Testamento com base na
autoridade de Cristo. Ele no-lo dá e nos informa ser ele a Palavra de
Deus, que os profetas falaram pelo Espírito Santo, e que as
Escrituras não podem ser anuladas. Ele o mistura com suas
inúmeras citações e com o Novo Testamento, de tal forma que hoje
temos uma Bíblia unificada. Através dos dois Testamentos, ouve-se
uma só voz. Ou eles ficam de pé, ou caem juntos.
 
A ������� ���� � N��� T��������� ���� � A�����
Se Jesus mantinha a opinião de que todo o Antigo Testamento
era infalível, a mesma ideia não deixa de ser apresentada, e de
forma bem clara, pelos apóstolos. A maneira familiar como citavam
qualquer parte das Escrituras, como sendo a Palavra de Deus, sem
levarem em conta o fato de as palavras originais lhe serem ou não
atribuídas, mostra que pensavam que ele falava por meio do Antigo
Testamento. Em Hebreus 3.7, citam-se as palavras do salmista
como sendo palavras diretas do Espírito Santo: “Portanto, como diz
o Espírito Santo, se hoje ouvirdes sua voz, não endureçais vossos
corações, como na provocação”. Em Atos 13.35, as palavras de
Davi (Sl 16.10) são apresentadas como sendo as palavras de Deus:
“Pelo que também em outro salmo, diz [Deus, que é o sujeito da
oração]: Não permitirás que teu santo veja a corrupção”. Em
Romanos 15.11, atribuem-se a Deus as palavras do salmista: “E
outra vez [Deus] diz: Louvai ao Senhor, todos os gentios, e celebrai-
o, todos os povos”. Em Atos 4.24, 25, o apóstolo atribui a Deus as
palavras proferidas pela boca de Davi no segundo salmo: “Deus ...
disseste pela boca de Davi teu servo: Por que bramaram as nações,
e os povos pensaram coisas vã?”. Em Hebreus 1.7, 8 nos
deparamos com o mesmo ensino a respeito de dois salmos. Em
Romanos 15.10, atribuem-se a Deus as palavras de Moisés: “E
outra vez [Deus] disse: Alegrai-vos, gentios, com seu povo” (Dt
32.43).
Estas citações revelam, de forma bem evidente, que na mente
de Cristo e dos apóstolos havia uma identificação absoluta entre o
texto do Antigo Testamento e a voz do Deus vivo. E, evidentemente,
pode-se inferir que a inspiração do Novo Testamento não é inferior à
do Antigo Testamento. De fato, a tendência tem sido atribuir ao
Novo Testamento uma posição inferior. Se o Antigo Testamento é
apresentado como sendo inspirado, não há dúvida alguma também
acerca do Novo Testamento.
 
A�������� ��� ���������� �� N��� T��������� � ��������
�� ���� �������� Quando examinamos as reivindicações que os
escritores do Novo Testamento apresentam acerca de sua própria
obra, verificamos que reivindicam para elas inspiração absoluta, e
as colocam no mesmo nível das Escrituras veterotestamentárias.
Todas as escolas de crítica bíblica, atualmente existentes,
reconhecem que esta pretensão é feita reiteradamente, ainda que
neguem possuir fundamento. Por exemplo, notamos que, quando os
apóstolos começaram seu ministério, receberam do próprio Cristo a
promessa de diretriz sobrenatural: “E, quando vos entregarem, não
cuideis em como ouo que haveis de falar, porque, naquela hora,
vos será concedido o que haveis de dizer, visto que não sois vós os
que falais, mas o Espírito de nosso Pai é quem fala em vós” (Mt
10.19, 20; Mc 13.11; Lc 12.11, 12). Esta mesma promessa foi
reiterada no fim de seu ministério (Lc 21.12-15). É possível que a
promessa mais importante se encontre no Evangelho de João:
“quando vier, porém, o Espírito da Verdade, ele vos guiará a toda a
verdade” (Jo 16.13). Mais tarde os apóstolos reivindicaram esta
mesma diretriz. Não tinham a menor dúvida a respeito da exatidão
de suas palavras, tanto sobre questões históricas, quanto doutrinais
— fenômeno este bastante notável, se considerarmos que os
historiadores mais concretos e amantes da exatidão possuem uma
segurança menor e pouco elevada, ao apresentar-nos detalhes dos
acontecimentos. Paulo afirma que seu evangelho é tão autoritativo,
que declara estarem errados e serem malditos todos quantos
ensinarem outra doutrina, ainda que os tais fossem anjos vindos do
céu. “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie
outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema
...” (Gl 1.6-9). Seus mandamentos são do Senhor, e são
apresentados com autoridade obrigatória: “... as coisas que vos
escrevo são mandamento do Senhor” (1Co 14.37; cf. 2Ts 3.6, 12).
Escrevendo aos coríntios, Paulo faz distinção entre os
mandamentos que são do Senhor e aqueles que ele, Paulo, dava;
porém os coloca lado a lado com os mandamentos de Cristo e com
a mesma autoridade (1Co 7.10, 12, 40). Afirma que o que ele
pregava na verdade era a “Palavra de Deus” (1Ts 2.13). E essas
coisas deviam ser recebidas imediatamente e sem discussão.
Devemos notar sua maneira fácil de combinar o livro de
Deuteronômio com o Evangelho de Lucas sob a designação comum
de Escritura, como se fosse a coisa mais natural: “Porque diz a
Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E, digno é o
obreiro de seu salário” (1Tm 5.18). Este mesmo costume era normal
entre os Pais da Igreja.
Nas Epístolas de Pedro encontra-se a mesma elevada opinião
a respeito dos escritos do Novo Testamento. Ele afirma que “a
profecia nunca foi produzida por vontade de homem, mas homens
[santos] de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2Pe 1.21).
Ele afirma que os apóstolos, “pelo Espírito Santo enviado do céu ...
pregaram o evangelho” (1Pe 1.12). E coloca os escritos de Paulo no
mesmo nível das “demais Escrituras”, ao dizer: “... nosso amado
irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada ...
em todas suas epístolas ... que os indoutos e inconstantes torcem,
bem como as demais Escrituras ...” (2Pe 3.15, 16). Não é possível
atribuir maior dignidade, reverência e autoridade, do que esta, a
nenhum outro escrito.
Lucas declara que, no dia de Pentecostes, os discípulos
falaram “conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At
2.4). E João, o discípulo amado, fala da maldição que virá sobre
todo aquele que se atrever a tirar ou a acrescentar alguma coisa
àquilo que escreveu (Ap 22.19). Semelhantes reivindicações, se
fossem baseadas simplesmente na autoridade humana, revelariam
apenas a mais espantosa impudência. Sem dúvida, é impossível
desmentir os inúmeros textos que ensinam a inspiração plenária, e a
ideia de que poderiam ser desmentidos se baseia na estranha
noção de que esta doutrina só é ensinada, aqui e acolá, em textos
isolados. É certo que alguns textos a apresentam com clareza
excepcional, textos esses dos quais os céticos gostariam de se ver
livres. Mas essas passagens são apenas o apogeu de um
testemunho progressivo sobre a origem divina e a infalibilidade
desses escritos, ensino igualmente forte em ambos os Testamentos.
 
3. Natureza da influência pela qual a inspiração é
alcançada
As igrejas evangélicas jamais defenderam aquilo que foi
estigmatizado como “teoria mecânica da inspiração”, não obstante
as acusações em contrário, feitas frequentemente. Em vez de
reduzirmos os autores das Escrituras ao nível de computadores,
onde inserimos o que bem desejamos, temos insistido em que,
embora escrevendo ou falando, movidos pelo Espírito Santo,
mesmo assim eram seres pensantes, com vontade própria,
conscientes, cujo estilo e maneirismos particulares são traçáveis, de
forma evidente, em seus escritos. Se seu idioma nativo era o
hebraico, escreviam em hebraico; se era o grego, escreviam em
grego; se eram cultos, escreviam como homens cultos; se não eram
cultos, escreviam como fazem os iletrados. Não separamos os
elementos divino e humano, mas insistimos em que os dois estão
unidos numa perfeita harmonia, de tal forma que todas as palavras
das Escrituras são, simultaneamente, Palavra de Deus e palavras
de homens. Os próprios escritores afirmam explicitamente que,
neste processo, a influência divina é primária e a humana,
secundária; de forma que não são a fonte originária, mas apenas os
receptores e arautos das mensagens. Assim, o que escreveram ou
disseram não deve ser considerado simplesmente algo de sua
própria produção, e sim como de fato a Palavra de Deus, pura, e por
essa razão deve ser recebida e obedecida implicitamente.
O fato de podermos traçar, tão facilmente, o estilo ou a forma
de expressão peculiares nos escritos de Paulo, de João ou de
Moisés, revela que as Escrituras foram dadas de tal forma que
permitem personalidades humanas. Se fosse de outra maneira, as
Escrituras teriam se reduzido a um nível morto, de monotonia, e
realmente teríamos uma teoria mecânica de inspiração, em que os
autores pouco mais eram do que autômatos. Jaz na própria ideia de
inspiração o fato de que Deus usou os agentes que conhecemos, de
acordo com suas próprias naturezas. Um tipo de homem foi
escolhido para escrever história, outro tipo para escrever poesia, e
ainda outro para apresentar doutrina, se bem que estas funções
sobrepujassem em alguns escritores. E, acima de tudo, devemos ter
em mente que, durante toda a vida do profeta, o controle
providencial de Deus o estava preparando por meio de talentos
particulares de educação e de experiência, necessárias para a
mensagem que ele tinha de apresentar. Esta preparação
providencial dos profetas, que lhes deu o fundo espiritual e físico
necessários, de fato teve início em seus antepassados mais
remotos. Em resultado disso, os homens necessários surgiram nos
lugares precisos, na altura devida, e escreveram os livros ou
apresentaram as mensagens que lhes estavam designadas.
Quando Deus desejou dar a seu povo uma história a partir dos
primórdios, preparou Moisés para a escrever. Quando desejou dar-
lhe a poesia, doce e convidativa à adoração, como os Salmos, ele
dotou Davi com imaginação poética. E, visto que o cristianismo
requer, por sua própria natureza, afirmações lógicas, ele preparou
Paulo, dando-lhe uma mente lógica e o fundo religioso necessário
de forma a capacitá-lo para as apresentar como ele o faz. Desta
forma natural, Deus preparou de tal maneira os vários autores das
Escrituras que, com a assistência adequada de seu Espírito, a dirigi-
los e a iluminá-los, eles escreveram livre e espontaneamente aquilo
que ele quis, e no tempo por ele designado. Assim, o profeta estava
preparado para a mensagem e esta se adequava ao profeta. E
desta maneira também o estilo literário e particular de cada escritor
foi preservado, e cada um fez a obra que ninguém mais estava
preparado para fazer.
Em algumas ocasiões, a inspiração pouco mais era que um
processo de ditado. Deus falou e os homens registraram suas
palavras (cf. Gn 22.15-22; Êx 20.1-17; Is 43.1-28; etc.). Em outras
ocasiões, os escritores agiram como pensadores e compositores,
com toda sua energia, laborando como desejavam, relembrando e
abrindo seu coração perante Deus, exercendo o Espírito Santo uma
supervisão geral, levando-os a escrever o que era necessário que
fosse escrito, e a manter seus escritos livres de qualquer erro, como
podemos ver, por exemplo, em Lucas 1.1-4; Romanos 1.1-32;
Efésios 1.1-23; etc. Ao relatar simples fatos históricos ou ao copiar
listas de nomes ou de números,de fontes fidedignas, esta
supervisão era minuciosa. É possível que, em alguns casos, não
tivessem sequer a consciência de que estavam sendo influenciados
diretamente pelo Espírito, naquilo que escreviam.
Em geral, porém, podemos dizer que a palavra dos profetas
exprimia não só algo que eles pensavam, concluíam, esperavam ou
temiam, mas também aquilo que lhes era transmitido — às vezes
uma mensagem indesejada, a qual o Espírito revelador forçou a
pronunciar. Naturalmente fugiam de enunciar mensagens de
destruição para o povo ou para a nação. No entanto, não tinham a
liberdade de dizer mais nem menos do que recebiam, procediam
portanto como quem possui a mensagem de um rei e não pode
alterá-la em coisa alguma, mas entregá-la exatamente como a
recebeu. Isaías, por exemplo, após sua visão gloriosa e vocação
oficial, foi enviado a seus compatriotas com uma mensagem
indesejada, e foi inclusive avisado de que o povo não o ouviria, e
que o resultado de sua pregação seria a revolta e o endurecimento
de seus corações. Apesar disso, ele não podia mudar a mensagem,
mas apenas pergunta: “Até quando, Senhor?” (Is 6.9-13). Do
mesmo modo, Ezequiel foi enviado a um povo rebelde, sendo-lhe
dito que não o ouviriam (Ez 3.4-11). Mas, quer ouvissem quer não,
tinham de saber que entre eles houve um profeta do Senhor (Ez
2.5). Ainda que o profeta preferisse falar de outra maneira, só podia
enunciar a mensagem que recebera. Se o povo não ouvisse o aviso,
a responsabilidade era sua (Ez 33.1-11). Mostra-se ainda a
objetividade da mensagem no fato de que com frequência os
próprios profetas não compreendiam a revelação que era enunciada
por seu intermédio (Dn 12.8, 9; Ap 5.1-4).
Tampouco se deve considerar a obra do Espírito como sendo
mais misteriosa do que sua obra nas esferas da graça e da
providência. Por exemplo, o primeiro exercício da fé salvífica na
alma regenerada é, simultaneamente, uma obra induzida pelo
Espírito Santo e um ato da escolha espontânea do indivíduo. E em
toda a Bíblia as leis da natureza, o curso da história e os variados
destinos dos indivíduos são sempre atribuídos ao controle
providencial de Deus. “O Senhor tem seu caminho na tormenta e
nas tempestades, e as nuvens são o pó de seus pés” (Na 1.3).
“Porque ele faz nascer seu sol sobre maus e bons, e vir chuva sobre
justos e injustos” (Mt 5.45). “O Altíssimo tem domínio sobre o reino
dos homens, e o dá a quem quer, e até ao mais humilde dos
homens constitui sobre eles” (Dn 4.17). “Porque Deus é quem opera
em vós tanto o querer como o realizar, segundo sua boa vontade”
(Fp 2.13). “Como o ribeiro das águas, assim é o coração do rei na
mão do Senhor; este, segundo seu querer, o inclina” (Pv 21.1).
A inspiração teria sido algo semelhante ao toque que o
cavaleiro imprime às rédeas do cavalo de corrida bem treinado. A
preservação dos estilos e maneirismos individuais indica isso. Sob
este controle providencial, os profetas eram governados de tal
maneira que, embora sua humanidade não fosse suprimida, suas
palavras ao povo eram as palavras de Deus, e assim têm sido
recebidas pela igreja através dos séculos.
Que os autores das Escrituras usavam frequentemente outros
documentos e fontes, é evidente até para o leitor mais superficial.
Por exemplo, o capítulo 37 de Isaías e o capítulo 19 de 2 Reis são
exatamente iguais. Assim, Isaías e o autor de 2 Reis teriam
recorrido às mesmas fontes. Muitos dos relatos dos Evangelhos são
narrados em linguagem quase idêntica. Se pudéssemos provar, por
exemplo, que o Pentateuco consiste de várias partes que, por seu
turno, se baseiam em documentos mais antigos, nossa doutrina da
inspiração podia aceitar tal ponto de vista. Ao lidar com dados
históricos ou legais, é provável que os autores das Escrituras
recorressem a fontes, com tanta naturalidade, como fazem os
escritores contemporâneos, com a seguinte diferença: que o Espírito
Santo superintendeu sua obra, de tal forma que selecionaram
apenas o material que Deus quis que fosse dado ao povo, e
apresentaram esse material de modo que o mesmo ficou livre de
qualquer erro. Não estavam demasiadamente interessados no
método que usavam para escrever, como estavam no valor e
autoridade do produto final. Quanto mais naturalmente e menos
mecanicamente fosse realizado, melhor.
Não se deve esperar uma explicação perfeita da maneira
como os agentes divino e humano cooperaram na produção das
Escrituras. Basta dizer que, na maioria dos casos, era algo mais
íntimo do que aquilo que é conhecido como ditado. Nosso problema
é que às vezes procuramos explicações completas para coisas que
em seu aspecto mais profundo deveriam ser apenas recebidas
como mistérios; por exemplo, a Trindade, a expiação, a relação
entre a soberania de Deus e a liberdade humana, e a inspiração da
Bíblia. Os modernistas, com sua base naturalista, resolvem
facilmente estes problemas, ignorando o divino, sem repararem na
superficialidade de seu raciocínio. Os evangélicos têm, sem dúvida,
se aferrado a estes problemas. Reconheceram não só o elemento
divino, mas também o humano, e trouxeram uma solução parcial, ao
confessarem que a mente humana não pode compreender,
inteiramente, as coisas profundas de Deus.
É claro que não devemos pensar que a inspiração tornava os
profetas oniscientes. A inspiração apenas abrangia o conteúdo de
determinada mensagem, dada através deles. Em questões de
ciência, de filosofia ou de história, fora de seu objetivo imediato,
estavam no mesmo plano de seus contemporâneos. Eram
preservados do erro quando apresentavam a mensagem de Deus,
mas a inspiração, por si só, não os transformou nem em
astrônomos, nem em químicos, nem em agricultores, etc. Muitos
deles acreditavam, como seus contemporâneos, que o sol se movia
ao redor da terra, mas em parte alguma ensinaram tal coisa. Paulo
não podia errar em seu ensino, ainda que não se lembrasse de
quantas pessoas batizara em Corinto (1Co 1.16). Já vimos como
Daniel e João não compreenderam inteiramente toda a revelação
dada por seu intermédio. Isaque deu, sem qualquer intenção, a
bênção profética a Jacó, em vez de a dar a Esaú, seu filho favorito;
e, quando mais tarde descobriu que fora enganado, não pôde, de
forma alguma, mudar o rumo das coisas.
A doutrina da inspiração não admite sequer que os autores
estivessem livres de erro, em sua conduta pessoal. Moisés escreveu
bastante acerca da história primitiva de Israel, e geralmente ele é
conhecido como sendo o maior profeta do Antigo Testamento; no
entanto, junto às águas de Meribá, tomou para si a glória do Senhor,
e por causa dessa transgressão não lhe foi permitido entrar na Terra
Prometida (Nm 20.7-13). Balaão disse algumas grandes verdades, e
Saul esteve entre os profetas. Do mesmo modo, Pedro era infalível
como porta-voz do Senhor, e não obstante, pelo menos uma vez,
caiu em erro grave em sua conduta pessoal, e foi necessário que
Paulo lhe resistisse de frente, pois se tornara repreensível (Gl 2.11-
14).
Além disso, vimos que a inspiração era bastante flexível para
permitir certos assuntos pessoais, como aconteceu quando Paulo
pediu a Timóteo que viesse ter com ele dentro de pouco tempo e lhe
trouxesse a capa e alguns pergaminhos que deixara em Trôades
(2Tm 4.13). Inclui conselhos pessoais a respeito da saúde de
Timóteo (1Tm 5.23) e a preocupação pessoal em relação ao
tratamento do escravo (Fm 10-16).
Desse modo vemos que a doutrina cristã da inspiração não é
um processo mecânico, como certos críticos menos simpáticos
comumente querem fazer acreditar. Pelo contrário, necessita que
toda a personalidade do profeta entre em ação, dando pleno lugar
ao estilo e a seus próprios maneirismos literários, tendo em
consideração a preparação dada ao profeta, de modo que ele
apresenta uma determinada mensagem, e permitindo o uso de
outros documentos ou fontes de informação, que necessitasse. Se
tivéssemos isto mais em mente, a doutrina da inspiração não seria
posta de parte, sumariamente, nem atacada sem razão por eruditos
que são, em outros assuntos, prudentes e reverentes.
 
4. Os supostoserros das Escrituras
Presentemente, um dos fatos mais desoladores nas igrejas é
este: enquanto antigamente se aceitava sem discutir o que a Bíblia
dizia, e sem admitir qualquer dúvida sobre aquilo que ela afirmava,
hoje há grupos dentro das igrejas discutindo sobre se aquilo que a
Bíblia diz é ou não digno de confiança. Há algum tempo, ouvimos
um sermão pregado por um professor de um seminário teológico,
muito conhecido, em que declarava que a Bíblia continha erros
históricos, morais e literários. É uma acusação bem séria; e, se isso
pudesse ser provado, sem dúvida destruiria a doutrina cristã da
inspiração.
Geralmente se reconhece que a Bíblia contém algumas
declarações que, com o conhecimento que possuímos, não
podemos explicar plenamente. Nosso conhecimento de hebraico e
de grego de modo algum é perfeito. Por exemplo, há certo número
de palavras e expressões idiomáticas que aparecem uma vez ou
outra nas Escrituras, e às vezes sucede que até os melhores
conhecedores desses idiomas não concordam inteiramente a
respeito de seu significado.
Não podemos, porém, deixar de sentir-nos satisfeitos ao
sabermos que, com o progresso das descobertas linguísticas e
arqueológicas, a grande maioria dos supostos erros bíblicos, tão
confiantemente apresentados pelos céticos e ateus há alguns anos,
desapareceu. Hoje resta apenas uma pequena parte da antiga lista.
E maior alegria nutrimos nós porque, não obstante todos os
inclementes ataques feitos à Bíblia, e apesar de toda a terrível luz
da crítica, que há tanto tempo se tem projetado sobre suas páginas
abertas, ainda não se provou que houvesse um único erro em
qualquer parte da Bíblia. Até hoje, sem qualquer exceção, sempre
que se tem chegado a conflito e tem sido possível decidir do
julgamento, tem-se provado que o cético está errado e a Bíblia está
certa. As pretensas discrepâncias que restam são apenas avisos,
depressa esquecidos, àqueles que, em sua ânsia de violentarem a
doutrina da infalibilidade das Escrituras, põem sua mente de
sobreaviso a respeito da história e da literatura. Estas dificuldades
são tão triviais, que ninguém deveria preocupar-se com elas.
Quando possuirmos mais luz, desaparecerão como sombras.
Algumas, se não todas elas, não passam de erros de copistas ou de
tradutores; e sem dúvida ninguém tem o direito de afirmar que
existem erros na Bíblia, a não ser que possa mostrar, sem qualquer
sombra de dúvida, que se encontram nos manuscritos originais. Há
plena razão para se admitir que, com um conhecimento adicional,
aquilo que para nós parece erro será esclarecido. Não é exagero
afirmar que, de um modo geral, estão na mesma relação para com a
Bíblia, como os grãos de areia aqui e acolá, do mármore do
Partenon, estão para este edifício. Perante as experiências
pregressas, é importante ter em mente que há fortes probabilidades
de que esses erros não sejam reais, probabilidades estas que
poderão ser medidas pelo peso total da evidência que possa ser
apresentada para provar que a Bíblia é um guia, absolutamente
verídico, em questões morais e espirituais.
Quando nos lembramos que a Bíblia foi escrita em um período
de cerca de 1600 anos, e que uns 40 escritores diferentes, que
viveram em períodos distintos, possuindo pontos de vista diferentes,
e com aptidões literárias diversas, tiveram parte em sua produção;
que a história religiosa e política do país era verdadeiramente
complexa, e que historiadores romanos, conhecidos por sua
precisão, caíram abertamente em erro, ao narrarem acontecimentos
seus contemporâneos, é de espantar que, havendo algumas coisas
relatadas na Bíblia, difíceis de entender, seu número seja tão
reduzido.
Ainda que admitamos que a Bíblia contém algumas
declarações difíceis de se harmonizarem com o conhecimento atual,
isso não deveria fornecer quaisquer bases racionais para negar-se a
teoria geral da infalibilidade das Escrituras. Temos as palavras do
próprio Cristo: “A Escritura não pode ser anulada” (Jo 10.35); e não
deveríamos pedir mais do que isso. No universo material há
evidências de características tão múltiplas, diversas e maravilhosas,
que deveríamos chegar à conclusão de que apontam para um autor
inteligente. E, no entanto, aqui e ali achamos monstruosidades. O
fato de que, em nosso atual estado de conhecimento, não somos
capazes de explicar por que foram criados cobras e mosquitos, ou o
germe da malária, não impede que acreditemos que o mundo teve
um Criador, inteligente e benévolo. Tampouco o cristão deveria
perder sua fé na Bíblia só porque não é capaz de harmonizar todos
seus detalhes.
Possivelmente, nenhuma outra ciência, como a Arqueologia,
tem feito tanto para confirmar a Bíblia. A obra paciente de
exploradores e escavadores no Egito, em Babilônia, na Assíria e na
Palestina, com suas pás e picaretas, abriu-nos imensos volumes da
história antiga, dando-nos narrações gráficas da língua, da literatura,
instituições e religiões dos povos que há muito teriam sido
esquecidos, exceto por menções ocasionais da Bíblia. Possuímos
seu registro gravado na rocha, no tijolo e registrado numa ou noutra
forma em monumentos, túmulos, edifícios, papiros e cerâmica.
Estas descobertas confirmam, sem exceção, a veracidade da Bíblia,
e sempre têm provado que as teorias e as conjeturas dos críticos
destrutivos estão erradas. De fato, os inimigos da Bíblia não têm
maior adversário do que a Arqueologia. A evidência apresentada por
esta fonte de informação é tão imparcial, tão impossível de
impugnar e tão concludente, que obriga sua aceitação, tanto pelos
amigos como pelos inimigos.
 
E������� �� ����� ���������
Não nos é possível, por falta de espaço, dar uma lista
circunstanciada dos erros que se têm apontado nas Escrituras, e no
entanto nossa discussão ficaria incompleta se não apresentássemos
alguns exemplos. À primeira vista parece haver contradição entre
Atos 9.7 e Atos 22.9, acerca da conversão de Paulo. Na primeira
passagem lemos que os homens que acompanhavam Saulo
ouviram a voz que lhe falou, enquanto na outra lemos que não
ouviram a voz. A dificuldade, porém, desaparece ao verificarmos
que a palavra grega traduzida por voz pode também significar som,
e assim se pode traduzir Atos 9.7. Concluímos, pois, que os homens
que viajaram com Saulo ouviram o som, porém não entenderam as
palavras.
Há relativamente pouco tempo, os críticos destrutivos
escarneceram de alguém que aceitasse a declaração de Lucas de
que a Ilha de Chipre foi governada por um procônsul (At 13.7), e que
o tetrarca Lisânias foi contemporâneo dos governantes herodianos
(Lc 3.1). No entanto, o escárnio depressa se desvaneceu, quando
descobertas arqueológicas confirmaram as afirmações bíblicas.
Na cura do servo do centurião, quer o próprio centurião se
dirigisse a Jesus e pedisse que seu servo fosse curado, como
Mateus nos leva a crer (8.5), ou lhe enviasse anciãos dos judeus,
como nos diz Lucas (7.3), a questão é a mesma, pela forma como
nos conta a história. Em nossa linguagem comum, atribuímos à
pessoa aquilo que seus agentes ou servos fazem sob suas ordens.
A acusação que Pilatos escreveu na cruz nos é dada pelos
evangelistas com pequenas variantes. No entanto, tudo indica que a
explicação para esse fato se encontra principalmente no fato de a
acusação ser escrita em três idiomas: latim, grego e hebraico, que
havia variantes nos originais e que, pelo menos um dos escritos,
apresenta uma tradução livre, não havendo diferença substancial,
por exemplo, entre a declaração de Marcos, “o Rei dos Judeus”, e a
de Lucas, “Este é o Rei dos Judeus”.
Na manhã da ressurreição, quer a pedra do túmulo fosse
retirada por mãos humanas, como se refere na narrativa de Marcos,
Lucas e João (ainda que tenham o cuidado de não dizer que o fora
por mãos humanas, mas apenas que a pedra foi tirada), ou que um
terremoto contribuiu para esse fim, como Mateus nos informa mais
especificamente (28.2), o fato não interessa perante o ponto
essencial de que Cristo, naquela manhã, ressurgiu e saiu do túmulo.
Mateus nos fornece um relato mais detalhado, neste ponto, nosdizendo que o Senhor usou as forças da natureza para alcançar seu
objetivo; enquanto os outros evangelistas apenas registram a
importante verdade religiosa de que o túmulo estava aberto.
Acontece amiúde que autores sacros, assim como os seculares,
descrevem acontecimentos de um prisma diferente, ou com ênfases
diferentes. Em tais casos, não há mais contradição entre as
narrativas do que há, por exemplo, entre quatro fotografias da
mesma casa, uma tirada do ocidente, outra do norte, outra do leste
e outra do sul, ainda que apresentem vistas diferentes.
Mateus 27.5 afirma que Judas entregou o dinheiro aos
sacerdotes, e depois saiu e foi enforcar-se; enquanto Atos 1.18
afirma que ele comprou um campo com esse dinheiro. Mas,
coordenando as duas narrativas, deduz-se que o que realmente
aconteceu foi que os sacerdotes rejeitaram o dinheiro que Judas
atirou para o templo. No entanto, depois de sua traição e suicídio, tal
desgraça se ligou a ele, de maneira que nenhum amigo ou parente
veio cuidar de seu corpo, e foi enterrado pelas autoridades. Os
sacerdotes se lembraram de que o dinheiro fora devolvido e que não
poderia entrar nas ofertas do templo por ser preço de sangue; e,
necessitando o corpo de sepultura, resolveram, muito a propósito,
usar aquele dinheiro para comprar um terreno onde o enterrassem,
talvez o mesmo campo em que ele suicidara. Assim, diz-se que ele
comprou um campo com a recompensa recebida por sua iniquidade
— não que ele o tivesse adquirido pessoalmente, mas que foi
comprado com seu dinheiro, e que nele foi enterrado.
Muitos críticos afirmam que a referência de Jeremias que se
faz em Mateus 27.9 constitui um erro, e que deve ser, antes, a
Zacarias 11.12, 13. No entanto, tudo indica ser este um caso de
menção subsequente, como acontece também em Atos 20.35 e
Judas 14. Mateus diz que Jeremias disse essas palavras, e ninguém
pode provar o contrário. Certamente, Jeremias as pronunciara,
Zacarias as escrevera, e Mateus, inspirado pelo Espírito Santo, as
citou aqui, atribuindo-as a Jeremias. É possível que Mateus tivesse
fontes seguras para atribuí-las a Jeremias, fontes essas que não
conhecemos. O fato de a citação de Mateus não ser exatamente
como se encontra em Zacarias pode ser tomado como indicação de
que ele de fato possuía outros livros.
Às vezes afirma-se que Gênesis 36.31, ao referir-se a rei (ou
reis) que governaram sobre os filhos de Israel prova que o livro do
Gênesis não foi escrito por Moisés, mas por outra pessoa, que
Moisés era profeta e que, muito antes da promessa ser dada a
Abraão de que haveria reis (Gn 17.6; 35.11), predisse o
aparecimento de reis em Israel (Dt 17.14-20), e que em Gênesis
36.31 ele apenas diz que havia reis reinando em Edom, muito antes
de os haver em Israel.
No que diz respeito a Êxodo 9.19, às vezes se pergunta como
é que os egípcios poderiam ter ainda gado para ser morto pela
saraiva, que foi a sétima praga, se em Êxodo 9.6 se declara que
todo o gado perecera pela peste, que foi a quinta praga. Pode-se
explicar este fato, porquanto a quinta praga não matou o gado que
pertencia aos israelitas, e durante o tempo decorrido entre as duas
pragas sem dúvida os egípcios se apossaram desse gado.
O fato de os Dez Mandamentos, apresentados em Êxodo
20.17 e Deuteronômio 5.7-21, mostrarem certas variantes na
linguagem ou, em alguns casos em que os escritores do Novo
Testamento citam o Antigo Testamento, não citarem as palavras
exatas, mas apenas o significado em geral, não é um argumento
contra a inspiração verbal, a menos que se possa provar que
quiseram citar literalmente. O escritor ou orador está em seu direito
de repetir seus pensamentos de maneira relativamente diversa, e é
isto que o Espírito Santo fez. A linguagem humana, em sua forma
mais elevada, é demasiadamente imperfeita para expressar a
plenitude da mente divina, e não deveríamos limitar o Espírito Santo
a uma forma estereotipada de falar. Os escritores do Novo
Testamento têm mais interesse em apresentar a verdade básica,
colocando-a em uma forma variada e rica, do que em seguir um
método rígido. Isto põe de lado um grande número de contradições
que alguns críticos afirmam encontrar na Bíblia. Além disso, se
encontrarmos uma passagem que permita duas interpretações, uma
que se harmonize com o restante das Escrituras e outra não, sem
dúvida devemos aceitar a primeira. Quer essa declaração se
encontra nas Escrituras, em documentos históricos ou em
documentos legais, o princípio da interpretação comumente aceito é
que o significado que pressupõe o documento é auto-consistente e
racional e deve ser preferido ao que o torna inconsistente e
irracional. Agir sobre outra base é fazê-lo com preconceitos e
pressupor o erro em vez de o provar. No entanto, os críticos da
Bíblia não se importam em descartar esta regra.
Muitas das chamadas “dificuldades morais” do Antigo
Testamento surgem apenas porque não se tomou em consideração
a natureza progressiva da revelação. Ainda mais, evidentemente, se
espera de nós, que vivemos na era cristã e que possuímos a luz do
Novo Testamento. Também aqui existe “primeiro a haste, depois a
espiga, e por fim o grão maduro na espiga”. Muitas vezes surgem
mal-entendidos devido ao fracasso em distinguir entre o que as
Escrituras registram e o que elas sancionam.
Por exemplo, os problemas mais sérios surgem quando se
trata da destruição dos cananeus, dos salmos imprecatórios, da
doutrina da expiação substitutiva e da doutrina do castigo eterno. É
possível que as dificuldades relacionadas com estes problemas não
possam ser resolvidas, mas a objeção de que são moralmente
errados surge da suposição de uma justiça retributiva inexistente. É
preciso ter em mente que, se Deus é bom e recompensa a justiça,
também é justo e pune, com toda certeza, o pecado, e que o castigo
do pecado é para ele obrigatório, refletindo sua glória, do mesmo
modo que a recompensa da justiça o faz. Este é o ensino do Novo
Testamento, de forma tão clara como é o do Antigo Testamento; e
que está em sua base doutrinária o fato de que o castigo de nossos
pecados não poderia ser simplesmente cancelado, mas tem de ser
posto sobre Cristo, para nossa salvação. Além disso, o Antigo
Testamento mostra não apenas que certos indivíduos, mas que até
cidades inteiras eram tão depravadas, que vieram ser uma maldição
para a sociedade. Tais indivíduos, pois, eram indignos de viver. Até
mesmo a religião de alguns povos era corrupta, como, por exemplo,
os que seguiam o culto de Baal, culto que era acompanhado de ritos
imorais, de sacrifícios de crianças recém-nascidas atiradas ao fogo,
e do ósculo lançado às imagens de deuses pagãos.
A atitude do Antigo Testamento em relação à poligamia, o
divórcio e outros males semelhantes, é frequentemente
ridicularizada pelos críticos atuais; mas, analisada em seu próprio
ambiente, é em si um argumento a favor da autoridade divina da
Bíblia. No que diz respeito a quase todas estas questões,
verificamos que o objetivo da Bíblia é apresentar princípios básicos
aplicáveis a todos os povos, a todas as nações, a todas as raças e
em todas as épocas, e não estabelecer leis específicas que, embora
se adaptem a um tipo de pessoas sob certas condições diferentes,
podem não se aplicar a outros. A criação de leis específicas,
adaptáveis a certos problemas sociais ou políticos e a condições
locais, pertence aos corpos legislativos competentes. Portanto, as
leis da Bíblia não são tão específicas quanto muita gente gostaria
que fossem. A sabedoria que a Bíblia revela ao enfrentar tais males,
numa época primitiva, dando leis e princípios que os regulassem, de
forma a destruí-los, é em si uma forte evidência de que essas leis
são de origem sobre-humana.
 
A B����� ���� �������
É evidente que a Bíblia não foi escrita do prisma científico.
Aquele que procurar usá-la como sendo um livro-texto, ficará
verdadeiramente desapontado. Foi escrita muitos anos antes do
aparecimento da ciência moderna e tendo em mente não cientistas
e intelectuais, e sim o povo comum. Sua linguagem é a do povo e
suamatéria é, acima de tudo, religiosa e espiritual. Se tivesse sido
escrita na linguagem científica ou filosófica, teria sido ininteligível ao
povo das épocas primitivas, e na realidade não seria compreendida
pelas massas de nossa própria época. Além disso, embora não
pretendamos rebaixar as realizações científicas modernas, e sim,
antes, aceitá-las e usá-las ao máximo, devemos dizer que os livros-
texto científicos têm de ser reescritos, pelo menos uma vez em cada
geração; e, ao progredirmos como sucede hoje nas investigações
científicas, dentro de dez anos a maioria dos livros científicos ora
em uso será obsoleta. Mas a Bíblia é um livro que não sofreu
qualquer revisão durante milhares de anos, e que atualmente apela
para o coração e para a inteligência do homem, com tanta força
como o fez no passado. Aqueles que buscam na Bíblia inspiração
espiritual e intelectual, encontram-na tão fresca e inspiradora, como
se tivesse sido escrita ainda ontem.
Uma das coisas mais maravilhosas a respeito da Bíblia é que,
embora escrita em épocas de ignorância e de superstição, ela não
contém os erros e falácias populares de seu tempo. Moisés, como
príncipe herdeiro do Egito, frequentou as melhores escolas e “foi
instruído em toda a sabedoria dos egípcios”, cuja maior parte seria
considerada hoje patética, porém não a usou na Bíblia. As teorias
inverossímeis e fantásticas defendidas pelos egípcios a respeito da
origem do mundo e do homem são completamente ignoradas; e no
primeiro capítulo do Gênesis, em linguagem majestosa nunca
ultrapassada até hoje, ele nos fornece um relato da criação do
mundo e do homem que não pode ser desmentido pela ciência
moderna. Os outros profetas que não tiveram contato com a ciência
de seu tempo, na Caldéia e em Babilônia, procederam da mesma
maneira; e, embora pessoalmente cressem em muitas coisas
errôneas, só escreveram o que estava de acordo com a verdade.
É provável que alguns dos profetas admitissem que o mundo
era plano. No entanto, em parte alguma de seus escritos ensinaram
tal coisa. Quando falam do nascer e do pôr-do-sol, dos quatro
cantos da terra ou dos confins da terra, não devemos tomar ao pé
da letra o que eles dizem. Atualmente, usamos as mesmas
expressões, porém não queremos com isso afirmar que o sol gira
em torno da terra, ou que a terra seja plana ou retangular. Em nossa
linguagem corrente, com frequência descrevemos as coisas como
nos parecem e não como bem sabemos são na realidade. E embora
os céticos, como um grupo, estejam sempre prontos a afirmar que a
Bíblia ensina que a terra é plana, quase não podemos encontrar um
que seja suficientemente honesto para citar um determinado
versículo em que a Bíblia faça tal declaração a respeito da forma da
terra. Ao descrever a grandeza e a majestade de Deus, Isaías diz
que “ele está assentado sobre a redondeza da terra” (40.22). A
palavra hebraica que se traduz por redondeza ou globo literalmente
significa redondo. Tampouco os céticos gostariam de citar as
palavras de Jó: “Estende o norte sobre o vazio; suspende a terra
sobre o nada” (Jó 26.7).
Em 1861, a Academia Francesa de Ciências publicou uma
lista de 51 fatos, denominados científicos, cada um dos quais, dizia-
se, refutava uma afirmação da Bíblia. Hoje, a Bíblia permanece
como então era, porém nenhum desses supostos fatos é defendido
pelos atuais homens de ciência.
Devíamos fazer sempre distinção entre especulação científica
e fatos demonstrados de forma inegável. As especulações
científicas são como as correntes movediças do oceano; enquanto
as Escrituras, qual rochedo de Gibraltar, lhes resistem há muito mais
de dois mil anos. Ainda não foi possível demonstrar que há
contradições entre a Bíblia e fatos científicos comprovados; pelo
contrário, a narrativa do mundo, em contraste com aquilo que se
encontra nos livros antigos, está de acordo com as descobertas da
ciência moderna, de maneira tão extraordinária que se torna
maravilhoso. O conflito que algumas pessoas supõem existir entre a
Bíblia e a Ciência na realidade não existe.
É possível que a principal razão por que há tanta confusão
acerca das relações entre a ciência e a religião seja o fracasso, por
parte de muita gente, em distinguir entre fatos e opiniões. A
verdadeira ciência lida com fatos comprovados; as opiniões podem
variar, com a pessoa que as formula. A evolução orgânica, por
exemplo, como tem sido apresentada, em geral não admite o
sobrenatural e está em contradição com a Bíblia. Devemos, porém,
lembrar-nos de que a evolução não é um fato científico, mas apenas
uma teoria, uma hipótese. Nem um só dos argumentos normalmente
apresentados para a sustentar é válido; e muitos cientistas de valor
não acreditam na teoria da evolução, mas na criação, como é
apresentada na Bíblia. Se um pastor não estudou ciências, não tem
o direito de invadir o domínio da ciência e falar com autoridade a
seu respeito. Tampouco um cientista que não teve qualquer
experiência do poder regenerador do Espírito Santo tem qualquer
direito de invadir o campo da religião e falar livremente a seu
respeito. Atualmente, certos cientistas de renome, mas sem
experiência religiosa, presunçosamente têm escrito ou falado,
emitindo sua opinião acerca de assuntos religiosos. Sua opinião,
porém, a respeito desses assuntos não tem mais valor que a de
qualquer outra pessoa, pela simples razão de que falam a respeito
de coisas que estão muito além de seu conhecimento. O simples
fato de um homem ser uma sumidade dentro de um campo, não lhe
confere o direito de falar, com autoridade, sobre questões fora desse
campo de conhecimento. A verdadeira religião e a verdadeira
ciência nunca se contradizem; mas ministros e cientistas podem
discordar, pessoalmente. Na verdade, a ciência tem feito coisas
maravilhosas. Mas seu domínio está estritamente limitado à parte
material da vida. Não tem autoridade para falar acerca de coisas
espirituais. Quando a ciência se torna um substituto da religião, em
geral se transforma em um falso Messias.
A relação entre a Bíblia e a ciência foi apresentada, de forma
bem clara, pelo Dr. Samuel G. Craig, da seguinte maneira: Uma
coisa é dizer que as Escrituras contêm declarações contrárias aos
ensinos da ciência e da filosofia modernas, e outra coisa totalmente
diferente é dizer que contêm erros comprovados. Estritamente
falando, não existem ciência e filosofia modernas — existem apenas
cientistas e filósofos modernos que divergem entre si. É apenas na
suposição de que as vozes discordantes dos cientistas e filósofos
modernos devem identificar-se com as vozes da ciência e da
filosofia, que alguém se justifica dizendo que a Bíblia contém erros e
isto em virtude de seus ensinos nem sempre estarem de acordo
com os ensinos desses cientistas e filósofos. Porventura alguém
admite que a ciência e a filosofia já atingiram sua forma final? Não
seria melhor afirmar que estão longe de a atingir e que, se os
ensinos da Bíblia estivessem em perfeita harmonia com a ciência e
a filosofia modernas, é quase certo que estariam em desacordo com
a ciência e filosofia do futuro? Por exemplo, se o anti-sobrenatural
da ciência e da filosofia dominantes de hoje for a característica das
mesmas em sua forma definitiva, então a Bíblia conteria, sem
dúvida, muitos erros. No entanto, quem possui competência
suficiente para afirmar que é esse o caso? E, a menos que se prove
que a ciência e a filosofia do futuro sejam essencialmente iguais à
filosofia e ciência do presente, estamos fora da evidência existente,
quando afirmamos que a Bíblia contém erros comprovados, apenas
porque seu ensino está em contradição com os ensinos de
cientistas e filósofos modernos.
 
5. Fidedignidade da Bíblia
Depois de um breve estudo sobre os pretensos erros e
discrepâncias, incluindo não só os que mencionamos, mas também
muitos outros, afirmamos, sem receio de sermos desmentidos, que
nenhum deles é autêntico. Como cristãos, damos ao livro de Deus o
título: “Bíblia Sagrada”. Caso se tratasse apenas de um livro
relativamente bem escrito, apresentando verdadesmorais e
espirituais valiosas, mas, ao mesmo tempo, contendo muitas coisas
duvidosas, não poderíamos aplicar-lhe o adjetivo “Sagrado”. Neste
caso, ele estaria no mesmo nível de outros livros, e a única
diferença seria não em qualidade mas em grau.
No entanto, quão diferente é nossa atitude quando nos
aproximamos da Bíblia e a consideramos como sendo a Palavra de
Deus, única regra de fé e prática, inspirada e infalível! Quão
prontamente aceitamos suas declarações e nos curvamos perante a
enumeração de nosso dever! Quão indistintamente trememos
perante suas ameaças da mesma forma que descansamos em suas
promessas!
Ao proclamarmos a Palavra da Vida, no púlpito ou em aula; ao
tentarmos dar conforto junto de um leito de dor ou em um lar
enlutado; ao vermos nossos companheiros lutando contra a
tentação, ou preocupados com problemas, e lhes injetamos
coragem e esperança, para este mundo e para o vindouro, quão
gratos somos por uma Bíblia absolutamente fidedigna! Em tais
casos, queremos salientar que possuímos não algo simplesmente
provável ou plausível, mas seguro e concreto.
Aquilo a que se dá o nome de “Lei de Documentos Antigos”,
em geral aceitos pelos estudiosos dos livros religiosos e seculares,
consiste em supor que “documentos aparentemente antigos, que
não tragam em si marcas de falsificação e encontrados sob guarda
conveniente, são verdadeiros até que existam provas,
suficientemente fortes, em contrário”. Ora, nós afirmamos que,
julgados por este princípio, os livros do Antigo e do Novo
Testamento são aquilo que dizem ser, e como tais deverão ser
aceitos. Estamos certos de que, quando os críticos forem vencidos,
quando a batalha terminar e a fumaça desaparecer, os livros da
Bíblia, se pudessem falar, diriam o que Paulo disse ao carcereiro de
Filipos: “Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos”. A
princípio parece muito difícil compreender por que tantas pessoas
se preocupam em apontar erros na Bíblia. Mas, ao examinarmos o
fato mais detalhadamente, verificamos que a razão está em que a
Bíblia julga os homens e aponta o pecado de seus corações. E os
homens não-convertidos não gostam disso e preferem ler um jornal
ou um romance. A descrição de um julgamento, no jornal, interessa-
lhes muito mais do que um capítulo do Novo Testamento. E já que
não gostam que a Bíblia diga a verdade a seu respeito e a respeito
do mundo em que vivem, tentam descobrir erros no Livro Santo. A
razão por que não podem deixar o Livro em paz é que ele de fato
não os deixa em paz. Em todas as épocas e em todas as classes
sociais, os incrédulos têm tentado tudo quanto lhes é possível para
encontrar erros que condenem a Bíblia como falsa. Não têm prazer
em apontar erros em Virgílio, em Cícero, em Shakespeare, mas não
podem suportar a Bíblia. E, infelizmente, os inimigos figadais da
Palavra não se encontram apenas entre as pessoas incultas, mas
também entre pessoas educadas e cultas. Realmente, muitos nada
têm em comum, e no entanto se unem em sua acirrada oposição à
Bíblia.
 
T���������� ������
Evidentemente, atualmente há muitos sábios que, por várias
razões, tentam lançar o descrédito sobre a Palavra de Deus. Em
geral começam atacando o Antigo Testamento, e levam esse ataque
até o Novo Testamento. Temos, porém, a alegria de dizer que há
muitos sábios, de sabedoria pelo menos igual, que declaram ser a
Bíblia absolutamente digna de confiança. O falecido Dr. Benjamin B.
Warfield, professor de Teologia Sistemática em Princeton durante 35
anos, cremos que o maior teólogo e estudante de grego que jamais
houve na América, depois de examinar a evidência com base na
qual todos os críticos baseavam suas conclusões, não teve qualquer
escrúpulo em declarar que essa evidência era destituída de
qualquer valor, e disse que a Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse, é
aquilo que pretende ser: a Palavra de Deus. Seu livro, Revelação e
inspiração, sem dúvida é o melhor livro sobre o assunto. A revista
“Sunday School Times” tem absoluta razão em afirmar que ele
“constitui a defesa mais erudita, exaustiva e convincente da
inspiração da Bíblia jamais escrita, nos últimos tempos”.
Em relação ao Antigo Testamento, nos sentimos em terreno
seguro afirmando que não surgiu até hoje maior autoridade do que
Robert Dick Wilson. Conhecendo perfeitamente 45 línguas e
dialetos, e conhecendo mais acerca do Antigo Testamento do que
qualquer homem atual, apresentou suas conclusões nos seguintes
termos: Dediquei-me constantemente, há quarenta e cinco anos, ao
estudo do Antigo Testamento em todas as línguas, em toda sua
arqueologia, em todas suas traduções e, tanto quanto possível, em
tudo quanto diz respeito a seu texto e a sua história ... A evidência
que possuímos me convence de que Deus falou muitas vezes e de
muitas maneiras pelos profetas e pelo Filho (Hb 1.1), e de que o
Antigo Testamento em hebraico, sendo inspirado diretamente por
Deus, foi conservado puro por sua providência e cuidado.
O mundo continua esperando por uma teoria que forneça um
relato adequado da origem e da autoridade da Bíblia, baseado em
outras hipóteses que não tenham sua origem em Deus. Uma após
outra, as teorias apresentadas caem automaticamente ou são
desmentidas por outros esquemas igualmente destrutivos. Até hoje
nenhuma outra hipótese, com exceção daquela da origem divina,
conseguiu manter-se mais de meio século. Isto, por si só, é uma
prova de que não se pode atribuir a origem do Livro a outros meios
além dos que nos foram apresentados pelos próprios profetas.
Tampouco temos razão para admitir que apareça, no futuro, outra
teoria com possibilidade de êxito. Assim, o único curso racional a
seguir é aceitando aquilo que a Bíblia afirma ser, até que possamos
mudar de opinião.
É interessante demonstrar que através dos séculos a fé cristã
ortodoxa tem se desenvolvido e se defendido mediante esforços
reverentes e ansiosos de Orígenes, de Agostinho, de Erasmo, de
Lutero, de Calvino, de Hodge e de Warfield, os quais acreditavam
na plena inspiração da Bíblia, e não pelos pelagianos, socinianos,
wellhausens[1] e fosdicks[2] com suas dúvidas sobre se Moisés,
Paulo, ou até mesmo Cristo, acreditavam naquilo que disseram.
Nosso desejo é que não haja oportunidade para se dizer de nós o
que se disse daqueles que viveram em épocas passadas: “que
recebemos a Palavra de Deus, tal como foi anunciada pelos anjos, e
não a guardamos”.
 
R����� ���� ����� �� �� ��� � B����� � ���������
Quando afirmamos que a Bíblia é absolutamente fidedigna
quanto a sua apresentação de fatos doutrinários ou éticos, com isso
não queremos dizer que examinamos pessoalmente cada uma de
suas declarações tão cuidadosamente, que nos sentimos
justificados em afirmar que são todas verdadeiras, nem tampouco
queremos dizer com isso que somos oniscientes. Chegamos a esta
conclusão, em primeiro lugar, notando as reivindicações feitas na
Bíblia acerca de sua própria inspiração e fidedignidade; e em
seguida comparamos essa reivindicação com os fatos fornecidos
pela crítica e pela exegese bíblica. Em virtude da muita evidência
que consubstancia esta reivindicação da Bíblia, como, por exemplo,
o alto nível moral e espiritual que existe ao longo de todo o Livro, a
prometida diretriz do Espírito Santo, as muitas profecias feitas em
determinadas épocas, e que no devido tempo tiveram seu
cumprimento, até nos mais insignificantes pormenores, a inerente
unidade do Livro, a forma simples e sem preconceitos com que se
descrevem acontecimentos, etc., e, portanto, na ausência de
quaisquer erros comprovados, concluímos que a Bíblia é aquilo que
pretende ser: um livro inteiramente inspirado. Esta parece ser a
única maneira lógica e compreensível de encarar o problema. Se
rejeitarmos este método para chegarmos a uma conclusão, teremos
de fazer um exame exaustivo de cada parte das Escrituras,
versículo por versículo, declaração por declaração, e provar sua
veracidade ou falsidade. Ao tentarmos este processo, logo
esbarraremos com coisas difíceis de serem discernidas,
declarações sobre as quais não temos informação adequada, e

Continue navegando