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TÉCNICAS DE PRODUÇÃO ANIMAL Renata Augusto Vieira G es tã o T É C N IC A S D E P R O D U Ç Ã O A N IM A L R en at a A ug us to V ie ira Curitiba 2019 Técnicas de Produção Animal Renata Augusto Vieira Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. V658t Vieira, Renata Augusto Técnicas de produção animal / Renata Augusto Vieira. – Curitiba: Fael, 2019. 222 p.: il. ISBN 978-85-5337-066-5 1. Zootecnia I. Título CDD 636.08 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Fabio Heinzen Fonseca Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/Alf Ribeiro Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Introdução à produção animal | 7 2. Anatomia animal | 23 3. Bovinocultura de corte e leite | 47 4. Caprinocultura e ovinocultura | 67 5. Bubalinocultura | 85 6. Avicultura e suinocultura | 103 7. Piscicultura e ranicultura | 119 8. Sanidade Animal | 141 9. Genética e produção | 159 10. Parâmetros zootécnicos e gestão da produção | 177 Gabarito | 195 Referências | 211 Prezado(a) aluno(a), A produção pecuária teve início há milhares de anos em tri- bos dispersas em várias localidades do globo terrestre, e chegou ao Brasil no início da colonização portuguesa. Desde então, todos aqueles que se dedicam à criação animal têm contribuído para a ascensão dessa atividade e pela posição de destaque do Brasil no cenário mundial como um dos principais países produtores e exportadores de carne, leite, ovos, lã, entre outros produtos. A criação de animais com fins comerciais é uma das ativi- dades que constitui o agronegócio e é responsável por abaste- cer o mercado interno e também por exportar a outros países, de acordo com as exigências de qualidade determinadas por cada um deles. Essa capacidade de atender à demanda internacional foi adquirida graças ao desenvolvimento da cadeia pecuária, com investimento em novas tecnologias e aprimoramento do conhe- cimento técnico por parte dos responsáveis envolvidos (agrô- nomos, técnicos, médicos veterinários, administradores etc.), e às condições climáticas e ambientais que colaboram com o pro- gresso da pecuária brasileira. Carta ao Aluno – 6 – Técnicas de Produção Animal É de extrema importância que todos aqueles ligados não só à pecuá- ria, mas também ao agronegócio como um todo, direta ou indiretamente, compreendam o funcionamento da cadeia produtiva, pois cada ponto dessa rede pode constituir um gargalo de produção, com a possibilidade de gerar lucros menores. Não obstante, o conteúdo da presente obra possibilita um maior conhecimento em melhorias de processos que podem ser aplicadas nos diferentes sistemas de criação, bem como na criação de diversas espé- cies comerciais, contribuindo também para um maior desenvolvimento do processo como um todo. Isto posto, essa obra tem como objetivo principal apresentar ao lei- tor as particularidades das principais espécies comerciais de animais uti- lizados na pecuária moderna. Aborda desde características anatômicas e fisiológicas desses animais, até o processo de gestão de um estabeleci- mento, buscando sempre uma visão abrangente e sistêmica da atividade económica, sem deixar de mencionar características peculiares de cada atividade específica. Ademais, por se tratar de um tema amplo, foram selecionados os assuntos mais importantes e, por conseguinte, alguns temas ocasional- mente podem não ter sido mencionados ou então sido tratados de maneira superficial. Sendo assim, fica o convite ao leitor para se aprofundar em tais temas por meio dos materiais disponibilizados nas referências. Espero que os assuntos discutidos nessa obra possam trazer diver- sos esclarecimentos sobre a arte da criação animal e, inclusive, suscitar a vontade de adquirir mais conhecimento e, quem sabe, seguir profissional- mente nessa área. A autora. 1 Introdução à produção animal Desde os primórdios da domesticação animal, a relação entre homem e animal tem sido muito próxima. Durante séculos, essa relação é simbiótica, havendo uma intensa associação entre seres humanos e animais. Por exemplo, os bovinos dependem do homem no fornecimento de alimentação e abrigo, além de cuida- dos gerais, ao passo que o homem se beneficiada carne, do leite, do esterco e outros produtos. No início dessa interação, os indivíduos, ainda nômades, conduziam alguns animais em busca de melhores locais. Com o passar do tempo, já fixos ao ambiente em que viviam, a maioria das propriedades eram pequenas, e famílias inteiras viviam com um ou dois animais. A família e o gado normalmente coabitavam as mesmas instalações e, quando não, dividiam partes adjacentes das mesmas. Técnicas de Produção Animal – 8 – Na atualidade, especialmente a partir do pós-Segunda Guerra Mun- dial, as práticas mudaram e a maioria dos países buscou a autossuficiên- cia na agricultura e na produção animal. Houve, consequentemente, um aumento no tamanho das propriedades, uma maior especialização produ- tiva e o surgimento de novas tecnologias aliadas ao trabalho de profissio- nais especializados. Neste capítulo, serão tratados aspectos iniciais da produção animal, desde o início dessa relação entre homem e animal, passando pelo estudo geral da zootecnia e finalizando com aspectos de bem-estar animal. 1.1 Interação homem versus animal Segundo cientistas, há aproximadamente 4,6 bilhões de anos surgiu o planeta Terra. Não este ao qual estamos acostumados, com terras e mares, mas sim uma versão um pouco mais primitiva, com poucos componen- tes em estado líquido e muitos gasosos. Desde este momento, a evolução tem sido cons- tante: os primeiros seres vivos (microrganismos) datam de aproximadamente 3,8 bilhões de anos atrás e desde então o que tem definido o sucesso das espécies, sejam elas de plantas ou animais, é a capacidade de adaptação ao meio. Essa adap- tação levou ao surgimento de diversos ambientes (Figura 1), que por sua vez contribuí- ram para a permanência desses seres, que constituíram novos ambientes, dando lugar a novas espécies animais e vegetais. Trata-se de um ciclo: a diversidade do meio gera mais evolução a partir da adaptação das espécies a novas situações. Por meio desse ciclo de Figura 1.1 – Evolução do planeta Terra Fonte: Shutterstock.com/Vectorpocket – 9 – Introdução à produção animal evolução, que levou bilhões de anos, surgiram grupos de animais que têm características semelhantes, mas que também são fundamentalmente diferentes entre si. A partir disso, têm-se raças, linhagens, tipos e varie- dades (ROLIM, 2014). A domesticação animal teve início por volta do ano 7000 a.C., quando o homem passa do nomadismo ao sedentarismo. Com a Revolução Neolí- tica (ou Transição Demográfica Neolítica), houve uma grande movimen- tação de diversas culturas humanas, que abandonavam a vida baseada na caça nômade, sempre se deslocando para locais com abundância de recur- sos, para adquirirem padrões de vida sedentários, transformado o local em que viviam de acordo com suas necessidades. Inicia-se, a partir de então, a domesticação de plantas e o início do desenvolvimento da agricultura, bem como da domesticação animal. A domesticação foi uma consequência natural da própria criação de animais realizada pelo ser humano, a priori, para satisfazer suas necessi- dades. O homem primitivo, agindo mais por instinto do que por experiên- cia, convivia próximo aos animais e lhe foi muito fácil coexistir com eles, amansá-los, introduzindo-os na domesticidade.Este processo foi longo e atravessou gerações até estar concluído (BERTOLLI, 2008). O cão foi o primeiro animal a ser domesticado pela raça humana para, em um primeiro momento, servir de alimento. Posteriormente, percebeu- -se que o cão era um bom caçador, passando a ser utilizado em técnicas de caça, bem como no pastoreio e, por fim, como animal de companhia. Após o cão, a cabra, a ovelha e os suínos foram domesticados na Ásia e na Europa em virtude da produção de leite, de lã, de carne e de banha, respectiva- mente. Os bovinos e os bubali- nos vieram em seguida, embora estes (bubalinos) ainda não são considerados domésticos, mas semidomésticos, uma vez que apresentam alta adaptabilidade ao habitat natural e à vida sel- Figura 1.2 – Interação entre homens e animais na Pré-História Fonte: Shutterstock.com/ gerasimov_foto_174 Técnicas de Produção Animal – 10 – vagem quando reintroduzidos ao seu ecossistema original. A domestica- ção do cavalo ocorreu anos mais tarde, durante a Idade do Bronze, na Ásia e na Europa (figura 1.2). 1.2 Introdução à Zootecnia Em 1843 foi usada pela primeira vez a palavra zootechnie, de origem francesa, formada a partir de dois radicais gregos: zoon, “animal”, e tecne, “tratado sobre uma arte”. Sendo assim, em um primeiro momento, denomi- nou-se o que hoje é chamado de Zootecnia como conhecimentos voltados à criação de animais. Hoje, ela é tratada como uma ciência que estuda criação, produção e manejo de animais domésticos ou em processo de domestica- ção para finalidades econômicas, e, como diversas outras áreas, está em contínuo desenvolvimento. À medida que novos estudos e pesquisas são realizados, novos conceitos e métodos surgem, modificando a prática da produção animal. Cada vez mais a produção pecuária se torna economica- mente viável, ecologicamente correta e fornece maior qualidade. Por animais domésticos entende-se aqueles sobre os quais o homem tem profundo conhecimento, seja em relação à biologia, à genética, ao comportamento ou à reprodução, além de exercer certo domínio sobre eles. Ademais, para serem considerados domésticos, considera-se que estes ani- mais estejam em simbiose com o homem (figura 1.3), ou seja, que haja uma associação entre organismos de espécies diferentes mutuamente vantajosa. Figura 1.3 – Homem e animal em simbiose Fonte: Shutterstock.com/ HQuality – 11 – Introdução à produção animal Para Bertolli (2008), no geral, os objetivos da Zootecnia são: produ- ção de alimentos, de trabalho, de bens, e de matéria-prima para a indústria ou para a agricultura. Estes produtos gerados pela produção pecuária, fru- tos da Zootecnia, fundamentam sua existência na promoção de uma maior qualidade de vida aos seres humanos, embora o acesso a eles nem sempre ocorra de forma equilibrada e justa. Nesse sentido, nota-se que o avanço da Zootecnia como ciência deve- -se à atuação conjunta de diversos profissionais, sejam eles produtores, técnicos/zootecnistas e/ou pesquisadores. Por meio do conhecimento prático, adquirido no dia a dia de uma propriedade, os produtores pas- sam informações, conhecimentos e vivências aos técnicos e zootecnistas. Estes, por sua vez, através do conhecimento teórico, aliado ao saber prá- tico, implementam soluções e, então, transferem aos pesquisadores obser- vações e ideias a serem desenvolvidas em pesquisas, que se pretendem à aplicação empírica, ao final do processo. Desde o início do vínculo entre homens e animais, pode-se dividir a Zootecnia em dois momentos: a Fase Empírica e a Fase Técnica. 2 Fase empírica: a zootecnia era vista como arte, sem se basear em pressupostos científicos, mas sim em percepções pessoais. Ela é característica dos primeiros anos de domesticação do ani- mal pelo homem, uma vez que se pautava na observação, e não na criação de hipóteses para sua corroboração ou refutação atra- vés de experimentos e resultados. 2 Fase técnica: a ciência toma o lugar das observações ocasionais e passa a direcionar a atividade pecuária, provendo informações mais precisas sobre como produzir, visando sempre maior pro- dutividade e qualidade do produto, bem como o seu beneficia- mento e incorporação de valor, passando inclusive pelo bem- -estar dos animais envolvidos no processo. Através da Fase Empírica, subdividem-se duas grandes áreas: Zoo- tecnia Geral e Especial. A Zootecnia Geral é a parte teórica, que trata do estudo de animais domésticos de um ponto de vista mais amplo, a fim de desenvolver leis, métodos, relações e modelos para a interação com o animal. Existem quatro aspectos estudados nessa área: Técnicas de Produção Animal – 12 – 1. Domesticação – estuda a origem das espécies, a interação do homem com a natureza até o ponto em que cada espécie é con- siderada domesticada, bem como os processos envolvidos nessa ação. Entende-se também como animal doméstico aquele que passa aos seus descendentes hereditariamente características específicas (OLIVEIRA, 2008). Essas caraterísticas podem ser divididas em alguns atributos: 2 sociabilidade – tendência em viver em sociedade; 2 mansidão – ausência do instinto selvagem; 2 fecundidade em cativeiro – capacidade de perpetuação da espécie em ambiente diferente do habitat natural; 2 função especializada – função de interesse ao homem, por exemplo, produção de leite e/ou carne, aproveitamento de pele/pelo, tração, etc.; 2 facilidade de adaptação – capacidade de adaptar-se a ambientes diferentes. Caso não sejam satisfeitas as condições mencionadas, o ani- mal não pode ser domesticado. Esse é o caso do elefante, que é sociável, de índole mansa, mas não se reproduz facilmente em cativeiro. O número de espécies domésticas é, portanto, muito limitado, e aproximadamente para cada 1000 selvagens, entre mamíferos e aves, há apenas uma doméstica. 2. Individualidade – preocupa-se com o conhecimento e desenvol- vimento de caraterísticas raciais, étnicas, sexuais e produtivas das espécies. 3. Ambiente – analisa as variações ambientais, bem como a adap- tação animal a essas mudanças. Estuda a interferência das condi- ções do meio ambiente no desenvolvimento das espécies, assim como a intercorrência das condições artificiais, como alimenta- ção, manejo, sanidade e higiene. 4. Genética – compreende as diferenças entre espécies e entre indivíduos através de variedades genéticas e raciais. Ademais, – 13 – Introdução à produção animal observa-se os métodos de reprodução, sistemas de acasala- mento, seleção natural, entre outros. Curiosidade É comum que as pessoas confundam animal doméstico com animal amansado, como é o caso de papagaios, macacos, cotias, etc. Con- tudo, estes não são como os bois, cavalos, carneiros, cabras, cães, que são espécies verdadeiramente domésticas. O animal amansado é um espécime, ou seja, apenas um em toda uma população; é um ser criado sob certas condições, que tem a capacidade de obedecer, responder a ordens e conviver pacificamente com o homem; já o ani- mal doméstico é uma espécie inteira ou um grande grupo. O animal amansado é somente um indivíduo que perdeu sua agressividade (OLIVEIRA, 2008). A Zootecnia Especial é o estudo particular de cada espécie, ou seja, o processo de produção específico de cada animal, bem como o tipo de produto que será gerado dessa criação, por exemplo: 1. bovinocultura de corte – criação de bovinos para produção de carne; 2. bovinocultura de leite – criação de bovinos para produção de leite; 3. suinocultura – criação de suínos para produção de carne; 4. avicultura de postura – criação de galinhas para produção de ovos; 5. avicultura de corte – criação de galinhas para produção de carne. 1.3 Bem-estar animal Após o surgimento da Zootecnia e, consequentemente, do advento dos estudos e das pesquisas relacionadosà produção animal, houve uma certa negligência (ou falta de experiência) com a questão do bem-estar animal. Todas as tecnologias desenvolvidas para o aprimoramento dos resultados produtivos, durante muitos anos, consideraram somente o fun- cionamento biológico praticamente mecânico dos animais. Técnicas de Produção Animal – 14 – Felizmente, em um período mais recente da história, surge uma maior preocupação com a maneira com que se trabalha, por parte dos próprios produtores e pesquisadores. Ainda é uma área recente e carente de desen- volvimento, mas tudo indica que nos próximos anos a preocupação com as condições físicas e psicológicas dos animais será mais extensamente consi- derada. Com vistas a atender o mercado consumidor, um dos pontos-chave – quiçá o principal – da cadeia de produção tenderá a ser: entregar produtos de alta qualidade, seguros, nutritivos, mas que também tenham compromis- sos sociais e ambientais; assim, o setor produtivo seja apresenta sinais de reestruturação, visando ao bem-estar animal, sem, contudo, perder o foco na lucratividade (ESCOLA DE VETERINARIA UFMG, 2012). 1.3.1 Etologia Com o passar dos anos, as interações entre humanos e animais pas- saram por modificações substanciais em virtude do aumento da demanda por produtos de origem animal. No início do século XX, os sistemas de produção adotavam mecanismos com altas taxas de lotação, buscando maior produção e redução de espaço. A partir de 1970, a criação intensiva de animais levou ao confinamento intenso de bovinos, suínos e aves em muitos países. Em contrapartida, ainda que timidamente, também crescia o número de pessoas dispostas a evitar o consumo de produtos provenien- tes de produções que causem sofrimento aos animais (BÉRTOLLI, 2008). A Etologia é o ramo que estuda o comportamento animal. O termo deriva da palavra grega ethos, que significa “costume”, “hábitos”, “com- portamento”, e logos, que significa “estudo”, “ciência”. Com grande influ- ência da teoria darwiniana, esta área de estudos se deriva da Zoologia e está ligada aos nomes de Konrad Lorenz e Niko Tinbergen, ganhadores do prêmio Nobel de Medicina, que buscaram maiores fundamentos para explicar o comportamento animal, tendo como uma de suas preocupa- ções básicas a evolução do comportamento através do processo de seleção natural, concepção criada por Charles Darwin. Para ele, cada espécie apresenta um conjunto de padrões de compor- tamento que lhe é característico, da mesma forma que é dotada de parti- cularidades anatômicas. Os etólogos, por sua vez, estudam esses padrões específicos, através de observação dos animais em seu ambiente natural, – 15 – Introdução à produção animal pois acreditam que detalhes importantes desse comportamento só podem ser observados quando os animais estão livres, interagindo com o meio natural. Curiosidade Charles Robert Darwin (1809-1882) foi um naturalista britânico que ficou famoso ao desenvolver uma teoria, conhecida como Teoria da Evolução, para explicar o surgimento da vida no planeta Terra. Por ir contra os dog- mas da Igreja, predominantes naquela época, teve grande dificuldade de convencer a comunidade da época, levando ainda algumas décadas para que sua teoria fosse explorada e, mais tardiamente, aceita como a melhor explicação científica para a origem e o desenvolvimento da vida, o que perdura até hoje. Em seu livro A origem das espécies, de 1859, ele apresentou a ideia de evolução a partir de um ancestral em comum, através da sele- ção natural, cuja premissa básica é: o animal mais adaptado (com alguma mutação ou característica especial) é o mais apto a sobreviver em seu meio e, portanto, passa os genes a seus descentes, que também os passarão aos seus descentes, de forma que, em um determinado momento, toda a espécie será marcada por aquelas características que a tornam mais apta, aprimorando, assim, aquele grupo. Este é considerado o paradigma central ainda hoje para explicar diversos fenômenos da biologia. Figura 1.4 – Naturalista Charles Darwin Fo nt e: S hu tt er st oc k. co m /E ve re tt H is to ri ca l. Técnicas de Produção Animal – 16 – Em 1963, Tinbergen criou quatro fases para observação do compor- tamento: 1. primeiro deve-se analisar quais são os fatores exógenos e endó- genos que desencadeiam um comportamento, estabelecendo uma relação entre este comportamento e uma condição anterior. Em outras palavras, o que está em análise é o caráter individual influenciado por experiências prévias. 2. em seguida verifica-se como o comportamento se desenvolve em um indivíduo. É uma análise ontogenética, que avalia o com- portamento através do tempo para determinar como o indivíduo se desenvolve e se diferencia dos outros. 3. a terceira questão é a análise filogenética, que trata do valor adaptativo dos comportamentos, estudando a história do com- portamento no fluxo evolutivo de cada espécie. Esses compor- tamentos são, portanto, inatos, frutos de uma herança genética. 4. finalmente, a quarta fase aborda a análise funcional, que é a rela- ção entre um comportamento e as mudanças que ocorrem no ambiente ou no próprio indivíduo. Atualmente, o estudo do comportamento e bem-estar animal tem como principal objetivo promover o equilíbrio dos métodos de criação e de produção com melhores condições de manejo, proporcionando con- dições de vida mais dignas aos animais, o que ainda contribui para altas taxas de produtividade. Para garantir esses objetivos, nos últimos anos, pesquisas e estudos têm sido desenvolvidos considerando condições do sistema nervoso e sensorial das espécies. Existem várias definições, mas, mundialmente, é aceito o princípio das cinco liberdades que determinam o bem-estar animal e dos “três Rs” para animais submetidos a experimen- tação laboratorial: Liberdades: 1. livres de medo e estresse; 2. livres de fome e sede; 3. livres de desconforto; – 17 – Introdução à produção animal 4. livres de dor e doença; 5. liberdade para expressar seu comportamento natural. 3 Rs: 1. redução da quantidade de animais submetidos a testes laboratoriais; 2. recolocação ou substituição (replacement em inglês) de animais por outras alternativas; 3. refinamento de técnicas e protocolos para que animais utili- zados em testes laboratoriais passem por cada vez menos dor e estresse. Figura 1.5 – Animal de laboratório Fonte: Shutterstock.com/unoL 1.3.2 Bem-estar animal, mercado e legislação Por muito tempo, perdurou na mentalidade de produtores que índices zootécnicos, padrões de produção e economia não poderiam coexistir com a preocupação com o bem-estar animal. Os primeiros sinais de preocupa- ção com manejo animal surgiram na Europa, por volta de 1809, quando o conceito de bem-estar animal (BEA) teve início. Esta data marca o sur- gimento da primeira organização social de defesa dos animais, a Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals, em Liverpool, Ingla- terra. O BEA (bem-estar animal) então passou a integrar os cálculos do Técnicas de Produção Animal – 18 – valor econômico dos produtos de origem animal e os primeiros conceitos de BEA começaram a ser implantados no cenário produtivo mundial a partir da definição de protocolos de boas práticas de manejo (ESCOLA DE VETERINARIA UFMG, 2012). Surgiram então os primeiros estudos que buscaram quantificar o impacto que o padrão de bem-estar pode ter nas relações custo-benefício. No Brasil o tema começou a ser discutido e ações afirmativas foram tomadas em 1934. Neste ano foram estabelecidas as primeiras medi- das voltadas ao respeito e à proteção animal por meio do Decreto n. 24.645, que, naquela época, já previa multa a quem desrespeitasse o regulamento, além de estabelecer critérios claros do quese considerava maus tratos. Também na Constituição de 1988, em seu artigo n. 225, o poder público demonstra competência para proteger a fauna e a flora, vetando práticas que submetam os animais a maus tratos e crueldade. Adicionalmente, a Lei sobre Política Agrícola de 1991 estabelece a obri- gatoriedade da preservação ambiental e do uso racional da fauna e da flora brasileiras. Ou seja, ainda que o tema encontre entraves no que concerne à prática dessas ações voltadas ao bem-estar animal, existem no país regulamentações e exigências que visam direcionar a produção a uma visão um pouco mais sustentável. Até o momento, a responsabilidade pelo estímulo e pelo desenvol- vimento da produção pecuária, bem como pela fiscalização do bem-estar dos animais de produção, criados para fins econômicos, é do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Inseridos no MAPA estão a Secretaria de Defesa Agropecuária e a Coordenação de Boas Prá- ticas e Bem-estar Animal (CBPA) da Secretaria de Mobilidade Social, do Produtor Rural e Cooperativismo (SMC), responsáveis pela fiscalização e fomento à produção agropecuária. Além de tudo, são comprovados os benefícios que podem da promo- ção do BEA nos estabelecimentos. Por exemplo, uma melhor saúde ani- mal pode diminuir os riscos para a saúde humana, principalmente em paí- ses em desenvolvimento. A vacinação contra doenças como a brucelose e raiva animal influenciam diretamente na morbidade e mortalidade animal, reduzindo, inclusive, o risco potencial de transmissão dessas doenças para os humanos. Ademais, a segurança e a qualidade dos produtos alimen- – 19 – Introdução à produção animal tícios são também influenciadas por fatores que intimamente ligados ao bem-estar animal, como um manejo responsável que ajuda na prevenção de problemas ligados à qualidade da carne. Além desses benefícios práticos, a interação positiva com os ani- mais pode proporcionar benefícios psicossociais que são importantes por contribuírem com o bem-estar humano, pois auxilia no ensino da ética do cuidado, na atuação em programas de terapia com animais, entre outros (figura 1.6). A preocupação com o bem-estar animal também pode trazer benefícios mais amplos para as comunidades humanas: em áreas rurais, a subsistência dos pequenos agricultores está diretamente ligada à sobrevivência, à saúde e à produtividade de seus animais. Dessa forma, melhorando o ambiente que os cerca, estes aspectos podem ser melhorados consideravelmente, auxiliando no desenvolvimento e na manutenção da prosperidade e do emprego rural, com os consequentes benefícios da estabilidade familiar e da comunidade (FAO, 2009). Figura 1.6 – Preocupação com bem-estar animal Fonte: Shutterstock.com/ Doug McLean Há no Brasil diversas legislações voltadas ao bem-estar animal. Den- tre elas, podemos citar a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, que traz tópicos importantes sobre como deve ser pensado e conduzido o agronegócio de forma que seja mais respeitosa com os animais. Resumi- damente, os principais pontos que essa Declaração abrange são: Técnicas de Produção Animal – 20 – 2 os animais têm direito à existência e à vida por serem todos iguais; 2 os animais devem ser respeitados, tendo direito aos cuidados e à proteção do homem, o qual não pode exterminá-los ou explorá- -los, passando por cima do direito ao respeito; 2 é completamente proibida a tortura aos animais, bem como métodos cruéis de abate ou sacrifício. Quando for necessário o sacrifício de qualquer animal, deve ser feito de modo a poupar- -lhe dor e angústia; 2 animais selvagens têm o direito de viverem em seu habitat natural e qualquer tipo de privação dessas espécies a ele, ainda que para fins educativos, contraria o que está estabelecido nesta norma; 2 animais domésticos que vivam na companhia do homem têm o direito de viverem e se desenvolverem de acordo com a sua fisiologia natural. Qualquer condição imposta pelo homem que modifique a sua natureza infringe esse código; 2 os animais têm direito a uma vida duradoura dentro das capa- cidades de cada um; abandono e morte de animais são crimes; 2 animais próprios para trabalho (por exemplo, búfalos) têm direito a uma jornada razoável, com intensidade relativa à sua capacidade, além de terem direito ao descanso e à alimentação condizentes com o trabalho que realizam; 2 animais destinados para alimentação devem ser criados den- tro de padrões e critérios de bem-estar, sem dor ou sofrimento (físico ou psicológico). Os exemplos citados acima foram retirados da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, documento este proclamado pela UNESCO em uma sessão que ocorreu em Bruxelas, no ano de 1978. Síntese Há 4,6 bilhões de anos a história do planeta começou a ser escrita. De lá até hoje foram inúmeras as transformações pelas quais as espécies – 21 – Introdução à produção animal de plantas e animais passaram e continuam passando, o que proporcionou maior adaptabilidade e, portanto, uma evolução das espécies originais. Essas mudanças permitiram uma relação mais próxima do homem com alguns animais, resultando na domesticação de bovinos, equinos, suínos, caprinos, ovinos etc. Dessa relação, o homem percebeu que havia um potencial de exploração dos produtos animais, como a carne, o leite e a lã; a partir de então, a produção animal surgiu como atividade econômica. Em 1843, a Zootecnia toma forma pelas mãos de Étienne Pierre, o Conde de Gasparine, e hoje é conhecida pela ciência que estuda a criação de animais para atender às necessidades humanas. Através das caracterís- ticas produtivas, a zootecnia analisa e desenvolve bases teóricas que auxi- liam no aprimoramento da produção animal. Nos últimos anos, a preocu- pação com o manejo animal tem sido pauta nas discussões dos produtores rurais e de toda a sociedade que consome esses produtos. O bem-estar animal está ganhando cada vez mais reconhecimento como fator relevante para o sucesso do desenvolvimento em diversos paí- ses, especialmente os europeus. Também no Brasil, porém, o BEA tem contribuído com programas para melhorar a saúde animal, para desen- volver a sua produção, para atender a animais envolvidos em catástrofes naturais, assim como para adaptação da constituição genética dos animais ao ambiente em que são criados. Atividades 1. A partir da evolução das espécies, animais e plantas desenvol- veram capacidades adaptativas que foram fundamentais para sua permanência e para seu desenvolvimento na Terra. Explique como essa adaptação foi fundamental para a relação do homem com o animal e como se deu o processo de domesticação. 2. Explique com suas palavras o conceito de Zootecnia. Faça um esquema com as áreas de divisão dessa ciência e explique breve- mente as características de cada uma. 3. Qual o principal objetivo de se estudar e aplicar técnicas de bem-estar animal? Técnicas de Produção Animal – 22 – 4. Pesquise normas, códigos, leis etc., que tratem sobre a questão do bem-estar animal e explique com suas palavras onde pode- mos aplicar cada norma. 2 Anatomia animal Segundo Oliveira (2008), a anatomia tem origem na pala- vra grega ἀνατέμνω (anatemnō), cujos morfemas ana e tomia, significam, respectivamente, “através de” e “cortar”, remetendo ao ato de dissecar. Desde aproximadamente 1600 a.C., já exis- tiam civilizações que tratavam do estudo das partes do corpo, como papiros egípcios. Entretanto, até os dias atuais, os gregos são tidos como os pioneiros no estudo da anatomia por terem realizado dissecações com propósitos científicos (KONIG; LIE- BICH, 2016). Nessa linha, a anatomia, como o estudo científico da forma e da estrutura dos seres vivos, foi definida por Aristóteles como a busca de um plano básico de construção comum para todas asestruturas por meio de um processo metodológico. Analisando sua obra, Historia Animalium, acredita-se que Aristóteles tenha realizado pesquisas anatômicas por meio de dissecações. Técnicas de Produção Animal – 24 – A anatomia animal não só permitiu que o homem conhecesse a con- formação e disposição dos elementos do corpo dos animais, bem como colaborou para a evolução da medicina humana. O conhecimento da ana- tomia sistêmica é muito importante para estudantes, pois propicia o enten- dimento da conexão geral entre estrutura e função do corpo animal. Nesse capítulo, serão abordados conceitos introdutórios de anatomia animal que auxiliam no entendimento de outros temas, como reprodução, manejo e saúde animal. 2.1 Histórico da anatomia Desde os primeiros estudos de Aristóteles, quase dois mil anos se passaram quando huma- nistas dos séculos XV e XVI con- tinuaram a estudar a abordagem de morfologia comparada. Na Itália (por volta dos anos 1600), o estudo detalhado de corpos huma- nos e animais levou a várias des- cobertas, que foram registradas por meio da arte, que na atuali- dade se demonstram como regis- tros expressados em obras de arte mundialmente famosas. Leonardo da Vinci, Fabri- zio d’Acquapendente, Marcello Malpighi e Carlo Ruini foram pioneiros na área e trouxeram a era de ouro da anatomia compa- rada, que continuou até o final do século XIX. No início do século XVII, a anatomia dos animais começava Figura 2.1 – Anatomia muscular Dell’Anatomia e dell’Infirmitá del Cavallo Fonte: Konig e Liebich (2016). – 25 – Anatomia animal lentamente a passar por um renascimento. Entretanto, somente após 150 anos foi criada uma academia veterinária em que o livro de Ruini pôde ser usado para ensinar profissionais. Em meados do século XVIII, Philippe Etienne Lafosse, considerado o pai da anatomia dos animais, fundou uma escola veterinária particu- lar em Paris. Dois anos mais tarde, Lafosse publicou sua obra de maior sucesso, Cours d’Hippiatrique – um curso sobre hipiatria ou um tratado completo sobre a medicina de cavalos (KONIG; LIEBICH, 2016). Desde o início dos estudos anatômicos, diversos pesquisadores desenvolveram critérios próprios de denominação das partes dos corpos. Sendo assim, cada país determinava suas próprias nomenclaturas e havia pouca ou quase nenhuma coerência nas definições anatômicas. A fim de unificar o vocabulário, anatomistas alemães deram o pri- meiro passo em busca de uma consolidação e passaram a adotar o latim como língua oficial na caraterização das partes corporais. Em 1895, o suíço Wilhelm His apresentou em um congresso realizado na Basileia um rol de nomes contendo mais de 5.550 termos, com as devidas explica- ções, que passou a ser denominado “Basel Nomina Anatomica” (BNA). Entretanto, somente pouco mais de cinquenta anos depois (1952), na reu- nião do International Anatomical Nomenclature Committee (IANC), as nomenclaturas propostas por His foram revisadas e padroni- zadas, definindo o latim como língua oficial para a descrição de estruturas. Em 1955, foi publicada a primeira edição da Nomina, conhecida como “Paris Nomina Anatomica” (PNA), e estabelecido o Comitê Interna- cional para Nomenclatura em Anatomia Veterinária. Treze anos mais tarde, em 1968, foi publicada a primeira Nomina Figura 2.2 – Vasos sanguíneos de um cavalo ilustrados por Seifert von Tennecker, em 1757 Fonte: Konig e Liebich (2016). Técnicas de Produção Animal – 26 – Anatomica Veterinaria (NAV). Desde então, várias revisões foram reali- zadas (1972, 1983 e 1993). Essa obra é de extrema relevância, pois padro- niza mundialmente a terminologia na medicina veterinária, gerando uma ferramenta útil para o estudo da anatomia 2.2 Introdução ao estudo da anatomia Anatomia é uma ciência, ramo da morfologia, que estuda e descreve a forma, a estrutura, a topografia e a interação funcional dos tecidos e órgãos que compõem o corpo quanto a sua posição, tamanho, coloração, origem, função etc. A dissecação ainda é o método mais usual, importante e eficiente para estudar e entender anatomia. A anatomia animal pode ser dividida em dois ramos: descritiva e topo- gráfica. A primeira refere-se à descrição dos sistemas e subdivide-se por sua vez em macroscópica e microscópica. A anatomia topográfica diz respeito ao estudo em conjunto de todos os sistemas e das relações entre eles. 2.2.1 Anatomia topográfica São utilizados termos descritivos padronizados para indicar precisa- mente a posição ou direção de partes do corpo. Divide-se o corpo animal em secções e dessa divisão tem-se a cabeça, o pescoço, o tronco, a cauda e os membros. Cada uma dessas partes é subdividida em regiões. Nesse sentido, para determinar as estruturas, deve-se considerar que o animal está em pé, com os quatro membros apoiados no solo, pescoço e cabeça retos, de maneira que as narinas estejam voltadas para a frente e os olhos voltados para o horizonte. 2.2.2 Anatomia sistemática São estudados os sistemas que permitem o funcionamento do corpo do animal como um todo. As células e os tecidos com estrutura e função similares são agrupados em órgãos ou em sistemas que atuam em conjunto para executar determinadas funções que permitem o funcionamento do organismo e sua sobrevivência. – 27 – Anatomia animal Divide-se em áreas, como osteologia (descrição do esqueleto, de ossos e das cartilagens), sindesmologia (estudo das articulações), mio- logia (conhecimento dos músculos), neurologia (sistema nervoso), entre outros. Nesse momento, os sistemas de maior importância para o estudo de técnicas de produção animal são o sistema digestivo e reprodutivo. Figura 2.3 – Esqueleto bovino Fonte: adaptado de Shutterstock.com/miha de. 2.3 Sistema digestivo O sistema digestivo é responsável pela quebra dos alimentos em par- tes menores, para ser utilizado na geração de energia para o crescimento e para a renovação celular. Os órgãos que compõem esse sistema recebem os alimentos, que, em seguida, são degradados química e mecanicamente em pedaços menores e então seus nutrientes são absorvidos pelo orga- nismo (onde e/ou por quem). Por fim, o aparelho elimina resíduos excre- tados e que não foram aproveitados. Técnicas de Produção Animal – 28 – O aparelho digestivo consiste basicamente de um tubo músculo- -membranoso que se estende da boca até o ânus. Também inclui glândulas anexas, como as glândulas salivares, o fígado e o pâncreas. As funções básicas do sistema digestório são ingestão, mastigação, diges- tão e absorção dos alimentos e a eliminação do material não aproveitável. As partes principais do aparelho digestivo em monogástricos (exceto aves) e ruminantes são boca, faringe, esôfago, estômago, intestino del- gado, intestino grosso, glândulas acessórias e canal anal. Nas aves, o sis- tema digestório pode ser dividido em boca, esôfago, inglúvio (papo), pro- ventrículo, moela, intestino e canal anal. Quadro 2.1 – Comparação entre animais monogástricos e ruminantes Característica Exemplos Monogástricos Possuem compartimento simples para a digestão (unicavitário) Cavalo Porco Ave Coelho Ruminantes Possuem vários compar- timentos que realizam a digestão (pluricavitário) Bovino Ovino Caprino Fonte: elaborado pelo autor. a) Boca As principais funções são apreensão do alimento, mastigação e formação do bolo alimentar. Quando o alimento entra em con- tato com a saliva – e por meio do ato de mastigar, inicia-se a digestão química com auxílio das glândulas salivares. b) Faringe Cavidade comum por meio da qual passam o ar e o material ingerido. Na passagem do bolo alimentar, ocorre a deglutição. – 29 – Anatomia animalSaiba mais Deglutição é o processo pelo qual um bolo alimentar é transportado da boca por meio da faringe para o esôfago e finalmente até o estômago. Ela pode ser dividida em duas etapas, a primeira é o ato voluntário de mastigação e a passagem do bolo alimentar para a faringe, e a segunda etapa se inicia quando o bolo alimentar toca a mucosa faríngea, dando início aos reflexos de deglutição. Ao final, o alimento chega ao estômago. c) Esôfago É o canal entre a faringe e o estômago. d) Estômago Em ruminantes e monogástricos, o estômago apresenta varia- ções quanto à forma, podendo ser dividido em estômago unica- vitário (com apenas um compartimento) e pluricavitário (com diversos compartimentos). Em monogástricos, o estômago é constituído por uma única estrutura, que é composta pela cárdia e pelo piloro, estruturas do tipo esfíncter que controlam a entrada e a saída do bolo ali- mentar. Nos ruminantes, o estômago é dividido em quatro estrutu- ras ou cavidades: as três primeiras são o rúmen, o retículo e o omaso. Nelas, o alimento recém-chegado ao estômago é umi- dificado e digerido por micro-organismos (especialmente car- boidratos complexos). O rúmen é o maior dos compartimentos e é a primeira estrutura a receber o alimento após uma rápida mastigação. Nele, o alimento passa por um processo de tritura- ção mecânica do que foi ingerido e são liberadas enzimas que auxiliam no início da digestão da celulose. Após esse período no rúmen, o alimento volta à boca, em que é mastigado nova- mente de maneira mais completa. Logo após, o bolo alimentar volta ao rúmen e em seguida passa para o retículo, continuando Técnicas de Produção Animal – 30 – a digestão. O omaso é a terceira estrutura a receber o alimento, responsável pela retirada da água do bolo alimentar. A última cavidade, o abomaso (também chamado de “estômago verda- deiro”), é responsável pela digestão do que não foi degradado pelas estruturas anteriores e nele é liberado o suco gástrico, que auxilia no processo da digestão química do alimento. A ruminação é um ato no qual o animal ingere o alimento rapida- mente, completando a mastigação mais tarde. Esse mecanismo envolve a regurgitação do alimento (retorno do alimento à boca), remastigação, reinsalivação e, então, a redeglutição. Figura 2.4 – Comparação entre o aparelho digestivo de monogástricos e ruminantes Fonte: Shutterstock.com/ Designua e) Intestino delgado O intestino, em geral, é a parte caudal do canal alimentar. Tem iní- cio no piloro e prossegue até o ânus. É divido em intestino delgado – indo do piloro até o ceco – e intestino grosso – do ceco até o ânus. O intestino delgado é segmentado em três partes: duodeno, jejuno e íleo. O duodeno é a parte inicial, seguido pelo jejuno (a parte mais extensa) e ao final pelo íleo, que é composto por uma forte camada muscular responsável pelo transporte do bolo alimentar até o ceco. No intestino delgado, os movimentos intestinais são seme- lhantes para ruminantes e não ruminantes. A movimentação da – 31 – Anatomia animal ingesta através do intestino auxilia na mistura do alimento com sucos digestivos (suco pancreático e biliar), promovendo maior absorção dos nutrientes. f) Intestino grosso O intestino grosso tem início no ceco, que é a estrutura que se conecta com a última parte do intestino delgado, o íleo. A segunda parte do intestino grosso é o colo, seguido pela terceira e última parte, o reto. g) Canal anal O canal anal é uma estrutura curta e constitui a parte final do canal alimentar, abrindo-se para o exterior pelo ânus. Esse é con- trolado pelos esfíncteres anais externo e interno. Figura 2.5 – Topografia dos órgãos abdominais e pélvicos da vaca Fonte: Shutterstock.com/Nicolas Primola. h) Glândulas acessórias 2 Glândulas Salivares: existem três pares de glândulas (paró- tidas, submaxilares e sublinguais) que estão localizadas na boca dos animais. Possuem a função de secretar líquidos que auxiliam na umidificação e na formação do bolo alimentar. 2 Fígado: produz a bile, fluido produzido e armazenado na vesícula biliar que atua na emulsificação da gordura. A bile é lançada no duodeno, parte inicial do intestino delgado. Técnicas de Produção Animal – 32 – 2 Pâncreas: glândula responsável pela produção enzimas digestivas que são lançadas também no duodeno. Nas aves, o sistema digestivo é divido em: a) Boca As aves não possuem dentes ou lábios, por isso a função da apre- ensão dos alimentos, diferentemente do que ocorre em outros animais, é feita com auxílio do bico. Não há produção de saliva, por isso a umidificação do alimento ocorre no papo. b) Esôfago Possui a mesma função do esô- fago dos mamí- feros. Trata-se de um canal inter- mediário entre a boca e o papo. c) Inglúvio (papo) Constitui parte do esôfago. É uma região avolumada com a função principal de umi- dificar o alimento. d) Proventrículo É a primeira parte do estômago, onde tem início a digestão com a secreção do suco gástrico. e) Intestino Região onde ocorre a absorção de nutrientes e onde são lançados os sucos produzidos pelas glândulas acessórias. f) Ânus Localizado na cloaca. olho bico traquéia esôfago crop coração baço fígado coluna vertebral pulmões ovário rim oviduto moela intestino cloaca Figura 2.6 – Sistema digestivo em aves Fonte: Shutterstock.com/BlueRingMedia – 33 – Anatomia animal 2.4 Sistema reprodutivo A reprodução é o maior recurso para preservação de vida na Terra. Especialmente a reprodução sexuada – fusão dos gametas feminino e mas- culino –, que contribui para a manutenção e evolução das espécies. Por meio dela, as informações genéticas do pai e da mãe são passadas às gera- ções futuras e, por mais que os reprodutores tenham vários descendentes, todos serão diferentes geneticamente entre si. A diferenciação genética é a característica mais importante para a evolução das espécies, uma vez que apenas os melhores adaptados se mantêm. 2.4.1 Sistema reprodutor feminino A principal diferença na questão reprodutiva entre fêmeas e machos é que as fêmeas são responsáveis pela gestação da cria até seu nascimento e, posteriormente, pela sobrevivência do filhote até que ele adquira maior autonomia. Para tanto, o organismo das fêmeas é preparado para a fecun- dação, bem como para a gestação e amamentação em algumas espécies. Ademais, produzem hormônios específicos para cada fase, que auxiliam no desenvolvimento das matrizes e de seus filhotes. O sistema reprodutor feminino é composto de ovários, trompas, útero, vagina e vulva. a) Ovários São glândulas com duas funções principais, produção de hor- mônios e produção de óvulos. São órgãos primários que ficam localizados atrás dos rins, um do lado esquerdo e outro do lado direito. Nos ovários são produzidos os folículos, que poste- riormente darão origem aos óvulos. Estes, também conhecidos como gametas femininos, carregam em si informações genéticas da fêmea que serão passadas adiante para a prole. Em regra, as fêmeas possuem dois ovários que ficam ativos durante toda a vida, produzindo hormônios da puberdade, durante a gestação e até que a fêmea envelheça. b) Trompas São pares de “tubos” que fazem a ligação dos ovários com o útero. Os óvulos prontos para serem fecundados são conduzidos Técnicas de Produção Animal – 34 – pelas trompas através de cílios que se movimentam carregando esses óvulos. Os espermatozoides também são conduzidos pelas trompas. Geralmente a fecundação ocorre nas próprias trompas. c) Útero O útero pode ser dividido em três regiões básicas: cornos, corpo e cervix(colo). O colo do útero é a região mais “baixa”, onde há a ligação entre útero e vagina. Também nessa região é formado o tampão mucoso durante a gestação, que auxilia na proteção do útero contra a entrada de corpos estranhos. Figura 2.7 – Útero, ovário e trompas de vaca Fonte: Dr. J. Maierl, Munique d) Vagina Trata-se da porção do canal de parto que está localizada dentro da pélvis, entre o útero e a vulva. Também serve como local para o acolhimento do pênis durante a cópula, e é o local onde ocorre a ejaculação na maioria dos animais. É uma estrutura muito flexível e naturalmente lubrificada para o momento da cópula e também para o momento do parto. e) Vulva Porção externa do aparelho reprodutor feminino, que se estende da vagina para o exterior. – 35 – Anatomia animal Figura 2.8 – Comparação dos órgãos genitais em fêmeas de diversas espécies Fonte: Shutterstock.com/Peter Hermes Furian Quadro 2.2 – Conceitos importantes na fisiologia da fêmea Conceito Significado Puberdade Período de transição entre a infância e a maturidade, durante o qual ocorre o desenvolvimento dos caracte- res sexuais secundários, aceleração do crescimento e maturação dos órgãos reprodutores, levando ao início das funções reprodutivas. Caracteriza-se pelo surgi- mento dos primeiros folículos e, consequentemente, do primeiro cio. Ovulação Os folículos ovarianos se desenvolvem, formando uma protuberância e, finalmente, rompendo-se. Desse rompimento saem o líquido folicular e o óvulo, que são expelidos do ovário, completando o processo de ovulação. Técnicas de Produção Animal – 36 – Conceito Significado Cio Período no qual ocorrem modificações físicas e compor- tamentais nas fêmeas. Ocorre em períodos que variam a cada espécie e representam a receptividade à cópula. Ciclo Estral A produção de óvulos ocorre de maneira cíclica, em intervalos regulares. O intervalo entre um cio e outro é denominado ciclo estral e este é controlado por dois hormônios: hormônio foliculoestimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH). Pró-Estro Antes do início do ciclo, há a produção de FSH, que estimula a produção dos folículos nos ovários, junta- mente com outro hormônio, o estradiol. Em seguida, há o aumento de produção de LH. Estro Início da receptividade sexual da fêmea e momento no qual ocorre a ovulação, quando os níveis de FSH diminuem e os de LH aumentam. Assim que a ovula- ção termina, também termina esse período. A fêmea apresenta sinais claros, como presença de muco cris- talino, imobilidade ao ser montada, vulva edematosa, inquietação, monta em outras fêmeas, diminuição da ingestão de água e de alimentos, urina com mais fre- quência, entre outros. Metaestro Trata-se da fase pós-ovulatória. Há redução do nível de estrogênio e aumento de progesterona, o que inibe o desenvolvimento de novos folículos caso haja fecun- dação. Quando não há fecundação, o ovulo é eliminado e a progesterona retorna a níveis baixos, deixando de atuar até o próximo ciclo. Fonte: adaptado de Bértoli (2008). 2.4.2 Sistema reprodutivo masculino Assim como nos seres humanos, o aparelho reprodutor masculino compartilha algumas estruturas com o sistema urinário. O sistema repro- – 37 – Anatomia animal dutor é composto de testículos, epidídimo, ducto deferente, uretra e glân- dulas acessórias. a) Testículos O organismo masculino é composto por um par de testículos, que variam de forma e tamanho de acordo com a espécie. Neles são produzidos os espermatozoides e o hormônio mas- culino, a testosterona. b) Epidídimo Quando saem dos testículos – ainda imaturos –, os espermato- zoides passam pelo epidídimo, que faz a conexão com o ducto deferente. É no epidídimo que ocorre o amadurecimento dos espermatozoides antes de serem expelidos. c) Ducto deferente É uma estrutura muscular responsável pela propulsão dos esper- matozoides no momento da ejaculação. d) Uretra Canal por onde passa a urina proveniente da bexiga e também o esperma durante a ejaculação. e) Glândulas acessórias 2 Vesículas seminais: são duas vesículas (um par) que depo- sitam no interior da uretra o líquido seminal (composto por secreções da própria vesícula, da próstata e da glân- dula bulbouretral, que auxiliam na manutenção e locomo- ção dos espermatozoides até o exterior do sistema repro- dutor masculino). 2 Próstata: glândula que contribui para a produção do líquido seminal. 2 Glândulas bulbouretrais (de Cowper): par de glându- las que auxilia na produção de secreção que compõe o líquido seminal. Técnicas de Produção Animal – 38 – Figura 2.9 – Órgãos genitais masculinos do garanhão Fonte: geralmedicinaveterinária.com. 2.5 Sistema reprodutivo das aves Nas aves, os sistemas reprodutivos feminino e masculino não são diferentes até o sétimo dia de desenvolvimento embrionário. Mesmo após o nascimento, a sexagem é uma tarefa complicada. Essas características se explicam, basicamente, em função do desenvolvimento do aparelho repro- dutor adaptado à condição de ovíparos – o embrião se desenvolve dentro de um ovo em ambiente externo, sem ligação com o corpo da mãe. Ade- mais, as aves apresentam condições particulares morfológicas, como, por exemplo, ausência do ovário direito nas fêmeas e modificações morfoló- gicas do sistema reprodutor ao longo do tempo. 2.5.1 Sistema reprodutor feminino das aves O sistema reprodutor feminino é formado por um ovário e um oviduto. a) Ovário Local onde são produzidos os folículos que darão origem ao óvulo. A principal diferença entre fêmeas de mamíferos – 39 – Anatomia animal e aves é que, naquelas, vários folículos são liberados em um período de alguns dias, ao passo que nessas, um único folí- culo é liberado, originando o óvulo, em um intervalo bem menor (a cada dia). Além disso, outra função essencial dos ovários é a produção de hormônios fundamentais para o crescimento do trato reprodutivo. b) Oviduto Canal que faz a ligação do ovário com a cloaca. É dividido em três partes: 2 infundíbulo – estrutura afunilada que recebe o óvulo (gema) e onde ocorre a fecundação. 2 magno – estrutura seguinte ao infun- díbulo, onde é ini- ciada a formação da clara (albúmen). 2 istmo – por- ção final, onde é produzida uma menor quanti- dade de albúmen para composição da clara, além da formação das camadas interna e externa do ovo. c) Útero Local onde ocorre a formação da casca do ovo (composta por carbonato de cálcio, proteínas, pigmentos, cutícula, entre outros). d) Vagina Região de passagem do ovo para a cloaca. Tem como principal função adicionar um muco protetor sobre a casca. Figura 2.10 – Sistema reprodutor feminino em aves Fonte: sipbb.com Técnicas de Produção Animal – 40 – 2.5.2 Sistema reprodutor masculino das aves a) Testículos Dois testículos, sendo o esquerdo maior que o direito. Têm como principal função a produção de espermatozoides e arma- zenamento de sêmen. Diferentemente dos machos mamíferos, os testículos ficam armazenados dentro da cavidade abdominal (a uma temperatura alta, entre 41 e 43 ºC). b) Epidídimo Porção que faz a ligação dos testículos com o ducto deferente. c) Ducto deferente Local de armazenamento dos espermatozoides. d) Cloaca Figura 2.11 – Sistema reprodutor masculino em aves Fonte: sipbb.com. – 41 – Anatomia animal 2.6 Técnicas modernas de reprodução Ao longo dos anos, e em função dos avanços tecnológicos na pecuária, foram desenvolvidos métodos de reprodução que incrementam os resulta- dos econômicos e produtivos na produção de animais superiores (animais vertebrados). Consistem de técnicas especializadasque apresentam rela- tivo custo, porém que tendem a trazer um alto retorno econômico. 2.6.1 Inseminação artificial Consiste em inserir o sêmen retirado do macho no aparelho reprodu- tor da fêmea, por meio da manipulação humana. Normalmente, o sêmen de um animal de alto valor é retirado e distribuído entre várias fêmeas, sendo depositado o mais próximo possível das trompas, aumentando as chances de fecundação. Os cuidados com os espermatozoides coletados no sêmen variam entre as espécies. Nos bovinos, por exemplo, os espermatozoides supor- tam baixas temperaturas, e por isso o material tende a ser congelado para uso posterior. Os suínos e os equinos, por sua vez, não produzem esperma- tozoides que toleram o congelamento e, por conseguinte, estes são manti- dos apenas resfriados. Ovinos e caprinos têm apresentado capacidade de congelamento do esperma semelhante à de bovinos. Algumas das vantagens na utilização da inseminação artificial estão elencadas a seguir: 2 maior aproveitamento do macho, uma vez que com uma dose coletada de sêmen pode-se inseminar diversas matrizes; 2 redução de problemas sanitários, físicos e psicológicos decor- rentes do processo de monta natural; 2 técnica relativamente simples; 2 favorecimento do desenvolvimento de raças. 2 Embora existam diversas vantagens, alguns riscos devem ser considerados na utilização dessa técnica, como: Técnicas de Produção Animal – 42 – 2 possibilidade de diminuição da diversidade genética pelo uso excessivo de descendentes; 2 multiplicação de genes desfavoráveis relacionados a doenças genéticas; 2 aumento da consanguinidade entre indivíduos, gerando maior probabilidade de compartilhamento de genes recessivos entre os animais. Figura 2.12 – Inseminação artificial em bovino Fonte: Shutterstock.com/Thanakorn Boonthawee 2.6.2 Fertilização in vitro (FIV) Trata-se da fecundação do espermatozoide no óvulo em um ambiente externo ao corpo das fêmeas. Em seguida, o óvulo fertilizado é inserido na fêmea para que se desenvolva durante a gestação. Na FIV, há a possi- bilidade de se implantar os óvulos na própria fêmea que os produziu, bem como em outras. Por exigir um nível técnico específico, material e tecnologia, tem-se uma técnica de alto custo. As vantagens dessa técnica são: 2 maior aproveitamento de uma matriz superior, aumentando sua descendência; – 43 – Anatomia animal 2 permite que uma fêmea de alto padrão produza óvulos com maior frequência e não fique prenhe. Como desvantagens, podemos citar: 2 alto custo de material, treinamento e mão de obra capacitada para realizar a técnica; 2 assim como na inseminação artificial, existe o risco de redução da diversidade genética, ainda que menor. Figura 2.13 – Fertilização in vitro Fonte: Shutterstock.com/Martchan 2.6.3 Clonagem Clonagem é a reprodução de organismos idênticos a partir de células já existentes. Ou seja, diferentemente das técnicas estudadas até agora, na clonagem não há a utilização de gametas para a fecundação, e sim cópias sucessivas de uma célula preexistente. Por isso, nesse método, os animais produzidos são todos geneticamente idênticos. Apesar de ser uma técnica ainda em estudo, sem muita aplicação comercial como as anteriormente citadas, existem alguns animais que já foram produzidos por meio da clonagem. O primeiro animal obtido por essa técnica foi uma rã, gerada por meio de uma célula intestinal de outra rã, em 1962. Anos mais tarde, nasceu a ovelha Dolly, o primeiro clone mamífero e o mais famoso da história. A ovelha surgiu como um clone a Técnicas de Produção Animal – 44 – partir da célula mamária de outro animal adulto, e morreu aos seis anos de idade. Muito se afirmava sobre a mortalidade precoce de clones, mas no ano de 2017, pesquisadores reavaliaram o caso de Dolly e verificaram que a ovelha não apresentava sinais de envelhecimento precoce como fora sugerido por outros pesquisadores. Em razão desse e de outros dilemas, pode corroborar o fato de que a técnica de clonagem ainda é imatura e carece de maiores estudos. Portanto, trata-se de uma técnica de alto custo, ainda em estudo e que reduz drasticamente a variabilidade e a diversidade genética. Vantagens: 2 multiplicação de animais idênticos com características desejadas; 2 uniformidade do rebanho. Desvantagens: 2 grande diminuição da diversidade genética do rebanho, uma vez que se trata do mesmo código genético para todos os animais; 2 maior possibilidade do surgimento de anomalias genéticas nos clones; 2 em geral, ainda é uma técnica de baixa eficiência, pois a intera- ção de fatores biológicos e técnicos envolvidos no processo de clonagem ainda não é muito bem compreendida. Síntese A reprodução é o maior recurso da natureza para a preservação e a manutenção da vida na Terra, pois permite a sucessão de descendentes e garante que os mais adaptados sobrevivam às mudanças naturais. Para compreender como ocorre a reprodução, é fundamental o entendimento das estruturas e sistemas que constituem o organismo ani- mal. A anatomia é a ciência que estuda a distribuição e o funcionamento (fisiologia) do corpo, podendo ser dividida em anatomia topográfica e sistêmica. As duas se complementam e uma permite que se compreenda a outra, e vice-versa. – 45 – Anatomia animal São vários os sistemas de compõem o corpo do animal, e todos têm sua importância no funcionamento do organismo como um todo. São destacados dois sistemas fundamentais para a disciplina de técnicas de produção animal, quais sejam o sistema digestivo – responsável pela alimentação e absorção dos nutrientes que mantêm o animal vivo –, e o sistema reprodutor – responsável pela reprodução das espécies e, conse- quentemente, pelo desenvolvimento de novos animais. Finalmente, além da cruza natural entre macho e fêmea, existem técnicas desenvolvidas ao longo dos anos que permitem uma reprodução mais eficiente, gerando maior retorno econômico. As mais utilizadas são a inseminação artificial e a fertilização in vitro. A clonagem também é uma possibilidade, entretanto ainda carece de mais estudos. Atividades 1. A anatomia é uma ciência, ramo da morfologia, que estuda e descreve a forma, a estrutura, a topografia e a interação funcio- nal dos tecidos e órgãos que compõem o corpo quanto a sua posição, tamanho, coloração, origem, função etc. Descreva e explique quais são as divisões existentes no ramo da anatomia. 2. Explique com suas palavras qual a principal função do sis- tema digestório e como ele se difere entre animais que pos- suem um compartimento simples para digestão e animais com múltiplos compartimentos. 3. O que é o ciclo estral? Descreva o processo e os hormônios envolvidos em cada etapa. 4. Descreva as principais técnicas de reprodução existentes atual- mente, suas vantagens e a principal diferença entre a clonagem e as demais técnicas. 3 Bovinocultura de corte e leite A produção animal ocupa um papel econômico e social muito grande em nosso país. Em 2015, o Brasil ocupou o pri- meiro lugar no ranking de mundial de rebanho bovino, com 209 milhões de cabeças (GOMES, 2017). De 2017 para 2018, a pro- dução de bovinos cresceu 3,6% de acordo com o IBGE. Esses dados corroboram o fato de que a bovinocultura brasileira é parte importante na cadeia pecuária nacional. Por isso, desenvolver a bovinocultura de maneira sustentável é um grande desafio, pois trata-se de buscar uma harmonia entre renda e preservação ambiental, bem como de focar em sistemas sustentáveis, dura- douros e resilientes às variações climáticas e de mercado. A produção e criação de bovinos pode ser divididaem dois ramos: de corte, voltada para a criação de animais que abastece- rão o mercado com carne e seus subprodutos; e a bovinocultura leiteira, responsável pela produção de leite. Nesse capítulo, serão estudados aspectos importantes na produção de gado de corte e leiteiro, como a importância socioe- conômica no Brasil e no mundo, bem como as principais técnicas de produção e manejo. Técnicas de Produção Animal – 48 – 3.1 Importância socioeconômica Atualmente, a posição do Brasil no cenário produtivo, comercial e mercadológico é extremamente promissora. Ao ocupar as primeiras posi- ções em produção animal, mercado consumidor e exportador, o Brasil mostra que conseguiu um grande crescimento em pouco anos. Por volta da década de 70, o rebanho nacional era menos da metade das 209 cabeças que se tem hoje. Essa baixa expressividade no mercado interno, obvia- mente, não supria sequer as demandas dos próprios brasileiros. Esses últi- mos 40 anos foram vitais para o amadurecimento da pecuária e grande parte desse desenvolvimento se deve a uma modernização revolucionária baseada em avanços tecnológicos e na organização da cadeia produtiva (GOMES, 2017; IBGE, 2017; SENAR, 2015). A crescente adoção de tecnologias pelos produtores rurais nos últi- mos anos proporcionou saltos de produção e qualidade, especialmente nos eixos da melhoria na alimentação, evolução da pesquisa genética, manejo e saúde animal. Quando se trata de alimentação, houve uma grande ascensão na pro- dutividade de carne e leite influenciada pela utilização de pastagens de qualidade. O melhoramento de espécies e a seleção de capins com maior aproveitamento pelo animal contribuíram fortemente para um acréscimo de produção de carne e leite. Ademais, avanços na suplementação animal (mineral e proteica) e em tecnologias de criação, como confinamento e semiconfinamento, também contribuíram fortemente na produtividade, diminuindo a idade ao abate, por exemplo. Simultaneamente à questão da alimentação, o desenvolvimento da genética também teve papel de destaque no desenvolvimento da produ- ção animal brasileira. A melhoria genética de espécies melhor adaptadas à realidade brasileira (como as raças zebuínas e taurinas) foi fator definidor para o sucesso da criação no brasil. A introdução do gado zebu na região centro-oeste, por exemplo, foi fundamental para o sucesso de produção nessa região, tornando-se, inclusive, a base do rebanho brasileiro da atu- alidade. Além disso, a diversidade de raças existentes no Brasil permite o cruzamento de animais com características desejáveis, que geram outros animais com maior rusticidade, desempenho, qualidade e eficiência supe- – 49 – Bovinocultura de corte e leite rior. Nesse sentido, em poucas décadas, o Brasil passou de importador de gado, para exportador de material genético de excelência. Figura 3.1 – Gado zebu Fonte: Shutterstock.com/Stepnext Com relação ao manejo, gestão e saúde animal, a revolução da pecuá- ria ocorre desde os primórdios da domesticação animal. Por muitos anos, a criação de animais era uma atividade familiar, de subsistência e, por mais que nos dias de hoje ainda sejam muito fortes a agricultura e a pecuária familiar, a produção animal tem se tornado cada vez mais uma operação profissional. A constante evolução, a profissionalização e a tecnificação proporcionam avanços no manejo animal e na gestão da propriedade. Aliada aos fatores econômicos, é também crescente a preocupação com o bem-estar animal e com as boas práticas, voltada a uma produção cons- ciente; a preocupação sanitária nos últimos anos tem colocado o Brasil em posição de destaque no combate a doenças e propulsor de técnicas e medidas de defesa sanitária, garantindo que a carne exportada seja bem recepcionada pelos países importadores. Todos esses fatores têm elevado os ganhos, diminuído os riscos e gerado renda e emprego. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), em 2015, o Brasil ocupava o primeiro lugar como maior rebanho bovino (209 milhões de cabeças), o segundo maior consumidor (38,6 kg/habitante/ano) e o segundo lugar também em exportações (1,9 milhões toneladas) de carne bovina do mundo. Em 2017, a exportação de carne bovina foi responsável por 3% das exportações brasileiras e garantiu Técnicas de Produção Animal – 50 – um faturamento de 6 bilhões de reais. No ano de 2018, segundo dados do Departamento Norte-Americano de Agricultura (sigla em inglês USDA), o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de produção de carne bovina e o segundo maior país em consumo desse mesmo produto, atrás somente da China. Com relação ao Produto Interno Bruto (PIB), representa 6% do PIB brasileiro ou 30% do PIB do Agronegócio, movimentando mais de 400 bilhões de reais, resultado esse que vem aumentando ao longo dos anos e trouxe um incremento de quase 45% nos últimos cinco anos. Nos indi- cadores do IBGE para o ano de 2018, destacam-se no cenário nacional como os estados com mais abates de bovinos Mato Grosso (15,6%), Mato Grosso do Sul (11,2%) e Goiás (10%). A carne bovina também ocupa grande parte do mercado consumidor interno (cerca de 80% do consumo), além de possuir tecnologias avança- das e moderno parque industrial para processamento com capacidade de abate de aproximadamente 200 mil bovinos por dia. Saiba mais QUALIDADE DA PRODUÇÃO O avanço da produção pecuária no Brasil aconteceu e ainda acontece graças aos aspectos já discutidos anteriormente (melhoramento gené- tico, manejo, bem-estar animal, medidas sanitárias, entre outros), além das melhorias da qualidade que também vem evoluindo “da porteira para dentro”. Comprometidos com o aumento da produtividade, da qualidade e com a sustentabilidade do negócio, instituições de ciência e tecnologia, centros de ensino, indústrias, associações de produtores, ONGs, e demais atores, integram um grupo extremamente atuante com iniciativas que contribuem para uma melhora da qualidade “dentro e fora da porteira”. Com relação à qualidade da produção, existem cada vez mais estímulos para que o produtor se adeque às exigências do mercado consumidor, interno e externo. O Pacto Sinal Verde para a Carne de Qualidade e o Programa de Novilho Precoce, por exemplo, são exemplos disso. Para – 51 – Bovinocultura de corte e leite Gomes (2017), esse tipo de iniciativa traz benefícios abrangentes, pois além de valorizar os produtores que melhor produzem, também eleva a qualidade da carne bovina que chega ao consumidor e orientam os sistemas produtivos para práticas melhores do ponto de vista ambien- tal e econômico. Os exemplos citados são alguns dos muitos existentes no país, mas que refletem bem um importante caminho que a atividade vem trilhando, que é o foco na qualidade, sustentado por boas práticas de produção (GOMES; FEIJÓ; CHIARI, 2017) 3.2 Bovinocultura de corte Aproximadamente 80% do rebanho brasileiro de gado de corte é for- mado por raças zebuínas (Nelores, Gyr e Guzerá), sendo que 90% com- preende animais da raça Nelore. Por conta da grande extensão do território brasileiro, especialmente da região central do Brasil, e as condições climá- ticas dessa região, o gado zebuíno – de origem indiana (Bos indicos) – teve uma ótima adaptação, uma vez que em seu país de origem as condições são semelhantes ao clima central brasileiro. Por volta de 1960, chegaram também ao Brasil animais taurinos, de origem europeia, provenientes do Uruguai. Atualmente compreendem aproximadamente 20% do rebanho nacional, com representantes das raças Angus, Holandês, Simental, entre outros; e são criados, em sua maioria, na região Sul do país. A bovinocultura de corte tem como objetivo a produção de animais bem-acabados, precoces, dentro dos padrões sanitáriose de qualidade, com custo de produção razoável e com uso sustentável das terras. Uma utilização racional da terra é fator de extrema importância para a realidade brasileira, pois apesar de ser o quinto maior país em área, muito do que se destina a áreas de pastagens apresenta algum nível de degradação. Em outras palavras, dos 174 milhões de hectares de pastagens, aproximada- mente 120 milhões (quase 70%) estão em algum estágio de degradação. Consequentemente, o animal que se alimenta e se desenvolve em ambien- tes dessa qualidade, demora aproximadamente 50 meses para atingir o peso ideal de abate; enquanto aquele animal que se alimenta de pastos de alta qualidade leva menos de 24 meses. Técnicas de Produção Animal – 52 – 3.2.1 Sistemas de produção Atualmente, existem três tipos de sistemas de criação de bovinos de corte no Brasil, que variam de acordo com o grau de tecnologias utiliza- das: Sistemas extensivo, intensivo e semi-intensivo. 2 Sistema extensivo A criação é desenvolvida em campo nativo ou sobre pastagem sem nenhum tipo de manejo. Geralmente é realizado em grandes áreas, com baixa taxa de lotação e baixa produtividade, além de pouca utilização de insumos e mão-de-obra. É um sistema mais arcaico, onde são empregadas poucas ou nenhuma tecnologia de produção. Figura 3.2 – Cultivo extensivo Fonte: Shutterstock.com/ Patrick Jennings 2 Sistema intensivo Os animais são criados confinados ou em pastagens, mas com utilização de suplementação alimentar no cocho. São emprega- das diversas tecnologias e o uso da terra é melhor aproveitado. Normalmente são adotadas medidas de manejo que proporcio- nam o aumento da produtividade, como a recuperação da ferti- lização do solo, o ajuste de carga animal, o planejamento forra- geiro, o melhoramento dos pastos e o manejo intensivo. Nesse sistema, a carne tende a ser a mais mole em função do menor esforço feito pelo animal se comparado ao sistema extensivo, – 53 – Bovinocultura de corte e leite em que o deslocamento dos animais pelo terreno favorece o endurecimento da carne. Figura 3.3 – Cultivo intensivo Fonte: Shutterstock.com/Andre Nery 2 Sistema semi-intensivo São utilizadas algumas técnicas de produção para alcançar melhores índices de produtividade, como, por exemplo, suple- mentação alimentar no pasto. Esse sistema encontra-se entre os sistemas extensivo e intensivo. Figura 3.4 – Cultivo semi-intensivo Fonte: Shutterstock.com/fotorobs Técnicas de Produção Animal – 54 – 3.2.2 Manejo 3.2.2.1 Alimentação A alimentação do gado varia de acordo com o sistema de produção adotado. Como visto no tópico anterior, a adoção de cada sistema ofertara um tipo de alimento. Apesar de o sistema extensivo utilizar pouco ou quase nenhuma tec- nologia, podem ser adotadas algumas práticas que auxiliarão no cresci- mento dos animais. No pastejo, é fundamental que as boas práticas de correção do solo sejam aplicadas, como por exemplo, o uso de corretivos e fertilizantes, irrigação e conservação de forragem, ou seja, as condições gerais do solo são decisivas para a qualidade da pastagem, afinal, o cultivo de pasto depende das condições solo e o gado depende exclusivamente do pasto para se alimentar e se desenvolver. Em sistemas intensivos e semi-intensivos, o uso de suplementação mineral e proteica, concentrados volumosos, vitaminas e pastagens de qualidade, além da correção, adubação, rotação, irrigação e integração lavoura e/ou florestas garantem um ótimo aproveitamento do alimento pelo animal. Saiba mais VOCÊ SABE O QUE É CREEP FEEDING? Creep feeding é a suplementação alimentar para os bezerros ainda durante a fase de amamentação. A suplementação é feita geralmente com concentrado em cocho privativo aos bezerros. O sistema é composto de um pequeno cercado, onde ficam os cochos e para acesso exclusivo dos bezerros. A vantagem dessa técnica é permitir a desmama de bezerros mais pesados e proporcionar redução no tempo de abate dos animais. É importante que o cercado esteja localizado junto das áreas de descanso das vacas. – 55 – Bovinocultura de corte e leite 3.2.2.2 Instalações As instalações devem ser planejadas e utilizadas levando em con- sideração duas funções básicas: permitir o manejo dos animais e servir como abrigo. A quantidade, o tipo e a disposição das instalações variam de acordo com alguns fatores, tais como o sistema de criação, a dispo- nibilidade de recurso financeiros, a exploração comercial, entre outros. Naturalmente, quanto mais tecnificado for o sistema de produção, maior gasto será necessário com as instalações. Em geral, as instalações costumam apresentar alguns setores básicos: 2 Centro de manejo Local específico para serem realizadas algumas práticas ani- mais, como identificação, apartação, descorna, vacinação, cas- tração, exames básicos, inseminação artificial, profilaxia, entre outros. Em outras palavras, trata-se de uma instalação que ofe- reça maior conforto ao produtor/trabalhador e ao animal. Figura 3.5 – Centro de manejo Fonte: Shutterstock.com/ Iakov Filimonov 2 Curral O curral deve ser próximo à sede e ao centro de manejo para que o acesso a esses locais pelos animais e pessoas seja fácil. Deve ser em um terreno plano, seco e não suscetível à erosão. Técnicas de Produção Animal – 56 – É importante que energia elétrica, água, e vias de acesso ade- quadas, que permitam a circulação em diversas situações, como em dias de chuva por exemplo. Além disso, é impor- tante que seja construído em uma área suficiente que permita a ampliação futura. 2 Cocho Cochos e bebedouros são os locais onde os animais se alimen- tam e bebem água, respectivamente. O correto dimensionamento é essencial para que o consumo de água e suplementos mine- rais/proteicos seja adequado. Uma má distribuição dos cochos e bebedouros pode gerar estresse e competição dos animais para acesso à comida e água, dificuldade de alimentação naqueles que são construídos no tamanho errado, exposição do alimento e dos suplementos à chuva, formação de atoleiros ao redor do cocho e/ou bebedouro, entre outros. Em geral, os cochos devem ser posicionados no pasto ou no con- finamento de maneira que os animais tenham fácil acesso e per- manência; devem ser cobertos e ter espaço suficiente para todos os animais tenham livre acesso sem competição. Figura 3.6 – Cocho para alimentação Fonte: Shutterstock.com/ JMx Images – 57 – Bovinocultura de corte e leite 3.3 Bovinocultura de leite Nos últimos 30 anos, a produção mundial de leite aumentou mais de 50%, chegando a 769 milhões de toneladas em 2013 (FAO, 2016). Só no Brasil, nos últimos 15 anos, a produção leiteira de bovinos dobrou. Segundo a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO,2016), aproximadamente 150 milhões de lares em todo o mundo trabalham com produção leiteira, sendo mais evidente nos países em desenvolvimento principalmente entre pequenos agricultores, pois for- nece rápido retorno econômico. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2017, a produção leiteira alcançou a média de quase 18 mil litros por dia de litros, sendo o Estado de Minas Gerais o maior produtor Brasileiro, seguido pelo Paraná́. No Brasil, o modelo de produção é baseado em pequenas propriedades, com mão de obra familiar e que se mantém ao longo dos anos em razão da sucessão familiar. Contudo, nos últimos anos, assim como na criação do gado de corte, vem ocorrendo uma evolução e, consequentemente, um intenso processo de modernização do campo, através da utilização de insumos e novas tecnologias que aumentam a produtividade. 3.3.1 Sistemas de produção A escolha pelo melhor tipo de sistema por parte do produtor rural depende de fatores técnicos
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