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dissert Thaís-LER

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
Instituto de Psicologia 
Fatores de Risco de Lesões por Esforços Repetitivos 
em uma Atividade Manual 
Thaís Helena de Carvalho Barreira 
Dissertação apresentada ao Instituto 
de Psicologia, Universidade de São 
Paulo, como parte dos requisitos para 
obtenção do grau de Mestre em 
Psicologia. Área de concentração: 
Psicologia Experimental 
Orientador: Prof. Dr. Klaus Bruno 
Tiedemann 
São Paulo 
1994 
II 
AGRADECIMENTOS 
Num processo tão longo convivemos com muitas emoções e muitas pessoas. Há 
momentos de muitas dúvidas, medos, ansiedades e frustração. Porém, gostaria de 
lembrar e valorizar a solidariedade, o apoio, respeito, atenção e carinho que recebi 
durante todo o processo que resultou neste trabalho. 
À Dra. Regina Heloísa Maciel, professora e amiga, pela seu incentivo, apoio e 
presença constante. Obrigada por sua orientação, disponibilidade, atenção e 
confiança. 
Ao Dr. Klaus Bruno Tiedeman por garantir a concretização deste trabalho. Obrigada 
por suas críticas, questionamentos e sugestões que muito enriqueceram este trabalho 
e incentivaram meu aprimoramento acadêmico. 
À Dra. Leda Leal Ferreira, você que colaborou para o início de todo este trabalho, meu 
muito obrigada por seu apoio e orientação. Sem seu incentivo, esta idéia não teria se 
desenvolvido. 
Aos amigos e companheiros que me acompanharam neste período, pela 
solidariedade, carinho e paciência em todo este processo. 
Às operadoras do teste elétrico que participaram desta pesquisa, pela dedicação, 
interesse é respeito por este trabalho. 
À Marli Costa, por seu apoio e auxílio na coleta de dados. 
A meus pais por terem me possibilitado este caminho. 
III 
Barreira, Thaís Helena de Carvalho. Fatores de Risco de Lesões por Esforços Repetitivos em 
uma Atividade Manual. São Paulo, 1994. Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de 
Psicologia da Universidade de São Paulo. 
RESUMO 
A prevenção ao desenvolvimento de Lesões por Esforços Repetitivos entre os trabalhadores de 
uma situação de trabalho depende da implementação de medidas de controle e eliminação de 
fatores de risco relacionados ao trabalho. Por constituir uma atividade manual repetitiva que 
apresentava alta prevalência de LER, a atividade das operadoras de teste elétrico de uma 
fábrica de preservativos foi estudada para a identificação e reconhecimento dos fatores de risco 
presentes. A análise ergonômica da atividade e a análise de gravação em vídeo das posturas e 
movimentos adotados pelas operadoras foram utilizados para a identificação dos fatores de 
risco biomecânicos e organizacionais presentes nesta situação de trabalho. A análise 
ergonômica da atividade foi realizada através de observação direta da realização da atividade 
no posto de trabalho e de entrevistas semi-dirigidas com as operadoras. 
As entrevistas com as operadoras confirmaram a existência de alta freqüência de dores 
músculo-esqueléticas em ombros, braços e mãos, e relato de intenso cansaço geral. Os 
resultados do estudo mostraram a presença de fatores biomecânicos e psicossociais 
predisponentes à LER reconhecidos pela literatura. Os quatro fatores biomecânicos 
identificados foram: (1) alta repetitividade (ciclo de tempo da tarefa menor que 30 segundos), 
(2) emprego repetitivo de força em dedos e pulso associado a posturas críticas de pulso, (3) 
posturas inadequadas de ombros, antebraços, pulsos e dedos, e (4) contato mecânico da bainha 
do preservativo com as porções laterais dos dedos. Os fatores psicossociais encontrados foram: 
(1) pouca variedade no conteúdo da atividade, (2) controle limitado da operadora sobre seu 
trabalho, (3) grande pressão para atingir alto volume de produção, (4) responsabilidade na 
detecção de defeitos nos preservativos e (5) não possibilidade de apoio mútuo entre as 
operadoras. 
IV 
Barreira, Thaís Helena de Carvalho. Risk factors to Repetitive Strain Injuries: an 
analysis of a manual job. São Paulo, 1994. 
ABSTRACT 
Repetitive Strain Injuries prevention among workers of an specific job depends on the 
implementation of control measures and the elimination of risk factors related to work. 
The operators'job of an Electric Test Section of a male contraceptives factory was 
investigated in order to identify and recognize its risk factors. Task analysis and video 
analysis of postures and movements adopted by the operators were used to identify 
biomechanics and organizational risk factors. Observations and interviews were used 
for the task analysis. 
The interviews with the operators confirmed the existence of high frequency of 
complaints of musculoskeletal pains on shoulders, arms and hands. The operators 
also complained of generalized intense tiredness. The results showed the presence of 
biomechanics and psicossocial risk factors to Repetitive Strain Injuries stressed by 
authors in the literature. Four biomechanics risk factors were identified: (1) high 
repetitiveness (work cicle time less than 30 seconds); (2) repetitive forceful exertions 
by fingers and wrists associated to criticai postures of wrists; (3) constrained postures 
of shoulders, forearms, wrists and fingers; (4) mechanical contact by the condonfs 
material with the lateral fingers; (5) no rest breaks. The psicossocial factors found 
were: (1) reduced diversity in tasks performed; (2) reduced control overwork; (3) high 
work pressure; (4) responsability for the inspection of defects on condoms, and (5) no 
social support among workers. 
V 
SUMARIO 
1. INTRODUÇÃO 1 
1.1. LER: Lesões Por Esforços Repetitivos 2 
1.1.1. Definições 2 
1.1.2. As Causas Sociais 3 
1.1.3. A Problemática no Brasil 4 
1.1 A- A Evolução Clínica 8 
1.1.5. Diagnóstico, Formas Clínicas e Patofisiologia Subjacente 10 
1.1.6. A Prevenção da LER no Mundo 11 
1.1.7. Fatores de Risco 16 
1.1.8. Ergonomia e o Método da Análise da Atividade na Prevenção da LER 30 
1.2. Objetivos do Estudo 35 
2. MÉTODO 36 
2.1. Características da População Estudada 38 
2.2. Análise da Atividade 39 
2.2.1. Reunião Introdutória 39 
2.2.2. Observação Direta 39 
2.2.3. Questionário e Entrevistas Semi-Dirigidas 40 
2.2.4. Gravações em Vídeo dos Modos Operatórios Empregados 42 
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 44 
3.1. Caracterização da Situação de Trabalho 45 
3.1.1. Caracterização da Empresa 45 
3.1.2. As Etapas do Processo de Produção 45 
3.1.3. Características da Organização do Trabalho 46 
3.1.4. A Jornada de Trabalho 48 
3.1.5. Descrição do Posto de Trabalho 48 
3.2. A Atividade das Operadoras 52 
VI 
3.2.1. A Tarefa de Encaixar nos Moldes 53 
3.2.2. A Tarefa Complementar de Remexer o Monte 58 
3.2.3. A Tarefa de Inspeção Visual 58 
3.2.4. A Tarefa de Retirada dos Defeituosos dos Moldes 61 
3.2.5. A Tarefa Complementar de Encaixar um Segundo Preservativo 62 
3.2.6. As Tarefas Ocasionais 63 
3.3. Volume e Ritmo de Produção 64 
3.4. Variações no Ritmo de Trabalho e nos Modos O pe rato ri os 68 
3.5. Habilidades Exigidas e Desenvolvidas 71 
3.6. As Características do Material e o Desempenho das Tarefas 72 
3.7. Particularidades dos Produtos Que Dificultavam a Tarefa 72 
3.8. As Queixas Relatadas 73 
3.9. As Modificações Propostas Pelas Operadoras 78 
3.10. O Componente Emocional 78 
3.11. O Posto de Trabalho e as Posturas Adotadas 80 
3.12. A Localização das Dores e as Posturas e Movimentos Adotadas 86 
3.12.1. A Dor nos Ombros e Braços 88 
3.12.2. A Dor nas Mãos e Dedos 89 
3.12.3. A Dor nas Costas 89 
3.12.4. A Dor na Nuca 89 
4. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES 90 
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 96 
6. ANEXOS 103 
6.1. Anexo 1: NR-17 - Ergonomia 104 
6.2. Anexo 2: Terminologia para Movimentos e Posições Corporais 109 
6.3. Anexo 3: Questionário 111 
6.4. Anexo 4: Entrevista Semi-Dirigida 112 
1. INTRODUÇÃO 
2 
1.1. LER -Lesões por Esforços Repetitivos 
1.1.1. Definições 
LER - Lesões por Esforços Repetitivos é uma denominação dada a um 
conjunto de disfunções músculo-esqueléticas em membros superiores e regiãocervical relacionadas ao trabalho. Em vários países está havendo um aumento na 
incidência dessas disfunções em trabalhadores de diferentes áreas. Na literatura 
existem referências principalmente aos trabalhadores que desempenham funções em 
indústrias eletrônicas, de alimentos, químicas, têxteis (confecções) e na área de 
serviços de telefonia e entrada de dados em terminal de computação (Maeda, 1977; 
Luopajarvi et ai., 1979; Wallace e Buckle, 1987; Ayoub e Wittels, 1989). 
O conjunto destas disfunções vem sendo objeto de diversos estudos e, 
conforme o país, têm recebido denominações diferentes. Na Austrália, os 
pesquisadores utilizam a denominação de "LER" ("Repetitive Strain lnjuries"-"RSI"), 
(Meyer, 1987; Bammer & Blignault, 1987), que é muito semelhante à denominação 
dada nos Estados Unidos de "Disfunções por Traumas Cumulativos" ("Cumulative 
Trauma Disorders"-"CTD"), (Armstrong et ai., 1982). Essas duas denominações 
enfatizam a relação do quadro clínico apresentado e a freqüência da atividade 
realizada. No Japão, esta síndrome é conhecida por "Disfunção Ocupacional Cérvico-
Braquial" ("Occupational Cervico - Brachial Disorders" - "OCD"), (Maeda, 1977), que 
ressalta sua localização e a relação com a atividade ocupacional da pessoa. Na 
Escandinávia, a mesma síndrome foi estudada segundo sua localização anatômica 
como tenossinovite1, peritendinite2 e outras lesões das extremidades superiores, ou 
ainda síndrome cérvicobraquial3 ou disfunções ocupacionais do região cervical e 
membros superiores para esclarecer a especificidade da etiologia decorrente da 
1 Inflamação aguda ou crônica dos tecidos sinoviais que envolvem os tendões. 
2 Inflamação aguda ou crônica de tecidos moles adjacentes à transição tendão-músculo e ao tecido 
muscular. 
3 Síndrome dolorosa provocada pela compressão do feixe neuro-vascular ao atravessar os músculos do 
pescoço, especialmente os escalenos. 
3 
atividade ocupacional (Kurppa et ai., 1979; Luopajarvi et ai., 1979; Waris, 1979; Waris 
et ai., 1979). 
Em 1988, por ocasião do 10°. Congresso da Associação Internacional de 
Ergonomia (IEA), em Sydnei, Austrália, um grupo de pesquisadores dos países 
nórdicos, Estados Unidos e Reino Unido reuniram-se para discutir este conjunto de 
disfunções músculo-esqueléticas. Uma das questões abordadas nesta reunião era de 
que não havia uma nomenclatura padronizada para designar estas disfunções. A 
necessidade de um consenso levou-os a criarem o termo "disfunções músculo-
esqueléticas em membros superiores e região cervical relacionadas ao trabalho" 
("work-related neck and upper limb disorders"), (Bammer, 1993). Porém, esta 
nomenclatura não foi adotada extensivamente e os termos antes mencionados foram 
mantidos em uso. 
No Brasil, durante muito tempo, o termo "tenossinovite" era o mais 
empregado, equivocadamente, para denominar este conjunto de disfunções músculo-
esqueléticas em membros superiores e região cervical. Entretanto, como tenossinovite 
é a denominação de uma das afecções inflamatórias deste conjunto, oficialmente, a 
norma técnica do INSS de 1991 sobre esta problemática adotou o termo da Austrália, 
Lesões por Esforços Repetitivos. 
1.1.2. As Causas Sociais 
O principal fenômeno social apontado como causa desse tipo de lesões é 
sempre a modernização do trabalho. O trabalho moderno é caracterizado pela 
mecanização, fragmentação, especialização e automação das tarefas industriais e 
informatização nas áreas de serviço. (Bammer, 1993; Putz-Anderson, 1992; Itani, 
1988; Maeda, Hünting e Grandjean, 1980; Hünting, Grandjean e Maeda, 1980; 
Luopajarvi et ai., 1979) 
4 
Com a introdução dessas novas tecnologias houve um aumento do 
número de tarefas manuais repetitivas que concentram a solicitação física em mãos, 
braços, ombros e região cervical pela exigência de uma movimentação repetitiva e 
rápida de dedos, mãos e braços (Bammer,1993; Putz-Anderson, 1992; Luopajarvi et 
ai., 1979; Maeda, 1977). Esta solicitação física pode se apresentar de várias formas 
como movimentação repetitiva em alta velocidade e/ou de grande amplitude, adoção 
de posturas críticas, e exigência de força. Estes fatores biomecânicos podem 
aparecer isolada ou associadamente e podem ser agravados por exposição à vibração 
e ao frio (Keyserling et ai., 1993; Putz-Anderson, 1992). 
Quanto à forma de organização do trabalho e conteúdo do trabalho, o 
trabalho se transformou na direção de tarefas manuais que exigem grande precisão 
de movimentos realizados em curtos ciclos de tempo, alta repetitividade, intenso ritmo 
de trabalho, estimulando o aumento da produção individual através da competição por 
comparação dos volumes de produção ou oferecendo remuneração por produção 
para o trabalhador. Além disso, estes trabalhadores não tem diversificação de tarefas 
e são mantidos nas mesmas tarefas por muitos anos (Bammer, 1993; Putz-Anderson, 
1992; Kilbom, 1988; Hunting, Grandjean e Maeda, 1980; Maeda, 1977). 
1.1.3. A Problemática no Brasil 
No Brasil, esta síndrome era muito pouco conhecida e mal esclarecida até 
1991. Hoje, porém, a situação quanto à terminologia empregada, diagnóstico e 
reconhecimento como moléstia profissional estão estabelecidos em várias normas 
técnicas, tanto estaduais como na mais recente norma do INSS (Instituto Nacional de 
Seguro Social), MPS-1993 (BRASIL, 1993), aplicável para todo o país. 
A MPS-1993 constitui uma revisão da MTPS-1991 (BRASIL, 1991) que foi 
a primeira Norma Técnica para Avaliação de Incapacidade nos casos de Lesões por 
5 
Esforços Repetitivos - LER da Divisão de Perícias Médicas da Coordenação-Geral de 
Serviços Previdenciários do Instituto Nacional de Seguro Social. Esta norma serviu 
como apoio ao reconhecimento dessas afecções como doenças ocupacionais 
conforme já estava exposto na Portaria N.4062, de 6 de agosto de 1987 (MPAS, 
1987). 
A Portaria de 1987 criou a possibilidade legal para que os casos de LER 
começassem a ser notificados oficialmente. A princípio o maior número de 
notificações eram encontradas entre a categoria de digitadores, que já tinham 
conhecimento da relação desta moléstia profissional e sua atividade. Tanto que o 
termo Lesões por Esforços Repetitivos já estava sendo proposto por alguns 
pesquisadores para caracterizar as disfunções apresentadas pelos digitadores em 
1986 (Rocha, 1989). Com a divulgação da grande ocorrência de LER e de seus 
fatores causais, técnicos da área e outras categorias profissionais foram tomando 
conhecimento do problema e o número de notificações de LER em outras categorias 
também cresceu confirmando que esta problemática não era exclusiva aos 
digitadores. 
Na MTPS-1991 evidenciou-se que, com o reconhecimento da LER como 
doença profissional em 1987, a LER passou a ser a patologia mais freqüente entre as 
várias doenças profissionais que foram diagnosticadas pelo Grupamento Médico 
Pericial de Acidentes de Trabalho do INPS da região metropolitana da cidade de Belo 
Horizonte. Esta norma elucidava não apenas o nexo de causalidade entre a moléstia e 
a atividade ocupacional do indivíduo, mas, também, orientava, sob o ponto de vista 
médico, o diagnóstico, os estágios evolutivos e o tratamento destas afecções. 
Em 08/06/1992, a Secretaria Estadual de Saúde do Estado de São Paulo 
ratificou os aspectos já delineados na norma federal do INSS, MTPS-1991 e ampliou 
a abordagem da problemática no que diz respeito a medidas de prevenção e 
procedimentos técnico-administrativos na Resolução SS-197 (SES, 1992). Esta norma 
6 
estadual teve como objetivo, também, oferecer apoio técnico aos serviços de Medicina 
do Trabalho das empresas, aos profissionais das unidades do Sistema Único de 
Saúde e a todos aqueles que de alguma maneira vêm-sendo envolvidos com esta 
problemática. No mesmo ano, em 15 de dezembro, as Secretarias de Estado do 
Trabalho e da Ação Social e da Saúde de Minas Gerais assinaram a Resolução 
245/92 ratificandoo conteúdo da Resolução Estadual de São Paulo sobre o assunto 
(SETAS, SES, 1992). 
Em março de 1993, a Divisão de Perícias Médicas da Coordenação Geral 
de Serviços Previdenciários do Ministério da Previdência Social apresentou uma 
revisão da antiga MPS-1991. A nova Norma Técnica para Avaliação da Incapacidade 
sobre LER teve como base as resoluções das Secretarias de Estado da Saúde dos 
estados de São Paulo e Minas Gerais, porém ressalta que ao diagnóstico de LER 
devem ser acrescidas especificações quanto às estruturas acometidas, assim como 
quanto aos segmentos envolvidos no processo, e ser referido, ainda, o código 
específico da forma clínica ou afecção diagnosticada conforme a Classificação 
Internacional de Doenças. Sob este último aspecto, esta resolução modifica as 
normatizações anteriores que mantinham o código de "Sinovite e Tenossinovite" para 
este conjunto de afecções. 
Estas normas, portanto, ratificam normativamente, em nosso país, a 
terminologia de Lesões por Esforços Repetitivos-LER para denominar "o conjunto de 
afecções de origem ocupacional que podem acometer tendões, sinóvias, músculos, 
nervos, fáscias, ligamentos, isolada ou associadamente, com ou sem degeneração de 
tecidos, atingindo principalmente, porém não somente, os membros superiores, região 
escapular e pescoço decorrente de forma combinada ou não de: (a) uso repetitivo de 
grupos musculares; (b) uso forçado de grupos musculares; (c) manutenção de postura 
inadequada" (BRASIL, 1993; SES, 1992). 
7 
O Ministério do Trabalho também deu sua contribuição à prevenção da 
LER ao publicar a Portaria No. 3751 em novembro de 1990 (MTPS, 1990), que definia 
e recomendava formas de eliminação tanto dos fatores biomecânicos, como dos 
fatores organizacionais apontados como fatores de risco das LERs. Esta portaria veio 
alterar a Norma Regulamentadora de Ergonomia - NR17, inserida na Portaria 
MTb/GM No. 3214, de 08 de junho de 1978, a pedido do Sindicato de Processamento 
de Dados, principalmente. Nesta portaria, os aspectos abordados em 1978 foram 
melhor discriminados e pormenorizados, o princípio da Ergonomia foi exposto e a 
principal alteração foi introduzir regulamentações quanto à organização do trabalho. A 
NR-17 atualizada em 1990 (MTPS, 1990) encontra-se no Anexo 1. 
O princípio da Ergonomia é colocado no primeiro item: "esta norma 
regulamentadora visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das 
condições de trabalho às características psico-fisiológicas dos trabalhadores, de modo 
a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente". Os itens 
subsequentes abordam sucessivamente: Levantamento, Transporte e Descarga 
Individual de Materiais; Mobiliário dos Postos de Trabalho; Equipamentos dos Postos 
de Trabalho, detalhando os equipamentos utilizados nas atividades de processamento 
eletrônico de dados; Condições Ambientais de Trabalho, definindo recomendações 
quanto a níveis de ruído, índice de temperatura efetiva, velocidade do ar e umidade 
relativa do ar para tarefas que exijam solicitação intelectual e atenção constantes; 
Organização do Trabalho, definida pelos aspectos de: normas de produção, modo 
operatório, exigência de tempo, determinação do conteúdo da tempo, ritmo de 
trabalho e conteúdo das tarefas. Há um subítem que define valores limites para alguns 
aspectos da organização do trabalho exclusivamente para atividades de 
processamento eletrônico de dados e um subítem que apesar de não definir valores 
quantitativos, estabelece regras básicas para todas as atividades que exijam 
sobrecarga muscular estática ou dinâmica do aparelho músculo-esquelético. 
8 
Como as atividades de processamento eletrônico de dados vinham sendo 
estudadas no Brasil desde 1984 (Maciel, 1984; Maciel, 1985) e no exterior há muito 
mais tempo, muita informação e conhecimento já tinha sido produzido. Por isso esta 
portaria define claramente alguns parâmetros para estas atividades. Por exemplo 
quanto à organização do trabalho, a partir de recomendações normativas do Ministério 
do Trabalho japonês de 1964, puderam ser estabelecidos limites para repetitividade 
dos movimentos de dedos e ritmo de trabalho (número de toques), período total de 
exposição por dia (jornada de trabalho diária nesta mesma atividade), período de 
tempo máximo de trabalho ininterrupto e período mínimo de tempo para recuperação 
e a determinação de que no retorno ao trabalho após qualquer tipo de afastamento 
igual ou superior a 15 dias não deve haver exigência de produção quanto ao ritmo de 
trabalho (Nakaseko, Tokunaga, Hokogawa, 1982). 
1.1.4.- A Evolução Clínica 
Em 1984, três estágios clínicos diferentes foram definidos para estas 
disfunções músculo-esqueléticas por Browne et ai. citado na MTPS-1991. Primeiro o 
trabalhador sente dor e cansaço durante o turno de trabalho em uma ou mais regiões 
dos membros superiores e cervical, com melhora nos finais de semana, não 
apresentando alterações no exame físico e apresentando desempenho normal. Em 
seguida, aparecem dores recorrentes com sensação de cansaço persistente e 
distúrbios de sono, com incapacidade para o trabalho repetitivo; e no terceiro estágio 
a sensação de dor, fadiga e fraqueza é persistente, inclusive com repouso, gerando 
distúrbios de sono e presença de sinais físicos. Neste estágio, o trabalhador refere 
inclusive incapacidade para executar até tarefas não-ocupacionais leves. 
Enquanto no Japão foram definidos 5 estágios clínicos (ltani,1988), no 
Brasil, adotou-se a definição de quatro estágios clínicos evolutivos. Na MTPS-1991, 
argumenta-se que para cumprir os objetivos normativos e referenciais, a classificação 
9 
de Browne parecia muito condensada, por isso preferiu-se optar por enfatizar os 
extremos do curso clínico da doença. 
Os quatro estágios clínicos evolutivos estabelecidos foram: GRAU I-
sensação de peso e desconforto no membro afetado. Dor espontânea localizada em 
membros superiores ou cintura escapular, às vezes com pontadas que aparecem em 
caráter ocasional durante a jornada de trabalho e não interferem na produtividade. É 
em geral leve e fugaz. Melhora com o repouso. Não há uma irradiação nítida. Os 
sinais clínicos estão ausentes. Tem bom prognóstico. GRAU II- A dor é mais 
persistente e mais intensa, e aparece durante a jornada de trabalho de modo 
intermitente. Pode haver uma irradiação definida. É tolerável e permite o desempenho 
da atividade profissional, mas já com reconhecida redução de produtividade nos 
períodos de exacerbação. A recuperação é mais demorada, mesmo com o repouso e 
a dor pode aparecer ocasionalmente quando fora do trabalho, durante as atividades 
domésticas. Os sinais, de modo geral, continuam ausentes. Prognóstico favorável. 
GRAU III- A dor torna-se mais persistente, é mais forte e tem irradiação mais definida. 
O repouso em geral só atenua a intensidade da dor, nem sempre fazendo-a 
desaparecer por completo. Há freqüentes paroxismos dolorosos mesmo fora do 
trabalho, especialmente à noite. É freqüente a perda da força muscular e parestesias. 
Há sensível queda da produtividade, quando não há a impossibilidade de executar a 
função. Os trabalhos domésticos são limitados ao mínimo e muitas vezes não são 
executados. Os sinais clínicos estão presentes. O edema é freqüente e recorrente, a 
hipertonia muscular é constante, as alterações de sensibilidade estão quase sempre 
presentes, especialmente nos paroxismos dolorosos acompanhados por 
manifestações vagas com palidez ou hiperemia e sudorese da mão. A mobilização ou 
palpação do grupo muscular acometido provoca dor forte. Nos quadros com 
comprometimento estenosante a eletromiografia pode estar alterada e o retorno à 
atividade produtiva é problemático. Prognóstico reservado. Grau IV- A dor é forte, 
contínua, por vezes insuportável, levando o paciente a intenso sofrimento. Os 
10 
movimentos acentuam consideravelmente a dor, que em geralse estende a todo o 
membro afetado. Os paroxismos de dor ocorrem mesmo quando o membro está 
imobilizado. A perda de força e a perda do controle dos movimentos se fazem 
constantes. O edema é persistente e podem aparecer deformidades, provavelmente 
por processos fibróticos, reduzindo a circulação linfática de retorno. As atrofias, 
principalmente dos dedos são comuns e atribuídas ao desuso. A capacidade de 
trabalho é anulada e a invalidez se caracteriza pela impossibilidade de um trabalho 
produtivo regular. Os atos da vida diária são também altamente prejudicados. Neste 
estágio são comuns as alterações psicológicas com quadros de depressão, ansiedade 
e angústia. Prognóstico sombrio (MPS-1993). 
1.1.5. Diagnóstico, Formas Clínicas e Patofisiologia Subjacente 
Estas normas técnicas brasileiras citadas explicitam a idéia 
internacionalmente aceita de que o diagnóstico é essencialmente clínico e baseia-se 
na história clínico-ocupacional, no exame físico detalhado, nos exames 
complementares quando justificados e na análise das condições de trabalho 
responsáveis pelo aparecimento da lesão. Ayoub e Wittels (1989) referem que nos 
estágios iniciais a especificidade e a precisão do diagnóstico são difíceis de serem 
avaliadas, pois o diagnóstico inicial baseia-se em exame clínico e observação. 
Segundo estes autores, apenas em 20% dos casos existe a nacessidade de um teste 
especial ou análise em laboratório. 
As normas também descrevem a padronização da nomenclatura para o 
diagnóstico anátomo-funcional e as formas clínicas. As formas clínicas apresentadas 
nas normas técnicas MPS-1993 e SS-197/SP podem ser classificadas em dois 
grandes grupos conforme proposta de Ferguson (1984), citada em Bammer e 
Blignault (1987). Este autor argumenta que as LER podem ser divididas em: (a) 
síndromes localizadas e distintas do aparelho neuro-músculo-tendíneo, e (b) 
11 
complexas mais difusas e de sintomatologia mal definida, aparentemente muscular, 
dos quais pouco se sabe. O primeiro grupo inclui tenossinovite, peritendinite, 
epicondilite4, bursite5, síndrome do túnel do carpo6 e síndrome do desfiladeiro 
torácico7 entre outras. As disfunções do segundo grupo podem envolver músculos 
individualmente, grupos de músculos ou áreas mais extensas. Quando em fase aguda 
são freqüentemente descritos como "distensão muscular". Para condições crônicas 
vários termos são usados como: mialgia ocupacional, miosite, fibrosite e síndrome 
miofascial8. No Brasil, as normas estabeleceram o uso da nomenclatura miosite para 
estas afecções. Duas ou mais destas síndromes podem ocorrer simultaneamente; 
síndromes bem definidas podem coexistir com outras difusas. As miosites 
ocupacionais são recidivantes e invalidantes porque as microlesões musculares 
tornam o grupo de músculos mais suscetíveis a novas lesões. 
1.1.6. A Prevenção da LER no Mundo 
O Japão foi um dos países pioneiros no estudo destas disfunções 
dolorosas em membros superiores e região cervical. A Associação Japonesa de 
Saúde Industrial organizou em 1971 um Comitê que deliberou sobre a definição e o 
diagnóstico da moléstia e propôs um questionário para ser aplicado aos trabalhadores 
para verificar os sintomas subjacentes e sofrimentos presentes no cotidiano das 
pessoas doentes no Japão. Em 1973, o Comitê, com base em inúmeros relatórios de 
4 Processo inflamatório localizado na região do cotovelo que pode atingir tendões, fáscias musculares, 
músculos e tecidos sinoviais. Pode comprometer, ainda, o nervo ulnar ou radial em seu trajeto nesta 
região. 
5 Processo inflamatório que acomete as bursas, pequenas bolsas de paredes finas colágenas e revestidas 
de membrana sinovial, encontradas em regiões onde os tecidos são submetidos à fricção, geralmente 
próximas a inserções tendinosas e articulações. 
6 Síndrome dolorosa, acompanhada por impotência funcional atingindo primordialmente a face palmar 
dos Io, 2o e 3o dedos e da região tenar, principalmente do oponente do polegar decorrente da compressão 
do nervo mediano ao nível do carpo. 
7 Síndrome dolorosa decorrente da compressão do plexo braquial em sua passagem pelo chamado 
desfiladeiro torácico, formado pela clavícula, primeira costela, músculos escalenos anterior e médio e 
fáscias dessa região. 
8 Processos inflamatórios do próprio músculo que, pelo esforço e fadiga, podem sofrer ruptura de suas 
fibras elásticas, edema, degeneração e fibrose. 
12 
casos e exames, descreveu a prevalência e os fatores causais da moléstia e propôs 
que a denominação para esta moléstia fosse OCD- disfunções ocupacionais cérvico-
braquiais diferenciando da síndrome cérvico-braquial e outras conhecidas moléstias 
profissionais. Maeda (1977) ressalta que isto era necessário porque esta última não 
incluía a patogênese relacionada ao trabalho em conexão com fadiga mental e geral, 
cansaço visual etc. A definição dada pelo Comitê a estas moléstia é de um distúrbio 
funcional ou orgânico produzido ocupacionalmente a partir de fadiga muscular e 
mental resultante de esforço estático e/ou repetitivo de músculos dos braços e mãos. 
No estudo de prevalência em 1974 numa amostra de 1.691.000 trabalhadores de 
empresas privadas com 30 ou mais empregados foi constatado que a porcentagem de 
trabalhadores em linhas de montagem que reclamavam de fadiga em ombros, braços 
e mãos devido ao trabalho era de 2 a 5 vezes maior que a encontrada em outros 
grupos de trabalhadores; dentro do grupo de pessoal de escritório apenas 4,0% 
reclamavam de OCD; entre o grupo de trabalhadores na área de transporte, 7,5% 
apresentavam reclamações; e dentro do grupo de operários da fábrica havia 5,7% dos 
que realizavam tarefas de vigilância apresentando estas reclamações, 11,6% dos que 
realizavam tarefas gerais, e 20,9% (mais que 1/5) dos que trabalhavam em linhas de 
montagem. 
Itani (1988) relata que os primeiros casos de "OCD", no Japão, foram 
notificados no final da década de 50 entre perfuradores de cartões de computador. 
Desde então o número de pessoas com OCD cresceu em várias categorias. 
Reconhecendo a seriedade desta problemática, trabalhadores, sindicatos, 
empresários e pesquisadores científicos exigiram que o Ministério do Trabalho 
instituísse medidas de prevenção e tratamento. Itani menciona que quatro normas 
foram publicadas até 1987. A primeira norma foi publicada em 1964 e regulamentava 
condições de trabalho para os perfuradores de cartões de computadores. Em 1973 as 
condições de trabalho dos operadores de caixas registradoras foram regulamentadas. 
Ainda em 1973, as notificações para reabilitação dos trabalhadores vitimados por 
13 
riscos ocupacionais na região cervical e cabeça foram regulamentadas. Em 1975, 
foram regulamentadas as condições de trabalho dos trabalhadores que utilizam 
ferramentas com gatilhos de acionamento. 
Na Suécia, os primeiros sinais de que estas disfunções músculo-
esqueléticas localizadas em membros superiores e região cervical relacionadas ao 
trabalho estavam tornando-se um problema real vieram do Serviço Público de Saúde. 
Para o Serviço de Saúde Ocupacional estabelecido há 20 ou 30 anos, o surgimento 
de tantos casos era uma surpresa. O debate sobre o problema começou com os 
primeiros estudos japoneses e somente no início da década de 80 ganhou maior 
interesse e intensidade. A conclusão principal deste debate é de que a evolução 
clínica destas disfunções é muito variável e que era preciso concentrar esforços na 
prevenção e preferivelmemte na prevenção primária. Isto significava agir antes que 
ocorressem queixas de fadiga e dor. Para tanto, era necessário modificar as 
características físicas do posto de trabalho, mas também fazer modificações na 
organização de trabalho de maneira a tornar o trabalho mais variável e menos 
monótono, revezando tarefas mais desgastantes com outras diferentes destas. Assim, 
em 1984, foi criada uma regulamentação com 7 secções contendo recomendações 
que estabeleciamprincípios gerais sobre posturas de trabalho, ambiente de trabalho e 
carga física (Kilbom, 1988). 
Na Austrália, o surgimento de tantos casos de LER é explicado por 
Bammer e Martin (1992) a partir da história sócia-econômica recente do país. Antes 
da década de 70, este país viveu uma crescente estabilidade econômica e baixo nível 
de desemprego. Assim, muitas pessoas que começavam a apresentar disfunções 
músculo-esqueléticas relacionadas ao trabalho preferiam trocar de emprego a 
procurar receber indenizações por isso. Na década de 70, entretanto, a situação 
econômica mudou. A inflação e o crescente desemprego levou muitos trabalhadores a 
permanecerem em seus empregos e manterem-se em condições que eles teriam 
deixado em anos anteriores. Na rápida reestruturação industrial de 1970, novas 
14 
tecnologias foram introduzidas ostensivamente para manter a competitividade 
internacional enquanto o desemprego enfraquecia a capacidade dos sindicatos de se 
defenderem das tradicionais práticas de trabalho. Para a maioria dos trabalhadores, 
as mudanças introduzidas significaram intensificação do ritmo de trabalho, provocando 
maior solicitação física ao corpo e levando a um aumento no número de pessoas com 
queixas de dor e outras disfunções. 
A introdução de terminais de computação teve um impacto dramático em 
trabalhadores de escritórios, intensificando pelo menos dois principais fatores de risco 
biomecânicos predisponentes à LER: movimentação repetitiva rápida e carga estática 
de trabalho, geralmente combinada com adoção de posturas inadequadas. Além 
disso, a introdução do processamento eletrônico de dados acarretou modificações na 
organização do trabalho que incluiu: aumento na carga de trabalho e reduções na 
diversidade de tarefa, autonomia, controle e apoio solidário. 
Assim, na década de 70 começaram a aparecer os primeiros casos nos 
centros de saúde dos trabalhadores mantidos pelos sindicatos e, no final da década 
de 70, alguns médicos destes centros começaram a publicar a ocorrência de dor e 
disfunções músculo-esqueléticas entre trabalhadores manuais devido ao trabalho 
repetitivo e carga muscular estática. No início dos anos 80, outro grupo de 
profissionais de saúde começaram a escrever sobre problemas similares entre os 
trabalhadores de escritórios que eram atribuídos a esforço repetitivo e carga muscular 
estática, particularmente associada ao uso de terminais de computação. 
Com isso, no início dos anos 80 foi criada uma comissão tripartite para 
pensar formas de prevenção às LER e em 1986 esta comissão elaborou o "Model 
Code of Practice" que consistia em um conjunto de recomendações publicadas pelo 
Departamento de Saúde e Segurança Ocupacional ("National Occupational Health and 
Safety Commission") do governo australiano. A estratégia de prevenção criada 
consistia de recomendações sobre oito aspectos principais: (1) organização do 
15 
trabalho; (2) planejamento do trabalho; (3) diversidade de tarefas e pausas no 
trabalho; (4) períodos de ajustamento ao trabalho; (5) dimensionamento do posto de 
trabalho e concepção do ambiente de trabalho; (6) seleção tecnológica; (7) concepção 
de equipamentos; e (8) educação e treinamento (Bammere Martin, 1992). 
As "CTD" ou LERs são reconhecidas, nos Estados Unidos, como um 
motivo importante de significativo sofrimento humano, tempo perdido, perda de 
produtividade e custos sociais para as empresas e o Estado conforme está descrito 
em manual do Instituto Nacional de Saúde e Segurança no Trabalho ("NIOSH" -
"National Institute for Occupational Safety and Health") editado por Putz-Anderson em 
1992. A principal causa apontada para o aumento evidente na incidência da "CTD" é a 
intensificação do ritmo de trabalho, imposto por máquinas ou por padrões de 
produtividade. Além disso, durante os períodos de alto volume de produção, existe 
muito pouco tempo para descansos ou recuperação. Eles estimam que mais da 
metade de todos os trabalhadores estão envolvidos com atividades que contenham 
risco potencial às LERs. Estes fatores de risco foram agrupados em quatro categorias 
gerais: (1) nível de esforço, (2) repetitividade (quantidade e freqüência), (3) posturas 
adotadas e (4) ausência de repouso (tempo de recuperação). 
Entretanto, conforme o conhecimento sobre sua natureza e causas vai se 
disseminando pela sociedade, esta descobre que estas disfunções não podem ser 
aceitas como parte inerente das atividades e que , em sua maioria, elas podem ser 
prevenidas. Apesar da prevenção não ser uma forma de ação sempre simples, sabe-
se que o risco encontra-se geralmente na maneira com que o trabalho é realizado ou 
como uma ferramenta tem que ser usada. 
Putz-Anderson (1992) recomenda a prevenção destas disfunções através 
de intervenções ergonômicas com modificações de dimensionamento de posto de 
trabalho e ferramentas, e alterações em técnicas de trabalho ou na própria tarefa em 
si no sentido de minimizar fontes de riscos biomecânicos. Outros fatores como 
16 
exigência de força, freqüência de movimentos e exposição à vibração devem ser 
minimizados mesmo que os níveis de segurança ainda não tenham sido 
determinados. 
Uma proposta estratégica de prevenção às disfunções músculo-
esqueléticas foi elaborada pela NIOSH em 1985, porém diferente dos documentos 
australiano e sueco, esta proposta enfoca principalmente o processo de prevenção 
em si, mais do que especifica recomendações. A estratégia de prevenção das 
disfunções músculo-esqueléticas identifica necessidades de informação e pesquisa, 
tais como: (1) a necessidade de melhores estudos e informações quanto a 
diagnósticos, para identificação destas disfunções; (2) os tipos de pesquisas que 
precisam ser realizadas; (3) o papel dos setores públicos e privados na 
implementação e avaliação de intervenções propostas. 
1.1.7. Fatores de Risco 
Os estudos realizados até o momento sobre esta temática mostram que a 
etiologia destas disfunções músculo-esqueléticas relacionadas ao trabalho localizadas 
em mãos, braços, ombros e região cervical é multicausal. Isto é, a ocorrência destas 
disfunções ocupacionais está correlecionada a mais de um fator e, principalmente, à 
associação de dois ou mais fatores de risco. Define-se fator de risco como um atributo 
ou exposição que aumenta a probabilidade de ocorrer a doença ou disfunção. O 
principal fator causai apontado está relacionado à natureza e conteúdo da atividade 
desempenhada, porém a interação dos diferentes fatores causais tem-se mostrado 
preponderante no desenvolvimento destas disfunções. A contribuição e a interação 
dos diferentes fatores de risco não foram ainda esclarecidas porque a maioria dos 
autores ainda apresentam forte tendência para o estudo de alguns dos fatores de 
risco relevantes isoladamente, apesar de reconhecerem a importância de sua 
17 
interação (Bammer, 1993; Ayoub e Wittels, 1989; Putz-Anderson, 1992; Wallace e 
Buckle, 1987). 
Os fatores de risco podem interagir de tal forma que um fator pode causar 
um tipo de disfunção em uma pessoa e outro tipo em outra. Sommerich et ai. (1993) 
exemplificam a repercussão desta associação multi-fatorial com uma situação de 
trabalho em que o trabalho é realizado acima do nível da cabeça. Este trabalho pode 
provocar o aparecimento de uma Síndrome do Desfiladeiro Torácico em um 
trabalhador e dor muscular em outro. Estes autores justificam as diferentes 
repercussões através da interação de outros fatores como dimensionamento do posto 
de trabalho, técnicas de trabalho empregadas e estrutura física dos trabalhadores. 
Os fatores de risco classificam-se em dois grandes grupos: os fatores 
relacionados ao trabalho e os fatores não relacionados ao trabalho. Os fatores não 
relacionados ao trabalho referem-se a características pessoais comuns a todos os 
portadores destas afecções. Enquanto que os relacionados ao trabalho envolvem as 
características da situaçãodo trabalho como um todo, ou seja, características do 
posto e ambiente de trabalho, da natureza e conteúdo do trabalho ou atividade em 
questão, das máquinas, equipamentos e ferramentas de trabalho utilizadas para o 
cumprimento da atividade, do método ou técnicas de trabalho, dos materiais 
manuseados, das formas de organização do trabalho e gestões de problemas 
referentes a conforto, segurança e eficiência do trabalhador e a produção, a descrição 
das posturas e movimentos de trabalho adotados quanto a posições e amplitudes 
articulares e uso de força, e a adoção destes ao longo do tempo. 
Mesmo não sendo objetivo deste trabalho a discussão de aspectos 
externos ao trabalho, vale ressaltar que as pesquisas nesta área têm mostrado que 
não há evidências sobre a correlação dos fatores não relacionados ao trabalho e o 
desenvolvimento destas afecções. Os principais fatores estudados foram: sexo, idade, 
estado civil, raça, doenças anteriores, tempo de serviço, atividades ocupacionais 
18 
anteriores e forma física. Os resultados destes estudos apresentam-se controversos, 
parecendo não indicar risco significativo que explique a alta prevalência de LER entre 
o conjunto de trabalhadores de uma certa atividade (Bammer, 1993; Ayoub e Wittels, 
1989; Putz-Anderson, 1992; Wallace e Buckle, 1987). 
Por outro lado, os fatores relacionados ao trabalho vêm se evidenciando e 
se definindo ao longo do tempo como efetivamente associados à ocorrência destas 
afecções. Utilizando denominações diferentes e ponderando diferentemente os 
aspectos englobados nesta categoria, os diversos autores discutem praticamente os 
mesmos fatores. A seguir serão mencionados os fatores relacionados ao trabalho da 
maneira como são descritos pelos autores. 
Bammer (1993) analisa a ocorrência de LER na área de escritórios 
comparando os resultados obtidos por outros autores em estudos de caso que 
utilizaram a análise multivariada e outros estudos que utilizaram a análise univariada. 
Em seu artigo, a autora considera duas classes de fatores relacionados ao trabalho: 
os fatores biomecânicos e os fatores da organização do trabalho. A atividade de 
escritório analisada nestes estudos parece caracterizar-se por trabalhos em terminais 
de processamento de dados conforme as referências bibliográficas citadas pela 
autora. 
Ao comparar os fatores biomecânicos mencionados nos estudos, a autora 
encontra "alguma evidência de que trabalhar com certas articulações do corpo 
posicionadas em ângulos extremos está associado ao desenvolvimento da LER". 
Entretanto, quanto à adequação de mobiliário e equipamentos, Bammer não 
encontrou associação evidente com o problema, pois os resultados dos estudos foram 
controversos. Dos 7 estudos comparados, 3 não mostraram esta associação. Esta 
fraca associação entre os fatores biomecânicos e a freqüência de queixas de LERs 
encontrada por Bammer nos estudos analisados contradiz as outras duas resenhas 
realizadas sobre a questão que serão comentadas a seguir. Uma explicação para este 
19 
fato poderia ser a de que na área de escritórios, em países como EUA, Austrália e 
Alemanha (locais em que os estudos foram realizados), estes fatores biomecânicos 
são relativamente bem conhecidos e considerados no projeto e concepção de 
mobiliário e equipamentos para os usuários de terminais de micro-computador. 
No entanto, em relação aos fatores da organização do trabalho, a autora 
encontra evidente associação destes com as referidas disfunções músculo-
esqueléticas, tanto entre os estudos multivariados, como entre aqueles com análise 
univariada. Os fatores que repetidamente foram apontados pelos estudos como 
estando associados às LERs foram: (a) grande pressão do trabalho; (b) baixa 
autonomia, ou seja pouco controle sobre seu trabalho; (c) falta de ajuda ou apoio de 
colegas de trabalho, quer seja porque não podem ou porque não conseguem ajudar 
em momentos de pressão do trabalho; e (d) pouca variedade de tarefas. 
Ayoub e Wittels (1989) em uma resenha sobre a problemática da LER 
classificam os fatores relacionados ao trabalho em fatores ergonômicos e fatores de 
gestão administrativa. Os fatores ergonômicos são definidos como aqueles que estão 
relacionados à concepção e projeto de postos de trabalho, manuseio de materiais, 
ferramentas, máquinas, ambiente e conteúdo da atividade. Isto é, o fator ergonômico 
enfoca as deficiências da interface homem- máquina. Enquanto que o fator de gestão 
administrativa examina tudo o que diz respeito à qualidade de vida no trabalho. 
Estes autores entendem que o desenvolvimento das LERs são 
conseqüência direta de deficiências ergonômicas que podem ser verificadas a partir 
de três variáveis: 
1) A Adoção de Posturas Extremas encontradas em situações de trabalho 
onde os trabalhadores são obrigados a manter posturas fixas ou desempenhar 
movimentos que envolvam alcances extremos ou impróprios à estrutura músculo-
esquelética. 
20 
2) A Realização de Esforço Excessivo resultante de aplicação de grandes 
forças, ou nas situações de trabalho em que forças moderadas são aplicadas usando 
pequenos grupos musculares repetidamente ao longo do tempo com efeitos 
comparáveis ao primeiro caso citado. 
3) A Organização Temporal das tarefas e operações da atividade, ou seja, 
a freqüência com que movimentos estereotipados e repetitivos são realizados ao 
longo do tempo. 
Com relação ao fator de gestão administrativa, Ayoub e Wittels (1989) 
explicam que para compreender melhor o papel deste fator que constitui uma causa 
menos óbvia ao desenvolvimento das LERs, é preciso examinar algumas questões 
relacionadas à qualidade de vida no trabalho como: (1) a eficácia da direção de uma 
empresa em verificar e eliminar riscos potenciais, métodos de trabalho impróprios, e o 
uso de equipamentos e ferramentas inseguras impedindo que esta problemática 
torne-se grave; (2) a existência de atmosfera de aceitação das manifestações dos 
trabalhadores envolvidos com a atividade e o encorajamento do relato de riscos 
potenciais. Se o trabalhador não se sente seguro em seu emprego, ele estará menos 
propenso a relatar problemas e os riscos ficarão omitidos. No caso das LERs, este 
fator é importante porque o diagnóstico e tratamento precoces constituem o único 
método de acelerar o retorno do portador da doença ao trabalho; (3) a 
conscientização dos profissionais da área de saúde internos à empresa de seu papel 
na detecção da LER em seus estágios iniciais impedindo que o problema se agrave e 
no auxílio do estabelecimento de correlação da atividade com a afecção 
diagnosticada; (4) a aplicação do conhecimento dos engenheiros da empresa quanto 
às implicações ergonômicas na concepção de projetos e manutenção dos postos de 
trabalho, ou melhor, das situações de trabalho no sentido de minimizar os riscos 
contrários ao conforto, segurança e eficiência dos trabalhadores; (5) o entendimento, 
o estímulo e o apoio para que haja cooperação e real interação dessas três áreas 
21 
internas das empresas: direção e gerências, profissionais da área de saúde e o corpo 
de engenheiros. 
Wallace e Buckle (1987) em outra resenha preferem não agrupar os 
fatores relacionados ao trabalho em classes e optam por referirem-se a eles 
distintamente como: (1) Posturas Fixas; (2) Movimento e Força; (3) Variáveis da 
Atividade. 
As posturas fixas são definidas por envolver contração muscular estática 
por longos períodos de tempo, o que reduz a irrigação sangüínea dos músculos e 
provoca fadiga local, com sintomas de cansaço, dor e cãimbras. Os autores 
apresentam vários estudos que mostram que as posturas estáticas são induzidas pelo 
dimensionamento do posto de trabalho ("layout"). A concepção de posto de trabalho 
que não considerar as características da organização do trabalho e da interface 
homem-máquina reduz praticamente pela metade as possibilidades de mudanças 
posturais, mesmo seguindo orientaçõesantropométricas. Os autores são categóricos 
na caracterização deste risco: "onde a adoção de postura fixa não foi isolada como 
sendo um fator de risco, deve ser porque esta não é uma causa suficiente em si. 
Porém, ela deve estar interagindo ou complementando outros fatores de risco 
presentes." 
Wallace e Buckle (1987) apresentam vários estudos que mostram a 
associação entre repetitividade e emprego de força com a alta incidência de LER. E 
discutem alguns trabalhos que mostram a relação entre tipo de movimento ou postura 
adotada e a alta incidência de LER como: trabalhar com as mãos acima ou ao nível da 
altura do ombro, flexão e/ou abdução de ombro, flexão de pescoço, desvios de pulso, 
entre outros. O Anexo 2 apresenta um glossário das terrminologias empregadas para 
movimentos e posições corporais. 
As variáveis da atividade citadas por estes autores referem-se aos fatores 
psicossociais relacionados ao trabalho. Apesar dos autores ressaltarem a 
22 
necessidade de mais estudos para esclarecer a relação entre trabalho, stress e o 
sistema músculo-esquelético, os autores fazem questão de afirmar que muitos 
pesquisadores acreditam que a relação entre trabalho e estado de saúde é afetada 
pela organização do trabalho. E que estes fatores psicossociais podem contribuir no 
desenvolvimento de problemas músculo-esqueléticos. 
Para este terceiro grupo de fatores de risco, esses autores relacionam 
diversos estudos que, por abordarem diferentemente aspectos distintos desta 
categoria, ainda não possibilitam conclusões definitivas. Dentro desta categoria, os 
fatores citados que possivelmemte causam ou contribuem ao desenvolvimento destas 
disfunções músculo-esqueléticas são: exigências do trabalho com pouco conteúdo 
cognitivo, tarefa fragmentada, falta de autonomia sobre as atividades diárias, ciclos de 
tempo de trabalho curtos, medo da redundância e perda de qualificação, 
relacionamento empregador-empregado insatisfatório, remuneração por produção e 
trabalho em turnos, e insatisfação no trabalho. Muitos destes fatores estão 
interrelacionados e não são independentes de outros parâmetros da atividade. 
Maeda (1977) comentando os estudos realizados pelo Comitê Japonês 
ressalta a importância dos fatores temporais em associação com os três fatores de 
risco descritos por este, quais sejam: (1) carga muscular dinâmica9 sentida pelos 
trabalhadores na movimentação repetitiva em alta velocidade de dedos, pulso e braço; 
(2) carga muscular estática10 também localizada em ombros, pescoço e algumas 
vezes braços; (3) esforço mental exigido que cresceu com a mecanização, a 
especialização da tarefa e o aumento do ritmo de trabalho. A interação entre os 
fatores temporais e os três fatores referidos é exemplificada por Maeda com duas 
situações: a longa duração de um mesmo trabalho repetitivo contínuo e a não 
possibilidade de inserir períodos de pausas espontâneos suficientes para uma 
9 Repercussões fisiológicas da atividade muscular dinâmica, isto é, da atividade muscular necessária para 
movimentar o segmento corporal. 
10 Repercussões fisiológicas da atividade muscular estática, ou seja, da atividade muscular necessária 
para a manutenção do posicionamento do segmento corporal sem sustentação externa. 
23 
recuperação ativa. O termo recuperação ativa é usado para ressaltar a concepção de 
que a sobrecarga muscular estática ou dinâmica deve ser aliviada através de 
exercícios físicos ou ginástica compensatória e prática de esportes. 
O aspecto temporal é muito enfatizado na análise postural já que as 
posturas de trabalho exprimem a maneira pela qual o organismo do trabalhador 
enfrenta os estímulos do mundo exterior, no caso da situação de trabalho, e se 
prepara para reagir. Isto é, a postura é uma atitude do corpo que prepara a ação, 
sustenta seu curso e garante a eficácia de sua execução (Laville, 1985). A atividade 
muscular estática refere-se à carga muscular necessária para a imobilização das 
peças do esqueleto em uma certa organização espacial dos segmentos corporais e a 
atividade muscular dinâmica refere-se à carga muscular que realiza o movimento dos 
segmentos corporais (Barreira, 1989; Duraffourg et ai., 1977). 
As posturas de trabalho estão situadas dentro de um processo contínuo e 
dinâmico de modificação de posturas. Por isso, elas devem ser analisadas sob dois 
aspectos indissociáveis: a postura propiamente dita e os encadeamentos posturais. 
Nesta perspectiva, as posturas devem ser analisadas através de sua duração 
(manutenção da postura), freqüência em que é adotada e período total de tempo ao 
longo do dia considerando as mudanças posturais para o cumprimento da atividade. 
(Barreira, 1989; Duraffourg et ai., 1977) 
Em 1982, Armstrong et ai. publicaram uma tabela com alguns dos mais 
conhecidos fatores de risco ocupacionais relatados em vários estudos. A partir desses 
vários estudos eles mostraram que as Lesões por Esforços Repetitivos em mãos e 
pulsos podem ser provocadas, precipitadas ou agravadas por repetitividade de 
movimentos associada com certas posturas de mãos e pulsos, particularmente se 
estiverem combinadas com uso de força. Os fatores de risco citados foram: (1) 
movimentos repetitivos usuais e não usuais de mãos; (2) movimentos repetitivos de 
flexão ou extensão extrema, particularmente em combinação com uso de pinça e 
24 
força; (3) mais de 2.000 manipulações por hora; (4) movimento repetitivo simples 
realizado em alta velocidade e com carga; (5) desvio radial do pulso repetidas vezes, 
particularmente em combinação com o uso do polegar com grande força; (6) desvio 
ulnar do pulso repetidas vezes, particularmente em combinação com o uso do polegar 
com grande força; (7) movimentos em esforço com o pulso fletido; (8) desvio ulnar do 
pulso com supinação; (9) desvio radial do pulso extendido; (10) rotações repetidas de 
pulso. 
Silverstein, Fine e Armstrong (1986) realizaram um estudo para comprovar 
se tarefas altamente repetitivas que exigiam muita força para seu cumprimento 
apresentavam associação positiva significativa com a ocorrência de LER em mãos e 
pulsos independente de outras variáveis como idade, sexo, tempo de serviço na 
mesma tarefa e tipo de indústria. Para este estudo os idealizadores selecionaram 574 
trabalhadores em 6 tipos de indústrias diferentes. Estes sujeitos estavam distribuídos 
igualmente entre os dois sexos, estratificados por idade e trabalhavam na mesma 
tarefa por pelo menos um ano. 
Uma vez que não havia estudos anteriores definindo os atributos de 
repetitividade e força, os autores definiram arbitrariamente categorias de baixa e alta 
repetitividade, e muito ou pouca força exigida para classsificarem as tarefas 
estudadas em 4 categorias de exposição: AR-MF(alta repetitividade e muita força); 
AR-PF(alta repetitividade e pouca força); PR-MF(pouca repetitividade e muita força); 
PR-PF(pouca repetitividade e pouca força). 
Para a definição das categorias de alta ou pouca repetitividade, os autores 
utilizaram os conceitos descritos por Gilbreth para fundamentar o Sistema de Tempos 
e Métodos (MTM-Methods-Time Measurement System). Este sistema baseia-se na 
descrição de atividades manuais através do conjunto de movimentos elementares 
utilizados para sua realização. Assim, ele descreve a atividade como um conjunto de 
tarefas. A tarefa é definida em termos de uma série de passos ou elementos. Os 
25 
elementos denominados "Therbligs" são descritos como movimentos ou operações 
fundamentais necessários para o desempenho da tarefa. Assim, o ciclo de tempo de 
trabalho é definido como o tempo necessário para completar uma seqüência de 
elementos ou a tarefa. Caso o ciclo de trabalho seja constituído por uma seqüência de 
operações que se repetem dentro de um ciclo de trabalho, esta seqüência é chamada 
de ciclo fundamental (OIT, 1983). 
A tarefa com alta repetitividade é definida como aquela cujo ciclo de tempo 
éigual ou menor que 30 segundos ou que tem mais de 50% do ciclo de trabalho 
envolvido no desempenho do mesmo ciclo fundamental. A tarefa com pouca 
repetitividade é a que tem um ciclo de tempo maior que 30 segundos ou que tem 
menos de 50% do ciclo de trabalho envolvido com um mesmo ciclo fundamental 
(Silverstein, Fine e Armstrong, 1986). 
Para definir as categorias de muita ou pouca força, Silverstein, Fine e 
Armstrong (1986) estabeleceram que as tarefas que exigiam muita força eram aquelas 
que tinham uma demanda média estimada de força na mão de mais de 4 kg. As 
tarefas que exigiam pouca força apresentavam uma demanda média estimada de 
força na mão menor que 1 kg. 
Os resultados desta pesquisa confirmaram que a combinação de exigência 
de força e alta repetitividade aumenta a magnitude da associação destas 
características com as LERs mais do que cada fator isoladamente. Além disso, os 
resultados mostram que a adoção de posturas inadequadas de mãos e pulsos podem 
acentuar o risco da ocorrência de LER isoladamente ou em combinação com a 
exigência de muita força e/ou alta repetitividade. O fator sexo não pôde ser 
adequadamente estimado porque homens e mulheres desempenhavam tarefas 
diferentes, mesmo dentro das categorias de exposição estudadas. Mesmo quando 
eles desempenhavam a mesma tarefa, as mulheres apresentavam maior risco para 
algumas das afecções do conjunto daquelas conhecidas como LER e não para todas. 
26 
Para os autores, este fato parece ser função do aumento da carga postural sofrida 
pelas trabalhadoras devido à sua estatura. 
Os principais fatores de risco predisponentes às LERs em ombros 
apontados por Sommerich et ai. (1993) em revisão de artigos e estudos são: (1) 
adoção de posturas inadequadas como extensão de ombro, e abdução e/ou flexão de 
ombro realizadas em trabalhos ao nível dos ombros ou acima destes; (2) tarefas que 
exigem rápidos e repetitivos movimentos dos braços, mãos e dedos que por serem 
realizados sem suporte podem ocasionar aumento da tensão muscular em todo o 
braço durante o trabalho; (3) demanda física leve, porém em ciclos de trabalho curtos; 
(4) manusear ou transportar cargas com as mãos ou braços, e/ou sustentar ou 
transportar cargas diretamente nos ombros; (5) falta de repouso suficiente, pois 
quando a atividade é composta por uma tarefa ocasional diferente da repetitiva ou 
mesmo em atividades com tarefas de curtos ciclos de trabalho que proporcionam 
micropausas maiores que 2 segundos ocorre menor freqüência de queixas de 
disfunçòes músculo-esqueléticas. 
Atendendo uma demanda do Departamento de Saúde e Segurança 
Ocupacionais americano, "OSHA"-"Occupational Safety and Health Administration", 
Keyserling e colaboradores (1993) desenvolveram um guia de análise (check-list) para 
avaliação ergonômica de situações de trabalho no sentido de identificar riscos 
biomecânicos predisponentes à ocorrência de LER. A idéia deste guia de análise faz 
parte das recomendações para efetivar um programa de controle à LER discutido 
anteriormente nas estratégias de prevenção americanas no item sobre o panorama 
internacional. Este programa de controle americano incluía: análise sistematizada do 
local de trabalho para reconhecer, identificar e corrigir os fatores de riscos 
biomecânicos. 
Neste guia os fatores biomecânicos estão classificados em cinco 
categorias de exposição: 
27 
Repetitividade: Considera-se alta repetitividade, atividades que sejam 
cumpridas em no máximo 30 segundos (ciclo de trabalho igual ou menor a 30 
segundos) e/ou atividades que mantenham padrões de movimentos similares (ciclo 
fundamental) repetindo-se por mais de 50% do ciclo de trabalho, seguindo os padrões 
arbitrariamente estabelecidos por Silverstein et ai. (1986). 
Movimentos Manuais com Emprego de Força: Algumas atividades que 
exigem o emprego de força têm sido associadas com o incremento do risco às LERs: 
carregar ou usar ferramentas pesadas, o uso de facas ou tesouras para cortar, o uso 
de ferramentas pneumáticas para apertar parafusos, usar dedos ou a própria mão 
para moldar ou dar acabamento de superfície em peças ou materiais,. Além disso, 
algumas condições de trabalho podem aumentar a magnitude do esforço muscular e o 
resultante desgaste dos tecidos músculo-esqueléticos das extremidades superiores: 
usar luvas protetoras, pouca fricção entre os dedos e o objeto que deve ser pego ou 
segurado e o uso de posturas biomecanicamente ineficientes tais como pega em 
pinça. O valor da carga considerado como muita força, para as tarefas de levantar, 
carregar, empurrar ou puxar objetos é maior que 4,5Kg considerando o esforço 
individual de uma mão. Entretanto quando há associação de carga com freqüência do 
emprego de força, isto é, nos casos em que o operador tiver que pegar ou segurar 
uma peça ou ferramenta que pese mais do que 2,7Kg por mão (ou 5,4Kg usando as 
duas mãos) regularmente ou principalmente em mais de 1/3 do ciclo de trabalho, 
considerar-se-á emprego de muita força. 
Posturas inadequadas dos membros superiores: Algumas posturas de 
mãos, pulsos, ante-braços e ombros têm sido associadas a diferentes afecções do 
grupo das LERs. São elas: pega em pinça, desvios de pulso em flexão ou extensão e 
desvios radiais ou ulnares de pulso, ante-braço supinado ou pronado, e ombro fletido 
ou abduzido. Os autores lembram que as posturas de trabalho são influenciadas pela 
interação de fatores ocupacionais e individuais que incluem: dimensionamento do 
28 
posto de trabalho, características dos equipamentos e ferramentas como formato e 
orientação dos comandos ou cabos, e características antropométricas do trabalhador. 
Pressão mecânica localizada por contato: A pressão localizada é 
provocada pelo contato físico de cantos retos ou ponteagudos de um objeto ou 
ferramenta com tecidos moles do corpo. Por exemplo: a compressão nas laterais e 
porção dorsal dos dedos ao usar tesoura que tenha cabo em anel ou a compressão 
na palma da mão quando a mão espalmada é usada para dar pancadas ou golpes, ou 
ainda segurando e dando aperto com chave de fenda de cabo com diâmetro pequeno 
apoiada na palma da mão. 
Uso de ferramentas manuais: Estudos têm demonstrado a associação de 
exposição a vibração segmentar e baixas temperaturas como fatores causais de 
decréscimo de destreza manual, aumento de força de preensão e desenvolvimento de 
LER. Vibração localizada pode ocorrer com o uso de ferramentas elétricas. Vibração 
segmentar pode também ocorrer durante operações de acabamento de superfície 
como segurar peça contra uma ferramenta cortante de afiar ou amolador de segurar 
na mão. A ferramenta também pode estar envolvida com exposição a baixas 
temperaturas. O ar expirado pela ferramenta pneumática pode estar direcionado 
diretamente para os dedos e provocar resfriamento destes ou da própria ferramenta 
devido à absorção de calor por expansão do ar. O acionamento em gatilho pode exigir 
mais rapidez na sua ativação durante certas operações de montagem. A ferramenta 
pode ainda exigir mais esforço manual, principalmente se está mal balanceada ou 
transmitir torques reativos elevados. 
Theorell (1992) ressaltou em sua conferência que muitos estudos têm 
demonstrado forte correlação entre fatores psicossociais do trabalho e a 
sintomatologia encontrada no aparelho músculo-esquelético. Segundo este 
pesquisador do Instituto de Fatores Psicossociais e Saúde do Hospital Karolinska, em 
Estocolmo, estas relações parecem variar consideravelmente conforme a população 
29 
estudada. Citando dados encontrados na literatura, certos mecanismos de defesa 
parecem ser apropriados apenas em certas ocupações, o que indica ser a interação 
entre o mecanismo de defesa e a atividade realizada que deva ser o fenômeno 
relevante a ser estudado. 
Generalizadamente, esse autor agrupa as dimensões psicossociais do 
trabalho estudadas em: demandas psicológicas, grau de autonomiaou latitude de 
decisão, conteúdo cognitivo da atividade e variáveis de suporte social. 
Theorell (1992) afirma que seu grupo de pesquisa (MUSIC) tem 
encontrado dados que corroboram resultados apresentados por outros autores. Estes 
estudos mostram que os fatores de maior associação com as disfunções músculo-
esqueléticas na região cervical e ombros eram altas demandas psicológicas e pouco 
suporte social. No entanto, o autor faz uma observação interessante de que neste 
mesmo estudo realizado por seu grupo, altas demandas psicológicas estavam 
associadas a um alto limiar de dor habitual e a uma prevalência aumentada de pontos 
de tensão na região cervical e dos ombros. Para ele, esta combinação pode apontar 
para a importância da elevação do limiar de dor que pode influenciar as pessoas a 
desobedecer sinais corporais de advertência, aumentando o risco de disfunções 
crônicas. 
No sentido de esclarecer melhor a associação dos fatores psicossociais e 
a sintomatologia no sistema locomotor, este pesquisador sugere que sejam feitos 
mais estudos longitudinais prospectivos, posto que a maioria dos estudos realizados 
até hoje é do tipo transversal. 
30 
1.1.8. Ergonomia e o Método da Análise da Atividade na 
Prevenção da LER 
Grandjean (1980) define a Ergonomia como um estudo do comportamento 
humano na relação com seu trabalho. O objeto de sua pesquisa é o ser humano em 
seu trabalho na relação com todos os aspectos envolvidos com este último. A 
pesquisa ergonômica é usada para adaptação das condições de trabalho à natureza 
psíquica e física do ser humano, o que resulta no princípio mais importante da 
Ergonomia que é a adaptação da atividade ao homem. 
A definição de Wisner (1987) ressalta o aspecto pragmático da Ergonomia: 
"a Ergonomia é o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e 
necessários para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que possam 
ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficácia". Ele afirma que "a 
prática ergonômica é uma arte (como se diz da arte médica e da arte do engenheiro) 
que utiliza técnicas e se baseia em conhecimentos científicos. Essa prática é 
caracterizada por uma metodologia própria". 
Montmollin (1967) reafirma, também, que é a metodologia utilizada que 
caracteriza a Ergonomia. Para ele, a melhor definição para a Ergonomia seria dizer 
que é uma "tecnologia de comunicação entre os sistemas homem-máquina", o termo 
máquina refere-se aos dispositivos, ferramentas, painéis etc, o termo homem pode 
referir-se a cada trabalhador ou grupo de trabalhadores, e comunicação porque ele 
está se referindo ao conjunto de sinais e respostas trocados por este binômio. Para 
Montmollin, o trabalho pode ser definido pelas comunicações entre o homem e a 
máquina. O termo tecnologia foi empregado porque ele entende que Ergonomia é 
menos que ciência e mais que técnica, isto é, a Ergonomia coloca em ação um 
conjunto de ciências e técnicas. Ressalta, assim, o aspecto interdisciplinar porque não 
se constitui um prolongamento de uma única ciência e seu aspecto aplicado porque 
31 
não se propõe exclusivamente ao estudo, mas ao aperfeiçoamento do sistema 
homem-máquina. 
A Ergonomia, como ciência e prática, tem mostrado que a interação do 
homem com sua situação de trabalho é afetada pelo posto de trabalho, o ambiente 
físico de trabalho e o ambiente social ou forma de organização do trabalho e, também, 
por fatores externos a esta atividade. Mais que isto, a Ergonomia mostra que esta 
interação pode ou não trazer prejuízos à saúde e segurança do trabalhador, e caso 
exista risco de algum prejuízo, uma análise ergonômica da atividade é requerida para 
a identificação dos fatores causais deste relacionados ao trabalho de modo a 
possibilitar uma intervenção ergonômica corretiva (Wilson e Corlett, 1990). 
Putz-Anderson (1992) ressalta a importância da análise da atividade como 
um instrumento útil na identificação de fatores de risco predisponentes às LERs antes 
mesmo dos trabalhadores manifestarem suas queixas. Além disso, a análise da 
atividade pode ser usada para avaliar a eficácia da intervenção ergonômica, sem que 
seja preciso esperar uma redução no número de queixas. Tão logo a análise da 
atividade tenha estabelecido diagnóstico da situação de trabalho sobre as prováveis 
fontes de LER, um plano de controle e prevenção pode ser elaborado. 
A análise da atividade consiste numa etapa inicial e vital dos estudos 
ergonômicos. Uma intervenção ergonômica é resultante de uma análise da atividade 
que investiga dois tipos diferentes de informação, principalmente: (1) os efeitos a 
curto, médio e longo prazo de uma situação de trabalho existente sobre o grupo de 
sujeitos desta, considerando suas caracterísiticas físicas e psicossociais; e (2) o que 
seria conveniente mudar nesta situação que permitiria a supressão ou atenuação de 
condições que pudessem comprometer ou degradar o estado de saúde desta 
população (Duraffourg, 1985). 
Todas as técnicas de análise da atividade têm como objetivo produzir 
informações relevantes tanto para a avaliação de uma situação de trabalho existente, 
32 
como para a concepção de uma nova. Seu objetivo é alcançado através de análise 
sistemática de três componentes da atividade: (1) as exigências requeridas pela 
natureza e conteúdo da atividade; (2) as limitações impostas aos trabalhadores pelo 
ambiente de trabalho, pelo dimensionamento do posto de trabalho e formas de 
organização do trabalho; e (3) estratégias comportamentais utilizadas por estes para 
cumprir as exigências requeridas (Stammers, Carey e Astley, 1990). 
A diferença entre os instrumentos de análise da atividade utilizados em 
diversas disciplinas reside no grau de refinamento utilizado na análise para atender a 
finalidade pretendida (Wisner, 1987). A análise da atividade distingue-se 
originariamente do estudo de métodos pela sua própria finalidade e, principalmente, 
porque enfoca as decisões do operador mais do que sua ações. Ou seja, procura-se 
conhecer as informações que devem ser tomadas pelos sujeitos, como eles 
interpretam-nas e decidem como agir (Stammers, Carey e Astley, 1990). 
A análise da atividade proposta por Putz-Anderson (1992) é constituída 
por uma descrição completa da atividade como um conjunto de tarefas e operações 
motoras, e do conteúdo de suas tarefas como exigências da atividade. Quando estas 
exigências excedem, com freqüência, a capacidade do trabalhador em respondê-las, 
esta situação de trabalho pode levar ao desenvolvimento da ocorrência de LER. Estas 
exigências da atividade podem representar fatores de risco biomecânicos e/ou 
organizacionais predisponentes às LERs. Por exemplo, com os componentes da 
atividade documentados, os fatores de risco biomecânicos para as LERs poderão ser 
prontamente identificados, como: as posturas inadequadas, a alta repetitividade, o 
esforço mantido, e os desgastes mecânicos excessivos (emprego de força, forças 
aplicadas contra os tecidos das mãos, braços ou ombros). A tarefa mais difícil é 
determinar se aqueles fatores de risco biomecânicos descritos exigem mais do que o 
limite aceitável para as capacidades humanas. Felizmente há referências 
antropométricas e ergonômicas disponíveis para ajudar neste julgamento (Putz-
Anderson, 1992). 
33 
A análise da atividade para identificação de fatores de risco às LERs foi o 
instrumento metodológico utilizado por Hünting, Grandjean e Maeda (1980) para 
estudar possíveis soluções para o posto de trabalho de 119 operadoras de máquina 
de somar com idade entre 17 e 29 anos que apresentaram uma incidência duas vezes 
maior de disfunções músculo-esqueléticas em mãos e braços em relação a um grupo 
de 57 atendentes de loja de departamentos com a mesma faixa etária. A metodologia 
utilizada foi análise da atividade associada à análise das posturas de trabalho 
adotadas, à investigação sobre reclamações físicasatravés da aplicação do 
questionário japonês para OCDs, e mensuração das dimensões do posto de trabalho. 
Os resultados mostraram que efetivamente as queixas das operadoras de dores, 
cansaço e crepitação em braços e mãos significativamente mais freqüentes no lado 
direito que no lado esquerdo tinham relação com as posturas de trabalho adotadas. O 
lado direito realmente sofria uma carga de trabalho diferenciada pois a mão direita 
digitava no teclado da máquina com movimentos repetitivos em alta velocidade. Os 
resultados obtidos permitiram que os autores propusessem modificações no projeto 
de dimensionamento do posto de trabalho para eliminar o desvio ulnar da mão direita 
e favorecer a adoção de ângulos de conforto para o pescoço, cotovelos e ombros; 
modificações nas características de legibilidade dos documentos a serem digitados; e 
a existência de um suporte para a mão ou ante-braço direitos. 
Hünting, Láubli e Grandjean (1981) analisaram comparativamente as 
cargas postural e visual em dois grupos de trabalhadores que realizavam atividades 
que utilizavam terminais de processamento eletrônico de dados e dois outros grupos-
controle diferentes. Os autores correlacionaram queixas visuais e músculo-
esqueléticas com as principais exigências das atividades, as características 
dimensionais do posto de trabalho e as posturas adotadas. A análise da atividade 
caracterizou os componentes das atividades e as cargas postural e visual foram 
analisadas com base em observações e questionários aplicados nos trabalhadores 
sobre queixas músculo-esqueléticas e visuais. Os autores mostraram que as queixas, 
34 
referidas pelos trabalhadores, de cansaço e dores no corpo (sintomas de 
desenvolvimento de disfunções músculo-esqueléticas) e olhos estavam 
correlacionadas às principais exigências das atividades e à adoção de determinadas 
posturas inadequadas, sendo que estas últimas eram resultantes das limitações 
impostas pelo dimensionamento do posto de trabalho. 
Armstrong et ai. (1982) em um estudo de caso num frigorífico, concluem, 
também, que um bom diagnóstico da situação de trabalho identifica pontos críticos em 
dimensionamento do posto de trabalho, dimensões e estado de uso dos instrumentos 
de trabalho e características das exigências da tarefa e dos matérias necessários para 
seu cumprimento que podem ser modificados a ponto de eliminar as posturas e 
movimentos conhecidos como fatores causais preponderantes ao aparecimento 
destas disfunções. A metodologia utilizada para este diagnóstico da situação de 
trabalho foi a análise da atividade, a análise das posturas e movimentos adotados e o 
emprego de força. A análise das posturas e movimentos adotados e o emprego de 
força foram realizadas a partir de gravações em vídeo e registros eletromiográficos. 
Diversos fatores relacionados à atividade presentes nas situações de 
trabalho devem ser considerados para se pensar em melhores soluções para a 
eliminação ou minimização de alta prevalência de casos de LER. Dentre estes fatores 
pode-se citar: (1) natureza da tarefa, ou seja, quais as exigências colocadas para o 
trabalhador como tipo de solicitação física e mental; (2) fatores físicos ambientais, isto 
é, quais são as condições de iluminação, temperatura, ruído e ventilação existentes; 
(3) fatores físicos materiais, ou como é o dimensionamento do posto de trabalho e 
quais os dimensionamentos e estado de uso dos instrumentos de trabalho; (4) fatores 
temporais relacionados a ritmo, freqüência e período de trabalho, duração da jornada 
e sua localização no tempo e existência de pausas; (5) fatores econômicos e sociais 
como tipo de remuneração e benefícios oferecidos, isto é se a remuneração é por 
produção ou se há prêmio-produção (Barreira, 1989; Rocha, 1989; Maeda, 1977). 
35 
1.2. Objetivos 
O objetivo geral deste estudo é a identificação dos fatores de risco 
relacionados ao trabalho predisponentes às Lesões por Esforços Repetitivos em uma 
atividade manual repetitiva com alta prevalência de LER. 
Os objetivos específicos são: (1) Utilizar o método da Análise Ergonômica 
da Atividade na identificação dos fatores de risco presentes na situação de trabalho 
estudada; (2) Anajisar a movimentação e posturas de trabalho adotadas através de 
uma gravação em vídeo dos modos operatórios utilizados pelas operadoras; (3) 
Relacionar os fatores de riscos encontrados na situação de trabalho estudada com as 
queixas de desconforto e dores referidas pelas operadoras. 
36 
2. MÉTODO 
37 
Sete empresas de diferentes ramos de atividade econômica (2 
metalúrgicas, 2 eletro-eletrônicas, 2 químicas e 1 alimentícia) que vinham 
apresentando crescente ocorrência de LER entre seus funcionários manifestaram 
interesse em estudar ou conhecer a metodologia ergonômica para reconhecimento e 
identificação dos fatores causais predisponentes a estas afecções presentes nas 
situações de trabalho. 
Apenas a direção de uma destas empresas contactadas aceitou o projeto 
proposto e os critérios para escolha da atividade a ser estudada, quais sejam: (1) a 
atividade a ser estudada deveria ser constituída por uma tarefa manual repetitiva 
segundo a definição de Silverstein, Fine e Armstrong, 1986, isto é, apresentar ciclo de 
trabalho menor que 30 segundos ou ter mais de 50% do ciclo de trabalho com uma 
mesma seqüência de movimentos repetitivos de mãos e braços; (2) apresentar alta 
prevalência de LER e haver interesse da direção em realizar uma intervenção 
ergonômica corretiva. 
Os Departamentos de Saúde e de Segurança desta empresa escolheram 
dentro dos critérios apresentados pelo projeto proposto a atividade das operadoras 
das máquinas de teste elétrico do Setor de Teste Elétrico da Fábrica de Preservativos. 
Isto é, esta atividade foi escolhida por apresentar as maiores freqüências de queixas 
de sintomatologia de disfunções músculo-esqueléticas em mãos, braços, ombros e 
região cervical no Departamento Médico e porque por várias vezes foi tentado 
melhorar esta situação de trabalho com algumas modificações no projeto das 
máquinas. No entanto, estas modificações não foram suficientes para eliminar as 
queixas e o Departamento de Segurança continuava interessado em realizar uma 
intervenção ergonômica. Embora o Departamento Médico confirmasse a alta 
prevalência de LER neste setor, os registros de casos de LER não foram fornecidos. 
38 
2.1. Características da População Estudada 
Na época do estudo, o Setor de Teste Elétrico estava funcionando apenas 
no 1o turno com 9 funcionárias operando as máquinas de teste elétrico. Apesar do 
Setor comportar 8 operadoras de teste elétrico, uma nona funcionária estava treinada 
para substituir uma das 8 quando esta estivesse sentindo dores ou intenso cansaço. A 
Tabela 1 apresenta a distribuição das operadoras segundo idade, altura, peso, estado 
civil, tempo de função e grau de escolaridade a partir de dados fornecidos pelas 
próprias operadoras em agosto de 1991. 
Tabela 1: Distribuição das operadoras segundo idade, altura, peso, estado civil, tempo 
de função e escolaridade do Setor de Teste Elétrico. 
OPERA-
DORAS 
IDADE 
(anos) 
ALTURA 
(metros) 
PESO 
(Kg.) 
ESTADO 
CIVIL 
TEMPO 
de 
FUNÇÃO 
(anos) 
ESCOLARIDADE 
A 23 1,67 54 solteira 4 2°G.Comp. 
B 25 1,58 60 solteira 3 2°G.Comp. 
C 29 1,68 67 solteira 5 2°G.Comp. 
D 29 1,63 62 casada 3meses 1°G.Comp. 
E 30 1,65 59 casada 5 Sup.Comp. 
F 32 1,59 62 casada 12 1°G.Comp. 
G 39 1,54 63 casada 5 1°G.lncomp. 
H 40 1,62 60 viúva 5 1°G.lncomp. 
I 40 1,58 48,5 casada 12 2°G.Comp. 
Média 31,9 1,61 59,5 5,69 
39 
2.2. Análise da Atividade 
A análise ergonômica da atividade foi realizada com base na metodologia 
proposta por Duraffourg (1985), que consiste basicamente de observação direta da 
situação de trabalho e de diálogo com os trabalhadores. A análise da movimentação 
gestual foi realizada através de gravações em vídeo, conforme proposta de Buckle

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