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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Instituto de Psicologia Fatores de Risco de Lesões por Esforços Repetitivos em uma Atividade Manual Thaís Helena de Carvalho Barreira Dissertação apresentada ao Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Psicologia. Área de concentração: Psicologia Experimental Orientador: Prof. Dr. Klaus Bruno Tiedemann São Paulo 1994 II AGRADECIMENTOS Num processo tão longo convivemos com muitas emoções e muitas pessoas. Há momentos de muitas dúvidas, medos, ansiedades e frustração. Porém, gostaria de lembrar e valorizar a solidariedade, o apoio, respeito, atenção e carinho que recebi durante todo o processo que resultou neste trabalho. À Dra. Regina Heloísa Maciel, professora e amiga, pela seu incentivo, apoio e presença constante. Obrigada por sua orientação, disponibilidade, atenção e confiança. Ao Dr. Klaus Bruno Tiedeman por garantir a concretização deste trabalho. Obrigada por suas críticas, questionamentos e sugestões que muito enriqueceram este trabalho e incentivaram meu aprimoramento acadêmico. À Dra. Leda Leal Ferreira, você que colaborou para o início de todo este trabalho, meu muito obrigada por seu apoio e orientação. Sem seu incentivo, esta idéia não teria se desenvolvido. Aos amigos e companheiros que me acompanharam neste período, pela solidariedade, carinho e paciência em todo este processo. Às operadoras do teste elétrico que participaram desta pesquisa, pela dedicação, interesse é respeito por este trabalho. À Marli Costa, por seu apoio e auxílio na coleta de dados. A meus pais por terem me possibilitado este caminho. III Barreira, Thaís Helena de Carvalho. Fatores de Risco de Lesões por Esforços Repetitivos em uma Atividade Manual. São Paulo, 1994. Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. RESUMO A prevenção ao desenvolvimento de Lesões por Esforços Repetitivos entre os trabalhadores de uma situação de trabalho depende da implementação de medidas de controle e eliminação de fatores de risco relacionados ao trabalho. Por constituir uma atividade manual repetitiva que apresentava alta prevalência de LER, a atividade das operadoras de teste elétrico de uma fábrica de preservativos foi estudada para a identificação e reconhecimento dos fatores de risco presentes. A análise ergonômica da atividade e a análise de gravação em vídeo das posturas e movimentos adotados pelas operadoras foram utilizados para a identificação dos fatores de risco biomecânicos e organizacionais presentes nesta situação de trabalho. A análise ergonômica da atividade foi realizada através de observação direta da realização da atividade no posto de trabalho e de entrevistas semi-dirigidas com as operadoras. As entrevistas com as operadoras confirmaram a existência de alta freqüência de dores músculo-esqueléticas em ombros, braços e mãos, e relato de intenso cansaço geral. Os resultados do estudo mostraram a presença de fatores biomecânicos e psicossociais predisponentes à LER reconhecidos pela literatura. Os quatro fatores biomecânicos identificados foram: (1) alta repetitividade (ciclo de tempo da tarefa menor que 30 segundos), (2) emprego repetitivo de força em dedos e pulso associado a posturas críticas de pulso, (3) posturas inadequadas de ombros, antebraços, pulsos e dedos, e (4) contato mecânico da bainha do preservativo com as porções laterais dos dedos. Os fatores psicossociais encontrados foram: (1) pouca variedade no conteúdo da atividade, (2) controle limitado da operadora sobre seu trabalho, (3) grande pressão para atingir alto volume de produção, (4) responsabilidade na detecção de defeitos nos preservativos e (5) não possibilidade de apoio mútuo entre as operadoras. IV Barreira, Thaís Helena de Carvalho. Risk factors to Repetitive Strain Injuries: an analysis of a manual job. São Paulo, 1994. ABSTRACT Repetitive Strain Injuries prevention among workers of an specific job depends on the implementation of control measures and the elimination of risk factors related to work. The operators'job of an Electric Test Section of a male contraceptives factory was investigated in order to identify and recognize its risk factors. Task analysis and video analysis of postures and movements adopted by the operators were used to identify biomechanics and organizational risk factors. Observations and interviews were used for the task analysis. The interviews with the operators confirmed the existence of high frequency of complaints of musculoskeletal pains on shoulders, arms and hands. The operators also complained of generalized intense tiredness. The results showed the presence of biomechanics and psicossocial risk factors to Repetitive Strain Injuries stressed by authors in the literature. Four biomechanics risk factors were identified: (1) high repetitiveness (work cicle time less than 30 seconds); (2) repetitive forceful exertions by fingers and wrists associated to criticai postures of wrists; (3) constrained postures of shoulders, forearms, wrists and fingers; (4) mechanical contact by the condonfs material with the lateral fingers; (5) no rest breaks. The psicossocial factors found were: (1) reduced diversity in tasks performed; (2) reduced control overwork; (3) high work pressure; (4) responsability for the inspection of defects on condoms, and (5) no social support among workers. V SUMARIO 1. INTRODUÇÃO 1 1.1. LER: Lesões Por Esforços Repetitivos 2 1.1.1. Definições 2 1.1.2. As Causas Sociais 3 1.1.3. A Problemática no Brasil 4 1.1 A- A Evolução Clínica 8 1.1.5. Diagnóstico, Formas Clínicas e Patofisiologia Subjacente 10 1.1.6. A Prevenção da LER no Mundo 11 1.1.7. Fatores de Risco 16 1.1.8. Ergonomia e o Método da Análise da Atividade na Prevenção da LER 30 1.2. Objetivos do Estudo 35 2. MÉTODO 36 2.1. Características da População Estudada 38 2.2. Análise da Atividade 39 2.2.1. Reunião Introdutória 39 2.2.2. Observação Direta 39 2.2.3. Questionário e Entrevistas Semi-Dirigidas 40 2.2.4. Gravações em Vídeo dos Modos Operatórios Empregados 42 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 44 3.1. Caracterização da Situação de Trabalho 45 3.1.1. Caracterização da Empresa 45 3.1.2. As Etapas do Processo de Produção 45 3.1.3. Características da Organização do Trabalho 46 3.1.4. A Jornada de Trabalho 48 3.1.5. Descrição do Posto de Trabalho 48 3.2. A Atividade das Operadoras 52 VI 3.2.1. A Tarefa de Encaixar nos Moldes 53 3.2.2. A Tarefa Complementar de Remexer o Monte 58 3.2.3. A Tarefa de Inspeção Visual 58 3.2.4. A Tarefa de Retirada dos Defeituosos dos Moldes 61 3.2.5. A Tarefa Complementar de Encaixar um Segundo Preservativo 62 3.2.6. As Tarefas Ocasionais 63 3.3. Volume e Ritmo de Produção 64 3.4. Variações no Ritmo de Trabalho e nos Modos O pe rato ri os 68 3.5. Habilidades Exigidas e Desenvolvidas 71 3.6. As Características do Material e o Desempenho das Tarefas 72 3.7. Particularidades dos Produtos Que Dificultavam a Tarefa 72 3.8. As Queixas Relatadas 73 3.9. As Modificações Propostas Pelas Operadoras 78 3.10. O Componente Emocional 78 3.11. O Posto de Trabalho e as Posturas Adotadas 80 3.12. A Localização das Dores e as Posturas e Movimentos Adotadas 86 3.12.1. A Dor nos Ombros e Braços 88 3.12.2. A Dor nas Mãos e Dedos 89 3.12.3. A Dor nas Costas 89 3.12.4. A Dor na Nuca 89 4. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES 90 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 96 6. ANEXOS 103 6.1. Anexo 1: NR-17 - Ergonomia 104 6.2. Anexo 2: Terminologia para Movimentos e Posições Corporais 109 6.3. Anexo 3: Questionário 111 6.4. Anexo 4: Entrevista Semi-Dirigida 112 1. INTRODUÇÃO 2 1.1. LER -Lesões por Esforços Repetitivos 1.1.1. Definições LER - Lesões por Esforços Repetitivos é uma denominação dada a um conjunto de disfunções músculo-esqueléticas em membros superiores e regiãocervical relacionadas ao trabalho. Em vários países está havendo um aumento na incidência dessas disfunções em trabalhadores de diferentes áreas. Na literatura existem referências principalmente aos trabalhadores que desempenham funções em indústrias eletrônicas, de alimentos, químicas, têxteis (confecções) e na área de serviços de telefonia e entrada de dados em terminal de computação (Maeda, 1977; Luopajarvi et ai., 1979; Wallace e Buckle, 1987; Ayoub e Wittels, 1989). O conjunto destas disfunções vem sendo objeto de diversos estudos e, conforme o país, têm recebido denominações diferentes. Na Austrália, os pesquisadores utilizam a denominação de "LER" ("Repetitive Strain lnjuries"-"RSI"), (Meyer, 1987; Bammer & Blignault, 1987), que é muito semelhante à denominação dada nos Estados Unidos de "Disfunções por Traumas Cumulativos" ("Cumulative Trauma Disorders"-"CTD"), (Armstrong et ai., 1982). Essas duas denominações enfatizam a relação do quadro clínico apresentado e a freqüência da atividade realizada. No Japão, esta síndrome é conhecida por "Disfunção Ocupacional Cérvico- Braquial" ("Occupational Cervico - Brachial Disorders" - "OCD"), (Maeda, 1977), que ressalta sua localização e a relação com a atividade ocupacional da pessoa. Na Escandinávia, a mesma síndrome foi estudada segundo sua localização anatômica como tenossinovite1, peritendinite2 e outras lesões das extremidades superiores, ou ainda síndrome cérvicobraquial3 ou disfunções ocupacionais do região cervical e membros superiores para esclarecer a especificidade da etiologia decorrente da 1 Inflamação aguda ou crônica dos tecidos sinoviais que envolvem os tendões. 2 Inflamação aguda ou crônica de tecidos moles adjacentes à transição tendão-músculo e ao tecido muscular. 3 Síndrome dolorosa provocada pela compressão do feixe neuro-vascular ao atravessar os músculos do pescoço, especialmente os escalenos. 3 atividade ocupacional (Kurppa et ai., 1979; Luopajarvi et ai., 1979; Waris, 1979; Waris et ai., 1979). Em 1988, por ocasião do 10°. Congresso da Associação Internacional de Ergonomia (IEA), em Sydnei, Austrália, um grupo de pesquisadores dos países nórdicos, Estados Unidos e Reino Unido reuniram-se para discutir este conjunto de disfunções músculo-esqueléticas. Uma das questões abordadas nesta reunião era de que não havia uma nomenclatura padronizada para designar estas disfunções. A necessidade de um consenso levou-os a criarem o termo "disfunções músculo- esqueléticas em membros superiores e região cervical relacionadas ao trabalho" ("work-related neck and upper limb disorders"), (Bammer, 1993). Porém, esta nomenclatura não foi adotada extensivamente e os termos antes mencionados foram mantidos em uso. No Brasil, durante muito tempo, o termo "tenossinovite" era o mais empregado, equivocadamente, para denominar este conjunto de disfunções músculo- esqueléticas em membros superiores e região cervical. Entretanto, como tenossinovite é a denominação de uma das afecções inflamatórias deste conjunto, oficialmente, a norma técnica do INSS de 1991 sobre esta problemática adotou o termo da Austrália, Lesões por Esforços Repetitivos. 1.1.2. As Causas Sociais O principal fenômeno social apontado como causa desse tipo de lesões é sempre a modernização do trabalho. O trabalho moderno é caracterizado pela mecanização, fragmentação, especialização e automação das tarefas industriais e informatização nas áreas de serviço. (Bammer, 1993; Putz-Anderson, 1992; Itani, 1988; Maeda, Hünting e Grandjean, 1980; Hünting, Grandjean e Maeda, 1980; Luopajarvi et ai., 1979) 4 Com a introdução dessas novas tecnologias houve um aumento do número de tarefas manuais repetitivas que concentram a solicitação física em mãos, braços, ombros e região cervical pela exigência de uma movimentação repetitiva e rápida de dedos, mãos e braços (Bammer,1993; Putz-Anderson, 1992; Luopajarvi et ai., 1979; Maeda, 1977). Esta solicitação física pode se apresentar de várias formas como movimentação repetitiva em alta velocidade e/ou de grande amplitude, adoção de posturas críticas, e exigência de força. Estes fatores biomecânicos podem aparecer isolada ou associadamente e podem ser agravados por exposição à vibração e ao frio (Keyserling et ai., 1993; Putz-Anderson, 1992). Quanto à forma de organização do trabalho e conteúdo do trabalho, o trabalho se transformou na direção de tarefas manuais que exigem grande precisão de movimentos realizados em curtos ciclos de tempo, alta repetitividade, intenso ritmo de trabalho, estimulando o aumento da produção individual através da competição por comparação dos volumes de produção ou oferecendo remuneração por produção para o trabalhador. Além disso, estes trabalhadores não tem diversificação de tarefas e são mantidos nas mesmas tarefas por muitos anos (Bammer, 1993; Putz-Anderson, 1992; Kilbom, 1988; Hunting, Grandjean e Maeda, 1980; Maeda, 1977). 1.1.3. A Problemática no Brasil No Brasil, esta síndrome era muito pouco conhecida e mal esclarecida até 1991. Hoje, porém, a situação quanto à terminologia empregada, diagnóstico e reconhecimento como moléstia profissional estão estabelecidos em várias normas técnicas, tanto estaduais como na mais recente norma do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social), MPS-1993 (BRASIL, 1993), aplicável para todo o país. A MPS-1993 constitui uma revisão da MTPS-1991 (BRASIL, 1991) que foi a primeira Norma Técnica para Avaliação de Incapacidade nos casos de Lesões por 5 Esforços Repetitivos - LER da Divisão de Perícias Médicas da Coordenação-Geral de Serviços Previdenciários do Instituto Nacional de Seguro Social. Esta norma serviu como apoio ao reconhecimento dessas afecções como doenças ocupacionais conforme já estava exposto na Portaria N.4062, de 6 de agosto de 1987 (MPAS, 1987). A Portaria de 1987 criou a possibilidade legal para que os casos de LER começassem a ser notificados oficialmente. A princípio o maior número de notificações eram encontradas entre a categoria de digitadores, que já tinham conhecimento da relação desta moléstia profissional e sua atividade. Tanto que o termo Lesões por Esforços Repetitivos já estava sendo proposto por alguns pesquisadores para caracterizar as disfunções apresentadas pelos digitadores em 1986 (Rocha, 1989). Com a divulgação da grande ocorrência de LER e de seus fatores causais, técnicos da área e outras categorias profissionais foram tomando conhecimento do problema e o número de notificações de LER em outras categorias também cresceu confirmando que esta problemática não era exclusiva aos digitadores. Na MTPS-1991 evidenciou-se que, com o reconhecimento da LER como doença profissional em 1987, a LER passou a ser a patologia mais freqüente entre as várias doenças profissionais que foram diagnosticadas pelo Grupamento Médico Pericial de Acidentes de Trabalho do INPS da região metropolitana da cidade de Belo Horizonte. Esta norma elucidava não apenas o nexo de causalidade entre a moléstia e a atividade ocupacional do indivíduo, mas, também, orientava, sob o ponto de vista médico, o diagnóstico, os estágios evolutivos e o tratamento destas afecções. Em 08/06/1992, a Secretaria Estadual de Saúde do Estado de São Paulo ratificou os aspectos já delineados na norma federal do INSS, MTPS-1991 e ampliou a abordagem da problemática no que diz respeito a medidas de prevenção e procedimentos técnico-administrativos na Resolução SS-197 (SES, 1992). Esta norma 6 estadual teve como objetivo, também, oferecer apoio técnico aos serviços de Medicina do Trabalho das empresas, aos profissionais das unidades do Sistema Único de Saúde e a todos aqueles que de alguma maneira vêm-sendo envolvidos com esta problemática. No mesmo ano, em 15 de dezembro, as Secretarias de Estado do Trabalho e da Ação Social e da Saúde de Minas Gerais assinaram a Resolução 245/92 ratificandoo conteúdo da Resolução Estadual de São Paulo sobre o assunto (SETAS, SES, 1992). Em março de 1993, a Divisão de Perícias Médicas da Coordenação Geral de Serviços Previdenciários do Ministério da Previdência Social apresentou uma revisão da antiga MPS-1991. A nova Norma Técnica para Avaliação da Incapacidade sobre LER teve como base as resoluções das Secretarias de Estado da Saúde dos estados de São Paulo e Minas Gerais, porém ressalta que ao diagnóstico de LER devem ser acrescidas especificações quanto às estruturas acometidas, assim como quanto aos segmentos envolvidos no processo, e ser referido, ainda, o código específico da forma clínica ou afecção diagnosticada conforme a Classificação Internacional de Doenças. Sob este último aspecto, esta resolução modifica as normatizações anteriores que mantinham o código de "Sinovite e Tenossinovite" para este conjunto de afecções. Estas normas, portanto, ratificam normativamente, em nosso país, a terminologia de Lesões por Esforços Repetitivos-LER para denominar "o conjunto de afecções de origem ocupacional que podem acometer tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias, ligamentos, isolada ou associadamente, com ou sem degeneração de tecidos, atingindo principalmente, porém não somente, os membros superiores, região escapular e pescoço decorrente de forma combinada ou não de: (a) uso repetitivo de grupos musculares; (b) uso forçado de grupos musculares; (c) manutenção de postura inadequada" (BRASIL, 1993; SES, 1992). 7 O Ministério do Trabalho também deu sua contribuição à prevenção da LER ao publicar a Portaria No. 3751 em novembro de 1990 (MTPS, 1990), que definia e recomendava formas de eliminação tanto dos fatores biomecânicos, como dos fatores organizacionais apontados como fatores de risco das LERs. Esta portaria veio alterar a Norma Regulamentadora de Ergonomia - NR17, inserida na Portaria MTb/GM No. 3214, de 08 de junho de 1978, a pedido do Sindicato de Processamento de Dados, principalmente. Nesta portaria, os aspectos abordados em 1978 foram melhor discriminados e pormenorizados, o princípio da Ergonomia foi exposto e a principal alteração foi introduzir regulamentações quanto à organização do trabalho. A NR-17 atualizada em 1990 (MTPS, 1990) encontra-se no Anexo 1. O princípio da Ergonomia é colocado no primeiro item: "esta norma regulamentadora visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psico-fisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente". Os itens subsequentes abordam sucessivamente: Levantamento, Transporte e Descarga Individual de Materiais; Mobiliário dos Postos de Trabalho; Equipamentos dos Postos de Trabalho, detalhando os equipamentos utilizados nas atividades de processamento eletrônico de dados; Condições Ambientais de Trabalho, definindo recomendações quanto a níveis de ruído, índice de temperatura efetiva, velocidade do ar e umidade relativa do ar para tarefas que exijam solicitação intelectual e atenção constantes; Organização do Trabalho, definida pelos aspectos de: normas de produção, modo operatório, exigência de tempo, determinação do conteúdo da tempo, ritmo de trabalho e conteúdo das tarefas. Há um subítem que define valores limites para alguns aspectos da organização do trabalho exclusivamente para atividades de processamento eletrônico de dados e um subítem que apesar de não definir valores quantitativos, estabelece regras básicas para todas as atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica do aparelho músculo-esquelético. 8 Como as atividades de processamento eletrônico de dados vinham sendo estudadas no Brasil desde 1984 (Maciel, 1984; Maciel, 1985) e no exterior há muito mais tempo, muita informação e conhecimento já tinha sido produzido. Por isso esta portaria define claramente alguns parâmetros para estas atividades. Por exemplo quanto à organização do trabalho, a partir de recomendações normativas do Ministério do Trabalho japonês de 1964, puderam ser estabelecidos limites para repetitividade dos movimentos de dedos e ritmo de trabalho (número de toques), período total de exposição por dia (jornada de trabalho diária nesta mesma atividade), período de tempo máximo de trabalho ininterrupto e período mínimo de tempo para recuperação e a determinação de que no retorno ao trabalho após qualquer tipo de afastamento igual ou superior a 15 dias não deve haver exigência de produção quanto ao ritmo de trabalho (Nakaseko, Tokunaga, Hokogawa, 1982). 1.1.4.- A Evolução Clínica Em 1984, três estágios clínicos diferentes foram definidos para estas disfunções músculo-esqueléticas por Browne et ai. citado na MTPS-1991. Primeiro o trabalhador sente dor e cansaço durante o turno de trabalho em uma ou mais regiões dos membros superiores e cervical, com melhora nos finais de semana, não apresentando alterações no exame físico e apresentando desempenho normal. Em seguida, aparecem dores recorrentes com sensação de cansaço persistente e distúrbios de sono, com incapacidade para o trabalho repetitivo; e no terceiro estágio a sensação de dor, fadiga e fraqueza é persistente, inclusive com repouso, gerando distúrbios de sono e presença de sinais físicos. Neste estágio, o trabalhador refere inclusive incapacidade para executar até tarefas não-ocupacionais leves. Enquanto no Japão foram definidos 5 estágios clínicos (ltani,1988), no Brasil, adotou-se a definição de quatro estágios clínicos evolutivos. Na MTPS-1991, argumenta-se que para cumprir os objetivos normativos e referenciais, a classificação 9 de Browne parecia muito condensada, por isso preferiu-se optar por enfatizar os extremos do curso clínico da doença. Os quatro estágios clínicos evolutivos estabelecidos foram: GRAU I- sensação de peso e desconforto no membro afetado. Dor espontânea localizada em membros superiores ou cintura escapular, às vezes com pontadas que aparecem em caráter ocasional durante a jornada de trabalho e não interferem na produtividade. É em geral leve e fugaz. Melhora com o repouso. Não há uma irradiação nítida. Os sinais clínicos estão ausentes. Tem bom prognóstico. GRAU II- A dor é mais persistente e mais intensa, e aparece durante a jornada de trabalho de modo intermitente. Pode haver uma irradiação definida. É tolerável e permite o desempenho da atividade profissional, mas já com reconhecida redução de produtividade nos períodos de exacerbação. A recuperação é mais demorada, mesmo com o repouso e a dor pode aparecer ocasionalmente quando fora do trabalho, durante as atividades domésticas. Os sinais, de modo geral, continuam ausentes. Prognóstico favorável. GRAU III- A dor torna-se mais persistente, é mais forte e tem irradiação mais definida. O repouso em geral só atenua a intensidade da dor, nem sempre fazendo-a desaparecer por completo. Há freqüentes paroxismos dolorosos mesmo fora do trabalho, especialmente à noite. É freqüente a perda da força muscular e parestesias. Há sensível queda da produtividade, quando não há a impossibilidade de executar a função. Os trabalhos domésticos são limitados ao mínimo e muitas vezes não são executados. Os sinais clínicos estão presentes. O edema é freqüente e recorrente, a hipertonia muscular é constante, as alterações de sensibilidade estão quase sempre presentes, especialmente nos paroxismos dolorosos acompanhados por manifestações vagas com palidez ou hiperemia e sudorese da mão. A mobilização ou palpação do grupo muscular acometido provoca dor forte. Nos quadros com comprometimento estenosante a eletromiografia pode estar alterada e o retorno à atividade produtiva é problemático. Prognóstico reservado. Grau IV- A dor é forte, contínua, por vezes insuportável, levando o paciente a intenso sofrimento. Os 10 movimentos acentuam consideravelmente a dor, que em geralse estende a todo o membro afetado. Os paroxismos de dor ocorrem mesmo quando o membro está imobilizado. A perda de força e a perda do controle dos movimentos se fazem constantes. O edema é persistente e podem aparecer deformidades, provavelmente por processos fibróticos, reduzindo a circulação linfática de retorno. As atrofias, principalmente dos dedos são comuns e atribuídas ao desuso. A capacidade de trabalho é anulada e a invalidez se caracteriza pela impossibilidade de um trabalho produtivo regular. Os atos da vida diária são também altamente prejudicados. Neste estágio são comuns as alterações psicológicas com quadros de depressão, ansiedade e angústia. Prognóstico sombrio (MPS-1993). 1.1.5. Diagnóstico, Formas Clínicas e Patofisiologia Subjacente Estas normas técnicas brasileiras citadas explicitam a idéia internacionalmente aceita de que o diagnóstico é essencialmente clínico e baseia-se na história clínico-ocupacional, no exame físico detalhado, nos exames complementares quando justificados e na análise das condições de trabalho responsáveis pelo aparecimento da lesão. Ayoub e Wittels (1989) referem que nos estágios iniciais a especificidade e a precisão do diagnóstico são difíceis de serem avaliadas, pois o diagnóstico inicial baseia-se em exame clínico e observação. Segundo estes autores, apenas em 20% dos casos existe a nacessidade de um teste especial ou análise em laboratório. As normas também descrevem a padronização da nomenclatura para o diagnóstico anátomo-funcional e as formas clínicas. As formas clínicas apresentadas nas normas técnicas MPS-1993 e SS-197/SP podem ser classificadas em dois grandes grupos conforme proposta de Ferguson (1984), citada em Bammer e Blignault (1987). Este autor argumenta que as LER podem ser divididas em: (a) síndromes localizadas e distintas do aparelho neuro-músculo-tendíneo, e (b) 11 complexas mais difusas e de sintomatologia mal definida, aparentemente muscular, dos quais pouco se sabe. O primeiro grupo inclui tenossinovite, peritendinite, epicondilite4, bursite5, síndrome do túnel do carpo6 e síndrome do desfiladeiro torácico7 entre outras. As disfunções do segundo grupo podem envolver músculos individualmente, grupos de músculos ou áreas mais extensas. Quando em fase aguda são freqüentemente descritos como "distensão muscular". Para condições crônicas vários termos são usados como: mialgia ocupacional, miosite, fibrosite e síndrome miofascial8. No Brasil, as normas estabeleceram o uso da nomenclatura miosite para estas afecções. Duas ou mais destas síndromes podem ocorrer simultaneamente; síndromes bem definidas podem coexistir com outras difusas. As miosites ocupacionais são recidivantes e invalidantes porque as microlesões musculares tornam o grupo de músculos mais suscetíveis a novas lesões. 1.1.6. A Prevenção da LER no Mundo O Japão foi um dos países pioneiros no estudo destas disfunções dolorosas em membros superiores e região cervical. A Associação Japonesa de Saúde Industrial organizou em 1971 um Comitê que deliberou sobre a definição e o diagnóstico da moléstia e propôs um questionário para ser aplicado aos trabalhadores para verificar os sintomas subjacentes e sofrimentos presentes no cotidiano das pessoas doentes no Japão. Em 1973, o Comitê, com base em inúmeros relatórios de 4 Processo inflamatório localizado na região do cotovelo que pode atingir tendões, fáscias musculares, músculos e tecidos sinoviais. Pode comprometer, ainda, o nervo ulnar ou radial em seu trajeto nesta região. 5 Processo inflamatório que acomete as bursas, pequenas bolsas de paredes finas colágenas e revestidas de membrana sinovial, encontradas em regiões onde os tecidos são submetidos à fricção, geralmente próximas a inserções tendinosas e articulações. 6 Síndrome dolorosa, acompanhada por impotência funcional atingindo primordialmente a face palmar dos Io, 2o e 3o dedos e da região tenar, principalmente do oponente do polegar decorrente da compressão do nervo mediano ao nível do carpo. 7 Síndrome dolorosa decorrente da compressão do plexo braquial em sua passagem pelo chamado desfiladeiro torácico, formado pela clavícula, primeira costela, músculos escalenos anterior e médio e fáscias dessa região. 8 Processos inflamatórios do próprio músculo que, pelo esforço e fadiga, podem sofrer ruptura de suas fibras elásticas, edema, degeneração e fibrose. 12 casos e exames, descreveu a prevalência e os fatores causais da moléstia e propôs que a denominação para esta moléstia fosse OCD- disfunções ocupacionais cérvico- braquiais diferenciando da síndrome cérvico-braquial e outras conhecidas moléstias profissionais. Maeda (1977) ressalta que isto era necessário porque esta última não incluía a patogênese relacionada ao trabalho em conexão com fadiga mental e geral, cansaço visual etc. A definição dada pelo Comitê a estas moléstia é de um distúrbio funcional ou orgânico produzido ocupacionalmente a partir de fadiga muscular e mental resultante de esforço estático e/ou repetitivo de músculos dos braços e mãos. No estudo de prevalência em 1974 numa amostra de 1.691.000 trabalhadores de empresas privadas com 30 ou mais empregados foi constatado que a porcentagem de trabalhadores em linhas de montagem que reclamavam de fadiga em ombros, braços e mãos devido ao trabalho era de 2 a 5 vezes maior que a encontrada em outros grupos de trabalhadores; dentro do grupo de pessoal de escritório apenas 4,0% reclamavam de OCD; entre o grupo de trabalhadores na área de transporte, 7,5% apresentavam reclamações; e dentro do grupo de operários da fábrica havia 5,7% dos que realizavam tarefas de vigilância apresentando estas reclamações, 11,6% dos que realizavam tarefas gerais, e 20,9% (mais que 1/5) dos que trabalhavam em linhas de montagem. Itani (1988) relata que os primeiros casos de "OCD", no Japão, foram notificados no final da década de 50 entre perfuradores de cartões de computador. Desde então o número de pessoas com OCD cresceu em várias categorias. Reconhecendo a seriedade desta problemática, trabalhadores, sindicatos, empresários e pesquisadores científicos exigiram que o Ministério do Trabalho instituísse medidas de prevenção e tratamento. Itani menciona que quatro normas foram publicadas até 1987. A primeira norma foi publicada em 1964 e regulamentava condições de trabalho para os perfuradores de cartões de computadores. Em 1973 as condições de trabalho dos operadores de caixas registradoras foram regulamentadas. Ainda em 1973, as notificações para reabilitação dos trabalhadores vitimados por 13 riscos ocupacionais na região cervical e cabeça foram regulamentadas. Em 1975, foram regulamentadas as condições de trabalho dos trabalhadores que utilizam ferramentas com gatilhos de acionamento. Na Suécia, os primeiros sinais de que estas disfunções músculo- esqueléticas localizadas em membros superiores e região cervical relacionadas ao trabalho estavam tornando-se um problema real vieram do Serviço Público de Saúde. Para o Serviço de Saúde Ocupacional estabelecido há 20 ou 30 anos, o surgimento de tantos casos era uma surpresa. O debate sobre o problema começou com os primeiros estudos japoneses e somente no início da década de 80 ganhou maior interesse e intensidade. A conclusão principal deste debate é de que a evolução clínica destas disfunções é muito variável e que era preciso concentrar esforços na prevenção e preferivelmemte na prevenção primária. Isto significava agir antes que ocorressem queixas de fadiga e dor. Para tanto, era necessário modificar as características físicas do posto de trabalho, mas também fazer modificações na organização de trabalho de maneira a tornar o trabalho mais variável e menos monótono, revezando tarefas mais desgastantes com outras diferentes destas. Assim, em 1984, foi criada uma regulamentação com 7 secções contendo recomendações que estabeleciamprincípios gerais sobre posturas de trabalho, ambiente de trabalho e carga física (Kilbom, 1988). Na Austrália, o surgimento de tantos casos de LER é explicado por Bammer e Martin (1992) a partir da história sócia-econômica recente do país. Antes da década de 70, este país viveu uma crescente estabilidade econômica e baixo nível de desemprego. Assim, muitas pessoas que começavam a apresentar disfunções músculo-esqueléticas relacionadas ao trabalho preferiam trocar de emprego a procurar receber indenizações por isso. Na década de 70, entretanto, a situação econômica mudou. A inflação e o crescente desemprego levou muitos trabalhadores a permanecerem em seus empregos e manterem-se em condições que eles teriam deixado em anos anteriores. Na rápida reestruturação industrial de 1970, novas 14 tecnologias foram introduzidas ostensivamente para manter a competitividade internacional enquanto o desemprego enfraquecia a capacidade dos sindicatos de se defenderem das tradicionais práticas de trabalho. Para a maioria dos trabalhadores, as mudanças introduzidas significaram intensificação do ritmo de trabalho, provocando maior solicitação física ao corpo e levando a um aumento no número de pessoas com queixas de dor e outras disfunções. A introdução de terminais de computação teve um impacto dramático em trabalhadores de escritórios, intensificando pelo menos dois principais fatores de risco biomecânicos predisponentes à LER: movimentação repetitiva rápida e carga estática de trabalho, geralmente combinada com adoção de posturas inadequadas. Além disso, a introdução do processamento eletrônico de dados acarretou modificações na organização do trabalho que incluiu: aumento na carga de trabalho e reduções na diversidade de tarefa, autonomia, controle e apoio solidário. Assim, na década de 70 começaram a aparecer os primeiros casos nos centros de saúde dos trabalhadores mantidos pelos sindicatos e, no final da década de 70, alguns médicos destes centros começaram a publicar a ocorrência de dor e disfunções músculo-esqueléticas entre trabalhadores manuais devido ao trabalho repetitivo e carga muscular estática. No início dos anos 80, outro grupo de profissionais de saúde começaram a escrever sobre problemas similares entre os trabalhadores de escritórios que eram atribuídos a esforço repetitivo e carga muscular estática, particularmente associada ao uso de terminais de computação. Com isso, no início dos anos 80 foi criada uma comissão tripartite para pensar formas de prevenção às LER e em 1986 esta comissão elaborou o "Model Code of Practice" que consistia em um conjunto de recomendações publicadas pelo Departamento de Saúde e Segurança Ocupacional ("National Occupational Health and Safety Commission") do governo australiano. A estratégia de prevenção criada consistia de recomendações sobre oito aspectos principais: (1) organização do 15 trabalho; (2) planejamento do trabalho; (3) diversidade de tarefas e pausas no trabalho; (4) períodos de ajustamento ao trabalho; (5) dimensionamento do posto de trabalho e concepção do ambiente de trabalho; (6) seleção tecnológica; (7) concepção de equipamentos; e (8) educação e treinamento (Bammere Martin, 1992). As "CTD" ou LERs são reconhecidas, nos Estados Unidos, como um motivo importante de significativo sofrimento humano, tempo perdido, perda de produtividade e custos sociais para as empresas e o Estado conforme está descrito em manual do Instituto Nacional de Saúde e Segurança no Trabalho ("NIOSH" - "National Institute for Occupational Safety and Health") editado por Putz-Anderson em 1992. A principal causa apontada para o aumento evidente na incidência da "CTD" é a intensificação do ritmo de trabalho, imposto por máquinas ou por padrões de produtividade. Além disso, durante os períodos de alto volume de produção, existe muito pouco tempo para descansos ou recuperação. Eles estimam que mais da metade de todos os trabalhadores estão envolvidos com atividades que contenham risco potencial às LERs. Estes fatores de risco foram agrupados em quatro categorias gerais: (1) nível de esforço, (2) repetitividade (quantidade e freqüência), (3) posturas adotadas e (4) ausência de repouso (tempo de recuperação). Entretanto, conforme o conhecimento sobre sua natureza e causas vai se disseminando pela sociedade, esta descobre que estas disfunções não podem ser aceitas como parte inerente das atividades e que , em sua maioria, elas podem ser prevenidas. Apesar da prevenção não ser uma forma de ação sempre simples, sabe- se que o risco encontra-se geralmente na maneira com que o trabalho é realizado ou como uma ferramenta tem que ser usada. Putz-Anderson (1992) recomenda a prevenção destas disfunções através de intervenções ergonômicas com modificações de dimensionamento de posto de trabalho e ferramentas, e alterações em técnicas de trabalho ou na própria tarefa em si no sentido de minimizar fontes de riscos biomecânicos. Outros fatores como 16 exigência de força, freqüência de movimentos e exposição à vibração devem ser minimizados mesmo que os níveis de segurança ainda não tenham sido determinados. Uma proposta estratégica de prevenção às disfunções músculo- esqueléticas foi elaborada pela NIOSH em 1985, porém diferente dos documentos australiano e sueco, esta proposta enfoca principalmente o processo de prevenção em si, mais do que especifica recomendações. A estratégia de prevenção das disfunções músculo-esqueléticas identifica necessidades de informação e pesquisa, tais como: (1) a necessidade de melhores estudos e informações quanto a diagnósticos, para identificação destas disfunções; (2) os tipos de pesquisas que precisam ser realizadas; (3) o papel dos setores públicos e privados na implementação e avaliação de intervenções propostas. 1.1.7. Fatores de Risco Os estudos realizados até o momento sobre esta temática mostram que a etiologia destas disfunções músculo-esqueléticas relacionadas ao trabalho localizadas em mãos, braços, ombros e região cervical é multicausal. Isto é, a ocorrência destas disfunções ocupacionais está correlecionada a mais de um fator e, principalmente, à associação de dois ou mais fatores de risco. Define-se fator de risco como um atributo ou exposição que aumenta a probabilidade de ocorrer a doença ou disfunção. O principal fator causai apontado está relacionado à natureza e conteúdo da atividade desempenhada, porém a interação dos diferentes fatores causais tem-se mostrado preponderante no desenvolvimento destas disfunções. A contribuição e a interação dos diferentes fatores de risco não foram ainda esclarecidas porque a maioria dos autores ainda apresentam forte tendência para o estudo de alguns dos fatores de risco relevantes isoladamente, apesar de reconhecerem a importância de sua 17 interação (Bammer, 1993; Ayoub e Wittels, 1989; Putz-Anderson, 1992; Wallace e Buckle, 1987). Os fatores de risco podem interagir de tal forma que um fator pode causar um tipo de disfunção em uma pessoa e outro tipo em outra. Sommerich et ai. (1993) exemplificam a repercussão desta associação multi-fatorial com uma situação de trabalho em que o trabalho é realizado acima do nível da cabeça. Este trabalho pode provocar o aparecimento de uma Síndrome do Desfiladeiro Torácico em um trabalhador e dor muscular em outro. Estes autores justificam as diferentes repercussões através da interação de outros fatores como dimensionamento do posto de trabalho, técnicas de trabalho empregadas e estrutura física dos trabalhadores. Os fatores de risco classificam-se em dois grandes grupos: os fatores relacionados ao trabalho e os fatores não relacionados ao trabalho. Os fatores não relacionados ao trabalho referem-se a características pessoais comuns a todos os portadores destas afecções. Enquanto que os relacionados ao trabalho envolvem as características da situaçãodo trabalho como um todo, ou seja, características do posto e ambiente de trabalho, da natureza e conteúdo do trabalho ou atividade em questão, das máquinas, equipamentos e ferramentas de trabalho utilizadas para o cumprimento da atividade, do método ou técnicas de trabalho, dos materiais manuseados, das formas de organização do trabalho e gestões de problemas referentes a conforto, segurança e eficiência do trabalhador e a produção, a descrição das posturas e movimentos de trabalho adotados quanto a posições e amplitudes articulares e uso de força, e a adoção destes ao longo do tempo. Mesmo não sendo objetivo deste trabalho a discussão de aspectos externos ao trabalho, vale ressaltar que as pesquisas nesta área têm mostrado que não há evidências sobre a correlação dos fatores não relacionados ao trabalho e o desenvolvimento destas afecções. Os principais fatores estudados foram: sexo, idade, estado civil, raça, doenças anteriores, tempo de serviço, atividades ocupacionais 18 anteriores e forma física. Os resultados destes estudos apresentam-se controversos, parecendo não indicar risco significativo que explique a alta prevalência de LER entre o conjunto de trabalhadores de uma certa atividade (Bammer, 1993; Ayoub e Wittels, 1989; Putz-Anderson, 1992; Wallace e Buckle, 1987). Por outro lado, os fatores relacionados ao trabalho vêm se evidenciando e se definindo ao longo do tempo como efetivamente associados à ocorrência destas afecções. Utilizando denominações diferentes e ponderando diferentemente os aspectos englobados nesta categoria, os diversos autores discutem praticamente os mesmos fatores. A seguir serão mencionados os fatores relacionados ao trabalho da maneira como são descritos pelos autores. Bammer (1993) analisa a ocorrência de LER na área de escritórios comparando os resultados obtidos por outros autores em estudos de caso que utilizaram a análise multivariada e outros estudos que utilizaram a análise univariada. Em seu artigo, a autora considera duas classes de fatores relacionados ao trabalho: os fatores biomecânicos e os fatores da organização do trabalho. A atividade de escritório analisada nestes estudos parece caracterizar-se por trabalhos em terminais de processamento de dados conforme as referências bibliográficas citadas pela autora. Ao comparar os fatores biomecânicos mencionados nos estudos, a autora encontra "alguma evidência de que trabalhar com certas articulações do corpo posicionadas em ângulos extremos está associado ao desenvolvimento da LER". Entretanto, quanto à adequação de mobiliário e equipamentos, Bammer não encontrou associação evidente com o problema, pois os resultados dos estudos foram controversos. Dos 7 estudos comparados, 3 não mostraram esta associação. Esta fraca associação entre os fatores biomecânicos e a freqüência de queixas de LERs encontrada por Bammer nos estudos analisados contradiz as outras duas resenhas realizadas sobre a questão que serão comentadas a seguir. Uma explicação para este 19 fato poderia ser a de que na área de escritórios, em países como EUA, Austrália e Alemanha (locais em que os estudos foram realizados), estes fatores biomecânicos são relativamente bem conhecidos e considerados no projeto e concepção de mobiliário e equipamentos para os usuários de terminais de micro-computador. No entanto, em relação aos fatores da organização do trabalho, a autora encontra evidente associação destes com as referidas disfunções músculo- esqueléticas, tanto entre os estudos multivariados, como entre aqueles com análise univariada. Os fatores que repetidamente foram apontados pelos estudos como estando associados às LERs foram: (a) grande pressão do trabalho; (b) baixa autonomia, ou seja pouco controle sobre seu trabalho; (c) falta de ajuda ou apoio de colegas de trabalho, quer seja porque não podem ou porque não conseguem ajudar em momentos de pressão do trabalho; e (d) pouca variedade de tarefas. Ayoub e Wittels (1989) em uma resenha sobre a problemática da LER classificam os fatores relacionados ao trabalho em fatores ergonômicos e fatores de gestão administrativa. Os fatores ergonômicos são definidos como aqueles que estão relacionados à concepção e projeto de postos de trabalho, manuseio de materiais, ferramentas, máquinas, ambiente e conteúdo da atividade. Isto é, o fator ergonômico enfoca as deficiências da interface homem- máquina. Enquanto que o fator de gestão administrativa examina tudo o que diz respeito à qualidade de vida no trabalho. Estes autores entendem que o desenvolvimento das LERs são conseqüência direta de deficiências ergonômicas que podem ser verificadas a partir de três variáveis: 1) A Adoção de Posturas Extremas encontradas em situações de trabalho onde os trabalhadores são obrigados a manter posturas fixas ou desempenhar movimentos que envolvam alcances extremos ou impróprios à estrutura músculo- esquelética. 20 2) A Realização de Esforço Excessivo resultante de aplicação de grandes forças, ou nas situações de trabalho em que forças moderadas são aplicadas usando pequenos grupos musculares repetidamente ao longo do tempo com efeitos comparáveis ao primeiro caso citado. 3) A Organização Temporal das tarefas e operações da atividade, ou seja, a freqüência com que movimentos estereotipados e repetitivos são realizados ao longo do tempo. Com relação ao fator de gestão administrativa, Ayoub e Wittels (1989) explicam que para compreender melhor o papel deste fator que constitui uma causa menos óbvia ao desenvolvimento das LERs, é preciso examinar algumas questões relacionadas à qualidade de vida no trabalho como: (1) a eficácia da direção de uma empresa em verificar e eliminar riscos potenciais, métodos de trabalho impróprios, e o uso de equipamentos e ferramentas inseguras impedindo que esta problemática torne-se grave; (2) a existência de atmosfera de aceitação das manifestações dos trabalhadores envolvidos com a atividade e o encorajamento do relato de riscos potenciais. Se o trabalhador não se sente seguro em seu emprego, ele estará menos propenso a relatar problemas e os riscos ficarão omitidos. No caso das LERs, este fator é importante porque o diagnóstico e tratamento precoces constituem o único método de acelerar o retorno do portador da doença ao trabalho; (3) a conscientização dos profissionais da área de saúde internos à empresa de seu papel na detecção da LER em seus estágios iniciais impedindo que o problema se agrave e no auxílio do estabelecimento de correlação da atividade com a afecção diagnosticada; (4) a aplicação do conhecimento dos engenheiros da empresa quanto às implicações ergonômicas na concepção de projetos e manutenção dos postos de trabalho, ou melhor, das situações de trabalho no sentido de minimizar os riscos contrários ao conforto, segurança e eficiência dos trabalhadores; (5) o entendimento, o estímulo e o apoio para que haja cooperação e real interação dessas três áreas 21 internas das empresas: direção e gerências, profissionais da área de saúde e o corpo de engenheiros. Wallace e Buckle (1987) em outra resenha preferem não agrupar os fatores relacionados ao trabalho em classes e optam por referirem-se a eles distintamente como: (1) Posturas Fixas; (2) Movimento e Força; (3) Variáveis da Atividade. As posturas fixas são definidas por envolver contração muscular estática por longos períodos de tempo, o que reduz a irrigação sangüínea dos músculos e provoca fadiga local, com sintomas de cansaço, dor e cãimbras. Os autores apresentam vários estudos que mostram que as posturas estáticas são induzidas pelo dimensionamento do posto de trabalho ("layout"). A concepção de posto de trabalho que não considerar as características da organização do trabalho e da interface homem-máquina reduz praticamente pela metade as possibilidades de mudanças posturais, mesmo seguindo orientaçõesantropométricas. Os autores são categóricos na caracterização deste risco: "onde a adoção de postura fixa não foi isolada como sendo um fator de risco, deve ser porque esta não é uma causa suficiente em si. Porém, ela deve estar interagindo ou complementando outros fatores de risco presentes." Wallace e Buckle (1987) apresentam vários estudos que mostram a associação entre repetitividade e emprego de força com a alta incidência de LER. E discutem alguns trabalhos que mostram a relação entre tipo de movimento ou postura adotada e a alta incidência de LER como: trabalhar com as mãos acima ou ao nível da altura do ombro, flexão e/ou abdução de ombro, flexão de pescoço, desvios de pulso, entre outros. O Anexo 2 apresenta um glossário das terrminologias empregadas para movimentos e posições corporais. As variáveis da atividade citadas por estes autores referem-se aos fatores psicossociais relacionados ao trabalho. Apesar dos autores ressaltarem a 22 necessidade de mais estudos para esclarecer a relação entre trabalho, stress e o sistema músculo-esquelético, os autores fazem questão de afirmar que muitos pesquisadores acreditam que a relação entre trabalho e estado de saúde é afetada pela organização do trabalho. E que estes fatores psicossociais podem contribuir no desenvolvimento de problemas músculo-esqueléticos. Para este terceiro grupo de fatores de risco, esses autores relacionam diversos estudos que, por abordarem diferentemente aspectos distintos desta categoria, ainda não possibilitam conclusões definitivas. Dentro desta categoria, os fatores citados que possivelmemte causam ou contribuem ao desenvolvimento destas disfunções músculo-esqueléticas são: exigências do trabalho com pouco conteúdo cognitivo, tarefa fragmentada, falta de autonomia sobre as atividades diárias, ciclos de tempo de trabalho curtos, medo da redundância e perda de qualificação, relacionamento empregador-empregado insatisfatório, remuneração por produção e trabalho em turnos, e insatisfação no trabalho. Muitos destes fatores estão interrelacionados e não são independentes de outros parâmetros da atividade. Maeda (1977) comentando os estudos realizados pelo Comitê Japonês ressalta a importância dos fatores temporais em associação com os três fatores de risco descritos por este, quais sejam: (1) carga muscular dinâmica9 sentida pelos trabalhadores na movimentação repetitiva em alta velocidade de dedos, pulso e braço; (2) carga muscular estática10 também localizada em ombros, pescoço e algumas vezes braços; (3) esforço mental exigido que cresceu com a mecanização, a especialização da tarefa e o aumento do ritmo de trabalho. A interação entre os fatores temporais e os três fatores referidos é exemplificada por Maeda com duas situações: a longa duração de um mesmo trabalho repetitivo contínuo e a não possibilidade de inserir períodos de pausas espontâneos suficientes para uma 9 Repercussões fisiológicas da atividade muscular dinâmica, isto é, da atividade muscular necessária para movimentar o segmento corporal. 10 Repercussões fisiológicas da atividade muscular estática, ou seja, da atividade muscular necessária para a manutenção do posicionamento do segmento corporal sem sustentação externa. 23 recuperação ativa. O termo recuperação ativa é usado para ressaltar a concepção de que a sobrecarga muscular estática ou dinâmica deve ser aliviada através de exercícios físicos ou ginástica compensatória e prática de esportes. O aspecto temporal é muito enfatizado na análise postural já que as posturas de trabalho exprimem a maneira pela qual o organismo do trabalhador enfrenta os estímulos do mundo exterior, no caso da situação de trabalho, e se prepara para reagir. Isto é, a postura é uma atitude do corpo que prepara a ação, sustenta seu curso e garante a eficácia de sua execução (Laville, 1985). A atividade muscular estática refere-se à carga muscular necessária para a imobilização das peças do esqueleto em uma certa organização espacial dos segmentos corporais e a atividade muscular dinâmica refere-se à carga muscular que realiza o movimento dos segmentos corporais (Barreira, 1989; Duraffourg et ai., 1977). As posturas de trabalho estão situadas dentro de um processo contínuo e dinâmico de modificação de posturas. Por isso, elas devem ser analisadas sob dois aspectos indissociáveis: a postura propiamente dita e os encadeamentos posturais. Nesta perspectiva, as posturas devem ser analisadas através de sua duração (manutenção da postura), freqüência em que é adotada e período total de tempo ao longo do dia considerando as mudanças posturais para o cumprimento da atividade. (Barreira, 1989; Duraffourg et ai., 1977) Em 1982, Armstrong et ai. publicaram uma tabela com alguns dos mais conhecidos fatores de risco ocupacionais relatados em vários estudos. A partir desses vários estudos eles mostraram que as Lesões por Esforços Repetitivos em mãos e pulsos podem ser provocadas, precipitadas ou agravadas por repetitividade de movimentos associada com certas posturas de mãos e pulsos, particularmente se estiverem combinadas com uso de força. Os fatores de risco citados foram: (1) movimentos repetitivos usuais e não usuais de mãos; (2) movimentos repetitivos de flexão ou extensão extrema, particularmente em combinação com uso de pinça e 24 força; (3) mais de 2.000 manipulações por hora; (4) movimento repetitivo simples realizado em alta velocidade e com carga; (5) desvio radial do pulso repetidas vezes, particularmente em combinação com o uso do polegar com grande força; (6) desvio ulnar do pulso repetidas vezes, particularmente em combinação com o uso do polegar com grande força; (7) movimentos em esforço com o pulso fletido; (8) desvio ulnar do pulso com supinação; (9) desvio radial do pulso extendido; (10) rotações repetidas de pulso. Silverstein, Fine e Armstrong (1986) realizaram um estudo para comprovar se tarefas altamente repetitivas que exigiam muita força para seu cumprimento apresentavam associação positiva significativa com a ocorrência de LER em mãos e pulsos independente de outras variáveis como idade, sexo, tempo de serviço na mesma tarefa e tipo de indústria. Para este estudo os idealizadores selecionaram 574 trabalhadores em 6 tipos de indústrias diferentes. Estes sujeitos estavam distribuídos igualmente entre os dois sexos, estratificados por idade e trabalhavam na mesma tarefa por pelo menos um ano. Uma vez que não havia estudos anteriores definindo os atributos de repetitividade e força, os autores definiram arbitrariamente categorias de baixa e alta repetitividade, e muito ou pouca força exigida para classsificarem as tarefas estudadas em 4 categorias de exposição: AR-MF(alta repetitividade e muita força); AR-PF(alta repetitividade e pouca força); PR-MF(pouca repetitividade e muita força); PR-PF(pouca repetitividade e pouca força). Para a definição das categorias de alta ou pouca repetitividade, os autores utilizaram os conceitos descritos por Gilbreth para fundamentar o Sistema de Tempos e Métodos (MTM-Methods-Time Measurement System). Este sistema baseia-se na descrição de atividades manuais através do conjunto de movimentos elementares utilizados para sua realização. Assim, ele descreve a atividade como um conjunto de tarefas. A tarefa é definida em termos de uma série de passos ou elementos. Os 25 elementos denominados "Therbligs" são descritos como movimentos ou operações fundamentais necessários para o desempenho da tarefa. Assim, o ciclo de tempo de trabalho é definido como o tempo necessário para completar uma seqüência de elementos ou a tarefa. Caso o ciclo de trabalho seja constituído por uma seqüência de operações que se repetem dentro de um ciclo de trabalho, esta seqüência é chamada de ciclo fundamental (OIT, 1983). A tarefa com alta repetitividade é definida como aquela cujo ciclo de tempo éigual ou menor que 30 segundos ou que tem mais de 50% do ciclo de trabalho envolvido no desempenho do mesmo ciclo fundamental. A tarefa com pouca repetitividade é a que tem um ciclo de tempo maior que 30 segundos ou que tem menos de 50% do ciclo de trabalho envolvido com um mesmo ciclo fundamental (Silverstein, Fine e Armstrong, 1986). Para definir as categorias de muita ou pouca força, Silverstein, Fine e Armstrong (1986) estabeleceram que as tarefas que exigiam muita força eram aquelas que tinham uma demanda média estimada de força na mão de mais de 4 kg. As tarefas que exigiam pouca força apresentavam uma demanda média estimada de força na mão menor que 1 kg. Os resultados desta pesquisa confirmaram que a combinação de exigência de força e alta repetitividade aumenta a magnitude da associação destas características com as LERs mais do que cada fator isoladamente. Além disso, os resultados mostram que a adoção de posturas inadequadas de mãos e pulsos podem acentuar o risco da ocorrência de LER isoladamente ou em combinação com a exigência de muita força e/ou alta repetitividade. O fator sexo não pôde ser adequadamente estimado porque homens e mulheres desempenhavam tarefas diferentes, mesmo dentro das categorias de exposição estudadas. Mesmo quando eles desempenhavam a mesma tarefa, as mulheres apresentavam maior risco para algumas das afecções do conjunto daquelas conhecidas como LER e não para todas. 26 Para os autores, este fato parece ser função do aumento da carga postural sofrida pelas trabalhadoras devido à sua estatura. Os principais fatores de risco predisponentes às LERs em ombros apontados por Sommerich et ai. (1993) em revisão de artigos e estudos são: (1) adoção de posturas inadequadas como extensão de ombro, e abdução e/ou flexão de ombro realizadas em trabalhos ao nível dos ombros ou acima destes; (2) tarefas que exigem rápidos e repetitivos movimentos dos braços, mãos e dedos que por serem realizados sem suporte podem ocasionar aumento da tensão muscular em todo o braço durante o trabalho; (3) demanda física leve, porém em ciclos de trabalho curtos; (4) manusear ou transportar cargas com as mãos ou braços, e/ou sustentar ou transportar cargas diretamente nos ombros; (5) falta de repouso suficiente, pois quando a atividade é composta por uma tarefa ocasional diferente da repetitiva ou mesmo em atividades com tarefas de curtos ciclos de trabalho que proporcionam micropausas maiores que 2 segundos ocorre menor freqüência de queixas de disfunçòes músculo-esqueléticas. Atendendo uma demanda do Departamento de Saúde e Segurança Ocupacionais americano, "OSHA"-"Occupational Safety and Health Administration", Keyserling e colaboradores (1993) desenvolveram um guia de análise (check-list) para avaliação ergonômica de situações de trabalho no sentido de identificar riscos biomecânicos predisponentes à ocorrência de LER. A idéia deste guia de análise faz parte das recomendações para efetivar um programa de controle à LER discutido anteriormente nas estratégias de prevenção americanas no item sobre o panorama internacional. Este programa de controle americano incluía: análise sistematizada do local de trabalho para reconhecer, identificar e corrigir os fatores de riscos biomecânicos. Neste guia os fatores biomecânicos estão classificados em cinco categorias de exposição: 27 Repetitividade: Considera-se alta repetitividade, atividades que sejam cumpridas em no máximo 30 segundos (ciclo de trabalho igual ou menor a 30 segundos) e/ou atividades que mantenham padrões de movimentos similares (ciclo fundamental) repetindo-se por mais de 50% do ciclo de trabalho, seguindo os padrões arbitrariamente estabelecidos por Silverstein et ai. (1986). Movimentos Manuais com Emprego de Força: Algumas atividades que exigem o emprego de força têm sido associadas com o incremento do risco às LERs: carregar ou usar ferramentas pesadas, o uso de facas ou tesouras para cortar, o uso de ferramentas pneumáticas para apertar parafusos, usar dedos ou a própria mão para moldar ou dar acabamento de superfície em peças ou materiais,. Além disso, algumas condições de trabalho podem aumentar a magnitude do esforço muscular e o resultante desgaste dos tecidos músculo-esqueléticos das extremidades superiores: usar luvas protetoras, pouca fricção entre os dedos e o objeto que deve ser pego ou segurado e o uso de posturas biomecanicamente ineficientes tais como pega em pinça. O valor da carga considerado como muita força, para as tarefas de levantar, carregar, empurrar ou puxar objetos é maior que 4,5Kg considerando o esforço individual de uma mão. Entretanto quando há associação de carga com freqüência do emprego de força, isto é, nos casos em que o operador tiver que pegar ou segurar uma peça ou ferramenta que pese mais do que 2,7Kg por mão (ou 5,4Kg usando as duas mãos) regularmente ou principalmente em mais de 1/3 do ciclo de trabalho, considerar-se-á emprego de muita força. Posturas inadequadas dos membros superiores: Algumas posturas de mãos, pulsos, ante-braços e ombros têm sido associadas a diferentes afecções do grupo das LERs. São elas: pega em pinça, desvios de pulso em flexão ou extensão e desvios radiais ou ulnares de pulso, ante-braço supinado ou pronado, e ombro fletido ou abduzido. Os autores lembram que as posturas de trabalho são influenciadas pela interação de fatores ocupacionais e individuais que incluem: dimensionamento do 28 posto de trabalho, características dos equipamentos e ferramentas como formato e orientação dos comandos ou cabos, e características antropométricas do trabalhador. Pressão mecânica localizada por contato: A pressão localizada é provocada pelo contato físico de cantos retos ou ponteagudos de um objeto ou ferramenta com tecidos moles do corpo. Por exemplo: a compressão nas laterais e porção dorsal dos dedos ao usar tesoura que tenha cabo em anel ou a compressão na palma da mão quando a mão espalmada é usada para dar pancadas ou golpes, ou ainda segurando e dando aperto com chave de fenda de cabo com diâmetro pequeno apoiada na palma da mão. Uso de ferramentas manuais: Estudos têm demonstrado a associação de exposição a vibração segmentar e baixas temperaturas como fatores causais de decréscimo de destreza manual, aumento de força de preensão e desenvolvimento de LER. Vibração localizada pode ocorrer com o uso de ferramentas elétricas. Vibração segmentar pode também ocorrer durante operações de acabamento de superfície como segurar peça contra uma ferramenta cortante de afiar ou amolador de segurar na mão. A ferramenta também pode estar envolvida com exposição a baixas temperaturas. O ar expirado pela ferramenta pneumática pode estar direcionado diretamente para os dedos e provocar resfriamento destes ou da própria ferramenta devido à absorção de calor por expansão do ar. O acionamento em gatilho pode exigir mais rapidez na sua ativação durante certas operações de montagem. A ferramenta pode ainda exigir mais esforço manual, principalmente se está mal balanceada ou transmitir torques reativos elevados. Theorell (1992) ressaltou em sua conferência que muitos estudos têm demonstrado forte correlação entre fatores psicossociais do trabalho e a sintomatologia encontrada no aparelho músculo-esquelético. Segundo este pesquisador do Instituto de Fatores Psicossociais e Saúde do Hospital Karolinska, em Estocolmo, estas relações parecem variar consideravelmente conforme a população 29 estudada. Citando dados encontrados na literatura, certos mecanismos de defesa parecem ser apropriados apenas em certas ocupações, o que indica ser a interação entre o mecanismo de defesa e a atividade realizada que deva ser o fenômeno relevante a ser estudado. Generalizadamente, esse autor agrupa as dimensões psicossociais do trabalho estudadas em: demandas psicológicas, grau de autonomiaou latitude de decisão, conteúdo cognitivo da atividade e variáveis de suporte social. Theorell (1992) afirma que seu grupo de pesquisa (MUSIC) tem encontrado dados que corroboram resultados apresentados por outros autores. Estes estudos mostram que os fatores de maior associação com as disfunções músculo- esqueléticas na região cervical e ombros eram altas demandas psicológicas e pouco suporte social. No entanto, o autor faz uma observação interessante de que neste mesmo estudo realizado por seu grupo, altas demandas psicológicas estavam associadas a um alto limiar de dor habitual e a uma prevalência aumentada de pontos de tensão na região cervical e dos ombros. Para ele, esta combinação pode apontar para a importância da elevação do limiar de dor que pode influenciar as pessoas a desobedecer sinais corporais de advertência, aumentando o risco de disfunções crônicas. No sentido de esclarecer melhor a associação dos fatores psicossociais e a sintomatologia no sistema locomotor, este pesquisador sugere que sejam feitos mais estudos longitudinais prospectivos, posto que a maioria dos estudos realizados até hoje é do tipo transversal. 30 1.1.8. Ergonomia e o Método da Análise da Atividade na Prevenção da LER Grandjean (1980) define a Ergonomia como um estudo do comportamento humano na relação com seu trabalho. O objeto de sua pesquisa é o ser humano em seu trabalho na relação com todos os aspectos envolvidos com este último. A pesquisa ergonômica é usada para adaptação das condições de trabalho à natureza psíquica e física do ser humano, o que resulta no princípio mais importante da Ergonomia que é a adaptação da atividade ao homem. A definição de Wisner (1987) ressalta o aspecto pragmático da Ergonomia: "a Ergonomia é o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficácia". Ele afirma que "a prática ergonômica é uma arte (como se diz da arte médica e da arte do engenheiro) que utiliza técnicas e se baseia em conhecimentos científicos. Essa prática é caracterizada por uma metodologia própria". Montmollin (1967) reafirma, também, que é a metodologia utilizada que caracteriza a Ergonomia. Para ele, a melhor definição para a Ergonomia seria dizer que é uma "tecnologia de comunicação entre os sistemas homem-máquina", o termo máquina refere-se aos dispositivos, ferramentas, painéis etc, o termo homem pode referir-se a cada trabalhador ou grupo de trabalhadores, e comunicação porque ele está se referindo ao conjunto de sinais e respostas trocados por este binômio. Para Montmollin, o trabalho pode ser definido pelas comunicações entre o homem e a máquina. O termo tecnologia foi empregado porque ele entende que Ergonomia é menos que ciência e mais que técnica, isto é, a Ergonomia coloca em ação um conjunto de ciências e técnicas. Ressalta, assim, o aspecto interdisciplinar porque não se constitui um prolongamento de uma única ciência e seu aspecto aplicado porque 31 não se propõe exclusivamente ao estudo, mas ao aperfeiçoamento do sistema homem-máquina. A Ergonomia, como ciência e prática, tem mostrado que a interação do homem com sua situação de trabalho é afetada pelo posto de trabalho, o ambiente físico de trabalho e o ambiente social ou forma de organização do trabalho e, também, por fatores externos a esta atividade. Mais que isto, a Ergonomia mostra que esta interação pode ou não trazer prejuízos à saúde e segurança do trabalhador, e caso exista risco de algum prejuízo, uma análise ergonômica da atividade é requerida para a identificação dos fatores causais deste relacionados ao trabalho de modo a possibilitar uma intervenção ergonômica corretiva (Wilson e Corlett, 1990). Putz-Anderson (1992) ressalta a importância da análise da atividade como um instrumento útil na identificação de fatores de risco predisponentes às LERs antes mesmo dos trabalhadores manifestarem suas queixas. Além disso, a análise da atividade pode ser usada para avaliar a eficácia da intervenção ergonômica, sem que seja preciso esperar uma redução no número de queixas. Tão logo a análise da atividade tenha estabelecido diagnóstico da situação de trabalho sobre as prováveis fontes de LER, um plano de controle e prevenção pode ser elaborado. A análise da atividade consiste numa etapa inicial e vital dos estudos ergonômicos. Uma intervenção ergonômica é resultante de uma análise da atividade que investiga dois tipos diferentes de informação, principalmente: (1) os efeitos a curto, médio e longo prazo de uma situação de trabalho existente sobre o grupo de sujeitos desta, considerando suas caracterísiticas físicas e psicossociais; e (2) o que seria conveniente mudar nesta situação que permitiria a supressão ou atenuação de condições que pudessem comprometer ou degradar o estado de saúde desta população (Duraffourg, 1985). Todas as técnicas de análise da atividade têm como objetivo produzir informações relevantes tanto para a avaliação de uma situação de trabalho existente, 32 como para a concepção de uma nova. Seu objetivo é alcançado através de análise sistemática de três componentes da atividade: (1) as exigências requeridas pela natureza e conteúdo da atividade; (2) as limitações impostas aos trabalhadores pelo ambiente de trabalho, pelo dimensionamento do posto de trabalho e formas de organização do trabalho; e (3) estratégias comportamentais utilizadas por estes para cumprir as exigências requeridas (Stammers, Carey e Astley, 1990). A diferença entre os instrumentos de análise da atividade utilizados em diversas disciplinas reside no grau de refinamento utilizado na análise para atender a finalidade pretendida (Wisner, 1987). A análise da atividade distingue-se originariamente do estudo de métodos pela sua própria finalidade e, principalmente, porque enfoca as decisões do operador mais do que sua ações. Ou seja, procura-se conhecer as informações que devem ser tomadas pelos sujeitos, como eles interpretam-nas e decidem como agir (Stammers, Carey e Astley, 1990). A análise da atividade proposta por Putz-Anderson (1992) é constituída por uma descrição completa da atividade como um conjunto de tarefas e operações motoras, e do conteúdo de suas tarefas como exigências da atividade. Quando estas exigências excedem, com freqüência, a capacidade do trabalhador em respondê-las, esta situação de trabalho pode levar ao desenvolvimento da ocorrência de LER. Estas exigências da atividade podem representar fatores de risco biomecânicos e/ou organizacionais predisponentes às LERs. Por exemplo, com os componentes da atividade documentados, os fatores de risco biomecânicos para as LERs poderão ser prontamente identificados, como: as posturas inadequadas, a alta repetitividade, o esforço mantido, e os desgastes mecânicos excessivos (emprego de força, forças aplicadas contra os tecidos das mãos, braços ou ombros). A tarefa mais difícil é determinar se aqueles fatores de risco biomecânicos descritos exigem mais do que o limite aceitável para as capacidades humanas. Felizmente há referências antropométricas e ergonômicas disponíveis para ajudar neste julgamento (Putz- Anderson, 1992). 33 A análise da atividade para identificação de fatores de risco às LERs foi o instrumento metodológico utilizado por Hünting, Grandjean e Maeda (1980) para estudar possíveis soluções para o posto de trabalho de 119 operadoras de máquina de somar com idade entre 17 e 29 anos que apresentaram uma incidência duas vezes maior de disfunções músculo-esqueléticas em mãos e braços em relação a um grupo de 57 atendentes de loja de departamentos com a mesma faixa etária. A metodologia utilizada foi análise da atividade associada à análise das posturas de trabalho adotadas, à investigação sobre reclamações físicasatravés da aplicação do questionário japonês para OCDs, e mensuração das dimensões do posto de trabalho. Os resultados mostraram que efetivamente as queixas das operadoras de dores, cansaço e crepitação em braços e mãos significativamente mais freqüentes no lado direito que no lado esquerdo tinham relação com as posturas de trabalho adotadas. O lado direito realmente sofria uma carga de trabalho diferenciada pois a mão direita digitava no teclado da máquina com movimentos repetitivos em alta velocidade. Os resultados obtidos permitiram que os autores propusessem modificações no projeto de dimensionamento do posto de trabalho para eliminar o desvio ulnar da mão direita e favorecer a adoção de ângulos de conforto para o pescoço, cotovelos e ombros; modificações nas características de legibilidade dos documentos a serem digitados; e a existência de um suporte para a mão ou ante-braço direitos. Hünting, Láubli e Grandjean (1981) analisaram comparativamente as cargas postural e visual em dois grupos de trabalhadores que realizavam atividades que utilizavam terminais de processamento eletrônico de dados e dois outros grupos- controle diferentes. Os autores correlacionaram queixas visuais e músculo- esqueléticas com as principais exigências das atividades, as características dimensionais do posto de trabalho e as posturas adotadas. A análise da atividade caracterizou os componentes das atividades e as cargas postural e visual foram analisadas com base em observações e questionários aplicados nos trabalhadores sobre queixas músculo-esqueléticas e visuais. Os autores mostraram que as queixas, 34 referidas pelos trabalhadores, de cansaço e dores no corpo (sintomas de desenvolvimento de disfunções músculo-esqueléticas) e olhos estavam correlacionadas às principais exigências das atividades e à adoção de determinadas posturas inadequadas, sendo que estas últimas eram resultantes das limitações impostas pelo dimensionamento do posto de trabalho. Armstrong et ai. (1982) em um estudo de caso num frigorífico, concluem, também, que um bom diagnóstico da situação de trabalho identifica pontos críticos em dimensionamento do posto de trabalho, dimensões e estado de uso dos instrumentos de trabalho e características das exigências da tarefa e dos matérias necessários para seu cumprimento que podem ser modificados a ponto de eliminar as posturas e movimentos conhecidos como fatores causais preponderantes ao aparecimento destas disfunções. A metodologia utilizada para este diagnóstico da situação de trabalho foi a análise da atividade, a análise das posturas e movimentos adotados e o emprego de força. A análise das posturas e movimentos adotados e o emprego de força foram realizadas a partir de gravações em vídeo e registros eletromiográficos. Diversos fatores relacionados à atividade presentes nas situações de trabalho devem ser considerados para se pensar em melhores soluções para a eliminação ou minimização de alta prevalência de casos de LER. Dentre estes fatores pode-se citar: (1) natureza da tarefa, ou seja, quais as exigências colocadas para o trabalhador como tipo de solicitação física e mental; (2) fatores físicos ambientais, isto é, quais são as condições de iluminação, temperatura, ruído e ventilação existentes; (3) fatores físicos materiais, ou como é o dimensionamento do posto de trabalho e quais os dimensionamentos e estado de uso dos instrumentos de trabalho; (4) fatores temporais relacionados a ritmo, freqüência e período de trabalho, duração da jornada e sua localização no tempo e existência de pausas; (5) fatores econômicos e sociais como tipo de remuneração e benefícios oferecidos, isto é se a remuneração é por produção ou se há prêmio-produção (Barreira, 1989; Rocha, 1989; Maeda, 1977). 35 1.2. Objetivos O objetivo geral deste estudo é a identificação dos fatores de risco relacionados ao trabalho predisponentes às Lesões por Esforços Repetitivos em uma atividade manual repetitiva com alta prevalência de LER. Os objetivos específicos são: (1) Utilizar o método da Análise Ergonômica da Atividade na identificação dos fatores de risco presentes na situação de trabalho estudada; (2) Anajisar a movimentação e posturas de trabalho adotadas através de uma gravação em vídeo dos modos operatórios utilizados pelas operadoras; (3) Relacionar os fatores de riscos encontrados na situação de trabalho estudada com as queixas de desconforto e dores referidas pelas operadoras. 36 2. MÉTODO 37 Sete empresas de diferentes ramos de atividade econômica (2 metalúrgicas, 2 eletro-eletrônicas, 2 químicas e 1 alimentícia) que vinham apresentando crescente ocorrência de LER entre seus funcionários manifestaram interesse em estudar ou conhecer a metodologia ergonômica para reconhecimento e identificação dos fatores causais predisponentes a estas afecções presentes nas situações de trabalho. Apenas a direção de uma destas empresas contactadas aceitou o projeto proposto e os critérios para escolha da atividade a ser estudada, quais sejam: (1) a atividade a ser estudada deveria ser constituída por uma tarefa manual repetitiva segundo a definição de Silverstein, Fine e Armstrong, 1986, isto é, apresentar ciclo de trabalho menor que 30 segundos ou ter mais de 50% do ciclo de trabalho com uma mesma seqüência de movimentos repetitivos de mãos e braços; (2) apresentar alta prevalência de LER e haver interesse da direção em realizar uma intervenção ergonômica corretiva. Os Departamentos de Saúde e de Segurança desta empresa escolheram dentro dos critérios apresentados pelo projeto proposto a atividade das operadoras das máquinas de teste elétrico do Setor de Teste Elétrico da Fábrica de Preservativos. Isto é, esta atividade foi escolhida por apresentar as maiores freqüências de queixas de sintomatologia de disfunções músculo-esqueléticas em mãos, braços, ombros e região cervical no Departamento Médico e porque por várias vezes foi tentado melhorar esta situação de trabalho com algumas modificações no projeto das máquinas. No entanto, estas modificações não foram suficientes para eliminar as queixas e o Departamento de Segurança continuava interessado em realizar uma intervenção ergonômica. Embora o Departamento Médico confirmasse a alta prevalência de LER neste setor, os registros de casos de LER não foram fornecidos. 38 2.1. Características da População Estudada Na época do estudo, o Setor de Teste Elétrico estava funcionando apenas no 1o turno com 9 funcionárias operando as máquinas de teste elétrico. Apesar do Setor comportar 8 operadoras de teste elétrico, uma nona funcionária estava treinada para substituir uma das 8 quando esta estivesse sentindo dores ou intenso cansaço. A Tabela 1 apresenta a distribuição das operadoras segundo idade, altura, peso, estado civil, tempo de função e grau de escolaridade a partir de dados fornecidos pelas próprias operadoras em agosto de 1991. Tabela 1: Distribuição das operadoras segundo idade, altura, peso, estado civil, tempo de função e escolaridade do Setor de Teste Elétrico. OPERA- DORAS IDADE (anos) ALTURA (metros) PESO (Kg.) ESTADO CIVIL TEMPO de FUNÇÃO (anos) ESCOLARIDADE A 23 1,67 54 solteira 4 2°G.Comp. B 25 1,58 60 solteira 3 2°G.Comp. C 29 1,68 67 solteira 5 2°G.Comp. D 29 1,63 62 casada 3meses 1°G.Comp. E 30 1,65 59 casada 5 Sup.Comp. F 32 1,59 62 casada 12 1°G.Comp. G 39 1,54 63 casada 5 1°G.lncomp. H 40 1,62 60 viúva 5 1°G.lncomp. I 40 1,58 48,5 casada 12 2°G.Comp. Média 31,9 1,61 59,5 5,69 39 2.2. Análise da Atividade A análise ergonômica da atividade foi realizada com base na metodologia proposta por Duraffourg (1985), que consiste basicamente de observação direta da situação de trabalho e de diálogo com os trabalhadores. A análise da movimentação gestual foi realizada através de gravações em vídeo, conforme proposta de Buckle
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