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Administração Financeira e Orçamentária A Administração do Capital de Giro como Estratégia Financeira Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Walter Franco Revisão Textual: Profa. Ms. Alessandra Fabiana Cavalcante 5 • Análise das Fontes e dos Usos de Fundos • Financiando o Capital de Giro • A Administração do Ativo Circulante Nesta Unidade introduziremos importantes conceitos ligados ao financiamento das operações de uma empresa, buscando compreender a forma como os recursos são gerados a partir sua da operação, ou levantados junto às instituições financeiras ou mesmo, obtidos junto aos acionistas. Em seguida, estudaremos o destino destes recursos e as variações que ocorrem nestas fontes e nos usos dos recursos. O importante é percebermos como a questão do capital de giro é parte essencial e sensível na administração financeira do negócio e na feitura e gestão de seu Orçamento Empresarial. Veremos como os tópicos, Capital de Giro e administração dos Ativos Circulantes são essenciais no trabalho do dia a dia do profissional de finanças, buscando assim defini-los e discuti-los, segundo a premissa de sua importância na gestão financeira da empresa. Serão, ainda, estudados os conceitos e os tópicos a respeito da gestão de Contas a Receber, Contas a Pagar e Estoques. · Nesta Unidade, nos preocuparemos inicialmente com a definição e a análise dos temas relacionados às fontes e às aplicações de recursos em uma empresa analisando, a partir do Balanço Patrimonial e o Demonstrativo de Origem e Aplicação de Recursos, os números apresentados pelas empresas. Em seguida, estudaremos o tema relacionado ao capital de giro, sua definição e variações dentro de um ciclo operacional das atividades executadas pela empresa. A partir deste ponto, poderemos nos aprofundar nos estudos relacionados à administração dos principais grupos de contas que compõem juntos o capital de giro de uma empresa. Assim sendo, você aprenderá como analisar os dados fornecidos e apresentados no grupo do Ativo Circulante e, mais especificamente, os detalhes e variações das contas representadas pelos Contas a Pagar, Contas a Receber e Estoques. A Administração do Capital de Giro como Estratégia Financeira • A Administração Eficiente dos Estoques • A Administração do Contas a Pagar 6 Unidade: A Administração do Capital de Giro como Estratégia Financeira Contextualização Estudar a administração do Capital de Giro de uma empresa, como parte de sua estratégia financeira, é um dos pontos mais essenciais na atualidade. E podemos afirmar isto em razão da importância que uma correta e eficiente gestão de caixa tem no dia a dia de qualquer profissional de finanças, especialmente no Brasil. E isto porque, ao analisarmos as origens e as aplicações de recursos de uma determinada empresa, buscamos, a princípio, poder mensurar o grau em que esta é dependente de capital de terceiros ou o quanto se apresenta capitalizada. Ao efetuarmos tal análise, torna-se assim possível também concluir a respeito da necessidade ou não de financiamento de terceiros para a manutenção de suas operações industriais e comerciais. Há que se pensar também na sua capacidade de manutenção de caixa, considerando o suficiente para manter-se líquida, financiar suas aquisições de matérias-primas e manter seus níveis adequados de estoques; além de efetuar e honrar seus compromissos, ou mesmo efetuar os pagamentos de dividendos aos acionistas, para citarmos apenas alguns exemplos de exigibilidades 7 Análise das Fontes e dos Usos de Fundos Em uma economia como a brasileira, onde as taxas de juros reais são altas, os recursos financeiros relativamente escassos e o levantamento de caixa algo difícil e burocrático para qualquer empresa, efetuar uma análise das fontes e dos usos de fundos torna-se, portanto, uma das mais importantes tarefas dos administradores financeiros. Assim sendo, o profissional de finanças será sempre responsável pela correção de rumos e estratégias financeiras adotadas pelas empresas, focando a sua administração, bem como do aumento da rentabilidade na manutenção da solvência e no aumento da liquidez. Vamos iniciar nossa análise das fontes e dos usos dos recursos em uma empresa pela definição de ‘Origens e Aplicações de Recursos’, segundo os padrões contábeis e financeiros normalmente aceitos pelos mercados. Vejamos a seguir: Origens de Recursos As origens (ou fontes) de recursos de uma empresa são, em última análise, resultados de sua operação, de suas ações estratégicas, de suas políticas de endividamento e de suas práticas e políticas de manutenção de caixa e liquidez. Assim sendo, podem se caracterizar pelas movimentações das contas contábeis conforme os itens apresentados abaixo. 1. Origem de Recursos • Diminuição dos Ativos (por exemplo, venda de ativos fixos); • Aumento de Passivos (por exemplo, captação de dívidas junto a bancos); • Aumento de Capital (por exemplo, via reinvestimento dos lucros retidos). 2. Aplicações de Recursos • Aumento dos Ativos (por exemplo, compra de ativos fixos, equipamentos); • Diminuição de Passivos (por exemplo, quitação de dívidas junto a bancos). • Diminuição de Capital (por exemplo, pagamento de dividendos aos acionistas). Vejamos agora um exemplo que trata das origens e das aplicações de recursos em uma empresa. Analisando o Balanço Patrimonial da Indústria de Máquinas Fortes Ltda., destacado abaixo, podemos identificar a origem dos fundos gerados e a maneira como estes recursos foram gastos (aplicações) no dia a dia da operação da empresa, mais especificamente quando comparamos 2001 com 2002. Observe o Balanço apresentado na tabela a baixo. 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 8 Unidade: A Administração do Capital de Giro como Estratégia Financeira Indústria de Máquinas Fortes Ltda. Analisando cuidadosamente cada uma das contas apresentadas no Ativo, no Passivo e no Patrimônio Líquido do Balanço Patrimonial acima, e as variações de 2002 comparativamente a 2001, podemos facilmente identificar as contas que mais contribuíram com as origens (fontes) e as aplicações (usos). Em seguida, podemos avaliar, na tabela abaixo, a porcentagem das origens e das aplicações de recursos para a Indústria de Máquinas Fortes Ltda., tomando como base as variações calculadas anteriormente no balanço patrimonial. 7xguih Balão de comentário Ativo circulante é uma referência aos bens e direitos que podem ser convertidos em dinheiro em curto prazo. Os ativos que podem ser considerados como circulantes incluem: dinheiro em caixa, conta movimento em banco, aplicações financeiras, contas a receber, estoques, despesas antecipadas, numerário em caixa, depósito bancário, mercadorias, matérias-primas e títulos. 7xguih Caixa de texto Ativo não circulante 9 Note que durante o período analisado, apenas algumas contas foram responsáveis pela grande maioria das origens e das aplicações de recursos na empresa. Vejamos, por exemplo, o saldo da conta “Títulos” que gera o equivalente a R$ 40 mil, quando comparamos os saldos de um ano em relação ao período anterior. Neste caso, temos um percentual de 40% do total das origens (fontes) de recursos. Do lado das aplicações (usos) de recursos, percebemos a grande variação da conta “Estoques Matérias Primas” que apresentou crescimento de R$ 74 mil, ou 74% do total das aplicações no período analisado. A partir da Tabela de classificação, podemos observar que, do total das origens de recursos que somam R$ 100 mil no período, a maioria foi destinada ao acréscimo da conta de estoques, seguido do imobilizado (que apresentou expansão de 18%) no período. Observe na tabela abaixo a análise e a classificação das variações das contas: Para Pensar Sabemos até aqui que a análise das origens e das aplicações de recursos de uma empresa nos permite avaliar como vem sendo efetuado o seu planejamento e o seu controle financeiro. Em outras palavras, setorna possível avaliar a maneira como a empresa vem sendo financiada, e como seus recursos são aplicados no negócio. Neste sentido, poderíamos pensar a respeito do trabalho do administrador financeiro, a quem caberia sempre, pelo menos a princípio, a busca pelo aumento dos Ativos, e a diminuição dos Exigíveis e do Patrimônio Líquido. Vejamos abaixo o que diz Gropelli (2010), no seu livro Administração Financeira, a respeito deste tema: Diálogo com o Autor Segundo Gropelli (2010, p. 325), Em planejamento e controle financeiro, é essencial entender como os fundos são gerados e onde são usados... Tal análise também fornece uma boa indicação sobre a utilização específica dos fundos gerados para manutenção de caixa suficiente, compra de estoques, expansão de ativos fixos, redução de exigibilidades, pagamentos de dividendos etc... Uma vez que as fontes e os usos de fundos tenham sido determinados, a administração pode decidir se as fontes são ou não confiáveis e quais mudanças devem ser feitas para assegurar futuras entradas de caixa. (GROPELLI, 2010, p. 325). 7xguih Destacar 7xguih Caixa de texto 7xguih Caixa de texto tornando-se 7xguih Destacar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 10 Unidade: A Administração do Capital de Giro como Estratégia Financeira Financiando o Capital de Giro Segundo Hoji (2008), o capital de giro é também conhecido como capital circulante e corresponde aos recursos aplicados em ativos circulantes que se transformam constantemente dentro do ciclo operacional. Ainda segundo este mesmo autor, o capital de giro fica “girando” dentro da empresa, sofrendo transformação em seu estado patrimonial e gerando reflexos na contabilidade. É sempre importante lembrar que todo recurso aplicado em um determinado negócio deve, de uma forma ou de outra, gerar retornos ao investidor que o aplicou incialmente, e isto porque a obtenção de lucro é, em última análise, o objetivo principal do capitalista. Neste sentido, quando pensamos em capital de giro e na sua definição, temos que supor que todo capital aplicado na organização sofrerá acréscimo a cada transformação retornando ao final do ciclo operacional em volume maior que o valor em dinheiro aplicado incialmente. O estudo do capital de giro é, portanto, crucial para todos os profissionais de finanças preocupados com o tema da administração financeira, e exatamente em razão da necessidade da empresa em recuperar todos os custos e despesas incorridos durante o ciclo operacional e obter o lucro esperado com a venda do produto ou serviço oferecido ao mercado ao fim do processo. O Financiamento do Capital de Giro Quando tratamos do tema Capital Circulante Líquido (CCL), temos por definição que este representa o montante de dinheiro que sobra após os passivos circulantes serem subtraídos dos ativos circulantes, ou seja: Capital Circulante Líquido (CCL) = Ativo Circulante (AC) – Passivo Circulante (PC) Neste sentido, poderíamos também entender o CCL como sendo a parcela dos ativos circulantes que deve ser financiada por meio do exigível de longo prazo ou do patrimônio líquido. Logo, poderíamos claramente perceber que, com o passivo circulante se mantendo constante, o CCL aumenta com o aumento do ativo circulante. Observe a figura abaixo: Situações de Capital Circulante Líquido (CCL) 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Balão de comentário CAPITAL CIRCULANTE LIQUIDO 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Caixa de texto LP = LONGO PRAZO PASSIVO PL = PATRIMONIO LIQUIDO 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 11 Note que podemos compreender melhor a definição de Capital Circulante Líquido (CCL), e suas relações com as contas componentes do Ativo Circulante e do Passivo Circulante. Vejamos, portanto, as situações nas quais o CCL pode ser Positivo, Negativo ou Nulo, dependendo dos valores apresentados no Balanço Patrimonial de uma empresa. Podemos avaliar também que na situação em que presenciamos o CCL Positivo, que uma parte do Ativo Circulante está sendo financiada pelo passivo não-circulante (Passivo LP e Patrimônio Líquido), ou seja, por itens de longo prazo. Enquanto que no CCL Negativo, o Passivo Circulante financia parte do Ativo Permanente, como é possível entender observando-se a figura acima. Já na situação em que o CCL é nulo, a empresa apresenta um equilíbrio em suas contas do balanço patrimonial no que refere aos valores representados pelo Ativo Circulante e Passivo Circulante. Assim sendo, o ato de financiar o Capital de Giro provém do Passivo Circulante, Passivo Longo Prazo e Patrimônio líquido, isto dependendo da estratégia tomada pela administração da empresa. Caso a opção seja financiar-se por suas próprias operações, o analista de investimentos terá de analisar a questão do financiamento do CG, observando os valores e as variações de contas como Duplicatas a Pagar, Impostos a Pagar, e demais pagamentos, por exemplo. Ou os saldos de financiamentos junto a instituições financeiras, como são os casos, por exemplo, de fontes onerosas como empréstimos e financiamentos. Sempre que pensamos no financiamento de uma operação, devemos nos lembrar dos conceitos de fontes não onerosas que, por um período restrito de tempo, acabam por financiar as operações da empresa em seu dia a dia. Este é o caso, por exemplo, dos salários a pagar, dos impostos a pagar, e de outros recolhimentos obrigatórios da empresa. Glossário Fontes Onerosas: São os empréstimos, os financiamentos bancários e os parcelamento de impostos que sempre geram despesas financeiras como contrapartida. A Administração do Ativo Circulante O profissional de finanças administra as contas do Ativo Circulante da empresa, segundo o tipo de negócio exercido por esta e segundo uma análise sazonal de suas atividades. Logo, em alguns períodos do ano, quando as vendas se encontram em crescimento e em patamares altos, o administrador financeiro pode certamente optar por elevar estoques de produtos acabados, ou mesmo de matérias-primas de forma a garantir produtos para suprir o seu mercado. Assim sendo, este movimento sazonal leva normalmente ao aumento dos valores destas contas no Ativo Circulante, além do aumento das contas a receber (caso a empresa venda a prazo), e do caixa. 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Caixa de texto O CCL pode ser positivo, negativo ou nulo. Positivo ou nulo quando o ativo circulante apresentar saldo acima ou igual ao saldo do passivo circulante, demonstrando que a empresa possui recursos para honrar seus compromissos de curto prazo. Mas caso o CCL seja negativo, isso representará que a empresa encontra-se em dificuldade para com seus compromissos. Quanto maior o CCL que uma empresa possui, maior é sua liquidez e menor o risco de insolvência 12 Unidade: A Administração do Capital de Giro como Estratégia Financeira Pode-se também esperar que um aumento no contas a pagar de curto prazo, decorrente de débitos junto aos fornecedores e bancos. Isso ocorre, especialmente, quando há uso de linhas de crédito de curto prazo nestes períodos de vendas aquecidas. Desta forma, muitas empresas procuram administrar suas finanças observando sempre um nível mínimo e máximo do Ativo Circulante sendo que, para tanto, optam por operar de forma mais ou menos conservadora. Certamente que, quando a empresa adota uma abordagem mais conservadora, utiliza os recursos provenientes dos empréstimos de longo prazo obtidos junto a instituições financeiras e o patrimônio líquido para financiar o ativo imobilizado e uma pequena parte do ativo circulante. Ao adotar uma abordagem mais agressivaem sua operação, a empresa opta por obter, junto às instituições financeiras, empréstimos de curto prazo voltados ao financiamento de grande parte de suas necessidades sazonais de caixa, de estoques e de demais compromissos. Assim fica apenas uma pequena parcela dos ativos fixos e do ativo circulante financiada por passivo de longo prazo. Administrando as Contas a Receber Mesmo sem estudarmos muito o conceito e os componentes do item Contas a Receber de uma empresa, podemos a princípio afirmar que seu saldo apresentado dependerá diretamente da política de vendas adotada pela sua equipe. Caso a empresa opte por fornecer crédito aos seus clientes e, portanto, alavancar o seu nível de vendas, certamente está adotando uma política mais agressiva de crédito por um lado e, por outro, incrementando volumes de vendas, de faturamento e aumentando o saldo apresentado no Contas a Receber. Certamente, toda política deverá ser conduzida paralelamente a uma política de avaliação de crédito e de solvência dos seus clientes cadastrados, sob o risco de causar enormes prejuízos nos casos de inadimplência, muito comuns no mercado. Somado a este cuidado, será também importante observar os custos financeiros incorridos numa política de financiamento de vendas/clientes, mensurando os valores referentes aos juros cobrados pelo setor financeiro na realização das operações de crédito adotadas pela empresa em questão. Caso contrário, o risco de não pagamento (inadimplência) somado aos custos financeiros podem causar prejuízos ou mesmo até inviabilizar a operação comercial. Para Pensar Como a empresa deve equilibrar adequadamente o volume de suas vendas a vista versus suas vendas a prazo? Pense sobre este tema levando em consideração o caso brasileiro: grande parte dos clientes e dos comerciantes opera por meio de compras e vendas a prazo. Como o Brasil apresenta juros muito altos nas operações de crédito, qual o risco do administrador financeiro ao captar recursos em bancos e financeiras para então financiar as suas vendas? Será que seu lucro não será “todo” corroído pelos gastos com juros? Vamos lá! 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 13 Diálogo com o Autor Segundo Gropelli (2010, p. 338), O benefício de reduzir os padrões de crédito é o lucro das vendas adicionais; os custos são os débitos incobráveis adicionais e os custos maiores de financiamento das novas contas a receber. Os benefícios da elevação dos padrões de crédito são a redução das dívidas incobráveis e dos custos de financiamento das contas a receber; o custo é a redução dos lucros sobre as vendas. (GROPELLI, 2010, p. 325). A Administração Eficiente dos Estoques A busca pela eficiência da produtividade é uma das metas prioritárias de qualquer empresa. Neste sentido, o ato de administrar estoques de forma correta e eficiente atende a este objetivo de forma primária. Ao oferecer à empresa uma ferramenta para maximizar eficiência e produtividade, uma gestão eficiente de estoques acaba por gerar impactos positivos significativos em diversas áreas de negócio, com reflexos positivos nos números, influindo decisivamente nos resultados das operações. Sabemos ainda que, quando pensamos em estoques, estamos na verdade tratando de um tema importante e de responsabilidade direta dos gerentes de compras, industrial e de vendas de qualquer empresa preocupados prioritariamente com a manutenção das atividades rotineiras da empresa. Neste sentido, e do ponto de vista do administrador financeiro e orçamentário, a sua preocupação principal afasta-se a princípio da questão do tamanho dos estoques mantidos ou não pela empresa, aproximando-se por outro lado dos aspectos relacionados aos custos financeiros incorridos na manutenção ou não de determinados níveis de estoques. Diálogo com o Autor Segundo Hoji (2008, p.121), Normalmente, o investimento em estoques tem um peso significativo em empresas comerciais e industriais e, até, em empresas de prestação de serviços. Em empresas comerciais os estoques são representados, basicamente, pelas mercadorias para revenda. Em empresas industriais, podem ser classificados em: matérias-primas, produtos em elaboração, materiais de consumo, materiais de embalagem e produtos acabados. Em empresas de prestação de serviços, pelos materiais de consumo e de almoxarifado. (HOJI, 2008, p.121). 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 14 Unidade: A Administração do Capital de Giro como Estratégia Financeira Observe que toda administração de estoques é atividade-chave em qualquer empresa, e independente de seu ramo de atividade. Mas certamente, quando pensamos em uma atividade fabril, o trabalho voltado à maximização de matérias-primas e produtos semiacabados ganha destaque em razão da necessidade de segurança que o ritmo de produção da empresa exige ao longo do tempo. Quando o administrador financeiro e o departamento de orçamentos trabalham juntos na gestão dos níveis de estoques, estão garantindo a oferta ideal de bens e serviços aos clientes, e no momento exato de suas necessidades. Somado a isto, e vendo esta questão sob a perspectiva da ótica financeira, a manutenção de estoque é sempre dispendiosa, exatamente por consumir recursos (dinheiro) que não gera juros (aplicações) nem renda. Cabe ao administrador, sempre lembrar que a elevação ou a redução de estoques deve ser observada a partir das variações dos custos financeiros incorridos em cada uma destas decisões. Este pensamento coloca-o, portanto, frente ao conceito de Lote Econômico de Compra (LEC) que é utilizado pelos administradores para a determinação da quantidade ótima de compra de um determinado item para estoques. Assim, e segundo Hoji (2008) o modelo de Lote Econômico de Compra pressupõe a análise dos custos efetivos das mercadorias, por meio da composição dos custos dos pedidos de compras e dos custos de manutenção de estoques. No primeiro caso, o dos custos de pedidos de compras, o autor classifica-os como sendo os custos incorridos para a emissão e recebimento de pedido (da emissão do pedido à inspeção da mercadoria). Enquanto que no caso dos custos de manutenção de estoques, é importante observar os custos incorridos durante a permanência destes estoques na planta fabril (custo de armazenagem, obsolescência, entre outros). Segundo Gitman, o Lote Econômico de Compra (LEC) é calculado a partir da seguinte fórmula: LEC = [(2 x S x O) / C] 1/2 LEC = Lote Econômico de Compra S = Demanda (consumo) em unidades no período O = Custo unitário de emissão de pedido C = Custo unitário de manutenção do estoque Vejamos agora um exemplo prático: Uma indústria química compra regularmente matérias-primas como essências, sais e minérios que apresentam um custo médio unitário de R$ 2.000,00 a tonelada. São consumidas 600 toneladas por semestre destes itens. Cada pedido custa, em média, R$ 240,00. Os custos de armazenagem, de seguro e de risco de matérias-primas vencidas fora do prazo são de 6% a.a., e são todos estes financiados por linhas de crédito obtidas junto aos bancos. A taxa de juros cobrada pelo sistema financeiro é de 12% a.a. Vamos calcular o LEC: 7xguih Caixa de texto 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Sublinhar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 15 • Primeiro passo: vamos calcular o custo unitário de manutenção de estoques: · Custo = [1,06 x 1,12 – 1] = 18,72% a.a. · Custo unitáriono semestre = [1,1872] 6/12 = 8,96% no semestre · Custo unitário no semestre = R$ 2.000,00 x 8,96% = R$ 179,2 • Segundo passo: vamos calcular o LEC: · LEC = [( 2 x 600 unidades x R$ 240,00) / R$ 179,2] ½ · LEC = 40 Toneladas Adiantamento a Fornecedores Segundo Hoji (2008, p. 126), adiantamento pode ser definido como um recurso financeiro entregue ao fornecedor sem que haja o correspondente fornecimento de material, equipamento ou serviço. Essa definição nos faz considerar que, muitas vezes, a empresa precisa, em decorrência de razões econômicas, financeiras e de mercado, financiar seus fornecedores de forma a possibilitar a entrega das matérias-primas que se tornarão parte integrante do processo produtivo. Assim sendo, o que se faz importante administrar são as garantias a serem dadas pelo fornecedor que, uma vez recebido o adiantamento dos recursos, deverá cumprir os prazos de entrega e os volumes dos pedidos efetuados. Logo, como parte integrante da administração de estoques, temos que o cuidadoso trabalho relativo à gestão das posições de adiantamento a fornecedores, e das contrapartidas das mercadorias efetivamente entregues, se tornam essenciais e cruciais para o administrador financeiro. O Adiantamento a Fornecedores exige sempre cuidadosa administração por ser exatamente crucial e de responsabilidade direta dos profissionais responsáveis pela administração dos estoques e pela produção, bem como, do departamento financeiro. A Administração do Contas a Pagar Muitos autores resumem o conceito de Contas a Pagar (CP) como sendo uma espécie de “empréstimo” dos fornecedores para com a empresa. Normalmente, quando a empresa não pode comprar a prazo de seus fornecedores e, portanto, lançar um valor no CP, ela precisa compensar esta inexistência de “crédito na praça” com empréstimos junto a instituições financeiras. Essa postura acarreta como contra partida o pagamento de juros e impostos incidentes no período de uso da linha de crédito. Pode-se assim dizer que o CP é um benefício e uma capacidade das empresas e de seus administradores economizarem com juros e demais encargos e financiarem-se junto aos fornecedores, ou seja, junto ao mercado. 7xguih Balão de comentário LOTE ECONOMICO DE COMPRA 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 7xguih Destacar 16 Unidade: A Administração do Capital de Giro como Estratégia Financeira Entretanto, vale destacar que o saldo apresentado no CP nem sempre será exatamente o valor futuro desembolsado pela empresa, quando do pagamento do(s) título(s) correspondente(s). Isto porque muitos fornecedores oferecem descontos no ato do pagamento já que este é adiantado pela empresa. Assim, sempre que houver disponibilidade de caixa e a Administração Financeira enxergar vantagem financeira na quitação antecipada deste CP, este valor será baixado e o saldo de caixa utilizado na quitação da dívida, reduzido a menor. Exemplo: Imagine a seguinte situação: Um analista financeiro precisa administrar o Contas a Pagar da empresa onde trabalha. A empresa tem uma fatura a pagar (CP) de R$ 25.000,00 e recebe um comunicado do fornecedor oferecendo desconto de 2,5% para pagamento antecipado deste débito. Mas para pagar antecipadamente a empresa precisaria tomar emprestado no banco o valor com desconto (ou seja: 0,95 x R$ 25.000,00 = R$ 23.750,00) e pagá-lo em 30 dias com taxa de juros de 9% a.a. Será que vale a pena? Percebemos que a opção é vantajosa, pois a empresa obtém um desconto de 5% de imediato (R$ 1.250,00), sendo que os juros pelos 30 dias que ficar descoberta em R$ 23.750,00 é baixo no período do empréstimo: · Taxa Juros Banco: (1,09)1/12 – 1 = 0,72% a.m. · Valor dos Juros Cobrados em 30 dias: R$ 23.750,00 x 0,72% = R$ 171,0 Ou seja, o desconto de 5% é bem mais vantajoso que os juros de 0,72% que será cobrado sobre o empréstimo de R$ 23.750,00. Para você, interessado em ler mais a respeito da importância do planejamento financeiro para a administração do negócio, sugiro ler o Capítulo 3 do livro Princípios da Administração Financeira, de Lawrence J. Gitman. Ideias Chave • Compreender a Análise das Fontes e dos Usos de Fundos; • Discutir o financiamento do Capital de Giro; • Analisar a correta administração dos Ativos Circulantes, o Contas a Receber, os Estoques e Contas a Pagar; • Observar como uma empresa pode ser financiada. 7xguih Caixa de texto 5% 7xguih Nota 25.000,00 x 0,05=1.250 25.000,00 -1.250 = 23.750,00 17 Material Complementar Sugestão de Leitura • Estudamos nesta Unidade os importantes temas ligados ao Capital de Giro, seus conceitos e sua administração pelo gestor financeiro. Vimos também que a adequada administração do Capital de Giro é essencial e determinante para o sucesso do negócio, especialmente no Brasil, onde as empresas carecem de linhas de crédito e onde os empréstimos e descontos de títulos e duplicatas são normalmente caros e onerosos a todo empresários. No livro Administração Financeira e Orçamentária de M. Hoji, temos uma excelente explicação deste tema no Capítulo 12 – Análise Financeira da Gestão Operacional. Sugiro, portanto, a leitura atenta do item 12.2 – Análise do Capital de Giro, nas páginas 303 a 309 para um maior aprofundamento de seus estudos. • Dando continuidade ao entendimento e ao estudo mais aprofundado sobre o Capital de Giro e sua administração e necessidade no dia a dia do empresário, sugiro estudar um pouco mais o tema ‘Endividamento’. Vá à nossa biblioteca virtual e leia no livro Princípios de Administração Financeira de L.J. Gitman a página 49, onde o autor trata do conceito e dos exemplos relacionados aos Índices de Endividamento. Em, seguida, veja também uma tabela resumo com todos os índices da Bartlett Company, nas páginas 58 e 59. 18 Unidade: A Administração do Capital de Giro como Estratégia Financeira Referências Básica GITMAN, L.J. Princípios de Administração Financeira, 10. ed. São Paulo: Pearson, 2007. GROPPELLI, A.A. e NIKBAKHT, E. Administração Financeira, 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. HOJI, M. Administração Financeira e Orçamentária. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2008. MARION, J.C. Análise das Demonstrações Contábeis: Contabilidade Empresarial. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2009. SANTOS, J.O. Valuation: Um Guia Prático. São Paulo: Editora Saraiva, 2012. Complementar IUDÍCIBUS, S. Análise de Balanços. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2009. MÁLAGA, F.K. Análise de Demonstrativos Financeiros e da Performance Empresarial Para Empresas Não Financeiras. São Paulo: Saint Paul Editora, 2009. 19 Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000 http://www.cruzeirodosulvirtual.com.br
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