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1 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS RECURSOS CONCEITO Recurso é o meio voluntário de impugnação de decisão judicial, ainda não preclusa, previsto em lei, disponível às partes e ao Ministério Público , que se desenvolve dentro do mesmo processo em que se prolatou a decisão recorrida, cujo objetivo é reformá-la, anulá-la ou aclará-la. O recurso é um dos instrumentos que provocam a jurisdição revisiva, que é regida pelo princípio da taxatividade, pois só é possível os recursos previstos em lei. Natureza jurídica O recurso tem a natureza jurídica de desdobramento do direito de ação, pois desenvolve-se no mesmo processo onde foi prolatada a decisão judicial impugnada. Distinção entre recursos e ações de impugnação Além dos recursos, há ainda as ações de impugnações, que também se prestam à impugnação de decisões judiciais. Exemplos: “habeas corpus”, mandado de segurança e revisão criminal. O recurso desenvolve-se dentro do mesmo processo onde foi prolatada a decisão impugnada, ao passo que as ações de impugnação de decisões judiciais inauguram uma nova relação processual. No recurso, a parte contrária não é citada, mas intimada para apresentar as contrarrazões. Nas ações de impugnação, por se tratar de um novo processo, a parte contrária será citada. O recurso nunca pode ser interposto após o trânsito em julgado. O “habeas corpus” pode ser interpostos antes ou depois do trânsito em julgado e a revisão criminal só depois do trânsito em julgado da condenação. Quanto ao mandado de segurança, só pode ser impetrado antes do trânsito em julgado da sentença. CARACTERÍSTICAS DO RECURSO O recurso apresenta as seguintes características: voluntariedade: a interposição do recurso, conforme prevê art. 574 do CPP, depende da iniciativa e vontade da parte, pois é um prolongamento do princípio dispositivo da ação, que consagra a inércia da jurisdição. O denominado recurso de ofício ou necessário, que obriga o juiz a remeter certas decisões e sentenças para o tribunal analisá-las, a rigor, não é recurso e, sim, hipóteses de duplo grau obrigatório de jurisdição, uma condição de eficácia da sentença. Assim, o Ministério Público não é obrigado a recorrer. Igualmente, o defensor dativo, a defensoria pública e o advogado constituído, também não. b) disponível. O recurso, além de voluntário, é também disponível, pois, uma vez interposto, nada obsta a sua desistência. Em relação aos recursos interpostos pelo Ministério Público, porém, conquanto voluntários, são indisponíveis, pois é vedada a sua desistência. c) decisão judicial pendente: é a que não está preclusa. Se houver preclusão, o ato judicial não pode ser impugnado através do recurso, mas às vezes ainda é possível a impugnação pelos outros meios de provocação da jurisdição revisiva, como é o caso do habeas corpus. d) taxatividade: o recurso só existe nos casos previstos em lei federal, sendo vedada a sua criação por ato de vontade das partes. Portanto, não existe recurso implícito, pois a sua existência nunca é Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 2 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS presumida. e) legitimação exclusiva. O recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público, ou pelo querelante, ou pelo réu, seu procurador ou seu defensor (art. 577 do CPP). A vítima também pode recorrer em determinadas situações, quer esteja ou não habilitada como assistente de acusação. No CPC, o terceiro prejudicado tem legitimidade para recorrer, mas no processo penal, em regra, não lhe deferido este direito. f) desenvolve-se dentro do mesmo processo: o recurso tramita no próprio processo em que se prolatou a decisão recorrida. Ele prolonga o processo e a litispendência. Às vezes tem autos próprios, como o recurso em sentido estrito, mas sempre desenvolve-se no mesmo processo. De fato, entende-se por autos a documentação escrita dos atos processuais, ao passo que processo é o instrumento da jurisdição, isto é, o meio através do qual se visa solucionar os conflitos de interesses. Por consequência, é possível que dentro de um único processo haja vários autos processuais. g) objetivo: reformar, anular ou aclarar a decisão judicial. O recurso pode visar a reforma, que é a substituição da decisão por outra, ou então a anulação para que outra decisão seja prolatada, e, às vezes, o aclaramento, quando a decisão for obscura, ambígua, omissa ou contraditória, que é o que ocorre nos embargos de declaração. PRINCÍPIOS RECURSAIS Princípios recursais são os postulados fundamentais que inspiram a elaboração das normas sobre recursos. Referidos princípios são os seguintes: a) Princípio do duplo grau de jurisdição; b) Princípio da colegialidade; c) Princípio da taxatividade; d) Princípio da unirrecorribilidade; e) Princípio da dialeticidade; f) Princípio da proibição da “reformatio in pejus”; g) Princípio da fungibilidade; h) Princípio da Convolação; i) Princípio da “reformatio in mellius”; j) Princípio da complementariedade; k) Princípio da consumação. PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO O princípio do duplo grau de jurisdição é o que possibilita o reexame da decisão judicial por órgão jurisdicional hierarquicamente superior. Sobre as vantagens deste princípio, destacam-se o controle das decisões e a correção de eventuais erros. Estes dois benefícios compensam o retardamento do pronunciamento jurisdicional. Saliente-se, contudo, que o princípio do duplo grau não está previsto expressamente na Constituição Federal. O referido princípio, porém, é previsto expressamente na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, também conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, segundo o qual toda pessoa acusada de delito tem o direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior ( Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 3 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS art. 8º, n. 2, “h”). Os tratados de direitos humanos não aprovados com quórum de emenda constitucional, como é o caso do Pacto de São José da Costa Rica, têm caráter supralegal, estando abaixo da Constituição e acima das leis. Mas, para outra parcela da doutrina, o duplo grau é um princípio constitucional implícito, que decorre da estrutura do Poder Judiciário. Com efeito, os tribunais são previstos na Constituição Federal, de modo que implicitamente assegura-se a necessidade dos recursos, que efetivam o princípio do duplo grau. Ademais, o art. 93, IX, da CF exige que as decisões judiciais sejam fundamentadas. A razão da motivação é estabelecer a ampla recorribilidade para se concretizar o princípio do duplo grau. O STF, porém, trata o duplo grau como um princípio supralegal, estando abaixo da Constituição e acima das leis. As inúmeras leis que exigem, para a interposição de apelação ou de outro recurso, a necessidade de se recolher à prisão violam o Pacto de São José da Costa Rica e, para os que sustentam que o duplo grau tem origem constitucional implícita, afrontam a própria Constituição Federal. É, pois, pacífico que o acusado poderá recorrer sem recolher-se à prisão. A propósito, dispõe a súmula 347 do STJ: “O conhecimento do recurso de apelação do réu independe de sua prisão”. Da mesma forma, se, durante a apelação, o réu, que estava preso preventivamente, se evadir, o recurso prosseguirá, ou seja, não será julgado deserto. Esta orientação é adotada tanto pelo STF quanto pelo STF. A súmula 09 do STJ, que reputava válida a exigência de recolhimento à prisão para poder apelar, encontra-se cancelada. As inúmeras leis, que exigem o recolhimento à prisão como requisito do recursode apelação, não são mais aplicadas. Elas violam não só o princípio do duplo grau como também os princípios da ampla defesa, da proporcionalidade, da isonomia e do devido processo legal. É, entretanto, possível que a prisão preventiva seja decretada na própria sentença condenatória ou na decisão de pronúncia, mas, nesse caso, o réu poderá recorrer ainda que se encontre foragido. Não há necessidade, porém, do triplo grau jurisdição, basta o duplo, ou seja, a possibilidade de se impugnar a decisão judicial pelo menos uma vez. Na área penal, o princípio do duplo grau de jurisdição deve possibilitar a revisão do julgado por órgão jurisdicional superior. Nas ações penais de competência originária do Supremo Tribunal Federal, porém, será cabível o recurso de embargos infringentes ao Plenário do STF, nos termos do art. 333, I e parágrafo único do RISTF, contra decisão não unânime do Plenário ou da Turma que julgar procedente a ação penal. O cabimento dos embargos, em decisão do Plenário do STF, depende da existência, no mínimo, de quatro votos divergentes. Trata-se de uma hipótese em que o princípio do duplo grau é exercido pelo próprio tribunal que prolatou a decisão recorrida. Por analogia, nos demais casos de foro por prerrogativa de função da competência de outros tribunais, também caberá , em caso de divergência na votação, o recurso de embargos infringentes ao próprio tribunal, pois, nos recursos especial e extraordinário, o que se discute não são os fatos, mas, sim, as questões jurídicas, de modo que eles não se prestam ao atendimento do duplo grau. Outro recurso que é julgado pelo próprio órgão que prolatou a decisão recorrida, é os Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 4 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS embargos de declaração. Finalmente, nas hipóteses de reexame necessário, concretiza-se o duplo grau sem que haja recurso. PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE Em regra, os recursos são julgados por órgãos colegiados, compostos por 3 (três) ou mais desembargadores ou ministros, viabilizando-se, destarte, o diálogo no processo entre os magistrados. Abre-se, no entanto, exceção às hipóteses previstas no art. 932, III, IV e V do CPC, que prevê as situações de julgamento monocrático, aplicáveis no processo penal apenas aos recursos especial e extraordinário, pois estes dois recursos são disciplinados pelo CPC. A propósito, dispõe o art. 932, III, IV e V do CPC: “Incumbe ao relator: III - não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida; IV - negar provimento a recurso que for contrário a: a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; V – depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a decisão recorrida for contrária a: a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência”. PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE Significa que só a lei federal pode criar recurso. De fato, compete exclusivamente à União legislar sobre processo, e, por consequência, sobre recursos (art. 22, I, da CF). Dessa forma, o rol dos recursos é taxativo (“numerus clausus”). PRINCÍPIO DA UNIRRECORRIBILIDADE OU SINGULARIDADE OU UNICIDADE De acordo com esse princípio, para cada decisão judicial é cabível apenas um tipo de recurso. Não se admite recursos simultâneos contra a mesma decisão. Exemplo: se na sentença, o juiz condena o réu por um crime e extingue a punibilidade em relação ao outro delito, só será cabível o recurso de apelação, e não o recurso em sentido estrito, ainda que o recurso verse somente sobre a extinção da punibilidade. Assim, as decisões proferidas na sentença são passíveis apenas de apelação, que é o recurso Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 5 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS adequado para impugná-las. Finalmente, cumpre apontar três exceções ao princípio da unirrecorribilidade. A primeira ocorre no acórdão que tem fundamento legal e constitucional, sendo cabível a interposição simultânea do recurso especial, para impugnar o tópico que afronta a lei, e do recurso extraordinário, contra o tópico que afronta a Constituição Federal. A segunda é em relação aos acórdãos não unânimes dos Tribunais de Justiça ou Tribunais Regionais Federais, nos julgamentos das apelações, recurso em sentido estrito e agravo em execução, onde serão cabíveis simultaneamente os recursos de embargos infringentes e de nulidade, contra a parte não unânime, e os recursos especial e/ou extraordinário contra a parte unânime. A terceira é a possibilidade de interposição de embargos de declaração e outro recurso, quando a decisão, a sentença ou acórdão forem omissos, obscuros, contraditórios ou contiverem erros materiais. Nesse caso, primeiro se ingressa com os embargos de declaração, mas se estes forem rejeitados, outro recurso poderá interposto contra a mesma decisão. PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE O princípio em análise é o que obriga a fundamentação, ainda que concisa, de todo e qualquer recurso. Não é recomendável, mas aceita-se a fundamentação remissiva, que se reporta aos fundamentos de outra peça processual. A fundamentação, que é a causa de pedir do recurso, pode referir-se ao “error in procedendo” ou ao “error in judicando”. A fundamentação tem dupla função. A primeira é limitar a atuação do tribunal à matéria recorrida. A segunda é permitir a ampla defesa, através das contrarrazões. Os arts. 589 e 601 do CPP, porém, que cuidam dos recursos em sentido estrito e da apelação, permitem que os referidos recursos da acusação ou da defesa sejam julgados sem as razões e contrarrazões recursais, desde que a parte tenha sido devidamente intimada para apresentá-las. Em função disso, o princípio da dialeticidade, conquanto recomendável, não tem caráter absoluto. O ideal é que, diante da falta de razões ou contrarrazões da defesa, o tribunal converta o julgamento em diligência para que o defensor as apresente e, em caso de inércia, intime o réu para constituir novo defensor, sob pena de lhe ser nomeado um defensor dativo. E, no caso de o Ministério Público, não apresentar as razões ou contrarrazões, o ideal seria o tribunal comunicar o Procurador Geral de Justiça para apresentá-las ou designar outro membro do “parquet” para apresentá-las, aplicando-se por analogia o art. 28 do CPP. O certo, porém, é tanto o STF quanto o STJ admitem o julgamento dos recursos em sentido estrito e de apelação sem as respectivas razões ou contrarrazões. PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA “REFORMATIO IN PEJUS” Segundo este princípio, também conhecido como efeito prodrômico da sentença, o réu, em seu recurso, não pode ter a situação agravada. Este princípio é consagrado expressamente à apelação, no art. 617 do CPP, mas é aplicável pela jurisprudência a todos os recursos da defesa. Aliás, no recurso da acusação, o tribunal também não poderá conhecer de ofício matéria não Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 6 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIOMONTEIRO DE BARROS impugnada, que seja prejudicial à defesa. Nem mesmo uma nulidade absoluta contra o réu, não arguida no recurso da acusação, poderá ser conhecida de ofício pelo tribunal (súmula 160 do STF). O princípio da “non reformatio in pejus” veda em recurso exclusivo da defesa, dentre outras, as seguintes situações: a) a instauração do incidente de insanidade mental para fins de imposição de medida de segurança não pleiteada pelo réu (súmula 525 do STF). b) a imposição de efeito específico da condenação, previsto no art. 92 do CPP. Conquanto o art. 617 do CPP vede apenas o agravamento da pena em recurso exclusivo da defesa, a doutrina estende também a vedação aos efeitos específicos da condenação. c) aumento da pena base, ainda que a quantidade da pena final seja a mesma fixada na sentença. d) inserir, no lugar da qualificadora afastada, alguma causa de aumento de pena. Há ainda a proibição da “reformatio in pejus indireta”, que consiste na vedação de o novo julgamento agravar a situação do réu, quando o primeiro houver sido anulado em recurso exclusivo da defesa ou através de “habeas corpus”. Ainda que a anulação da sentença, em razão de recurso exclusivo da defesa, houver sido por incompetência absoluta, a nova sentença não poderá ultrapassar o teto máximo da pena imposta na condenação anterior. Uma posição minoritária, porém, sustenta que, neste caso, tendo em vista a violação do princípio do juiz natural, a nova sentença não teria que observar o teto da pena anterior. No tocante à anulação da sentença do júri por recurso exclusivo da defesa, o réu, no novo júri, poderá até ser condenado por fato mais grave, por exemplo, homicídio qualificado, mas o juiz presidente, ao aplicar a pena, não poderá ultrapassar a pena do julgamento anterior. É a posição da 2ª Turma do STF. O STJ, porém, assevera que, no júri, por força da soberania dos veredictos, não vigora o princípio da proibição da “reformatio in pejus indireta”, podendo o novo julgamento agravar a pena. Este último ponto de vista destoa da lógica, pois se o réu não tivesse recorrido a pena seria menor, de modo operou-se, em relação ao teto máximo da pena, diante da ausência de recurso da acusação, a coisa julgada material. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE O princípio da fungibilidade é o que permite o recebimento do recurso errôneo como se fosse o correto. A propósito, dispõe o art. 579 do CPP: “Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro”. A má-fé é presumida em duas hipóteses: a) interposição do recurso errôneo fora do prazo previsto para o recurso correto. Assim, para se aplicar o referido princípio, o recurso inadequado deve ter sido interposto dentro do prazo previsto para o recurso correto. b) erro grosseiro. Verifica-se o erro grosseira quando não paira qualquer dúvida doutrinária ou jurisprudencial acerca do recurso correto. É, pois, necessário, para a aplicação do princípio da fungibilidade, que haja dúvida séria e objetiva sobre o tipo de recurso cabível. Ao aplicar o princípio da fungibilidade, o tribunal deve intimar o recorrente para que faça as Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 7 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS adequações ao procedimento do recurso que seria o correto. Exemplo: o tribunal admitiu a apelação, embora o correto fosse o recurso em sentido estrito, nesse caso, o recorrente terá que providenciar a juntada das peças obrigatórias do recurso em sentido estrito, sendo que o tribunal terá que baixar os autos para o juiz de primeiro grau exerça ou não o juízo de retratação, que existe no recurso em sentido estrito. Sobre o assunto, reza o art. 579, parágrafo único, do CPP: “Se o juiz, desde logo, reconhecer a impropriedade do recurso interposto pela parte, mandará processá-lo de acordo com o rito do recurso cabível”. Princípio da convolação O princípio da convolação é o que autoriza a conversão do recurso correto em outra via de impugnação mais adequada. Exemplo: o tribunal, diante da flagrante nulidade da sentença, recebe uma apelação intempestiva como “habeas corpus”. É também possível que o tribunal receba uma revisão criminal como “habeas corpus”, em função da maior celeridade do remédio heróico. Convém anotar que, no princípio da fungibilidade, o recurso errôneo é convertido no correto, ao passo que, no princípio da convolação, o recurso interposto é o correto, mas intempestivo ou então não preenche algum outro requisito de admissibilidade e, por isso, é convertido noutra medida de impugnação, com o intuito de evitar prejuízo ao recorrente. Princípio da “reformatio in mellius” De acordo com o princípio da “reformatio in mellius”, o tribunal ao julgar o recurso da acusação ou da defesa pode melhorar, de ofício, a situação do réu, conhecendo de matérias não ventiladas no recurso. Trata-se de um desdobramento do princípio do “favor rei” ou “favor libertatis”. Este princípio encontra-se implícito no CPP. Com efeito, o art. 617 do CPP proíbe expressamente que o tribunal, ao julgar o recurso de apelação da defesa, agrave a situação do réu. Se tivesse a intenção de proibir o tribunal de beneficiar o réu tê-lo-ia também dito expressamente. O art. 654, § 2o, do CPP, permite que o tribunal conceda “habeas corpus” de ofício e, por consequência, o autoriza implicitamente a conceder outros benefícios menores ao réu. No tocante às sentenças do júri, porém, o tribunal, no julgamento do recurso, não poderá conhecer de questões não pleiteadas nas razões recursais, salvo quanto às nulidades absolutas favoráveis ao réu. Vê-se assim que, no júri, o efeito devolutivo da apelação é restrito, ao passo que, nas sentenças do juiz singular, o efeito devolutivo do apelo será amplo. A propósito, dispõe a súmula 713 do STF: “O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição”. PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIEDADE O princípio da complementariedade admite que a parte adite as razões do recurso já interposto. Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 8 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS Este princípio, em regra, não é adotado, pois colide com a preclusão consumativa. Assim, o recorrente, após a apresentação do recurso, não poderá mais aditá-lo ou modificá- lo, ainda que o prazo não tenha ainda se esgotado. Aludido princípio encontra, porém, guarida nos embargos de declaração. Com efeito, se após a apresentação de algum recurso, for dado provimento aos embargos declaratórios da parte contrária, o recorrente poderá complementar o recurso já interposto, no tocante aos pontos modificados, tendo em vista a nova sucumbência, mas esse complemento é apenas sobre os tópicos atinentes à nova sucumbência, vedando-se o complemento sobre os pontos que poderiam ser impugnados anteriormente. PRINCÍPIO DA CONSUMAÇÃO De acordo com este princípio, não se admite que o recurso já interposto seja substituído por outro, ainda que dentro do prazo recursal. Assim, se houver a interposição de dois recursos distintos contra a mesma decisão, prevalecerá o recurso protocolado em primeiro lugar. Trata-se, mais uma vez, de aplicação da preclusão consumativa. Em oposição ao princípio da consumação, há o princípio da variabilidade, que permite ao recorrente substituir o recurso interposto por outro, desde que o faça dentro do prazo. Não há, no processo penal, nenhuma hipótese de aplicação do princípio da variabilidade, pois ele atenta contra o instituto da preclusão consumativa. Antes da reforma processual de 2008, o réu que era condenado pelo júri a uma pena superior a 20 (vinte) anos podiasubstituir a apelação pelo recurso do protesto por novo júri. O protesto por novo júri, entretanto, foi revogado pela aludida reforma processual, de modo que não há qualquer outra previsão legal de aplicação do princípio da variabilidade. ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS Interposição e julgamento dos recursos O recurso é interposto, em regra, perante o juízo ou tribunal “a quo”, que é aquele que proferiu a decisão recorrida e julgado pelo órgão “ad quem”, que é o tribunal para o qual se recorre. Assim, por exemplo, a apelação deve ser interposta perante o juízo prolator da sentença, devendo este encaminhá-la ao tribunal, órgão “ad quem”. Não se pode interpor a apelação diretamente ao tribunal. Excepcionalmente, porém, interpõe-se o recurso diretamente no tribunal, e não no órgão “a quo”, como ocorre com a correição parcial e com o agravo interposto contra a decisão que negou seguimento aos recursos especial ou extraordinário. Há ainda alguns recursos interpostos e julgados perante o próprio órgão “a quo”. São eles: a) embargos de declaração; b) embargos infringentes contra acórdãos não unânimes do plenário do STF, nos casos de sua competência originária, pois o julgamento será feito pelo próprio plenário do STF. Juízo de prelibação O juízo de prelibação é a análise dos pressupostos de admissibilidade do recurso. Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 9 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS Assim, para que o recurso seja conhecido, isto é, julgado no mérito, é preciso que preencha os seus requisitos de admissibilidade. Assim, conhecer o recurso não é a mesma coisa que provê-lo. O conhecimento é o julgamento do mérito do recurso, ao passo que o provimento é o acolhimento do mérito do recurso. PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE Os pressupostos de admissibilidade são os requisitos formais de existência e validade do direito de recorrer. Com efeito, só se julga o mérito do recurso se ele preencher os pressupostos de admissibilidade, que são similares às condições da ação e aos pressupostos processuais, requisitos necessários ao julgamento do mérito da ação. Os pressupostos de admissibilidade são, pois, os requisitos formais, que antecedem à análise do mérito recursal. Classificam-se em: a) pressupostos intrínsecos: são os requisitos de existência do direito de recorrer. São eles: cabimento, legitimidade, interesse e a inexistência de fato extintivo do direito de recorrer. O STJ também considera a tempestividade como requisito de existência do recurso, contrariando a opinião doutrinária. b) pressuposto extrínsecos: são os requisitos de validade do direito de recorrer. São eles: tempestividade, preparo, regularidade procedimental e inexistência de fato impeditivo do direito de recorrer. Outra classificação: a) pressupostos objetivos: referem-se ao exame do próprio recurso. São os seguintes: cabimento, tempestividade, regularidade procedimental e inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer. b) pressupostos subjetivos: referem-se à pessoa do recorrente. São os seguintes: legitimidade e interesse. Há quem considere também como pressuposto subjetivo a competência do tribunal. Mas, como adverte Vicente Greco Filho, a falta de competência não prejudica o recurso, que, se não for conhecido pelo tribunal ao qual foi remetido, será por outro. Ausentes um desses pressupostos acima ocorrerá a extinção anômala ou prematura do recurso, que sequer será conhecido, ou seja, não será julgado no mérito. Todos estes pressupostos, portanto, compõem o juízo de admissibilidade do recurso, cuja análise compete tanto ao órgão “a quo” quanto ao órgão “ad quem”. No Código de Processo Civil, porém, o juízo de admissibilidade só pode ser feito pelo órgão “ad quem”. De fato, no CPC os pressupostos de admissibilidade não podem ser analisados pelo juízo “a quo”. Por exemplo, ainda que o recurso seja intempestivo ou que não tenha sido realizado o preparo, o juízo “a quo” terá que remetê-lo ao juízo “ad quem”. Em suma, o órgão “a quo” não pode indeferir o processamento do recurso. Abrem-se exceções aos recursos extraordinário e especial, cujo juízo de admissibilidade é feito também pelo órgão “a quo”, através do presidente ou vice-presidente do respectivo tribunal. No CPP, ao revés, o juízo de admissibilidade também é feito pelo órgão “a quo”, que prolatou a decisão recorrida, salvo em relação à carta testemunhável. Se o órgão “a quo” de primeiro grau não admitir a apelação será cabível o recurso em sentido Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 10 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS estrito (art. 581, XV, do CPP) e, se não admitir os demais recursos, será cabível o recurso denominado carta testemunhável (art. 639 do CPP). A previsão destes dois recursos contra a não admissão dos recursos pelo órgão “a quo” de primeiro grau revela que o juízo de admissibilidade também pode ser feito pelo órgão “a quo”. Assim, o órgão “a quo” antes de remeter o recurso ao órgão “ad quem” deverá realizar o juízo de prelibação, que consiste na análise dos requisitos de admissibilidade. O juízo de admissibilidade feito pelo órgão “a quo”, que admite o recurso, não vincula o órgão “ad quem”, que negará seguimento ao recurso, quando este não preencher os requisitos de admissibilidade. Portanto, para que o recurso seja conhecido, e, por consequência, examinado no mérito, urge que sejam realizadas essas duas triagens, ou seja, que ele seja admitido pelos órgãos “a quo” e “ad quem”. Quanto à carta testemunhável, porém, conforme já dito, o juízo de admissibilidade só será feito pelo órgão “ad quem”. Ainda que intempestiva, por exemplo, o juízo “a quo” deverá remetê-la ao tribunal. Há, pois, quatro situações distintas: a) não conhecimento do recurso: é a sua extinção sem julgamento do mérito, por não preencher os pressupostos de admissibilidade. b) não provimento do recurso: o recurso é conhecido, mas, no mérito, é julgado improcedente. c) provimento do recurso: o recurso é conhecido e julgado totalmente procedente. d) provimento parcial do recurso: o recurso é conhecido e julgado parcialmente procedente. O tribunal, ao julgar o mérito do recurso, utiliza a expressão provimento ou não provimento, em vez de procedência ou improcedência. ANÁLISE DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS CABIMENTO DO RECURSO O cabimento tem dois aspectos. O primeiro é que a decisão judicial deve ser passível de recurso. O segundo é a interposição do recurso correto. É, pois, mister que haja na lei algum recurso para atacar o ato judicial hostilizado. São, pois, irrecorríveis: a) os despachos, que são os atos judiciais de mera movimentação do processo, sem qualquer conteúdo decisório. Se, porém, tumultuarem o processo poderão ser impugnados através de correição parcial. b) decisões interlocutórias simples, que são as que resolvem uma determinada questão, mas não extinguem o processo nem uma fase do processo. Em regra, também são irrecorríveis, salvo nas hipóteses previstas no art. 581 do CPP. Quando não couber recurso, a questão poderá ser impugnada em preliminar de uma futura apelação ou em “habeas corpus” ou mandado de segurança, conforme a hipótese. Ainda sobre o cabimento, cumpre frisar que se deve interpor o recurso correto. Exemplo: a sentença é impugnável através do recurso de apelação e não do recurso em sentido estrito. Acerca do cabimento ou adequação, cumpre recordar o princípio da fungibilidade, que autoriza o recebimento do recurso errado como se fosse o correto, desde que não haja má-fé. Vedada a transmissão e reprodução deste material (art.184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 11 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS LEGITIMIDADE Legitimidade é a autorização legal para o sujeito recorrer. Têm legitimidade para recorrer (art. 577 do CPP): a) o Ministério Público. O Ministério Público pode recorrer nos processos em que intervém como parte ou fiscal da ordem jurídica, bem como nos processos em que deveria intervir e não participou. Nesse último caso, deverá pleitear a nulidade do ato recorrido; b) o querelante; c) o réu; d) o procurador do réu; e) o defensor do réu. O réu tem legitimidade autônoma para recorrer contra decisões e sentenças de primeiro grau de jurisdição, sendo, pois, dotado de capacidade postulatória recursal, independentemente do eventual recurso interposto por seu defensor. Assim, o réu pode recorrer contra a vontade do seu defensor e vice-versa. Interposto o recurso pelo réu, as razões deste recurso devem ser feitas por seu advogado ou defensor, com o fim de se preservar a ampla defesa. De fato, a apresentação de razões recursais é ato privativo de advogado, sendo vedada a sua elaboração pelo réu que não seja advogado. Assim, cumpre não confundir a interposição do recurso com as razões recursais. A primeira é a manifestação da vontade de recorrer. A segunda é a exposição dos fundamentos do recurso. Em alguns recursos, como a apelação e o recurso em sentido estrito, as razões podem ser apresentadas depois da interposição do recurso, ao passo que em outros, como os recursos especial e extraordinário, as razões devem ser apresentadas juntamente com a interposição do recurso. O réu, para interpor recurso, basta manifestar ao oficial de justiça, por ocasião de sua intimação, o desejo de recorrer, que deverá ser certificado pelo meirinho. Convém lembrar que, além dos recursos, o réu também pode, sem advogado ou defensor, interpor: a) “habeas corpus” (art. 654 do CPP); b) revisão criminal (art. 623 do CPP); c) pedidos referentes à execução da pena (art. 195 da LEP). O citado art. 577 do CPP não esgota o rol dos legitimados para recorrer, pois a lei prevê outras hipóteses. Com efeito, também podem interpor recursos: a) o terceiro que prestou fiança pode recorrer em sentido estrito contra a decisão que decretou a perda ou quebramento da fiança (581, VII, do CPP). Trata-se de uma rara previsão de recurso interposto por terceiro juridicamente interessado. De fato, o terceiro juridicamente interessado, que, no processo civil, pode interpor recurso, na seara processual penal não poderá recorrer, salvo na hipótese em que prestou fiança e houver a perda ou quebramento da aludida garantia. Outra hipótese é o recurso interposto pelo terceiro de boa-fé contra a decisão que ordenou o sequestro de seus bens. Entende-se por terceiro a pessoa que não participou do processo, mas cuja relação jurídica pode ser afetada pela decisão judicial. O terceiro prejudicado não é intimado da decisão, de modo que seu prazo recursal é contado da intimação das partes. Noutras palavras, o terceiro tem o mesmo prazo que as partes têm para recorrer, sujeitando-se também aos demais pressupostos recursais. b) qualquer do povo, inclusive, o próprio jurado, pode recorrer em sentido estrito da decisão judicial sobre a lista geral de jurados (art. 581, XIV, do CPP). Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 12 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS c) além do sentenciado, seu cônjuge (ou companheiro), parente ou descendente podem interpor o recurso de agravo em execução contra as decisões do juiz da execução penal (art. 195 da LEP). Trata-se de uma rara previsão de recurso interposto por terceiro moralmente interessado. d) o juiz tem também legitimidade para recorrer nos incidentes processuais em que for parte, que são os incidentes de suspeição e impedimento. Nesses casos, não precisará de advogado, pois dispõe de conhecimento técnico. e) o ofendido, esteja ou não habilitado como assistente de acusação. Acerca do ofendido, habilitado ou não como assistente de acusação, uma primeira corrente sustenta que a sua legitimidade é restrita, pois a lei só o autoriza a recorrer da impronúncia, da extinção da punibilidade e da sentença absolutória (art. 584, § 1o e 598 do CPP). O fundamento desta corrente é que o interesse do assistente se limita à garantia do seu direito de indenização e, por consequência, não poderia recorrer da sentença condenatória, pois esta, independentemente da quantidade da pena, lhe assegura o direito de indenização na esfera cível, onde funciona como título executivo judicial. Ele pode interpor então apenas o recurso em sentido estrito contra a decisão que julgar extinta a punibilidade e apelação contra impronúncia e sentença absolutória. No tocante à sentença de absolvição sumária do procedimento do júri, prevalece o entendimento que será também possível o recurso do assistente de acusação, pois esta sentença tem natureza absolutória. Nestas hipóteses, para fazer valer o recurso interposto, o assistente de acusação pode interpor inclusive recurso extraordinário, conforme súmula 210 do STF, recurso especial e carta testemunhável. Assim, por exemplo, não recebida a apelação do assistente de acusação, ele poderá interpor o recurso em sentido estrito e se este também não for admitido, será possível a carta testemunhável. Outra corrente, porém, lhe confere ampla liberdade para interpor qualquer recurso, inclusive, quando a sentença for condenatória, com o fim de se pleitear o aumento da pena. Outrossim, da decisão de pronúncia. O fundamento desta doutrina é que o assistente de acusação pode requerer provas, prisão preventiva e outras medidas cautelares pessoais, tendo, pois, interesse na busca da verdade real e não apenas no seu direito à indenização. A súmula 208 do STF reza que “o assistente de acusação não pode recorrer extraordinariamente de decisão concessiva de “habeas corpus”. Inúmeros processualistas, porém, sustentam o cancelamento desta súmula, posto que a Lei 12.403/11, que lhe é posterior, legitimou o assistente a requerer prisão preventiva e outras medidas cautelares pessoais e, por consequência, passa a ter interesse em interpor recurso extraordinário contra a decisão concessiva de “habeas corpus”. A polêmica persiste e ainda não foi apaziguada. O assistente de acusação tem legitimidade subsidiária ou supletiva, pois só pode recorrer se o Ministério Público não houver interposto recurso no prazo legal ou quando o Ministério Público tiver recorrido apenas de uma parte da decisão judicial. Neste último caso, o recurso do assistente de acusação só poderá versar sobre a parte não impugnada no recurso do membro do “parquet”. Se o recurso do Ministério Público impugnar toda a decisão judicial, o assistente de acusação não poderá recorrer, mas lhe será facultada a oferta das razões e, nesse caso, haverá duas razões recursais, a ministerial e a do assistente (art. 271 do CPP). Uma corrente minoritária ainda assevera que o assistente de acusação só poderá recorrer da sentença absolutória, da impronúncia e da extinção da punibilidade, quando, além da inércia do Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 13 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS Ministério Público em interpor os respectivos recursos, o membro do “parquet” não houver pleiteado estas soluções em suas manifestações anteriores. Se, por exemplo, o Ministério Público houver pugnado pela absolvição, o assistente não poderá recorrer da sentença absolutória. Este posicionamento não tem cabimento, pois as normas restritivas de direitos não comportam interpretação ampliativa. Quanto ao prazo para o assistente de acusação interporrecurso em sentido estrito e apelação, é de 5 (cinco) dias, a contar do término do prazo do Ministério Público (art. 598, parágrafo único, do CPP). Sobre o assunto, dispõe a súmula 448 do STF: “O prazo para o assistente recorrer, supletivamente, começa a correr imediatamente após o transcurso do prazo do Ministério Público”. Se, porém, o assistente de acusação só houver sido intimado da decisão judicial, após o esgotamento do prazo do Ministério Público, o seu prazo recursal só se iniciará no primeiro dia útil seguinte à sua intimação. Se, por outro lado, a vítima não requereu a sua habilitação como assistente de acusação, o prazo para interpor recurso em sentido estrito e apelação será de 15 (quinze) dias e começará a correr imediatamente após o transcurso do prazo do Ministério Público. Nesta hipótese, a petição de recurso deverá vir instruída com a prova de que se trata do ofendido ou do seu representante legal e, no caso de morte, do cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente. Nos demais recursos, o prazo para o assistente de acusação recorrer será o normal. INTERESSE RECURSAL O interesse recursal surge quando houver a necessidade de recorrer para se obter alguma vantagem. De fato, não se admitirá, recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão (art. 577, parágrafo único, do CPP). A necessidade do recurso advém da sucumbência. É, pois, a sucumbência que gera o interesse de recorrer. Sucumbência é o prejuízo potencial ou efetivo causado pelo ato judicial do qual se pretende recorrer. É, pois, o não atendimento de uma pretensão. A sucumbência apresenta as seguintes modalidades: a) sucumbência formal: ocorre quando a decisão recorrida violar normas processuais. É, pois, o prejuízo processual. Com efeito, diante do prejuízo processual causado pelo risco de anulação desse ato judicial, surge o interesse de recorrer. b) sucumbência material: é a que decorre do não atendimento de uma expectativa, justa ou injusta. Assim, como esclarece Vicente Greco Filho, é sucumbente aquele que teve ganho parcial na causa. c) sucumbência única: é a que atinge apenas uma das partes. Ocorre quando se acolhe na íntegra pedido de uma das partes. d) sucumbência múltipla: é a que lesa os interesses de mais de uma parte. É o gênero que tem como espécies a sucumbência recíproca e a sucumbência paralela. e) sucumbência recíproca ou bilateral ou múltipla recíproca: é a que lesa simultaneamente os interesses da acusação e da defesa. Exemplo: ação penal julgada parcialmente procedente; f) sucumbência paralela ou múltipla paralela: é a que lesa os interesses de partes que se encontram no mesmo polo da relação processual. Exemplo: sentença que condena dois ou mais Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 14 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS réus. g) sucumbência direta: é a que atinge as partes processuais; h) sucumbência reflexa: é a que também atinge pessoas que não figuram como partes no processo, mas que, por força de lei, poderão recorrer. Exemplo: diante da decisão que decreta a perda da fiança, o terceiro que havia prestado a fiança poderá interpor o recurso em sentido estrito. Outro exemplo: a vítima não habilitada como assistente de acusação poderá apelar da sentença absolutória. Em regra, porém, o terceiro juridicamente interessado não poderá interpor recursos na área processual penal. i) sucumbência total: quando a ação é julgada totalmente procedente ou improcedente. j) sucumbência parcial: quando a ação é julgada parcialmente procedente. A sucumbência parcial é também recíproca ou bilateral, pois acaba atingindo ambas as partes, habilitando-as à interposição dos recursos. A sucumbência, em regra, dever ser analisada em face da parte decisória propriamente dita, e não da fundamentação. Desde que o pedido tenha sido integralmente acolhido, ainda que a fundamentação do magistrado divirja dos argumentos da parte vencedora, não há falar-se em sucumbência, portanto, não se admite recurso com o propósito exclusivo de se alterar a fundamentação de uma decisão favorável ao recorrente, pois em tal situação o objeto da decisão não será modificado. Abrem-se, entretanto, duas exceções. A primeira é a fundamentação que contém algum vício processual ou material, pois, diante do risco da decretação da nulidade, a parte vencedora poderá recorrer, com base na sucumbência processual. A segunda é a sentença absolutória, em que o recurso da defesa visa alterar o fundamento para outro que faça coisa julgada na esfera cível, a fim de se excluir o dever de indenizar. Assim, o réu pode recorrer da sentença absolutória para alterar o fundamento da absolvição, com o fim de se liberar do dever de indenizar no cível. É, pois, necessário que se demonstre o benefício visado. Exemplo: o réu absolvido por insuficiência de provas pode apelar para pleitear a legítima defesa, que exclui o dever de indenizar. Se, porém, o delito não houver causado qualquer dano, não será possível, por falta de interesse, o recurso para se alterar os fundamentos da absolvição. O interesse recursal, nesses casos, é a segurança jurídica. Sobre o interesse de recorrer, cumpre esclarecer as seguintes situações: a) extinta a punibilidade, o réu não pode recorrer para pleitear a absolvição, pois, diante da extinção da punibilidade, o Estado perde a pretensão punitiva, estando, pois, impossibilitado de se pronunciar sobre o mérito da acusação. b) o Ministério Público tem interesse em recorrer da sentença condenatória prolatada em ação penal pública, com o intuito de buscar a absolvição, a redução da pena ou outros benefícios. Aliás, lhe é lícito impetrar até “habeas corpus” em favor do acusado (art. 654 do CPP). É claro que, se por ocasião das alegações orais ou memoriais, o membro do “parquet” requereu a absolvição ou outro benefício, a sucumbência se revela evidente, franqueando-lhe, em caso de condenação, sem qualquer polêmica, as vias recursais. Se, ao revés, havia pedido a condenação, creio que também nada obsta que, após analisar melhor a situação, que recorra, na qualidade de fiscal do ordenamento jurídico, para pedir a absolvição, pois não teria cabimento permitir que se perpetuasse uma eventual injustiça ou ilegalidade, Acrescente-se ainda que a condenação injusta gera sucumbência não só para o réu, mas para toda a sociedade, circunstância que justifica o recurso ministerial. c) o Ministério Público que requer, em alegações orais ou memoriais, a absolvição poderá apelar para pedir a condenação, pois a sucumbência do membro do “parquet” decorre da violação Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 15 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS das normas jurídicas ou da equivocada análise das provas pelo magistrado, porquanto no processo penal ele acumula as funções de órgão acusatório e fiscal da lei. Ademais, a sucumbência deriva do não atendimento do pedido estampado na peça acusatória, de modo que o pedido de absolvição não elimina a sucumbência. Outra corrente, entretanto, lhe nega a pretensão recursal, invocando a falta de interesse na reforma ou modificação da decisão. d) nas ações penais exclusivamente privadas, o Ministério Público não pode recorrer das sentenças absolutórias, sob pena de violação do princípio da disponibilidade, que vigora na referida ação. e) nas ações penais exclusivamente privadas, o Ministério Público pode recorrer da sentença condenatória para pleitear o aumento da pena ou outro gravame ou ainda a absolvição, a redução da pena ou outro benefício. Por fim, discute-se se o Estado pode recorrer da sentença absolutória que o condena ao pagamento das custas processuais. Uns dizem que sim, pois houvesucumbência reflexa. A meu ver, não há interesse em recorrer, pois o Estado não é parte no processo criminal e, dessa forma, este trecho da sentença se revela inócuo, não podendo atingi-lo, sob pena de violação dos limites subjetivos da coisa julgada. TEMPESTIVIDADE Recurso tempestivo é o interposto dentro do prazo legal. Os prazos processuais podem ser: a) próprios: são aqueles cujo descumprimento gera preclusão, isto é, a perda do direito processual. b) impróprios: são os que não se submetem à preclusão, permitindo a prática do ato a “posteriori”. Os prazos recursais são próprios, pois geram a preclusão. Assim, o recurso interposto fora do prazo não será sequer conhecido. O recurso intempestivo será inadmitido pelo próprio órgão “a quo”. Abre-se exceção à carta testemunhável, pois, ainda que intempestiva, será enviada pelo juízo “a quo” ao juízo “ad quem” (art. 642 do CPP). O recurso será tempestivo, desde que protocolado ou entregue, dentro do prazo, em cartório, ainda que o despacho do juiz tenha ocorrido após o esgotamento do prazo. A propósito, dispõe a súmula 428 do STF: “Não fica prejudicada a apelação entregue em cartório no prazo legal, embora despachada tardiamente”. Também não serão prejudicados os recursos que, por erro, falta ou omissão dos funcionários, não tiverem seguimento ou não forem apresentados dentro do prazo (art. 575 do CPP). O recurso protocolado dentro do prazo em setor errado do juízo ou tribunal também será tempestivo, pois, segundo já decidiu o STF, o setor, ao aceitar o protocolo, também contribuiu para o erro do advogado. Quanto ao recurso remetido pelo correio, será considerada como data de interposição a data de postagem (§4o do art. 1003 do CPC). Portanto, encontra-se cancelada a súmula 216 do STJ, segundo a qual o recurso interposto pelo correio que não chegasse no protocolo dentro do prazo seria intempestivo. O recurso pode também ser interposto por fax, mas nesse caso a petição original deverá ser entregue em juízo até 5 (cinco) dias da data do término do prazo (art. 2º da Lei 9.800/99). Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 16 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS Quem fizer uso deste sistema de transmissão torna-se responsável pela qualidade e fidelidade do material transmitido, e por sua entrega ao órgão judiciário (art. 4o da referida lei). Se o recurso chegar ilegível, não será conhecido. Não é possível, por falta de previsão legal, a interposição de recurso ou “habeas corpus”, através de e-mail. Nos processos físicos, o recurso deve ser protocolado até o último dia do prazo e dentro do horário do expediente de protocolo. Assim, nos processos físicos, a petição recursal será protocolada em cartório ou conforme as normas de organização judiciária, até antes do encerramento do expediente de protocolo. Não se admite o protocolo de recurso, após o fim do expediente, no plantão judiciário. Nos processos eletrônicos, o recurso será tempestivo se chegar até as 24 horas do último dia do prazo. Quanto ao recurso prematuro, que é o interposto antes da intimação da decisão recorrida, ou seja, antes do termo inicial do prazo, de acordo com o §4o do art. 218 do CPC, será considerado tempestivo. No CPC anterior este recurso era tido como intempestivo. Ora, com a interposição do recurso, a parte se dá por intimada e por isso o recurso não deveria ser considerado intempestivo. O CPC 2015 solucionou o problema para considerá-lo tempestivo. Esta norma, por analogia, deve ser também aplicada ao processo penal. No processo penal, em alguns recursos, como a apelação e o recurso em sentido estrito, as razões podem ser apresentadas depois da petição de interposição. Se a interposição houver sido tempestiva e as razões intempestivas, o recurso será considerado tempestivo, pois a apresentação das razões fora do prazo, nesses dois recursos, é uma mera irregularidade. Os prazos recursais são ainda contínuos e peremptórios, pois não se suspendem, não se interrompem e são insuscetíveis de dilação convencional pelas partes. Abrem-se algumas exceções. Com efeito, dispõe o § 4o do art. 798 do CPP: “Não correrão os prazos, se houver impedimento do juiz, força maior, ou obstáculo judicial oposto pela parte contrária”. Este dispositivo legal prevê três hipóteses de impedimento ou suspensão de prazos: a) impedimento do juiz; b) força maior; c) obstáculo judicial oposto pela parte contrária. Outra exceção é o recesso forense, período em que há a suspensão do expediente forense, entre os dias 20 de dezembro a 6 de janeiro, operando-se a suspensão dos prazos processuais (art. 62, I, da Lei 5.010/66 e Resolução n. 8 do CNJ). O art. 93, XII, da CF proíbe as férias forenses ao dispor que “a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em que não houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente”. Há, entretanto, o recesso forense, com sistema de plantão judiciário, que se assemelha às férias coletivas. Nesse período de recesso, todos os prazos processuais permanecem suspensos. As hipóteses acima são de impedimento e suspensão dos prazos, que não se confundem com a interrupção. O impedimento obsta o início do prazo, ao passo que a suspensão é uma paralisação do prazo que já estava em curso. Assim, na suspensão, o prazo sofre uma parada temporária, mas, após cessar a causa de suspensão, recomeça de onde havia parado, computando-se o período anterior à suspensão. Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 17 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS A interrupção, ao revés, torna sem efeito todo o período transcorrido, sendo que, cessada a causa de interrupção, devolve-se por inteiro o prazo. Assim, cessado o obstáculo, o prazo inicia-se novamente, desprezando-se o período anteriormente transcorrido. Os prazos recursais são também: a) legais: estipulados exclusivamente pela lei. O juiz e as partes não podem fixar prazos recursais. b) comuns: iguais para ambas as partes. Apenas a Defensoria Pública tem prazo em dobro. Sobre a contagem do prazo, inicia-se no primeiro dia útil seguinte à intimação (art. 798 do CPP). Exclui-se, portanto, o dia do começo. Os prazos são contados da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem (Súmula 710 do STF). No CPC, na contagem dos prazos, só se computam os dias úteis (art. 219 do CPC). Assim, os prazos não fluem nos sábados, domingos e feriados. No CPP, adota-se o sistema dos dias corridos, computando-se os sábados, domingos e feriados, salvo em relação ao primeiro e último dia do prazo, que necessariamente devem cair em dias úteis. O § 5o do art. 798 do CPP dispõe que: “Salvo os casos expressos, os prazos correrão: a) da intimação; b) da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a ela estiver presente a parte; c) do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da sentença ou despacho”. O recurso deve ser protocolado até o último dia do prazo. Se o último dia cair em sábado, domingo ou feriado, o prazo será prorrogado para o primeiro dia útil seguinte. Sobre o assunto, reza a súmula 310 do STF: “Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir”. Nos processos eletrônicos, quando a intimação for através de meio eletrônico, a publicação será considerada feita no primeiro dia útil seguinte à disponibilização da informação no Diário Oficial Eletrônico (art. 4o, §§3º e 4º, da lei 11.419/2006).Se, por exemplo, a disponibilização da intimação do advogado no Diário Oficial Eletrônico ocorrer na sexta feira, a intimação só se aperfeiçoará na data da publicação, que será na segunda-feira, iniciando-se o prazo na terça feira. Convém destacar que, no processo penal, é vedada a citação por meios eletrônicos, outrossim, também há a vedação da citação eletrônica nos processos por atos infracionais de adolescentes (art. 6º da Lei 11.419/2006), mas nada obsta o processo e intimações eletrônicas Por outro lado, a intimação da sentença condenatória deve recair tanto sobre o réu, preso ou solto, quanto sobre o seu advogado ou defensor público, pois ambos podem recorrer autonomamente. Não há necessidade de se intimar primeiro o réu e depois o seu defensor, o que é necessária é a intimação de ambos, pouco importa a ordem. Intimados o réu e seu advogado ou defensor, o prazo recursal, segundo a jurisprudência, flui da última intimação. Se só um deles houver sido intimado e exercido o direito de recorrer, o tribunal, antes de realizar o julgamento, deve baixar os autos ao órgão “a quo” para que se proceda à intimação do outro. Se, entretanto, o tribunal julgar o recurso do defensor do réu, sem que este tenha sido intimado da sentença, há três correntes. Primeira, adotada pelo STF e STJ, haverá a nulidade relativa do julgamento, condicionada, portanto, à demonstração do prejuízo. Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 18 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS Segunda, o réu deverá ser intimado da sentença e poderá exercer também o direito de recorrer, mas apenas para abordar questões não ventiladas no recurso anterior. Terceira, o réu não poderá mais recorrer, por força da preclusão consumativa. Quanto ao réu solto com defensor constituído, o entendimento do STJ é no sentido da desnecessidade da sua intimação, proclamando que, nesse caso, bastaria intimar o seu advogado constituído, sendo necessária a intimação pessoal do acusado somente quando se tratar de defensor público ou dativo. De acordo com esta corrente, na hipótese de haver defensor constituído, caso o réu seja também intimado depois do seu defensor, o prazo para o recurso não será reaberto, iniciando-se no primeiro dia útil seguinte à intimação do defensor constituído. No tocante ao Ministério Público, o STJ assentou, em recurso especial repetitivo, que o prazo recursal do Ministério Público só se inicia no 1º dia útil seguinte à data da entrega dos autos na repartição administrativa do referido órgão, sendo irrelevante que a intimação pessoal tenha se dado em audiência, em cartório ou por mandado (Resp 1349935/SE). Argumenta-se que essa ciência do ato não permite ao membro do Ministério Público (e também ao integrante da Defensoria Pública) o exercício pleno do contraditório, seja porque o órgão Ministerial não poderá levar consigo os autos, seja porque não necessariamente será o mesmo membro que esteve presente ao ato a ter atribuição para eventualmente impugná-lo. Esta jurisprudência contraria o CPP, segundo o qual o prazo recursal do Ministério Público se inicia da sua intimação pessoal, mas os demais prazos só fluem da abertura de vista dos autos. A propósito, dispõe o art. 800, §2º, do CPP: “Os prazos do Ministério Público contar-se-ão do termo de vista, salvo para a interposição do recurso (art. 798, § 5º)”. Se, dessa forma, o juiz prolatar a sentença na audiência, o prazo para o membro do “parquet”, que estava presente e saiu intimado, interpor a apelação se iniciará no primeiro dia útil seguinte à aludida audiência, mas não é este o entendimento do STJ. Se, porém, na audiência, o juiz, em vez de sentenciar, abrir oportunidade para a apresentação dos memoriais, o prazo do Ministério Público só começará a fluir no primeiro dia útil à abertura de vista para manifestar-se nos autos. Os prazos recursais são os seguintes: a) carta testemunhável: 48 (quarenta e oito) horas (art. 640 do CPP). É preciso que, no mandado de intimação, conste a hora exata da intimação. b) embargos de declaração em primeira ou segunda instância: 2 (dois) dias (arts. 382 e 619 do CPP). Abrem-se três exceções: embargos de declaração contra sentença ou acórdão do JECRIM, contra acórdão de recurso extraordinário e acórdão de recurso especial. Nessas três hipóteses, o prazo é de 5 (cinco) dias. c) apelação: 5 (cinco) dias (art. 593 do CPP). Abre-se exceção à apelação do JECRIM, cujo prazo é de 10 (dez) dias (art. 82, §1o, da Lei 9.099/95). Outra exceção é a apelação do ofendido não habilitado como assistente, cujo prazo é de 15 (quinze) dias (art. 598, parágrafo único, do CPP). Quanto ao prazo do ofendido habilitado como assistente, é de 5 (cinco) dias. d) recurso em sentido estrito: 5 (cinco) dias (art. 586 do CPP). Abre-se exceção ao interposto contra a lista de jurados, cujo prazo é de 20 (vinte) dias (art. 586, parágrafo único, do CPP). e) recurso ordinário para o STJ ou STF: 5 (cinco) dias contra decisão denegatória de “habeas corpus” e 15 (quinze) dias contra decisão denegatória de mandado de segurança (arts. 30 e 33 da Lei 8.038/90). f) agravo em execução: 5 (cinco) dias (art. 197 da LEP e súmula 700 do STF). g) correição parcial: 5 (cinco) dias (Lei 5.010/66). h) embargos infringentes e de nulidade: 10 (dez) dias (art. 609). Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 19 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS i) recursos especial e extraordinário: 15(quinze) dias (art. 1003, § 5o, do CPC). j) agravo contra decisão denegatória dos recursos especial ou extraordinário: 15 (quinze) dias (art. 1003, §5o do CPC). Quanto à súmula 699 do STF, que previa o prazo de 5 (cinco) dias, com o advento do CPC/2015, ficou superada, pois este diploma revogou expressamente o art. 28 da Lei 8038/90, no qual se baseava a aludida súmula. k) agravo regimental, no âmbito dos Tribunais Superiores, da decisão do Presidente do Tribunal, de Seção, de Turma ou de Relator que causar gravame à parte: 5 (cinco) dias (art. 39 da Lei 8038/90). Convém recordar que o prazo para recorrer será em dobro para a Defensoria Pública da União, dos Estados e do Distrito Federal (Lei Complementar 80/94). No JECRIM federal, porém, não há prazo em dobro (art. 9o da Lei 10.259/01). Quanto ao defensor dativo e Ministério Público, não têm prazo em dobro. PREPARO Preparo são as custas processuais devidas em razão da interposição do recurso. Abrange, inclusive, a remessa e o porte de retorno dos autos ao juízo de origem, caso seja necessário esse deslocamento. É claro que, no processo em autos eletrônicos, é dispensado o recolhimento do porte de remessa e de retorno. O preparo, na área processual penal, só exigido nos recursos interpostos pelo querelante nas ações penais exclusivamente privada (art. 806, § 2o, do CPP). A exigência de preparo para os recursos do acusado violaria o princípio da ampla defesa, quer se trate de ação penal pública ou privada. O Ministério Público também está isento do preparo. Igualmente, o assistente de acusação, pois não há na lei qualquer exigência referente às custas recursais. Na ação penal privada subsidiária da pública, o querelante está isento do preparo, pois o interesse em discussão é público e não privado. Em suma, na área penal, todo e qualquer recurso é gratuito. A única exceção diz respeito aos interpostos pelo querelante na ação penal exclusivamente privada, desde que ele não seja beneficiário da justiça gratuita. A falta de preparo do querelante gera a deserção do recurso. A falta de preparo é a única hipótese de deserção do recurso. O revogado art. 594 do CPP proibia que réu reincidente ou portador de maus antecedentes apelasse em liberdade. Assim, o não recolhimento à prisãoera também causa de deserção do recurso. E se réu fugisse durante o recurso, este também era declarado deserto, nos termos do também revogado art. 595 do CPP. É incrível que estas duas normas, que atentavam contra o direito de recorrer, em flagrante violação ao princípio da ampla defesa, tenham vigorado por mais de 70 (setenta) anos, com aceitação jurisprudencial, pois somente nos últimos anos de sua vigência é que se firmou o entendimento contrário à sua aplicação. Atualmente, para recorrer, não há necessidade de se recolher à prisão, ainda que haja prisão preventiva decretada, sendo certo que a fuga também não impede o processamento do recurso. REGULARIDADE PROCEDIMENTAL OU FORMAL A regularidade procedimental consiste nas formalidades mínimas exigidas para todo recurso. Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 20 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS São as seguintes: a) forma de interposição dos recursos contra os atos judiciais de primeiro grau: em regra, petição escrita ou termo nos autos, sendo que as razões podem ser apresentadas depois. É o caso do recurso em sentido estrito, apelação, carta testemunhável e agravo em execução. Abre-se exceção à apelação do JECRIM e aos embargos de declaração, pois eles só podem ser interpostos por petição escrita e as razões devem ser apresentadas no mesmo ato. Não se admite, destarte, que sejam interpostos por termo nos autos. Convém ainda lembrar que os embargos de declaração no JECRIM podem ser interpostos por escrito ou oralmente, acompanhado das respectivas razões. Em regra, porém, os recursos contra as decisões de primeiro grau podem ser interpostos por petição ou termo nos autos. A expressão “termo nos autos” abrange qualquer manifestação inequívoca dirigida e certificada aos órgãos do Poder Judiciário. Exemplo: o réu, ao ser intimado da sentença condenatória, comunica ao oficial de justiça o seu desejo de recorrer. Outro exemplo: o advogado do réu comparece ao cartório e comunica ao escrivão a sua intenção de recorrer e pede que seja lavrado o respectivo termo. O STJ já admitiu a interposição oral da apelação pelo Ministério Público, na sessão de julgamento do júri, pois o registro em ata desta intenção de recorrer equivale ao termo nos autos. Outrossim, a apelação interposta por meio de cota nos autos, pois equivale a uma petição, posto que no processo penal não se exige fórmula sacramental. Entende a doutrina majoritária que, apesar de a lei exigir que a interposição se dê por petição ou por termo nos autos, se a parte, de outra forma, demonstrar inequivocamente o seu inconformismo com a decisão, nada obsta que o recurso seja recebido, em atenção ao princípio da ampla defesa. Convém também frisar que , em regra, os recursos interpostos contra atos judiciais de primeiro grau, à exceção da apelação do JECRIM e dos embargos de declaração, serão julgados ainda que destituídos das respectivas razões recursais, conforme preceitua o art. 601 do CPP, desde que o Ministério Público ou o defensor, conforme se trate de recurso da acusação ou da defesa, sejam intimados para apresentá-las, quedando-se inerte. É a posição do STF. No STJ, porém, prevalece que o tribunal deve baixar os autos para que as razões sejam oferecidas pelo Ministério Público ou pelo defensor do acusado, conforme a hipótese. Caso não sejam apresentadas, se oficiará ao Procurador Geral do Ministério Público para ofertá-las e, no caso de a omissão emanar do advogado do réu, será nomeado um defensor “ad hoc” para apresentá- las. b) forma de interposição dos recursos contra os atos judiciais de segundo grau: petição escrita. acompanhada das respectivas razões. Estes recursos são os seguintes: embargos infringentes e de nulidade, embargos de declaração, recurso ordinário constitucional, recurso extraordinário, recurso especial e agravo de recurso especial ou extraordinário l. Nestes casos, as razões do recurso devem, necessariamente, acompanhar a petição de interposição, sob de o recurso não ser conhecido. Aliás, dispõe a súmula 284 do STF: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia”. Os referidos recursos só podem ser interpostos através de petição escrita, sendo vedada a interposição oral ou através de termo nos autos. c) quanto à interposição do recurso, é importante ressaltar que a Lei 9.800/99 permitiu às partes a utilização do sistema de transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou outro similar, Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 21 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS para atos processuais que dependem de petição escrita, desde que o original seja entregue em Juízo, necessariamente, em até cinco dias após o término do prazo estipulado em lei. d) todo recurso deve ser subscrito por advogado ou defensor público ou pelo Ministério Público. Abrem-se duas exceções. A primeira são os recursos interpostos pelo próprio réu contra os atos judiciais de primeiro grau ou contra acórdão condenatório nas hipóteses de competência originária dos tribunais. A segunda ocorre quando o próprio juiz recorre do acórdão que julgou o incidente de suspeição ou impedimento. e) assinatura do recorrente. A falta de assinatura é um vício sanável, por força do princípio da instrumentalidade das formas. f) há ainda as formalidades específicas de cada recurso. Exemplo: os recursos especial ou extraordinário devem preencher o requisito do prequestionamento. INEXISTÊNCIA DE FATO IMPEDITIVO DO DIREITO DE RECORRER Os fatos impeditivos do direito de recorrer são basicamente dois: a renúncia e a preclusão. A renúncia é o ato unilateral de manifestação da intenção de não recorrer. Verifica-se antes da interposição do recurso. Trata-se de ato unilateral, pois independe da aceitação da parte contrária. A renúncia pode ser total ou parcial. A renúncia do réu não impede que o seu advogado exerça o direito de recorrer e vice-versa. Assim, se houver conflito entre a vontade do réu de não recorrer e vontade de recorrer do seu defensor ou vice-versa, prevalece a vontade positiva de recorrer. O réu, cujo defensor renunciou, deve ser intimado para constituir outro. O juiz só poderá nomear um defensor dativo, se o réu, devidamente intimado, quedar-se inerte. Sobre o assunto, reza a súmula 705 do STF: “A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta”. Quanto ao Ministério Público, não pode renunciar ao direito de recorrer, pois implicaria na violação do princípio da indisponibilidade da ação penal pública. Ademais, o Ministério Público não pode renunciar aos recursos, pois atua no processo como substituto processual, defendendo em nome próprio interesse alheio. Outra corrente, porém, admite a referida renúncia, pois o art. 576 do CPP só o proíbe da desistência do recurso. Quanto à preclusão, trata-se da perda de um direito ou faculdade processual pelo seu não exercício no tempo ou pela prática anterior de ato incompatível ou ainda pelo efetivo exercício desse direito. A preclusão se desdobra em três: a) preclusão temporal: é a perda de um direito processual pelo seu não exercício no tempo. Em matéria recursal, a preclusão temporal gera a intempestividade do recurso. b) preclusão lógica: é a perda de um direito processual pela prática de ato anterior incompatível com o exercício desse direito. Em matéria recursal, a renúncia gera a preclusão lógica. c) preclusão consumativa: é a perda de um direito processual por já tê-lo exercido. Em matéria recursal, quem já recorreu de certa decisão não poderecorrer novamente dessa mesma decisão nem aditar o recurso já interposto. Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 22 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS INEXISTÊNCIA DE FATO EXTINTIVO DO DIREITO DE RECORRER O fato extintivo do direito de recorrer é a desistência. A desistência é o fato de o recorrente abrir mão de um recurso já interposto e ainda não julgado. Pode ser feita por escrito ou verbalmente na sessão de julgamento do tribunal. A desistência é possível a qualquer tempo, conforme aplicação analógica do art. 998 do CPC, desde que antes de encerrado o julgamento. Assim, se o relator votou, mas o julgamento ainda não se encerrou, será possível a desistência. A desistência e a renúncia são irretratáveis. Ainda que não homologadas, o desistente ou renunciante não poderá recorrer, pois operou- se a preclusão lógica. Norberto Avena, porém, sustenta que a desistência, mesmo depois de homologada judicialmente, admite a retratação, desde que antes do término do prazo recursal. O Ministério Público não pode desistir dos recursos já interpostos, pois atua no processo como substituto processual ou fiscal do ordenamento jurídico, defendendo em nome próprio interesse alheio. A propósito, dispõe o art. 576 do CPP: “O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto”. Se o representante do Ministério Público recorre visando a condenação ou agravamento da pena, sem oferecer, no ato, as razões recursais, e, nesse ínterim, é promovido ou aposentado, nada obsta que o outro representante do “parquet” ofereça as razões pugnando pela absolvição, por força do princípio da independência funcional do Ministério Público, mas, como é vedada a desistência do recurso ministerial, o tribunal poderá condenar o réu ou agravar a sua pena, porquanto o efeito devolutivo já havia sido delimitado na petição de interposição do recurso. Outra corrente, porém, sustenta que o representante do Ministério Público seria obrigado, nas razões recursais, a adotar o entendimento do promotor de justiça anterior, por força do princípio da unidade do Ministério Público. A desistência é um ato unilateral, pois independe da anuência do recorrido ou dos demais litisconsortes. Assim, o réu ou seu advogado podem desistir livremente. Entretanto, a desistência do recurso do réu, para surtir efeito, precisa da concordância do seu advogado. Da mesma forma, a desistência do recurso interposto pelo advogado depende da anuência do réu. Por força do princípio da ampla defesa, sempre prevalecerá a vontade daquele que tem interesse no prosseguimento do recurso. Quanto ao defensor dativo e defensor público, a meu ver, nada obsta que renunciem ou desistam dos recursos, por força do princípio da voluntariedade. Outra corrente, ao revés, sustenta que eles não podem renunciar nem desistir, pois o defensor dativo exerce um “munus público” e o defensor público tem, por força de lei, o dever de recorrer quando visualizar alguma situação favorável ao réu. Ora, desde que o réu seja intimado para anuir ou não à renúncia ou desistência, não vejo qualquer problema nessa renúncia ou desistência. Quanto ao advogado do querelante ou do assistente de acusação, só poderão desistir ou renunciar ao recurso quando a procuração contiver poderes expressos para a desistência ou Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 23 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS renúncia. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquele objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos (parágrafo único do art.998 do CPC). EFEITOS DOS RECURSOS São 12 (doze) os efeitos dos recursos. Vejamos: a) efeito obstativo; b) efeito liberativo da competência do tribunal “ad quem”; c) efeito devolutivo; d) efeito translativo; e) efeito regressivo; f) efeito suspensivo; g) efeito expansivo; h) efeito substitutivo; i) efeito anulatório; j) efeito integrativo; k) efeito dilatório-procedimental. Efeito obstativo O efeito obstativo consiste no fato de o recurso evitar a preclusão da decisão e o trânsito em julgado da sentença ou acórdão. Portanto, a questão permanece em aberto até o seu julgamento. Todavia, nem sempre o recurso evita que o ato judicial recorrido surta efeitos. De fato, se o recurso tem efeito suspensivo ele impede tanto a preclusão quanto a eficácia do ato judicial. Se, no entanto, o recurso não tem efeito suspensivo, ele impede a preclusão, mas o ato judicial produzirá efeitos imediatos. Efeito liberativo da competência do tribunal “ad quem” Este efeito significa que somente através do recurso é que o tribunal pode reexaminar as decisões prolatadas pelo órgão jurisdicional inferior. O tribunal não pode, de ofício, avocar processos. Efeito devolutivo O efeito devolutivo é o que atribui ao órgão “ad quem “o reexame da decisão judicial impugnada. Todo recurso, sem exceção, é dotado de efeito devolutivo, que tem dois aspectos: a) efeito devolutivo horizontal ou na extensão; b) efeito devolutivo vertical ou na profundidade. Efeito devolutivo horizontal ou na extensão Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP). Aluno Bruna Thayanes Costa Fernandes CPF - 021.604.892-39 24 DIREITO PROCESSUAL PENAL PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS O efeito devolutivo no sentido horizontal ou na extensão é o que limita o julgamento do recurso ao pedido recursal. O efeito devolutivo, no tocante ao pedido recursal, é regido pelo princípio “tantum devolutum quantum appellatum”, que é o fato de o órgão “ad quem” só poder reexaminar o pedido que é objeto do recurso. Aliás, nos embargos de declaração, que são interpostos e julgados pelo próprio órgão prolator da decisão, também vigora o princípio “tantum devolutum quantum appellatum”. Da mesma forma que a sentença não pode julgar fora ou além do pedido estampado na peça acusatória, o recurso também não pode ser julgado fora ou além do pedido recursal. Trata-se de uma consequência do princípio dispositivo da ação, isto é, da inércia da jurisdição. Se, na petição de interposição do recurso, houver sido feita a limitação do efeito devolutivo, a extensão, por força da preclusão consumativa, não poderá ser ampliada pelas razões recursais. Se, ao revés, a petição recursal foi genérica e não fez esta delimitação, o objeto do recurso será apenas os tópicos impugnados nas razões recursais. Outra corrente, entretanto, sustenta que, nesse caso, o recurso seria pleno, devolvendo-se todas as matérias para o tribunal decidir. Esta limitação do tribunal ao objeto da impugnação, conforme já dito, é chamada de efeito devolutivo no sentido horizontal ou na extensão. Até mesmo a nulidade absoluta não arguida no recurso da acusação, não poderá ser conhecida pelo tribunal quando for prejudicial ao réu (súmula 160 do STF). O efeito devolutivo no sentido horizontal, entretanto, é excepcionado pelo princípio da “reformatio in mellius”, segundo o qual o tribunal, ao analisar o recurso da acusação ou da defesa, pode, para beneficiar o réu, conhecer de ofício de matérias não pleiteadas no recurso. Assim, o tópico não impugnado pelo recorrente escapa ao conhecimento do órgão “ad quem”, salvo quando se tratar de matéria favorável ao réu. Esta possibilidade de “reformatio in mellius”, contudo, não se aplica à apelação contra as sentenças do júri, que é adstrita aos fundamentos de sua interposição (súmula 713 do STF). Assim, em relação ao júri, no mérito da apelação, o tribunal não poderá conhecer de ofício de matéria favorável ao réu, salvo as