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ESPECIAL-PROCESSO_PENAL-Modulo_12


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DIREITO PROCESSUAL PENAL 
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS 
 
RECURSOS 
 
 CONCEITO 
 
 Recurso é o meio voluntário de impugnação de decisão judicial, ainda não preclusa, previsto 
em lei, disponível às partes e ao Ministério Público , que se desenvolve dentro do mesmo processo 
em que se prolatou a decisão recorrida, cujo objetivo é reformá-la, anulá-la ou aclará-la. 
 O recurso é um dos instrumentos que provocam a jurisdição revisiva, que é regida pelo 
princípio da taxatividade, pois só é possível os recursos previstos em lei. 
 
 Natureza jurídica 
 
 O recurso tem a natureza jurídica de desdobramento do direito de ação, pois desenvolve-se 
no mesmo processo onde foi prolatada a decisão judicial impugnada. 
 
 Distinção entre recursos e ações de impugnação 
 
Além dos recursos, há ainda as ações de impugnações, que também se prestam à impugnação 
de decisões judiciais. Exemplos: “habeas corpus”, mandado de segurança e revisão criminal. 
O recurso desenvolve-se dentro do mesmo processo onde foi prolatada a decisão impugnada, 
ao passo que as ações de impugnação de decisões judiciais inauguram uma nova relação 
processual. 
No recurso, a parte contrária não é citada, mas intimada para apresentar as contrarrazões. 
Nas ações de impugnação, por se tratar de um novo processo, a parte contrária será citada. 
O recurso nunca pode ser interposto após o trânsito em julgado. 
O “habeas corpus” pode ser interpostos antes ou depois do trânsito em julgado e a revisão 
criminal só depois do trânsito em julgado da condenação. Quanto ao mandado de segurança, só 
pode ser impetrado antes do trânsito em julgado da sentença. 
 
CARACTERÍSTICAS DO RECURSO 
 
O recurso apresenta as seguintes características: 
voluntariedade: a interposição do recurso, conforme prevê art. 574 do CPP, depende da 
iniciativa e vontade da parte, pois é um prolongamento do princípio dispositivo da ação, que 
consagra a inércia da jurisdição. O denominado recurso de ofício ou necessário, que obriga o juiz a 
remeter certas decisões e sentenças para o tribunal analisá-las, a rigor, não é recurso e, sim, 
hipóteses de duplo grau obrigatório de jurisdição, uma condição de eficácia da sentença. Assim, o 
Ministério Público não é obrigado a recorrer. Igualmente, o defensor dativo, a defensoria pública e 
o advogado constituído, também não. 
b) disponível. O recurso, além de voluntário, é também disponível, pois, uma vez interposto, 
nada obsta a sua desistência. Em relação aos recursos interpostos pelo Ministério Público, porém, 
conquanto voluntários, são indisponíveis, pois é vedada a sua desistência. 
c) decisão judicial pendente: é a que não está preclusa. Se houver preclusão, o ato judicial não 
pode ser impugnado através do recurso, mas às vezes ainda é possível a impugnação pelos outros 
meios de provocação da jurisdição revisiva, como é o caso do habeas corpus. 
d) taxatividade: o recurso só existe nos casos previstos em lei federal, sendo vedada a sua criação 
por ato de vontade das partes. Portanto, não existe recurso implícito, pois a sua existência nunca é 
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presumida. 
e) legitimação exclusiva. O recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público, ou pelo 
querelante, ou pelo réu, seu procurador ou seu defensor (art. 577 do CPP). A vítima também pode 
recorrer em determinadas situações, quer esteja ou não habilitada como assistente de acusação. 
No CPC, o terceiro prejudicado tem legitimidade para recorrer, mas no processo penal, em regra, 
não lhe deferido este direito. 
f) desenvolve-se dentro do mesmo processo: o recurso tramita no próprio processo em que 
se prolatou a decisão recorrida. Ele prolonga o processo e a litispendência. Às vezes tem autos 
próprios, como o recurso em sentido estrito, mas sempre desenvolve-se no mesmo processo. De 
fato, entende-se por autos a documentação escrita dos atos processuais, ao passo que processo é o 
instrumento da jurisdição, isto é, o meio através do qual se visa solucionar os conflitos de 
interesses. Por consequência, é possível que dentro de um único processo haja vários autos 
processuais. 
g) objetivo: reformar, anular ou aclarar a decisão judicial. O recurso pode visar a reforma, que 
é a substituição da decisão por outra, ou então a anulação para que outra decisão seja prolatada, e, 
às vezes, o aclaramento, quando a decisão for obscura, ambígua, omissa ou contraditória, que é o 
que ocorre nos embargos de declaração. 
 
PRINCÍPIOS RECURSAIS 
 
 Princípios recursais são os postulados fundamentais que inspiram a elaboração das normas 
sobre recursos. 
 Referidos princípios são os seguintes: 
a) Princípio do duplo grau de jurisdição; 
b) Princípio da colegialidade; 
c) Princípio da taxatividade; 
d) Princípio da unirrecorribilidade; 
e) Princípio da dialeticidade; 
f) Princípio da proibição da “reformatio in pejus”; 
g) Princípio da fungibilidade; 
h) Princípio da Convolação; 
i) Princípio da “reformatio in mellius”; 
j) Princípio da complementariedade; 
k) Princípio da consumação. 
 
 PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO 
 
 O princípio do duplo grau de jurisdição é o que possibilita o reexame da decisão judicial por 
órgão jurisdicional hierarquicamente superior. 
Sobre as vantagens deste princípio, destacam-se o controle das decisões e a correção de 
eventuais erros. 
Estes dois benefícios compensam o retardamento do pronunciamento jurisdicional. 
Saliente-se, contudo, que o princípio do duplo grau não está previsto expressamente na 
Constituição Federal. 
O referido princípio, porém, é previsto expressamente na Convenção Americana sobre 
Direitos Humanos, também conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, segundo o qual toda 
pessoa acusada de delito tem o direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior ( 
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art. 8º, n. 2, “h”). 
Os tratados de direitos humanos não aprovados com quórum de emenda constitucional, 
como é o caso do Pacto de São José da Costa Rica, têm caráter supralegal, estando abaixo da 
Constituição e acima das leis. 
Mas, para outra parcela da doutrina, o duplo grau é um princípio constitucional implícito, que 
decorre da estrutura do Poder Judiciário. 
Com efeito, os tribunais são previstos na Constituição Federal, de modo que implicitamente 
assegura-se a necessidade dos recursos, que efetivam o princípio do duplo grau. 
Ademais, o art. 93, IX, da CF exige que as decisões judiciais sejam fundamentadas. 
A razão da motivação é estabelecer a ampla recorribilidade para se concretizar o princípio do 
duplo grau. 
O STF, porém, trata o duplo grau como um princípio supralegal, estando abaixo da 
Constituição e acima das leis. 
As inúmeras leis que exigem, para a interposição de apelação ou de outro recurso, a 
necessidade de se recolher à prisão violam o Pacto de São José da Costa Rica e, para os que 
sustentam que o duplo grau tem origem constitucional implícita, afrontam a própria Constituição 
Federal. 
É, pois, pacífico que o acusado poderá recorrer sem recolher-se à prisão. 
A propósito, dispõe a súmula 347 do STJ: 
“O conhecimento do recurso de apelação do réu independe de sua prisão”. 
Da mesma forma, se, durante a apelação, o réu, que estava preso preventivamente, se evadir, 
o recurso prosseguirá, ou seja, não será julgado deserto. 
Esta orientação é adotada tanto pelo STF quanto pelo STF. 
A súmula 09 do STJ, que reputava válida a exigência de recolhimento à prisão para poder 
apelar, encontra-se cancelada. 
As inúmeras leis, que exigem o recolhimento à prisão como requisito do recursode apelação, 
não são mais aplicadas. Elas violam não só o princípio do duplo grau como também os princípios da 
ampla defesa, da proporcionalidade, da isonomia e do devido processo legal. 
É, entretanto, possível que a prisão preventiva seja decretada na própria sentença 
condenatória ou na decisão de pronúncia, mas, nesse caso, o réu poderá recorrer ainda que se 
encontre foragido. 
Não há necessidade, porém, do triplo grau jurisdição, basta o duplo, ou seja, a possibilidade 
de se impugnar a decisão judicial pelo menos uma vez. 
Na área penal, o princípio do duplo grau de jurisdição deve possibilitar a revisão do julgado 
por órgão jurisdicional superior. 
Nas ações penais de competência originária do Supremo Tribunal Federal, porém, será cabível 
o recurso de embargos infringentes ao Plenário do STF, nos termos do art. 333, I e parágrafo único 
do RISTF, contra decisão não unânime do Plenário ou da Turma que julgar procedente a ação penal. 
 O cabimento dos embargos, em decisão do Plenário do STF, depende da existência, no mínimo, de 
quatro votos divergentes. 
Trata-se de uma hipótese em que o princípio do duplo grau é exercido pelo próprio tribunal 
que prolatou a decisão recorrida. 
Por analogia, nos demais casos de foro por prerrogativa de função da competência de outros 
tribunais, também caberá , em caso de divergência na votação, o recurso de embargos infringentes 
ao próprio tribunal, pois, nos recursos especial e extraordinário, o que se discute não são os fatos, 
mas, sim, as questões jurídicas, de modo que eles não se prestam ao atendimento do duplo grau. 
Outro recurso que é julgado pelo próprio órgão que prolatou a decisão recorrida, é os 
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embargos de declaração. 
 Finalmente, nas hipóteses de reexame necessário, concretiza-se o duplo grau sem que 
haja recurso. 
 
PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE 
 
 Em regra, os recursos são julgados por órgãos colegiados, compostos por 3 (três) ou mais 
desembargadores ou ministros, viabilizando-se, destarte, o diálogo no processo entre os 
magistrados. 
 Abre-se, no entanto, exceção às hipóteses previstas no art. 932, III, IV e V do CPC, que prevê as 
situações de julgamento monocrático, aplicáveis no processo penal apenas aos recursos especial e 
extraordinário, pois estes dois recursos são disciplinados pelo CPC. 
A propósito, dispõe o art. 932, III, IV e V do CPC: 
“Incumbe ao relator: 
III - não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado 
especificamente os fundamentos da decisão recorrida; 
IV - negar provimento a recurso que for contrário a: 
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio 
tribunal; 
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em 
julgamento de recursos repetitivos; 
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção 
de competência; 
V – depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a 
decisão recorrida for contrária a: 
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio 
tribunal; 
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em 
julgamento de recursos repetitivos; 
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção 
de competência”. 
 
PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE 
 
Significa que só a lei federal pode criar recurso. 
De fato, compete exclusivamente à União legislar sobre processo, e, por consequência, sobre 
recursos (art. 22, I, da CF). 
Dessa forma, o rol dos recursos é taxativo (“numerus clausus”). 
 
PRINCÍPIO DA UNIRRECORRIBILIDADE OU SINGULARIDADE OU UNICIDADE 
 
 De acordo com esse princípio, para cada decisão judicial é cabível apenas um tipo de recurso. 
 Não se admite recursos simultâneos contra a mesma decisão. Exemplo: se na sentença, o juiz 
condena o réu por um crime e extingue a punibilidade em relação ao outro delito, só será cabível o 
recurso de apelação, e não o recurso em sentido estrito, ainda que o recurso verse somente sobre a 
extinção da punibilidade. 
Assim, as decisões proferidas na sentença são passíveis apenas de apelação, que é o recurso 
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adequado para impugná-las. 
Finalmente, cumpre apontar três exceções ao princípio da unirrecorribilidade. 
A primeira ocorre no acórdão que tem fundamento legal e constitucional, sendo cabível a 
interposição simultânea do recurso especial, para impugnar o tópico que afronta a lei, e do recurso 
extraordinário, contra o tópico que afronta a Constituição Federal. 
A segunda é em relação aos acórdãos não unânimes dos Tribunais de Justiça ou Tribunais 
Regionais Federais, nos julgamentos das apelações, recurso em sentido estrito e agravo em 
execução, onde serão cabíveis simultaneamente os recursos de embargos infringentes e de 
nulidade, contra a parte não unânime, e os recursos especial e/ou extraordinário contra a parte 
unânime. 
A terceira é a possibilidade de interposição de embargos de declaração e outro recurso, 
quando a decisão, a sentença ou acórdão forem omissos, obscuros, contraditórios ou contiverem 
erros materiais. Nesse caso, primeiro se ingressa com os embargos de declaração, mas se estes 
forem rejeitados, outro recurso poderá interposto contra a mesma decisão. 
 
PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE 
 
 O princípio em análise é o que obriga a fundamentação, ainda que concisa, de todo e 
qualquer recurso. 
Não é recomendável, mas aceita-se a fundamentação remissiva, que se reporta aos 
fundamentos de outra peça processual. 
A fundamentação, que é a causa de pedir do recurso, pode referir-se ao “error in 
procedendo” ou ao “error in judicando”. 
A fundamentação tem dupla função. A primeira é limitar a atuação do tribunal à matéria 
recorrida. 
A segunda é permitir a ampla defesa, através das contrarrazões. 
Os arts. 589 e 601 do CPP, porém, que cuidam dos recursos em sentido estrito e da apelação, 
permitem que os referidos recursos da acusação ou da defesa sejam julgados sem as razões e 
contrarrazões recursais, desde que a parte tenha sido devidamente intimada para apresentá-las. 
Em função disso, o princípio da dialeticidade, conquanto recomendável, não tem caráter 
absoluto. 
O ideal é que, diante da falta de razões ou contrarrazões da defesa, o tribunal converta o 
julgamento em diligência para que o defensor as apresente e, em caso de inércia, intime o réu para 
constituir novo defensor, sob pena de lhe ser nomeado um defensor dativo. 
E, no caso de o Ministério Público, não apresentar as razões ou contrarrazões, o ideal seria o 
tribunal comunicar o Procurador Geral de Justiça para apresentá-las ou designar outro membro do 
“parquet” para apresentá-las, aplicando-se por analogia o art. 28 do CPP. 
O certo, porém, é tanto o STF quanto o STJ admitem o julgamento dos recursos em sentido 
estrito e de apelação sem as respectivas razões ou contrarrazões. 
 
PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA “REFORMATIO IN PEJUS” 
 
Segundo este princípio, também conhecido como efeito prodrômico da sentença, o réu, em 
seu recurso, não pode ter a situação agravada. 
Este princípio é consagrado expressamente à apelação, no art. 617 do CPP, mas é aplicável 
pela jurisprudência a todos os recursos da defesa. 
Aliás, no recurso da acusação, o tribunal também não poderá conhecer de ofício matéria não 
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impugnada, que seja prejudicial à defesa. 
Nem mesmo uma nulidade absoluta contra o réu, não arguida no recurso da acusação, 
poderá ser conhecida de ofício pelo tribunal (súmula 160 do STF). 
O princípio da “non reformatio in pejus” veda em recurso exclusivo da defesa, dentre outras, 
as seguintes situações: 
a) a instauração do incidente de insanidade mental para fins de imposição de medida de 
segurança não pleiteada pelo réu (súmula 525 do STF). 
b) a imposição de efeito específico da condenação, previsto no art. 92 do CPP. Conquanto o 
art. 617 do CPP vede apenas o agravamento da pena em recurso exclusivo da defesa, a doutrina 
estende também a vedação aos efeitos específicos da condenação. 
c) aumento da pena base, ainda que a quantidade da pena final seja a mesma fixada na 
sentença. 
d) inserir, no lugar da qualificadora afastada, alguma causa de aumento de pena. 
Há ainda a proibição da “reformatio in pejus indireta”, que consiste na vedação de o novo 
julgamento agravar a situação do réu, quando o primeiro houver sido anulado em recurso exclusivo 
da defesa ou através de “habeas corpus”. 
Ainda que a anulação da sentença, em razão de recurso exclusivo da defesa, houver sido por 
incompetência absoluta, a nova sentença não poderá ultrapassar o teto máximo da pena imposta 
na condenação anterior. 
 Uma posição minoritária, porém, sustenta que, neste caso, tendo em vista a violação do 
princípio do juiz natural, a nova sentença não teria que observar o teto da pena anterior. 
No tocante à anulação da sentença do júri por recurso exclusivo da defesa, o réu, no novo 
júri, poderá até ser condenado por fato mais grave, por exemplo, homicídio qualificado, mas o juiz 
presidente, ao aplicar a pena, não poderá ultrapassar a pena do julgamento anterior. É a posição da 
 2ª Turma do STF. 
O STJ, porém, assevera que, no júri, por força da soberania dos veredictos, não vigora o 
princípio da proibição da “reformatio in pejus indireta”, podendo o novo julgamento agravar a 
pena. 
Este último ponto de vista destoa da lógica, pois se o réu não tivesse recorrido a pena seria 
menor, de modo operou-se, em relação ao teto máximo da pena, diante da ausência de recurso da 
acusação, a coisa julgada material. 
 
PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE 
 
 O princípio da fungibilidade é o que permite o recebimento do recurso errôneo como se fosse 
o correto. 
A propósito, dispõe o art. 579 do CPP: 
“Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por 
outro”. 
A má-fé é presumida em duas hipóteses: 
a) interposição do recurso errôneo fora do prazo previsto para o recurso correto. Assim, para 
se aplicar o referido princípio, o recurso inadequado deve ter sido interposto dentro do prazo 
previsto para o recurso correto. 
b) erro grosseiro. Verifica-se o erro grosseira quando não paira qualquer dúvida doutrinária 
ou jurisprudencial acerca do recurso correto. É, pois, necessário, para a aplicação do princípio da 
fungibilidade, que haja dúvida séria e objetiva sobre o tipo de recurso cabível. 
Ao aplicar o princípio da fungibilidade, o tribunal deve intimar o recorrente para que faça as 
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adequações ao procedimento do recurso que seria o correto. Exemplo: o tribunal admitiu a 
apelação, embora o correto fosse o recurso em sentido estrito, nesse caso, o recorrente terá que 
providenciar a juntada das peças obrigatórias do recurso em sentido estrito, sendo que o tribunal 
terá que baixar os autos para o juiz de primeiro grau exerça ou não o juízo de retratação, que existe 
no recurso em sentido estrito. 
Sobre o assunto, reza o art. 579, parágrafo único, do CPP: 
“Se o juiz, desde logo, reconhecer a impropriedade do recurso interposto pela parte, mandará 
processá-lo de acordo com o rito do recurso cabível”. 
 
Princípio da convolação 
 
O princípio da convolação é o que autoriza a conversão do recurso correto em outra via de 
impugnação mais adequada. 
Exemplo: o tribunal, diante da flagrante nulidade da sentença, recebe uma apelação 
intempestiva como “habeas corpus”. 
É também possível que o tribunal receba uma revisão criminal como “habeas corpus”, em 
função da maior celeridade do remédio heróico. 
Convém anotar que, no princípio da fungibilidade, o recurso errôneo é convertido no correto, 
ao passo que, no princípio da convolação, o recurso interposto é o correto, mas intempestivo ou 
então não preenche algum outro requisito de admissibilidade e, por isso, é convertido noutra 
medida de impugnação, com o intuito de evitar prejuízo ao recorrente. 
 
Princípio da “reformatio in mellius” 
 
De acordo com o princípio da “reformatio in mellius”, o tribunal ao julgar o recurso da 
acusação ou da defesa pode melhorar, de ofício, a situação do réu, conhecendo de matérias não 
ventiladas no recurso. 
Trata-se de um desdobramento do princípio do “favor rei” ou “favor libertatis”. 
Este princípio encontra-se implícito no CPP. 
Com efeito, o art. 617 do CPP proíbe expressamente que o tribunal, ao julgar o recurso de 
apelação da defesa, agrave a situação do réu. Se tivesse a intenção de proibir o tribunal de 
beneficiar o réu tê-lo-ia também dito expressamente. 
O art. 654, § 2o, do CPP, permite que o tribunal conceda “habeas corpus” de ofício e, por 
consequência, o autoriza implicitamente a conceder outros benefícios menores ao réu. 
No tocante às sentenças do júri, porém, o tribunal, no julgamento do recurso, não poderá 
conhecer de questões não pleiteadas nas razões recursais, salvo quanto às nulidades absolutas 
favoráveis ao réu. 
Vê-se assim que, no júri, o efeito devolutivo da apelação é restrito, ao passo que, nas 
sentenças do juiz singular, o efeito devolutivo do apelo será amplo. 
A propósito, dispõe a súmula 713 do STF: 
“O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos fundamentos da sua 
interposição”. 
 
PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIEDADE 
 
 O princípio da complementariedade admite que a parte adite as razões do recurso já 
interposto. 
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Este princípio, em regra, não é adotado, pois colide com a preclusão consumativa. 
Assim, o recorrente, após a apresentação do recurso, não poderá mais aditá-lo ou modificá-
lo, ainda que o prazo não tenha ainda se esgotado. 
Aludido princípio encontra, porém, guarida nos embargos de declaração. Com efeito, se após 
a apresentação de algum recurso, for dado provimento aos embargos declaratórios da parte 
contrária, o recorrente poderá complementar o recurso já interposto, no tocante aos pontos 
modificados, tendo em vista a nova sucumbência, mas esse complemento é apenas sobre os 
tópicos atinentes à nova sucumbência, vedando-se o complemento sobre os pontos que poderiam 
ser impugnados anteriormente. 
 
PRINCÍPIO DA CONSUMAÇÃO 
 
 De acordo com este princípio, não se admite que o recurso já interposto seja substituído por 
outro, ainda que dentro do prazo recursal. 
Assim, se houver a interposição de dois recursos distintos contra a mesma decisão, 
prevalecerá o recurso protocolado em primeiro lugar. 
Trata-se, mais uma vez, de aplicação da preclusão consumativa. 
Em oposição ao princípio da consumação, há o princípio da variabilidade, que permite ao 
recorrente substituir o recurso interposto por outro, desde que o faça dentro do prazo. 
Não há, no processo penal, nenhuma hipótese de aplicação do princípio da variabilidade, pois 
ele atenta contra o instituto da preclusão consumativa. 
Antes da reforma processual de 2008, o réu que era condenado pelo júri a uma pena superior 
a 20 (vinte) anos podiasubstituir a apelação pelo recurso do protesto por novo júri. 
O protesto por novo júri, entretanto, foi revogado pela aludida reforma processual, de modo 
que não há qualquer outra previsão legal de aplicação do princípio da variabilidade. 
 
ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS 
 
 Interposição e julgamento dos recursos 
 
 O recurso é interposto, em regra, perante o juízo ou tribunal “a quo”, que é aquele que 
proferiu a decisão recorrida e julgado pelo órgão “ad quem”, que é o tribunal para o qual se 
recorre. 
 Assim, por exemplo, a apelação deve ser interposta perante o juízo prolator da sentença, 
devendo este encaminhá-la ao tribunal, órgão “ad quem”. 
Não se pode interpor a apelação diretamente ao tribunal. 
Excepcionalmente, porém, interpõe-se o recurso diretamente no tribunal, e não no órgão “a 
quo”, como ocorre com a correição parcial e com o agravo interposto contra a decisão que negou 
seguimento aos recursos especial ou extraordinário. 
Há ainda alguns recursos interpostos e julgados perante o próprio órgão “a quo”. São eles: 
a) embargos de declaração; 
b) embargos infringentes contra acórdãos não unânimes do plenário do STF, nos casos de sua 
competência originária, pois o julgamento será feito pelo próprio plenário do STF. 
 
Juízo de prelibação 
 
O juízo de prelibação é a análise dos pressupostos de admissibilidade do recurso. 
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Assim, para que o recurso seja conhecido, isto é, julgado no mérito, é preciso que preencha 
os seus requisitos de admissibilidade. 
Assim, conhecer o recurso não é a mesma coisa que provê-lo. O conhecimento é o 
julgamento do mérito do recurso, ao passo que o provimento é o acolhimento do mérito do 
recurso. 
 
PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE 
 
Os pressupostos de admissibilidade são os requisitos formais de existência e validade do 
direito de recorrer. 
Com efeito, só se julga o mérito do recurso se ele preencher os pressupostos de 
admissibilidade, que são similares às condições da ação e aos pressupostos processuais, requisitos 
necessários ao julgamento do mérito da ação. 
Os pressupostos de admissibilidade são, pois, os requisitos formais, que antecedem à análise 
do mérito recursal. 
Classificam-se em: 
a) pressupostos intrínsecos: são os requisitos de existência do direito de recorrer. São eles: 
cabimento, legitimidade, interesse e a inexistência de fato extintivo do direito de recorrer. 
O STJ também considera a tempestividade como requisito de existência do recurso, 
contrariando a opinião doutrinária. 
b) pressuposto extrínsecos: são os requisitos de validade do direito de recorrer. São eles: 
tempestividade, preparo, regularidade procedimental e inexistência de fato impeditivo do 
direito de recorrer. 
 Outra classificação: 
a) pressupostos objetivos: referem-se ao exame do próprio recurso. São os seguintes: 
cabimento, tempestividade, regularidade procedimental e inexistência de fato impeditivo 
ou extintivo do direito de recorrer. 
b) pressupostos subjetivos: referem-se à pessoa do recorrente. São os seguintes: 
legitimidade e interesse. Há quem considere também como pressuposto subjetivo a 
competência do tribunal. Mas, como adverte Vicente Greco Filho, a falta de competência 
não prejudica o recurso, que, se não for conhecido pelo tribunal ao qual foi remetido, será 
por outro. 
 Ausentes um desses pressupostos acima ocorrerá a extinção anômala ou prematura do 
recurso, que sequer será conhecido, ou seja, não será julgado no mérito. 
 
Todos estes pressupostos, portanto, compõem o juízo de admissibilidade do recurso, cuja 
análise compete tanto ao órgão “a quo” quanto ao órgão “ad quem”. No Código de Processo Civil, 
porém, o juízo de admissibilidade só pode ser feito pelo órgão “ad quem”. 
De fato, no CPC os pressupostos de admissibilidade não podem ser analisados pelo juízo “a 
quo”. Por exemplo, ainda que o recurso seja intempestivo ou que não tenha sido realizado o 
preparo, o juízo “a quo” terá que remetê-lo ao juízo “ad quem”. Em suma, o órgão “a quo” não 
pode indeferir o processamento do recurso. Abrem-se exceções aos recursos extraordinário e 
especial, cujo juízo de admissibilidade é feito também pelo órgão “a quo”, através do presidente ou 
vice-presidente do respectivo tribunal. 
No CPP, ao revés, o juízo de admissibilidade também é feito pelo órgão “a quo”, que prolatou 
a decisão recorrida, salvo em relação à carta testemunhável. 
Se o órgão “a quo” de primeiro grau não admitir a apelação será cabível o recurso em sentido 
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estrito (art. 581, XV, do CPP) e, se não admitir os demais recursos, será cabível o recurso 
denominado carta testemunhável (art. 639 do CPP). 
A previsão destes dois recursos contra a não admissão dos recursos pelo órgão “a quo” de 
primeiro grau revela que o juízo de admissibilidade também pode ser feito pelo órgão “a quo”. 
Assim, o órgão “a quo” antes de remeter o recurso ao órgão “ad quem” deverá realizar o juízo 
de prelibação, que consiste na análise dos requisitos de admissibilidade. 
O juízo de admissibilidade feito pelo órgão “a quo”, que admite o recurso, não vincula o órgão 
“ad quem”, que negará seguimento ao recurso, quando este não preencher os requisitos de 
admissibilidade. 
Portanto, para que o recurso seja conhecido, e, por consequência, examinado no mérito, urge 
que sejam realizadas essas duas triagens, ou seja, que ele seja admitido pelos órgãos “a quo” e “ad 
quem”. 
Quanto à carta testemunhável, porém, conforme já dito, o juízo de admissibilidade só será 
feito pelo órgão “ad quem”. Ainda que intempestiva, por exemplo, o juízo “a quo” deverá remetê-la 
ao tribunal. 
Há, pois, quatro situações distintas: 
a) não conhecimento do recurso: é a sua extinção sem julgamento do mérito, por não 
preencher os pressupostos de admissibilidade. 
b) não provimento do recurso: o recurso é conhecido, mas, no mérito, é julgado 
improcedente. 
c) provimento do recurso: o recurso é conhecido e julgado totalmente procedente. 
d) provimento parcial do recurso: o recurso é conhecido e julgado parcialmente procedente. 
O tribunal, ao julgar o mérito do recurso, utiliza a expressão provimento ou não provimento, em 
vez de procedência ou improcedência. 
 
 ANÁLISE DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS 
 
 CABIMENTO DO RECURSO 
 
O cabimento tem dois aspectos. 
O primeiro é que a decisão judicial deve ser passível de recurso. 
O segundo é a interposição do recurso correto. É, pois, mister que haja na lei algum recurso 
para atacar o ato judicial hostilizado. 
São, pois, irrecorríveis: 
a) os despachos, que são os atos judiciais de mera movimentação do processo, sem qualquer 
conteúdo decisório. Se, porém, tumultuarem o processo poderão ser impugnados através 
de correição parcial. 
b) decisões interlocutórias simples, que são as que resolvem uma determinada questão, mas 
não extinguem o processo nem uma fase do processo. Em regra, também são 
irrecorríveis, salvo nas hipóteses previstas no art. 581 do CPP. 
Quando não couber recurso, a questão poderá ser impugnada em preliminar de uma futura 
apelação ou em “habeas corpus” ou mandado de segurança, conforme a hipótese. 
Ainda sobre o cabimento, cumpre frisar que se deve interpor o recurso correto. Exemplo: a 
sentença é impugnável através do recurso de apelação e não do recurso em sentido estrito. 
Acerca do cabimento ou adequação, cumpre recordar o princípio da fungibilidade, que autoriza o 
recebimento do recurso errado como se fosse o correto, desde que não haja má-fé. 
 
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LEGITIMIDADE 
 
 Legitimidade é a autorização legal para o sujeito recorrer. 
Têm legitimidade para recorrer (art. 577 do CPP): 
a) o Ministério Público. O Ministério Público pode recorrer nos processos em que intervém 
como parte ou fiscal da ordem jurídica, bem como nos processos em que deveria intervir e não 
participou. Nesse último caso, deverá pleitear a nulidade do ato recorrido; 
b) o querelante; 
c) o réu; 
d) o procurador do réu; 
e) o defensor do réu. 
O réu tem legitimidade autônoma para recorrer contra decisões e sentenças de primeiro grau 
de jurisdição, sendo, pois, dotado de capacidade postulatória recursal, independentemente do 
eventual recurso interposto por seu defensor. 
Assim, o réu pode recorrer contra a vontade do seu defensor e vice-versa. 
Interposto o recurso pelo réu, as razões deste recurso devem ser feitas por seu advogado ou 
defensor, com o fim de se preservar a ampla defesa. 
De fato, a apresentação de razões recursais é ato privativo de advogado, sendo vedada a sua 
elaboração pelo réu que não seja advogado. 
Assim, cumpre não confundir a interposição do recurso com as razões recursais. A primeira é 
a manifestação da vontade de recorrer. A segunda é a exposição dos fundamentos do recurso. 
Em alguns recursos, como a apelação e o recurso em sentido estrito, as razões podem ser 
apresentadas depois da interposição do recurso, ao passo que em outros, como os recursos 
especial e extraordinário, as razões devem ser apresentadas juntamente com a interposição do 
recurso. 
O réu, para interpor recurso, basta manifestar ao oficial de justiça, por ocasião de sua 
intimação, o desejo de recorrer, que deverá ser certificado pelo meirinho. 
Convém lembrar que, além dos recursos, o réu também pode, sem advogado ou defensor, 
interpor: 
a) “habeas corpus” (art. 654 do CPP); 
b) revisão criminal (art. 623 do CPP); 
c) pedidos referentes à execução da pena (art. 195 da LEP). 
O citado art. 577 do CPP não esgota o rol dos legitimados para recorrer, pois a lei prevê 
outras hipóteses. Com efeito, também podem interpor recursos: 
a) o terceiro que prestou fiança pode recorrer em sentido estrito contra a decisão que 
decretou a perda ou quebramento da fiança (581, VII, do CPP). Trata-se de uma rara previsão de 
recurso interposto por terceiro juridicamente interessado. De fato, o terceiro juridicamente 
interessado, que, no processo civil, pode interpor recurso, na seara processual penal não poderá 
recorrer, salvo na hipótese em que prestou fiança e houver a perda ou quebramento da aludida 
garantia. Outra hipótese é o recurso interposto pelo terceiro de boa-fé contra a decisão que 
ordenou o sequestro de seus bens. Entende-se por terceiro a pessoa que não participou do 
processo, mas cuja relação jurídica pode ser afetada pela decisão judicial. O terceiro prejudicado 
não é intimado da decisão, de modo que seu prazo recursal é contado da intimação das partes. 
Noutras palavras, o terceiro tem o mesmo prazo que as partes têm para recorrer, sujeitando-se 
também aos demais pressupostos recursais. 
b) qualquer do povo, inclusive, o próprio jurado, pode recorrer em sentido estrito da decisão 
judicial sobre a lista geral de jurados (art. 581, XIV, do CPP). 
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c) além do sentenciado, seu cônjuge (ou companheiro), parente ou descendente podem 
interpor o recurso de agravo em execução contra as decisões do juiz da execução penal (art. 195 da 
LEP). Trata-se de uma rara previsão de recurso interposto por terceiro moralmente interessado. 
d) o juiz tem também legitimidade para recorrer nos incidentes processuais em que for parte, 
que são os incidentes de suspeição e impedimento. Nesses casos, não precisará de advogado, pois 
dispõe de conhecimento técnico. 
e) o ofendido, esteja ou não habilitado como assistente de acusação. 
Acerca do ofendido, habilitado ou não como assistente de acusação, uma primeira corrente 
sustenta que a sua legitimidade é restrita, pois a lei só o autoriza a recorrer da impronúncia, da 
extinção da punibilidade e da sentença absolutória (art. 584, § 1o e 598 do CPP). 
O fundamento desta corrente é que o interesse do assistente se limita à garantia do seu 
direito de indenização e, por consequência, não poderia recorrer da sentença condenatória, pois 
esta, independentemente da quantidade da pena, lhe assegura o direito de indenização na esfera 
cível, onde funciona como título executivo judicial. 
Ele pode interpor então apenas o recurso em sentido estrito contra a decisão que julgar 
extinta a punibilidade e apelação contra impronúncia e sentença absolutória. No tocante à 
sentença de absolvição sumária do procedimento do júri, prevalece o entendimento que será 
também possível o recurso do assistente de acusação, pois esta sentença tem natureza absolutória. 
 Nestas hipóteses, para fazer valer o recurso interposto, o assistente de acusação pode interpor 
inclusive recurso extraordinário, conforme súmula 210 do STF, recurso especial e carta 
testemunhável. 
Assim, por exemplo, não recebida a apelação do assistente de acusação, ele poderá interpor o 
recurso em sentido estrito e se este também não for admitido, será possível a carta 
testemunhável. 
Outra corrente, porém, lhe confere ampla liberdade para interpor qualquer recurso, inclusive, 
quando a sentença for condenatória, com o fim de se pleitear o aumento da pena. Outrossim, da 
decisão de pronúncia. 
O fundamento desta doutrina é que o assistente de acusação pode requerer provas, prisão 
preventiva e outras medidas cautelares pessoais, tendo, pois, interesse na busca da verdade real e 
não apenas no seu direito à indenização. 
A súmula 208 do STF reza que “o assistente de acusação não pode recorrer 
extraordinariamente de decisão concessiva de “habeas corpus”. 
Inúmeros processualistas, porém, sustentam o cancelamento desta súmula, posto que a Lei 
12.403/11, que lhe é posterior, legitimou o assistente a requerer prisão preventiva e outras 
medidas cautelares pessoais e, por consequência, passa a ter interesse em interpor recurso 
extraordinário contra a decisão concessiva de “habeas corpus”. 
A polêmica persiste e ainda não foi apaziguada. 
O assistente de acusação tem legitimidade subsidiária ou supletiva, pois só pode recorrer se o 
Ministério Público não houver interposto recurso no prazo legal ou quando o Ministério Público 
tiver recorrido apenas de uma parte da decisão judicial. 
 Neste último caso, o recurso do assistente de acusação só poderá versar sobre a parte não 
impugnada no recurso do membro do “parquet”. 
Se o recurso do Ministério Público impugnar toda a decisão judicial, o assistente de acusação 
não poderá recorrer, mas lhe será facultada a oferta das razões e, nesse caso, haverá duas razões 
recursais, a ministerial e a do assistente (art. 271 do CPP). 
Uma corrente minoritária ainda assevera que o assistente de acusação só poderá recorrer da 
sentença absolutória, da impronúncia e da extinção da punibilidade, quando, além da inércia do 
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Ministério Público em interpor os respectivos recursos, o membro do “parquet” não houver 
pleiteado estas soluções em suas manifestações anteriores. Se, por exemplo, o Ministério Público 
houver pugnado pela absolvição, o assistente não poderá recorrer da sentença absolutória. Este 
posicionamento não tem cabimento, pois as normas restritivas de direitos não comportam 
interpretação ampliativa. 
Quanto ao prazo para o assistente de acusação interporrecurso em sentido estrito e 
apelação, é de 5 (cinco) dias, a contar do término do prazo do Ministério Público (art. 598, 
parágrafo único, do CPP). 
Sobre o assunto, dispõe a súmula 448 do STF: 
“O prazo para o assistente recorrer, supletivamente, começa a correr imediatamente após o 
transcurso do prazo do Ministério Público”. 
Se, porém, o assistente de acusação só houver sido intimado da decisão judicial, após o 
esgotamento do prazo do Ministério Público, o seu prazo recursal só se iniciará no primeiro dia útil 
seguinte à sua intimação. 
Se, por outro lado, a vítima não requereu a sua habilitação como assistente de acusação, o 
prazo para interpor recurso em sentido estrito e apelação será de 15 (quinze) dias e começará a 
correr imediatamente após o transcurso do prazo do Ministério Público. 
Nesta hipótese, a petição de recurso deverá vir instruída com a prova de que se trata do 
ofendido ou do seu representante legal e, no caso de morte, do cônjuge, companheiro, ascendente 
ou descendente. 
Nos demais recursos, o prazo para o assistente de acusação recorrer será o normal. 
 
INTERESSE RECURSAL 
 
 O interesse recursal surge quando houver a necessidade de recorrer para se obter alguma 
vantagem. 
De fato, não se admitirá, recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou modificação 
da decisão (art. 577, parágrafo único, do CPP). 
A necessidade do recurso advém da sucumbência. 
É, pois, a sucumbência que gera o interesse de recorrer. 
Sucumbência é o prejuízo potencial ou efetivo causado pelo ato judicial do qual se pretende 
recorrer. É, pois, o não atendimento de uma pretensão. 
A sucumbência apresenta as seguintes modalidades: 
a) sucumbência formal: ocorre quando a decisão recorrida violar normas processuais. É, pois, 
o prejuízo processual. Com efeito, diante do prejuízo processual causado pelo risco de anulação 
desse ato judicial, surge o interesse de recorrer. 
b) sucumbência material: é a que decorre do não atendimento de uma expectativa, justa ou 
injusta. Assim, como esclarece Vicente Greco Filho, é sucumbente aquele que teve ganho parcial na 
causa. 
c) sucumbência única: é a que atinge apenas uma das partes. Ocorre quando se acolhe na 
íntegra pedido de uma das partes. 
d) sucumbência múltipla: é a que lesa os interesses de mais de uma parte. É o gênero que tem 
como espécies a sucumbência recíproca e a sucumbência paralela. 
e) sucumbência recíproca ou bilateral ou múltipla recíproca: é a que lesa simultaneamente os 
interesses da acusação e da defesa. Exemplo: ação penal julgada parcialmente procedente; 
f) sucumbência paralela ou múltipla paralela: é a que lesa os interesses de partes que se 
encontram no mesmo polo da relação processual. Exemplo: sentença que condena dois ou mais 
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réus. 
g) sucumbência direta: é a que atinge as partes processuais; 
h) sucumbência reflexa: é a que também atinge pessoas que não figuram como partes no 
processo, mas que, por força de lei, poderão recorrer. Exemplo: diante da decisão que decreta a 
perda da fiança, o terceiro que havia prestado a fiança poderá interpor o recurso em sentido 
estrito. Outro exemplo: a vítima não habilitada como assistente de acusação poderá apelar da 
sentença absolutória. Em regra, porém, o terceiro juridicamente interessado não poderá interpor 
recursos na área processual penal. 
i) sucumbência total: quando a ação é julgada totalmente procedente ou improcedente. 
j) sucumbência parcial: quando a ação é julgada parcialmente procedente. A sucumbência 
parcial é também recíproca ou bilateral, pois acaba atingindo ambas as partes, habilitando-as à 
interposição dos recursos. 
A sucumbência, em regra, dever ser analisada em face da parte decisória propriamente dita, e 
não da fundamentação. 
Desde que o pedido tenha sido integralmente acolhido, ainda que a fundamentação do 
magistrado divirja dos argumentos da parte vencedora, não há falar-se em sucumbência, portanto, 
não se admite recurso com o propósito exclusivo de se alterar a fundamentação de uma decisão 
favorável ao recorrente, pois em tal situação o objeto da decisão não será modificado. 
Abrem-se, entretanto, duas exceções. 
A primeira é a fundamentação que contém algum vício processual ou material, pois, diante do 
risco da decretação da nulidade, a parte vencedora poderá recorrer, com base na sucumbência 
processual. 
A segunda é a sentença absolutória, em que o recurso da defesa visa alterar o fundamento 
para outro que faça coisa julgada na esfera cível, a fim de se excluir o dever de indenizar. Assim, o 
réu pode recorrer da sentença absolutória para alterar o fundamento da absolvição, com o fim de 
se liberar do dever de indenizar no cível. É, pois, necessário que se demonstre o benefício visado. 
Exemplo: o réu absolvido por insuficiência de provas pode apelar para pleitear a legítima defesa, 
que exclui o dever de indenizar. Se, porém, o delito não houver causado qualquer dano, não será 
possível, por falta de interesse, o recurso para se alterar os fundamentos da absolvição. 
O interesse recursal, nesses casos, é a segurança jurídica. 
Sobre o interesse de recorrer, cumpre esclarecer as seguintes situações: 
a) extinta a punibilidade, o réu não pode recorrer para pleitear a absolvição, pois, diante da 
extinção da punibilidade, o Estado perde a pretensão punitiva, estando, pois, impossibilitado de se 
pronunciar sobre o mérito da acusação. 
b) o Ministério Público tem interesse em recorrer da sentença condenatória prolatada em 
ação penal pública, com o intuito de buscar a absolvição, a redução da pena ou outros benefícios. 
Aliás, lhe é lícito impetrar até “habeas corpus” em favor do acusado (art. 654 do CPP). É claro que, 
se por ocasião das alegações orais ou memoriais, o membro do “parquet” requereu a absolvição ou 
outro benefício, a sucumbência se revela evidente, franqueando-lhe, em caso de condenação, sem 
qualquer polêmica, as vias recursais. Se, ao revés, havia pedido a condenação, creio que também 
nada obsta que, após analisar melhor a situação, que recorra, na qualidade de fiscal do 
ordenamento jurídico, para pedir a absolvição, pois não teria cabimento permitir que se 
perpetuasse uma eventual injustiça ou ilegalidade, Acrescente-se ainda que a condenação injusta 
gera sucumbência não só para o réu, mas para toda a sociedade, circunstância que justifica o 
recurso ministerial. 
c) o Ministério Público que requer, em alegações orais ou memoriais, a absolvição poderá 
apelar para pedir a condenação, pois a sucumbência do membro do “parquet” decorre da violação 
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das normas jurídicas ou da equivocada análise das provas pelo magistrado, porquanto no processo 
penal ele acumula as funções de órgão acusatório e fiscal da lei. Ademais, a sucumbência deriva do 
não atendimento do pedido estampado na peça acusatória, de modo que o pedido de absolvição 
não elimina a sucumbência. 
Outra corrente, entretanto, lhe nega a pretensão recursal, invocando a falta de interesse na 
reforma ou modificação da decisão. 
d) nas ações penais exclusivamente privadas, o Ministério Público não pode recorrer das 
sentenças absolutórias, sob pena de violação do princípio da disponibilidade, que vigora na referida 
ação. 
e) nas ações penais exclusivamente privadas, o Ministério Público pode recorrer da sentença 
condenatória para pleitear o aumento da pena ou outro gravame ou ainda a absolvição, a redução 
da pena ou outro benefício. 
Por fim, discute-se se o Estado pode recorrer da sentença absolutória que o condena ao 
pagamento das custas processuais. Uns dizem que sim, pois houvesucumbência reflexa. A meu ver, 
não há interesse em recorrer, pois o Estado não é parte no processo criminal e, dessa forma, este 
trecho da sentença se revela inócuo, não podendo atingi-lo, sob pena de violação dos limites 
subjetivos da coisa julgada. 
 
TEMPESTIVIDADE 
 
 Recurso tempestivo é o interposto dentro do prazo legal. 
Os prazos processuais podem ser: 
a) próprios: são aqueles cujo descumprimento gera preclusão, isto é, a perda do direito 
processual. 
b) impróprios: são os que não se submetem à preclusão, permitindo a prática do ato a 
“posteriori”. 
Os prazos recursais são próprios, pois geram a preclusão. Assim, o recurso interposto fora do 
prazo não será sequer conhecido. 
O recurso intempestivo será inadmitido pelo próprio órgão “a quo”. Abre-se exceção à carta 
testemunhável, pois, ainda que intempestiva, será enviada pelo juízo “a quo” ao juízo “ad quem” 
(art. 642 do CPP). 
O recurso será tempestivo, desde que protocolado ou entregue, dentro do prazo, em 
cartório, ainda que o despacho do juiz tenha ocorrido após o esgotamento do prazo. 
A propósito, dispõe a súmula 428 do STF: 
“Não fica prejudicada a apelação entregue em cartório no prazo legal, embora despachada 
tardiamente”. 
Também não serão prejudicados os recursos que, por erro, falta ou omissão dos funcionários, 
não tiverem seguimento ou não forem apresentados dentro do prazo (art. 575 do CPP). 
O recurso protocolado dentro do prazo em setor errado do juízo ou tribunal também será 
tempestivo, pois, segundo já decidiu o STF, o setor, ao aceitar o protocolo, também contribuiu para 
o erro do advogado. 
Quanto ao recurso remetido pelo correio, será considerada como data de interposição a data 
de postagem (§4o do art. 1003 do CPC). 
Portanto, encontra-se cancelada a súmula 216 do STJ, segundo a qual o recurso interposto 
pelo correio que não chegasse no protocolo dentro do prazo seria intempestivo. 
O recurso pode também ser interposto por fax, mas nesse caso a petição original deverá ser 
entregue em juízo até 5 (cinco) dias da data do término do prazo (art. 2º da Lei 9.800/99). 
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 Quem fizer uso deste sistema de transmissão torna-se responsável pela qualidade e 
fidelidade do material transmitido, e por sua entrega ao órgão judiciário (art. 4o da referida lei). Se 
o recurso chegar ilegível, não será conhecido. 
Não é possível, por falta de previsão legal, a interposição de recurso ou “habeas corpus”, 
através de e-mail. 
Nos processos físicos, o recurso deve ser protocolado até o último dia do prazo e dentro do 
horário do expediente de protocolo. 
Assim, nos processos físicos, a petição recursal será protocolada em cartório ou conforme as 
normas de organização judiciária, até antes do encerramento do expediente de protocolo. Não se 
admite o protocolo de recurso, após o fim do expediente, no plantão judiciário. 
Nos processos eletrônicos, o recurso será tempestivo se chegar até as 24 horas do último dia 
do prazo. 
Quanto ao recurso prematuro, que é o interposto antes da intimação da decisão recorrida, ou 
seja, antes do termo inicial do prazo, de acordo com o §4o do art. 218 do CPC, será considerado 
tempestivo. 
No CPC anterior este recurso era tido como intempestivo. Ora, com a interposição do recurso, 
a parte se dá por intimada e por isso o recurso não deveria ser considerado intempestivo. O CPC 
2015 solucionou o problema para considerá-lo tempestivo. 
Esta norma, por analogia, deve ser também aplicada ao processo penal. 
No processo penal, em alguns recursos, como a apelação e o recurso em sentido estrito, as 
razões podem ser apresentadas depois da petição de interposição. Se a interposição houver sido 
tempestiva e as razões intempestivas, o recurso será considerado tempestivo, pois a apresentação 
das razões fora do prazo, nesses dois recursos, é uma mera irregularidade. 
Os prazos recursais são ainda contínuos e peremptórios, pois não se suspendem, não se 
interrompem e são insuscetíveis de dilação convencional pelas partes. 
Abrem-se algumas exceções. 
Com efeito, dispõe o § 4o do art. 798 do CPP: 
“Não correrão os prazos, se houver impedimento do juiz, força maior, ou obstáculo judicial 
oposto pela parte contrária”. 
Este dispositivo legal prevê três hipóteses de impedimento ou suspensão de prazos: 
a) impedimento do juiz; 
b) força maior; 
c) obstáculo judicial oposto pela parte contrária. 
Outra exceção é o recesso forense, período em que há a suspensão do expediente forense, 
 entre os dias 20 de dezembro a 6 de janeiro, operando-se a suspensão dos prazos processuais (art. 
62, I, da Lei 5.010/66 e Resolução n. 8 do CNJ). 
O art. 93, XII, da CF proíbe as férias forenses ao dispor que “a atividade jurisdicional será 
ininterrupta, sendo vedado férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos 
dias em que não houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente”. 
Há, entretanto, o recesso forense, com sistema de plantão judiciário, que se assemelha às 
férias coletivas. Nesse período de recesso, todos os prazos processuais permanecem suspensos. 
As hipóteses acima são de impedimento e suspensão dos prazos, que não se confundem com 
a interrupção. 
O impedimento obsta o início do prazo, ao passo que a suspensão é uma paralisação do prazo 
que já estava em curso. 
Assim, na suspensão, o prazo sofre uma parada temporária, mas, após cessar a causa de 
suspensão, recomeça de onde havia parado, computando-se o período anterior à suspensão. 
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A interrupção, ao revés, torna sem efeito todo o período transcorrido, sendo que, cessada a 
causa de interrupção, devolve-se por inteiro o prazo. Assim, cessado o obstáculo, o prazo inicia-se 
novamente, desprezando-se o período anteriormente transcorrido. 
Os prazos recursais são também: 
a) legais: estipulados exclusivamente pela lei. O juiz e as partes não podem fixar prazos 
recursais. 
b) comuns: iguais para ambas as partes. Apenas a Defensoria Pública tem prazo em dobro. 
Sobre a contagem do prazo, inicia-se no primeiro dia útil seguinte à intimação (art. 798 do 
CPP). Exclui-se, portanto, o dia do começo. Os prazos são contados da intimação, e não da juntada 
aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem (Súmula 710 do STF). 
No CPC, na contagem dos prazos, só se computam os dias úteis (art. 219 do CPC). Assim, os 
prazos não fluem nos sábados, domingos e feriados. 
No CPP, adota-se o sistema dos dias corridos, computando-se os sábados, domingos e 
feriados, salvo em relação ao primeiro e último dia do prazo, que necessariamente devem cair em 
dias úteis. 
O § 5o do art. 798 do CPP dispõe que: 
“Salvo os casos expressos, os prazos correrão: 
a) da intimação; 
b) da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a ela estiver presente a parte; 
c) do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da sentença ou despacho”. 
O recurso deve ser protocolado até o último dia do prazo. Se o último dia cair em sábado, 
domingo ou feriado, o prazo será prorrogado para o primeiro dia útil seguinte. 
Sobre o assunto, reza a súmula 310 do STF: 
“Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for 
feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver 
expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir”. 
Nos processos eletrônicos, quando a intimação for através de meio eletrônico, a publicação 
será considerada feita no primeiro dia útil seguinte à disponibilização da informação no Diário 
Oficial Eletrônico (art. 4o, §§3º e 4º, da lei 11.419/2006).Se, por exemplo, a disponibilização da 
intimação do advogado no Diário Oficial Eletrônico ocorrer na sexta feira, a intimação só se 
aperfeiçoará na data da publicação, que será na segunda-feira, iniciando-se o prazo na terça feira. 
Convém destacar que, no processo penal, é vedada a citação por meios eletrônicos, 
outrossim, também há a vedação da citação eletrônica nos processos por atos infracionais de 
adolescentes (art. 6º da Lei 11.419/2006), mas nada obsta o processo e intimações eletrônicas 
Por outro lado, a intimação da sentença condenatória deve recair tanto sobre o réu, preso ou 
solto, quanto sobre o seu advogado ou defensor público, pois ambos podem recorrer 
autonomamente. 
 Não há necessidade de se intimar primeiro o réu e depois o seu defensor, o que é necessária 
é a intimação de ambos, pouco importa a ordem. Intimados o réu e seu advogado ou defensor, o 
prazo recursal, segundo a jurisprudência, flui da última intimação. 
Se só um deles houver sido intimado e exercido o direito de recorrer, o tribunal, antes de 
realizar o julgamento, deve baixar os autos ao órgão “a quo” para que se proceda à intimação do 
outro. 
Se, entretanto, o tribunal julgar o recurso do defensor do réu, sem que este tenha sido 
intimado da sentença, há três correntes. 
Primeira, adotada pelo STF e STJ, haverá a nulidade relativa do julgamento, condicionada, 
portanto, à demonstração do prejuízo. 
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Segunda, o réu deverá ser intimado da sentença e poderá exercer também o direito de 
recorrer, mas apenas para abordar questões não ventiladas no recurso anterior. 
Terceira, o réu não poderá mais recorrer, por força da preclusão consumativa. 
Quanto ao réu solto com defensor constituído, o entendimento do STJ é no sentido da 
desnecessidade da sua intimação, proclamando que, nesse caso, bastaria intimar o seu advogado 
constituído, sendo necessária a intimação pessoal do acusado somente quando se tratar de 
defensor público ou dativo. De acordo com esta corrente, na hipótese de haver defensor 
constituído, caso o réu seja também intimado depois do seu defensor, o prazo para o recurso não 
será reaberto, iniciando-se no primeiro dia útil seguinte à intimação do defensor constituído. 
No tocante ao Ministério Público, o STJ assentou, em recurso especial repetitivo, que o prazo 
recursal do Ministério Público só se inicia no 1º dia útil seguinte à data da entrega dos autos na 
repartição administrativa do referido órgão, sendo irrelevante que a intimação pessoal tenha se 
dado em audiência, em cartório ou por mandado (Resp 1349935/SE). 
Argumenta-se que essa ciência do ato não permite ao membro do Ministério Público (e 
também ao integrante da Defensoria Pública) o exercício pleno do contraditório, seja porque o 
órgão Ministerial não poderá levar consigo os autos, seja porque não necessariamente será o 
mesmo membro que esteve presente ao ato a ter atribuição para eventualmente impugná-lo. 
Esta jurisprudência contraria o CPP, segundo o qual o prazo recursal do Ministério Público se 
inicia da sua intimação pessoal, mas os demais prazos só fluem da abertura de vista dos autos. 
A propósito, dispõe o art. 800, §2º, do CPP: 
“Os prazos do Ministério Público contar-se-ão do termo de vista, salvo para a interposição do 
recurso (art. 798, § 5º)”. 
Se, dessa forma, o juiz prolatar a sentença na audiência, o prazo para o membro do 
“parquet”, que estava presente e saiu intimado, interpor a apelação se iniciará no primeiro dia útil 
seguinte à aludida audiência, mas não é este o entendimento do STJ. 
Se, porém, na audiência, o juiz, em vez de sentenciar, abrir oportunidade para a apresentação 
dos memoriais, o prazo do Ministério Público só começará a fluir no primeiro dia útil à abertura de 
vista para manifestar-se nos autos. 
Os prazos recursais são os seguintes: 
a) carta testemunhável: 48 (quarenta e oito) horas (art. 640 do CPP). É preciso que, no 
mandado de intimação, conste a hora exata da intimação. 
b) embargos de declaração em primeira ou segunda instância: 2 (dois) dias (arts. 382 e 619 do 
CPP). Abrem-se três exceções: embargos de declaração contra sentença ou acórdão do JECRIM, 
contra acórdão de recurso extraordinário e acórdão de recurso especial. Nessas três hipóteses, o 
prazo é de 5 (cinco) dias. 
c) apelação: 5 (cinco) dias (art. 593 do CPP). Abre-se exceção à apelação do JECRIM, cujo 
prazo é de 10 (dez) dias (art. 82, §1o, da Lei 9.099/95). Outra exceção é a apelação do ofendido não 
habilitado como assistente, cujo prazo é de 15 (quinze) dias (art. 598, parágrafo único, do CPP). 
Quanto ao prazo do ofendido habilitado como assistente, é de 5 (cinco) dias. 
d) recurso em sentido estrito: 5 (cinco) dias (art. 586 do CPP). Abre-se exceção ao interposto 
contra a lista de jurados, cujo prazo é de 20 (vinte) dias (art. 586, parágrafo único, do CPP). 
e) recurso ordinário para o STJ ou STF: 5 (cinco) dias contra decisão denegatória de “habeas 
corpus” e 15 (quinze) dias contra decisão denegatória de mandado de segurança (arts. 30 e 33 da 
Lei 8.038/90). 
f) agravo em execução: 5 (cinco) dias (art. 197 da LEP e súmula 700 do STF). 
g) correição parcial: 5 (cinco) dias (Lei 5.010/66). 
h) embargos infringentes e de nulidade: 10 (dez) dias (art. 609). 
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i) recursos especial e extraordinário: 15(quinze) dias (art. 1003, § 5o, do CPC). 
j) agravo contra decisão denegatória dos recursos especial ou extraordinário: 15 (quinze) dias 
(art. 1003, §5o do CPC). Quanto à súmula 699 do STF, que previa o prazo de 5 (cinco) dias, com o 
advento do CPC/2015, ficou superada, pois este diploma revogou expressamente o art. 28 da Lei 
8038/90, no qual se baseava a aludida súmula. 
k) agravo regimental, no âmbito dos Tribunais Superiores, da decisão do Presidente do 
Tribunal, de Seção, de Turma ou de Relator que causar gravame à parte: 5 (cinco) dias (art. 39 da 
Lei 8038/90). 
Convém recordar que o prazo para recorrer será em dobro para a Defensoria Pública da 
União, dos Estados e do Distrito Federal (Lei Complementar 80/94). No JECRIM federal, porém, não 
há prazo em dobro (art. 9o da Lei 10.259/01). 
Quanto ao defensor dativo e Ministério Público, não têm prazo em dobro. 
 
PREPARO 
 
Preparo são as custas processuais devidas em razão da interposição do recurso. Abrange, 
inclusive, a remessa e o porte de retorno dos autos ao juízo de origem, caso seja necessário esse 
deslocamento. É claro que, no processo em autos eletrônicos, é dispensado o recolhimento do 
porte de remessa e de retorno. 
O preparo, na área processual penal, só exigido nos recursos interpostos pelo querelante nas 
ações penais exclusivamente privada (art. 806, § 2o, do CPP). 
A exigência de preparo para os recursos do acusado violaria o princípio da ampla defesa, quer 
se trate de ação penal pública ou privada. 
O Ministério Público também está isento do preparo. Igualmente, o assistente de acusação, 
pois não há na lei qualquer exigência referente às custas recursais. 
Na ação penal privada subsidiária da pública, o querelante está isento do preparo, pois o 
interesse em discussão é público e não privado. 
Em suma, na área penal, todo e qualquer recurso é gratuito. 
A única exceção diz respeito aos interpostos pelo querelante na ação penal exclusivamente 
privada, desde que ele não seja beneficiário da justiça gratuita. 
A falta de preparo do querelante gera a deserção do recurso. 
A falta de preparo é a única hipótese de deserção do recurso. 
O revogado art. 594 do CPP proibia que réu reincidente ou portador de maus antecedentes 
apelasse em liberdade. 
Assim, o não recolhimento à prisãoera também causa de deserção do recurso. 
E se réu fugisse durante o recurso, este também era declarado deserto, nos termos do 
também revogado art. 595 do CPP. 
É incrível que estas duas normas, que atentavam contra o direito de recorrer, em flagrante 
violação ao princípio da ampla defesa, tenham vigorado por mais de 70 (setenta) anos, com 
aceitação jurisprudencial, pois somente nos últimos anos de sua vigência é que se firmou o 
entendimento contrário à sua aplicação. 
Atualmente, para recorrer, não há necessidade de se recolher à prisão, ainda que haja prisão 
preventiva decretada, sendo certo que a fuga também não impede o processamento do recurso. 
 
REGULARIDADE PROCEDIMENTAL OU FORMAL 
 
 A regularidade procedimental consiste nas formalidades mínimas exigidas para todo recurso. 
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São as seguintes: 
a) forma de interposição dos recursos contra os atos judiciais de primeiro grau: em regra, 
petição escrita ou termo nos autos, sendo que as razões podem ser apresentadas depois. É o caso 
do recurso em sentido estrito, apelação, carta testemunhável e agravo em execução. 
Abre-se exceção à apelação do JECRIM e aos embargos de declaração, pois eles só podem ser 
interpostos por petição escrita e as razões devem ser apresentadas no mesmo ato. Não se admite, 
destarte, que sejam interpostos por termo nos autos. 
Convém ainda lembrar que os embargos de declaração no JECRIM podem ser interpostos por 
escrito ou oralmente, acompanhado das respectivas razões. 
Em regra, porém, os recursos contra as decisões de primeiro grau podem ser interpostos por 
petição ou termo nos autos. 
A expressão “termo nos autos” abrange qualquer manifestação inequívoca dirigida e 
certificada aos órgãos do Poder Judiciário. Exemplo: o réu, ao ser intimado da sentença 
condenatória, comunica ao oficial de justiça o seu desejo de recorrer. Outro exemplo: o advogado 
do réu comparece ao cartório e comunica ao escrivão a sua intenção de recorrer e pede que seja 
lavrado o respectivo termo. 
O STJ já admitiu a interposição oral da apelação pelo Ministério Público, na sessão de 
julgamento do júri, pois o registro em ata desta intenção de recorrer equivale ao termo nos 
autos. Outrossim, a apelação interposta por meio de cota nos autos, pois equivale a uma petição, 
posto que no processo penal não se exige fórmula sacramental. 
Entende a doutrina majoritária que, apesar de a lei exigir que a interposição se dê por petição 
ou por termo nos autos, se a parte, de outra forma, demonstrar inequivocamente o seu 
inconformismo com a decisão, nada obsta que o recurso seja recebido, em atenção ao princípio da 
ampla defesa. 
Convém também frisar que , em regra, os recursos interpostos contra atos judiciais de 
primeiro grau, à exceção da apelação do JECRIM e dos embargos de declaração, serão julgados 
ainda que destituídos das respectivas razões recursais, conforme preceitua o art. 601 do CPP, desde 
que o Ministério Público ou o defensor, conforme se trate de recurso da acusação ou da defesa, 
sejam intimados para apresentá-las, quedando-se inerte. É a posição do STF. 
No STJ, porém, prevalece que o tribunal deve baixar os autos para que as razões sejam 
oferecidas pelo Ministério Público ou pelo defensor do acusado, conforme a hipótese. Caso não 
sejam apresentadas, se oficiará ao Procurador Geral do Ministério Público para ofertá-las e, no caso 
de a omissão emanar do advogado do réu, será nomeado um defensor “ad hoc” para apresentá-
las. 
b) forma de interposição dos recursos contra os atos judiciais de segundo grau: petição 
escrita. acompanhada das respectivas razões. 
Estes recursos são os seguintes: embargos infringentes e de nulidade, embargos de 
declaração, recurso ordinário constitucional, recurso extraordinário, recurso especial e agravo de 
recurso especial ou extraordinário l. 
Nestes casos, as razões do recurso devem, necessariamente, acompanhar a petição de 
interposição, sob de o recurso não ser conhecido. 
Aliás, dispõe a súmula 284 do STF: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando a 
deficiência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia”. 
Os referidos recursos só podem ser interpostos através de petição escrita, sendo vedada a 
interposição oral ou através de termo nos autos. 
 c) quanto à interposição do recurso, é importante ressaltar que a Lei 9.800/99 permitiu às 
partes a utilização do sistema de transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou outro similar, 
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para atos processuais que dependem de petição escrita, desde que o original seja entregue em 
Juízo, necessariamente, em até cinco dias após o término do prazo estipulado em lei. 
d) todo recurso deve ser subscrito por advogado ou defensor público ou pelo Ministério 
Público. 
Abrem-se duas exceções. 
A primeira são os recursos interpostos pelo próprio réu contra os atos judiciais de primeiro 
grau ou contra acórdão condenatório nas hipóteses de competência originária dos tribunais. 
A segunda ocorre quando o próprio juiz recorre do acórdão que julgou o incidente de 
suspeição ou impedimento. 
e) assinatura do recorrente. A falta de assinatura é um vício sanável, por força do princípio da 
instrumentalidade das formas. 
f) há ainda as formalidades específicas de cada recurso. Exemplo: os recursos especial ou 
extraordinário devem preencher o requisito do prequestionamento. 
 
INEXISTÊNCIA DE FATO IMPEDITIVO DO DIREITO DE RECORRER 
 
 Os fatos impeditivos do direito de recorrer são basicamente dois: a renúncia e a preclusão. 
A renúncia é o ato unilateral de manifestação da intenção de não recorrer. 
Verifica-se antes da interposição do recurso. 
Trata-se de ato unilateral, pois independe da aceitação da parte contrária. 
A renúncia pode ser total ou parcial. 
A renúncia do réu não impede que o seu advogado exerça o direito de recorrer e vice-versa. 
Assim, se houver conflito entre a vontade do réu de não recorrer e vontade de recorrer do 
seu defensor ou vice-versa, prevalece a vontade positiva de recorrer. 
O réu, cujo defensor renunciou, deve ser intimado para constituir outro. O juiz só poderá 
nomear um defensor dativo, se o réu, devidamente intimado, quedar-se inerte. 
Sobre o assunto, reza a súmula 705 do STF: 
“A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não 
impede o conhecimento da apelação por este interposta”. 
Quanto ao Ministério Público, não pode renunciar ao direito de recorrer, pois implicaria na 
violação do princípio da indisponibilidade da ação penal pública. 
Ademais, o Ministério Público não pode renunciar aos recursos, pois atua no processo como 
substituto processual, defendendo em nome próprio interesse alheio. 
Outra corrente, porém, admite a referida renúncia, pois o art. 576 do CPP só o proíbe da 
desistência do recurso. 
Quanto à preclusão, trata-se da perda de um direito ou faculdade processual pelo seu não 
exercício no tempo ou pela prática anterior de ato incompatível ou ainda pelo efetivo exercício 
desse direito. 
A preclusão se desdobra em três: 
a) preclusão temporal: é a perda de um direito processual pelo seu não exercício no tempo. 
Em matéria recursal, a preclusão temporal gera a intempestividade do recurso. 
b) preclusão lógica: é a perda de um direito processual pela prática de ato anterior 
incompatível com o exercício desse direito. Em matéria recursal, a renúncia gera a preclusão lógica. 
c) preclusão consumativa: é a perda de um direito processual por já tê-lo exercido. Em 
matéria recursal, quem já recorreu de certa decisão não poderecorrer novamente dessa mesma 
decisão nem aditar o recurso já interposto. 
 
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INEXISTÊNCIA DE FATO EXTINTIVO DO DIREITO DE RECORRER 
 
O fato extintivo do direito de recorrer é a desistência. 
A desistência é o fato de o recorrente abrir mão de um recurso já interposto e ainda não 
julgado. 
Pode ser feita por escrito ou verbalmente na sessão de julgamento do tribunal. 
A desistência é possível a qualquer tempo, conforme aplicação analógica do art. 998 do CPC, 
desde que antes de encerrado o julgamento. 
Assim, se o relator votou, mas o julgamento ainda não se encerrou, será possível a 
desistência. 
 A desistência e a renúncia são irretratáveis. 
Ainda que não homologadas, o desistente ou renunciante não poderá recorrer, pois operou-
se a preclusão lógica. 
Norberto Avena, porém, sustenta que a desistência, mesmo depois de homologada 
judicialmente, admite a retratação, desde que antes do término do prazo recursal. 
O Ministério Público não pode desistir dos recursos já interpostos, pois atua no processo como 
substituto processual ou fiscal do ordenamento jurídico, defendendo em nome próprio interesse 
alheio. 
 A propósito, dispõe o art. 576 do CPP: 
“O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto”. 
Se o representante do Ministério Público recorre visando a condenação ou agravamento da 
pena, sem oferecer, no ato, as razões recursais, e, nesse ínterim, é promovido ou aposentado, 
nada obsta que o outro representante do “parquet” ofereça as razões pugnando pela absolvição, 
por força do princípio da independência funcional do Ministério Público, mas, como é vedada a 
desistência do recurso ministerial, o tribunal poderá condenar o réu ou agravar a sua pena, 
porquanto o efeito devolutivo já havia sido delimitado na petição de interposição do recurso. 
Outra corrente, porém, sustenta que o representante do Ministério Público seria obrigado, 
nas razões recursais, a adotar o entendimento do promotor de justiça anterior, por força do 
princípio da unidade do Ministério Público. 
A desistência é um ato unilateral, pois independe da anuência do recorrido ou dos demais 
litisconsortes. 
Assim, o réu ou seu advogado podem desistir livremente. 
Entretanto, a desistência do recurso do réu, para surtir efeito, precisa da concordância do seu 
advogado. 
Da mesma forma, a desistência do recurso interposto pelo advogado depende da anuência do 
réu. 
Por força do princípio da ampla defesa, sempre prevalecerá a vontade daquele que tem 
interesse no prosseguimento do recurso. 
Quanto ao defensor dativo e defensor público, a meu ver, nada obsta que renunciem ou 
desistam dos recursos, por força do princípio da voluntariedade. 
Outra corrente, ao revés, sustenta que eles não podem renunciar nem desistir, pois o 
defensor dativo exerce um “munus público” e o defensor público tem, por força de lei, o dever de 
recorrer quando visualizar alguma situação favorável ao réu. 
Ora, desde que o réu seja intimado para anuir ou não à renúncia ou desistência, não vejo 
qualquer problema nessa renúncia ou desistência. 
Quanto ao advogado do querelante ou do assistente de acusação, só poderão desistir ou 
renunciar ao recurso quando a procuração contiver poderes expressos para a desistência ou 
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renúncia. 
A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido 
reconhecida e daquele objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos 
(parágrafo único do art.998 do CPC). 
 
 EFEITOS DOS RECURSOS 
 
 São 12 (doze) os efeitos dos recursos. Vejamos: 
a) efeito obstativo; 
b) efeito liberativo da competência do tribunal “ad quem”; 
c) efeito devolutivo; 
d) efeito translativo; 
e) efeito regressivo; 
f) efeito suspensivo; 
g) efeito expansivo; 
h) efeito substitutivo; 
i) efeito anulatório; 
j) efeito integrativo; 
k) efeito dilatório-procedimental. 
 
Efeito obstativo 
 
O efeito obstativo consiste no fato de o recurso evitar a preclusão da decisão e o trânsito em 
julgado da sentença ou acórdão. 
Portanto, a questão permanece em aberto até o seu julgamento. 
Todavia, nem sempre o recurso evita que o ato judicial recorrido surta efeitos. 
De fato, se o recurso tem efeito suspensivo ele impede tanto a preclusão quanto a eficácia do 
ato judicial. 
Se, no entanto, o recurso não tem efeito suspensivo, ele impede a preclusão, mas o ato 
judicial produzirá efeitos imediatos. 
 
Efeito liberativo da competência do tribunal “ad quem” 
 
 Este efeito significa que somente através do recurso é que o tribunal pode reexaminar as 
decisões prolatadas pelo órgão jurisdicional inferior. 
O tribunal não pode, de ofício, avocar processos. 
 
Efeito devolutivo 
 
O efeito devolutivo é o que atribui ao órgão “ad quem “o reexame da decisão judicial 
impugnada. 
 Todo recurso, sem exceção, é dotado de efeito devolutivo, que tem dois aspectos: 
a) efeito devolutivo horizontal ou na extensão; 
b) efeito devolutivo vertical ou na profundidade. 
 
Efeito devolutivo horizontal ou na extensão 
 
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O efeito devolutivo no sentido horizontal ou na extensão é o que limita o julgamento do 
recurso ao pedido recursal. 
O efeito devolutivo, no tocante ao pedido recursal, é regido pelo princípio “tantum 
devolutum quantum appellatum”, que é o fato de o órgão “ad quem” só poder reexaminar o 
pedido que é objeto do recurso. 
Aliás, nos embargos de declaração, que são interpostos e julgados pelo próprio órgão prolator 
da decisão, também vigora o princípio “tantum devolutum quantum appellatum”. 
Da mesma forma que a sentença não pode julgar fora ou além do pedido estampado na peça 
acusatória, o recurso também não pode ser julgado fora ou além do pedido recursal. 
Trata-se de uma consequência do princípio dispositivo da ação, isto é, da inércia da 
jurisdição. 
Se, na petição de interposição do recurso, houver sido feita a limitação do efeito devolutivo, a 
extensão, por força da preclusão consumativa, não poderá ser ampliada pelas razões recursais. 
Se, ao revés, a petição recursal foi genérica e não fez esta delimitação, o objeto do recurso 
será apenas os tópicos impugnados nas razões recursais. Outra corrente, entretanto, sustenta que, 
nesse caso, o recurso seria pleno, devolvendo-se todas as matérias para o tribunal decidir. 
Esta limitação do tribunal ao objeto da impugnação, conforme já dito, é chamada de efeito 
devolutivo no sentido horizontal ou na extensão. 
Até mesmo a nulidade absoluta não arguida no recurso da acusação, não poderá ser 
conhecida pelo tribunal quando for prejudicial ao réu (súmula 160 do STF). 
O efeito devolutivo no sentido horizontal, entretanto, é excepcionado pelo princípio da 
“reformatio in mellius”, segundo o qual o tribunal, ao analisar o recurso da acusação ou da defesa, 
pode, para beneficiar o réu, conhecer de ofício de matérias não pleiteadas no recurso. 
Assim, o tópico não impugnado pelo recorrente escapa ao conhecimento do órgão “ad 
quem”, salvo quando se tratar de matéria favorável ao réu. 
Esta possibilidade de “reformatio in mellius”, contudo, não se aplica à apelação contra as 
sentenças do júri, que é adstrita aos fundamentos de sua interposição (súmula 713 do STF). 
Assim, em relação ao júri, no mérito da apelação, o tribunal não poderá conhecer de ofício de 
matéria favorável ao réu, salvo as