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DIREITO PROCESSUAL CIVIL III DOS RECURSOS - DA TEORIA GERAL CPC, arts. 994 a 1.008 1. CONCEITO. NOÇÕES GERAIS É todo meio idôneo e adequado para se obter, dentro do processo em que foi proferida, o reexame da decisão impugnada objetivando sua reforma, invalidade, integração ou esclarecimento. O meio próprio, ordinário, comum para se atacar uma decisão proferida em um processo é o recurso, mas por vezes o ordenamento permite que uma decisão seja impugnada por outro meio, como ação de mandado de segurança. O recurso não gera nova ação, não gera novo processo, por isso ocorre dentro do processo em que foi proferida, é mera extensão do direito de ação e do direito de defesa. Mas pode gerar autos diversos daquele que foi proferido. São quatro os objetivos do recurso: reforma – modificação da decisão de modo que se alcance por parte do recorrente uma situação melhor que aquela que foi imposta pela decisão; invalidade – a anulação ou invalidação da decisão proferida ou do processo onde a decisão foi proferida; integração – complementar a decisão pois ela é omissa, decidindo aquilo que faltou (embargos de declaração); esclarecimento – decisão é obscura, contraditória, contém um erro (embargos de declaração). Todo o recurso é um meio voluntario de impugnação de uma decisão, isto é, só há recurso se houver iniciativa de alguém interpondo esse recurso. Não existe o recurso de ofício (próprio juízo que proferiu a decisão submete essa decisão a recurso) no nosso ordenamento jurídico. 2. FUNDAMENTOS DO DIREITO DE RECORRER O ser humano é inconformado por natureza, normalmente não se conforma com o primeiro não, com a primeira decisão contrária, então o recurso concede um conforto psicológico aquela pessoa que obtém no processo uma decisão contrária aos seus interesses. O segundo fundamento é que o ser humano julgador (juiz) pode cometer falhas, a decisão proferida pode estar incorreta em desconformidade com o ordenamento jurídico, o juiz pode interpretar de forma incorreta as provas, a lei e levar a um julgamento injusto, incorreto. O ser humano também é passível de corrupção. 3. NATUREZA JURÍDICA DO RECURSO O recurso não é ação, isto é, não tem natureza jurídica de ação. O recurso é mera extensão do direito de ação e do direito de defesa, uma consequência lógica do direito de ação por parte do autor e do direito de defesa por parte do réu. Alguns doutrinadores dizem que o recurso também é um ônus, 4. PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO Possibilidade de uma decisão judicial de reexaminada, para alguns só há duplo grau de jurisdição quando o reexame da causa se faz por órgão jurisprudencial diverso do que proferiu a decisão, quando a decisão é reexaminada pelo mesmo órgão que a proferiu não há duplo grau de jurisdição. Mas o professor discorda, e entende que o segundo grau de jurisdição ocorre mesmo quando o reexame é feito pelo mesmo órgão que proferiu a decisão. A constituição federal NÃO assegura que de toda e qualquer decisão judicial deva necessariamente ser cabível a interposição de um recurso, ou seja, não é garantia constitucional. Assim é possível juridicamente que a lei federal infraconstitucional proíba em determinadas circunstâncias a interposição de recurso, sem que isso afronte a constituição federal. A única constituição que previu o duplo grau de jurisdição como garantia constitucional foi a de 1824, constituição do império. DIREITO PROCESSUAL CIVIL III Cuidado - no processo penal o duplo grau de jurisdição é garantia constitucional, pois o Brasil aderiu o pacto de São José da Costa Rica que prevê que no âmbito criminal sempre que houver sentença contraria ao réu a de se permitir a esse réu um recurso. MAS no processo civil não é garantia constitucional. 5. CLASSIFICAÇÃO 5.1. Quanto à extensão da matéria 5.1.1. Recurso total O Recorrente impugna toda a decisão recorrida 5.1.2. Recurso parcial O recorrente impugna apenas parte da decisão recorrida. A arte da decisão que não foi objeto de recurso fica coberta pela preclusão e pelo trânsito em julgado, torna-se definitiva. “Art. 1.002. A decisão pode ser impugnada no todo ou em parte”. 5.2. Quanto à fundamentação O recorrente tem que dizer para o tribunal por que ele não se conforma com a decisão proferida, indicar as razões do inconformismo dele, tem que fundamentar o recurso. Não basta o recorrente dizer que não concorda com a decisão, para o recurso ser deferido é necessário fundamentar o recurso . O recurso sem fundamentação é inepto. Essa fundamentação pode ser: 5.2.1. Livre Não tem exigência legal, ou seja, a lei não diz qual é o conteúdo da fundamentação, aí o recorrente é livre para apresentar as fundamentações. Essa é a regra. 5.2.2. Vinculada As vezes a lei explicita o que o recorrente pode alegar no recurso, exige que o recurso tenha determinada fundamentação. É vinculada a exigência legal. 6. ATOS SUJEITOS A RECURSO. RECURSOS ADMISSÍVEIS Somente atos do juiz comportam recurso, ou seja, os atos praticados por todos os outros sujeitos do processo não permitem a interposição do recurso. O juiz é o presidente do processo, e os atos por eles praticados, atos decisórios, só deles comportam recurso. A parte só pode se valer dos recursos previstos em lei. Se subordinam ao princípio da taxatividade, só são recursos aqueles expressos em lei federal (compete privativamente a União legislar sobre matéria processual). As partes podem com base no 190 CC criar um recurso para disciplinar a relação jurídica delas? A controvérsia na doutrina a respeito, o professor entende que não pode , pois as partem só podem celebrar negócio a respeito dos poderes, direitos e ônus delas as partes, e o recurso não é criação delas, é um direito da união, logo as partes não podem celebrar negócio jurídico sobre direito alheio que é da união. As partes não podem criar recurso por meio do negócio jurídico processual. As partes podem convencionar com base no artigo 190 que ambas não poderão recorrer, pois o direito de recorrer são delas, as partes, então podem renunciar seus direitos. Esse rol do artigo 994, no âmbito do código de processo civil, é taxativo, mas há leis estravagantes que preveem outros recursos diversos, por exemplo, nos juizados especiais o recurso contra sentença não é o de apelação e sim o recurso inominado, próprio do juizado especial. “Art. 994. São cabíveis os seguintes recursos: DIREITO PROCESSUAL CIVIL III I - apelação; II - agravo de instrumento; III - agravo interno; IV - embargos de declaração; V - recurso ordinário; VI - recurso especial; VII - recurso extraordinário; VIII - agravo em recurso especial ou extraordinário; IX - embargos de divergência”. “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I – direito civil, comercial, penal, processual...” – CF. 7. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E JUÍZO DE MÉRITO DO RECURSO: DISTINÇÃO Para que um recurso seja decidido, analisado pelo tribunal, o recurso tem que satisfazer inúmeros requisitos, por exemplo, deve ser interposto no prazo, deve pagar taxa de preparo, deve ter fundamentação, deve ser interposto por quem tem capacidade e etc. Quando o órgão julgador do recurso analisa se estão presentes ou não os requisitos de admissibilidade, está fazendo um juízo de admissibilidade do recurso. Esse juízo de admissibilidade pode ser positivo ou negativo. Será negativo quando o órgão destinatário do recuso entender que aquele recurso não preencheu todos os requisitos que o legislador impõe, esse recurso não tem seguimento, é barrado, o órgão julgador/destinatário do recurso não vai analisar se o recorrente tem ou não tem razão, não se analisa o mérito. Não é possível apresentar outro recurso em substituição do que foi barrado Será positivo quando órgão julgador do recurso entender que o recorrente satisfez todos os requisitos exigidos pela lei. Nesse caso o órgão recorrenteanalisa o mérito do recurso Juízo de admissibilidade: analisar se estão presentes ou não os requisitos de admissibilidade. Juízo de mérito: analisa se o recorrente tem ou não razão no inconformismo dele. O órgão julgador só faz o juízo de mérito se o juízo de admissibilidade for positivo. No processo civil o juízo de admissibilidade é do tribunal, e não do juiz do processo. A terminologia que se usa para o juízo de admissibilidade – quando o recurso é barrado “não admito o recurso” ou “não conheço o recurso”; quando o órgão destinatário julga o recurso quanto ao mérito – “dou provimento ao recurso” (quando o recorrente tiver razão) ou “nego provimento ao recurso” (quando o recorrente não tem razão). 8. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO 8.1. Noções gerais Significa órgão julgador destinatário do recurso analisar se o recurso preenche os requisitos de admissibilidade do recurso. Se o recurso não satisfizer os requisitos ele não será admitido, não será apreciado. Por outro lado, se satisfeitos todos os requisitos legais o recurso será conhecido, admitido, se analisa o mérito. DIREITO PROCESSUAL CIVIL III 9. REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS 9.1. RECORRIBILIDADE Somente os atos do juiz são recorríveis, no primeiro grau de jurisdição - sentença, decisão interlocutória e despacho; em segundo grau de jurisdição - decisão monocrática por membro do tribunal ou acordão. Apenas do despacho não cabe recurso, porque para que caiba recurso o ato praticado deve causar um prejuízo a alguém, um dos requisitos para interpor recurso é que a parte tenha sofrido prejuízo. Despacho é um ato que apenas da marcha ao processo, pois não possuem aptidão para causar prejuízo a parte. Mas, mesmo aqueles que são recorríveis podem se tornar irrecorríveis se tiver lei federal nesse sentido. “Art. 1.001. Dos despachos não cabe recurso”. 9.2. TEMPESTIVIDADE Recursos devem ser interpostos dentro do prazo estabelecido pelo legislador. O juiz de ofício não pode reduzir o prazo de recurso, a não ser que as partes concordem. O juiz pode prolatar o prazo do recurso desde que haja justo motivo para isso - flexibilização do procedimento que significa adaptar o procedimento a exigências concretas do processo Em regra, o prazo começa a partir do momento em que os representantes das partes são intimados da decisão, mas essa regra comporta duas exceções: decisões prolatadas em audiência, os advogados das partes e o ministério público são considerados intimados mesmo que não compareçam à audiência. A tempestividade é aferida no momento da postagem, nos casos de correio, pouco importa a data em que chega ao destino. Prazo genérico para todos os recursos no processo civil é 15 dias, salvo embargos de declaração que é de 5 dias (art. 1023 CPC). Mas há sujeitos que possuem esse prazo em dobro: - MP (como autor ou réu), não terá prazo em dobro apenas se a lei estabelecer de forma expressa o prazo; - pessoas jurídicas de direito público (U/E/M/DF/suas autarquias) – sociedade de economia mista (BB) e empresa pública (CAIXA) não gozam do prazo em dobro porque são consideradas pessoas jurídicas de direito privado – noz juizados especiais as pessoas jurídicas de direito público não tem plano em dobro, e sim simples; - defensoria pública. Advogados particulares que defendem os necessitados não possuem prazo em dobro, jurisprudência pacífica do supremo e STJ entende que em caso de convênio de advogado não tem direito ao prazo em dobro, só tem prazo em dobro quando tem vínculo estatal (defensoria). Quando se trata de processo físico essas pessoas têm direito a intimação pessoal (pelos correios ou entrega de autos), o prazo tem início com a intimação pessoal. “Art. 222, §1o Ao juiz é vedado reduzir prazos peremptórios sem anuência das partes”. “Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados, a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão. § 1o Os sujeitos previstos no caput considerar-se-ão intimados em audiência quando nesta for proferida a decisão. § 2o Aplica-se o disposto no art. 231, incisos I a VI, ao prazo de interposição de recurso pelo réu contra decisão proferida anteriormente à citação. § 3o No prazo para interposição de recurso, a petição será protocolada em cartório ou conforme as normas de organização judiciária, ressalvado o disposto em regra especial. DIREITO PROCESSUAL CIVIL III § 4o Para aferição da tempestividade do recurso remetido pelo correio, será considerada como data de interposição a data de postagem. § 5o Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para responder-lhes é de 15 (quinze) dias. § 6o O recorrente comprovará a ocorrência de feriado local no ato de interposição do recurso”. “Art. 180. O Ministério Público gozará de prazo em dobro para manifestar-se nos autos, que terá início a partir de sua intimação pessoal, nos termos do art. 183, § 1o. § 1o Findo o prazo para manifestação do Ministério Público sem o oferecimento de parecer, o juiz requisitará os autos e dará andamento ao processo. § 2o Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o Ministério Público”. “Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal. § 1o A intimação pessoal far-se-á por carga, remessa ou meio eletrônico. § 2o Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o ente público”. Art. 9º. Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos, devendo a citação para audiência de conciliação ser efetuada com antecedência mínima de 30 (trinta) dias” – Lei nº 10.259/2001 – JECF, e art. 7º da Lei nº 12.153/2009 – JEFP. “Art. 186. A Defensoria Pública gozará de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais. § 1o O prazo tem início com a intimação pessoal do defensor público, nos termos do art. 183, § 1o. § 2o A requerimento da Defensoria Pública, o juiz determinará a intimação pessoal da parte patrocinada quando o ato processual depender de providência ou informação que somente por ela possa ser realizada ou prestada. § 3o O disposto no caput aplica-se aos escritórios de prática jurídica das faculdades de Direito reconhecidas na forma da lei e às entidades que prestam assistência jurídica gratuita em razão de convênios firmados com a Defensoria Pública. § 4o Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para a Defensoria Pública”. “Art. 5º, § 5º. Nos Estados onde a Assistência Judiciária seja organizada e por eles mantida, o Defensor Público, ou quem exerça cargo equivalente, será intimado pessoalmente de todos os atos do processo, em ambas as Instâncias, contando-se-lhes em dobro todos os prazos ” – Lei nº 1.060/50 - LAJ. “Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerimento. § 1o Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus, é ofe recida defesa por apenas um deles. § 2o Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrônicos”. DIREITO PROCESSUAL CIVIL III STF, Súmula n. 641: “Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos litisconsortes haja sucumbido”. STF, Súmula n. 310: “Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimaçãofor feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir”. Os prazos são contados somente em dias úteis, excluindo o dia do começo e incluindo o dia do vencimento. Primeiro ocorre a disponibilização (diário oficial), no próximo dia útil ocorre a publicação e no dia útil seguinte se inicia a contagem do prazo. “Art. 224. Salvo disposição em contrário, os prazos serão contados excluindo o dia do começo e incluindo o dia do vencimento. § 1o Os dias do começo e do vencimento do prazo serão protraídos para o primeiro dia útil seguinte, se coincidirem com dia em que o expediente forense for encerrado antes ou iniciado depois da hora normal ou houver indisponibilidade da comunicação eletrônica. § 2o Considera-se como data de publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação no Diário da Justiça eletrônico. § 3o A contagem do prazo terá início no primeiro dia útil que seguir ao da publicação”. “Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos processuais”. Somente réu pode ser considerado revel. Réu revel com advogado no processo representando seus direitos a contagem do prazo é a mesma vista anteriormente, a partir da intimação (pois é intimado das decisões por meio de seu advogado). Mas caso o réu seja revel e não tenha advogado no processo (ele não será intimado, notificado dos atos do processo), a contagem de prazo inicia-se da data de publicação da decisão no órgão oficial. p “Art. 346. Os prazos contra o revel que não tenha patrono nos autos fluirão da data de publicação do ato decisório no órgão oficial. Parágrafo único. O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se encontrar”. “Art. 218. Os atos processuais serão realizados nos prazos prescritos em lei. § 1o Quando a lei for omissa, o juiz determinará os prazos em consideração à complexidade do ato. § 2o Quando a lei ou o juiz não determinar prazo, as intimações somente obrigarão a comparecimento após decorridas 48 (quarenta e oito) horas. § 3o Inexistindo preceito legal ou prazo determinado pelo juiz, será de 5 (cinco) dias o prazo para a prática de ato processual a cargo da parte. § 4o Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo”. PRINCIPAIS PRAZOS RECURSAIS Recursos em geral: regra 15 (quinze) dias – art. 1.003, § 5o , CPC. DIREITO PROCESSUAL CIVIL III Exceções: Embargos de declaração Recurso inominado 5 (cinco) dias – art. 1.023, CPC. 10 (dez) dias – arts. 41 e 42, Lei nº 9.099/95 – JEC. 9.3. SINGULARIDADE, UNICIDADE OU UNIRRECORRIBILIDADE Só poderá ser colocado somente um recurso. Não pode haver mais de um recurso, pois neste caso haveria litispendência, o que não é admitido. Obs.: as duas partes poderão impor recursos. O princípio aponta duas exceções que a parte pode se valer de mais de um recurso, por exemplo embargos de declaração (recurso que não tem como objetivo reformar ou anular, mas sim, aperfeiçoar a decisão). 9.4. ADEQUAÇÃO 9.4.1. Princípio da fungibilidade dos recursos “Art. 188. Os atos e os termos processuais independem de forma determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial”. “Art. 277. Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade”. Aqui fala-se no princípio da instrumentalidade das formas. Quando a parte interpõe um recurso errado tem se exigido a satisfação de dois requisitos, a primeira se houver diferença de prazo entre o adequado e o inadequado vale o recurso de menor prazo, neste caso entende -se (10 dias). A não interposição do recurso errado por prazo menor é entendido como má-fé. No CPC de 2015 todos os recursos, com exceção dos embargos de declaração, são de 15 dias. Não poderá haver erro grosseiro. 9.5. PREPARO Significa o pagamento das despesas atinentes ao processamento do recurso. pode corresponder a taxa ao Estado e porte de despesa de remessa e retorno dos autos. O preparo deve estar previsto em lei. Essas verbas podem ser exigidas um ou outra, ou as duas. Autos digitais não possuem o preparo de porte de despesa de remessa e retorno, porque não há deslocamento físico do processo. Algumas pessoas não pagam preparo: poder público, MP seja na condição de parte ou fiscal, e os beneficiários da justiça gratuita Alguns recursos independentemente de qual seja o recurso estão dispensados por lei do preparo (ex. embargos de declaração). Quando ocorrer uma insuficiência no valor do preparado o juiz deve intimar o recorrente para complementar em 5 dias, se não complementar ou complementar de forma insuficiente é considerado recurso decerto – pena de não reconhecimento do recurso. DIREITO PROCESSUAL CIVIL III Quando não há qualquer recolhimento a título de reparo o juiz também deve intimar o advogado do recorrente a recolher o deposito devido, aqui o preparo é em dobro. Em regra, no ato da interposição do recurso tem que comprovar o pagamento do preparo, mas há exceções, como nos juizados especiais em que o pagamento do preparo pode ser feito nas 48h seguintes a interposição do recurso (em primeiro grau de jurisdição há gratuidade nos juizados especiais, mas no segundo grau não). “Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção - Deserção é como dizer que o recurso está deserto, sem preparo. § 1o São dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos Municípios, e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal - Também a fundação de direito público. § 2o A insuficiência no valor do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, implicará deserção se o recorrente, intimado na pessoa de seu advogado, não vier a supri-lo no prazo de 5 (cinco) dias. (direito subjetivo do recorrente). § 3o É dispensado o recolhimento do porte de remessa e de retorno no processo em autos eletrônicos” - só há incidência de taxa judiciária. O beneficiário da justiça gratuita não paga o preparo (tem a dispensa). § 4o O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o recolhimento do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, será intimado, na pessoa de seu advogado, para realizar o recolhimento em dobro, sob pena de deserção. § 5o É vedada a complementação se houver insuficiência parcial do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, no recolhimento realizado na forma do § 4o. § 6o Provando o recorrente justo impedimento, o relator relevará a pena de deserção, por decisão irrecorrível, fixando-lhe prazo de 5 (cinco) dias para efetuar o preparo. § 7o O equívoco no preenchimento da guia de custas não implicará a aplicação da pena de deserção, cabendo ao relator, na hipótese de dúvida quanto ao recolhimento, intimar o recorrente para sanar o vício no prazo de 5 (cinco) dias”. STJ, Súmula n. 484: “Admite-se que o preparo seja efetuado no primeiro dia útil subsequente, quando a interposição do recurso ocorrer após o encerramento do expediente bancário”. “Art. 42, § 1º. O preparo será feito, independentemente de intimação, nas quarenta e oito horas seguintes à interposição, sob pena de deserção” – Lei nº 9.099/95 – JEC. 9.6. MOTIVAÇÃO O recorrente dizer por que ele não se conforma com aquela decisão, tem que dar motivo pelas quais ele entende que aquela decisão deve ser reformada, anulada,ou buscar esclarecimentos (causa de pedir recursal). Recurso sem motivação é recurso inepto, que não pode ser admitido. Há uma discussão se a motivação do recurso pode ser um “copiar colar” da petição inicial, a jurisprudência majoritária entende que é possível adotar essa técnica. Professore entende que é melhor aderir outra técnica de atuação. 9.7. REGULARIDADE FORMAL Satisfazer um requisito específico, próprio atinente aquele recurso, estamos vendo os requisitos genéricos dos recursos, mas é possível que um recurso detenha requisito próprio que também deve DIREITO PROCESSUAL CIVIL III ser observado. Exemplo agravo de instrumento, o recurso deve estar integrado a algumas cópias do processo principal já que o recurso vai para o tribunal e o processo continua no primeiro grau de jurisdição, a falta dessas peças obrigatórias leva ou pode levar ao não reconhecimento do recurso. 9.8. LEGITIMAÇÃO OU LEGITIMIDADE Quem pode interpor o recurso? Quem pode recorrer? Genericamente, os legitimados a interpor recurso são: a parte, o Ministério Públcio (como parte ou fiscal), e o terceiro prejudicado. “Art. 996. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica. Parágrafo único. Cumpre ao terceiro demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica submetida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo como substituto processual”. 9.8.1. Parte Parte no sentido processual, isto é, aquele que participa no processo com interesse no resultado (autor, réu e terceiro interveniente). No litisconsórcio (junção de pessoas em um ou ambos os polos da ação), a regra é do princípio da autonomia dos colitigantes (cada um faz o que quer), um litigante pode recorrer enquanto o outro não, ou ainda ambos podem recorrer. A atuação de litisconsórcio não pode prejudicar o outro, mas pode beneficiar o outro que não atuou. O recurso pode beneficiar aquele que não recorreu desde que o objeto do recurso também diga respeito ao litisconsórcio que não recorreu, isto é, desde que a matéria se refira a ambos os litisconsortes “Art. 117. Os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa, como litigantes distintos, exceto no litisconsórcio unitário, caso em que os atos e as omissões de um não prejudicarão os outros, mas os poderão beneficiar”. “Art. 1.005. O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou opostos os seus interesses. Parágrafo único. Havendo solidariedade passiva, o recurso interposto por um devedor aproveitará aos outros quando as defesas opostas ao credor lhes forem comuns”. 9.8.2. Terceiro prejudicado Aquele que não participa do processo e sofre prejuízo jurídico da decisão proferida no processo tem legitimidade para interpor recurso. Ele deve demonstrar que a decisão esse prejuízo. “Art. 996. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica. Parágrafo único. Cumpre ao terceiro demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica submetida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo como substituto processual”. 9.8.3. Ministério Público Pode atuar como parte do processo (autor ou réu) ou como fiscal da ordem jurídica (ordenamento jurídico exige sua atuação). O MP como fiscal, pode apresentar recurso embora a parte não tenha apresentado recurso, a legitimidade recursal dele é autônoma, tem legitimidade própria mesmo como fiscal da ordem jurídica. “Art. 996. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica. Parágrafo único. Cumpre ao terceiro demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica submetida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo como substituto processual”. DIREITO PROCESSUAL CIVIL III STJ, Súmula n. 99: “O Ministério Público tem legitimidade para recorrer no processo em que oficiou como fiscal da lei, ainda que não haja recurso da parte”. STJ, Súmula n. 226: “O Ministério Público tem legitimidade para recorrer na ação de acidente de trabalho, ainda que o segurado esteja assistido por advogado”. 9.9. INTERESSE RECURSAL Tem interesse quem pode por meio de recurso buscar uma melhora na sua situação processual. As vezes mais de uma parte tem interesse de interpor recurso, exemplo, sucumbência recíproca. Se faltar o interesse recursal o recurso não será admitido. 9.10. INEXISTÊNCIA DE FATO IMPEDITIVO OU EXTINTIVO DO PODER DE RECORRER (CPC, arts. 998 a 1.000) 9.10.1. Noções gerais Além dos requisitos vistos anteriormente, para que um recurso seja analisado pelo mérito não pode existir fatos que impedem ou extinguem o poder de recorrer. Esses fatos são três: a desistência, renúncia e aquiescência. 9.10.2. Desistência Manifestar a vontade de que o recurso não seja apreciado pelo mérito. O recurso não terá prosseguimento, a sentença transita em julgado, se torna definitiva, fica coberta pela coisa julgada. É um direito do autor desistir, sem que manifeste seu motivo. O recorrente poderá a qualquer tempo, antes do julgamento do mérito, desistir do recurso. Enquanto o órgão destinatário do recurso não decidir o mérito do recurso, o recorrente pode desistir. “Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso. Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos”. 9.10.3. Renúncia “Abrir mão” do direito de recorrer. A parte que poderia interpor o recurso renuncia seu direito de recorrer. Pode ser expressa – aquela que decorre de manifestação explicita de quem pode recorrer; e tácita – aquela decorrente da não interposição do recurso no prazo legal. “Art. 999. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte”. 9.10.4. Diferença entre desistência e renúncia A desistência pressupõe o recurso já interposto, a renúncia por sua vez não tem recurso interposto. 9.10.5. Questões comuns à desistência e à renúncia São atos diversos, mas possuem pontos em comum. Ambos constituem atos unilaterais de vontade, isto é, para desistir ou renunciar aquele que interpôs o recurso não precisa contar com a concordância dos litisconsórcios ou a parte adversária, ou ainda do juiz. É impedido à parte que manifesta a vontade da desistência ou renúncia, a possibilidade de arrependimento, não tem como voltar a trás. O legislador disciplina a desistência do recurso de uma forma e a desistência da ação de outra forma – ambos são atos de manifestação de vontade. A desistência de recurso não depende de homologação judicial (art. 200, caput), produz efeitos imediatos e não comporta arrependimento; já a desistência da ação só produz o efeito de desistência após a homologação do juiz, sendo assim, é possível a retratação DIREITO PROCESSUAL CIVIL III antes da homologação da desistência, ou seja, mudar de ideia quanto a desistência. Mas a partir da homologação da desistência não é mais possível retratar-se. A segunda diferença entre desistência do recurso e desistência da ação é que a desistência do recurso nunca exige concordância do adversário; já a desistência da ação, a partir do momento que se tem contestação no processo, só pode produzir seus efeitos após a concordância do réu. Para que o advogado da parte renuncie ou desista do recurso, ele precisa ter direitos especiais para assim agir, pois são atos que extrapolam os poderes do advogado. “Art. 998. O recorrente poderá,a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso. Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos”. “Art. 999. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte”. “Art. 200. Os atos das partes consistentes em declarações unilaterais ou bilaterais de vontade produzem imediatamente a constituição, modificação ou extinção de direitos processuais. Parágrafo único. A desistência da ação só produzirá efeitos após homologação judicial”. “Art. 485, § 4o Oferecida a contestação, o autor não poderá, sem o consentimento do réu, desistir da ação”. “Art. 105. A procuração geral para o foro, outorgada por instrumento público ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, exceto receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossuficiência econômica, que devem constar de cláusula específica. § 1o A procuração pode ser assinada digitalmente, na forma da lei. § 2o A procuração deverá conter o nome do advogado, seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo. § 3o Se o outorgado integrar sociedade de advogados, a procuração também deverá conter o nome dessa, seu número de registro na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo. § 4o Salvo disposição expressa em sentido contrário constante do próprio instrumento, a procuração outorgada na fase de conhecimento é eficaz para todas as fases do processo, inclusive para o cumprimento de sentença”. 9.10.6. Aceitação expressa ou tácita da decisão: aquiescência à decisão Aquele que aceitar expressa ou tacitamente a decisão, não pode mais dela recorrer. Caso já tenha recorrido, o recurso não pode ter prosseguimento. A aceitação da decisão leva a preclusão daquela decisão, ao trânsito em julgado. Aceitação expressa – expressamente dizer que concorda/aceita a decisão. Aceitação tácita – a parte pratica um ato incompatível com o desejo de recorrer, ocorre a preclusão lógica. Caso haja reserva para recorrer, ou seja, o sujeito pratica o ato (por exemplo, depositar quantia), mas declara que irá recorrer a ele, não ocorre a aceitação tácita. “Art. 1.000. A parte que aceitar expressa ou tacitamente a decisão não poderá recorrer. Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática, sem nenhuma reserva, de ato incompatível com a vontade de recorrer”. DIREITO PROCESSUAL CIVIL III “Art. 105. A procuração geral para o foro, outorgada por instrumento público ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, exceto receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossuficiência econômica, que devem constar de cláusula específica. § 1o A procuração pode ser assinada digitalmente, na forma da lei. § 2o A procuração deverá conter o nome do advogado, seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo. § 3o Se o outorgado integrar sociedade de advogados, a procuração também deverá conter o nome dessa, seu número de registro na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo. § 4o Salvo disposição expressa em sentido contrário constante do próprio instrumento, a procuração outorgada na fase de conhecimento é eficaz para todas as fases do processo, inclusive para o cumprimento de sentença”. REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS Os doutrinadores criam diversas classificações quanto aos requisitos de admissibilidade dos recursos, mais dois são os mais importantes e cobrados, que dividem os requisitos em objetivos e subjetivos; e intrínseco e extrínseco. Ambas as classificações estão corretas e são cobradas em prova. OBJETIVOS SUBJETIVOS 1. Recorribilidade 2. Tempestividade 3. Singularidade, unicidade ou unirrecorribilidade 4. Adequação 5. Preparo 6. Motivação 7. Regularidade formal 8. Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer 9. Legitimação ou legitimidade 10. Interesse recursal DIREITO PROCESSUAL CIVIL III INTRÍNSECOS EXTRÍNSECOS 1. Cabimento (recorribilidade e adequação) 2. Legitimação ou legitimidade 3. Interesse recursal 4. Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer 1. Tempestividade 2. Regularidade formal 3. Preparo 10. JUÍZO DE MÉRITO DO RECURSO 10.1. Noções gerais Juízo de mérito significa que o órgão destinatário do recurso analisa se o recorrente tem ou não razão do seu inconformismo. Caso ele tenha razão, o órgão destina dá provimento ao recurso, caso contrário nega o provimento ao recurso. O recorrente deve cumprir todos os requisitos de admissibilidade. 10.2. Princípio da proibição da reformatio in pejus “Reforma para o pior”, em regra, o órgão destinatário do recurso ao analisar o recurso pelo mérito não pode piorar, prejudicar a situação do recorrente. O tribunal pode manter a situação daquele que interpôs o recurso ou melhorar a situação. O fundamento desse princípio é o seguinte: princípio da inércia da jurisdição e princípio da adstrição/relação/congruência (o pedido formulado pela parte limita a decisão judicial). Mas as vezes no processo ambas as partes (autor e réu) recorrem, não pode piorar a situação de quem recorreu, mas pode piorar a situação do adversário (ex. acolhendo o pedido do autor pode piorar a situação do réu, e vice e versa). Exceção a essa rega, há uma hipótese em que ao julgar o recurso do recorrente o tribunal pode piorar sua situação –os pressupostos processuais e a condição da ação (matéria de ordem pública) o tribunal pode reconhecer de ofício, mesmo não havendo pedido no recurso (podem e devem ser conhecidas de ofício em qualquer tempo ou grau de jurisdição). Como condição da ação, a legitimidade da parte é exceção à regra, sendo o réu parte ilegítima para configurar o polo da ação, isto é, lhe faltando uma condição da ação, a consequência é a extinção do processo sem resolução do mérito, o tribunal reconhecendo que o réu é parte ilegítima extingue de ofício o recurso, sem resolução de mérito. nesse caso pode piorar a situação do recorrendo. 11. EFEITOS DOS RECURSOS 11.1. Impedimento à preclusão ou ao trânsito em julgado Impedimento da preclusão ou ao trânsito em julgado enquanto o recurso estiver pendente de apreciação – quando há uma decisão e contra ela é interposto recurso esse recurso impede a preclusão ou trânsito em julgado. 11.2. Efeito suspensivo A decisão impugnada não produz seus efeitos naturais enquanto não julgado o recurso. Impede que a decisão produza imediatamente seus efeitos naturais. Em regra, os recursos em geral não possuem efeito suspensivo. Mas haverá efeito suspensivo em duas situações – quando tiver disposição legal nesse sentido (quando tiver previsão na lei, ex. recurso de apelação contra a sentença) ou quando tiver DIREITO PROCESSUAL CIVIL III decisão judicial atribuindo ao recurso efeito suspensivo (o juiz relator do recurs o confere efeito suspensivo a decisão). A parte que recorre tem que pedir efeito suspensivo, esse é o entendimento majoritário. “Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso. Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se dá imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidadede provimento do recurso”. 11.3. Efeito devolutivo O tribunal só vai apreciar aquilo que é objeto do recurso, só autoriza o tribunal decidir o que é objeto do recurso. O que não foi impugnado não é objeto do recurso. Em regra, os pressupostos processuais (art. 485, §3º, salvo incompetência relativa e convenção de arbitragem) e a condição da ação - são matéria de ordem pública - o tribunal pode reconhecer de ofício, mesmo não havendo pedido no recurso (ex. recurso não fundamentado, o tribunal pode anular de ofício; ilegitimidade da parte). “Art. 1.013, caput. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada”. 11.4. Efeito regressivo, efeito de retratação ou efeito diferido O recurso interposto permite que o próprio órgão jurisdicional que deferiu a decisão impugnada possa retratar-se. A regra é o princípio da invariabilidade da decisão do órgão que a proferiu (o órgão que proferiu a decisão, mesmo havendo recurso contra ela, não pode reformar, anular a decisão) . O juiz proferiu uma sentença, há um recurso de apelação contra essa sentença, ele não pode mexer nessa sentença, a alteração só é possível por meio de recurso julgado por órgão diverso daquele que proferiu a decisão. Mas o artigo 994 traz exceções, permite que o próprio órgão que proferiu a decisão altere a decisão. Pode alterar a decisão quando tiver recurso dotado de efeito regressivo, de retratação ou diferido – autorização legal para que o próprio órgão que proferiu a decisão retome -a porque tem um recurso contra ela, enquanto não julgado aquele recurso pelo órgão competente, o órgão que a deferiu está autorizado a alterá-la – esse efeito é exceção. Esse efeito que autoriza o próprio órgão jurisdicional só incide se tiver recurso, isto é, se não tiver recurso contra a decisão ele não pode alterar. “Art. 494. Publicada a sentença decisão, o juiz só poderá alterá-la: I - para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou erros de cálculo; II - por meio de embargos de declaração”. – busca aperfeiçoar a decisão judicial, torna-la melhor, pois há algum vício, defeito. 11.5. Efeito substitutivo O julgamento do tribunal substitui a decisão daquilo que foi objeto de recurso. o acordão substitui a sentença, deixa de existir juridicamente a sentença e passa a existir o acordão. Pouco importa se o tribunal negou ou de provimento ao recurso, o julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no recurso. “Art. 1.008. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que tiver sido objeto de recurso”. 12. REEXAME NECESSÁRIO OU OBRIGATÓRIO (CPC, art. 496) 12.1. Noções gerais DIREITO PROCESSUAL CIVIL III Algumas sentenças proferidas contra o poder publico para que elas transitam em julgado e produzam os efeitos, precisam necessariamente, obrigatoriamente, serem reexaminadas pelo tribunal. Enquanto isso não acontecer essa sentença não pode ser executada, não produz efeito, não tem eficácia, não transita em julgado. Essa obrigatoriedade se fundamenta no fato de que toda vez que é proferido sentença contra o poder pulico, entende-se, município/estado/união, quem vai suportar os efeitos e consequências é a sociedade. Por isso, algumas sentenças contrárias precisam ser reexaminadas por um tribunal. “Art. 496, caput. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença”. 12.2. Natureza jurídica O que é juridicamente o reexame necessário? Primeiramente, não é recurso, a doutrina quase unanime, e a jurisprudência, entende que o reexame necessário não tem natureza de recurso, pois não se subordina aos requisitos do recurso. enquanto os recursos se subordinam a requisitos rígidos, como tempestividade, o reexame não se subordina, não tem tempestividade, deve ser realizado a qualquer tempo, ele é necessário, obrigatório, não pode ser dispensado. A natureza jurídica é de condição imprescindível para que a sentença contrária ao poder publico transite em julgado, forme a coisa julgada e produza efeitos. Sentença de poder público não transita em julgado enquanto não reexaminada – erro na antiga súmula é tratar o reexame como recurso “recurso ex officio”, deve se entender por “recurso ex officio” reexame necessário. STF, Súmula n. 423: “Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ex officio, que se considera (deflagrado por força de lei) interposto ex lege”. 12.3. Provimento jurisdicional que se submete ao reexame necessário Qual ato do juiz que se submete ao reexame necessário? Somente a sentença, ou seja, decisão interlocutória, acordão, decisão monocrática, despacho, tutela provisória (concedida antes da sentença, por decisão interlocutória), não se submetem a reexame necessário. “Art. 496, caput. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença”. 12.4. Hipóteses que exigem o reexame necessário: sentença contrária É exigido na sentença contrária ao poder público, logo, sentença favorável não se submete ao reexame necessário. Sentença contra sociedade de economia mista (Banco do Brasil) e empresa pública (Correios), são considerados pessoas públicas de direito privado, não se submetem ao reexame necessário. Lei 6830/80 (lei de execução fiscal) poder público é autor da execução fiscal, exequente, e aquele de quem está sendo cobrado o crédito (devedor) é chamado executado. Esse executado pode promover ação de embargos de execução para se defender, passando a ser o embargante e o exequente embargado. Nessa ação o poder público, supostamente credor é réu, essa ação é uma ação de conhecimento, vai ter uma sentença, dizendo se o devedor deve ou não ao poder público. Caso os embargos são promovidos pelo suposto devedor forem julgados procedentes esse julgamento é contra o réu, poder público. A sentença que julgar procedente em todo ou em partes o embargos de execução fiscal se sujeita ao reexame necessário. Em suma, a regra é sentença contra o poder público submete- se ao reexame necessário. “Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença: DIREITO PROCESSUAL CIVIL III I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público; II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal”. 12.5. Outras hipóteses que exigem o reexame necessário As hipoteses de cabimento, exigência do reexame estão no artigo 496 do CPC, mas tem possibilidade de leis extravagante (fora do CPC) também exigem, como no mandado de segurança, o reexame necessário. 12.6. Hipóteses que dispensam o reexame necessário Regra: sentença contra o poder público obrigatório o reexame necessário Exceção: sentenças contra o poder publico que não se submetem ao reexame necessário – quando a condenação de poder público for de valor inferior aos apontados nos incisos, não precisa submeter ao reexame necessário (se for valor igual o superior é submetido). Nessas hipóteses ou o ente condenado (pode público) apresenta recurso ou a sentença transita em julgado. Além dessas hipoteses, quando a sentença contra o poder público for baseada nas hipoteses do art. 496, § 4º (súmula, acordão, entendimento firmado e coincidente) também não será submetido a reexame necessário, pois a sentença está em conformidade com os tribunais, há um entendimento vinculante que o juiz tem que seguir. No inciso IV – poder público por veze emite orientação a seus servidores e advogados dizendo que em determinados caso o poder público não tem direito, então todo vez que tiver demanda em face do poder público referente a esse caso tem que atender. No § 3º a dispensa é baseada em valores inferiores aos descritos, já no § 4º não importa ovalor, ou seja, mesmo que a união seja condenada a valor superior a mil salários mínimos, se essa sentença estiver baseada em uma das hipóteses do §4º não tem reexame necessário. “Art. 496, § 3o Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o proveito econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a: I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e fundações de direito público; II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municípios que constituam capitais dos Estados; III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas autarquias e fundações de direito público. 3“Art. 496, § 4o Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em: I - súmula de tribunal superior; II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa”. 12.7. Outras hipóteses que dispensam o reexame necessário DIREITO PROCESSUAL CIVIL III Juizado especial fazenda pública e juizado especial federal dispensam em toda e qualquer situação o reexame necessário. Ainda que haja uma mudança de valor de admissibilidade das causas, nos juizados especiais não há reexame necessário. “Art. 13. Nas causas de que trata esta Lei, não haverá reexame necessário” - Lei nº 10.259/2001 – JECF, e art. 7º da Lei nº 12.153/2009 – JEFP. 12.8. Procedimento Tratam das situações em que o reexame necessário deve ocorrer. E uma sentença contrária ao poder publico (o poder publico perdeu), como se trata de uma sentença o recurso próprio, adequado para atacar essa sentença é o recurso de apelação. se o poder público réu perdeu evidentemente ele pode apresentar um recurso contra essa sentença, mas ele pode não apresentar, pouco importa se o poder público recorreu, interpôs ou não recurso de apelação contra sentença, mesmo assim haverá o reexame necessário. O reexame é imprescindível, quanto não tiver não transita em julgado, não produz efeitos da sentença. Se tiver apelação teremos apelação e reexame necessário, caso não haja apelação haverá apenas o reexame necessário. Se o juiz não mandar o processo para o tribunal realizar o reexame necessário, o presidente do tribunal pode avocar o processo, exige que se faça o reexame necessário “Art. 496, § 1o Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo legal, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do respectivo tribunal avocá- los-á. § 2o Em qualquer dos casos referidos no § 1o, o tribunal julgará a remessa necessária”. 12.9. Reexame necessário e proibição da reformatio in pejus Ao julgar o reexame necessário o tribunal pode agravar a situação do poder público? Não, no reexame necessário incide a proibição da reformatio in pejus, não pode piorar. O reexame se presta em proteger o pode público, de modo que o poder público por meio deste pode ter sua situação jurídica mantida ou melhorada, mas piorada jamais. Quando o tribunal realizar o reexame necessário pode analisar tudo o que foi objeto de condenação na sentença, e melhorar qualquer coisa. Inclusive os honorários de advogado. STJ, Súmula n. 45: “No reexame necessário, é defeso, ao Tribunal, agravar a condenação imposta à Fazenda Pública”. STJ, Súmula n. 325: “A remessa oficial devolve ao tribunal o reexame de todas as parcelas da condenação suportadas pela Fazenda Pública, inclusive dos honorários de advogado”.
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