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Lúdico e Musicalização na Educação Infantil
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tecnológicos, valorizavam todas as formas lúdicas de inventar e reinventar as brincadeiras. Qualquer objeto transformava-se num brinquedo: uma pequena árvore no quintal da casa poderia se transformar num castelo em pequena fração de segundos e a imaginação “corria solta”. As brincadeiras de faz de conta, assim como hoje, apresentavam temáticas da realidade e do cotidiano, retratando o sistema social e econômico existente da época. FIGURA 5 – PULANDO FOGUINHO – DE SANDRA GUINLE (2003) FONTE: Disponível em: <http://www.sandraguinle.com.br/brincadeiras. php?sessao=Brincadeiras>. Acesso em: 6 jan. 2011. UNIDADE 1 | LÚDICO E EDUCAÇÃO INFANTIL 8 É importante ressaltar que, para um melhor entendimento do sentido do lúdico, é necessário ter claro que existe uma forte influência cultural de cada região, povoado etc., isto é, a compreensão do lúdico depende do modo de vida de cada agrupamento humano, diferente nos tempos do engenho, no período colonial, criança negra ou branca, criança rica ou pobre, criança de rua ou de palácio, cada uma em seu tempo e espaço. Daí a importância da valorização dos costumes, brincadeiras e o modo de vida das crianças independentemente das questões socioculturais. Para compreendermos melhor essa afirmação, vejamos a seguir um exemplo de como a cultura interfere diretamente nas atitudes e na forma lúdica da vida de um povo, através de uma breve análise da educação da criança indígena. Nas sociedades indígenas, a maioria dos momentos lúdicos sempre fez parte do cotidiano das aldeias, nas atividades de pesca e caça realizadas com seus arcos e flechas, nos banhos de rio, nas aventuras em cima das árvores para apanhar frutos, nas lavouras e nos rituais, isto é, o lúdico no contexto indígena está intimamente relacionado ao aprendizado das práticas socioculturais de seu povo. De acordo com Kishimoto (1993, p. 63-64): O pai e o avô talham arco com flechas para crianças a partir de dois ou três anos. Com arsenal ainda inofensivo, a criança inicia seu treinamento, geralmente com galinhas e cachorros, suas vítimas. Mais tarde, as armas ficam mais aperfeiçoadas e aparecem novos instrumentos apontados para passarinhos e borboletas. Já aos dez anos, elas acompanham seus pais à caça e pesca e trazem orgulhosas seus troféus para casa, contando peripécias. FIGURA 6 – LUDICIDADE EM SOCIEDADE INDÍGENA FONTE: Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/data/Pages>. Acesso em: 15 dez. 2010. Baldus (1979), um dos grandes estudiosos da cultura indígena, reforça, em suas pesquisas, a intrínseca relação que ocorre na natureza para se divertir e ao mesmo tempo aprender, quando se trata de comunidades indígenas TÓPICO 1 | APRENDER BRINCANDO: A HISTÓRIA DO LÚDICO 9 FIGURA 7 – CRIANÇAS INDÍGENAS FONTE: Disponível em: <http://amazoniaexposta.blogspot.com/2010/08/prova-semelhante-ao- enem-para-os-indios.html>. Acesso em: 15 dez. 2010. A forma de criação das meninas indígenas, que distingue bem os afazeres femininos dos masculinos, demonstra como os costumes de um povo interferem diretamente na sua maneira de ser, agir, pensar e ver o mundo em sua volta. Já os meninos precisam demonstrar bravura, força e determinação como demonstração de poder e liderança. As atividades corriqueiras das aldeias demonstram uma tendência em misturar suas vidas à dos animais. Veja o que diz Kishimoto (1993, p. 61-62): Um forte elemento folclórico de origem indígena são as danças totêmicas nas quais dançarinos imitam animais demoníacos em rituais mágicos. Os animais, presentes na cultura indígena, misturam-se em seus contos, em seus rituais e perduram na memória social infantil [...]. Seus diabos têm cabeça de bicho e são assim representados nas máscaras de dança. Suas cantorias imitam vozes de animais. Suas danças imitam o movimento dos animais, suas cuias e potes têm as mesmas formas e seus jogos representam os movimentos e características dos animais. tradicionais. “Com isso, o mundo da criança está ligado com o mundo do adulto, apenas separado pelo viés da diversão, isto é, o lúdico influencia no aprendizado das regras sociais, que acontece de maneira não forçada e sim num contexto de naturalidade e simplicidade”. (BALDUS, 1979, p. 5). Segundo Kishimoto (1993, p. 64): As meninas, desde muito pequenas, auxiliam suas mães. Acordam muito cedo, antes da saída do sol, e acompanham suas mães ao trabalho, à plantação, frequentemente muito distante, para trazer legumes. Já desde o quarto ou quinto ano elas tornam-se verdadeiras auxiliares em todos os serviços domésticos, como ralar mandioca, preparar a farinha, cozer as tortas de mandioca etc. UNIDADE 1 | LÚDICO E EDUCAÇÃO INFANTIL 10 Vejamos algumas atividades lúdicas apreciadas pelas comunidades indígenas, segundo Grünberg (apud KISHIMOTO, 1993, p. 68-69): - JOGO DE GAVIÃO – consiste em colocar meninos e meninas em fila grande, um atrás do outro, cada um agarrando o corpo do da frente. O menino maior representa o gavião. Este se coloca diante da fila e grita: “piu”, a chamada da ave de rapina que quer dizer: “tenho fome”. Logo, o primeiro dos meninos estende diante uma perna e, depois, a outra, e pergunta: “Quer isto?” Ele contesta: “Não”. E assim segue com os outros, até o fim da fila. Ao último menino da fila o gavião diz: “Sim”, e, então, trata de pegar o menino correndo para a direita e esquerda, ao longo da fila. Os demais procuram impedir, voltando à fila rapidamente de um lado a outro, momento em que os menores acabam caindo ao chão no meio do alvoroço. Se o gavião não consegue nada, tem que voltar ao seu posto para tentar de novo. Quando consegue, leva triunfantemente o cativo para o lugar que é seu ninho, e prossegue o jogo até que o último tenha sido pego. - JOGO DO PEIXE PACU – a princípio é como o anterior. Um menino representa o pescador. Os que tomam parte da cadeia, ao serpentear a fila, cantam waitá ma-ge lé ta-pe-wai (“este é um pacu”). O pescador trata de correr ao longo da fila e tocar o último menino com um pedaço de cana ou de madeira, que representa a flecha. - JOGO DO CASAMENTO – muito alegre e divertido. Frente a uma fila de meninas se encontra uma fila de meninos. A primeira menina pergunta ao primeiro menino, indicando sua vizinha: “queres casar com esta?” Ela responde: “Não, ela é feia”. Assim passa por toda fila de meninas até chegar à última. Frente a este menino responde: “Sim”, e muda de lugar com ela. Depois se repete a cena. Há muitas cenas engraçadas e risadas. A prática de jogos lúdicos entre os índios brasileiros ainda é uma atividade viva e exerce um importante papel na socialização dos membros das tribos. Mas é importante ressaltar que a inserção de objetos industrializados nas aldeias e o contato com as outras comunidades têm colocado em risco esse rico acervo lúdico existente no universo da criança indígena, à medida que as novas tecnologias presentes nos brinquedos começam a ocupar o espaço da natureza. FIGURA 8 – JOGO LÚDICO ENTRE ÍNDIOS FONTE: Disponível em: <http://www.ecodesenvolvimento.org.br/noticias/amazonas-realiza- primeiro-vestibular-para>. Acesso em: 15 dez. 2010. TÓPICO 1 | APRENDER BRINCANDO: A HISTÓRIA DO LÚDICO 11 É possível perceber que, no Brasil, a origem dos jogos, brinquedos e brincadeiras teve várias influências, sendo a indígena apenas uma delas, afinal, vivemos num país com uma grande e variada riqueza cultural, ampliada pela miscigenação de povos, culturas e raças. Outra influência a destacar é a portuguesa, até mesmo pelo fato de ser uma das responsáveis pela colonização do Brasil e da qual, de fato, herdamos inúmeras atividades lúdicas como as parlendas, adivinhas, versos, contos e jogos populares do folclore português, passados de geração em geração por meio da oralidade. De acordo com Cascudo (apud KISHIMOTO, 1993, p. 21), a tradição portuguesa trazida pelos primeiros colonizadores refere-se a: “Lobisomem [...] as andanças de Malazarte Fura-Vida, todo acervo de estórias de bruxas,