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Compreender grande parte dos fenomenos organizaeionais exige, em vez de urn conhecimento objetivo e explicativo, metodos que visam obtem;ao de urn conhecimento intersubjetivo e compreensivo. Nossa visao tende, assim, primeiro a dar conta do horizonte das formas simbolicas nas quais se desenvolvem as a~oes sociais, formas essas que assumem uma aparencia codificada linguagens -; mas cujo estudo nos interessa io por sua gramatica ou estrutura interna, mas por seu carater comunicativo de mediad ore formador das experiencias e das necessidades sociais. Organizadores CONHE(:A 0 SITE DO LIVRO E AS DEMAIS NOVIDADES 0 NOSSO CATALOGO NO ENDERE(:O: www.saraivauni.com.br CiWdnCOr.tfsbo<$1Alu3r\:Mii ·cmtrrs~NJ~ ~: L.,;Q!.I.f - ~ 1-··- ::::~ Corltbturis ......., £!A1m:\::k>RM- ,~--~~~·;.;.·, :~ji"_~~-~~rcl> .. 1~:~:==, z0£1~ ~~~~ :1'01~~~ =~=~--t>lilT~~ -~.~~ a ..... ~~ !'J'-itsr6n _;;.;;:..:_:_::;.;;..;.c.;_..cc..c..c._ ... --------·----·- :=t~ ~· / 658.0072 P474 2006 Ex.S \.--\~ Editor a Saraiva Christiane Kleiniibing Godoi Rodrigo Bandeira:.de-Mello Anielson Barbosa da Silva ( Organizadores) PESQUISA QUALITATIVA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS Paradigmas, Estrategias e Metodos fx.5 PUCPft BC j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j j Seguindo a tradil;ao das ciencias sociais aplicadas, para invest/gar · nosso tema recorremos as pessoas. Mas como tratar o que trazemos de volta em m~os?. Cedo descobrimos que estamos diante de problema metodologi- . co muito mais complexo que o padrao prevalente, confiado a regularidade das relapSes matematicas. Pedro Lincoln Mattos A analise Semiotica-Lingiiistica da narrativa parte do pressupos- to de que esta grandeza, repre- sentada pelo texto em si, mais esconde do que mostra, porque se atem ao gerat e nao ao particular; ao "pequeno", onde de fato o discurso e a narrativa mostram suas potencialidades e seus significados. Mario Aquino Alves e lzidoro Blikstein Ao centrar sua atenr;ao numa instancia em particular, mas estendendo o olhar para as multip/as dimensoes ali envolvi- das, o estudo de caso pode se constituir em rica fonte de. informar;oes para medidas de . natureza pratica e decisoes polfticas trazendo contribuir;oes tanto para a pesquisa academica quanto para a vida organizacional. Arilda Schmidt Godoy l l l .~ I l I I PESQUISA QUALITATIVA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Paradigmas, Estrategias e Metodos www.saraivauni.com.br ( Organiz~dores) PESQUISA QUALITATIVA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: / (.,6~ 0 o1'l- (\) 't':\1 :t.Pot E,)t" ~ I Paradigmas, Estrategias e Metodos J 2006 I""'"'\1.Editora \ \ Cs•~;..-.. I \ Olls:':1va Av. Marques de Sao Vicente, 1697 ~ CEP: 01139-904 Barra Funda- Tel.: PABX (OXX11) 3613-3000 . Fax: (11) 3611·3308 ~ Televendas: (0XX11) 3613-3344 Fax Vendas: (0XX11) 3611-326.8- Sao Paulo- SP Endtm.~<;o 'Internet: http://www.editorasaraiva.com.br Filiais: AMA20NAS/RONDlJNIAIRORAIMAIACRE Rua Costa Azevedo, 56- Centro Fone/Fax: (OXX92) 3633-4227 I 3633.4782- Manaus BAHIA!SERGIPE Rua Agripino D6rea7 23 - Brotas. Fone: (()XX71) 3381-5854 I 3381-5895 I 3381-0959- Salvador BAU.RUISAO PAULO (sa!a dos professores) Rua Monsenhor Claro, 2~55/2-57- Centro Fane: (0XX14) 3234-5643-3234-7401- Bauru CAMPINAS/5.0.0 PAULO (sa!a dos professores} Rua Camargo Pimentel, 660- Jd. Guanabara Fone: (OXX19) 3243-8004/3243-8259- Campinas CEARAIPIAUI/MARANHAO Av. Filomeno Gomes, 670- Jacarecanga Fone: (OXX85) 3238-2323 /3238-1331 - Fortaleza DISTRITO FEDERAL SIG Sui Od. 3- Bl. B - Loja 97 - Setor Industrial Graflco Fone: (OXX61) 3344-2920/3344-2951 13344·1709- Brasma GOIASITOCANTINS Av. lndependiinda, 5330- Setor Aeroporto Fone: (OXX62) 3225-2882 I 3212-2806/3224-3016 -Goiania MATO GROSSO DO SUUMATO GROSSO Rua 14 de Julho, 3148- Centro Fone: (OXX67) 3382-368213382·0112- Campo Grande MINAS GERAIS Rua Alem Paraiba, 449- Lagolnha Fone: (0XX31) 3429·8300 I 3428-8272- Belo Horizonte PARAIAMAPA Trivessa Apinages, 186- Batista Campos Fone: (OXX91)3222·9034 I 3224-9038/3241-0499- Belem PARANA/SANTA CATARINA Rua Conselheiro La:urindo, 2895 -Prado Velho Fone: (0XX41) 3332-4894- Curitiba PERNAMBUCOIALAGOAS/PARAIBAIR. G. DO NORTE Rua Corredor do Bispo, 185- Boa Vista Fone: (OXX81) 3421-4246 I 3421-4510- Recife RIBEIRAO PRETO/SAO PAULO Av. Frandsco Junqueira, 1255 -Centro Fone: (OXX16)3610-5843 I 3610-8284- Ribeiriio Preto RIO DE JANE!ROIESPiRITO SANTO Rue Visconde de Santa Isabel, 113 a 119- Vila Isabel Fone: (OXX21) 2577-9494/2577-8867 I 2577-9565- Rio de Janeiro RIO GRANDE DO SUL Av. Ceara, 1360- Sao Geraldo Fone: (OXX$1)3343-1467 I 3343-7563/3343-2986 I 3343-7469 Porto Alegre SAO JOSE DO RIO PRETO/SAO PAULO (sala dos professores) Av. Brig. Faria Uma, 6363- Rio Preto Shopping Center- V. Sao Jose Fone: (OXX17) 227-3819 I 227·0982/ 227-5249 Sao JosC do Rio Prete SAO JOSE DOS CAMPOS/SAO PAULO (sala dos professores) Rua Santa luzia, 106- Jd. Santa Madalena Fone: (OXX12) 3921-0732- Sao Jose dos Campos SAO PAULO Av. Marquis de Silo Vicente, 1697- Barra Funda Fone: PABX (0XX11)3613-3000 /3611-3308- Sao Paulo Sobre os autores Anielson Barbosa da Silva Professor do Mestrado e~ Administras:ao da Universidade Potiguar (UnP). Doutora- do em Engenharia:'de Produs:ao, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestrado em Administras:ao com area de concentras;ao em Organi:z;as;5es e Recursos Humanos, pela Universidade Federal da Parafba (UFPB). Colaborador do Instituto Na- cional de Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira - INEP- na qualidade de especialista na avalias:ao de cursos e de instituis:oes de ensino superior. Membra da Sociedade de Estudos e Pesquisa O»alitativa (SE&PQ).lnteresse de pesquisas nas areas de Teoria das Organizas:oes; Gestao Estrategica de Recursos Humanos; Aprendizagem Gerencial e Organizacional; Relas:ao Trabalho e Vida Pessoal. Arilda Schmidt Godoy Professora do Programa de Pos-Graduas;ao em Administras:ao de Empresas da Universi- dade Presbiteriana Mackenzie. Doutorado, mestrado e graduas:ao em Educas;ao, pela U ni- versidade de Sao Paulo (USP). Atuou na area de treinamento e desenvolvimento de recur- sos humanos no Senac (SP) e Cesp (SP). Lecionou na Escola Superior de Agricultura Luiz de O»eiroz (USP) e na Unesp/campus de Rio Claro. Interesse de pesquisas nas areas de Administras:ao de Recursos Humanos; Ensino-Aprendizagem; Curricula; Planejamento e Avalias:ao Educacional, Competencias e Aprendizagem Individual e Organizacional. Carolina Andion Professora da Unifae - Centro Universitario. Mestre em Administras:ao pela Ecole des Hautes Etudes Commerciales de Montreal (HEC). Doutoranda em Ciencias Humanas pela Universidade Federal de Santa Cataria (UFSC). Pesquisadora do Centro Internacional Pesquisa em estudos emetodos de Pesquisa e Informas;ao sobre a Economia Publica, Social e Cooperativa (CIRIEC). Inte- resse de pesquisas em Teoria das Organizas;oes, As;ao Coletiva, Desenvolvimento Territorial Sustentavel, Responsabilidade Social. Christiane Kleinubing Godoi Professora do Programa de Mestrado Academico em Administras;ao e do Doutorado em Administras;ao e Turismo da Universidade do Vale do Itajaf (SC). Doutorado em Engenharia de Produs:ao, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); douto- rado-sanduiche na Universidade do Minho, Portugal; mestrado em Administras:ao, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Autora de Psicandlise das organiza[oes: Contribui[5es da teoria psicanalftica aos estudos organizacionais (Univali, 2005). Interesse de pesquisas nas areas de Metodologia da Pesquisa; Epistemologia e Gestao da Subjetivi- dade nas Organizas:oes. Cristiano Jose Castro de.Aimeida Cunha Professor do Departamento de Engenharia de Produ<;:lioe Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutorado em Ciencias Economicas e Sociais pela Universidade Tecnica de Aachen, Alemanha. Interesse de pesquisas nas areas de Adapta- <;:lio Estrategica, Aprendizagem Gerencial e Planejamento Estrategico. Cristina Pereira Vecchio Balsini Mestranda do Programa de Mestrado Academico em Administras;ao (PMA), da Univer- sidade do Vale do Itajai (SC). Interesse de pesquisas nas areas de Metodologia da Pes- quisa e Comportamento Organizacional. Elisa Yoshie Ichikawa Professora e pesquisadora na Universidade Estadual de Maringa (UEM). Doutorado em Engenharia de Prodw;:ao pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestrado em Adrninistras;ao pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e graduas;ao em Administras:ao de Empresas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Interesse de pesquisas nas areas de Administra;;:ao de Ciencia e Tecnologia Organiza~oes; Gestao e Avalias:ao da Inovas;ao Tecnol6gica; Planejamento em Ciencia e Tecnologia e Admi- nistras;ao de Recursos Humanos. Henrique Freitas Professor do Programa de Pos-graduas;ao em Administrat;ao da Escola de Administras;ao da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGA/EA/UFRGS). Pesquisador do Con- selho Nacional de Desenvolvimento Cientffico e Tecnol6gico ( CNPq). Pos-doutorado na University of Baltimore (Estados Unidos). Doutorado em Gestao pela Universite Pierre Mendes-}rance Ecole Superieure des Affaires (Frans:a). Mestrado em Adrninistras:ao pela Universidade Federal do Rio Grande do Sui (UFRGS). Interesse de pesquisas nas . areas de Sistema de lnf0rmas:ao e Decisao; Tecnologia da Informas:ao- Uso e Impactos;. Comercio Eletroriico; Sistemas para Analise de Dados. lzidoro Blikstein Professor e consultor de Comunicas;oes Empresariais da Funda;;:ao Getulio Vargas de Sao Paulo. Professor titular de Semi6tica e Lingiiistica do rilestrado e doutorado da Univer- sidade de Sao Paulo (USP). Livre-docencia e doutorado pela Universidade de Sao Paulo (USP). Mestre em Lingiifstica Comparativa pela Universidade de Lyon, (Fran;;:a). Au tor de T~cnicas de comunica{iio (Atica) e Kaspar Hauser ou A fobrica[iio da realidade (Cultrix). Interesse de pesquisas nas areas de Comunica;;:ao, Teoria e Analise Lingiiistica e Lingii- istica Hist6rica. Janaina Macke Professora da Universidade de Caxias. do Sui (UCS). Doutorado em Adrninistra;;:iio e mestrado em Engenharia de Produs;ao pela Universida~e Federal do Rio Grande do Sui (UFRGS) Interesse de pesquisas nas areas de Planejamento, Projeto e Controle de Siste- mas de Produs:ao; Administra;;:ao da Produ~ao; Administrat;ao de Recursos Humanos; Terceiro Setor. ·-· Joao Roman Neto Mestrando do Programa de Mestrado em Adrninistrar,:ao da Universidade do Vale do Itajai (Univali-SC). Interesse de pesquisas nas areas de Metodologia da Pesquisa e Estrategia. Lucy Woellner dos Santok Analista de C&T no Instituto Agronomico do Parana (Iapar). Doutorado em Engenha- ria de Produ;;:ao e Sistemas e mestrado em Adrninistra<;:ao pela Uni~rsidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especializa~ao em Historia pela Universidade Estadual de Lon- drina (UEL). Graduas;ao em Sociologia pela Universidade Federal do Parana (UFPR). Interesse de pesquisas nas areas de Hist6ria da Pesquisa Agricola no Brasil, Planejamento e Gestao de Institutos de Pesquisa, Sociologia da Ciencia, Administra~ao e Gestao da Inovas;ao Tecnol6gica. · Mario Aquino Alves Professor da FGV-EAESP, onde leciona Teo ria das Organizas;oes, Comunicas;oes, Orga- nizas:oes da Sociedade Civil e Terceiro Setor nos cursos de gradua;;:ao e p6s-graduas;ao (mestrado e doutorado). Bacharel em Administras;ao Publica pela FGV-EAESP e em Direito pela USP. E mestre e doutor em Adrninistra;;:ao pela FGV-EAESP.Foi pesqui- sador visitante no Centre for Voluntary Organisation da London School of Economics and Political Science. Interesse de pesquisas nas areas de Teoria das Organizas;oes; Pesquisa qualitatlva em estudos organiucionais: paradigmas, estrategias e metodos Comunicas;ao nas Organizas:oes; Politica e Planejamento Governamentais; Responsa- bilidade Social Corp6rativa; Pesquisa Qyalitati\ra. Mauricio Serva · Professor da PUC-PR. Presidente, no B~asll, do Centro lnternacional de Pesquisa e Inforina- s:ao sobre a Economia Publica, Social e Cooperativa (Ciriec). Doutor e mestre em Adminis- tras:ao pela EAESP/FGV. P6s-doutorado em Autonornia e Gestao Social na HEC, Montreal (Canada). Interesse de pesquisas nas areas de Epistemologia da Adrninistras:ao, As:ao Cole- tiva, Desenvolvirnento Territorial Sustentavel. Mfrian Oliveira Professora do mestrado em Administras:ao e Neg6cios da Faculdade de Administras:ao, Contabilidade e Economia da Pontiflcia Universidade Cat6lica do Rio Grande do Sul (MAN/FACE/PUC-RS). Doutora em Adrninistras:ao pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS). Interesse de pesquisas nas areas de E-business, Sistema de Infor- mas:ao, Metodos de Pesquisa e Qyalidade. Paulo Freire Vieira Professor do Departamento de Ciencias Sociais da Universidade Federal de Santa Cata- rina (UFSC). P6s-doutorado na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, Paris (Frans:a). Doutorado em Ciencia PoHtica pela Universitat Munchen (Ludwig-Maximi- lians), LMUM, Munich 22 (Alemanha). Interesses de pesquisa nas areas de Politicas Publicas; Epistemologia; Teoria Politica; Fundamentos do Planejamento Urbano e Re- gional; Comportamento Politico. Pedro Lincoln C. L de Mattos Professor titular do Programa de P6s-graduas:ao em Administras:ao da Universidade Fede- ral de Pernambuco. Pesquisador do CNPq. P6s-doutorado em Filosofia da Linguagem (PUC-RJ). Ph.D. pela The London School of Economics. Licenciado em Filosofia (PUC). Bacharel (UFPE) e mestre em Administras:ao (EBAP-FGV). Coordenador da Divisao de Ensino e Pesquisa da Anpad (2005-2006). Interesse de pesquisas na area de Metodologia do Conhecimento em Administras:ao (na pesquisa, no ensino, na consultoria e na gestao). Rodrigo Bandeira-de-Mello Professor do Programa de Mestrado Academico em Administras:ao e do Doutorado em Administras:ao e Turismo da Universidade do Vale do Itajai (SC). Doutorado e mestrado em Engenharia de Produs:ao e Sistemas, pela Universidade Federal de Santa Catari- na (UFSC); Doutorado-sanduiche na The Wharton School, University of Pennsylvania (EUA). Interess7 de pesquisas nas areas de Gestao Estrategica; Gestao dos Stakeholders; Estrategias de Pesquisa Qyalitativa. Sobre os autores Sergio luis Bc;>eira Professor do mestrado em Administras:ao e do mestrado Profissionalizante em Ges- tao de Politieas Publicas da Universidade do Vale do Itajai (Univali-SC). Doutor em Ciencias Humanas (UFSC). Autor do livro Atrds da cortina d~ Jumafa (2002); co~autor de Estudos interdisciplinares em Ciencias Humanas (2003); e co-autor e organizador de Democracia & Politicas publicas (2005). Interesse de pesquisas nas areas de Ecologia Poli- tica; Sociologia Ambiental; Desenvolvimento Sustentavel; Erica; Educas:ao Ambiental; Cultura Organizacional. I Contato com os autores: pesquisaqualitativa@editorasaraiva.com.br Biblioteca Central Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais Ac. 220848 - R. 677027 Ex. 5 Compra .: Curitiba Nf.: 8922 R$ 59,33- 19/06/2007 Administra~ao dos Cilrsos de Mestrado - CCSA · / , "" Apresenta~ao A obra Pesquisa Qualitativa em Estudos Organizacionais: paradigmas, estrattgias e mitodoste(me ·quinze trabalhos de pesquisadores dedicados are- flexao e a sistematiza~ao da pritica cientifica no campo dos estudos organi- zacionais. Distantes da pretensao de domina~ao e manipula~ao dos objetos, os trabalhos admitem o conhecimento cientifico como auto-conhecimento, como processo de reformula~ao de cren~as, e identificam-se com o fato de que a abertura a experienciallo saber modifica e constr6i o proprio pesquisador. Resultado de cinco anos de planejamento, organiza~ao, auto-reflexaoe intera~ao com os auto res, esta publica~ao nasceu do interesse no debate episte- mol6gico e metodol6gico no campo organizacional. Situado entre a retomada de textos publicados e a necessidade de prosseguir com textos ineditos, a cons- tru~ao do livro foi acompanhada pela cria~ao lenta e ta.cita de uma visao qualita- tiva integrada. Os debates nas sessoes de pesquisa dos encontros cientificos, nos Ultimos anos, permitiram, por meio da discussao e da aproxima~ao entre as pessoas, o surgimento da identifica~ao e do entendimento comum entre os au- tares acerca do objeto do livro: a visao qualitativa nos estudos organizacionais. A concep~ao das estrategias e metod~s de pesquisa propostos na obra in- dica que compreender fenomenos organizacionais exige praticas que conduzam a constru~ao de urn conhecimento int<?rsubjetivo e compreensivo. Portanto, os capftulos tendem a indicar caminhos para examinar as produ~oes significativas Pesquisa qualitati'(a em estudos or.ganizac:lonais: paradigmas, estrateglas· ~. metodos dos pr6prios sujeitos - discursos, relatos, imagens, representas:oes. geradas e construidas por atores, de forma dia16gisa, revelando experh~ndas vivenciadas · em seus propiios contextos sodais e llist6ricos. · Destinada a pesquisadores e estudantes que comes:am a perceber modifica-. s:oes em seus pressupostos durante a realizas:ao de pesquisa, questionando suas certezas previas e produzindo novas conceps:oes, a obra Pesquisa Qualitativa em Estudos Organizacionais introduz a incerteza da compreensao e da interpretas:ao no interior das estrategias e metodos de pesquisa analisados. A intens:ao dos autores e compartilhar experiencias metodologicas de forma sistematizada, mas scm a ilusao de prescrever, uma vez que a cria<;:ao de pniticas de pesquisa e protagonizada pela propria comunidade cientffica, constituindo a pluralidade metodologica e incentivando o debate epistemologico. Organizadores Sumario lntrodu~ao Pesquisa qualitativa e o. debate sobre a propriedade de pesquisar Christiane Kleinubirii/ Godoi, Rodrigo Bandeira-de-Mello e Anielson Barbosa da Silva PARTE I ESTUDOS ORGANIZACIONAJS E OJLEMAS PARAOJGMA.TJCOS Capitulo 1 Estudos organizacionris: dilemas paradigmaticos e abertura interdisciplinar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Sergio Lu[s Boeira e Paulo Freire Vieira lntrodu\=ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 1.1 Revolu~ao cientffica e seus reflexos nas teorias das organizat;oes 19 1.1.1 Aspectos da escola classica da administra\=ao 24 1.1.2 Aspectos da escola das rela\=oes humanas 26 1.1.3 0 Grande Paradigma do Ocidente (GPO) . . . 27 1.2 Paradigma: da ciencia normal a matriz disciplinar. . . 30 1.3 Fenomenologia, paradigma disjuntor-redutor e complexidade. 34 1.3.1 Fenomenologia e ambivalencia . 34 1.3.2 Paradigma disjuntor-redutor. . . . . . . . . . . . . . . 36 1.3.3 Paradigma da complexidade . . . . . . . . . . . . . . 40 1.4 Teorias organizacionais e complexidade: abertura interdisciplinar 42 1.5 Considerac;oes flnais e hip6teses para debate.. . . . . . . . . . . 47 em estudos organizacionais: paradigmas, estl·ate•;ias e metodos Capitulo 2 Perspectiva multiparadigmatica nos estudos organizacionais . Anielson Barbosa da Sifva e Joao Roman Neto lntroduc;;a·o .......................... . 2.1 Perspectiva paradlgmatica nos estudos organizacionais 2.2 A difusao de uma perspectiva multiparadigmatica nos estudos organizacionais . . . . . . . . . . . 2.2.1 Posic;;oes multiparadigmaticas . . . . . . 2.3 lmplicac;;oes da perspectiva multiparadigmatica 53 53 55 66 68 na pesquisa qualitativa. . . . . . . . . . . . . . Reflexoes finais sobre a utilizac;;ao de paradigmas .......... 77 2.4 nos estudos organizacionais . .......... 80 Capitulo 3 A pesquisa qualitativa nos estudos organizacionais brasileiros: uma analise bibliometrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 Christiane Kleinubing Godoi e Cristina Pereira Vecchio Balsini lnt~oduc;;ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 3.1 A visao qualitativa nos estudos organizacionais: elementos metodol6gico-epistemol6gicos . . . . . . . . . . . . . . 91 3.2 A visao qualitativa nos estudos organizacionais: elementos metodol6gico-tecnicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 3.3 Pesquisa qualitativa e os estudos organizacionais brasileiros . 99 3.4 Considerac;;oes finais . . . . . . . 107 PARTE II ESTRATEGIAS DE PESQUISA EM ORGANIZA<;OES Capitulo 4 Estudo de Caso qualitativo Arilda Schmidt Godoy lntroduc;;ao . . . . . . . . . . . . 4.1 Breve hist6rico . . . . . . . 4.2 Definic;;ao e caracterfsticas . 4.3 Tipos de estudo de caso. . 4.4 Ouando usar o estudo de caso 4.5 A realiza~,;ao.de um estudo de caso 115 115 117 118 123 127 128 Sumario 4.5.1. Escolhendo uma unidade de analise 4.5.2 Definindo o papel da teoria . . 4.5.3. Revendo a lit~ratura . . .. 4.5.4 Conduzindo a coleta de dados 4.5.5 Analisando'os dados. 4.6 A questao do rigor no estudo de caso qualitative. 4.7 Caracteristicas de habilidade do pesquisador. 4.8 Considerac;;oes finals . .... . ..... Capitulo 5 A Etnografia e os estudos organizacionais Carolina Andion e Mauricio Serva lntrodw;ao ............................... . 5.1 A etnografia e a necessidade de novos lug ares epistemol6gicos. 5.2 Particularidades da postura etnografica . . . . . . . . . . . ~.2.1 Dialetica sujeito/objeto . . . . . . . . . . . . . . 5.2.2 Dialetica individuo/sociedade ou particular/geral. 5.2.3 Dialeti~ subjetividade/objetividade . . . . . . . 5.3 Momentos da pesquisa etnografica e sua aplicac;;ao nos estudos organizacionais 5.3.1 Concepc;;ao do campo tematico de estudo . 5.3.2 Realizac;;ao do trabalho de campo. . . . . . 5.3.3 Elaborac;;ao ¢o texto . . . . . . . . . . . . . 5.4 Etnografia e estudos organizacionais: sugestoes de temas de pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.4.1 Redes organizacionais . . . . . . . . . . . . 5.4.2 lnscric;;ao social do mercado e das empresas 5.4.3 Trajet6ria dos grupos empresariais . . . . 5.4.4 Racionalidade nas organizac;;oes. . . . . . 5.4.5 Processos de desenvolvimento territorial . 5.5 Considera.;oes finals . Capitulo 6 Contribuic;;oes da hist6ria oral a pesquisa organizacional Elisa Yoshie Ichikawa e Lucy Woel/ner dos Santos lntroduc;;iio ......... . 6.1 0 que e a hist6ria oral . 128 129 131 133 137 138 141 143 147 147 148 153 154 154 155 156 156 159 163 166 166 169 171 172 174 176 181 181 182 'I Pesquisa qualltatlva em estudos organizacionais: paradigmas, estrategias e metodos 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.1.1 Como tudo comec;;ou . . . . . . . . . . . . . . . . . . A hist6ria oral no Brasil. . . . . . . . . : . . .. . . . . . . . . . Sabre o status da hist6ria oral: disciplina, metoda ou tecnica? . A entrevista de hist6ria oral . . . . . . . . . . . . 6.4.1 0 que e a entrevista de hist6ria oral . . . . . . . . 6.4.2 A transcric;;ao da entrevista e suas formas . . . . . . Possibilidades da hist6ria oral nos estudos organizacionais. Considerac;;6es finais . Capitulo7 A pesquisa-ac;;ao como estrategia de pesquisa participativa Janaina Macke lntrodw:;:ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7.1 A pesquisa-ac;;ao como estrategia de pesquisa organizacional 7 .1.1 Caracterfsticas da pesquisa-ac;;ao . . . . . . . . . . . 7 .1.2 0 processo de intervenc;;ao . . . . . . . . . . . . . . 7.2 Explorando as fronteiras da pesquisa-ac;;ao com estudo de caso 7.3 7.4 7.5 e com atividades de intervenc;;ao profissional . . . A construc;;ao de conhecimento na pesquisa-ac;;ao. Analise de uma pesquisa realizada a partir da estrategia de pesquisa-ac;;ao ......... . 7.4.1 Primeira fase da intervenc;;ao: a compreensao do referendal conceitual. . . . . . . . .. . . . . . . . . . 7.4.2 Segunda fase da intervenc;;ao: A identificac;;ao de alternativas de mudanc;;a . . . . . . . . . . . . . . . 7 .4.3 Terceira fase da intervenc;;ao: A execw;ao da mudanc;;a estrutural planejada . . . . . . . . . . . . . . . . . 7.4.4 Quarta fase da intervenc;;ao: Avaliac;;ao do processo de intervenc;;ao . . . . . . . . . . . 7.4.5 Modelo de intervenc;;ao construfdo Considerac;;oes finais . Capitulo 8 Grounded theory . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Rodrigo Bandeira-de-Mello e Cristiano Jose Castro de Almeida Cunha lntroduc;;ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8.1 Barney Glaser e Anselm Straus: as origens da grounded theory 183 185' 188 193 194 198 200 202 207 . 207 208 215 220 22:..! 227 228 230 231 232 232 233 236 241 241 242 Sumario 8.2 A influencia do interacionismo simb61ico 8.3 A teoria que emerge dos dados. . . . · . a:3.1 Criatividade e objetividade . . . 8.3.2 Circularidade entre as fases de coleta e de analise . 8.3.3 lntera~ao entre o pesquisador e a realidade dos sujeitos 8.4. Avaliac;;ao da qualidade da teoria substantiva . . . . . . . . . . 8.5. Aplicac;;oes nos estudos organizadonais: finalidades e riscos . . . . . . . . . . . . Capitulo 9 A fenomenologia como metoda de pesquisa em estudos organizadonais . . . . . . . . . . Anielson Barbosa da Silva • 9 • • ~ • • • • • '. • • • lntrodw;ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9.1 A experiencia vivid a como ponto de paftida e de chegada na trajet6ria da pesquisa fenomenol6gica. . . . . . . . . . 9.2 A fenomenologia e a hermeneutica delimitando a trajet6ria.da pesquisa ............ ·. 9.3 lnvestigando a experiencia vivida . . . . . . . . 9.4 Analise fenomenol6gica: uma atividade hermeneutica . 9.5 A escrita fenomenol6gica- revelando o fenomeno de forma compreensiva interpretativa . . . . . . . . . . . 9.6 Mantendo uma/relac;;ao forte e orientada . . . . 9.7 A rela<;ao entre as partes eo todo no contexte da pesquisa fenomenol6gica 9.8 Considera<;6es finais .............. . PARTE Ill METODOS DE COLETA E ANAUSE DE MATERIAL EMPfRICO Capitulo 10 Entrevista qualitativa: instrumento de pesquisa e evento dial6gico . Christiane Kleiniibing Godoi e Pedro Lincoln C. L de Mattos lntrodw;ao . . . . . . · . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10.1 Entrevista qualitativa: tentativas (e riscos) de definic;;ao formal 10.2 Revendo alguns procedimentos metodol6gicos de praxe na entrevista qualitativa . . . . . . . . . . . . 10.2.1 Quantas e quais pessoas entrevistar? ...... . 244 247 249 250 254 255 258 267 267 269 273 279 281 288 291 292 293 301 301 303 307 308 Pesqulsa qualitativa em estut;los org,anizacionais: paradig,mu, estrategia5 e metodos 1 0.2.2 0 relacionamento entrevistador-entrevistado: facilita~ao ou inibi~ao .. . . . : . . . . : . . .. · 1 0.2.3 Acordo inlciai, roteiro e outros aspectos procedimentals 10,3 Superando 0 formalismq: a Emtrevista como evento dialogico 10.4 Considera~oes finais ..................... . Capitulo 11 Focus group: intrumentalizando o seu planejamento Mfrian Oliveira e Henrique Freitas lntrodu~ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11.1 Focus group: vantagens e desvantagens . . . 11.2 Usos do focus group no desenho da pesquisa 11.3 Etapas para a realiza~ao do focus group . . . 11.3.1 Planejamento para a realiza'¥ao do focus group 11.3.2 Condw;ao das sessoes do focus group . . . . . 11 .3.3 Analise dos dados obtidos com o focus group . 11.4 Considera~oes finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Capitulo 12 Analise de entrevistas nao estruturadas: da formaliza~ao a pragmatica da linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . Pedro Lincoln C. L. de Mattos lntrodu~ao ....................... . 12.1 Qual o exato escopo deste ensaio metodol6gico? 12.2 0 que tem acontecido a analise de conteudo? Um "dialogo" com L. Bardin ......... . 12.4 12.3 "Um divisor de aguas" ao analisar entrevistas. 12.3.1 A pratica da objetividade . . . . . . . 12.3.2 Onde procurar o significado? .... A entrevista como conversa~ao e sua analise . 12.4.1 Uma inter-ac;ao lingUfstica . . . . . . . 12.4.2 Elementos de analise da conversac;ao. 12.4.3 0 momento decisive da interpretac;ao 12.5 Sugestoes para a analise de entrevistas . . . . 12.5.1 Advertencia para um risco. . . . . . . 12.5.2 0 nivel de analise que interessa aqui . 12.5.3 Um tnodelo de apoio em cinco fases . 311 312 314 320 325 325 327 328 331 332 340 342 343 347 . 347 . 350 351 354 355 356 359 359 360 363 364 364 365 366 ~ Sumario 12.5.4 0 julgamento de pares sobre consistencia da analise 370 12.6 Considera~6es finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 370 Capitulo 13 Perspectivas de analise do discurso nos estudos organiz~cionais . . . . . . 375 Christiane Kleiniibing Godoi lntrodU<;;ao ....................... , 13.1 As primeiras perspectivas da analise do discurso: analise do conteudo e analise semi6tica. . . . 13.2 A terceira perspectiva da analise do discurso: 13.3 13.4 a interpreta~ao social dos discursos . . . . . . . . . . . . Analise do discurso e teoria psicanalftica. Sobre a interpreta~ao do discurso na investiga~ao social . Considera~6es finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Capitulo 14 Analise da narrativa Mario Aquino Alves e lziaoro Blikstein 375 .. 379 382 389 397 403 lntroduc;:ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 403 14. 1 0 conceito de narrativa em uma abordagem · semi6tica-lingUistica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14.1.1 A narrativa e suas func;:6es ............ . 14.1.2 Os tipos de,''narrativas e sua condi~ao ideol6gica. 14.1.3 Dialogismo, polifonia, silencio e intertextualidade na narrativa . . . . . . . . . . . . . . . . . 14.2 Narratologia: a analise narrativa propriamente dita . 14.2.1 Exemplo de narratologia ........ . 14.2.2 A narrativa no contexto das organizac;:6es 14.3 Considera~6es finais . . . . . . . . . . . . . . . . Capitulo 15 405 407 410 413 417 418 421 426 Softwares em pesquisa qualitativa . Rodrigo Bandeira-de-Mello .................... 429 lntrodu~ao ............ . 15.1 Urn pouco de hist6ria . . . . 15.2 Uma proposta de classifica-;ao dos softwares . 15.3 CAODAS: possibilidades e limita-;oes ..... 429 430 •431 433 ::\~~:~~, Pesquisa qualltatiya em estudos organizacion~is: paradigr;,as, estrateglas e metodos 15.4 Uma aplicac;ao do Atlas/ti como apoio a grounded theory . . . . . . . : . . . . . . . . < • • • • •.• 15.4.1 0 software Atlas/ti; . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15.4.2 Utilizando o Atlas/ti na gerac;;ao de teoria substantiva 15.5 Considerac;6es flnais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 438 439 443 457 lntrodut;ao Pesquisa qualitativa e o debate sobre a propriedade de pesquisar Ate a decada de 1990, o debate epistemol6gico pertencia aos dominios da filosofia das ciencias e da historia das ciencias, ao saber especialY£ado de filosofos e sociologos. Gradativamente, os cientistas passaram a adquirir inte- resse filos6fico, a problematizar sua pnitica, a preocupar-se com as condi<;oes scciais e os contextos culturais dos modelos de investigas:ao cientifica. Com o privilegi9 da reflexao epistemol6gica, foi possivel identificar, na modernidade, aquila 4ue Santos (2004) chamou de uma ciencia feita no mun- do, mas nao feita de mundo, uma ciencia que, para intervir eficazmente no mundo, precisava distanciar-se dele. 0 amadurecimento hist6rico perrnitiu a ultrapassagem, tanto do pensamento magico que imaginava que 0 que dize- mos sobre as coisas coincide com as pr6prias coisas -, quanta do pensamento moderno- cn!dulo de que aquila que dizemos e uma representas:ao das coisas. Com base nessa dupla supera<;ao, a nos:aode que os enunciados, mais do que produzir apenas uma representas:ao do mundo, criam o mundo, e que o ponto de vista constr6i o objeto, como ja insistiam Saussere, Bachelard e tantos ou- tros, tomou-se hoje urn trufsmo. Ainda assirn, freqiientemente nos deparamos - e hesitamos - com as classicas, insoluveis e recursivas quest6es como: existe uma realidade exterior a n6s? 0 mundo s6 se constitui quando eu falo dele ou penso sobre ele? Mais do que saber se existe ou nao uma realidade real, o que se tornou irnportante e Pesquisa qualitativa· em esfudos organizacionais: paradigmas, estrategias e metodos saber como se pensa esia realidade. 0 pensamento e o discurso nao sao capazes de revelar uma verdade sobre a realidade ou de compreender essa realidade em toda a sua espessura, torn an do mal formuladas e prescindiveis ·as interrogas;oes sobre o estatuto ontologico da realidade. Ao nos afastarmos do essencialismo - o pensamento que acreditava que a realidade tinha uma essencia propria -, pas- samos, como sujeitos hist6ricos, a enxergar o mundo como urn jogo de relas;oes entre as coisas e as categorias construfdas. 0 conhecimento dentifico da modernidade foi urn conhecimento de- sencantado e triste, narra Santos (2003), que transformava a natureza num automato ou num interlocutor esrupido. 0 aviltamento da natureza acabava por reduzir o proprio pesquisador, na medida que excluia o dialogo e propu- nha urn exercicio de prepotencia sobre a natureza. A fim de trilhar o percurso da passagem da epistemologia da ciencia mo- derna a p6s-moderna- expressao tiio inadequada quanto autentica -, passare- mos a considerar dois momentos: o periodo de domina;ao do objeto, que inclui tan- to a conceps;ao de exterioridade racionalista do objeto quanto a metqfisica do sujeito, tam bern conhecida como filosofia da consciencia, ambos envolvidos com a l6gica da domina;iio; e, posteriormente, o periodo de relativismo, que inclui o relativis- mo epistemol6gico e a epistemologia social, ambos envolvidos com a l6gica da emancipa;iio. Rorty (1997), Heiddeger (2004), Gadamer (2003), Palmer (1988), Santos (2001; 2003; 2004), Griin e Costa (2002) e, principalmente, Veiga-Neto (2002) infiuenciaram a formas;ao da visao historico-epistemologica apresentada a seguir, para ilustrar o momento epistemologico atual de rompimento da dico- tomomia domina;ao-emancipa;ao. No primeiro periodo- o de domina;iio do objeto -, os atos de conhecer e dominar os objetos de conhecimento eram inseparaveis, o que atribuia ao pen- samento cientifico, urn poder de manipulas;iio sem limites. A dominas;iio dos objetos conhecidos era a condis;iio necessaria da objetividade cientifica. A esse movimento denominamos conceps;iio da exterioridade racionalista do objeto. Aparentemente oposta ao objetivismo, a metaffsica do sujeito, ou a filoso- fia centrada na consciencia, acreditava que o estatuto do mundo se fundamen- tava na subjetividade humana. A metafisica ocidental, inaugurada por Descar- tes, foi construfda, portanto, com base em uma nos;ao de que a verdade residia na equivalencia ehtre a consciencia humana e os objetos. Entre a abordagem Pesquisa qualitativa eo debate sobre a propriedade de pesquisar objetivadora das c~encias mod~rnas e 0. movimento _metafisico, posteriormente · cham ado por ~eidegger de stndrome do subjetismo modern.o (que € diferente de subjetivismo ), encontramos poucas distins:oes no que se refere ao envolvimento com a domiiza;iio. Isso porque, a partir de Gadamer, as experiencias de verda- de deixam de ser consideradas fatos ou experiencias conceituais, e acontecem como momento estetico ou como evento lingiiistico. A metodologia objetificadora das ciencias socials e a abordagem da conscienda humaria como fundamento Ultimo da certeza estavam, portanto, indissociavelmente ligadas como faces do mesmo periodo epistemologico: o chamado fondacionalismo moderno ou tradirao fondacional da jilosqfia ocidental, colocado em cheque somente com Nietzsche no infcio do seculo XX. Para essa conceps:iio, urn conhecimento so podia ser considerado verdadeiro se tivesse urn fondamento absoluto. 0 segundo periodo, aqui denominado periodo de relativismo, inicia com o movimento antifimdacional, que inclui Gadamer, Foucault, Derrida, Rorty, dentre outros. Logicamente, esse movimento nao buscava a verdade; niio es- tava preocupado em dominar e manipular objetos nem em obter ou adquirir conhecimento de maneira instrumental. Nao se constituiu exatamente como urn movimento coeso, mas foi capaz de aglutinar em torno da posic;ao antifun- dacional muitos pensadores contemporaneos pos-modernistas, assinalando o I segundo periodo epistem'ol6gico aqui considerado, o perfodo do relativismo, transpassado pela logica da emancipa;iio. Heidegger estabeleceu uma critica intensa a metafisica,pelo fato de ela conceber o estatuto do mundo exclusivamente na subjetividade humana. Para ele, o processo de compreender nao era urn processo mental de dominas:ao de objetos, mas urn processo temporal, intentional e historico. Objetivar passou a ser, entiio, urn ato de poder excessive, e as pretensoes de objetividade das ciencias modernas sofreram seus primeiros ataques. A hermeneutica filosofica de Heidegger e Gadamer pretendia recuperar o carater dinamico da compreensiio e operou uma guinada radical, que foi da au- toconsciencia a linguisticidade, ja livre da obsessiio por urn fundamento solido. A compreensiio comes;ou a ser vista como urn empreendimento no qual nos lans;amos desprovidos da possibilidade de saber, a priori, as conseqiiendas desse ato. Essa inseguranra epistemol6gica - it1erente ao que Gadamer denomina de Pesqulsa qualltativa em estudos organizaclonais: abertura a experiencia restaura no campo cientifico a dijicu/dade da vida e tor-: na-se a antitese da conceps;ao cientifica do rpetodo como corretor, ou remedio, para as dificuldades. A vida humana e concebida como urn horizonte de possi- bilidades nao deddidas. . · · · A abertura a experiencia modifica o proprio pesquisador em favor do dis- curso ou da situac;ao, ou seja, o pesquisador e invadido e construido pela expe- riencia. A epistemologia social, expressao proposta por Popkewitz ( 1994) na qual pesquisador e objeto sao construidos na experiencia, tenta dar conta desse jogo entre o pesquisador e a sua pesquisa. A hermeneutica visa, portanto, situar o locus do significado na linguagem e no texto e nao mais no sujeito. A atenc;ao reside na capacidade do sujeito de se entregar aos objetos e deixar que estes, de forma recursiva, o redefinam. Os pesquisadores comec;am a observar que vao se modificando durante a sua pesquisa, redefinindo seus horizontes de sentido, questionando suas certezas previas e produzindo novas concepc;6es. A tarefa de compreensao e interpretac;ao dos sentidos impregnados nas pniticas e vista como infinita. A postura hermeneutica implica estarmos nao apenas abertos, mas expostos as novas possibilidades presentes nos objetos. Nao ha mais o risco de urn eu autotranscendente pois, no encontro com o outro e com a linguagem, ha sempre a perda do eu. E essa perda e transfor- mac;ao do eu, na relac;ao com o outro, que impede a objetificac;ao e a dominac;ao dos objetos pelo sujeito. Se no fundacionalismo cartesiano o mundo era con- cebido a partir do sujeito, na hermeneutica o sujeito e constituido a partir do mundo, mais precisamente a partir da tradifiio de sentido onde ele esta situado. 0 eu e entendido em termos de sujeito nao centrado e. 0 outm e a propria tra- diriio epistemoldgica, na qual o sujeito esta inserido e tem de dialogar. A tarefa da hermeneutica consiste em extrair a compreensiio das proposic;6es nas quais ja estamos vivendo. Por meio da concepc;ao hermeneutica podemos dizer que a tarefa da pesquisa niio e descobrir objetos absolutos, mas prosseguir a cons- truc;ao dos sentidos da conversac;ao. Assim, o movimento antifundacionaleo lugar on de o conceito de inter- pretac;iio foi redefinido. Abandonou-se definitivamente a esperans:a de haver um lugar privilegiado a partir do qual se possa olhar e compreenderobjetiva- mente as relac;6es do mundo. Nao se trata exatamente de um relativismo epis- temol6gico, no sentido de Rorty, mas de uma epistemologia regional e fundada Pesqulsa cp~lltativa e o debate sobre a PfOI)rie<lade de pesquisar. na contingencia. A._ expressao epistemologia social, trouxe para o conceito ele- mentos que ate e~tao lhe eram estranhos, tais como o poder ~ o interesse. Na noc;ao de epistemologia social, ha dois aspeCtos complementares importantes: a questiio da impossibilidade do distanciamento e da assepsia metodologica ao lans:armos olhares sobre omundo; eo fato de que somos necessariamente parte daquilo que analisamos e, muitas vezes, tentamos modificar .. Essa tensiio dinimica entre regulafli.O e emancipafli.O social, no entanto, passou porum processo hist6rico de degradac;ao caracterizado justamente pela transformac;ao das energias erilancipatorias em energias regulat6rias, ou seja, a concep~iio da emancipac;ao foi absorvida pela da regula~ao. Com a diluic;ao da emandpac;ao na regulac;ao, o paradigma da modernidade deixou de poder renovar-se, entrou em colapso e em crise final. 0 fato de ainda permanecer como paradigma dominante e atribuido a natural inercia hist6rica, como jus- tifica Santos (2003), que faz com que o pensamento epistemol6gico caminhe sempre a frente das praticas de pesquisa. Sobrevivemos a urn estilhac;amento paradigmatico profundo e, possivel- mente, irreversivel, resultante de uma multiplicidade da interac;ao de condi- c;oes sociais e te6ricas. Assistimos a uma crise, iniciada em meados do seculo XIX e atravessou todo o seculo XX, que desestruturou as noc;oes classicas de verdade, raziio, identidade e objetividade, bern como desinstituiu as grandes narrativas fundadoras(~om seus sistemas totalizantes e explicac;oes generaliza- veis e definitivas. Chegamos ao fim de urn cido do pensamento cientifico. No lugar em que hoje nos situamos, sabemos que os objetos tern fron- teiras pouco definidas e que a experiencia rigorosa tornou-se irrealizavel dian- te da complexidade, pois exigiria urn dispendio infinito de atividades huma- nas. 0 rigor cientifico objetualizou, desqualificou, degradou e caricaturizou os fenomenos: para afirmar a personalidade do cientista destruiu a personalidade da natureza. 0 conhecimento ganhava em rigor o que perdia em riqueza. 0 que esperamos hoje e menos convers~ sobre rigor e mais sobre originalidade, para que o conhecimento recupere o seu encantamento. Santos (2003) indica que todo conhecimento cientifico e autoconheci- mento, pois o objeto e uma forma de prolongamento do sujeito. Ao admitir- mos que a ciencia nao descobre, cria, e que o ato criativo e protagonizado por cada cientista e pela comunidade cientifica, torna-se cada vez mais necess:irio . Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais: paradigmas, estrategias e metodos conhecer-se interiormente antes de pretender conhecer aquila que se pode coqhecer do real. Trata-:-se de um conhecimento compreensivo e fntimo que nao nos separa, mas nos une pessoalmente ao que estudamos. Ressubjetivado, · o conhecimento cientf:fico ensina a viver e se traduz em um saber pr:itico. A ciencia moderna nos ensinou pouco sobre a maneira de estar no mundo; fez do cientista um ignorante especializado e do cidadao comum um ignorante generalizado; constituiu-se contra o sensa co mum- considerado superficial, ilu- s6rio e falso. A ciencia p6s-moderna procura destituir a distinc;ao hienirquica entre conhecimento cienti:ficq. e sensa comum, e reabilitar o senso comum por reconhecer, nessa forma de conhecimento, amplas possibilidades de en- riquecer a nossa relac;ao com o mundo. 0 fato de o conhecimento traduzir- se em autoconhecimento evidencia a prudencia na nossa aventura cientifica, prudencia originada no reconhecimento da inseguranc;a, que resulta do fato de a nossa reflexao epistemol6gica ser multo mais avam;ada e sofisticada que a nossa pn.itica cienti:fica. Em rela<;iio ao que tinhamos na modernidade, nao adquirimos apenas uma melhor observac;ao dos fatos mas, sobretudo, uma nova visao do mundo e da vida. Reconhecemos a ac;ao humana como subjetiva e a ciencia social como uma ciencia subjetiva. Jogo, palco, texto ou biogra:fia - o mundo e comuni- cac;ao e, por isso, a l6gica existencial da ciencia p6s-moderna e promover a situac;iio comunicativa, como idealizava Habermas. Sendo total, o conhecimento e tambem local; constitui-se ao redor de temas que, em determinado momento, sao adotados por grupos sociais con- cretos como projetos de vida locais. A fragmentac;ao p6s-moderna, portanto, nao e disciplinar mas tematica, como lembra Santos (2003). 0 conhecimento avanp a medida que o seu objeto transdisciplinar se amplia. Trata-se de um conhecimento sabre as condi<;6es de possibilidade da ac;ao humana projetadas no mundo a partir de um espa<;o-tempo local; de um conhecimento relativa- mente imetodico, constituido a partir de uma pluralidade metodologica. Nao M mais espac;o para a noc;ao de pensamento e linguagem como des- conectados do meio ambiente. Ao reinterpretarmos objetividade como intersub- jetividade ou como solidariedade, na proposic;:ao de Rorty (1997), abdicamos de:fi- nitivamente de nos colocarmos em contato com a realidade, independentemente da mente e da linguagem. Qgando buscavamos objetividade, nos distanciavamos das pessoas ao redor, atraves da nossa vinculac;ao solitaria a algo que podia ser descrito sein referenda a nenhtim ser humano esped:fico. Substituimos a auto- imagem formada e guiada pela razao, pela imagein de um cientista que conta com urn sentido de solidadariedade COni 0 resto de SUa pro:fissiio. . . Nao temos mais a possibilidade de nos lan):armos para alem das comu- nidades humanas. Substituir o desejo de objetividade pelo desejo de solidariedade com a comunidade signi:fica desenvolver habitos de confians:a, de respeito pela opiniiio dos colegas, de curiosidade e zelo pelos novos dados e ideias - unicas virtudes que os cientistas tern. A ciencia engendra em si um modelo de solida- riedade humana, mas a investigas:ao no interior das sociedades t diferente da investigas:ao sobre as coisas. Podemos ser melhores do que somos, no sentido de sermos melhores te6ricos, cientistas, cidadaos ou arnigos. Acreditamos que toda e qualquer visao coerente e tao boa quanta qualquer outra. Escapamos da forquilha de Hume ao nos lembrarmos constantemente que somos responsa- veis pelo que esta fora de nos. Na pratica da.pesquisa, trabalhamos somente com as mais tenues e su- per:ficiais formula):6es de criterios, apenas com padr6es mais soltos e flexiveis possiveis, a medida que vemos a investigas:ao como reformulac;ao de cren- c;as em vez de descobrimento da natureza dos objetos. Assumimos a pesquisa como processo de mudanc;a das nossas crenc;as. Aprendemos que o melhor caminho para encontrar 1lllgo em que acreditar e escutar tantas sugest6es e argumentos quantos forem possiveis. Nao louvamos os cientistas por serem mais objetivos,l6gicos, met6dicos ou devotos a verdade do que outras pessoas. 0 poder sobre os objetos deixou de ser a mais elogiavel caracteristica de um pesquisador, e nao nos sentimos mais envaidecidos em receber um elogio como "voce domina o seu objeto de pesquisa". A imagem que temos de um grande cientista nao e a de alguem que aprendeu algo corretamente, mas a de alguem que fez algo novo. Compreender grande parte dos fenomenos organizacionais exige, em vez de urn conhecimento objetivo e explicativo, metodos que visam a obtens:ao de um conhecimento intersubjetivo e compreensivo. Nossa visao tende, assim, primeiro a dar conta do horizonte das formas simb6licas nas quais se desenvolvem as a~6es sociais, formas essas que assumem uma aparenciacodificada -linguagens -, mas cujo estudo nos interessa nao por sua gramatica ou estrutura interna, mas por Pesquisa qualitativa em estudos cirganizacionais: paradigmas, estrategias e metodos seu cariter comunicativo_de mediador e formador das experiendas e das neces- sidades soci!1is. E, segu~do, a exaininar as prod~c,:6es significativas dos proprios sujeitos discursos, relatos, imagens, representac,:6es etc. - geradas e construidas por atores, no diilogo direto com eles, ·em seus pr6prios contextos situacionais, sociais e hist6ricos. A epistemologia nos estudos organizacionais prosperou em periodo de crise, como previu Piaget (1980), eo campo da pesquisa qualitativa esti, hoje, repleto de entusiasmo, criatividade, agitac,:ao intelectual e ac;ao, como concor:.. dam Gergen e Gergen (2000). Os cientistas dedicam.:.se a epistemologia dos metodos, as relac,:oes com participantes e a criac;ao de novas modos de Cresci- mento dos metodos qualitativos em importantes campos substantivos. Nesta proposta de reconhecimento e superac;ao do formalismo na pesquisa, a ques- tao residual, e mais importante, versa agora sobre que tipo de seres humanos desejamos nos tornar. Este livro esti estruturado em tres partes. Na parte inicial, Estudos orga- nizadonais e dilemas paradigmiticos, os leitores encontrarao reflex6es epis- temol6gicas, urn "pano de fundo" dos demais capftulos. Pretendemos levar os leitores a refletir acerca dos fundamentos filos6ficos da pesquisa qualitativa, a medida que expandem seu escopo de analise no sentido de uma integrac;ao pa- radigmatica. Esperamos que essa reflexao revele oportunidades para pesquisas qualitativas serias e de qualidade no ambito dos estudos organizacionais. Urn capitulo provocativo, de Sergio Luis Boeira e Paulo Freire Vieira, inicia a reflexao sabre as aberturas paradigmiticas possiveis para a construc;ao do conhecimento em dencias sociais. Uma oportunidade para a coexistencia de metodos com distintas finalidades e bases filos6ficas. Ao sintetizarem a evo- luc,:ao do pensamento cientffico, os auto res questionam a utilizac;ao dominante do paradigma disjuntor-redutor na teoria das organizac;6es. Eles sugerem uma abordagem da.complexidade capaz de atenuar a trajetoria de disputas te6ricas e metodol6gicas encontradas no campo dos estudos organizacionais, ao mes- mo tempo em que favorece a integras:ao paradigmatica. A exemplo do Capitulo 1, Anielson Barbosa da Silva e Joao Roman Neto aprofundam a discussao sabre os paradigmas por urn caminho dife- rente de Boeira e Vieira, partindo da perspectiva desenvolvida por Burrell e Morgan, e abordam a difusao de uma pesquisa multiparadigmatica nos es- Pesquisa qualitativa eo debate sobre a proprjedade de pesqulsar tudos organizacionais. Nesse segundo capitulo, os autores apresentam virias posit;5es metateoricas relacionadas a mUltiplos paradigmas _:_ incomensurabi- · lidade, integras:ao e cruzamento, e o paradigma do cruzamento indlca quatro estrategias: sequencial, paralela, de ligac,:ao e de interac;ao. Tambem. discutem · as implicas:oes da perspectiva multiparadigmatica na pesquisa quilitativa e destacam algumas reflexoes finais em totno. da utilizac;ao dos paradigmas nos estudos organizacionais. Christiane Kleinubing Godoi e Cristina Pereira Vecchio Balsini, no Capi- tulo 3, inidam sua investigac,:ao empirica partindo do argumento que e central e comum aos capitulos desta parte: a visao dicotomica e reducionista entre o qualitativo e o quantitativa nao contribui para o avanc;o do entendimento dos complexos fenomenos organizadonais. A analise documental da produc;ao cientifica brasileira em estudos organizacionais revelou a deficiencia dos au- tares em declarar suas escolhas metodologicas. Nao obstante, estudos de caso e:xplorat6rios que utilizaram tecnicas de coleta por meio de entrevistas parecem ser o delineamento mais tipico. A designat;ao estratigias de pesquisa foi preferida a clissica denomina- s:ao metodos de pesquisa, termo este indissoc~avel do campo metodol6gico moderno. 0 p6s-modernismo, explica Rosenau (1992), substituiu metodo por estratigias, no sentido de aproxima<;iio do objeto de pesquisa. Nao se trata mais, portanto, de uma simples opt;ao semantica, mas de uma postura critica com relac;ao a ausencia de aproximas;ao entre sujeito e objeto. 0 termo estratigia de pesquisa compreende aqui urn pacote de conceps;oes, pniticas e habilidades que o pesquisador emprega para mover-se do paradigma ao ~undo empirico, de- finem Denzin e Lincoln (2000). Ao colocarem os paradigmas em movimento, as estrategias situam os paradigmas no espas:o empirico local. A Parte II, Estra- tegias de pesquisa em organizac;oes, marca a intermediat;ao entre a discussao paradigmitica tecida na Parte I e as pniticas de coleta e analise do material empfrico que compoem a Parte III. Dentre as estrategias abordadas, a primeira e a do estudo de caso, segui- da da etnografia, historia oral, pesquisa-as;ao,grounded theory e fenomenologia. Seus pressupostos, caracteristicas definidoras e criterios de avalias;ao do rigor sao discutidos. Nesta segunda parte, o leitor tambem encontrara possibilidades de utilizas:ao dessas estratt~gias de pesquisa nos estudos organizacionais, hem e me~odos como a discussao acerca da importancia do pesquisador na condu~ao desse prm;:esso. Ha uma preocupa~ao co mum entre os autores da Parte II em l~cali zar epistemolotiicamente as respectivas estrategias. E, consoa~te a refl.e~ao ini- ciada na Parte I, discutem possibilidades de utiliza~ao da pesquisa qualitativa ou de uma integras:ao paradigmatica. No Capitulo 4, Arilda Schmidt Godoy discute as caracterfsticas do es- tudo de caso interpretativo e apresenta, com um vies pragmatico, as etapas de desenvolvimento dessa estrategia de pesquisa, hem como seu relacionamento com outras estrategias, como a grounded theory discutida no Capitulo 8. Carolina Andion e Mauricio Serva apresentam no Capitulo 5 a etno- grafia a luz de uma discussao epistemol6gica: a visao polarizada natureza- cultura ou objetivismo-subjetivismo deve ser modificada no sentido de uma perspectiva multidisciplinar para o estudo da complexidade da realidade or- ganizacional. Neste capitulo, os autores discutem aspectos importantes aos estudos organizacionais, como os conceitos de tecelagem etnogr4fica e o Jato social total, a complementaridade entre sujeito e objeto e a relevancia do texto etnografico. Finalmente, sem ter a pretensao de serem exaustivos, os autores discutem possibilidades de pesquisa etnognifica nos estudos organizacionais. No Capitulo 6, Elisa Yoshie Ichikawa e Lucy Woellner dos Santos mos- tram a importancia da hist6ria para o entendimento dos fenomenos organi- zacionais. Partindo da relevancia dos eventos passados e da contextualizac;ao hist6rica da etnografia, o leitor depara-se com a proposta deste capitulo so- bre hist6ria oral: a considerac;ao da historia do tempo presente, de urn processo hist6rico ainda inacabado por meio da narrativa de atores sociais que nem sempre aparecem na hist6ria "oficial". As autoras salientam a necessidade de aprofundamento da discussao metodol6gica sobre a hist6ria oral no pais, co- mentam as caracteristicas da pritica da entrevista na hist6rial oral e apontam possibilidades de pesquisa na Administra;;:ao. No Capitulo 7,Janaina Macke apresenta as caracteristicas da pesquisa- a;;:ao como uma forma de pesquisa-participativa que favorece a interdiscipli- naridade. A autora explicita a diferen<;a entre a pesquisa-ac;ao e a consultoria, objeto de freqiiente confusao na aplicac;ao deste tipo de estrategia, e explora a questao de como se constr6i conhecimento a partir das intervenc,:6es de uma pesquisa -a;;ao. Pesquisa qualitativa e o debate sobre a propriedad~ de pesquisar No Capitulo 8, Rodrigo Bandeira-de-Mello e Cristiano Cunha apre- sentam os fund3.!11entos da grounded theory ~ discutem a l6gicada teoria que "emerge dos dados". Como fruto da experienda dos autores, eles propordo- nam ao leitor uma avalia<;aO critica das J?OS1)ibilidades e OS riscos da aplica<;aO dessa estrategia nos estudos organizacionais. A Parte II encerra-se com a discussao entre a fenomenologia e a herme- neutica elaborada por Anielson Barbosa da Silva, em torno dos significados das experiencias vividas. Neste nono capitulo, o autor sugere etapas para a inves- tigac;ao e ~;m:ilise de pesquisa utilizando 0 metodo fenomenol6gico-hermeneu- tico. Sao apresentadas especificidades do processo de investigas:ao e um ciclo de amilise compreensiva interpretativa para a elaboras:ao do texto fenomenol6gico. Na terceira e Ultima parte do livro, Metodos de coleta e analise de ma- terial empirico, entramos na discussao de elementos metodologico-tecnicos referentes a coleta de dados e a analise das informas:oes coletadas. Inicia-se com o metodo, ou tecnica, de coleta mais utilizado em pesquisa qualitativa nos estudos organizacionais: a entrevista em profundidade, seja individual ou em grupo, na forma de um focus group. No ambito da analise do material empirico, quatro possibilidades sao discutidas: a pragmatica, a an:ilise do discurso, a ami- lise da narrativa e a utilizas:ao de softwares como apoio ao pesquisador. No Capitulo 10, Christiane Kleiniibing Godoi e Pedro Lincoln C. L. de Mattos iniciam a crit;ka ao formalismo na pesquisa, que encontra uma de suas principais manifesta;;:oes na preocupac;ao exagerada com instrumentos de pesquisa. A entrevista qualitativa e analisada, pelos autores, por meio do contraste entre o tratamento da entrevista como instrumento e a pratica da pesquisa como eventos discursivos complexos sujeitos a criterios diferenciados de praxis e validac;ao. 0 focus group e apresentado, no Capitulo 11, como uma entrevista cole- tiva em profundidade. Mirian Oliveira e Henrique Freitas discutem as espe- cificidades da aplicas:ao do metodo na pratica, em especial seu planejamento. Qyestoes acerca do tamanho do grupo, numero de sessoes e papel do mode- radar sao discutidas pelos autores. A entrevista coletiva e o cerne da sessao de focus group e ganha, neste capitulo, enfase especial. · A critica ao formalismo na pesquisa tern seu aprofundamento no Capi- tulo 12, no qual Pedro Lincoln C. L de Mattos discute a an:ilise pragmatica Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais: paradigmas, estrategias e metodos da conversas:ao. Assim como no Capitulo 10, a entrevista e tam hem entendida como forma especial de· conversa~ao e intera~ao. Ap6s o diaJ:ogo com a anilise do conteudo e coni a analise da conversac;ao, o auto£ propoe urn modelo de apoio ao pesquisador para a analise de urn con junto de entrevistas com base na anilise pragmatica. A anilise do disturso e discutida por Christiane Kleiniibing Godoi no Capitulo 13, que realiza uma aproximac;ao a variedade de abordagens e mo- delos de anilise do discurso a partir de tres perspectivas: a informacional- quantitativa (anilise do conteudo); a estrutural-textual (analise semi6tica) e a social-hermeneutica (interpretac;ao social dos discursos), com destaque para a terceira perspectiva em virtude das possibilidades de abertura aos estudos or- ganizacionais. A autora recorre a teoria psicanalftica naquilo em que ela possa ampliar a compreensao da interpretac;ao discursiva. Mario Aquino Alves e Izidoro Blikstein apresentam, no Capitulo 14, as caracteristicas das narrativas e explicitam suas diferenc;as e semelhans:as com o discurso. A anilise de narrativas - a busca pelo significado deste tipo de discurso - e proposta neste capitulo por meio dos instrumentos da semi6tica: possibilitam ao pesquisador compreender as diversas facetas do texto, o dito e o nao dito, hem como suas finalidades. Os autores concluem o capitulo com exemplos de aplicas:ao da analise de narrativa nos discursos empresariais. Por fim, Rodrigo Bandeira-de-Mello discute as possibilidades e limi- tas:oes do uso de urn grupo de softwares conhecido por Computer-Assisted Q!Ialitative Data Analysis Software (CAQPAS) ou anilise de dados qualita- tivos assistida pelo computador, na pesquisa qualitativa, com base na literatu- ra especializada e na sua experiencia com o uso de softwares em projetos de pesquisa. 0 autor apresenta tambem a aplicac;ao de urn programa, o Atlas/ti, como apoio a operacionalizac;ao do metodo da grounded theory. Referencias DENZIN, N. K. e LINCOLN, Y. S. Introduction: The discipline and practice of qualitative research. In: DENZIN, N. K. e LINCOLN, W. S. Handbook of Qualitative Re!iearch. London: Sage Publica- tions, 2000. Pesqulsa qualitat!Va e o debate sobre a propriedade de pesquisar GADAMER, H.-G. Verdade e metodo. Petr6polis: Vozes, 2003, v. 1. GERGEN, M. M. e GERGEN, K. J. Qualitative inquiry: Tensions and transformations. In: DENZIN, N. K. e LINCOLN, Y. S. 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De modo ge- ral, considera-se que a filosofia positivista teria sido afirmada como paradigma desde meados do seculo XIX, fundamentando o desenvolvimento de pesqui- sas quantitativas e experimentais, enquanto a filosofia fenomenol6gica como "novo paradigma" ou metodo de pesquisa nas ciencias sociais - teria sido de- senvolvida "nos Ultimos cinqiienta anos" (Easterby-Smith eta/., 1999, p. 24), gerando urn volume consideravel de pesquisas com perfil qualitativo. Sabe-se que, por outro lado, nas ciencias sociais as ideologias, as teorias mais duradouras e OS "paradigmas" tern sido associados as obras dos classicos, como Marx (marxismo), Weber (weberianismo) e Durkheim (funcionalismo, positivismo ); diversas escolas, como a de Frankfurt ou a de Chicago, sao toma- das eventualmente como paradigmas ou fonte de referencial te6ri:co-metodo- l6gico. Burrel e Morgan (1979; Burrel, 1999), por exemplo, distinguem quatro Estudos e dilemas p~adigmas no interior da analise social: humanista radical, estruturalista ra- dical, interpretativista e funcionalista. Entretanto, esta fora de nosso proposito abordar todas estas categorias. 1 Urn dos objetivos deste capitulo,a ser tratado na sec;ao 1.1, e apontar tra- c;os hist6rico-filos6ficos mais antigos e ambivalentes da concepc;ao dominante de ciencia na modernidade e seus reflexos nas duas principals correntes da den- cia das organiza<;6es- a escola classica e a escola das relac;:6es humanas. Recor- reremos, para tanto, a noc;:ao de Grande Paradigma do Ocidente (GP0).2 N a bibliografia especializada relativa ao tratamento do conceito de para dig- rna na metodologia das ciencias naturais e sociais (por exemplo, Alves-Mazzotti e Gewandsznajder, 2002), a obra de Thomas Kuhn (The structure if scientific revo- lutions) comparece como maior numero de cita<;6es. Todavia, esse autor nao re- conheceu a existencia de paradigmas no campo das ciencias sociais, acentuando seti estagio pre-paradigmatico. Alem disso, suas posic;6es iniciais acabaram sendo redefinidas no transcurso dos debates suscitados pela publicac;:ao e dissernina<;ao desta obra (Kuhn, 1989; 1970). Decorre dai o segundo objetivo deste capitulo, a ser tratado na sec;ao 1.2: reexaminar o conceito de paradigma proposto por Kuhn e desaconselhar sua utilizac;ao no campo dos estudos organizacionais. Urn terceiro e ultimo objetivo, a ser tratado na sec;:ao 1.3, consiste numa explorac;ao das influencias do debate sobre a complexidade sistemica no de- senvolvimento dos estudos crganizacionais. A linha de argumenta<;ao, baseada nas contribui<;6es seminais de Edgar Morin, reforc;:a o ponto de vista segundo o qual sua concep<;ao de paradigma e mais coerente comparando-a com a kuhniana- com o desenvolvimento historico das pesquisas sobre organi- za<;6es. Estas sao caracterizadas por uma crescente abertura interdisciplinar, especialmente apos o surgimento de duas obras capitais: Uma nova ciencia das Para uma abordagem mais recente da problematica proposta por Burrel (1999), ver o capitulo se- guinte, de Silva e Roman Neto. Esta fora de nosso prop6sito, ·portanto, abordar aqui as varias escolas, mode los ou enfoques te6ricos nos estudos organizacionais ou suas tecnicas de pesquis;:~ (Motta e Vasconcelos, 2002; Caldas eta/., 1998; Flick, 2004). Tambem nao se faz uma distino;:ao, para efeitos deste capitulo, entre ciencia da administra~iio, teoria(s) das organizat;6es ou estudos organizacionais. Ver, a prop6sito, o capitulo seguinte, de autoria de Silva e Roman Neto'. ~studos organizacionais: dilemas paradlgmiiticos e abertura lnterdisdplinar organizaf6es (Ramos, 1981) e Imagens da organizafii() (Morgan, 1986; 1996). Ambas.ampliam o dialogo entre diversas disciplinas, a exemplo da sociolo~a, da psicologia, da antropologia, da ecologia, da biologia, da econ:ornia, da ciencia politica e da filosofia- bern como entre campos de integra~ao interdisciplinar, a exemplo da pesquisa de sistemas, da cibernetica e das teorias da informac;ao e da comunica~ao. Por fim, algumas hipoteses sao apresentadas como contri- buic;:ao ao aprofundamento progressivo do debate sobre este tema. - 1.1 Revolu~ao cientffica e seus refl~xos nas teorias das organiza~oes A seguir, oferecemos urn esboc;:o da trajetoria evolutiva da concepc;ao dominante de ciencia na modernidade, destacando nao so seus aspectos am- bivalentes e contradit6rios, mas tambem a convergenda paradigmatica que se afirma entre o secclo.XVI e as primeiras decadas do seculo XX, repercutindo ate a atualidade. Destacamos aspectos das duas principals correntes da ciencia das organizac;6es - a escola dassica e a escola das relac;:oes humanas - e intro- duzirnos a noc;:ao de Grande Paradigma do Ocidente (GPO), de Edgar Morin, a tim de evidenciar que ambas fazem parte desse mesmo paradigma. · .. Partimos da consta!fi<;ao de que, em contraste com o pensamento me- dieval, predominantemente teocentrico, o pensamento moderno aos poucos afirmou-se com urn vies decididamente antropocentrico. No rpundo contem- podneo, vivemos o dilema (reflexividade, autoconfronto) entre a tradic;:ao e a emergencia (hipotetica ou potencial) de uma era centrada na ecologia dos saberes e das temporalidades (Santos, 2004). A ciencia floresce e torna-se mais complexa na modernidade, emanci- pando-se da filosofia e gerando uma representac;ao mecanicista e matematiza- da da natureza. Desta forma, acabou legit:lmando uma percepc;ao dualista da relas:ao entre o mundo natural-objetivo e o mundo humano-subjetivo. Ja no transcurso do seculo XVII e, portanto, antes do surgimento da contribui~ao de Isaac Newton, as contribuic;6es de Galileu Galilei e Rene Descartes sugeriam que a natureza e o universo ja haviam sido tral)sformados em objetos privile- giados de descris:ao e elaborac;ao matematica. Estudos organizaclonais e dilemas paradigmatlcos < Se parece fora de duvida que na epoca mediev:al as artes liberais do Qua- drivium formavam urn c:p:npo exdusivamente matematico, do qual faziam parte a aritmetica, a geometria, a astronomia e a musica, importa reconhecer que tais "artes matematicas" constituiam, na realidade, instrumentos de com- preensao de uma natureza e de urn universo de cara.ter fundamentalmente qualitativo (Soares, 2001, p. 33). A ruptura com essa representac;ao qualitativa acontece na epoca do Re- nascimento, mediante a retomada do ideal platonico e pitagorico de "matema- tizac;ao do mundo" (internalizado por Copernico e Kepler). Como se sabe, no transcurso do seculo XVII, a elite europeia abandona gradualmente o latim, criando assim condic;oes propicias para a ado9ao das diferentes linguas nacio- nais. Ao mesmo tempo, com base nas contribuic;oes de Descartes e Gassendi, a comunidade cientifica internacional passa a dispor de uma nova linguagem - a logica- na busca de revelas:ao da essencia perene do "mundo". Recorde-se que, para Platao, se o homem permanecesse dominado pe- los sentidos, so poderia aspirar a ter urn conhecimento imperfeito do mundo real, restrito ao mundo das aparencias, em fluxo permanente. A esse tipo de conhecimento ele denomina doxa (opinHio). Em contraste, o verdadeiro co- nhecimento a episteme ( ciencia) - consistiria no alcance, por meio da razao, do mundo das ideias, o locus das essencias imutaveis de todas as coisas (Aranha e Martins, 1993,<p. 136). Desse ponto de vista, o conhecimento sensivel de- veria fundamentar-se no conhecimento matematico, considerado como uma etapa intermediaria (dianoia) na construc;ao do conhecimento verdadeiro; este, ainda segundo o platonismo, deveria pro mover a conjugac;ao do intelecto e das emoc;:6es, da razao e das qualidades morals. Em sfntese, a episteme seria fruto da combinac;:ao de inteligencia e amor (Platao, 1996, p. 24, 26). De acordo como historiador portugues Vitorino Godinho (1990, p. 34), OS algarismos indo-arabicos foram introduzidos na cristandade a partir do Se- culo XIII. Todavia, pelo menos ate o seculo XVI, sua utilizac;:ao permaneceu restrita a pequenos grupos. A disserninac;:ao de uma mentalidade quantitativis- ta foi, segundo este pesquisador, condicionada por dois fatores predominan- tes: a construc;ao progressiva do Estado moderno (com a cria<;:ao de exercitos profissionais permanentes e a contabilidade publica) e o desenvolvimento da economia de mercado. Da confluencia desses dois fatores emerge a estatistica. l:studos organizacionals: dilemas paradigmaticos e abertura interd!sciplln~ Para Alfred Crosby (1997), historiador norte-americano, ao final da Idade Media (entre os seculos XIII e XIV, por volta do ano 1250), ocorre a transic;ao da percepfiiO qualitativa para a percepfiio quantitativa da realidade, em decorrencia de uina serie de fatores socioculturais e socioeconomicos. Por exemplo, a construc;:ao do primeiro relogio mecanico (que data de aproximada- mente 1270) desempenhou um papel de destaque no processo de quantificariio do tempo, enquanto urn novo tipo de carta maritima (denominada portolano, de 1296) influenciou decisivamente na quantificariio do espafo. Da mesma forma, vale a pena mencionar a invenc;ao datecnica da escriturac;:ao contabil, a partir de registros concisos e exatos das atividades economicas (Crosby, 1997, p. 206). Na trajet6ria de desenvolvimento da ciencia moderna, ao lado das conver- gencias que lhe concedem a indispensavel coerencia interna (na sua versao do- minante), podemos identificar tambem urn amplo espectro de divergencias en- tre alguns de seus precursores mais ilustres, como Galileu Galilei, Isaac Newton, Rene Descartes e Francis Bacon. Certamente, as contribui~oes de muitos outros autores criticos ou desviantes da cultura moderna teriam sido objeto de urn exame mais minucioso, caso o objetivo deste capitulo fosse a compreensao das contradic;:oes da cultura moderna enquanto contexto da ciencia moderna. No debate travado pelos autores considerados pioneiros da ci<~ncia modema, destaca-se, por exemplo, a divergencia entre Newton e Descartes quanto a experirnenti~ao entendida como metodo cientffico. No seculo XVIII, segundo Soares (2001, p. 49), os cartesianos reconhecein a superioridade da perspectiva newtoniana e procuram incorporar a experimentac;ao em sua visao dedutivista do processo de constru-;:ao do conhecimento. Embora Newton e Galileu sejam classificados como neoplatonicos, tal como Descartes, as pers- pectivas dos dois primeiros podem ser caracterizadas como indutivistas, con- trarias ao dedutivismo essencialista de corte cartesiano. 0 indutivista Bacon praticamente ignora os principios da mecaniza-;:ao e da matematizas:ao da natureza, alem de assumir uma representac;ao muito mais qualitativa do que quantitativa daquilo que constitui a "experiencia". Referin- do-se ao sistema heliocentrico de Copernico, ele questiona a tese (suposta- mente "absurda") relativa ao movimento da Terra e a utilizac;ao de teorias ma- tematicas aprioristicas, que nao se baseiam na observac;io. Para Soares (2001, p. 46), Bacon constitui-se, de fato, no Ultimo grande nome do racionalismo Estudos organizacionais e dilemas paradigmiiticos crftic~-experiencial, ao propor que, se dispusermos do. metodo adequado, a propria mente "sera guiada a cada passo e tudo sera feito como que por uma. maqJltnaria" (Roszak, 1988, p. 316). Numa sintese lucida das caracteristicas gerais da ciencia moderna, o histo- riador holandes Reyer Hooykaas (1986, p. 167) destaca, em primeiro lugar, que ela nao reconhece autoridades, excetuando a da propria natureza (isto e, a ideia de natureza). Em caso de conflito entre as expectativas criadas pela imaginas:ao do investigador e os registros de suas observa<;6es e experiencias, sua razao tera que se adaptar aos dados fornecidos pela natureza (a rigor, pela interpretas:ao dos mesmos, mas de tal maneira que parecesse uma simples adapta<;ao aos da- dos "fornecidos pela natureza''). Dessa forma, na cienda moderna o empiris- mo (indutivismo) racional e critico predomina sobre o racionalismo concebido como auto-sufich~ncia da razao teorica. Em segundo lugar, a ciencia moderna nao se baseia apenas na observas:ao- direta ou indireta- da natureza. A realiza- <;ao de experiencias controladas desempenha urn papel decisivo no processo da pesquisa. Esta conceps:ao de ciencia conquista a natureza pela pratica e obtem dela informas;6es genuinas por interferencia de meios artificiais. Em terceiro lugar, a ciencia moderna estaria associada a forma<;ao de uma imagem mecani- dsta de mundo, explicando os fenomenos naturais, tanto quanto possfvel, por analogia com a dinamica de funcionamento de sistemas artificiais. Finalmente, a versao dominante da ciencia moderna procura descrever ou explicar fenomenos observaveis - direta ou indiretamente por meio da linguagem matematica. A conceps:ao organicista de natureza, predominante na pre-modernida- de - pela qual se atribuia ao todo, ao conjunto, ao grupo, urn valor superior a parte isolada, ao indivfduo - cede espa<;o a uma concep<;ao mecanicista, ato- mistico-individualista (Marchant, 1980; Fernandez, 2004, p. 28). 0 novo mo- delo, inspirado na metafora da m~quina, pressup6e que as partes atomizadas da natureza sao intercambiaveis e podem ser conhecidas ou controladas de forma objetiva. A natureza seria pura e simplesmente materia em movimento, passi:Vel de ser reduzida a algumas poucas leis, que seriam tanto mais seguras ou confiaveis quanto mais traduziveis na linguagem abstrata da matematica. A chamada revolu;iio cientifica provocou tambem o nascimento das cien- cias particulares, especialmente aquelas que lidam com fenomenos "naturais". Estas ultimas, ao idealizarem seu desligamento da filosofia e da metafisica Estudos organizacionais: dilemas paradigmiitlcos e abertura interdisc:iplinar medieval, assumem urn papel relativamente funcional ao desenvolvimento das sociedades centradas no mercado (Ramos, 1981). Alimentam, assim, especial- mente a partir da Revolw;ao Francesa, a promessa burguesa de progresso civi- lizatorio, centrado nos ideais de liberdade, igualdade e fraternjdade. Nesse contexto de genese da episteme, a matematica e a logica sao en- tendidas como ciencias formais, porque seus objetos nao sao coisas ou pro- cessos, mas entes formais, que viabillzam a constru~ao de raciodnios validos, prescindindo, assim, do criterio de objetividade. "Na matematica, a verdade consiste na coerencia entre urn enunciado dado e urn sistema de ideias admiti- do previamente. A verdade matemiitica nao e absoluta, mas sim relativa a esse sistema'' (Moreira, 2002, p. 2-3). Por sua vez, a fisica, a qufmica, a biologia, a economia e suas ramifi- ca<;oes sao chamadas ciencias factuais, adequando-se, portanto, ao postulado de objetividade. Qyando os fatos investigados dizem respeito a estrutura e a dinarnica do mundo natural, constituem o objeto das ciencias naturais ou fisicas; quando envolvem o ser humano ou a sociedade, constituem o objeto das ciencias humanas ou sociais. A fisica, a qufrnica e a biologia sao tidas como prototipos das dencias naturais, enquanto a histori~, a antropologia, a sociolo- gia e o direito fazem parte do campo das ciencias humanas e sociais. Moreira (2002, p. 3) observa que o caso da psicologia e mais controvertido, na medida em que conjuga as abord~gens experimental (natural) e social (fenomenologi- ca). Pode-se dizer a mesma coisa da administras:ao: por urn lado e reconhecida como uma ciencia factual derivada das ciencias humanas e sociais mais anti- gas, mas sua vertente classica foi fortemente influenciada pela engenharia e incorporou alguns dos metodos utilizados nas ciencias fisicas. Estas Ultimas compartilham duas premissas: a primeira estipula que existe uma realidade unica a ser apreendida, considerada externa a todos os pesquisadores; e a segunda estipula que o conhecimento cientifico transcende o nfvel da simples observa~ao dos fatos. Neste sentido, os cientistas inventam conceitos, como o de <ltomo, campo, massa, energia, adapta<;lio, integra~ao, se- le<;ao, classe social ou tendencia hist6rica. Embora os conceitos adquiram sen- tido somente se guardarem liga<;ao com o contexto no qual foram concebidos, devemos consider:i-los como componentes indispensaveis do chamado meto- do cientifico. Em outras palavras, os conceitos nao sao observriveis fisicamente; Estudos or!!anizaclonais e dlfemas paradlgmatlcos antes, sua existenda e inftrida (portanto intuida, imaginada) a partir de fatoS; experimentais (Moreira, 2002, p. 6). . . Apartir da profusao de novas descobertas gestadas no Renascimento exprimindo o anseio pela constmc,:ao progressiva de urn mundo mai~ seguro, previsivel e controhivel, a modernidade encontrou na filosofia de Descartes e no positivismo de Auguste Comte dois de seus principais pontos de referen- cia. Como se sabe, o sistema de Comte pressup6e que a evoluc,:ao do nosso conhecimento do mundo obedece a uma trajet6ria linear: a fase teol6gica (fe- tichismo, politeismo e monotefsmo) teria sido suplantada pela fase metafisica e esta, por
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