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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/333731874 Teoria das organizações Book · June 2007 CITATIONS 0 READS 1,097 2 authors: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Bibliometric Studies em Management Theory View project Covid-19 in and around organizations View project Miguel Caldas University of Texas at Tyler 113 PUBLICATIONS 2,157 CITATIONS SEE PROFILE Carlos osmar Bertero Fundação Getulio Vargas 78 PUBLICATIONS 944 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Miguel Caldas on 14 October 2019. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/333731874_Teoria_das_organizacoes?enrichId=rgreq-c208cf33e88210615744a8f25095d47d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMzczMTg3NDtBUzo4MTQwMTAzMjA1ODA2MDhAMTU3MTA4NjU5MjE2Ng%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/333731874_Teoria_das_organizacoes?enrichId=rgreq-c208cf33e88210615744a8f25095d47d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMzczMTg3NDtBUzo4MTQwMTAzMjA1ODA2MDhAMTU3MTA4NjU5MjE2Ng%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Bibliometric-Studies-em-Management-Theory?enrichId=rgreq-c208cf33e88210615744a8f25095d47d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMzczMTg3NDtBUzo4MTQwMTAzMjA1ODA2MDhAMTU3MTA4NjU5MjE2Ng%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Covid-19-in-and-around-organizations?enrichId=rgreq-c208cf33e88210615744a8f25095d47d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMzczMTg3NDtBUzo4MTQwMTAzMjA1ODA2MDhAMTU3MTA4NjU5MjE2Ng%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-c208cf33e88210615744a8f25095d47d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMzczMTg3NDtBUzo4MTQwMTAzMjA1ODA2MDhAMTU3MTA4NjU5MjE2Ng%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Miguel-Caldas-3?enrichId=rgreq-c208cf33e88210615744a8f25095d47d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMzczMTg3NDtBUzo4MTQwMTAzMjA1ODA2MDhAMTU3MTA4NjU5MjE2Ng%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Miguel-Caldas-3?enrichId=rgreq-c208cf33e88210615744a8f25095d47d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMzczMTg3NDtBUzo4MTQwMTAzMjA1ODA2MDhAMTU3MTA4NjU5MjE2Ng%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/The-University-of-Texas-at-Tyler?enrichId=rgreq-c208cf33e88210615744a8f25095d47d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMzczMTg3NDtBUzo4MTQwMTAzMjA1ODA2MDhAMTU3MTA4NjU5MjE2Ng%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Miguel-Caldas-3?enrichId=rgreq-c208cf33e88210615744a8f25095d47d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMzczMTg3NDtBUzo4MTQwMTAzMjA1ODA2MDhAMTU3MTA4NjU5MjE2Ng%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Carlos-Bertero?enrichId=rgreq-c208cf33e88210615744a8f25095d47d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMzczMTg3NDtBUzo4MTQwMTAzMjA1ODA2MDhAMTU3MTA4NjU5MjE2Ng%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Carlos-Bertero?enrichId=rgreq-c208cf33e88210615744a8f25095d47d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMzczMTg3NDtBUzo4MTQwMTAzMjA1ODA2MDhAMTU3MTA4NjU5MjE2Ng%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Fundacao_Getulio_Vargas?enrichId=rgreq-c208cf33e88210615744a8f25095d47d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMzczMTg3NDtBUzo4MTQwMTAzMjA1ODA2MDhAMTU3MTA4NjU5MjE2Ng%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Carlos-Bertero?enrichId=rgreq-c208cf33e88210615744a8f25095d47d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMzczMTg3NDtBUzo4MTQwMTAzMjA1ODA2MDhAMTU3MTA4NjU5MjE2Ng%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Miguel-Caldas-3?enrichId=rgreq-c208cf33e88210615744a8f25095d47d-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMzczMTg3NDtBUzo4MTQwMTAzMjA1ODA2MDhAMTU3MTA4NjU5MjE2Ng%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf Teoria das Organizações teoria_organizacoes.indd 1 23/10/2007 12:55:51 teoria_organizacoes.indd 2 23/10/2007 12:55:51 Miguel P. Caldas Carlos Osmar Bertero (COORDEnADORES) Teoria das Organizações Andrew H. Van de Ven Andrew J. Grimes Armen A. Alchian Chris Grey Gareth Morgan Gary Alan Fine Gibson Burrell Harold Demsetz John Freeman Karl E. Weick Marcelo Milano Falcão Vieira Marianne W. Lewis Michael T. Hannan Miguel P. Caldas Miguel Pina e Cunha Paul J. DiMaggio Richard L. Daft Robert Cooper Roberto Fachin Sylvia Constant Vergara Valérie Fournier W. Graham Astley Walter W. Powell Francisco Gabriel Heidemann REVISÃO TéCnICA Cláudio Bica, Felipe Zambaldi, José Luiz Celeste e Rebeca Alves Chu TRADUçÃO Maurício C. Serafim EDIçÃO/PREPARAçÃO DOS ORIGInAIS Com apoio de Ilda Fontes, Cláudia Cristina S. Martins, Denise F. Cândido, Camila Dayan de Almeida, Rafael Valente P. de Siqueira Série RAE-Clássicos teoria_organizacoes.indd 3 23/10/2007 12:55:52 Sumário Apresentação, xv Parte I – Paradigmas em Estudos Organizacionais, 1 1 Paradigmas em estudos organizacionais: uma introdução à série (Miguel P. Caldas), 3 2 Paradigmas, metáforas e resolução de quebra-cabeças na teoria das organizações (Gareth Morgan), 12 3 Metatriangulação: construção teórica com base em paradigmas múltiplos (Marianne W. Lewis e Andrew J. Grimes), 34 Parte II – Introdução ao Paradigma Funcionalista, 67 4 Paradigma funcionalista: desenvolvimento de teorias e institucionalismo nos anos 1980 e 1990 (Miguel P. Caldas e Roberto Fachin), 69 5 Debates e perspectivas centrais na teoria das organizações (W. Graham Astley e Andrew H. Van de Ven), 80 6 Jaula de ferro revisitada: isomorfismo institucional e racionalidade coletiva nos campos organizacionais (Paul J. DiMaggio e Walter W. Powell), 117 Parte III – O Paradigma Funcionalista no Final do Século XX, 143 7 Ecologistas e economistas organizacionais: o paradigma funcionalista em expansão no final do século XX (Miguel P. Caldas e Miguel Pina e Cunha), 145 8 Ecologia de população das organizações (Michael T. Hannan e John Freeman), 154 9 Produção, custos de informação e organização econômica (Armen A. Alchian e Harold Demsetz), 191 teoria_organizacoes.indd 5 23/10/2007 12:55:54 vi Teoria das Organizações • Caldas e Bertero Parte IV – O Paradigma Interpretacionista, 221 10 Paradigma interpretacionista: a busca da superação do objetivismo funcionalista nos anos 1980 e 1990 (Sylvia Constant Vergara e Miguel P. Caldas), 223 11 Organizações como sistemas interpretativos: em busca de um modelo (Richard L. Daft e Karl E. Weick), 235 12 O melancólico declínio, o misterioso desaparecimento e o glorioso triunfo do interacionismo simbólico (Gary Alan Fine), 257 Parte V – Abordagens Críticas e Pós-modernas, 289 13 Teoria crítica e pós-modernismo: principais alternativas à hegemonia funcionalista (Marcelo Milano Falcão Vieira e Miguel P. Caldas), 291 14 Modernismo, pós-modernismo e análise organizacional: uma introdução (Robert Cooper e Gibson Burrell), 312 15 Hora da verdade: condições e prospectos para os estudos críticos de gestão (Valérie Fournier e Chris Grey), 335 teoria_organizacoes.indd 6 23/10/2007 12:55:54 Andrew H. Van de Ven Professor da Carlson School of Management – University of Minnesota. Seus interesses de pesquisa incluem as áreas de inovação e mudança organi- zacional, comportamento organizacional e métodos de pesquisa. E-mail: avandeven@csom.umn.edu Endereço: Carlson School of Management – University of Minnesota, 321, 19th Avenue South, Minneapolis – Minnesota – USA, 55455. Andrew J. Grimes Ph.D. em Administração pela University of Minnesota. Professor de Adminis- tração e membro do Comitê de Teoria Social na University of Kentucky. Seus interesses de pesquisa incluem organizações alternativas, poder, episte- mologia, perspectivas críticas à administração e teoria organizacional radical. E-mail:grimes@uky.edu Armen A. Alchian Professor emérito do Departamento de Economia, University of California – Los Angeles. Seus interesses de pesquisas incluem as áreas de teoria econômica, custos de informação, organização econômica e economia da firma. E-mail: alchian@econ.ucla.edu Endereço: Bunche Hall 8262, Department of Economics, UCLA, Box 951477, Los Angeles – CA – USA, 90095-1477. Sobre os autores teoria_organizacoes.indd 7 23/10/2007 12:55:55 viii Teoria das Organizações • Caldas e Bertero Chris Grey Professor de teoria das organizações no Judge Institute of Management Stu- dies – Cambridge University. Seus interesses de pesquisa contemplam estudos críticos de gestão (em es- pecial pós-estruturalismo e pesquisa qualitativa), aprendizagem e conhecimento em gestão, história da administração, gestão e política. E-mail: c.grey@jbs.cam.ac.uk Endereço: Judge Business School, University of Cambridge, Trumpington Street, Cambridge, UK – CB2 1AG. Gareth Morgan Professor, Co-Director, Ph.D. Program, York University – Schulich School of Business. E-mail: morgan@imaginiz.com Endereço: Schulich School of Business – York University, 4700 Keele Street, Toronto – Ontario, M3J 1P3, Canada. Gary Alan Fine Professor do Departamento de Sociologia da northwestern University. Seus interesses de pesquisa estão nas áreas de psicologia social, sociologia da cultura, sociologia da ciência, sociologia qualitativa, teoria social e comporta- mento coletivo. E-mail: g-fine@northwestern.edu Endereço: Department of Sociology, northwestern University, 1810 Chicago Avenue, Evanston, Illinois – USA, 60208-1330. Gibson Burrell Professor de teoria das organizações no Management Centre – University of Leicester. Seus interesses de pesquisa compreendem a teoria social e suas conexões com a teoria das organizações. E-mail: g.burrell@le.ac.uk Endereço: Management Centre, Ken Edwards Building, University of Leices- ter, University Road, Leicester, UK – LE1 7RH. teoria_organizacoes.indd 8 23/10/2007 12:55:55 Harold Demsetz Professor emérito do Departamento de Economia, University of California – Los Angeles. Seus interesses de pesquisa incluem os temas de organização industrial, di- reito e economia, monopólio e competição, economia da firma e políticas públi- cas voltadas a empresas. E-mail: hdemsetz@econ.ucla.edu Endereço: Bunche Hall 8262, Department of Economics, UCLA, Box 951477, Los Angeles – CA – USA, 90095-1477. John Freeman Professor de Empreendedorismo e Inovação na Haas School of Business, Uni- versity of California – Berkeley. Seus interesses de pesquisa incluem os temas de empreendedorismo, inova- ção, comportamento organizacional e grupos industriais. E-mail: freeman@haas.berkeley.edu Endereço: University of California, Berkeley, Haas School of Business 350, Barrows Hall, Berkeley – CA – USA, 94720-1900. Karl E. Weick Professor de Psicologia e Comportamento Organizacional na Stephen M. Ross School of Business – University of Michigan. Seus interesses de pesquisa envolvem as temáticas de comportamento orga- nizacional, psicologia, sensemaking coletivo sob pressão, erros médicos, desem- penho de alta confiabilidade, improvisação e mudança. E-mail: karlw@umich.edu Endereço: Stephen M. Ross School of Business, University of Michigan, 701 Tappan St., Ann Arbor – MI – USA, 48109-1234. Marcelo Milano Falcão Vieira Professor Adjunto da FGV-EBAPE – Escola Brasileira de Administração Públi- ca e de Empresas. Seus interesses de pesquisa contemplam as áreas de poder, instituições e es- truturação de organizações culturais, cultura e desenvolvimento, organizações e desenvolvimento socioterritorial. E-mail: marcelo.vieira@fgv.br Sobre os autores ix teoria_organizacoes.indd 9 23/10/2007 12:55:56 x Teoria das Organizações • Caldas e Bertero Marianne W. Lewis Ph.D. em Administração pela University of Kentucky. Professora assistente de Administração pela University of Cincinnati. Em seus interesses de pesquisa, ela se dedica a explorar tensões, conflitos e paradoxos que impedem e possibilitam a inovação, particularmente nas áreas de tecnologia de produção industrial avançada, desenvolvimento de produtos e teo- ria organizacional. E-mail: marianne.lewis@uc.edu Endereço: 102a Carl H. Lindner Hall, PO Box 210165, Cincinnati – Ohio – Es- tados Unidos, 45221-0165. Michael T. Hannan Professor de Administração e Sociologia na Graduate School of Business, Stanford University. Seus interesses de pesquisa contemplam as temáticas de ecologia organiza- cional, recursos humanos em empresas emergentes, estratégia organizacional e modelos formais de estrutura social. E-mail: hannan@stanford.edu Endereço: Stanford University, Graduate School of Business, Stanford – CA – USA, 94305-5015. Miguel P. Caldas Professor da FGV-EAESP. E-mail: mpcaldas@hotmail.com Miguel Pina e Cunha Professor na Faculdade de Economia, Universidade nova de Lisboa. Doutor em Gestão, licenciado em psicologia social e das organizações e mestre em com- portamento organizacional. Seus interesses de pesquisa contemplam as temáticas de mudança organi- zacional não intencional, nomeadamente processos emergentes, improvisação, bricolagem, acaso. E-mail: mpc@fe.unl.pt teoria_organizacoes.indd 10 23/10/2007 12:55:56 Paul J. DiMaggio Professor de Sociologia na Princeton University. Seus interesses de pesquisa envolvem as áreas de análise organizacional, so- ciologia da cultura, estratificação social, sociologia econômica, análise de redes sociais, sociologia da arte e da literatura e organizações sem fins lucrativos. E-mail: dimaggio@princeton.edu Endereço: Department of Sociology, 2-n-2 Green Hall, Princeton University, Princeton – nJ – USA, 08544. Richard L. Daft Professor de Administração da Owen Graduate School of Management – Van- derbilt University. Seus interesses de pesquisa incluem as temáticas de modelos mentais de lide- rança, mudança organizacional e projeto de sistema de desempenho para gran- des organizações. E-mail: dick.daft@owen.vanderbilt.edu Endereço: Owen Graduate School of Management, Vanderbilt University, nashville – Tn – USA, 37205. Robert Cooper Professor visitante no Centre for Culture, Social Theory & Technology – Kee- le University. Seus interesses de pesquisa incluem as temáticas de produção social e cultu- ral, relações entre tecnologia e organização moderna e aspectos culturais e so- ciais da informação. E-mail: cooper.robert@talk21.com Endereço: Centre for Culture, Social Theory & Technology, Darwin Building, Keele University, Keele, Staffordshire – UK, ST5 5BG. Roberto Fachin Professor do Mestrado Profissional de Administração da PUC-Minas e da Fundação Dom Cabral. Seus interesses de pesquisa contemplam as relações entre estratégia e orga- nizações, aspectos políticos na organização. E-mail: rcfachin@portoweb.com.br Sobre os autores xi teoria_organizacoes.indd 11 23/10/2007 12:55:56 xii Teoria das Organizações • Caldas e Bertero Sylvia Constant Vergara Professora Titular da FGV-EBAPE – Escola Brasileira de Administração Públi- ca e de Empresas. Seus interesses de pesquisa contemplam as áreas de metodologia de pesqui- sa, comportamento organizacional, desenvolvimento gerencial e gestão da edu- cação corporativa. E-mail: sylvia.vergara@fgv.br Valérie Fournier Professora de estudos organizacionais no Management Centre – University of Leicester. Seus interesses de pesquisa em economia e organizações alternativas in- cluem: economia rural e desenvolvimento sustentável, formas alternativas de tro- cas e mercados, cooperativas e pedagogia crítica. E-mail: vf18@le.ac.uk Endereço: Management Centre, Ken Edwards Building, University of Leices- ter, University Road, Leicester, UK – LE1 7RH. W. Graham Astley Ex-professor da University of Pennsylvania. In memoriam Walter W. Powell Professor de educação, comportamento organizacional, sociologia e comuni- cação na Stanford University. Seusinteresses de pesquisa contemplam as áreas de teoria das organizações, sociologia econômica e redes sociais e interorganizacionais. E-mail: woodyp@stanford.edu Endereço: 509 Ceras Bld., Stanford University, Stanford – CA – USA, 94305- 3084. teoria_organizacoes.indd 12 23/10/2007 12:55:57 Maio/1961 a junho/1965 Raimar Richers Julho/1965 a dezembro/1966 Yolanda F. Balcão Janeiro/1967 a junho/1968 Carlos Osmar Bertero Julho/1968 a junho/1969 Ary Bouzan Julho/1969 a junho/1971 Orlando Figueiredo Julho/1971 a dezembro/1972 Manoel Tosta Berlinck Janeiro/1973 a junho/1975 Robert n. V. C. nicol Julho/1975 a março/1980 Luiz Antonio de Oliveira Lima Abril/1980 a março/1982 Sérgio Micelli Pessoa de Barros Abril/1982 a dezembro/1983 Yoshiaki nakano Janeiro/1984 a setembro/1985 Sérgio Micelli Pessoa de Barros Outubro/1985 a setembro/1989 Maria Cecília Spina Forjaz Outubro/1989 a dezembro/1989 Maria Rita Garcia L. Durand Janeiro/1990 a setembro/1991 Gisela Taschner Goldenstein Outubro/1991 a novembro/1995 Marilson Alves Gonçalves Dezembro/1995 a dezembro/2000 Roberto Venosa Janeiro/2001 a dezembro/2004 Thomaz Wood Jr. Janeiro/2005 a agosto/2007 Carlos Osmar Bertero Agosto/2007 Francisco Aranha Diretores da RAE teoria_organizacoes.indd 13 23/10/2007 12:55:57 teoria_organizacoes.indd 14 23/10/2007 12:55:57 nas últimas décadas os Estudos Organizacionais experimentaram vigoroso impulso no Brasil, tendo se acumulado razoável produção científica. A RAE – revista de administração de empresas, com 47 anos de publicação ininterrupta, acompanhou e fez parte desse processo. Em 2002, a RAE ganhou a companhia de mais duas publicações: a RAE-eletrônica, também voltada para pesquisadores e professores, e a GV-executivo, voltada para o público empresarial e para estudantes de Administração. “RAE-Clássicos”: Teoria das Organizações é o primeiro texto da série e con- tém uma coletânea de textos essenciais. A obra reúne textos inéditos em língua portuguesa, freqüentemente referidos tanto na literatura internacional como na produção de autores brasileiros, mas cujo acesso nem sempre é facilitado à maio- ria pelo fato de estarem noutros idiomas. Ao entregar estes textos ao público bra- sileiro, traduzidos para nossa língua e precedidos de comentários dos editores, estamos seguros de estar contribuindo para o aprimoramento da formação de no- vos pesquisadores e estudiosos das questões organizacionais entre nós. Esta edição foi possível graças ao esforço de toda a Equipe RAE – Maurício Custódio Serafim, Ilda Fontes, Cláudia Cristina de Souza Martins, Denise Francisco Cândido, Camila Dayan de Almeida, Rafael Valente Pedroso de Siqueira, Rosa Maria Cadete de Almeida Kluska, Camila Tiemi Okazaki, Thalita Souza Salgado, José Ru- bens Izzo e Pedro F. Bendassolli –, e ao apoio de Ailton Brandão, da Editora Atlas. Expressamos aqui o desejo de todos os autores de que esta obra constitua para os leitores fonte de reflexão crítica e orientação prática. Boa leitura! Apresentação Miguel P. Caldas Professor da FGV-EAESP Carlos Osmar Bertero Editor e Diretor – RAE-Publicações teoria_organizacoes.indd 15 23/10/2007 12:55:58 teoria_organizacoes.indd 16 23/10/2007 12:55:58 Parte I Paradigmas em Estudos Organizacionais teoria_organizacoes.indd 1 23/10/2007 12:55:58 teoria_organizacoes.indd 2 23/10/2007 12:55:58 Com este primeiro módulo, composto por esta introdução e os dois artigos a seguir, inauguramos a série “RAE-Clássicos”. O objetivo é proporcionar à co- munidade acadêmica brasileira matéria-prima para reflexão e orientação em seu trabalho de pesquisa. O papel deste texto introdutório é apresentar e contextuali- zar a série, além de situar os dois artigos que compõem este primeiro módulo no quadro da teoria das organizações no Brasil. Produção internacional e contexto local nos últimos anos, a RAE trouxe aos seus leitores textos publicados em revis- tas acadêmicas internacionais de primeira linha. Como crítico constante da im- portação exagerada e acrítica de modelos estrangeiros também no campo da teo- ria administrativa, minha percepção sobre a inclusão desses textos em periódicos nacionais foi sempre ambivalente. Por um lado, creio ser o papel das publicações nacionais a veiculação de investigação científica que, antes de mais nada, derive da realidade local e a informe. Por outro lado, devemos considerar que nossos periódicos também têm outra missão, com a qual compartilho em intento e es- forço, de inserir a produção científica nacional no cenário internacional. no que se refere à decisão de publicar textos estrangeiros já veiculados em outros países, esses dois objetivos são até certo ponto contraditórios: a abordagem mais local tenderia a reprovar a iniciativa, enquanto aquela que advoga inserção internacio- nal talvez a apoiasse. * Artigo originalmente publicado na RAE – revista de administração de empresas, v. 45, no 1, p. 53- 57, jan./mar. 2005. 1 Paradigmas em estudos organizacionais: uma introdução à série* Miguel P. Caldas teoria_organizacoes.indd 3 23/10/2007 12:55:58 4 Teoria das Organizações • Caldas e Bertero O que me motivou a participar da iniciativa desta série foi o seu caráter pri- mordialmente didático e de formação de pesquisadores. nos últimos anos, tive contato freqüente com as conseqüências negativas das deficiências de formação conceitual básica em teoria organizacional no Brasil. Como professor em cursos de mestrado e doutorado, não foram poucas as ocasiões em que me choquei ao ver alunos em situações quase absurdas, por pura falta de acesso a algumas referências básicas. Muitos desses alunos estudavam temas fundamentados em teorias das quais nunca haviam lido os principais expoentes, a não ser por meio de apuds; muitas vezes, porque tais clássicos nunca haviam sido publicados em português. Outros alunos, diante de seus problemas de pesquisa, propunham me- todologias quantitativas e hipotético-dedutivas, embora sua base teórica indicas- se uma orientação indutiva e de caráter subjetivo. Outros ainda manifestavam “gostar de etnografia” e queriam usá-la para testar hipóteses de base objetivista e funcional! Uma boa parte queria juntar e citar em seu apoio (e não para sobre- por ou “metatriangular”, como se discute nos textos a seguir) tudo o que havia lido na vida, de Karl Marx a Peter Drucker, passando eventualmente por Lair Ri- beiro. Lembro-me de um aluno que experimentou severa crise ao descobrir que sua “idéia original” era, na verdade, o objeto básico da teoria neo-institucional, à época em voga havia mais de 20 anos. A lista de eventos desse tipo é longa na vida de qualquer docente brasilei- ro envolvido com programas de mestrado e doutorado. Ainda mais embaraçoso é perceber que tais problemas atingem também colegas em estágios avançados da carreira, o que pode ser constatado pela qualidade discutível e pela limitada contribuição dos artigos submetidos a eventos e periódicos brasileiros. De fato, a baixa qualidade e a limitada contribuição científica na produção brasileira em Administração têm sido tratadas em muitos estudos, nas áreas de Estudos Orga- nizacionais (Machado-da-Silva et al., 1990), Finanças (Leal et al., 2003), Marke- ting (Vieira, 2003), Tecnologia da Informação (Hoppen et al., 1998) e Recursos Humanos (Tonelli et al., 2003), assim como na Administração como um todo (Quintella, 2003; Bertero et al., 1999; Caldas; Tinoco, 2004). De forma comple- mentar, análises bibliométricas e de conteúdo têm mostrado que tais deficiências colocam em cheque a legitimidade de uma parcela relevante de nossa produção (veja Tonelli et al., 2002; Vergara; Carvalho, 1995, 1996; Vergara; Pinto, 2000; Caldas; Tinoco, 2004). De forma geral, minha opção tem sido por mitigar o problema mediante a su- gestão de longas listas de leituras complementares, que compreendem em geral artigos e livros não disponíveis em português. nunca deixei de me surpreender com o impacto positivoque tão singela incursão na literatura essencial do campo provocou nos alunos, bem como à sua trajetória intelectual posterior. na raiz da questão está um problema de acesso: há centenas de pesquisado- res e estudantes que, devido à indisponibilidade de textos em português, acabam sem tomar contato com teorias e autores que poderiam ser cruciais à sua forma- teoria_organizacoes.indd 4 23/10/2007 12:55:59 Paradigmas em estudos organizacionais: uma introdução à série � ção e ao seu trabalho de pesquisa. nos últimos anos, testemunhei várias tentati- vas de publicar em português alguns desses textos essenciais ou “clássicos” (na falta de uma denominação mais adequada), que, entretanto, esbarraram na aná- lise de viabilidade comercial das editoras. é justamente nesse ponto que se situa este projeto, convergente com a mis- são da RAE, de “fomentar e disseminar a produção científica em Administração no Brasil”. A revista tem enorme influência e, portanto, responsabilidade na di- fusão do pensamento administrativo desde sua formação (veja Bertero; Keinert, 1994). Análises bibliométricas ainda inéditas revelam ser a RAE o periódico na- cional com maior impacto no campo, nas várias áreas da Administração. Milhares de docentes, estudantes, profissionais e pesquisadores em formação usam a RAE para atualizar-se e também para dar apoio em formação teórica básica. De certa forma, a RAE contrapõe a danosa influência nesse mesmo âmbito de conhecidos compêndios de teoria administrativa, caracterizados por atualidade, profundida- de e qualidade duvidosas. Assim, o projeto, que surgiu como uma simples proposta de introdução a um texto clássico, rapidamente evoluiu para a organização de uma série, que tem como objetivo a criação de um referencial básico de textos essenciais, nunca an- tes disponíveis em português. Desejamos partilhar esse trajeto e as respectivas apresentações dos textos com colegas que comungam os mesmos ideais. Cabe observar que não há aqui nenhuma veneração aos textos e autores in- cluídos. Esta série tampouco deve ser vista como uma desconsideração em rela- ção à produção local. Trata-se, na verdade, de uma coleção de textos representa- tivos da melhor produção internacional, cuja divulgação em português deve ser vista como um incentivo à reflexão crítica e eventual incorporação. Desejamos incentivar a produção nacional “bem informada”, contribuindo para sanar o pro- blema de falta de acesso a pelo menos uma pequena parte daquilo que julgamos básico e que deveria ser conhecido. Como selecionar o essencial Se a qualquer de nós, acadêmicos brasileiros da área de Administração, fos- se perguntado quais são os textos essenciais para quem desejar se aventurar no ensino e na pesquisa em estudos organizacionais, a diversidade de respostas se- ria enorme. Apesar de sermos relativamente poucos, a “diáspora” que ocorreu no campo desde sua constituição no Brasil (veja Bertero; Caldas; Wood, 1999) mul- tiplicou o número de “cultos”, aos quais nos afiliamos, em palavra ou ação, como pesquisadores. no entanto, alguns textos apareceriam com maior freqüência, por constituírem passagem obrigatória na formação do acadêmico nacional, em dis- ciplinas como Teoria Geral da Administração ou Teoria Organizacional, ou por serem clássicos inquestionáveis, como os principais trabalhos de Herbert Simon teoria_organizacoes.indd 5 23/10/2007 12:55:59 6 Teoria das Organizações • Caldas e Bertero e Max Weber, ou dos brasileiros Alberto Guerreiro Ramos, Maurício Tragtenberg e Fernando C. Prestes Motta. nesta série, trataremos especificamente de artigos acadêmicos ainda não disponíveis em português. não focalizaremos textos que sejam localmente co- nhecidos, por sua publicação em livros ou artigos. Cabe notar que a inserção do primeiro texto da série, de Gareth Morgan, foi feita menos por sua conhecida abordagem metafórica (divulgada e conhecida no Brasil) do que por sua defesa da caracterização paradigmática que alicerça a teoria organizacional. Também não focalizaremos somente textos clássicos, no sentido mais restrito da palavra. Entre dois artigos que possam introduzir uma mesma teoria ou conceito essen- cial, escolhemos o mais recente, ou tentamos incluir um texto complementar reflexivo que lhe dê perspectiva, como é o caso do segundo capítulo deste pri- meiro módulo. Alguns textos são de correntes teóricas que têm atingido popularidade no Brasil, como o neo-institucionalismo, mas cujos textos-base não estão ainda dis- poníveis em português. Outros são incluídos para prover conceitos-chave, como os debates em torno de voluntarismo versus determinismo organizacional, ou a questão dos níveis de análise, cujas bases não foram divulgadas em nosso idio- ma. Mesmo assim, devemos admitir que muitos artigos relevantes são excluídos, seja pela indisponibilidade de obtenção de direitos autorais, seja pela limitação de espaço físico neste livro. Paradigmas, metáforas e metatriangulações A discussão sobre os paradigmas em estudos organizacionais, que Gareth Morgan toma por empréstimo de seu trabalho de 1979 com Gibson Burrell, é, em nosso entender, essencial ao pesquisador do campo. Com esse artigo de 1980, que ora reproduzimos, Morgan – à época um doutorando galês saído de Lancas- ter, na Inglaterra, e começando a vida acadêmica na América do norte – conse- guiu veicular sua perspectiva pouco convencional sobre teoria organizacional na mais tradicional publicação do campo: a Administrative Science Quarterly. O artigo apresenta dois elementos. O primeiro é a exposição de seu modelo de “paradigmas sociológicos”, ou seja, uma base ontológica e epistemológica que, segundo Morgan e Burrell, fundamentariam as teorias organizacionais modernas. no livro publicado no ano anterior, que Morgan procura sintetizar no artigo, Bur- rell e Morgan (1979) sugeriam que o campo de teoria organizacional seria forma- do por uma série de posições epistemológicas e ontológicas de base, as quais for- mariam algumas posições metateóricas a priori no desenvolvimento científico em análise organizacional. Cada um desses quase-paradigmas paralelos coexistiria na área e influenciaria teorias que seriam aprisionadas por seus próprios pressupos- tos e desconheceriam ou ignorariam os demais “silos” representados por “campos teoria_organizacoes.indd 6 23/10/2007 12:56:00 Paradigmas em estudos organizacionais: uma introdução à série 7 concorrentes”. Por sua vez, cada um desses campos de conhecimento iniciaria ci- clos (ditos “paradigmáticos”) semelhantes aos que Kuhn (1962) havia descrito a partir de seu conceito de “resolução de quebra-cabeças” (McCourt, 1997). De forma didática, Burrell e Morgan (1979) apresentaram à academia de Ad- ministração norte-americana um modelo de categorização dos campos paradig- máticos. Os autores sobrepunham dois eixos: um representaria os pressupostos metateóricos sobre a natureza da ciência, opondo a ciência “objetivista” à ciência “subjetivista”, enquanto o outro simbolizaria as premissas metateóricas sobre a natureza da sociedade, contrastando uma sociologia da “regulação” a uma socio- logia da “mudança radical”. O conhecido diagrama que resulta da sobreposição desses dois eixos define o que os autores entendem ser os quatro principais paradigmas que fundamenta- riam – ou que poderiam fundamentar – a análise organizacional. Seu argumento é de que o desconhecimento dessa realidade paradigmática inconsciente e indis- cutida, bem como a aceitação tácita quase hegemônica do paradigma funciona- lista (no quadrante objetivista e regulacionista do diagrama), estariam aprisio- nando e limitando o desenvolvimento do campo, e seria sua missão “libertá-lo” e expandir seus limites. Ou seja, a intenção seria a de, em primeiro lugar, sugerir que o campo cresceria em reflexividade e riqueza se os distintos paradigmas pu- dessem se reconhecer e eventualmente dialogar no processo de desenvolvimento científico e, em segundo lugar, desvendar caminhos metateóricospouco explora- dos e promissores, além do funcionalismo dominante, especialmente os referen- ciais críticos e interpretativos. O segundo elemento apresentado pelo texto de Morgan é sua conceituação da visão metafórica da teoria organizacional e da realidade organizacional, que foi di- vulgada no Brasil pela publicação, em 1996, do livro Imagens da organização (Edi- tora Atlas). Em função da ampla divulgação deste segundo elemento, ele não será aqui comentado. Vale, entretanto, registrar que: (a) ambos os elementos originam- se do mesmo trabalho de Morgan com Burrell, seu professor em Lancaster; (b) a discussão sobre metáforas que Morgan inicia nesse artigo em 1980 é um esforço de refinamento e aprofundamento do criticado conceito de “analogia” utilizado no livro de 1979 (McCourt, 1997; Oswick; Keenoy; Grant, 2002); (c) o trabalho marca também um afastamento entre mestre e aluno – enquanto Morgan focali- za a análise metafórica, aprofundando e popularizando seu trabalho com Burrell (Palmer e Dunford, 1996), este último segue um caminho de busca e exploração de rumos alternativos aos próprios quatro paradigmas, divulgando e patrocinando o movimento pós-modernista em análise organizacional (Burrell, 1996; Cooper; Burrell, 1988) e a corrente feminista em organizações (Burrell, 1984); e (d) o ca- minho que Morgan iniciou guindou-o à condição de superstar na análise organiza- cional (especialmente fora dos EUA), levou-o cada vez mais a legitimar o conceito de metáforas organizacionais e, ao menos nos últimos dez anos, conduziu-o a uma carreira de palestrante e consultor internacional (para observar a vida e a traje- teoria_organizacoes.indd 7 23/10/2007 12:56:00 8 Teoria das Organizações • Caldas e Bertero tória intelectual de Morgan, veja, entre outros, <www.schulich.yorku.ca e www. imaginiz.com>). De qualquer forma, o impacto do trabalho de Burrell e Morgan no campo é inquestionável, em grande parte pelo artigo de 1980 e por sua seqüência (Mor- gan, 1983). nos últimos 25 anos, Burrell e Morgan tiverem um papel crucial: primeiro, na popularização e crescente aceitação de tradições teóricas críticas e interpretativas na teoria organizacional; e, segundo, na promoção de diálogos in- terparadigmáticos, dos quais o texto de Lewis e Grimes, também aqui traduzido, irá se ocupar extensivamente. no Brasil, a popularização do conceito de paradigmas de Burrell e Morgan na década de 1980, bem como do trabalho de Morgan sobre metáforas durante os anos 1990, foi crucial na popularização e legitimação de perspectivas críticas em organizações. Trabalhos hoje clássicos no Brasil (e.g., Machado-da-Silva et al., 1990) usaram os quatro paradigmas para analisar a produção científica, o que desde então foi reproduzido como protocolo de análise, quase sempre evidencian- do a preocupante hegemonia do funcionalismo na teoria organizacional que se faz e se reproduz no Brasil, e promovendo a diversidade paradigmática na direção de outros referenciais. O uso de Burrell e Morgan para a formação de mestres e doutores foi intensivo, especialmente entre meados da década de 1980 e meados da década de 1990, pelas mãos de professores tais como Fernando C. Prestes Mot- ta, Carlos Osmar Bertero, Maria Tereza Fleury, Sylvia Vergara, Clóvis Machado- da-Silva, Roberto Fachin e Tânia Fischer, entre muitos outros. Paradoxalmente, a partir de meados da década de 1990, talvez pela divulga- ção do livro Imagens da organização, o trabalho de Burrell e Morgan cai drastica- mente de uso. Por exemplo, entre 1997 e 2002, dentre as quase 50 mil citações registradas em todos os trabalhos publicados nos Enanpads, apenas 14 são feitas ao livro de Burrell e Morgan, de 1979. no mesmo período, Morgan é citado qua- se 200 vezes (um terço delas na área de organizações), dois terços das quais são citações ao livro Imagens da organização. Ou seja, a redução do uso desse impor- tante trabalho, que o livro de Morgan não substitui em nenhuma medida, faz de “Paradigmas sociológicos e análise organizacional” um dos textos mais influen- tes, porém menos efetivamente lidos, da teoria organizacional. Desejamos que a disponibilização desse artigo de Morgan abra novamente caminho para a sua utilização no Brasil. Por outro lado, o trabalho de Burrell e Morgan também passou a ser critica- do. De acordo com alguns críticos, o modelo de paradigmas simultâneos que Bur- rell e Morgan propuseram catalisou a proliferação de perspectivas concorrentes, ou ao menos sua popularização e aceitação no campo. Além disso, também gerou polarização e segregação. Assim, ao evidenciar diferenças elementares, Burrell e Morgan promoveram a segregação das perspectivas. Muitos críticos (veja revisão, por exemplo, em McCourt, 1997; Oswick; Kee- noy; Grant, 2002) apontaram a excessiva ortodoxia da chamada “incomensura- teoria_organizacoes.indd 8 23/10/2007 12:56:00 Paradigmas em estudos organizacionais: uma introdução à série 9 bilidade paradigmática” e o banimento do diálogo e o crescimento interparadig- mático com conseqüências negativas do trabalho de Burrell e Morgan. Morgan respondeu a essa polêmica aprofundando a discussão de analogias e metáforas e advogando a maximização da reflexividade e da capacidade analítica que tal abordagem geraria, tanto para pesquisadores quanto para profissionais (Mor- gan, 1996). Por sua vez, Burrell (1996) reagiu a Morgan, criticando a excessiva promiscuidade paradigmática e sugerindo que Morgan poderia estar dando a falsa impressão de que paradigmas e modelos metateóricos são intercambiáveis como produtos em prateleiras de supermercados. Outros teóricos argumenta- ram que a proliferação paradigmática promoveu a “anarquia” no campo, que deveria ater-se a um paradigma dominante, em geral aquele relacionado ao postulante (por exemplo, veja Donaldson, 1985) ou por ele escolhido (Pfeffer, 1993). nesta primeira edição da série, selecionamos também o instigante texto de Lewis e Grimes, publicado em 1999 na prestigiosa Academy of Management Review, para exemplificar a corrente que defende o diálogo e co-desenvolvimen- to interparadigmático e que procura desenvolver pesquisa e gerar conhecimento por meio da oposição sistemática e proposital de perspectivas opostas. O texto é bem construído e atualizado. Além disso, oferece recursos impor- tantes ao pesquisador. Em primeiro lugar, o texto registra a produção dos pesqui- sadores “multiparadigmáticos” e “interparadigmáticos”, incluindo vários tipos e formas de manifestação dessas abordagens. Acredito que, como eu, o leitor que já admirava ou aplicava abordagens interparadigmáticas irá achar curiosa e re- levadora a sua desconstrução na tipologia de aplicações levada a cabo pelos au- tores. Em segundo lugar, o trabalho tem grande mérito também pela prescrição estruturada da abordagem de pesquisa interparadigmática, denominada “meta- triangulação”, uma técnica que eles revisam e ampliam nesse artigo. Em terceiro lugar, cabe registrar que o texto tem grande valor também para leitores não aca- dêmicos, ou leitores acadêmicos mais próximos da prática gerencial, pois traz um exemplo de aplicação da técnica de metatriangulação a um caso de tecnologia avançada de produção. Lewis e Grimes revêem e ampliam significativamente o trabalho de Burrell e Morgan 20 anos após a publicação do livro que popularizou a categorização paradigmática em estudos organizacionais. Estimo que o leitor – seja para sua própria formação ou desenvolvimento, seja para o seu uso em pesquisa ou no ensino – verá grande utilidade nestas duas obras. Referências BERTERO, C. O.; KEInERT, T. M. M. A evolução da análise organizacional no Brasil (1961- 1993). RAE – revista de administração de empresas, v. 34, n. 3, p. 81-90, 1994. teoria_organizacoes.indd 9 23/10/2007 12:56:01 10 Teoria das Organizações • Caldas e Bertero BERTERO, C. O.; CALDAS, M.; WOOD JR., T. Produção científica em administração de empresas: provocações, insinuações e contribuições para um debatelocal. Revista de Ad- ministração Contemporânea, v. 3, n. 1, p. 147-178, 1999. BURRELL, G. normal science, paradigms, metaphors, discourses and genealogies of analysis. In: CLEGG, S.; HARDY, C.; nORD, W. (Ed.). Handbook of Organization Studies. London: Sage, 1996. ____________. Sex and organizational analysis. Organization Studies, v. 5, n. 2, p. 97-119, 1984. ____________; MORGAn, G. 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RAE – revista de administração de empresas, v. 43, n. 1, p. 81-90, 2003. teoria_organizacoes.indd 11 23/10/2007 12:56:02 Introdução1 Para o filho de um camponês que cresceu dentro das estreitas fronteiras de seu vilarejo e que passa a vida toda no lugar em que nasceu, o modo de pensar e de falar característico desse vilarejo é algo que ele tem como inteiramente dado e certo. Mas para o rapaz da zona rural que vai para a cidade e gradualmente se adapta à vida urbana, o modo de viver e de pen- sar do campo deixa de ser algo tido como dado e seguro. Ele ganhou um certo “distanciamento” desse modo de vida e consegue fazer agora uma distinção, talvez bastante consciente, entre as idéias e os modos de pensar “rurais” e “urbanos”. nesse tipo de distinção repousa o início da aborda- gem que a sociologia do conhecimento procura desenvolver com todos os detalhes. Aquilo que, dentro de um certo grupo, é aceito como absoluto parece, para quem está fora, condicionado pela situação do grupo e reco- nhecido como algo parcial (nesse caso, “rural”). Esse tipo de conhecimento pressupõe uma perspectiva mais imparcial (Mannheim, 1936). Mannheim utiliza esse exemplo de urbanização de um jovem camponês como um meio para ilustrar como os modos de pensar sobre o mundo são mediados * Artigo originalmente publicado sob o título “Paradigms, metaphors, and puzzle solving in organiza- tion theory”, por Gareth Morgan, na revista Administrative Science Quarterly, v. 25, n. 4, p. 605-622, 1980. Publicado com autorização da Johnson Graduate School of Management, Cornell University. © Johnson Graduate School of Management, Cornell University. <www.johnson.cornell.edu/ASQ>. 2 Paradigmas, metáforas e resolução de quebra-cabeças na teoria das organizações* Gareth Morgan teoria_organizacoes.indd 12 23/10/2007 12:56:02 Paradigmas, metáforas e resolução de quebra-cabeças na teoria das organizações 13 pelo ambiente social e como a aquisição de novos modos de pensar depende de um afastamento da antiga visão de mundo. O exemplo é um ponto de partida bem adequado para uma análise da teoria das organizações que procura exami- nar como os teóricos de organizações tentam compreender seu objeto de estudo e também como eles podem lograr um certo distanciamento do modo ortodoxo de vê-lo. Os teóricos de organizações, assim como os cientistas de outras disciplinas, com freqüência abordam seu objeto de estudo a partir de um marco de referência baseado em pressuposições inquestionáveis. na medida em que esses pressupos- tos são afirmados e reafirmados de forma contínua pelos cientistas da área e por outros com os quais os teóricos de organizações interagem, eles podem ficar sem questionamento, como também fora e além da percepção consciente. nesse sen- tido, a visão de mundo ortodoxa pode vir a assumir o status de real, corriqueira e inquestionável, como a visão de mundo do jovem camponês de Mannheim que permaneceu em casa. A natureza parcial e auto-sustentadora da ortodoxia so- mente se torna evidente na medida em que o teórico explicita as pressuposições básicas, que desafiam os modos alternativos de visão, e começa a apreciar essas alternativas em seus próprios termos. Paradigmas, metáforas e resolução de quebra-cabeças Para compreender a natureza da ortodoxia, na teoria das organizações, deve- se entender a relação entre os modos específicos de teorização e pesquisa e as vi- sões de mundo que eles refletem. Será útil começar com o conceito de paradigma popularizado por Kuhn (1962), apesar de este conceito ter sido exposto a uma ampla e confusa variedade de interpretações (Morgan, 1979). O que se deve, em parte, ao próprio Kuhn ter usado o conceito de paradigma pelo menos de 21 mo- dos distintos (Masterman, 1970) e consistentes com três sentidos amplos do ter- mo: (1) como um modo de ver, ou visão cabal de realidade; (2) como referência à organizaçãosocial da ciência, em termos de escolas de pensamento associadas a tipos particulares de realizações científicas; e (3) como referência ao uso con- creto de tipos específicos de ferramentas e textos para o processo de resolução de quebra-cabeças científicos (veja Figura 1). é provável que uma das implicações mais importantes do trabalho de Kuhn provenha da identificação dos paradigmas como realidades alternativas; e o uso indiscriminado do conceito de paradigma de maneira diversa tende a mascarar esse insight básico. O termo paradigma é, portanto, utilizado aqui em seu sen- tido metateórico ou filosófico, para denotar uma visão implícita ou explícita da realidade. Toda análise adequada do papel dos paradigmas na teoria social deve desvendar as pressuposições centrais que caracterizam e definem uma visão de mundo, de modo que se torne possível apreender o que há de comum nas pers- pectivas dos teóricos, cujos trabalhos poderiam, em caso contrário, num nível mais superficial, parecer distintos e de alcance amplo.1 teoria_organizacoes.indd 13 23/10/2007 12:56:03 14 Teoria das Organizações • Caldas e Bertero Toda visão de mundo, ou paradigma metateórico, pode incluir diversas esco- las de pensamento, que com freqüência constituem diferentes maneiras de abor- dar e estudar uma realidade compartilhada, ou visão de mundo (o nível de metá- fora, na Figura 1). Argumentar-se-á neste artigo que, na ciência social, as escolas de pensamento – aquelas comunidades de teóricos que subscrevem a perspecti- vas relativamente coerentes – se baseiam na aceitação e no uso de diferentes ti- pos de metáfora como base para investigação. no nível de análise da resolução de quebra-cabeças (Figura 1), é possível identificar muitos tipos de atividade de pesquisa que procuram operacionalizar as implicações específicas da metáfora que define uma certa escola de pensa- mento. nesse nível de análise detalhada, muitos textos, modelos e instrumentos específicos de pesquisa competem pela atenção dos teóricos, e grande parte da pesquisa e do debate nas ciências sociais está focada nesse nível. Isso inclui o que Kuhn (1962) descreveu como “ciência normal”. na teoria das organizações, por exemplo, o livro de Thompson Organizations in action (1967) serviu de modelo e ponto de partida fundamental para os teóricos interessados em teoria contin- gencial, que desenvolve insights gerados pela metáfora do organismo (Burrell e Morgan, 1979). As numerosas proposições apresentadas no livro de Thompson geraram uma grande quantidade de pesquisas voltadas para a resolução de que- bra-cabeças, em que as pressuposições metafóricas subjacentes ao modelo de Thompson foram consideradas seguras e inquestionáveis como uma maneira de compreender as organizações. Ao apreciar como as atividades específicas de resolução de quebra-cabeças estão relacionadas com as metáforas preferidas que, por sua vez, estão de acordo com uma visão preferencial da realidade, o teórico pode perceber com muito mais consciência o papel que exerce em relação à construção social do conhecimento científico. Como no caso do jovem camponês “urbanizado” de Mannheim, uma Figura 1 Paradigmas, metáforas e a resolução de quebra-cabeças: três conceitos para se compreender a natureza e a organização da ciência social. Paradigmas Realidades alternativas Metáforas Bases das escolas de pensamento Atividades de resolução de quebra-cabeças Baseadas em ferramentas e textos específicos teoria_organizacoes.indd 14 23/10/2007 12:56:03 Paradigmas, metáforas e resolução de quebra-cabeças na teoria das organizações 1� perspectiva cosmopolita sobre teorização depende de o teórico deixar, em algum momento, a comunidade dos praticantes com os quais se sente confortável, a fim de avaliar os domínios da teorização definidos por outros paradigmas e a varieda- de de metáforas e métodos pelos quais se pode conduzir a teoria e a pesquisa. Paradigmas como realidades alternativas O papel dos paradigmas, como visões da realidade social, foi recentemen- te explorado em detalhe por Burrell e Morgan (1979), que argumentaram que a teoria social em geral e a teoria das organizações em particular poderiam ser utilmente analisadas em termos de quatro amplas visões de mundo, que são re- presentadas em diferentes conjuntos de pressuposições metateóricas sobre a na- tureza da ciência, a dimensão subjetiva-objetiva, e a natureza da sociedade, a di- mensão da mudança por regulação ou por via radical (Figura 2). Cada um desses quatro paradigmas – funcionalista, interpretativista, humanista radical e estrutu- ralista radical – representa uma rede de escolas de pensamento inter-relaciona- das, diferenciadas em abordagem e perspectiva, mas que compartilham pressu- postos fundamentais sobre a natureza da realidade de que tratam. Paradigma humanista radical Teoria antiorganização Paradigma estruturalista radical Teoria organizacional radical Paradigma interpretativista Hermenêutica, etnometodologia e interacionismo simbólico fenomenológico Paradigma funcionalista Pluralismo Estrutura de referência da ação Teoria dos sistemas sociais Behaviorismo, determinismo e empiricismo abstrato SOCIOLOGIA DA MUDANÇA RADICAL SUBJETIVO OBJETIVO SOCIOLOGIA DA REGULAÇÃO Prisão psíquica Realização e produção de sentido Jogos de linguagem Texto Cultura Teatro Sistema político Sistema frouxamente acoplado Sistema cibernético Ecologia populacional Organismo Máquina Catástrofe Fragmentação Instrumento de dominação Figura 2 Paradigmas, metáforas e escolas relacionadas de análise organizacional. teoria_organizacoes.indd 15 23/10/2007 12:56:04 16 Teoria das Organizações • Caldas e Bertero O paradigma funcionalista se baseia na pressuposição de que a sociedade tem existência concreta e real e um caráter sistêmico orientado para produzir um estado de coisas ordenado e regulado. Ele estimula uma abordagem para a teoria social que focaliza o entendimento do papel dos seres humanos na sociedade. O comportamento é sempre visto como algo que está contextualmente atado a um mundo real de relacionamentos sociais concretos e tangíveis. Os pressupostos ontológicos estimulam a crença na possibilidade de uma ciência social objetiva e isenta de conotações de valor, em que o cientista se distancia da cena que ele ou ela está analisando com o rigor e a técnica do método científico. A perspec- tiva funcionalista é fundamentalmente reguladora e prática, em sua orientação básica, e está interessada em compreender a sociedade de maneira que produza conhecimento empírico útil. O paradigma interpretativista, por outro lado, se baseia na visão de que o mundo social possui uma situação ontológica duvidosa e de que o que passa por realidade social não existe em sentido concreto, mas é produto da experiência subjetiva e intersubjetiva dos indivíduos. A sociedade é entendida a partir do ponto de vista do participante em ação, em vez do observador. O teórico social interpretativista tenta compreender o processo pelo qual as múltiplas realidades compartilhadas surgem, se sustentam e se modificam. Da mesma forma que a abordagem funcionalista, a interpretativista se baseia na pressuposição e na cren- ça de que há uma ordem e um padrão implícito no mundo social; no entanto, o teórico interpretativista vê a tentativa do funcionalista de estabelecer uma ciên- cia social objetiva como um fim inatingível. A ciência é considerada uma rede de jogos de linguagem, baseada em grupos de conceitos e regras subjetivamente de- terminados, que os praticantes da ciência inventam e seguem. Vê-se que a situa- ção do conhecimento científico é, portanto, tão problemática quanto o conheci- mento do senso comum da vida diária. O paradigma humanista radical, como o paradigma interpretativista, enfatiza como a realidade é socialmente criada e socialmente sustentada, mas vincula sua análise ao interesse em alguma coisa que pode ser descrita comouma patologia da consciência, pela qual os seres humanos se aprisionam dentro de fronteiras da realidade que eles mesmos criam e sustentam. Essa perspectiva se baseia na visão de que o processo de criação da realidade pode ser influenciado por proces- sos psíquicos e sociais que canalizam, restringem e controlam as mentes dos seres humanos de maneira a aliená-los em relação às potencialidades inerentes à sua verdadeira natureza de humanos. A crítica contemporânea do humanismo radi- cal enfoca os aspectos alienadores dos vários modos de pensamento e ação que caracterizam a vida nas sociedades industriais. Vê-se, por exemplo, o capitalismo como algo essencialmente totalitário, a idéia da acumulação de capital como algo que modela a natureza do trabalho, da tecnologia, da racionalidade, da lógica, da ciência, dos papéis, da linguagem, que mistifica conceitos ideológicos como escassez, lazer, e assim por diante. Os conceitos que o teórico funcionalista pode considerar como blocos de construção da ordem social e da liberdade humana teoria_organizacoes.indd 16 23/10/2007 12:56:04 Paradigmas, metáforas e resolução de quebra-cabeças na teoria das organizações 17 são, para o humanista radical, modos de dominação ideológica. O humanista ra- dical está interessado em descobrir como as pessoas podem associar pensamento e ação (práxis) como um meio para transcender sua alienação. A realidade definida pelo paradigma estruturalista radical, assim como a do humanista radical, fundamenta-se na visão de que a sociedade é uma força po- tencialmente dominadora. no entanto, ela está vinculada a uma concepção mate- rialista do mundo social, definida por estruturas sólidas, concretas e ontologica- mente reais. Vê-se a realidade como uma coisa que existe por si própria, de uma forma independente de como é percebida e reafirmada pelas pessoas em suas atividades do dia-a-dia. Vê-se essa realidade como algo que se caracteriza por tensões e contradições intrínsecas entre elementos antagônicos, o que, inevitavel- mente, leva a uma mudança radical no sistema como um todo. O estruturalista radical está interessado em compreender essas tensões intrínsecas e a maneira como os detentores do poder na sociedade procuram controlá-las por meio de vários modos de dominação. Põe-se a ênfase sobre a importância da práxis como meio de transcender esta dominação. Cada um desses quatro paradigmas define os fundamentos dos modos anta- gônicos de análise social e tem implicações radicalmente diferentes para o estudo das organizações. Status epistemológico da metáfora Os seres humanos estão constantemente tentando formular concepções so- bre o mundo e, como argumentaram Cassirer (1946, 1955) e outros, o fazem em termos simbólicos, tentando tornar o mundo concreto, dando-lhe uma forma. Por meio da linguagem, da ciência, da arte e dos mitos, por exemplo, os seres huma- nos estruturam seu mundo de maneira tal que ela faça sentido para eles. Essas tentativas de objetificar a realidade incorporam intenções subjetivas aos signi- ficados que sustentam os construtos simbólicos utilizados. O conhecimento e a compreensão do mundo não são dados aos seres humanos por eventos externos; os humanos tentam objetificar o mundo por meio de processos essencialmente subjetivos. Como enfatizou Cassirer, todos os modos de compreensão simbólica possuem essa qualidade. Palavras, nomes, conceitos, idéias, fatos, observações etc. não denotam tanto “coisas” externas quanto concepções de coisas, ativadas na mente por uma forma seletiva e significativa de observar o mundo, que po- dem ser compartilhadas com os outros. Elas não devem ser vistas como uma re- presentação da realidade que “está lá fora”, mas como ferramentas para captar e lidar com o que se percebe que “está lá fora”. nesse aspecto, o cientista, como os outros na vida cotidiana, recorre a construtos simbólicos para estabelecer re- lações concretas entre o mundo subjetivo e o objetivo, num processo que capta apenas uma pálida e breve visão de ambos. A ciência, como os outros modos de atividade simbólica, é construída com base no uso de ferramentas epistemológi- teoria_organizacoes.indd 17 23/10/2007 12:56:05 18 Teoria das Organizações • Caldas e Bertero cas imperfeitas, abrigando o que Cassirer (1946) descreveu como “a maldição da mediação” e propiciando o que Whitehead (1925) descreveu como “ficções úteis” para lidar com o mundo. Para se compreender de que maneira se constrói a teoria científica como uma forma simbólica, deve-se prestar atenção ao papel da metáfora, pois o processo de concepção metafórica é um modo básico de simbolismo, central para o modo como os humanos modelam sua experiência e seu conhecimento do mundo em que vivem. A metáfora é com freqüência considerada não mais que um artifício literário e descritivo para efeitos decorativos; mas ela é, fundamentalmente, uma forma criativa que produz seu efeito pela intersecção ou sobreposição de ima- gens. A metáfora atua por meio de afirmações de que o objeto A é ou se asseme- lha a B, em que os processos de comparação, substituição e interação entre as imagens de A e B atuam como geradores de um novo sentido (Black, 1962). Demonstrou-se que a metáfora exerce uma influência importante sobre o de- senvolvimento da linguagem (Muller, 1871); enquanto o sentido muda de uma situação para outra, novas palavras e novos sentidos, criados como sentidos de referência, são utilizados metaforicamente para captar novas aplicações. Isso é bem ilustrado, por exemplo, na história da palavra organização. O Oxford English Dictionary indica que, antes de 1873, o termo organização era usado principal- mente para descrever a ação de organizar ou o estado de estar organizado, par- ticularmente em sentido biológico. Em 1816, o termo foi utilizado para ordenar e coordenar as partes em um todo sistêmico. Por volta de 1873, Herbert Spencer usou o termo para se referir a “um corpo, sistema ou sociedade organizados”. O estado de ser organizado em sentido biológico constituiu a base da metáfora da ação de criar arranjos ou de coordenar, em sentido geral, como também da me- táfora do corpo, sistema ou sociedade, em sentido geral. O uso do termo organi- zação para descrever uma instituição social é razoavelmente moderno e cria um novo significado pela extensão metafórica dos sentidos antigos. Mostrou-se também que a metáfora exerce um papel importante no uso da linguagem, no desenvolvimento cognitivo e na maneira geral pela qual os seres humanos formam concepções sobre suas realidades (Burke, 1945, 1954; Jakob- son e Halle, 1956; Ortony, 1979). Deu-se atenção considerável ao papel exercido pela metáfora no desenvolvimento da ciência e do pensamento social (Berggren, 1962, 1963; Black, 1962; Schön, 1963; Hesse, 1966), e Brown (1977) fez uma análise da influência da metáfora sobre a sociologia. O trabalho de pesquisa desses diferentes teóricos contribui para uma visão da investigação científica como um processo criativo em que os cientistas vêem o mundo metaforicamente, por meio da linguagem e dos conceitos que filtram e estruturam suas percepções de seus objetos de estudo e por meio das metáforas que eles implícita ou explicitamente escolhem para desenvolver seus modelos de análise. é a esta última utilização das metáforas que se volta o foco de atenção deste artigo, com vistas a mostrar como as escolas de pensamento dedicadas à teoria_organizacoes.indd 18 23/10/2007 12:56:05 Paradigmas, metáforas e resolução de quebra-cabeças na teoria das organizações 19 teoria das organizações se baseiam em insights associados a diferentes metáforas para o estudo das organizações e como a lógica da metáfora possui importantes implicações para o processo de construção teórica. A utilização da metáfora serve para gerar uma imagem para o estudo de um objeto. Essa imagem pode prover o fundamento para a pesquisa científica deta- lhada que se baseia em tentativas de descobrir até que pontoas características da metáfora são encontradas no objeto de investigação. Grande parte da atividade de resolução de quebra-cabeças da ciência normal é desse tipo, com os cientis- tas tentando examinar, operacionalizar e mensurar as implicações minuciosas do insight metafórico sobre o qual suas pesquisas implícita ou explicitamente se ba- seiam. Esta limitação da atenção cobra muito de um comprometimento prévio e algo irracional para com a imagem do objeto de investigação, já que todo insight metafórico proporciona uma visão apenas parcial e unilateral do fenômeno ao qual ele se aplica. O potencial criativo da metáfora depende de que haja algum grau de dife- rença entre os objetos envolvidos no processo metafórico. Por exemplo, um bo- xeador pode ser descrito como “um tigre no ringue”. Ao escolher o termo tigre, evocamos impressões específicas de um animal feroz que, ora e ao mesmo tem- po, se move com graça, dissimulação, poder, força e velocidade, ao encalço de sua presa. Por implicação, a metáfora sugere que o boxeador possui essas quali- dades, ao lutar com seu adversário. O uso dessa metáfora requer que se ignore a pele de listras alaranjadas e pretas do tigre, as quatro patas, as garras, os dentes caninos e o rugido ensurdecedor, em favor de uma ênfase sobre as característi- cas que o boxeador e o tigre têm em comum. A metáfora, portanto, se baseia so- mente numa verdade parcial; ela requer da pessoa que a utiliza uma abstração algo unilateral, em que certas características sejam enfatizadas e outras sejam suprimidas, numa comparação seletiva. A Figura 3 ilustra o significado crucial da diferença numa metáfora. Se os dois objetos são percebidos como totalmente distintos, por exemplo, boxeador e panela (Figura 3a), ou são vistos como quase idênticos, por exemplo, boxeador e homem (Figura 3c), o processo metafórico produz um imaginário fraco ou sem sentido. O uso mais poderoso da metáfora surge nos exemplos tipificados na Figura 3b, em que as diferenças entre os dois fenômenos são percebidas como significativas, mas não totais. A metáfora é uma forma de expressão criativa que confia na falsidade construtiva como meio para liberar a imaginação. A lógica das metáforas possui, portanto, implicações importantes para a teo- ria das organizações, pois sugere que nenhuma metáfora pode captar toda a natu- reza da vida organizacional. Em vez da tentativa de forjar uma síntese sobre bases limitadas, emerge como meta apropriada um pluralismo teórico consciente e de alcance amplo. Metáforas diferentes podem constituir e captar a natureza da vida organizacional de maneiras diferentes, cada uma gerando tipos de insight pode- rosos, distintos, mas essencialmente parciais. Aqui, a lógica sugere que se podem teoria_organizacoes.indd 19 23/10/2007 12:56:06 20 Teoria das Organizações • Caldas e Bertero usar novas metáforas para criar novas maneiras de ver as organizações, que supe- rem as fraquezas e os pontos cegos das metáforas tradicionais, oferecendo aborda- gens suplementares ou até contraditórias para a análise organizacional. Figura 3 Papel da diferença na metáfora. Reconhecer que a teoria das organizações é metafórica é reconhecer que ela é um empreendimento essencialmente subjetivo, interessado em produzir análi- ses parciais da vida organizacional, o que tem conseqüências importantes, pois estimula um espírito de investigação crítica e uma precaução contra um compro- metimento excessivo com pontos de vista favorecidos. As abordagens tradicionais de análise organizacional, com freqüência, se baseiam em conceitos e métodos bem testados, que são considerados axiomáticos, no que concerne à compreen- são da organização. nessa situação, perde-se de vista a natureza metafórica da imagem que gerou esses conceitos e o processo de análise organizacional se torna excessivamente concreto, na medida em que os teóricos e os pesquisadores tra- tam os conceitos como descrições da realidade. Retornando à ilustração anterior, o boxeador é tratado como um tigre e é sobre a “natureza do tigre” que se põe o foco da teoria e da pesquisa, muitas vezes em prejuízo de todo o resto. Esta perspectiva resulta num enclausuramento prematuro do pensamento e também da investigação. As escolas de teóricos comprometidos com abordagens e con- ceitos particulares, com freqüência, consideram que as perspectivas alternativas estão desorientadas ou representam ameaças à natureza de seu empreendimento básico. As abordagens, as técnicas, os conceitos e as descobertas que essas pers- pectivas alternativas geram são, muitas vezes, interpretadas e avaliadas de ma- neira não apropriada, com grande perda de valor significativo. O que se segue, com freqüência, são mal-entendidos, hostilidade ou indiferença calculada, com o efeito de dificultar ou impossibilitar debates abertos e construtivos. A consciência da natureza metafórica da teoria pode ajudar a romper a compartimentalização falsa e restritiva da investigação e do entendimento que caracteriza a moderna teoria das organizações. Para compreender qualquer fenômeno organizacional, devem-se entreter muitos insights metafóricos diferentes. O status metafórico da teorização científica também tem implicações impor- tantes para o modo pelo qual se pode conduzir a pesquisa, estimulando uma am- pliação de perspectiva e flexibilidade de abordagem. Ao quebrar a divisão rígida entre o que constitui arte e ciência, a consciência do status epistemológico da me- X Y (a) X Y (b) X Y (c) teoria_organizacoes.indd 20 23/10/2007 12:56:06 Paradigmas, metáforas e resolução de quebra-cabeças na teoria das organizações 21 táfora sensibiliza os cientistas para a idéia de que as disciplinas não científicas po- dem conter insights, abordagens e métodos de investigação relevantes e capazes de contribuir para a análise organizacional (Brown, 1977). A consciência de que, em sua pesquisa específica, os cientistas em geral estão tentando operacionalizar uma metáfora serve como uma influência sensata para o comprometimento com a pesquisa empírica e a resolução de quebra-cabeças como um fim em si mesmo. Esta consciência enfatiza a necessidade de se lograr um firme entendimento dos elos que existem entre teoria e método e a extensão das abordagens metodológicas para investigar diferentes pontos de vistas metafóricos (Morgan; Smircich, 1980). A metáfora na teoria das organizações na teoria das organizações, a visão ortodoxa baseou-se de forma predomi- nante nas metáforas da máquina e do organismo. A metáfora da máquina alicerça as obras dos teóricos clássicos da Administração (Taylor, 1911; Fayol, 1949) e a especificação weberiana de burocracia como tipo ideal (Weber, 1946). Embora as concepções que fundamentam o trabalho de teóricos tão distintos tivessem a in- tenção de servir a diferentes fins, isto é, à melhoria da eficiência na teoria clássica de Administração e à nossa compreensão da sociedade na teoria weberiana, as duas linhas de pensamento se fundiram para proporcionar as bases da moderna teoria organizacional. O imaginário mecânico é muito claro. As máquinas são con- cebidas em termos racionais para realizar o trabalho, visando alcançar fins pré-es- pecificados; a metáfora da máquina na teoria das organizações expressa esses fins como metas, e a relação entre meios e fins como uma racionalidade intencional. na realidade, os modelos mecânicos de organização foram descritos de diversas maneiras, na literatura da teoria das organizações, como “modelos de racionali- dade” (Gouldner, 1973; Thompson, 1967) e “modelos de meta” (Georgiou, 1973; Etzioni, 1960). Os detalhes desses modelos de máquina são tirados de conceitos mecânicos. Por exemplo, eles dão importância crucial aos conceitos de estrutura e tecnologia na definição das características organizacionais. As máquinas são en- tidades tecnológicas cujas relações entre os elementos constitutivos formam uma estrutura. na teoria organizacional clássica e burocrática, dá-se ênfaseprincipal- mente à análise e ao modelo da estrutura formal de uma organização e sua tecno- logia. De fato, essas teorias essencialmente constituem mapas de ação para esse modelo; elas procuram modelar as organizações como se elas fossem máquinas, e os seres humanos previstos para trabalhar dentro dessas estruturas mecânicas devem ser avaliados por suas habilidades instrumentais. A concepção tayloriana de homem econômico e o conceito weberiano de burocrata sem rosto ampliam os princípios da metáfora da máquina para definir a visão de natureza humana que melhor se ajusta à máquina organizacional. De fato, como sugere Weber, o modo burocrático de organização desenvolve mais perfeitamente esse modo de organi- zação, na medida em que ele elimina dos negócios oficiais o amor, o ódio e todos os elementos puramente emocionais, irracionais e pessoais (Weber, 1946, p. 216). teoria_organizacoes.indd 21 23/10/2007 12:56:07 22 Teoria das Organizações • Caldas e Bertero Além do mais, o funcionamento de toda empresa burocrática é julgado em termos de sua eficiência, outro conceito que deriva da concepção mecânica de organiza- ção como um instrumento para alcançar fins predeterminados. A outra metáfora central na teoria das organizações é a do organismo. O termo organismo veio a ser utilizado para se referir a qualquer sistema de par- tes mutuamente interligadas e dependentes, constituídas para compartilhar uma vida comum, e focaliza sua atenção sobre a natureza das atividades da vida. Vê- se o organismo, tipicamente, como uma combinação de elementos diferenciados, mas integrados, que tentam sobreviver no contexto de um ambiente mais amplo (Spencer, 1873, 1876-1896). São fortes e claras as ligações entre esta metáfora do organismo e grande parte da teoria contemporânea das organizações. A ênfa- se principal da abordagem de sistemas abertos, por exemplo, é a estreita relação interativa entre a organização e o ambiente e como a vida ou a sobrevivência da organização depende de conseguir uma relação apropriada. Também se enfatiza a idéia de que a organização tem necessidades ou funções imperativas que de- vem ser satisfeitas para que ela logre essa relação com o ambiente. Os estudos de Hawthorne (Roethlisberger e Dickson, 1939), as teorias funcionalistas estrutu- rais de Selznick (1948) e Parsons (1951, 1956), a abordagem de sistemas socio- técnicos (Trist e Bamforth, 1951), a abordagem de sistemas gerais (Katz; Kahn, 1966) e grande parte da moderna teoria da contingência (Burns; Stalker, 1961; Lawrence; Lorsch, 1967) baseiam-se todos no desenvolvimento da metáfora do organismo. Enquanto na metáfora da máquina o conceito de organização é como uma estrutura um tanto estática e fechada, na metáfora do organismo o conceito de organização é como uma entidade viva, em constante fluxo e mutação, intera- gindo com seu ambiente na tentativa de satisfazer a suas necessidades. A relação entre organização e meio-ambiente enfatizava que certos tipos de organização são mais capazes de sobreviver em certos ambientes do que outros. O foco sobre as necessidades e funções imperativas permitiu que os teóricos identificassem atividades essenciais à sustentação da vida. O imperativo de satisfazer às necessi- dades psicológicas dos membros organizacionais (Trist; Bamforth, 1951; Argyris, 1952, 1957) e de adotar os estilos gerenciais apropriados (McGregor, 1960; Li- kert, 1967), a tecnologia (Woodward, 1965), os modos de diferenciação, integra- ção e resolução de conflito (Lawrence; Lorsch, 1967) e os modos de escolha estra- tégica e de controle (Child, 1972; Miles; Snow, 1978) foram todos incorporados à teoria contingencial contemporânea, que, em essência, leva as implicações da metáfora do organismo às suas conclusões lógicas, porque se vêem as organiza- ções, a partir dessa perspectiva, não somente em termos da rede de relações que caracterizam a estrutura interna dos organismos, mas também em termos das re- lações que existem entre a organização (organismo) e seu ambiente. A distinção entre máquina e organismo serviu de base para o continuum das formas organizacionais (Burns; Stalker, 1961) e influenciou muitas tentativas de mensurar as características organizacionais. Desde o final da década de 1960, por exemplo, a pesquisa sobre organizações foi dominada por tentativas de conduzir teoria_organizacoes.indd 22 23/10/2007 12:56:07 Paradigmas, metáforas e resolução de quebra-cabeças na teoria das organizações 23 estudos empíricos detalhados sobre vários aspectos da abordagem contingencial, como indicam os volumes da revista Administrative Science Quarterly (ASQ) ao longo dos últimos dez anos. Apesar de esses estudos terem gerado numerosos insights, que informam nossa compreensão das organizações como máquinas ou organismos, deve-se reconhecer que o tipo de insights gerados é limitado pelas metáforas em que eles se baseiam. Recentemente, os teóricos organizacionais acabaram reconhecendo isso e se deram conta de que observar as organizações sob a ótica de novas metáforas torna possível entendê-las de novas maneiras. Po- demos adicionar dimensões ricas e criativas à teoria das organizações, quando as vemos em termos sistemáticos como sistemas cibernéticos, sistemas frouxamen- te acoplados, sistemas ecológicos, teatros, culturas, sistemas políticos, jogos de linguagem, textos, realizações, representações teatrais, prisões psíquicas, instru- mentos de dominação, sistemas cismáticos etc. A metáfora cibernética estimula os teóricos a ver as organizações como pa- drões de informação e faz ver como os estados de equilíbrio homeostático podem ser sustentados por processos de aprendizagem baseados em feedback negativo. Alguns teóricos começaram a explorar as implicações dessa metáfora para a orga- nização e a administração (Buckley, 1967; Hage, 1974; Argyris; Schön, 1978), e a cibernética passou então a ser amplamente usada como uma técnica para melho- rar os sistemas de controle organizacional (Lawler; Rhode, 1976). A metáfora de sistema frouxamente acoplado, introduzida na teoria das organizações por Weick (1974, 1976), tenta especificamente se contrapor às pressuposições implícitas nas metáforas da máquina e do organismo de que as organizações são sistemas preci- sos, eficientes e bem coordenados. A metáfora da ecologia populacional (Hannan; Freeman, 1977) revela a importância de focalizar a competição e a seleção nas populações de organizações, em vez da adaptação das organizações ao ambien- te. A metáfora do teatro mostra como os membros das organizações são, essen- cialmente, atores humanos que se engajam em vários papéis e outras performan- ces oficiais e não oficiais (Goffman, 1959, 1961). A metáfora da cultura chama a atenção para os aspectos simbólicos da vida organizacional e para o modo como a linguagem, os rituais, as histórias, os mitos etc. corporificam redes de significa- do subjetivo que são cruciais para compreender como as realidades organizacio- nais são criadas e sustentadas (Turner, 1971; Pondy; Mitroff, 1979). A metáfora do sistema político enfoca os conflitos de interesse e o papel do poder nas organi- zações (Crozier, 1964; Pettigrew, 1973; Pfeffer; Salancik, 1978). Essas metáforas criam meios para enxergar as organizações e seu funcionamen- to de modo que as metáforas da máquina e do organismo não conseguem fazer. no entanto, todas elas podem ser utilizadas de maneira funcionalista, gerando modos de teorização baseados na pressuposição de que a realidade da vida orga- nizacional se ampara numa rede de relações ontologicamente reais, que são mais ou menos ordenadas e coesas. Como conseqüência, elas podem simplesmente desenvolver diferentes abordagens para o estudo de um paradigma comum. As metáforas da cibernética, do sistema frouxamente acoplado e da ecologia popula- teoria_organizacoes.indd 23 23/10/2007 12:56:07 24 Teoria das Organizações • Caldas e Bertero cional têm, todas elas, raízes nas ciências naturais e todas, de uma
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