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Resenha crítica do livro Cultura um conceito Antropológico,

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Enviado por Rócio Stefson Neiva Barreto em 03/04/2011
Código do texto: T2886834
https://www.recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/2886834 
Resenha crítica do livro Cultura – um conceito Antropológico, 
de Roque de Barros Laraia. Rio de Janeiro, Editora Jorge Zahar,
1988
Resenha crítica do livro Cultura – um conceito Antropológico, de Roque de Barros Laraia. Rio de 
Janeiro, Editora Jorge Zahar, 1988
RESUMO
A definição e conceituação do que é “cultura” é uma questão crucial para a Antropologia. De fato,
este conceito tão básico é na verdade rico e complexo, de modo que ainda hoje é fonte de 
discussão para aqueles envolvidos com as ciências humanas. Neste livro, Laraia desvela o 
histórico do conceito de cultura, suas definições mais importantes e uma série de exemplos 
selecionados da literatura antropológica para ilustrá-los. O autor também nos aponta as diversas 
formas pela qual a cultura influencia o comportamento humano, agindo mesmo sobre a 
organização biológica do homem. Também nos mostra que a cultura é dinâmica, e nos alerta 
para as tendências etnocêntricas que estão implícitas – ou não – em muitas das concepções 
sobre a mesma. Um livro bem escrito, agradável de ler, em linguagem acessível, e com excelente
conteúdo: ótima leitura introdutória para o estudo da cultura.
Palavras chave: Cultura; Antropologia; Roque de Barros Laraia.
ABSTRACT
The definition and conceptuation of “culture” it´s a crucial question for the Anthropology. In fact, 
it´s so basic but rich and complex, and today it´s still as a point of discussion for those wrapped 
with the human studies. In this book, Laraia reveals the historical of the concept of culture, its 
most important definitions and a lot of selected examples founded in anthropological literature to 
illustrate it.The author also show us the several forms for which the culture influences the human
behaviour, acting even on the biological organization of the man. Laraia also shows us how the 
culture is dynamic, and alert us for the ethnocentric tendencies that are implicit – or not – in a 
great deal of culture conceptions . It´s a well written book, pleasant of reading, in accessible 
language, and with excellent content: a great introductory reading for the study of the culture.
Key-words: Culture; Anthropology; Roque de Barros Laraia
https://www.recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/2886834
O livro de Laraia é dividido em duas partes. A primeira delas trata sobre o desenvolvimento do 
conceito de cultura, enquanto a segunda, sobre as formas pelas quais a cultura influencia o 
comportamento social e diversifica a humanidade.
Logo no início do texto, Laraia aponta dois dos maiores equívocos que rondavam – e, poder-se-ia
dizer, ainda rondam – o conceito de cultura em Antropologia: os determinismos geográficos e 
biológicos. Tais teses, hoje abandonadas pela grande maioria dos antropólogos e cientistas 
sociais, sustentam que as características geográficas ou biológicas – leia-se raciais ou étnicas – 
seriam responsáveis pelas diferenças culturais entre os diversos povos. Laraia apresenta uma 
série de colocações que desmentem tais teses, como por exemplo, o argumento de que existem 
diferenças culturais significativas em relação a povos estabelecidos em condições geográficas 
similares. Um exemplo de concepção pautada no determinismo geográfico é aquela que considera
o clima como um elemento determinante do progresso de um povo – enquanto povos residentes 
em climas frios seriam mais suscetíveis ao progresso, aqueles residentes em climas quentes 
estariam em condição desfavorável em função do calor que os tornaria preguiçosos e passionais. 
O raciocínio do determinismo biológico funciona da mesma maneira: as diferenças culturais 
seriam explicadas em função da genética de cada povo. Neste sentido, Laraia cita muito 
pertinentemente uma declaração da Unesco, datada de 1950 - e portanto, após o genocídio 
praticado pelo nazismo em direção àqueles que seriam considerados geneticamente inferiores – a
fim de sustentar que as diferenças entre os povos se deve á história cultural de cada grupo, e 
não da sua genética. Daí que “o comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, de 
um processo de chamamos de endoculturação” . A endoculturação seria o processo de 
diferenciação entre os povos, incorrendo na formação de culturas diferentes.
A seguir, o autor mostra como foi surgindo e sendo delineado o conceito de cultura – desde os 
antecedentes históricos da definição do conceito, como Locke que postulava a mente humana 
como “tabula rasa”, passando pela definição clássica de Tylor, a primeira definição de cultura do 
ponto de vista antropológico, ainda com uma perspectiva evolucionista segundo a qual haveria 
uma “escala de civilização” de onde se definiria o progresso cultural. Tal perspectiva foi 
reproduzida na Antropologia com grande ênfase, graças à influência dos estudos de Charles 
Darwin, em A origem das espécies. O evolucionismo começa a ser superado a partir dos estudos 
do alemão Franz Boas, que, radicado nos EUA, desenvolve o Particularismo Histórico (ou Escola 
Cultural Americana), “segundo a qual cada cultura segue os seus próprios caminhos em função 
dos diferentes eventos históricos que enfrentou” . O antropólogo americano Kroeber 
complementa esta definição, afirmando que cada cultura é o meio de adaptação do homem em 
relação aos diversos ambientes ecológicos, de modo que não é o aparato biológico que determina
a cultura; ao contrário, a adaptação é que exige mudanças em seu “equipamento superorgânico”.
Laraia volta a este ponto mais à frente, quando trata da questão de como a cultura influencia o 
aparato biológico humano.
O autor também chama atenção para o fato de que o surgimento da cultura depende de um 
sistema articulado de comunicação, sem o qual seria impossível a transmissão cultural, 
considerando que a cultura é um processo de acúmulo de experiências diversas transmitidas pela
comunicação.
A seguir, o autor discorre sobre as origens da cultura, apresentando algumas breves explicações 
de paleontologia humana, que destacam o desenvolvimento do bipedismo, o da habilidade 
manual e do cérebro como condições sine qua non para o surgimento da cultura. Também 
ganham enlevo as teses do antropólogo francês Lévi-Strauss, para quem a cultura surge com a 
primeira norma – a proibição do incesto – e do americano Leslie White, que associa a cultura à 
capacidade especificamente humana de gerar símbolos. Laraia também chama a atenção para o 
fato de que algumas destas teorias parecem supor que a cultura teria surgido de forma súbita, o 
que constitui um ponto de crítica para o autor, pois “a natureza não age por saltos” , o que leva 
Laraia a concluir, em seu texto, que a cultura se desenvolve gradual e ao mesmo tempo 
simultaneamente ao desenvolvimento do equipamento biológico.
Ao fim da primeira parte do livro, Laraia expõe algumas das mais importantes teorias modernas 
sobre a cultura, com base no artigo Theories of Culture, do antropólogo americano Roger 
Keesing. Este artigo divide as concepções de cultura em dois grupos: as que a consideram como 
um sistema adaptativo (linha evolucionista), e as teorias idealistas sobre a cultura, divididas em 
três outros grupos. O primeiro deles é aquele que considera a cultura como um sistema cognitivo
(antropologia cognitiva); o segundo como um sistema estruturalista (caso de Lévi-Estrauss) e o 
terceiro, como um sistema simbólico (tendência esta desenvolvida nos EUA, especialmente por 
Geertz e Schneider).]
Na segunda parte do livro, Laraia se dispõe a mostrar, de início, como a cultura condiciona a 
visão do mundo do homem. Para o autor, “o modo de ver o mundo, as apreciações de ordem 
moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são 
assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado de uma ação de uma determinada 
cultura” . Laraianos fornece um exemplo simples, mas muito eficaz, para ilustrar esta 
perspectiva – o riso. Sujeitos de diferentes culturas riem de coisas distintas e por razões 
distintas. Um índio Kaapor pode rir de susto; os japoneses por vezes riem por etiqueta; os 
americanos riem de comédia pastelão etc. Da mesma forma que o riso, o uso que se faz do corpo
também depende da cultura, como sugere o autor ao citar o artigo de Marcel Mauss, Noção de 
Técnica Corporal. Dentre os exemplos, destaca-se a diversidade gastronômica humana, de onde 
decorre que alimentos considerados saborosos e requintados em uma cultura podem despertar 
repulsa em outras. A partir desta idéia de “repulsa ao que soa estranho”, o autor chama a 
atenção par uma tendência etnocêntrica, a qual consiste, em termos gerais, em considerar cada 
um o modo de viver da sua cultura como superior aos demais.
Em seguida, Laraia retoma o tema das influências da cultura sobre o biológico, usando como 
exemplo os índios Kaapor, que crêem que a visão de um fantasma é um sinal de morte – e o 
crêem de forma tão veemente que os índios chegam a morrer. A influência da cultura sobre o 
organismo também se evidencia no surgimento de doenças psicossomáticas, ou na eficácia do 
conhecido “efeito placebo”.
Laraia coloca a seguir que os indivíduos participam diferentemente de cada cultura. O grau de 
participação de cada um numa cultura depende de inúmeros fatores, como idade, sexo, posição 
social etc. O autor fornece vários destes casos, como por exemplo, o estabelecimento de uma 
idade mínima para o voto ou para o casamento. Neste sentido, destaca também a importância de
cada um conhecer minimamente o sistema cultural no qual está inserido. È a partir destes 
sistemas que as pessoas sabem como agir, o que é lícito fazer ou não etc, de modo a se 
enquadrarem socialmente.
Laraia enfatiza também que toda cultura possui uma lógica própria, ou seja, não é possível 
deslocar a lógica de um dado sistema cultural para outro, do mesmo modo que um fato cultural 
apreende seu sentido apenas na configuração que lhe é própria, pois “a coerência de um hábito 
cultural somente pode ser analisada a partir do sistema a que pertence” . Assim, a análise de 
uma outra cultura requer um distanciamento da “cultura própria”, a fim de que as referências da 
última não sirvam de critério para as primeiras.
Ao fim do livro, Laraia expõe um último ponto: a cultura é dinâmica, de modo que nenhuma 
sociedade é estática – mesmo que o ritma de mudança de determinadas sociedades seja menos 
acelerado que de outras. Existiriam também dois padrões de mudanças – o da dinâmica que se 
efetua a partir do próprio sistema cultural e o que resulta do contato com uma outra cultura. Este
último é o que se dá de forma mais atuante na maior parte das sociedades, recebendo maior 
atenção da Antropologia. Entender a dinâmica de um sistema cultural “é importante para atenuar
o choque entre gerações e evitar comportamentos preconceituosos ”.
Finda a leitura deste ótimo livro, nota-se que ele cumpre com louvor a proposta do autor, que é a
de iniciar os interessados ao estudo da cultura. O texto de Laraia é de linguagem simples, 
acessível, mas nem por isso deixa de ser sofisticado e completo, em função não somente da 
riqueza de exemplos e citações, mas também por abordar algumas das questões mais 
significativas em torno da problemática sobre a cultura com grande eficácia e sensibilidade. 
Leitura recomendada não apenas aos estudantes de Ciências Sociais, mas para qualquer pessoa 
interessada em avançar seus conhecimentos sobre este objeto de estudo tão rico e complexo, 
que é a cultura.
Rócio Stefson Neiva Barreto
Enviado por Rócio Stefson Neiva Barreto em 03/04/2011
Código do texto: T2886834
https://www.recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/2886834 
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	Resenha crítica do livro Cultura – um conceito Antropológico, de Roque de Barros Laraia. Rio de Janeiro, Editora Jorge Zahar, 1988

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