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Disciplina RFI-5774 - PPG Fisiologia - FMRP-USP Docente: Dra Eliane Comoli Atividade de Neurofisiologia Discente: Edson dos Santos Silva 1. Para que serve um sistema circadiano? Por que é importante? Bom, para falar sobre a importância e função do sistema circadiano, irei inicialmente comentar o que é um sistema circadiano. Conceitualmente, o sistema circadiano ou ritmo circadiano é descrito como o período que de forma interna o nosso cérebro e todos os compartimentos e regiões do sistema nervoso regula os ciclos fisiológicos, sejam mudanças físicas, mentais ou comportamentais, em resposta à estímulos decorrentes do meio externo, como a mudança de luz no ambiente. Sua função e importância está associada a capacidade de otimização do gasto de energia e a manutenção da fisiologia interna do corpo, em outras palavras, o sistema circadiano é o produto de vários relógios biológicos inatos. Durante o decorrer do dia, o nosso corpo através do controle aferente e eferente de várias partes do córtex, regula a liberação de vários hormônios essências para a manutenção da homeostase, podendo influenciar na liberação de outros hormônios, hábitos alimentares e digestão, temperatura corporal e outras funções corporais importantes. A ocorrência de um desbalanço ou irregularidades desse ciclo pode ser condicional para o surgimento de algumas condições crônicas de saúde, como comorbidades do tipo, obesidade, diabetes, depressão e distúrbios do sono. 2. Discuta a regulação do relógio biológico ao ciclo claro/escuro? O relógio biológico como fonte inata para o controle das funções homeostáticas intrínsecas do corpo, dentre todos os relógios biológicos existentes, temos o que controla o ciclo claro/escuro ou sono/vigília. Esse ciclo possui uma função fundamental no controle do sono, estando associada ao fator externo, a luz ou ausência dela. É através do sono adequado que corpo é estimulado a acumular reservas de energia para os diversos processos metabólicos, consolidação da memória e assimilação de sistemas motores complexos. 3. Descreva o mecanismo molecular de regulação do relógio biológico circadiano. O mecanismo molecular associado ao relógio biológico circadiano pode ser descrito através de um modelo celular de controle dos processos moleculares denominado de Loop de feedback positivo e negativo de tradução e transcrição (Transcription Translation Oscillating - TTO), onde os próprios metabólitos produzidos na via regulam os processos de expressão gênicos. Os estímulos recebidos na superfície celular transformam-se em mensageiros secundários, como por exemplo, a ativação da proteína quinase via influxo de Ca2+, a ativação da quinase leva a sua translocação para o núcleo e fosforilação e ativação da proteína CREB, que através da interação com elementos promotores no E-box desencadeia a formação de proteínas do ciclo circadiano CLOCK e BMAL1, que formam um heterodímero funcionando com um fator de transcrição. Os genes alvos do heterodímero CLOCK - BMAL1 acionam a transcrição de genes circadianos que levam a codificação de um mRNA, que migra para o citosol para ser traduzida pelos ribossomos em proteínas Period (Per1 e Per2) e Cryptochrome (Cry1-2), essa seção é o feedback positivo. Na seção de feedback negativo, as proteínas codificadas Period (Per1 e Per2) e Cryptochrome (Cry1-2), translocam-se para o núcleo, interagindo com o heterodímero CLOCK - BMAL1, levando a inibição da sua atividade como fator de transcrição. E dessa forma, as proteínas formadas nessa via regulam a atividade de fatores de transcrição. 4. Discuta a via de controle circadiano sobre a pineal e o efeito da intensidade de luz na secreção de Melatonina. O núcleo cerebral especializado para esse processo é o núcleo supraquiasmático, localizando no hipotálamo. A comunicação através da via pineal retino-hipotalâmico é o principal mecanismo consistente do processo de claro/escuro. Durante o ciclo claro, os neurônios da retina propagam o impulso nervoso, via nervo óptico, que ativa o núcleo supraquiasmático, comunicando através do neurotransmissor GABA com núcleo paraventricular, inibindo o gânglio cervical superior e consequentemente inibindo a liberação de melatonina pela glândula pineal. A medida q a luz vai se esvaindo, ciclo escuro, a retina através de transmissão de impulso nervoso inibe o núcleo supraquiasmático, que ativa o sistema simpático a induzir sonolência, por sua vez a glândula pineal secreta melatonina na circulação, hormônio que auxilia no processo de sono. 5. Quais os processos de regulação do sono? Antes de responder a esta pergunta, vou dar um breve conceito do que é sono. Então, sono é um estado reduzido da consciência dos estímulos externos. Sendo assim, vamos descrever quais processos podem interagir e regular essa diminuição de consciência. Dois grandes processos possuem a função de regular o sono, e ambos se correlacionam de modo a induzir o aumento da necessidade em estados de privação de sono. O processo homeostático de regulação do sono, ou processo S, é dado através da pressão para dormir que se acumula em nosso corpo ao longo do dia, sendo compensado e diminuído durante o período de sono. De forma efetiva, ele lembra ao corpo que é necessário dormir. O outro processo, denominado de processo circadiano ou ritmo circadiano. É através do ritmo circadiano que processos biológicos internos são regulados, além disso, esse processo promove sonolência, ajuda a iniciar o sono e promove a vigília, sendo o fator que determina o ritmo diário do sono. 6. Discuta os sistemas moduladores neuroquímicos envolvidos no estado de vigília. Atualmente compreendemos que que as diversas e complexas interações entre os neurônios neuromoduladores subcorticais nas regiões do tronco cerebral, mesencéfalo, hipotálamo, prosencéfalo basal (BF), tálamo e córtex comunicam-se de modo a desenvolver características fisiológicas, comportamentais e eletrocorticais. As populações neuronais que promovem o estado de vigília compreendem algumas regiões como o locus coeruleus noradrenérgico (LC), a área tegmental ventral dopaminérgica (ATV), o núcleo dopaminérgico e serotoninérgico (5HT) dorsal da rafe (DRN), o núcleo tuberomamilar (TMN) histaminérgico, a coluna colinérgica tuberomaminal (TMN) e os núcleos tegmentares laterodorsais (PPT / LDT) e neurônios BF. Essas regiões comunicam-se entre si através de moduladores neuroquímicos, e para iniciar essa interação neuronal irei falar o papel de uma classe de modulador, as hipocretinas, que são neuropeptídios secretados por um conjunto de neurônios que projetam-se fortemente para várias populações promotoras de vigília no cérebro, incluindo neurônios colinérgicos do BF e tronco cerebral, neurônios noradrenérgicos do LC e neurônios dopaminérgicos da área tegmental ventral. A região do locus coeruleus (LC) é a principal fonte de transmissão noradrenérgica para o córtex. Sabendo disso e de que a liberação de noradrenalina por esta região do córtex aumenta as taxas de disparo dos neurônios piramidais e a excitação eletrocortical, a resultante seria a promoção do estado de vigília no organismo. O prosencéfalo basal (BF) é composta principalmente por um conjunto de 3 grupos neurocelulares distintos pela secreção de modulares neuroquímicos, os neurônios colinérgicos, GABAérgicos e glutamatérgicos, o montante da liberação de alguns modulares e inibição de outros, junto a interação entre o conjunto dessas populações neuronais auxilia positivamente na promoção da vigília. De forma semelhante a área tegmental ventral dopaminérgica (ATV) auxilia no estado de vigília. Essa região é composta por grupos de neurônios dopaminérgicos, GABAérgicos e glutamatérgicos, e sabe-se que durante o estado de vigília os neurônios dopaminérgicos da ATV são fortemente ativados por vários estímulos importantes, incluindo sinais sensoriais, sinais sociais e recompensas. O núcleodorsal da rafe (DRN) apresenta duas populações distintas de secretores de neuropeptídios, sendo eles os dopaminérgicos e serotoninérgicos. Os neurônios serotoninérgicos do DRN quando se encontram em excitação, foram implicados no estado de vigília e predominantemente silenciosos durante o sono NREM e REM. Uma outra região neuronal implicada na manutenção do estado de vigília é o núcleo tuberomamilar (TMN) que possui um conjunto de neurônios histaminérgicos que se excitam e disparam mais rapidamente durante a vigília atenta, reduzem suas atividades durante a vigília silenciosa e ficam em atividades diminutas ou quase ausentes durante o sono NREM e REM. A característica desses neuropeptídios capazes de propagarem o impulso nervoso e excitar ou inibir as diferentes regiões cerebrais modulam constantemente o estado de vigília. 7. Discuta os mecanismos neurofisiológicos envolvidos na transição do estado de vigília para sono NÃO-REM. O estado de sono/vigília como descrito anteriormente se dar através do equilíbrio entre dois processos, o homeostático e o circadiano. A nível neurofisiológico temos que vários processos são ocorridos de maneira reciproca entre as regiões cerebrais que promovem no organismo o estar acordado ou ter sono. O estado de vigília que é mantido através da capitação de luz pela retina e inibido pela ausência da mesma, como comentando anteriormente na questão 4, onde a falta de secreção de GABA favorece a liberação de melatonina, sendo uma das fases iniciais para o processo de indução de sono. Anteriormente na questão 6 comentei sobre o processo de modulação do estado de vigília e como os circuitos juntamente com os neuropeptídios envolvidos nesse estado corroboram de modo a produzir o estado de vigília. É importante frisar que é a diferença no padrão de descarga neuronal que trafega a transição entre o sono e vigília, e consequentemente, entre vigília e sono NÃO-REM. Uma forma exemplar de identificar essa afirmação é sabendo que durante o estado de vigília a atividade aminérgica elevada ativa o circuito tálamo-cortical, contudo essa ativação é diminuída durante o sono NREM. Além disso, as vias GABAérgicas são altamente excitadas, inibindo as regiões de interação cortical do estado de vigília descritas anteriormente, promovendo o estado NREM do sono. 8. Explique como se reverte o estado de sono NÃO-REM para a vigília? Um outro ponte de vista para essa pergunta seria desse modo, como despertamos? Diante disso, a transição entre o estado de sono e vigília é tida através da interação entre componentes corticais e sua integração com a percepção sensório-motora. A integração dos sinais externos com os internos e a modulação através de neuropeptídios causa a reversão do estado NREM para vigília, em outras palavras, e como discutido na questão anterior, o estado de sono NREM é caracterizado pela ativação das vias GABAérgicas que são inibitórias das regiões de interação cortical do estado de vigília. Os estímulos sensórias percebidos podem interagir com a SARA ativando-a e promovendo a estimulação cortical de áreas excitatórias do estado de vigília, como as hipocretinas que juntamente com núcleos neuronais aminérgicos e colinérgicos estimulam a transição do sono NREM para a vigília. 9. Discuta o possível papel da adenosina na promoção do sono. Como descrito nas questões anteriores, existem várias áreas do cérebro com a função de promover o estado de sono, como o hipotálamo, o prosencéfalo basal (BF) e a mesopontina. A adenosina é produto da clivagem de ATP em cAMP, além da desfoforilação de ATP, ADP e AMP. Sabe-se que a adenosina se acumula em regiões estimuladoras do estado de vigília durante o dia, como o prosencéfalo basal (BF) e o córtex, áreas colinérgicas excitatórias, nessas regiões a adenosina inibe os neurônios colinérgicos e agem em conjunto com os neurônios GABAérgicos para promover o estado de sono. 10. O que é envelhecimento? Diferencie senescência e senilidade. O envelhecimento como um processo biológico natural é descrito como um declínio nos sistemas fisiológicos, tanto a nível molecular e celular, como a nível tecidual e de sistemático em decorrência do aumento da idade. O envelhecimento é característico de diversos fatores como o aumento do dano ao DNA, o aumento de liberação de espécies reativas de oxigênio - ROS, que é causado pelos danos mitocondriais, encurtamento dos telômeros entre outros. O senescência é decorrente do processo de envelhecimento gradual, progressivo e fisiológico do corpo e seus sistemas, enquanto que senilidade é resultado de um processo de envelhecimento em virtude de uma condição patológica crônica. 11. Quais as principais alterações no cérebro do idoso durante o processo de senescência? O envelhecimento cognitivo é fruto de diversos fatores, acarretado por mudanças físicas, químicas e cognitivas. Com o aumento da idade o nosso corpo adota uma característica peculiar muito importante, um estado chamando de inflammaging, um estado casal de inflamação sistêmica, nesse estado passamos a ter um processo inflamatório crônico basal acentuado e maior que o “norma”, possibilitando a suscetibilidade de doenças neurodegenerativas como Mal de Alzheimer por exemplo. Isso pode acarretar em uma mudança física no cérebro que seria a diminuição de volume e peso da massa cerebral reduzindo o número de sinapses, deterioramento da bainha de mielina pelo processo inflamatório basal das células. O processo de morte neuronal ocasiona distúrbios e perdas cognitivas, sensitivas e motoras e afeta a capacidade de memória, além dos níveis de serotonina, dopamina, acetilcolina, noradrenalina e GABA serem inversamente proporcional com o aumento da idade. 12. Quais as principais alterações no sistema circadiano relacionadas à idade e suas consequências? Assim como outros sistemas e processos fisiológicos sofrem alterações decorrentes do envelhecimento biológico do corpo, o sistema circadiano também é afetado. Atividades como os padrões de vigília/sono mudam acentuadamente à medida que nosso corpo envelhece. A perda da precisão temporal juntamente com diminuição da retina de receber estímulos da luz ou ausência da mesma leva a redução da amplitude da atividade elétrica dos neurônios, que por sua vez causa distúrbios na hora de dormir e de acordar, podendo esta correlacionado com a diminuição da produção de hormônios estimuladores do sono, desregulando a sua liberação, como a melatonina. As mudanças nas regiões cognitivas irão ser refletidas sistemicamente, ou seja, as alterações no ciclo de claro/escuro que altera o ciclo sono/vigília, altera a produção e secreção de diversos hormônios, tanto envolvidos com processos neuronais, como envolvidos com processos metabólicos, relacionados a suscetibilidade e surgimento de diversas comorbidades, como a obesidade. 13. Discuta a histopatologia no Mal de Alzheimer. O Mal de Alzheimer é uma patologia de caráter neurodegenerativo acarretado pelo processo de envelhecimento patológico, resultando muitas vezes em deficiência progressiva e incapacitação cognitiva, motora e sensorial. Histopatologicamente, O Mal de Alzheimer pode ser caracterizado pela consistente perda sináptica e morte neuronal de algumas regiões vinculadas as funções cognitivas como o córtex cerebral e o hipocampo, entre outras. A formação de depósitos fibrilares localizados nas paredes dos vasos sanguíneos associados a diversa variedade de placas senis, impedindo a irrigação e nutrição do tecido cerebral e promovendo uma atrofia cortical difusa, além da ativação da glia a processos inflamatórios, são algumas das características da doença no contexto histopatológico. 14. Quais os sintomas do Mal de Alzheimer e como surgem ao longo da evolução da doença? O estagio inicial do Mal de Alzheimer, um dos principais sintomas são os lapsos de memória, ou seja, nos estágios precoces a pessoa pode esquecer conversas,extraviar itens, esquecer nomes de lugares, achar difícil tomar decisões entre outros. A medida q a patologia se agrava, os sintomas tendem a piorar como, aumento da confusão e desorientação, comportamento impulsivo e obsessivo, problemas de fala, mudanças de humor e até mesmo alucinações, além disso, é necessário o apoio de uma pessoa para auxiliar na vida cotidiana, destacando a fase intermediaria. O processo de progressão para uma fase avançada da doença leva a piora do quadro, sendo de suma importância a ajuda para tudo em tempo integral. As alucinações e delírios aumentam intensamente, hostilidade e violência também são agravadas, dificuldade de comer e engolir, perca de peso, perda gradual da fala entre outros. 15. O que é neurogênese? Em que fase da vida ocorre e em quais áreas cerebrais? Processo pelo qual se obtém a formação novos neurônios originados a partir de células-tronco e células progenitoras neuronais. Esse processo é extremamente crucial e dar-se inicio durante o desenvolvimento embrionário, aproximadamente na 3° semana de desenvolvimento, com o início da formação da placa neural, contudo pode continuar em certas regiões do cérebro após o processo de nascimento até a vida adulta. A neurogênese pode ocorrer em diversas regiões do cérebro, como a zona subgranular do giro dentado no hipocampo e a zona subventricular dos ventrículos laterais.
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