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FACULDADE QUALITTAS ALEXANDRA MATTIAZZO RELATO DE CASO TRATAMENTO DE PENFIGO FOLIACEO EM FELINOS COM CICLOSPORINA SÃO PAULO 2019 FACULDADE QUALITTAS ALEXANDRA MATTIAZZO RELATO DE CASO TRATAMENTO DE PENFIGO FOLIACEO EM FELINOS COM CICLOSPORINA Trabalho monográfico de Clínica Médica e Cirúrgica de Felinos - Qualittas (TCC), apresentado à FACULDADE QUALITTAS como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Clínica Médica e Cirúrgica de Felinos, sob a orientação do Professor Dr. José Carlos Sabino de Almeida Fêo e Co-orientação da Méd Vet.Esp. Fernanda Manaia Martins SÃO PAULO 2019 AGRADECIMENTOS Primeiramente eu agradeço a Deus por ter me concedido o dom da medicina e por permitir que eu me tornasse médica veterinária, pois eu sei que sem Ele nada disso seria possível e por ter me proporcionado a vida, por ter me dado forças e sabedoria para realizar este sonho. Agradeço aos meus pais, por me apoiarem. Agradeço a minha grande amiga e irmã Lia Roth Kauffman por me inspirar a procurar os “porquês” das coisas me conduzindo ao mundo do conhecimento.Agradeço aos meus colegas, pelos maravilhosos momentos e inexplicáveis lembranças que carregarei durante o curso. Agradeço ao meu paciente querido Barba Negra, meus professores, que sempre tentaram ao máximo passar todo o conhecimento que eles têm para todos nós alunos, e também pelo laço de amizade que com certeza carregarei em minha vida. Agradeço aos felinos que tanto amo por me inspirarem a cada momento, mesmo não expressando verbalmente seus sentimentos, nós sabemos que são únicos como cada um deve ser, e por nos deixar amá-los e por confiar suas vidas em nossas mãos. “Deus nos fez perfeitos e não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos. Fazer ou não fazer algo só depende de nossa vontade de perseverança.” (Albert Einstein) RESUMO O termo Penfigo é derivado da palavra grega significando bolha, sendo o nome dado ao grupo de afecções dermatológicas causadas por processo patológico auto imune. ¹ As afecções cutâneas do pênfigo se caracterizam pela presença de auto- anticorpos que reagem com antígeno presente nos espaços intercelulares, entre as células epidérmicas. Atualmente, existem quatro variantes do pênfigo identificadas: foliáceo, eritematoso, vulgar e vegetante. Embora os distúrbios do pênfigo sejam classificados como dermatoses bolhosas, a apresentação clinica das lesões cutâneas e variável, compondo-se de erupções vesículo bolhosas, ulcerações cutâneas, lesões esfoliativas, e proliferações verrucosas da pele. Cada afecção do pênfigo caracteriza-se pela deposição de imunoglobulinas dentro dos espaços intercelulares da epiderme, formação de acantocitos e de fendas.Odiagnóstico das afecções cutâneas do pênfigo baseia-se nos exames histológicos e imunológico de biopsias cutâneas. ² Os imunossupressores são drogas que agem na divisão celular e têm propriedades anti-inflamatórias. Sendo assim, são essencialmente prescritos no tratamento das doenças autoimunes como o pênfigo. O objetivo de qualquer terapia médica é proporcionar cura e/ou alívio de doenças com o menor dano possível ao paciente felino. ABSTRACT The term Penfigo is derived from the Greek word meaning bubble, being the name given to the group of dermatological affections caused by autoimmune pathological process. ¹ The cutaneous affections of pemphigus are characterized by the presence of autoantibodies that react with antigen present in the intercellular spaces, between the epidermal cells. Currently, there are four variants of the pemphigus identified: foliaceous, erythematous, vulgar and vegetative. Although pemphigus disorders are classified as bullous dermatoses, the clinical presentation of the cutaneous lesions is variable, consisting of blistering vesicle eruptions, cutaneous ulcerations, exfoliative lesions, and verrucous proliferations of the skin. Each condition of pemphigus is characterized by the deposition of immunoglobulins within the intercellular spaces of the epidermis, formation of acanthoscytes and crevices.² The diagnosis of skin diseases of pemphigus is based on the histological and immunological exams of cutaneous biopsies. Immunosuppressants are drugs that act on cell division and have anti- inflammatory properties. Thus, they are essentially prescribed in the treatment of autoimmune diseases such as pemphigus. The goal of any medical therapy is to provide healing and / or relief of diseases with the least possible harm to the feline patient. LISTA DE FIGURAS E TABELAS Figura 01 ..................................................................................................... 17 Figura 02 ..................................................................................................... 18 Figura 03 ..................................................................................................... 18 Figura 04 ..................................................................................................... 19 Figura 05 ..................................................................................................... 20 Figura 06 ..................................................................................................... 21 Figura 07 ..................................................................................................... 21 Figura 08 ..................................................................................................... 22 Figura 09 ..................................................................................................... 23 Figura 10 ..................................................................................................... 24 Figura 11 ..................................................................................................... 25 Figura 12 ..................................................................................................... 26 Figura 13 ..................................................................................................... 27 Figura 14 ..................................................................................................... 27 Figura 15 ..................................................................................................... 28 Figura 16 ..................................................................................................... 28 Tabela 01 .................................................................................................... 12 SUMÁRIO RESUMO ......................................................................................................... v ABSTRACT ...................................................................................................... vi LISTA DE FIGURAS E TABELAS ................................................................... vii 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 09 2. PRINCIPAIS DIFERENCIAIS ...................................................................... 11 3. TRATAMENTO ............................................................................................ 11 3.1 CICLOSPORINA ........................................................................................ 12 4. RELATO DO CASO ..................................................................................... 16 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................... 29 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................32 9 1. INTRODUÇÃO Pênfigo foliáceo e uma moléstia ato imuneincomum (as afins) da pele e em, alguns casos das membranas mucosas, formando o que e conhecido complexo do pênfigo. O complexo pênfigo ocorre em seres humanos, cães e gatos, mas raramente em outras espécies. Esses distúrbios têm, em comum, o desenvolvimento de auto-anticorpos, tipicamente IgG, contra componentes de desmossomos e moléculas glicoproteicas de superfície dos queratinócitos da pele e, em alguns casos, das membranas mucosas oral e genital. Quando esses anticorpos se ligam aos antígenos intercelulares, as células epidérmicas internalizam o complexo antígeno anticorpo, o que faz com que os queratinócitos afetados sintetizem e secretam o ativador do plasminogênio, uma protease extracelular. Essa enzima converteo plasminogênio (uma pra enzima plasmática) atéplasmina, que catalisa aa hidrolise das ligações peptídicas das proteínas. Essa atividade leva a destruição dos processos dos processos de adesão intracelular, fazendo com que as células se separem entresi, assumam uma forma esférica e fiquem flutuando livremente numa vesícula ou pústula epidérmica. Esse processo e conhecido como acantólise, que, numa interpretação literal, significa “análise dos espinhos” – nesse caso, os desmossomos da camada espinhosa. O citoplasma dos queratinócitos esferoides tipicamente torna-se mais eosinófilo que o dos queratinócitos normais, mas sua morfologia nuclear permanece inalterada, indicando que essas células ainda estão viáveis. Essas células livremente flutuantes são conhecidas como queratinócitos acantoliticos, constituindo-se na pedra angular microscópica do complexo do pênfigo das moléstias cutâneas. Os quatro distúrbios que compreendem o complexo do pênfigo diferem entre si em sua gravidade clínica, distribuição anatômica das lesões macroscópicas, local de deposição dos auto anticorpos no interior do epitélio (subcorneais versus supra basais), e natureza das lesões microscópicas que se formam (ou seja, vesículas versus pústulas). 10 O citoplasma dos queratinócitos esferoides tipicamente torna-se mais eosinófilo que o dos queratinócitos normais, mas sua morfologia nuclear permanece inalterada, indicando que essas células ainda estão viáveis. Pênfigo foliáceo, a forma mais comum do complexo do pênfigo em animais, tem sido descrito predominantemente em cães e gatos de meia-idade, e raramente em cavalos. Os coxins plantares frequentemente estão espessados, endurecidos, e podem conter fendas e fissuras abertas e dolorosas. Outras áreas da pele podem estar ocasionalmente envolvidas. Raramente são afetadas as junçõesmuco cutâneas e superfícies mucosas. Em geral as lesões ocorrem em ondas de muitas vesículas e pústulas, que rapidamente ficam cobertas por crostas que rapidamente sofrem esfoliação. Nessa forma o pênfigo, os auto anticorpos que consistem de IgG ou (raramente), IgM e complemento (C3) são tipicamente depositados nas áreas intracelulares da camada granular superficial Da epiderme, onde aquelas moléculas irão causar a formação de pústulas subornais ou intragranulares amplas e discretas, que podem abranger muitos folículos pilosos, envolvendo seus infundíbulos. As pústulas contem grandes quantidades de neutrófilos, quantidades variáveis de eosinófilos e um número disseminado de queratinócitos acantoliticos livremente flutuantes. As primeiras lesões de espongiose, acantólise, ativa, e vesículas podem estar presentes nos locais adjacentes as pústulas mais avançadas. Considerando-se que a etiologia das afecções cutâneas do pênfigo esteja ligada a secreção inadequada de auto-anticorpos que exibem especificidade para antígeno epidérmico intercelular ³. Desconhecemos o antígeno definitivo para o qual estão dirigidos os auto-anticorpos com a substancia epidérmica intercelular leva a ocorrência de acantólise (perda de coesão entre as células epidérmicas e seu subsequente aspecto arredondado) e a ativação do complemento. Durante a reação em cascata associada a dutos da divisão do complemento, e entre estes produtos, os mais importantes parecem ser C3a e C5a. O produto da divisão do complemento C5a e quimiotáxico para neutrófilos, resultando no acumulo destas células dentro da epiderme. Os 11 produtos da divisão do complemento C3a e C5a são anafilotoxinas, sendo capazes da indução da degranulação dos monócitos, o que resulta na liberação de aminas vasoativas e do fato quimiotáxico dos eosinófilos. A liberação de aminas vasoativas resulta num aumento da permeabilidade dos capilares e em edema, enquanto que o fator quimiotáxico dos eosinófilos leva ao acumulo focal destes células. Geralmente, acredita-se que, em conjunto, estes eventos sejam responsáveis pelo desenvolvimento das pústulas intra- epiteliais, contendo neutrófilos ou eosinófilos. O complexo pênfigo e um grupo de doenças auto-imunes raro descrito em cães e gatos que se caracteriza por alterações vesicobolhosas a postulares da pele ou das mucosas. 2. PRINCIPAIS DIFERENCIAIS Demodicose, piodermatite superficial, dermatofitose, lúpus eritematoso sistêmico, dermatose pustularsubcorneana, erupção medicamentosa, dermatomiosite, dermatose responsiva ao zinco, linfoma epteliotrópico cutâneo, eritema migratório necrolítico cutâneo, eritema migratório necrolítico superficial, hipersensibilidade à picada de mosquito ( gatos). 3. TRATAMENTO Para tratamento de pênfigo administrar por via oral, doses imunossupressoras de prednisona ou metilprednisolona diariamente (tabela 1). Após a cura das lesões (aproximadamente 2 a 8 semanas) reduzir gradativamente a dose ao longo de um período de varias semanas (8 a 10), até que alcance a dose mínima de manutenção eficaz, em dias alternados. Caso não ocorra melhora significativa dentro de 2 a 4 semanas após o inicio do tratamento exclusa a possibilidade do uso de frogas imunossupressoras alternativas e/ou adicionais. 12 Esteróides alternativos para refratários incluem triancinolona e dexametasona (tabela 1). Embora a terapia glicocorticoide isoladamente possa ser eficaz, as doses necessárias podem provocar efeitos colaterais indesejáveis. Por isso, provocar efeitos colaterais indesejáveis. Por isso, normalmente, recomenda-se o uso de drogas imunossupressoras não esteroidais, isoladamente ou em associação com glicocorticoides, para um período de manutenção longo. As drogas imunossupressoras não esteroidais que podem ser eficazes incluem a azatioprina (apenas em cães), clorambucila, aurotioglicose, ciclospirina, ciclofosfamida (tabela 1). Uma resposta benéfica deve ser observada dentro de 8 a 12 semans após o inicio do tratamento. Uma vez alcançada a remissão tente diminuir gradativamente a dose de frequência da droga imunossupressora não- esteroidal, para manutenção de longa duração. Droga Espécie Dose de indução Dose de manutenção Prednidolona Gatos 1 a 3 mg/kg/12h VO 0,5 a 2mg/Kg/48 H VO Metilprednisolona Gatos 0,8 a 2,4 mg/Kg/12h/VO 0,4 a 1,6 mg/Kg/48h VO Ciclosporina Gatos 2,5 a 5 mg/Kg/12h VO Desconhecido Tabela 01 3.1 CICLOSPORINA Pertencente à família dos inibidores da calcineurina, a ciclosporina foi inicialmente liberada pela FDA em 1983, para profilaxia de rejeição de transplante de órgãos. Posteriormente, foi aprovada para ser utilizada em artrite reumatoide e psoríase.20 Ela age como uma pró-droga, pois fica inativa até se ligar ao seu receptor citoplasmático conhecido como ciclofilina. Dentro das células T, o complexo ciclosporina-ciclofilina inibe a atividade da fosfatase calcineurina responsável pela desfosforilação de fatores nucleares de linfócitos T ativados. A desfosforilação permite a translocação do fator nuclear de células T ativadas do citoplasma para o núcleo, ativando as célulasT e levando à produção de 13 citocinas, como IL-2 e IFNγ. Isso explica por que as células T são particularmente sensíveis aos efeitos inibitórios da ciclosporina. Alguns estudos demonstram que a inibição da calcineurina afeta diretamente a proliferação de queratinócitos. Sendo assim, a ciclosporina inibe a liberação de citocinas, a ativação de linfócitos, a liberação de mediadores de mastócitos, a proliferação e a secreção de citocinas por queratinócitos, além de ter um importante efeito anti-inflamatório. Em contraste com outras drogas imunossupressoras com ação citotóxica, a ciclosporina não suprime a medula óssea e não apresenta risco de teratogenicidade. Após ingestão, a ciclosporina apresenta biodisponibilidade entre 30% e 35%, com um pico de concentração que varia de duas a quatro horas. Ao ganhar a corrente sanguínea, a droga é metabolizada no fígado pelo citocromo P450 3A4, tendo como principal via de excreção a bile. Pacientes com insuficiência hepática podem ter o tempo de meia-vida aumentado, necessitando de ajuste da dose. A ciclosporina é indicada nos casos de: psoríase (eritrodérmica, artropática, pustulosa, recalcitrante, "social"); dermatite atópica;21 hidrosadenite supurativa; doença de Behçet; colagenoses; líquen plano;22 síndrome de Sweet; alopecia areata;23 pioderma gangrenoso.24,25 Apresenta algumas contraindicações absolutas, como hipertensão arterial de difícil controle, disfunção renal, linfoma de células T, e algumas relativas, como hipertensão arterial controlada, gravidez e/ou lactação, infecção ativa, uso concomitante de outros imunossupressores, enxaqueca. Pacientes sob risco de eventos adversos são: idosos, obesos, diabéticos, hipertensos e usuários de álcool. Antes do início do tratamento, os seguintes exames laboratoriais precisam ser feitos: hemograma completo; sódio, potássio, cálcio, magnésio, ácido úrico, glicemia; lipidograma; ureia e creatinina (três dosagens);35 hepatograma; sorologias (hepatites, HIV, HTLV-1); βhCG; elementos anormais e sedimentos 14 urinários; spot urinário, clearance de creatinina; exame parasitológico de fezes; radiografia de tórax; USG de lojas renais; PPD; exame ginecológico. A ciclosporina é apresentada em cápsulas (de 10mg, 25mg, 50mg e 100mg) e solução oral de 100mg/ml. Esta última constitui boa opção para crianças e deve ser diluída em suco de laranja, de maçã ou em refrigerante, imediatamente antes da ingestão, evitando-se o leite. Recomenda-se dose diária entre 3mg5mg/kg/dia, dividindo-a em duas tomadas25, com as refeições. Assim, um paciente que não apresente risco de interações medicamentosas poderá fazer uso de dose mais elevada, enquanto outro, que corra esse risco, deverá utilizar dose mais baixa. Algumas considerações sobre a experiência com o uso da ciclosporina são, preferencialmente, não ultrapassar oito a 12 meses de uso ininterrupto, utilizar na fase aguda da dermatose27, realizar terapia rotacional com outros medicamentos, reduzir lentamente de acordo com a melhora clínica, para evitar rebote (reduzir 0,5mg/kg a cada 15 dias) e fazer manutenção com pulsos (ao atingir dose baixa, 1,5mg2mg/kg/dia, fazer a dose acumulada de três dias e deixar os próximos dois dias sem medicação). Faz-se o acompanhamento do tratamento pela aferição da pressão arterial a cada consulta, dosagem quinzenal da creatinina no primeiro mês, além de hemograma, dosagem de escórias nitrogenadas, elementos anormais e sedimentos urinários, eletrólitos, hepatograma, ácido úrico e lipidograma mensais. Caso ocorra aumento da pressão arterial (diastólica > 90mmHg ou sistólica > 140mmHg), deve-se repetir após duas semanas a aferição. Se a pressão arterial persistir elevada, será necessário reduzir a dose em 25%-50% e avaliar a introdução de anti-hipertensivo. Em relação aos níveis de creatinina, caso haja elevação maior que 30% do valor basal, será preciso repetir o exame após duas semanas. Se os valores se mantiverem elevados, a dose deverá ser reduzida em 1mg/kg. Após um mês com a dose reduzida, a creatinina deverá ser reavaliada: 1) se tiver retornado aos valores normais, continuar a terapia com ciclosporina; 2) caso o aumento tenha se perpetuado, suspender o tratamento. 15 Outra avaliação importante a realizar é a dosagem da ciclosporinemia (solicitar os níveis de ciclosporina sanguínea matinal antes da ingestão da próxima dose, ou seja, em C zero, o que irá traduzir os níveis da droga nas últimas 12 horas). Convém que esse exame seja solicitado quando da ocorrência de melhora mais rápida do que o esperado, na ausência de resposta terapêutica, na vigência de alteração laboratorial importante ou na possibilidade de interação medicamentosa. Quanto às interações medicamentosas, é importante considerar o uso de drogas que interferem na enzima P450 que podem tanto aumentar (diltiazem, verapamil, macrolídeos, fluoroquinolona, amiodarona, antifúngicos, cimetidina, fluoxetina), quanto reduzir (rifampicina, fenobarbital, carbamazepina, griseofulvina)28 os níveis de ciclosporina no plasma. O corticosteroide, por sua vez, gera aumento nos níveis de ciclosporina, assim como a furosemida e diuréticos tiazídicos. Os principais possíveis eventos adversos são hipertensão arterial e nefrotoxicidade. Esta pode ser aguda, em consequência de uma alteração funcional dose-dependente40 (vasoconstrição da arteríola aferente), ou crônica, com alteração estrutural (microangiopatia obstrutiva e fibrose intersticial relacionada à hipertensão e toxicidade da droga). A nefrotoxicidade crônica pode ocorrer na ausência de alterações nos níveis pressóricos ou de creatinina, sendo evidenciada por redução na ecogenicidade do parênquima renal mediante a ultrassonografia. Logo, quando se utiliza a ciclosporina por mais de um ano, deve-se solicitar avaliação pelo nefrologista para pesquisa de possíveis áreas de fibrose e, caso necessário, realizar biópsia renal. Entre os fatores de risco para o dano renal estão: dose diária maior que 5mg/kg, creatinina maior que 30% da basal, elevação da pressão arterial e idade avançada. 16 4. RELATO DO CASO Um felino macho, sem raça definida, bicolor preto e branco, pelo curto,com seis anos, 3 Kg, foi atendido na clínica veterinária apresentando manchas eritematosas em Julho de 2017, sendo relatado à anamnese que haviam apenas as lesões pequenas, demais sinais clínicos sem alterações, tutor adquiriu o gato desde filhote. Após um mês alesão progrediu para a face causando alopecia, e na sequencia agravando-se, continuou a se espalhar, apresentando crostas, pústulas, alopecia e prurido intenso, o comportamento do animal começou a se alterar apresentando perda de peso e hiporexia. Foi tratado com prednisolona 0,5 mg/Kg Sid por 10 dias, porem a lesão continuou progredindo. Em 24/09/2017 a lesão se estendeu para os membros anteriores e nos ergos surgiram abcessos que não respondiam ao tratamento, realizado biopsia dos ergos direito e esquerdo no laboratório Oswaldo Cruz. Após resultado do exame anátomo patológico da peça foi diagnostica com Pênfigo Foliáceo. A lesão em membros agravou e se espalhou pelo corpo apresentando descamação cutânea e rarefação pilosa. A prescrição da medicação foi alterada para a dose de 2mg/Kg Bid e os sintomas evoluíram para membros agravou e se espalhou pelo corpo apresentando descamação cutânea e rarefação pilosa. Foi administrada cefalexina 22 mg/Kg tid 10 dias, Omeprazol 1,0 mg/Kg Sid 10 dias, Prednisolona0,5mg/Kg Bid. Realizou-se terapia com Ozonio nas lesões dos membros e não se observou melhora. Após tratamento com 5 mg de prednisolona no mês de novembro, a dose foi alterada para 7 mg (2mg/kg) no qual iniciou-se uma paralisia da evolução das lesões e que após 60 dias foram controladas porem sempre presentes. Ao exame bioquímico observou-se alterações porem s emsintomatologia. Após surgirem novas lesões e dos sintomas de letargia, falta de apetite, irritabilidade, perda de peso e pelos eriçados foi feito desmame da 17 prednisolona e concomitantemente administrado ciclosporina 5m/Kg SID no mês 05/2018. Em 11/05/2018 foram solicitados exames para acompanhamento dos parâmetros bioquímicos. O animal começou a progredir, conforme relato do tutor nos primeiros 15 dias já demonstrou maior atividade, mais apetite, passou a brincar coisa que não era pratica dele, dormia menos e iniciou ganho de peso. As lesões foram evoluindo rapidamente, o ganho de peso consideravelmente para 4.2 Kg. Em 13/12/2018 o animal não apresenta mais lesões cutâneas, ganhou peso 5.5Kg, alterou o comportamento para ativo e brincalhão, a dose da ciclosporina está em 20 mg SID a cada 3 dias, observou-se que o espaçamento da medicação mantem os sintomas, a única observação é que o pelo fica mais áspero porem sem mais alterações, se a dose for contínua o pelo fica sedoso. Figura 01: A lesão progrediu acometendo toda pina e face no mês subsequente. 18 Figura 02: A lesão continuou a se espalhar, apresentando crostas, pústulas, alopecia e prurido intenso . Figura 03: Em 24/09/2017 a lesão se estendeu para os membros anteriores e nos ergos surgiram abcessos que não respondiam ao tratamento, realizado biopsia dos ergos direito e esquerdo. 19 Figura 04: A lesão em membros agravou e se espalhou pelo corpo apresentando descamação cutânea e rarefação pilosa. 20 Figura 05: Em 25/10/2017 a lesão afetou as unhas, formando crostas e secretando pus, na cabeça surgiram lesões purulentas, um mês após esse quadro iniciaram a descamação dos coxins, o tratamento foi realizado com 5 mg de prednisona. 21 Figura 06. Após tratamento com 5 mg de prednisolona no mês de novembro, a dose foi alterada para 7 mg (2mg/kg) porem não surtiu efeito. Figura 07 22 Figura 08: Laudo Anatomo Patológico Laboratório Oswaldo Cruz 23 Figura 09: Exames 24 Figura 10: Exames 25 Figura 11: Exames 26 Figura 12: Exames 27 Figura 13: Após surgirem novas lesões e dos sintomas de letargia, falta de apetite, irritabilidade, perda de peso e pelos eriçados foi feito desmame da prednisolona e concomitantemente administrado ciclosporina. Figura 14: Após a administração de ciclosporina as lesões regrediram rapidamente. 28 Figura 15: Tratamento somente com a ciclosporina, animal apresentou melhora no comportamento, ficou ativo, apetite normalizou e ganhou peso. Figura 16: Felino, macho, sem raça definida (SRD), seis anos de idade, 13/12/2018 após tratamento com Ciclosporina. 29 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES O hemograma revelou no eritrograma uma anemia macrocítica normocrômica e no leucograma uma neutrofilia com desvio a esquerda regenerativa. No perfil bioquímico creatinina e uréia apresentavam-se dentro dos parâmetros normais, já a GGT se apresentou bem levada. No ultrassom não foi observado alterações nos órgãos, apenas líquido livre na cavidade abdominal. A análise do líquido cavitário revelou tratar-se de exsudato séptico. O felino foi tratado inicialmente com fluidoterapia, antibióticoterapia, antiinflamatórios não esteroidais, e corticóides. O animal veio a óbito dois dias após a sua internação. O mesmo foi encaminhado para a necropsia, com a autorização do proprietário. Na necropsia, havia cerca de 300 ml de líquido viscoso e amarelado na cavidade abdominal, com grande quantidade de filamentos de fibrina, os quais também estavam aderidos a vísceras como fígado, baço e omento. Os demais órgãos sem alterações macroscópicas. Para a histopatologia, foram coletados pulmão e rim. O pulmão apresentava áreas de fibrina de espessura variável que continha restos celulares sobre uma pequena camada de neutrófilos. Foram observadas áreas de vasculite granulomatosa. Os rins exibiam áreas focais de necrose e um pequeno foco granulomatoso na região cortical. O infiltrado inflamatório era composto por macrófagos, plasmócitos e linfócitos. Pequenas áreas de vasculite granulomatosa podiam ser visualizadas. As lesões macro e microscópicas foram compatíveis com peritonite infecciosa felina na forma efusiva. Muitos gatos infectados emitem o coronavírus, durante um ou dois meses, desenvolvem uma resposta imunitária, eliminam o vírus e permanecem saudáveis. No entanto, alguns animais desenvolvem a PIF como conseqüência da mutação viral. Os fatores predisponentes a essa mutação são principalmente hereditariedade, estado geral do animal, idade, stress, entre outros (NORSWORTH, 2004). A possível causa pelo qual o animal adquiriu PIF foi a um stress envolvendo a gestação. A PIF pode ser efusiva, como no caso desse paciente, caracterizada por serosite fibrinosa e por derrames abdominais e ou torácicos, e não efusiva apresentando lesões piogranulomatosas em 30 órgãos parenquimatosos, sistema nervoso central e olhos (GASKELL; BENNET, 2001). A forma efusiva da doença deve ser diferenciada de peritonite bacteriana, piotórax, colangitelinfocítica, doença cardíaca, neoplasias, doença renal e hepática, pancreatite, esteatite e obstrução da veia cava caudal (SILVA, 2008). Não existe um indicador suficientemente seguro para confirmar o diagnóstico da PIF, antemorte, somente através de exames histopatológico do tecido. Há controvérsias em relação ao uso da sorologia para diagnóstico porque as provas não são capazes de distinguir os anticorpos do coronavírus entérico felino dos vírus da PIF. A técnica RT-PCR detecta o genoma do coronavírus felino, indicando a presença do vírus, porém é de difícil interpretação (NORSWORTHY, 2004; CARDOSO, 2007). Neste caso, foi diagnosticado PIF, através dos dados clínicos unidos aos achados laboratoriais e histopatológicos. Até o momento não existe um tratamento especifico para PIF e sim tratamento paliativo, com glicocorticóides e ciclofosfamida para produzir uma imunossupressão (LAPPIN, 2010). A PIF não é controlada facilmente, requer a eliminação do vírus do ambiente, através de alto padrão de higiene, quarentena, medidas imunoprofiláticas e, principalmente, manejo dos filhotes filhos de mães soropositivas para coronavírus felino (LAPPIN, 2006; SILVEIRA, 2009). Conclusão Pode-se concluir com este trabalho animais adultos também podem ser afetados pela PIF. Além disso, fatores estressantes, como estro, gestação, parição e amamentação, podem contribuir para a entrada/replicação do vírus nos felinos. É importante que os clínicos estejam cientes desta enfermidade, pois apesar de sua baixa morbidade, tem alta taxa de mortalidade. Referências CARDOSO, D. P. 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