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Ciências Forenses ao alcance de todos - Vol. 3 1ª Edição Coleção Perito Criminal Vol. 3 Organização e Edição Dr. Gustavo Agostini Coordenação Dr. Wilson S. de Azevedo Filho Dra. Rute T. da Silva Ribeiro São Paulo 2017 SUMÁRIO Apresentação 4 Professores e Alunos 5 Capítulo I A Teoria de Locard e o Reconhecimento de Evidências: a Perícia a Serviço da Persecução Penal 7 Capítulo II Introdução à Balistica Forense 59 Capítulo III Introdução à Botânica Forense 83 Capítulo IV A Mente Criminosa dos Serial Killers e Psicopatas 113 Capítulo V Epidemiologia do Esgoto: Determinação Indireta do Consumo de Drogas por uma População 139 Capítulo VI Acidentes de Trânsito: Fatores a Serem Considerados para o Cálculo da Velocidade 171 Capítulo VII A Constitucionalidade da Inclusão e Manutenção de Perfil Genético de Condenados por Crimes Hediondos em Banco de Dados Estatal. 197 Capítulo VIII Formigas (Hymenoptera: Formicidae) de Importância Forense no Rio Grande do Sul - Brasil 213 — APRESENTAÇÃO — As ciências forenses envolvem um conjunto de disciplinas e tecnologias científicas admissíveis como provas nos tribunais. Essas ciências se encontram em contínua expansão e suas metodologias, tecnologias e disciplinas permanecem em constante aperfeiçoamento. A elaboração deste livro surgiu da idéia de popularizar e difundir os temas dos trabalhos de conclusão de curso (TCC) abordados pelos alunos do Curso de Especialização Lato Sensu em Perícia Criminal da Universidade de Caxias do Sul. Os TCCs foram produzidos pelos alunos sob a orientação de um professor titular do curso, na forma de revisões bibliográficas. Objetivamos, a partir dos volumes 1, 2 e 3 desta coleção, reunir conhecimentos referentes à perícia criminal e às ciências forenses e difundí-los aos apreciadores deste tema. *Adquira também o volume 1 e 2 e complete sua coleção! A Coordenação - - 4 PROFESSORES E ALUNOS CORPO DOCENTE Dra. Margareth Maria de Carvalho Queiroz Dra. Daniela Vitorio Fuzinato Dra. Trícia Cristine Kommers Albuquerque Dra. Alessandra Eifler Guerra Godoy Dr. Sidnei Moura e Silva Dr. Gustavo Agostini Dr. Osimar de Carvalho Sanches MSc. Airton Carlos Kraemer MSc. Remi Aparecida de Araujo Soares MSc. Eduardo de Menezes Gomes MSc. Francisco Silveira Benfica Perita MSc. Greice Martinelli Perito Edíson Luiz Alves Rodrigues Perito Médico-Legista Ildo Sonda Especialista Itamar Luiz França Coordenação: Dra. Rute T.S. Ribeiro e Dr. Wilson S. de Azevedo Filho CORPO DISCENTE Adriana Wallau Scherer Ana Paula Cioatto Andréia Dalchiavon Zeni Bruna Raquel Zattera Bruno Morais Antonioli Camila Françóes Ramos Débora Fracasso Edla Leticia Antunes Brizola dos Santos Elen Favero dos Santos Fernanda Pinheiro Razia Francis Novello Lúcia Bertolucci Rossi Mariana Michelin Letti Milena Pellin Morsoletto Nelci Aparecida de Godoy Rafaela Bachi Steffli Sabrina Rodrigues Teixeira Simone Maria Andriolo Gross !5 CAPÍTULO I Ana Paula Cioatto - Dr. Gustavo Agostini A TEORIA DE LOCARD E O RECONHECIMENTO DE EVIDÊNCIAS: ! A PERÍCIA A SERVIÇO DA PERSECUÇÃO PENAL! Em homenagem aos 50 anos da morte de Edmond Locard (1877-1966) A teoria de Locard 1. A Evolução das Ciências Forenses e da Perícia Criminal 1.1. Ciências Forenses e Criminalística Na busca pela ordem social e pela tranquilidade pública, a apuração dos crimes, delitos e contravenções penais quedou-se como uma das aplicações mais importantes do Direito. Para o fortalecimento da ordem jurídica, o Direito buscou ajuda de outras ciências a fim de proporcionar conexões válidas e agregar consistência e veracidade aos fatos e às provas produzidas no processo. Ciências do latim scientia significa conhecimento, o esforço humano em entender o mundo baseado no método científico e Forenses refere-se a forum, justiça, tribunal. Desta forma, Ciências Forenses é o termo que designa o desenvolvimento de estudos, teorias e experimentos capazes de compreender e auxiliar o sistema judiciário. Velho, Geiser e Espindula (2013) conceituam de forma simplificada as Ciências Forenses como “as ciências naturais aplicadas à análise de vestígios, no intuito de responder às demandas judiciais”. As Ciências Forenses prestam seus serviços a fim de atender os processos judiciais. Calcadas em um conjunto de conhecimentos técnicos e científicos, estas ciências são utilizadas para dar suporte às investigações. Nos primórdios do desenvolvimento das Ciências Forenses, cabia aos especialistas em Medicina Legal, peritos legistas, apenas a análise do corpo da vítima. Por não ser permitido à época o exame de necropsia, os médicos julgaram necessário fazer uma análise do contexto Cioatto e Agostini - - !8 A teoria de Locard geral do crime, da cena onde o corpo se encontrava, a fim de facilitar a determinação da causa da morte. Neste contexto, passaram a observar o local, captar a presença de evidências e buscar um elo entre os elementos que se apresentavam. Com o advento de novos conhecimentos outras ciências foram sendo agregadas à Medicina a fim de colaborar na apreciação dos vestígios. Surge, assim, uma nova disciplina para pesquisa, análise e interpretação destes elementos: a Criminalística. Às vezes, utiliza-se o termo Criminalística como sinônimo de Ciências Forenses. O termo advém do alemão kriminalisticl, e designa uma das áreas das Ciências Forenses que utiliza métodos científicos para resolução de aspectos legais, envolvendo a coleta e análise de evidências materiais geradas pela atividade criminal (Houck e Siegel, 2006). Sob a égide de disciplina, a Criminalística transformou-se e elevou-se como sistema, valendo-se de conhecimentos variados e consolidados de diversas ciências, tecnologias e artes para buscar conclusões claras, objetivas e precisas. O eminente mestre Eraldo Rabello (1996) conceitua Criminalística como: (...) “uma disciplina técnico-científica por natureza e jurídico-penal por destinação, a qual concorre para elucidação e as provas das infrações penais e da identidade dos autores respectivos, por meio da pesquisa, do adequado exame e da interpretação correta dos vestígios materiais dessas infrações”. Dentro do seu conteúdo técnico científico, a Criminalística engloba os estudos de Engenharia Legal, Balística, Documentoscopia, Papiloscopia e Antropologia, entre outros. Já no campo jurídico-penal, a Cioatto e Agostini - - !9 A teoria de Locard importância da Criminalística se manifesta na investigação das infrações e na produção da prova indiciária. 1.2. Origem e evolução Não há precisão sobre a data do surgimento dos primeiros trabalhos periciais, mas constam diversos ocorridos na história em épocas remotas que corroboram a ideia de que a perícia foi usada muito antes da era cristã. A Medicina foi a ciência pioneira em prestar seus serviços ao Direito. No período antigo, cerca de 3000 a.C. já se realizavam perícias ginecológicas para comprovação de gravidez, pois mulheres grávidas não poderiam ser suplicadas (Lei de Menés). À justiça de Salomão é atribuída a primeira perícia da história que ocorreu em um caso de maternidade, onde duas mães disputavam a posse de um menino e ele reconheceu quem era a verdadeira genitora. Registros históricos atribuem ao médico Antístio a primeira necropsia de cadáver que consistiu no exame do corpo de Julio Cesar, determinando que apenas um dos vinte e três golpes de adaga que lhe atingiram foi fatal (França, 2001). No séculoII, Claudius Galeno de Pergamo cria o princípio que dá origem ao exame da Docimasia Hidrostática de Galeno fundamentada na densidade do pulmão, importante para definir se houve vida extrauterina (tônica para determinar se há tipificação criminosa e de qual se trata). Cioatto e Agostini - - !10 A teoria de Locard No Império Romano, há relatos de que os governantes chamavam os médicos para ajudar a esclarecer as circunstâncias de mortes (França, 2001). Um dos primeiros manifestos do método do exame direto de cena de crime talvez tenha ocorrido na velha Roma quando o Imperador César soube que um dos seus servidores, Plantius Silvanius, havia jogado a mulher Aprônia pela janela, e determinou o exame do local para verificar as circunstâncias. Assim, vistoriou-se o quarto de dormir onde ela estava e foram descobertos sinais de violência (Stumvoll, 2014). Posteriormente, em 1532, com a Constitution Criminalis Carolina, de Carlos V, surgiu a primeira lei exigindo a presença de técnicos para a interpretação de vestígios na cena de crime, permitindo o exame tanatoscópico da morte violenta (Velho; Geiser; Espindula, 2013). Consta, ainda, que no antigo Egito, devido à cheia do Rio Nilo (considerado propriedade do Estado), diversos proprietários tiveram suas terras cultivadas prejudicadas e funcionários do governo foram aos locais para realizar levantamentos a fim de determinar os prejuízos sofridos e o ressarcimento devido (Santiago, 2014). 1.3. Precursores das Ciências Forenses no mundo Próceres cientistas contribuíram com a evolução das Ciências Forenses por meio de seus conhecimentos, métodos e técnicas de investigação baseados nas ciências naturais. Com a devida perspicácia calcada em estudos profundos e grandes teorias, os seguintes cientistas gravaram seu nome na história, Cioatto e Agostini - - !11 A teoria de Locard erigiram princípios e tornaram-se referência na Ciência Forense moderna: - Em 1560, na França, Ambroise Paré realizou estudos sobre os ferimentos produzidos por arma de fogo e criou bases sólidas para a Medicina Legal, enriquecidas depois por Devaux, de Blégny e Zacchias (Locard, 1939). - Em 1651, o médico e perito Paulus Zacchias (Paolo Zachia), considerado o “pai da Medicina Legal moderna” publicou Questões Médicas e criou os primeiros esboços sobre a Psicopatologia Forense (Stumvoll, 2014). - O italiano Orfila desenvolveu em 1840 pesquisas sobre a Toxicologia, auxiliando nos crimes com uso de veneno. Ogier aprofundou os estudos em 1872 (Stumvoll, 2014). - Provas físico-químicas foram complementadas por Raspail e utilizadas em casos de moedas falsas, envenenamentos e fraudes alimentares (Locard, 1939). - A Psiquiatria Forense foi estruturada por Philippe Pinel, Jean Etienne Dominique e Esquirol (França, 2001). - O doutor Boucher desenvolveu pesquisas sobre balística em 1753, dando início à Balística Forense (Stumvoll, 2014). - O professor e criminologista italiano Césare Lombroso, em 1864, utiliza seu próprio sistema denominado antropométrico como processo de identificação humana. Lombroso publicou a obra L’uomo Delinquente onde definiu um padrão para o homem delinquente baseado em suas características anatômicas e lançou a Teoria do criminoso nato, sendo considerado criador da antropologia criminal. Cioatto e Agostini - - !12 A teoria de Locard - O detetive Allan Pinkerton pôs em prática a fotografia criminal em 1866 em Chicago, EUA, como forma de identificação, posteriormente chamada de fotografia forense (Stumvoll, 2014). - A determinação da origem humana das manchas de sangue foi objeto de estudo de Bordet, Uhlenhut, Leclercq e Gengou, entre outros. Eles desenvolveram métodos, impressões e reações para classificar o sangue (Locard, 1939). - Estudos sobre impressões papilares e utilização da datiloscopia foram realizados pelos professores Malpighi na Itália em 1665 e Purkinje na Alemanha em 1823. A tese do professor Purkinje citava nove padrões de impressões digitais, no entanto não as correlacionava com a identificação do indivíduo (Zarzuela, 1996). - Em 1858, o oficial inglês William James Herschel passou a coletar impressões digitais no verso dos contratos que celebrava e assim observou que os desenhos papilares eram imutáveis (Stumvoll, 2014). - O criminologista francês Alphonse Bertillon criou métodos e processos de assinalamento antropométrico como forma de identificação humana e identificação de criminosos reincidentes. Este foi o primeiro método científico de identificação amplamente aceito e utilizado na Europa e nos Estados Unidos. Bertillon foi oficial da polícia francesa e criou em 1870 o primeiro laboratório de identificação criminal baseado no sistema de antropometria judicial criado por ele e denominado Bertillonage. O sistema consistia em fotografar o criminoso de frente e de perfil, coletar suas impressões digitais e suas medidas antropométricas. A partir disto eram confeccionadas fichas, classificadas e catalogadas. O sistema foi usado por muitos anos, mas acabou sendo Cioatto e Agostini - - !13 A teoria de Locard abandonado após vários casos de identificação enganada (Márcico, 2002). - Paralelamente, em 1870, o cirurgião britânico Henry Faulds reconheceu em seus estudos a importância das impressões digitais como forma de identificação e desenvolveu formas de projeção e um sistema de classificação. - Seguindo os trabalhos desenvolvidos por Herschel e Faulds, o antropólogo inglês Francis Galton, primo de Charles Darwin, desenvolveu diversos estudos sobre a individualidade e permanência das impressões digitais, publicando seu livro Impressões Digitais em 1892. - Em 1891, Juan Vucetich Kovacevich, antropólogo, policial e inventor, nascido na Croácia, mudou-se para Argentina e foi na Policia de La Plata que criou seu próprio sistema de identificação, com base no sistema de classificação datiloscópica de Galton combinado com o sistema antropométrico de Bertillon com as impressões digitais. Adotou- se no início uma classificação com 10 tipos que foi reduzida para quatro tipos em 1891. Vucetich realizou a primeira identificação de um autor de crime em 1892. Denominou este sistema de Icnofalangometria substituindo por Dactiloscopia posteriormente (Robles, 2004). - Sucessivamente, o médico e investigador espanhol Oloriz desenvolveu técnica pioneira baseada na classificação de Vucetich. Outros cientistas forenses igualmente notáveis continuaram estes estudos e seguiram difundindo novas teorias aperfeiçoando os métodos empregados. - Considerado o “Pai da Criminalística” , o professor e 1 magistrado austríaco Hans Gross revolucionou a pesquisa científica, Hans Gross é reconhecido mundialmente como fundador da Criminologia e da Criminalística.1 Cioatto e Agostini - - !14 A teoria de Locard transformando a perquisição feita com os dados uma evidência física muito mais confiável do que o depoimento das testemunhas. Ele era defensor da ideia de que a investigação é uma tecnologia e uma ciência, e de que um investigador perspicaz pode inferir características da personalidade criminosa baseado na análise no modus operandi do criminoso. Gross utilizou o termo Criminalística pela primeira vez em 1893, em Graz, ao publicar o livro System Der Kriminalistik (Zarzuela, 1996). - O médico francês e criminologista Jean Alexandre Lacassagne fundou a Escola Lacassagne de Criminologia em Lyon e ofereceu grande influência nos anos de 1885 a 1914. Especialista em toxicologia, foi um dos pioneiros naanálise de manchas de sangue e na pesquisa de marcas de projétil de arma de fogo e sua relação com armas específicas (Locard, 1939). - Criador do primeiro programa de ciência forense acadêmica, Rudolph Archibald Reiss foi um famoso cientista, professor e criminologista. Renomado especialista em ciências forenses, publicou dois livros e foi responsável pelo surgimento dos primeiros cursos de ensino policial em 1913. É provável que se deva a Reiss a ideia de instalar laboratórios técnico-científicos nas instituições policiais, desta maneira, muitos toxicólogos, médicos, odontólogos, químicos, bioquímicos e profissionais de áreas diversas transformaram-se em investigadores criminalísticos (Zajaczkowski, 1998). - A utilização de exames de DNA como ferramenta para investigação de crimes começou em 1986, na Inglaterra, com a investigação do assassinato das meninas Lynda Mann e Dawn Ashworth. Com o sucesso deste caso, outros países começaram a montar seus Cioatto e Agostini - - !15
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