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MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE 2ª Edição – Revista e Atualizada Printed in Brazil Impresso no Brasil Nenhuma parte desta obra, poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Elaborado por Sônia Magalhães Bibliotecária CRB9/1191 Iamin, Solange Regina Signori I11 Mudando o caminho da ansiedade / Solange Regina Signori Iamin. – 2. ed. 2015 – Curitiba : Appris, 2015. 86 p. ; 21 cm Inclui bibliografias ISBN 978-85-8192-578-3 1. Ansiedade. 2. Terapia cognitiva. 3. Psicologia. I. Título. CDD 20. ed. – 152.46 150 Curitiba 2015 MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE 2ª Edição – Revista e Atualizada SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN FICHA TÉCNICA EDITORIAL Sara C. de Andrade Coelho Augusto V. de A. Coelho ASSESSORIA EDITORIAL Camila Dias Manoel COMITÊ EDITORIAL Edmeire C. Pereira - Ad hoc. Iraneide da Silva - Ad hoc. Jacques de Lima Ferreira - Ad hoc. Marli Caetano - Análise Editorial DIREÇÃO - ARTE E PRODUÇÃO Adriana Polyanna V. R. da Cruz DIAGRAMAÇÃO| CAPA Sara C. de Andrade Coelho REVISÃO Marta Zanatta Lima | Gislaine Stadler WEB DESIGNER Carlos Eduardo H. Pereira GERENTE COMERCIAL Eliane de Andrade LIVRARIAS E EVENTOS Dayane Carneiro | Estevão Misael ADMINISTRATIVO Selma Maria Fernandes do Valle Editora Appris Ltda. 1ª Edição - Copyright© 2015 dos autores Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda. Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010. Editora e Livraria Appris Ltda. Rua José Tomasi, 924 - Santa Felicidade | Curitiba/PR - CEP: 82015-630 Tel: (41) 3156-4731 | (41) 3030-4570 | http://www.editoraappris.com.br/ • À Gustavo, Melissa e Giovana, amores da minha vida! PREFÁCIO A trajetória profissional e acadêmica da autora psicóloga Solange Regina Signori Iamin é permeada por sucessos, desafios e principalmente pelo rigor teórico-metodológico, a qual contribuiu para escrever o livro “Mudando o caminho da ansiedade”. Escreve com tamanha naturalidade o tema que encanta aos leitores, pela forma, conteúdo e exercícios para controlar os momentos simples de ansiedade, assim como aqueles que são caracterizados como transtornos de ansiedade. Direciona seus escritos de forma crescente em comple- xidade e cientificidade, esclarecendo conceitos, determinando as melhores estratégias de enfrentamento, indicando caminhos, diri- gindo às pessoas como se estivessem ao seu lado, colocando-se como apoio, amparo para reparar os desequilíbrios, que as distintas situações do cotidiano desencadeiam essa tal de ansiedade. Um certo nível de ansiedade é benéfico, significa emoção, a pessoa percebe-se diante do desafio. Essa ansiedade impulsiona para a mudança de comportamento, mobilizando a pessoa a sair do estado gerador de estresse, conflito, desarmonia, em busca de retomada do equilíbrio perdido. Pode-se dizer, que todas as pessoas vivenciam mudanças no dia-a-dia. Estas mudanças, chamadas tran- sições podem ser planejadas, imprevisíveis, esperadas, inesperadas, mas todas necessitam de enfrentamento para superar, ultrapassar a fase difícil e entrar na fase de harmonia. A autora soube expor estes desafios, extrapolando para a ajuda terapêutica, posicionando-se com o outro, auxiliando na percepção de cada problema e emoção vivenciados, indicando caminhos, apoiando na superação e valorizando o ser pela autoestima, auto- confiança que as palavras da obra expressam. A leitura auxilia a superar dificuldades físicas, emocionais e comportamentais da vivência de ansiedade em seus diferentes graus de comprometimento. A obra é de extrema significação, per- tinência e alcance para pacientes, profissionais de saúde, docentes, pesquisadores, familiares que podem se apropriar e vivenciar os aconselhamentos de forma única, pelo caráter individual que cada ser humano pode se localizar na diversidade e multidimensiona- lidade de opções para superação. Recomendo a leitura e com certeza, pela clareza de exposição terá grande repercussão no auxílio e acompanhamento das pessoas que passam por esse tipo de transtorno: Ah, essa ansiedade. Desejo muito sucesso, que novas obras sejam editadas, para que nós leitores possamos desfrutar de sua forma carinhosa de escrever, sem se descuidar da precisão metodológica e rigor científico. Um abraço Profª. Dra. Ivete Palmira Sanson Zagonel SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................11 CAPITULO 1 AH, A ANSIEDADE! ..........................................15 CAPITULO 2 O CAMINHO DA ANSIEDADE? .......................21 TRANSTORNO DO PÂNICO ...............................................................22 TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA ...........................25 TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO .....................................27 FOBIA ESPECÍFICA ..............................................................................28 FOBIA SOCIAL .....................................................................................29 TRANSTORNO DO ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO ........................31 TRANSTORNO DO ESTRESSE AGUDO ...........................................32 E O STRESS DE CADA DIA? ...............................................................33 CAPÍTULO 3 MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE ....37 3.1 A TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC) ...................37 3.2 A TÉCNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO .................68 3.3 TREINAMENTO EM BIOFEEDBACK ................................................73 CAPÍTULO 4 CONCLUSÃO .....................................................79 REFERÊNCIAS ............................................................................81 11MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE INTRODUÇÃO Ah, esta mania que meus pensamentos tem de me fazer lembrar dos meus maiores temores. Porque meus pensamentos não me dizem coisas boas a respeito das minhas situações de vida? Porque eles insistem em dizer que as piores coisas irão acon- tecer comigo ou com minha família? E estes cutucões que sinto no meu corpo? De repente meu coração dispara, assim do nada, sem motivo, juro, é muito estranho, e depois vem um suor sem explicação, sinto tremores, às vezes até formigamento no rosto, nas mãos ou braços e daí não precisa nem dizer que vem aquele medo de ter uma doença, de estar tendo um avc (acidente vascular cerebral) ou um infarto, pronto! Meu Deus,vai acontecer o pior! É assim que se apresentam alguns dos sintomas de ansiedade! Na grande maioria das vezes eles não mandam avisar que estão chegando, simplesmente surgem deixando a pessoa em um estado de medo e preocupação sobre o que poderá vir a acontecer. Quando isso ocorre geralmente as pessoas procuram um cardiologista, pelas palpitações ou um neurologista pelo adormecimento de algum membro seja a face, as pernas ou os braços, também procuram um clinico geral para ver o porque das náuseas, vômitos, mal estar gastrointestinal e muitas vezes a res- posta do médico é, você está muito bem fisicamente, sugiro que você procure um psicólogo ou psiquiatra, pois tudo indica que oque você tem é uma crise de ansiedade. 12 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN Os transtornos de ansiedade, segundo a organização mundial da saúde (OMS) atingem 25% da população adulta mundial (Bourne e Garano, 2008). Ela surge em algum momento da vida da pessoa em que ela se sente sem recursos para enfrentar a situação temida e sua percepção é de que esta situação terá um desfecho negativo, ruim, catastrófico. Esta sensação acaba colocando a pessoa em um estado de alerta, o que vai gerando uma ansiedade antecipatória a fatos que vem acompanhado por sintomatologia física (palpitação, tremores, transpiração excessiva, tontura, nó na garganta, entre outros) psíquica (medo, pensamentos catastróficos, inquietação, irritabilidade, sensação de descontrole, etc) e comportamental (fuga da situação, uso de álcool ou outras drogas, isolamento, choro, etc). A ansiedade pode ser considerada normal quando sua inten- sidade é apropriada a situação, ou seja, a ansiedade também tem aspectos bons, é pela ansiedade que podemos produzir, criar, inventar, estudar, trabalhar, ela também funciona como moti- vadora da vida humana, porém ela se torna patológica a medida que os sintomas começam a interferir na vida da pessoa, na sua profissão, no seu estudo, nos seus relacionamentos, incapa- citando-a muitas vezes na realização destas tarefas e diminuindo sua qualidade de vida. Os sintomas de ansiedade estão associados a diferentes transtornos como transtorno do pânico, transtorno de ansiedade generalizada, fobias especificas, fobia social (ansiedade social), transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno do estresse pós-trau- 13MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE mático, transtorno do estresse agudo (DSM IV-TR, 2002). Porém seja qual for a sua ansiedade, saiba que você poderá, compreendê-la, dominá-la e voltar a ter o controle de sua própria vida. As técnicas aqui apresentadas irão ajudar você a controlar os sintomas físicos, os pensamentos e o comportamento, porém este tratamento não substitui nenhuma terapia farmacológica. O êxito no tratamento na maioria das vezes está na associação da medi- cação com a Terapia cognitivo-comportamental. 15 CAPITULO 1 AH, A ANSIEDADE! O homem que sofre antes de ser necessário, sofre mais que o necessário (Sêneca) A ansiedade é uma emoção importante e todas as pessoas, embora em graus diferentes a experimentam. Ela nos impulsiona a agir em determinadas situações trazendo benefícios em nosso desempenho, na resolução de conflitos e também como sinal de alerta frente a situações de risco. Quando a ansiedade se torna intensa e duradoura prejudi- cando ou até impedindo o desempenho das atividades do dia a dia ela vai acarretando prejuízo na vida da pessoa. Quem experimenta a ansiedade geralmente tem uma percepção distorcida de eventos que, para muitas pessoas podem ser considerados comuns, para os ansiosos estes eventos são vistos como extremamente amea- çadores, ocasionando sensação de medo que muitas vezes paralisa o indivíduo diante da situação. O medo e a apreensão podem vir acompanhados por diversas sensações físicas como suor intenso, rubor facial, taquicardia, formigamento, tontura entre outros e que por vezes podem ser interpretados como catastróficos. Lewis em 1967 definiu a ansiedade como “um estado emo- cional vivenciado com a qualidade subjetiva do medo, desagra- dável, dirigida para o futuro, desproporcional, com desconforto 16 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN somático, subjetivo e com alterações somáticas manifestas.” (apud Gentil, 1997). A ansiedade ou o medo quando estão em um nível elevado, podem interferir na vida cotidiana, interferir na qualidade de vida, afetar os relacionamentos, a pessoa pode tornar-se dependente de outros para poder realizar determinadas atividades. A pessoa vai perdendo a vontade de sair e se divertir, pois tudo parece difícil, ruim e perigoso. Na ansiedade patológica surgem sintomas f ísicos: taqui- cardia, tontura, boca seca, opressão no peito, aperto na garganta, tremores, sudorese, tensão física, sintomas psíquicos: medo, apreensão, ansiedade antecipatória e situacional, inquietação, irritação, insegurança, e sintomas comportamentais: fuga, esquiva, gritos, choro, agressão. Estas reações que o corpo desenvolve são involuntárias, e aí se inicia o controle dos sintomas sobre a pessoa, fazendo com que ela deixe de fazer o que precisava ou desejava. E isso acontece justo naquele momento em que a pessoa precisava estar tranquila para poder cumprir com determinada tarefa! Pois é, ela chega sem aviso prévio. Mas por quê? A ansiedade surge como resposta a uma percepção do indi- viduo de que existe uma ameaça externa e ele não tem recursos internos suficientes para enfrentar a situação que lhe parece ameaçadora. Assim, para poder proteger-se da ameaça o corpo ativa o sistema simpático (é aquele que ativa o organismo na hora da percepção de algum perigo ou mesmo em uma situação 17MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE de estresse ativando os batimentos cardíacos, aumentando a sudorese, dilatando a pupila, aumentando a pressão arterial, entre outros) e o parassimpático (é o da calmaria, ele que coloca o coração para diminuir os batimentos cardíacos, diminuir a trans- piração (sudorese), baixar a pressão arterial). Juntos, o simpático e o parassimpático deixam o organismo equilibrado para que seja tomada uma decisão: enfrentar ou fugir? Quando a pessoa se vê diante de uma situação ameaçadora em que se faz necessário tomar uma decisão, ela pode optar por dois caminhos, focar a decisão com base no problema, ou focar a decisão com base na emoção. Bom, se ela tem pensamentos mais positivos vai possivelmente focar no problema, ou seja, vai tentar solucionar a situação problema ou tentar fazer com que a situação estressora não seja tão impactante, esta é uma forma mais adap- tativa de lidar com a situação (Lazarus e Folkman, 1984), pois certa- mente tentará entender e enfrentar a situação, porém se a pessoa se assusta com facilidade com o desconhecido, exagera os riscos, quando as coisas não saem como previsto pensa que o pior irá acontecer, pois pensamentos catastróficos enchem a sua cabeça, então certamente ela irá fugir, pois ficará focada na emoção, evi- tando confrontar-se com a ameaça (Lazarus e Folkman, 1984). O enfrentamento (coping) da situação é conjunto de esforços, cognitivos e comportamentais, utilizado pelos indivíduos com o objetivo de lidar com demandas específicas, internas ou externas, que aparecem em situação de estresse e que são avaliadas como sobrecarregando ou excedendo seus recursos pessoais (Lazarus e Folkman, 1984). 18 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN Para Savóia (1999, p.6) “coping é uma resposta com o objetivo de aumentar, criar ou manter a percepção de controle pessoal”. A autora refere que as pessoas são consistentes na maneira como per- cebem e combatem o Estresse, porém, esta consistência vai depender das variações de situações e de estilo e que cada um escolhe uma determinada estratégia dependendo do seu repertório individual e das experiências que foram reforçadas até então. De acordo com diferentes autores que descrevem os transtornos de ansiedade (Knapp e cols, 2004; Rangé e Borba, 2008; Silva, 2011), e também levando em consideração os casos atendidos em consultório, pode-se inferir que as pessoas que apresentam transtornos ansiosos interpretam ou antecipam os eventos negativamente, na grande maioria das vezes, generalizam as situações vivenciadas, têm um pensamento menos flexível, são mais rígidas e atribuem os problemas a si próprios. Nesta mesma linha de pensamento, Lazarus (1991) refere que geralmentea pessoa que desenvolve o medo tem um pensamento catastrófico. O medo é a emoção mais primária do ser humano e a ameaça envolvida é simbólica (em nível de pensamento, como inter- preto o mundo, as pessoas, as relações) e não concreta. Os medos podem resultar de uma dificuldade que a pessoa tem de interpretar as situações que vivencia. Pensamentos ameaçadores começam a apa- recer em forma de palavras ou imagens (sou um fracassado, não sirvo para nada). O comportamento será geralmente de fuga da situação temida (preciso sair daqui, não posso suportar esta situação) e pode aparecer uma emoção muito desagradável de medo ou terror. 19MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE Quem sente ansiedade põe o foco nos sintomas fisiológicos (palpitação, tontura, formigamentos, etc), no mal estar físico que toma conta do corpo dando a estes sintomas uma evidência imensa. O que a pessoa não sabe é que por trás destes sintomas encontra- -se um grande vilão: OS PENSAMENTOS! São eles os responsáveis por tantos sintomas. De acordo com Beck et al (2001, p. 13) “os efeitos do compor- tamento de uma pessoa estão, em grande parte, determinados pelo modo como as mesmas estruturam e interpretam o mundo”. Ele identificou que as pessoas, ao interpretarem uma situação, podem lançar mão de algumas distorções que as levam a evitar situações que avaliam como de risco. Assim, as distorções cognitivas apre- sentadas pelas pessoas as levam a uma interpretação errônea dos sintomas físicos que são vistos como mais ameaçadores do que realmente são, catastrofizando assim a situação, porém, estes sintomas não apresentam nenhum perigo físico (ataque cardíaco) nem psíquico (loucura) como a pessoa acredita que acontecerá. Estes pensamentos disfuncionais que são evidenciados pelas crenças precisam ser questionados, fazendo uma reestru- turação das interpretações errôneas. O tratamento então será dirigido para informar o paciente a respeito de sua ansiedade, bem como de sua maneira de estruturar o pensamento e a res- peito de suas crenças disfuncionais (serão apresentadas no capítulo 3) ensinando a ele técnicas que visam o controle dos sintomas da ansiedade bem como estratégias de enfrentamento às situações estressoras. 20 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN Geralmente, as pessoas não se dão conta da maneira como pensam e como isso afeta toda a sua vida, mas se perguntamos a um paciente o que ele estava pensando no momento em que veio a crise de ansiedade, certamente veremos que a mente estava repleta de situações ameaçadoras e catastróficas. E esta ameaça é percebida como algo que poderá vir a acontecer, aí vem a ansiedade antecipatória de uma situação que ainda não aconteceu, ou seja, a pessoa pensa que algo horrível poderá acontecer a qualquer momento e desencadeia toda aquela sintomatologia. A ansiedade põe a pessoa em constante estado de alerta como se ela estivesse em perigo constantemente. A ansiedade pode se manifestar de diferentes maneiras, tais como: medo de falar em público, medo de elevador, medo de andar de avião, medo de dirigir, medo de insetos, medo de animais, medo de locais fechados, medo de altura, medo do escuro, medo de morrer, medo de contaminação, medo de sair de casa, medo de sangue, medo de dentista, medo de comer em público, entre outros. Os tratamentos mais indicados para os transtornos de ansiedade são a farmacologia e a psicoterapia cognitivo-comporta- mental. No próximo capítulo você encontrará uma descrição deta- lhada a respeito dos diferentes transtornos de ansiedade. Saliento a importância de uma avaliação psiquiátrica e/ou psicológica para a definição de um diagnóstico. 21 CAPITULO 2 O CAMINHO DA ANSIEDADE? A ansiedade e o medo envenenam o corpo e o espírito (George Bernard Shaw) Imagine você em um domingo ensolarado assistindo uma apresentação de circo e sendo convidado a fazer a função de tra- pezista, sem ter experiência nenhuma. Bom, é inevitável que você sinta uma tremenda ansiedade, ou seja, suor, taquicardia, tremores e até que se paralise tendo em vista a falta de experiência em jogar- -se de um lado para outro nas alturas. Ok, isso poderia ser consi- derado como uma ansiedade normal. Agora pensemos todos estes sintomas quando você se encontra com um gato, ou quando pensa em pedir aumento de salário, ou vendo uma lagartixa na parede de sua garagem ou uma aranha, uma barata, um temporal com trovões e relâmpagos, ou tendo que fazer uma viagem de avião ou de carro: você se paralisa, sente tontura, palpitação, tremores e não consegue mais fazer o que se havia proposto? Pensamentos permeiam a mente dizendo o quanto tudo isso é perigoso para você e o quanto você estará em risco se seguir adiante. Se isso acontece é porque você está definitivamente com um transtorno de ansiedade, pois não existe um perigo real da situação, existe uma interpretação subjetiva de perigo, uma distorção cognitiva da situação que o faz evitá-la para diminuir os sintomas ansiosos. 22 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN Se isso acontece, você precisa procurar um profissional que possa fazer o diagnóstico adequado do seu problema. De acordo com o DSM – IV - TR (Manual diagnóstico e esta- tístico dos transtornos mentais, 2002), existem diversos trans- tornos de ansiedade, porém, aqui irei relatar os que mais tenho tra- balhado em consultório: Transtorno de Pânico Faz parte da ansiedade patológica onde os ataques do pânico se tornam recorrentes. Eles surgem inesperadamente e aparente- mente sem motivação e são acompanhados por intensos sintomas físicos e psíquicos. A pessoa sente que está perdendo a capacidade de controlar as sensações físicas que ela começa a perceber como ameaçadoras à sua própria vida, pois os sintomas surgem como sensação de morte iminente ou medo de enlouquecer. A pessoa começa a sentir medo de ter novas crises e passa a evitar os locais que ela considera com maior probabilidade de desencadear os sin- tomas (Barros Neto, 2010). O transtorno do pânico pode se apresentar com ou sem ago- rafobia (a pessoa deixa de frequentar locais que para ela seriam difíceis de escapar ou que não teria auxílio, caso ela apresentasse uma crise de pânico). O transtorno do pânico, de acordo com o DSM IV-TR (2002) se caracteriza pela presença de ataques de pânico recorrentes e inesperados, causando intenso medo ou desconforto e deve vir 23MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE acompanhado de quatro ou mais dos sintomas abaixo relacionados que surgem abruptamente e alcançam seu pico em dez minutos: além disso deve ser seguido de pelo menos um (1) mês de preocu- pação persistente em ter outra crise de pânico. Palpitação/taquicardia, suor, tremores, sensação de falta de ar, sufocamento ou asfixia, dor ou desconforto torácico, náusea ou desconforto abdominal, sensação de tontura, vertigem ou desmaio, sensação de irrealidade ou de estar distanciado de si mesmo, medo de perder o controle ou enlouquecer, medo de morrer, formiga- mentos, calafrios ou ondas de calor. Para caracterizar como transtorno do pânico são neces- sários pelo menos dois ataques de pânico inesperados (DSM IV-TR, 2002, p. 423). Medo de morrer? Medo de lugares fechados? Medo de lugares abertos? No transtorno do pânico os ataques súbitos de ansiedade vem acompanhados de sintomas físicos, emocionais, medo de ter novos ataques e evitação dos locais ou situações nos quais ocor- reram o pânico. Surgem geralmente na adolescência e início da idade adulta quando as definições de escolhas (futuro) começam a surgir e o pânico pode afetá-las. Diminui a produtividade, gasta-se muito tempo em emergências médicas, exames, com a finalidade de corroborar que realmente nãoexiste nenhuma doença grave. Em geral os ataques de pânico surgem de uma catastrofização em relação a sintomas físicos. Ocorre um processamento inadequado de informações vindo do dia a dia (ouve um barulho ou gritos e pensa que é um assalto) ou interno (taquicardia, sudorese, ver- 24 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN tigem), a pessoa percebe estas sensações como perigosas, e até como risco de morte iminente. O pânico acaba entrando num círculo vicioso, existe a vulnerabi- lidade fisiológica, surge uma situação que provoca estresse (decisão a tomar, cobrança externa ou interna, pressão no trabalho, pressão familiar, perda de emprego, acreditar que merece mais em termos de salário pelo trabalho que desempenha, insatisfação com o trabalho, com a família, com as próprias realizações, preocupação com o futuro, entre tantas outras situações que não deixam o pensamento aquietar) e aí vem o primeiro alarme falso (uma forte palpitação, uma transpiração inexplicada, um formigamento sem motivo) e surge o primeiro condicionamento, a palpitação ou outro sintoma qualquer funciona como alarme aprendido. Cada vez que tiver uma palpitação, vai pensar que o pior poderá acontecer. Juntamente com isso existe uma vulnerabilidade psicológica (medo de fracassar, insegurança, baixa autoestima, falta de confiança, etc) e se inicia um estado de vigilância, a pessoa se volta para a escuta de qualquer sintoma físico que possa surgir nos diferentes espaços por onde circula e aí poderá ter início o processo de evitação da situação, pois não se consegue suportar os sintomas de ansiedade que se desencadeiam. Meu amigo J.A, passou por uma crise de pânico e refere que a sensação que sentiu foi de que o corpo e alma não estavam em sintonia. Ele sentia a presença do corpo, mas era como se a alma estivesse num lugar desconhecido, longe, confuso, uma sensação de perda, de dor, de medo, de tristeza. Eram conflitos tão reais, o corpo sentia a dor real do inexplicável. 25MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE Para vencer o medo, J. A. conseguiu fazer o encontro entre ambos, entre o corpo e a alma, buscando o equilíbrio e fazendo com que prevalecesse a consciência da realidade que acaba se perdendo na síndrome do pânico dando lugar ao medo. Como ele conseguiu vencer o pânico? Questionando os pensamentos, analisando a sua situação e utilizando diversas estratégias de enfrentamento como andar de skate, tocar violão, relaxar na rede, rir, caminhar, praticar Yoga, conversar com os amigos, com a família (mãe, pai, irmãos) dedicar-se ao trabalho, passear com o seu cachorro, dar vazão à emoção de curtir a namorada, valorizar as conquistas, praticar uma boa leitura, ir ao cinema, cuidar do jardim, mexer na terra, andar descalço, respirar, abraçar, amar. Estes são alguns caminhos para o reencontro do corpo e da alma. Como ele diz: Acreditem que o tempo proporciona isso. Sugiro que leiam o livro de Rangé e Borba (2008) “Vencendo o Pânico”, pois ele traz um programa de tratamento que tem ajudado muitas pessoas a voltarem a sua rotina de vida após aprenderem a lidar com o pânico. Outro livro interessante é o de Barros Neto (2010) “Sem medo de ter medo”. Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) A pessoa é incapaz de relaxar, está em constante estado de alerta, refere sentir-se instável, insegura na tomada das decisões, tem medo de perder o controle da situação, sente dificuldade de lidar com as diversas situações que permeiam sua vida, é muito respon- 26 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN sável, se coloca grandes metas para serem alcançadas e geralmente é muito auto-exigente, o que, por sua vez, pode levar um intenso medo de fracassar. A TAG “se caracteriza por uma ansiedade ou preocupação excessiva, ocorrendo na maioria dos dias por um período de pelo menos seis meses, acerca de diversos eventos ou atividades” (DSM IV-TR, 2002, p. 457). Os critérios diagnósticos são: preocupação excessiva diante de várias atividades ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos seis meses: A pessoa considera difícil controlar a preocupação, a isso associa-se inquietação, fatiga, dificuldade de concentração ou sentir um branco, irritabilidade, tensão muscular, perturbação do sono. História de ansiedade ao longo da vida. Ansiedade intensa e preocupação incontrolável, hiperexcitabilidade relacionada sin- tomas físicos incontroláveis relativos à tensão. Apresentam dis- torções cognitivas como: Superestimação de uma probabilidade de ocorrer um evento negativo (ex: uma situação não ocorreu por sorte ou porque o fato de preocupar-se evitou o acontecimento negativo), pensamento catastrófico (atribuição catastrófica a eventos menores). A pessoa com TAG tem uma elevada percepção de perigo e ameaça, e a percepção de ser incapaz de lidar com esta situação. Isso está relacionado à intolerância com a incerteza (provoca reação de hipervigilância) e ao estímulo emocional (geram evitação da situação). Assim, a TAG seria resultado da oscilação entre o estado de hipervigilância e evitação. O indivíduo intolerante avalia a situação como insuportável. 27MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) Os sintomas do TOC sejam eles obsessivos ou compul- sivos interferem na vida cotidiana da pessoa, bem como em suas relações interpessoais, produzindo mal estar e diminuindo sua qualidade de vida. Os principais sintomas de acordo com Cordiolli (2008), estão relacionados à mania de verificação (verificar se as luzes estão acesas ou apagadas várias vezes, verificar com a esposa determinado assunto com bastante frequência), simetria (organizar objetos de maneira alinhada), organização por cores (selecionar as roupas por cores no guarda roupa), dúvidas constantes a respeito de determinados temas (será que fechei o gás, será que a mãe está bem, será que meus filhos não sofrerão um acidente), aceleração do pen- samento (pensamentos variados e intensos que perturbam outras atividades), medo de machucar alguém pois imagina-se fazendo isso, imagens sexuais (cenas pornográficas recorrentes), medo de contaminação (lava as mãos com muita frequência, não aperta a mão das pessoas, limpeza exagerada da casa). O DSM IV-TR (2002) classifica como características principais do TOC obsessões e/ou compulsões que se apresentam de maneira recorrente e grave a ponto de consumir um grande tempo da rotina diária da pessoa (mais de uma hora ao dia) na realização de tarefas ou que causem um grande sofrimento ou algum prejuízo em nível pessoal, social e profissional. Em algum momento a pessoa pode perceber que seu comportamento e pensamento são excessivos. 28 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN Mas o que são as obsessões? As obsessões se apresentam como pensamentos, ideias, impulsos ou imagens que são per- sistentes, vivenciados como intrusivos e inadequados e causam intensa ansiedade e sofrimento (DSM IV-TR, 2002). Ex: pensa- mentos de gritar palavras obscenas dentro da igreja. E as compulsões? São os comportamentos que se repetem com frequência. Ex: verificar várias vezes se as portas estão tran- cadas. Ou atos mentais repetidos como rezar a mesma oração várias vezes ao dia, contar repetidamente. O objetivo das obsessões e das compulsões é diminuir ou evitar a ansiedade. Para o tratamento deste transtorno sugiro o livro “Vencendo o transtorno obsessivo-compulsivo” do Dr. Cordioli, que traz expli- cações profundas a respeito deste tema, bem como as diferentes técnicas utilizadas dentro da terapia cognitivo-comportamental para os diferentes sintomas do TOC. Fobia específica A fobia especifica é considerada a mais comum dos trans- tornos de ansiedade e se apresenta como um medo intensoe des- proporcional em relação ao que a pessoa imagina que vai acon- tecer. O fato de imaginar o pior desfecho faz com que a pessoa evite se expor à situação que causa ansiedade e consequente- mente ela vai se isolando de atividades que lhe proporcionavam qualidade de vida. 29MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE A fobia específica pode apresentar-se de diferentes maneiras como medo de animais, medo de insetos, medo de avião, medo de dirigir, medo de altura, medo de elevador, medo de trovões, medo de sangue ou injeção, medo de tuneis, de pontes, entre tantos outros tipos de medos. Este medo se apresenta bem especificamente, ou seja a pessoa tem medo de determinada situação ou objeto. Ao pensar ou ao se encontrar com a situação que gera medo surgem instantaneamente os sintomas de ansiedade (tremores, palpitação, tontura, visão borrosa, inquietação, etc.) fazendo com que a pessoa se paralise ou mesmo tenha uma crise de ansiedade. De acordo com o DSM IV-TR (2002, p. 437) a fobia especifica se caracteriza quando a situação fóbica é evitada ou suportada com intensa ansiedade ou sofrimento, quando esta situação ou sofrimento interfere na rotina normal do indivíduo e em seu funcio- namento ocupacional e/ou social. Fobia social A fobia social hoje também conhecida como ansiedade social surge quando a pessoa tem medo ou preocupação de ser julgado, avaliado ou criticado por outras pessoas nos diferentes ambientes sociais nos quais circula, seja no trabalho (medo de falar em uma reunião, ou de apresentar algum projeto ou ponto de vista), na faculdade (medo de perguntar ao professor e ser avaliado como “burro” por não saber o assunto, medo de apresentar um trabalho oralmente), em festas (preocupação de que observem seu compor- tamento ou sua roupa e o julguem como inadequado). 30 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN A fobia social vai aos poucos afetando o desempenho das funções no trabalho, no colégio, na faculdade bem como nas relações pessoais, a pessoa que sofre de fobia social vai se iso- lando, diminuindo sua participação nas atividades cotidianas. Os medos estão relacionados a: medo de falar em público, medo de comer em público, medo de escrever em público, enfim é o medo de desempenhar qualquer tarefa em ambiente social, seja num restaurante, numa festa, no shopping, em alguma loja, seja tendo que expor algum assunto em reunião da empresa, entrevista de tra- balho, faculdade. A pessoa sente que dá um “branco”, pensa que todos se darão conta que ela está nervosa, medo de ser julgado, avaliado, de se sentir constrangido e sentir-se envergonhado, pode ficar com a face ruborizada (é uma reação fisiológica do o sistema nervoso simpático que faz com que aumente o fluxo sanguíneo nesta região quando a pessoa se vê exposta a uma situação que ela percebe como constrangedora), pode gaguejar, suar, tremer, ter frio no estômago, entre outros sintomas. Para o DSM IV-TR (2002), a fobia social se apresenta como um medo acentuado e persistente de uma ou mais situações sociais ou de desempenho, nas quais o indivíduo é exposto a pessoas estranhas ou ao possível escrutínio dos outros (p. 442). A pessoa com ansiedade social geralmente evita expor-se à situação social pois aprendeu que evitando, a ansiedade diminui, porém, é importante ter conta que quanto mais ela evita a expo- sição, mais os sintomas do medo vão ganhando força de maneira crescente e inevitável. Embora a pessoa saiba que este medo é 31MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE irracional, ela não consegue lidar com ele e segue se esquivando o máximo possível e quando não tem jeito, quando ela não tem como fugir, surge uma intensa ansiedade que poderá até levar a uma crise de pânico dado a intensidade dos sintomas da ansiedade. No livro “Vencendo a ansiedade social com a terapia cog- nitivo-comportamental”, da Debra Hope et al (2012), você encon- trará o passo a passo para superar este medo. Transtorno do estresse pós-traumático Para caracterizar como estresse pós-traumático a pessoa deve apresentar algumas características como o desenvolvimento de sintomas após a exposição a um grave estressor (acidente, desastre natural, assalto, violação, morte súbita de um familiar), envolvendo a experiência pessoal direta de um evento real ou ameaçador que envolve morte, sério ferimento ou outra ameaça à própria integridade física; bem como a pessoa ter testemunhado a situação estressora com outra pessoa ou tomar conhecimento de que alguém da família passou por uma situação de risco a inte- gridade física correndo risco de morte. Os sintomas devem estar presentes por mais de um mês (DSM IV-TR, 2002, p. 449). Muitas pessoas já passaram pela difícil experiência de ter sofrido um assalto, ter presenciado um assalto ou uma morte, ter sido sequestrado, ter sofrido algum acidente, enfim ter sentido a sua vida estar por um fio, pois é, estas situações podem ser as disparadoras dos sintomas do estresse pós-traumático, a pessoa 32 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN tem medo de voltar ao local onde aconteceu a situação que gerou estresse , tem sonhos de que a situação está se repetindo. Pode ter momentos em que aparecem imagens ou pensamentos a respeito do episódio vivenciado. Transtorno do estresse agudo “É o desenvolvimento de uma ansiedade com sintomas disso- ciativos e outros que ocorrem dentro de um mês após a exposição a um estressor traumático extremo” (DSM IV-TR, 2002, p. 453). Quem passa por um estresse agudo pode apresentar sen- timento de anestesia corporal, ausência de resposta emocional, distanciamento, sentir-se como se estivesse em um sonho, des- realização (a pessoa percebe o mundo como irreal, desconhecido, estranho a ela) despersonalização (quando a pessoa apresenta sintomas de irrealidade em relação a si mesma, como se tivesse acontecido uma ruptura de sua personalidade, pode apresentar apatia ou amnésia), incapacidade de lembrar aspectos importantes do trauma, causam um prejuízo em nível social e ocupacional. A duração é de dois dias a quatro semanas após o evento traumático (DSM IV-TR, 2002). Para a avaliação dos transtornos de ansiedade é fundamental que a pessoa faça uma consulta médica com um Psiquiatra (espe- cialista em saúde mental) ou com um Psicólogo, que ao atendê-lo poderá encaminhar a pessoa ao médico para que este avalie a neces- sidade de um tratamento medicamentoso. Muitos dos transtornos 33MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE de ansiedade requerem um acompanhamento com psicofármacos e aliado a isso se implementa a terapia cognitivo-comportamental. Estes são os transtornos enumerados pelos critérios diagnós- ticos médicos, mas, E O ESTRESSE DE CADA DIA? O ESTRESSE DE CADA DIA Este estresse que acompanha a maioria da população cada dia de sua vida, também precisa ser lembrado, pois ele pode ser o fator desencadeador de um transtorno de ansiedade. Pressão, metas, cobrança, exigências diárias próprias ou vindas de outras pessoas, do chefe, do trabalho, da família, dos amigos. Chega um momento em que as pessoas que estão expostas a altos níveis de estresse sentem uma tensão muito grande e que as leva a desenvolver uma forte dor de cabeça ou, então, ficam com o pescoço enrijecido e começam o uso dos relaxantes musculares, depois vem uma gripe que nunca cura, pressão arterial elevada, uma crise de ansiedade, uma depressão ou o pior que se pode ima- ginar: um AVC (acidente vascular cerebral) ou um infarto. Com o estresse não se brinca, ele descarrega no organismo hormônios como o cortisol, a adrenalina entre outros que são os responsáveis por tantos sintomas físicos (dor de cabeça, tensão muscular)como emocionais (irritabilidade, raiva). Os hábitos diários de cada pessoa determinam, de alguma maneira, o seu nível de estresse, ou seja, o estilo de vida, os com- 34 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN portamentos, as atitudes que afetam a qualidade de vida e a saúde. Portanto, depende de cada um assumir o controle das mudanças que precisam ser feitas para diminuir e até acabar com o stress. Para Pérez (2010), o estresse pode estar vinculado ao tipo de atividade que se desempenha e aos poucos vai levando ao absen- teísmo, a pessoa deixa de cumprir com os horários, diminui sua produtividade, tende a se isolar, pode se tornar agressiva desenca- deando problemas de relacionamentos, entre outras questões. De acordo com Bosqued (2005, p. 19), três fatores intervém na produção do estresse: • O nível de pressão que a pessoa experimenta desde o ponto de vista objetivo. • Os recursos e as capacidades que esta pessoa tem para enfrentar a fonte do estresse. Algumas pessoas lidam bem com situações de estresse não deixando que estas se trans- formem em ansiedade, enquanto que outras pessoas apre- sentam menos recursos de enfrentamento e, assim, ficam mais vulneráveis a apresentar a ansiedade. • A vivência subjetiva do estresse, ou seja, as crenças e atitu- des que cada pessoa tem a respeito da situação. Para lidar com o estresse é importante que você tome algumas decisões como reorganizar suas atividades e o tempo dedicado a elas, procure mudar o olhar frente aquilo que gera o stress, aprenda a lidar com estas situações que não podem ser 35MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE descartadas da sua vida. Reduza as atividades e compromissos e dedique mais tempo para você, para desenvolver uma atividade física, melhore sua alimentação. Quando se encontrar frente a uma grande tarefa, divida-a em pequenas partes e vá resolvendo cada uma delas, você verá que a solução fica mais fácil e menos estressante. Procure não levar para casa os problemas do trabalho, eles não irão se resolver e você ficará ansioso com isso. Procure uma distração, assista a um bom filme, leia, faça jardinagem, medite, vá correr no parque enfim, procure uma atividade que melhore sua concentração e provoque relaxamento. Lipp e Malagris (2010), relatam que o estresse pode vir acom- panhado por sentimentos de irritabilidade e raiva. As autoras desen- volveram “O treino cognitivo de controle da raiva”. Aqui apresento algumas questões levantadas por elas, porém, sugiro a leitura do livro na íntegra, pois ali, poderão ser encontrados todos os detalhes do tratamento: • Reconheça que está com raiva • Aprenda a reconhecer o que dá raiva em você • Aprenda a reconhecer as 3 etapas da raiva: pensar que algo é uma afronta, sentir no corpo algumas reações fisiológicas e agir agressivamente • Entenda que alguma coisa somente se tornará uma provoca- ção se você achar que é • Entenda que as reações físicas da raiva tem o poder de aumentá-las 36 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN • Compreenda que reagir agressivamente vem no fim e que, portanto, dá tempo de controlar a si mesmo antes que a raiva exploda • Sempre tente dominar a sua raiva na fase inicial. Questione seus pensamentos • Quando perceber que a raiva está aparecendo no seu corpo, como o coração acelerado, tensão, sensação de sufoco, dor de cabeça, use a técnica do relaxamento. Repita para você: cal...ma, cal...ma, não vou deixar a raiva me dominar. Há outra maneira de ver a situação? Vou deixar para agir ama- nhã, quando conseguirei pensar sem raiva. Estou aborrecido, mas isso não é o fim do mundo. QUEM MANTÉM A CALMA MANTEM O CONTROLE, POSSO ASSUMIR O CONTROLE DE MINHAS EMOÇÕES! • Enquanto conversa com você mesmo respire profunda- mente, inspire pelo nariz e expire lentamente pela boca • Coloque a raiva para fora: faça exercícios físicos, uma cami- nhada, seja positivo, leia, cante, veja um bom filme, converse com sua raiva • Quando estiver no controle da raiva, tente resolver a situção que o deixou aborrecido 37 CAPÍTULO 3 MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE Mude seus pensamentos e estará mudando seu mundo (Norman Vincent Peale) 3.1 – A Terapia Cognitivo-comportamental (TCC) A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é considerada uma das abordagens mais eficazes no tratamento da ansiedade. Quando a pessoa começa a entender e a usar a técnica da TCC ela dá inicio a um processo de contato consigo mesma, saindo do automatismo e tomando consciência dos seus pensamentos, sentimentos e comportamentos. A pessoa desvela, entende a maneira como pensa a respeito de si mesma, a forma como pensa sobre as outras pessoas (julgo? critico? acolho? entendo?) e como interpreta o ambiente (situação que vivencia, as pessoas com quem convive, o si mesmo, as relações, como soluciona os problemas) do qual faz parte. Esta interpretação pode ter algumas distorções cognitivas (maneira como a pessoa inter- preta as suas vivências), interpretações errôneas que afetam a maneira como a pessoa pensa, sente e se comporta, interferindo em sua vida e que deverão ser corrigidas durante o tratamento. Seja qual for a sua preocupação ou seu medo, existem 38 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN algumas técnicas que são utilizadas para todos os transtornos de ansiedade. Estas são as descritas neste livro. 1- PSICO-EDUCAÇÃO: é uma intervenção realizada pelo psicólogo em que o mesmo explica ao paciente as questões da técnica a ser utilizada, dos sintomas, das dificuldades causadas pelo problema e como será realizado o tratamento. É educar o paciente sobre seu transtorno e buscar sua participação ativa no tratamento. Informar sobre o medo, pânico, como enfrentar a ansiedade, (etio- logia, epidemiologia, prognóstico, tratamentos). 2- RESPIRAÇÃO E RELAXAMENTO: estudos que datam de 1940 (Jacobson, 1940) mostram a importância desta técnica para o bem estar físico e psíquico da pessoa quando esta enfrenta situações ansiógenas e refere que ao manter as técnicas de relaxa- mento e respiração o organismo vai adquirindo um fortalecimento imunológico. Hoje isso pode ser demonstrado também nos estudos realizados a partir do conceito de coerência cardíaca e que vem sendo amplamente desenvolvida por meio do Biofeedback. 2.1- Treino de respiração diafragmática: Por meio da res- piração diafragmática (Masci, 1994; Autieri, 2006) ocorre um aumento da capacidade do volume dos pulmões. Com isso o corpo recebe mais oxigênio, inclusive o cérebro. Este é o primeiro passo para relaxar, pois vai transformando a respiração torácica, aquela respiração curta e agitada em uma respiração mais lenta, profunda 39MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE e tranquilizadora. É preciso efetuar os movimentos respiratórios de tal forma que haja pouco movimento torácico e mais movimentos abdominais. • Escolha uma posição na qual você se sinta mais confortável, seja sentado ou deitado; • Coloque uma das mãos no abdômen (barriga) próxima ao umbigo e a outra no peito, assim você poderá observar onde você concentra sua respiração (Geralmente a respiração é torácica). Com este exercício temos como objetivo modificar a forma de res- pirar tornando-a mais eficaz no combate da ansiedade. • Procure fazer este exercício com os olhos fechados e con- centre-se em sua respiração; • Inspire pelo nariz e encha os pulmões de ar, levando-o até o abdômen, perceba que o abdômen se movimenta, ele deve inflar. Ao inspirar conte até quatro (mentalmente) para que o pulmão e o abdômen fiquem expandidos; • Retenha o ar contando até quatro, mantendo a barriga e os pulmões cheios; • Solte lentamente o ar pela boca, contando até quatro, esva- ziando completamente os pulmões e o abdômen; • Quando terminar oprocesso reinicie novamente. Faça isso até se sentir relaxado. Repita pelo menos dez vezes a respiração ou pratique por aproximadamente cinco minutos. Você poderá sentir um pouco de 40 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN tontura no inicio dos exercícios, isso é natural, siga com os exer- cícios que aos poucos esta sensação irá diminuindo até extinguir-se. Isso acontece, porque o cérebro recebe mais oxigênio do que está acostumado, mas é interessante ir adaptando o ritmo de forma que fique confortável e não gere sensação de náusea. É importante que você aprenda a fazer a respiração treinando-a pelo menos uma vez ao dia para ir acostumando seu organismo e torná-la aos poucos mais automática. Os benefícios da respiração diafragmática são muitos: aumenta a variabilidade da frequência cardíaca, regula o sistema nervoso autônomo, diminui a pressão arterial, aumenta a imu- nidade, melhora a digestão, produz melhorias na qualidade do sono, entre outros (Neves Neto, 2011). 2.2 - Treino do relaxamento progressivo de Jacobson: O treino de relaxamento muscular progressivo equivale a aprender a contrair e descontrair vários grupos de músculos em todo o corpo, prestando atenção às sensações que acompanham a tensão e o relaxamento e aprendendo a contrastar as sensações associadas a estes dois estados (Sandor, 1982). Esta técnica segue 6 passos: 1. O relaxamento dos braços: deitado de costas, com a barriga para cima, pernas descruzadas, diminuindo os movimentos ao máximo. Feche os olhos e respire profundamente pelo nariz, levando o ar até a barriga e depois esvazie. Repita esse processo lentamente por três vezes. Levante o braço direito, fechando o 41MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE punho e retesando (esticando, gerando tensão) o braço, sentindo a tensão. Após alguns segundos descontraia o braço, abra o punho. Descanse 3 minutos e repita o exercício duas vezes. Este exercício deve ser feito com ambos os braços 2. O relaxamento das pernas: na mesma posição anterior, olhos fechados, pernas descruzadas. Retesar a perna toda sem dobrar os joelhos, levando os dedos na planta do pé, tensione e solte. Repouse 3 minutos e repita por mais duas vezes o exercício e a pausa. Observe a tensão que ocorre enquanto você faz isso. Sinta a diferença entre a tensão muscular antes e depois do exercício. 3. A respiração: na mesma posição ou deitado de lado, olhos fechados durante dez minutos, praticando a imobilidade, observe sua respiração, logo após respire três vezes mais profundamente. Perceba se a respiração é torácica ou abdominal (esta é a indicada) 4. O relaxamento da testa: fique de frente para um espelho, levante a sobrancelha até notar que sua testa está enrugada e depois solte lentamente. Depois disso, deite e feche os olhos, enrugue a testa (como se estivesse bravo) e solte lentamente, con- traia a sobrancelha levantando-a e solte-as lentamente. Você per- ceberá que ao contrair e relaxar cada grupo de músculos os demais também contraem e relaxam. 5. O relaxamento dos olhos: deitado na mesma posição anterior, porém, de olhos abertos. Olhe para a direita e permaneça 30 segundos, experimentando a tensão dos olhos. Volte o olhar, porém sem fixar nenhum objeto. Faça um minuto de pausa e repita o exercício para o lado esquerdo, para cima e para baixo, sempre 42 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN voltando para a posição mediana e relaxando os músculos. Faça as pausas para evitar alguma sensação desagradável, como tontura, dor de cabeça. 6. O relaxamento de certos grupos musculares e dos órgãos da linguagem: deitado, com olhos fechados, conte até dez em voz alta, observando a atividade da língua, dos lábios, mandíbula, pescoço e caixa torácica. Cada grupo de músculos relaxa durante três minutos, ao parar de verbalizar os números acontece uma des- contração das áreas, repita sempre duas vezes o exercício. Logo após repita o exercício, porém contando em voz baixa e depois sus- surrando. Aqui é importante a concentração. A última etapa é ima- ginar os números até 10 sem pronunciá-los, isso também provocará o relaxamento nos órgãos da linguagem. O relaxamento progressivo consiste em retesar um grupo de músculos enquanto se inspira e se retém o ar por alguns segundos. Depois, se afrouxa gradativamente e completamente a tensão enquanto se expira de forma lenta. A cada expiração, procure jogar para fora dos pulmões todo o ar que puder lentamente, sem que isso o deixe desconfortável. Repita todos os itens novamente todos os dias. Este exercício dura em média 30 minutos. 2.3 - Estratégia A.C.A.L.M.E.-S.E. (Rangé e Borba, 2008): A chave para lidar com um estado de ansiedade é aceitá-lo total- mente. Permanecer no presente e aceitar a sua ansiedade fazem-na desaparecer. Para lidar com sucesso com sua ansiedade você pode utilizar a estratégia “A.C.A.L.M.E.-S.E.”, de oito passos: 43MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE 1- Aceite a sua ansiedade. Um dicionário define aceitar como dar “consentimento em receber”. Concorde em receber as suas sen- sações de ansiedade. Mesmo que lhe pareça absurdo no momento, aceite as sensações em seu corpo, assim como você aceitaria em sua casa um visitante inesperado ou desconhecido ou uma dor incômoda. Substitua seu medo, raiva e rejeição por aceitação. Não lute contra as sensações. Resistindo você estará prolongando e intensificando o seu desconforto. Ao invés disso, flua com elas. 2- Contemple as coisas em sua volta. Não fique olhando para dentro de você, observando tudo e cada coisa que você sente. Deixe acontecer com o seu corpo o que ele quiser que aconteça, sem julgamento: nem bom nem mau. Olhe em volta de você, obser- vando cada detalhe da situação em que você está. Descreva-os minuciosamente para você, como um meio de afastar-se de sua observação interna. Lembre-se: você não é sua ansiedade. Quanto mais você puder separar-se de sua experiência interna e ligar-se nos acontecimentos externos, melhor você se sentirá. Esteja com ansiedade, mas não seja ela; seja apenas observador. 3- Aja com sua ansiedade. Aja como se você não estivesse ansioso(a), isto é, funcione com as suas sensações de ansiedade. Diminua o ritmo, a velocidade com que você faz as suas coisas, mas mantenha-se ativo(a)! Não se desespere, interrompendo tudo para fugir. Se você fugir, a sua ansiedade vai diminuir, mas o seu medo vai aumentar: donde na próxima vez a sua ansiedade vai ser pior. Se você ficar onde está - e continuar fazendo as suas coisas bem devagar - tanto a sua ansiedade quanto o seu medo vão diminuir. 44 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN Continue agindo, bem devagar! 4- Libere o ar de seus pulmões! Respire bem devagar, calma- mente, inspirando pouco ar pelo nariz e expirando longa e suave- mente pela boca. Conte até três, devagarinho, na inspiração, outra vez até três, prendendo um pouco a respiração e até seis na expi- ração. Faça o ar ir para o seu abdômen, estufando-o ao inspirar e deixando-o encolher-se ao expirar. Não encha os pulmões. Ao exalar, não sopre: apenas deixe o ar sair lentamente por sua boca. Procure descobrir o ritmo ideal de sua respiração, neste estilo e nesse ritmo, e você descobrirá como isso é agradável. 5- Mantenha os passos anteriores. Repita cada um, passo a passo. Continue a: (1) aceitar sua ansiedade; (2) contemplar; (3) agir com ela e (4) respirar calma e suavemente até que ela diminua e atinja um nível confortável. E ela irá, se você continuar repetindo estes quatro passos: aceitar, contemplar, agir e respirar. 6- Examine seus pensamentos. Você talvez esteja anteci- pando coisas catastróficas. Você sabe que elas não acontecem. Você mesmo já passou por isso muitas vezes e sabe quenunca aconteceu nada do que você pensou que fosse acontecer. Examine o que você está dizendo para você mesmo(a) e reflita racional- mente para ver se o que você pensa é verdade ou não: você tem provas de que o seu pensamento é verdadeiro? Há outras maneiras de você entender o que está lhe acontecendo? Lembre-se: você está apenas ansioso(a): isto pode ser desagradável, mas não é perigoso. Você está pensando que está em perigo, mas você tem provas reais e definitivas disso? 45MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE 7- Sorria, você conseguiu! Você merece todo o seu crédito e todo o seu reconhecimento. Você conseguiu, sozinho(a) e com seus próprios recursos, tranquilizar-se e superar este momento. Não é uma vitória, pois não havia um inimigo, apenas um visitante de hábitos estranhos que você passou a compreendê-lo e aceitá-lo melhor. Você agora saberá como lidar com visitantes estranhos. 8- Espere o futuro com aceitação. Livre-se do pensa- mento mágico de que você terá se livrado definitivamente de sua ansiedade, para sempre. Ela é necessária para você viver e continuar vivo(a). Em vez de se considerar livre dela, surpreenda-se pelo jeito como você a maneja, como você acabou de fazer agora. Esperando a ocorrência de ansiedade no futuro, você estará em uma boa posição para lidar com ela novamente. 3 - REESTRUTURAÇÃO COGNITIVA: esta técnica procura iden- tificar pensamentos automáticos, analisar os erros de lógica: pen- samentos são hipóteses e não fatos, portanto, questiona-se o con- teúdo destes pensamentos, procura-se evidências que sustentem ou não esta lógica de catastrofização: (quais as evidências de que este pensamento é realista? O que de pior poderia acontecer?) e se acontecer? E daí? Avaliar as consequências; reatribuição: geral- mente o paciente é rígido com ele e tolerante com o outro. Fazer com que se torne mais flexível com ele mesmo (e se fosse com outra pessoa, o que você pensaria dela?); generalização: a pessoa faz previsão com base numa experiência limitada (ex: se o ataque aconteceu em um supermercado outros ataques acontecerão em 46 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN supermercados, então, estes passam a ser lugares perigosos) é preciso reavaliar esta “verdade”. A Reestruturação Cognitiva é um método de intervenção onde se aplica o questionamento socrático, fazendo com que a pessoa identifique e modifique seus pensamentos automáticos que causam a desadaptação e os substitua por pensamentos mais funcionais e positivos. A maneira como a pessoa estrutura seus pensamentos, ou seja, o seu modo de pensar influencia nos seus sentimentos, comportamentos e em suas reações fisiológicas. Pensamentos automáticos são espontâneos e não estão baseados na reflexão. Pessoas diferentes interpretam de maneira diferente um mesmo evento e isso está dado pelas suas vivências pessoais, pela sua história de vida. Por meio da reestruturação cognitiva a pessoa consegue desenvolver o autocontrole, ele acontece quando você se conscientiza do seu modo de funcionamento e consegue, a partir de então, produzir modificações. Sentir ansiedade e medo está relacionado a pensamentos dis- funcionais, pensamentos distorcidos da realidade. Estas distorções podem afetar o desenvolvimento de metas e trazer emoções nega- tivas. Quem tem medo acaba potencializando um fato que na verdade é um detalhe, julgam determinadas situações a partir de seus próprios valores e crenças, tentam incessantemente provar que estão certos, tendem a exagerar as consequências de fatos e minimizar sua capacidade de enfrentamento. Ao analisar os pensa- mentos surge a possibilidade de encontrar alternativas de mudança e melhoria de sua qualidade de vida. 47MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE 3.1 Análise dos pensamentos automáticos: como é rea- lizado este processo? • Identificar os Pensamentos Automáticos Negativos • Analisar os pensamentos. • Substituir os pensamentos por outros mais realistas. • Repetir este exercício várias vezes com o objetivo de criar um novo hábito de pensar. Um hábito mais positivo e menos catastrófico. • Identificar, analisar e modificar as crenças cognitivas (mesmo processo dos pensamentos automáticos) 3.2 Descobrindo e modificando as distorções cognitivas (Knapp e cols, 2004, Beck et al, 2002) O que são as distorções cognitivas? São formas de pensar distorcidas da realidade, padroni- zadas pelos eventos da vida e que geram grande sofrimento para si próprio ou para os outros com quem convive. Expressadas por meio dos pensamentos automáticos disfuncionais, com um proces- samento de informações emocionais equivocado e mal adaptativo que distorcem a realidade para que esta se torne condizente com as crenças centrais de desamparo, desamor e desvalor. 48 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN Erros mais comuns de pensamentos: 1. Pensamento dicotômico (pensamento preto-e-branco, polarizado de tudo ou nada, 8 ou 80): A pessoa vê uma situação em apenas duas categorias em vez de vê-la em várias alternativas. Exemplo: “Se eu não for um sucesso total, eu serei um fracasso.” A pessoa perfeccionista normalmente faz uso constante desse erro de pensamento e isso faz com que se sinta inadequada e desvalo- rizado quando o sucesso esperado não vem. 2. Catastrofização: A pessoa prevê o futuro negativamente sem considerar outros resultados mais prováveis. Exemplo: Meu filho ainda não chegou, deve ter acontecido alguma desgraça, esperarei mais um pouco, pois não conseguirei dormir mesmo. Outros exemplos: Meu namorado não atende o celular, deve estar com outra. Tudo está bem entre nós, mas sei que logo começará a me desapontar. 3. Minimização do positivo: A pessoa diz para si mesma que experiências, atos ou qualidades positivos não contam. Exemplo: “Eu fiz bem aquele projeto, mas isso não significa que eu seja compe- tente; eu apenas tive sorte.” A pessoa rejeita experiências positivas insistindo que elas não contam. Desqualificar o positivo tira a alegria da vida e faz a pessoa se sentir inadequada e não recompensada. 4. Argumentação emocional: A pessoa pensa que algo deve ser verdade porque “sente” (acredita) isso de maneira tão convin- cente que acaba por ignorar ou desconsiderar fatos e evidências. Exemplo: “Eu sei que eu faço muitas coisas certas no trabalho, mas eu ainda me sinto como se eu fosse um fracasso”. 49MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE 5. Rotulação: Quando a pessoa habitua-se a colocar um rótulo global e fixo sobre si mesmo ou sobre os outros sem considerar as ocorrências. Por exemplo: “Eu sou idiota mesmo”! “Quão burra eu sou!” “Ele é um simplório”! “Os homens são todos iguais”! Esses rótulos são simplesmente abstrações que levam à raiva, ansiedade, frustração e baixo amor próprio. 6. Leitura mental: A pessoa acha que sabe o que os outros estão pensando e não considera outras possibilidades mais pro- váveis. Exemplo: “Ele está pensando que eu não sei nada sobre esse projeto”. “Ele pensa que sou uma idiota”. É possível perceber essa distorção cognitiva quando apresenta-se um trabalho acadêmico em público, pois normalmente a pessoa estará fazendo a seguinte leitura mental: “Ele está me olhando assim pois deve estar pen- sando que estou falando abobrinhas”. 7. Supergeneralização: A pessoa tira uma conclusão negativa radical que vai muito além da situação atual. Exemplo: “Nessa escola não tenho amigos, assim como era no colégio anterior”. A pessoa vê um episódio negativo como uma rejeição amorosa e estabelece um padrão de pensamento para situações similares. Outro exemplo comum: “Todos os meus namorados irão me trair”. 8. Personalização: Ocorre quando a pessoa guarda para si mesmo a inteira responsabilidade sobre um evento que não estásob seu controle. Por exemplo: “Eu não cuidei bem do meu filho, por isso ele está internado no hospital”. “Meu namorado me traiu porque eu estava estressada” Esse tipo de distorção cog- nitiva gera muito sofrimento psicológico, pois está embasada na emoção “culpa”. 50 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN 9. Ditadura dos deverias: É muito comum em personalidades do tipo obsessivo-compulsiva, pois emprega constantemente os termos: “eu deveria”, “eu tenho que”. Pessoas com características perfeccionistas utilizam esse erro de pensamento diariamente gerando uma ansiedade constante. A pessoa também cria expec- tativas exageradas em relação ao comportamento dos outros, gerando afetos negativos quando estas não são preenchidas, bem como, adoecimento psicológico do tipo: estresse , ansiedade gene- ralizada, depressão. 10. Vitimização: A pessoa tende a se sentir vítima e não res- ponsável pelas suas escolhas. Percebe-se sem sorte ao invés de perceber as responsabilidades que tem em conduzir a sua própria vida, sendo ela mesma a comandante das suas decisões, assim, age culpando os outros por sua má sorte no trabalho ou no amor, ou por qualquer outra situação difícil que aconteça no seu dia a dia. 11. Questionalização: (e.....se....) a pessoa coloca o foco no que poderia ter acontecido de diferente no passado ou no que poderá vir a acontecer no futuro. Este tipo de erro de pensamento leva a pessoa a culpar-se por uma situação que na verdade ela não poderia ter modificado. Ex: e se eu não tivesse feito aquele inves- timento? Eu não teria tantas perdas; e se o meu próximo negócio der errado? 12. Filtro mental: quando a pessoa vê somente aspectos negativos da situação. Não analisa a situação como um todo, ela faz um recorte e avalia a partir de sua percepção distorcida, não levando em consideração outros aspectos importantes da situação. 51MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE Ex: ele (a) está me traindo, pois não atendeu o telefone. 3.3 Questionando os pensamentos Automáticos Depois de identificar o seu pensamento errôneo e a sua distorção cognitiva, aplique o seguinte questionamento e tente encontrar outras explicações para seus pensamentos negativos e catastróficos. 1) Porque estou tendo este pensamento? Quais aspectos desta situação me causam ansiedade e medo? 2) Não poderia olhar o problema de outra forma? 3) Existe alguma outra explicação? 4) Como outra pessoa reagiria na minha situação? 5) Que problemas eu enfrento ? O que isso diz de mim? Do meu futuro? minha vida? 6) Quais as evidencias de que o que eu estou pensando realmente irá acontecer? 7) Será que não estou esquecendo fatos importantes ou me concentrando excessivamente em detalhes? 8) Quais os custos e ou benefícios de manter este com- portamento? 9) Será que estou superestimando minha responsabi- lidade no caso ou o controle que tenho? 10) Será que não estou superestimando minha capacidade de controlar as coisas? 52 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN 11) Será que existe mesmo muita probabilidade de acon- tecer o que eu penso? 3.4 Avaliação das emoções e das crenças No quadro abaixo descreva a situação em que você estava, que pensamentos surgiram e qual emoção acompanhou este evento. Tente fazer uma análise completa identificando o local, as pessoas que estavam com você, a situação, objetos a sua volta, ruídos, enfim, descreva detalhadamente a situação e tente identi- ficar porquê isso gerou ansiedade e como você pode solucionar da melhor maneira possível. Situação que desencadeia a ansiedade Pensamento negativo Grau da crença (0-100%) Emoção grau da emoção (0-100%) comportamento Discussão com um colega Ele sempre me critica 80% Raiva 80% Grita com o colega 53MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE 54 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN 3.5 Locus de Controle Rotter (1966) conceituou locus de controle na década de 60 a partir da teoria da aprendizagem social, como estando relacionado a maneira como o ser humano percebe a origem de situações e de seu comportamento como sendo algo interno ou externo. É à maneira como as pessoas procuram explicar porque determinados fatos acontecem em suas vidas. A pessoa poderá apresentar um locus de controle interno, ou seja, ela explica os fatos a partir de uma percepção pessoal de controle sobre as situações colocando-se como responsável pela busca de solução do problema, se sente capaz de realizar por si mesma ou ela poderá usar o locus de con- trole externo em que colocará o controle da situação no externo, ou seja, a responsabilidade da solução do seu problema ou o planeja- mento do seu futuro não está nas suas mãos e sim nas mãos de um terceiro que pode ser uma pessoa, um poder divino, o destino, o sobrenatural, o que leva a uma dependência extrema . O locus de controle interno está mais relacionado a asser- tividade (Bandeira et al, 2005) a pessoa valoriza o esforço empreendido para conquistar seus desafios e confia em seu potencial e em sua habilidade tanto pessoal como profissional. Quando a pessoa sabe que ela está no controle da situação, a ansiedade diminui e ela lida melhor com os seus medos do que as pessoas que sentem que tem o locus de controle externo, pois estas não acreditam que o controle esteja em suas mãos, ao con- trário, elas acreditam que tudo na sua vida acontece ao azar, pelos desígnios do destino e não que elas possam fazer as coisas 55MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE acontecerem por meio de seus esforços e por sua dedicação e consequentemente isso gera mais estresse, mais pensamentos negativos a respeito das situações a que estão expostas. Veja o seguinte exemplo: se alguém, perguntar como você está, poderá dizer que não está bem porque a sua namorada não o entende, que ela é possesiva e faz você sofrer (locus de controle externo), se você tivesse o locus de controle interno você diria “eu não estou conseguindo lidar com o fato da minha namorada querer estar muito tempo comigo”. Quem tem o locus de controle interno se responsabiliza pelo andamento de sua vida e não a coloca nas mãos do destino ou de outras pessoas. É importante a pessoa assumir as “rédeas da sua vida”, ou seja, faça por você mesmo, não espere que outras pessoas façam as coisas para você, não espere que outros resolvam a sua vida, decidam por você, enfim, vivam a sua vida, nem você deve viver a vida do outro, construa seu próprio caminho, sua própria vida, melhore sua auto- confiança, sua autoestima e acredite, você consegue!! Trabalhando a autoconfiança Quem não se sentiu inseguro em algum momento de sua vida? Quem nunca duvidou de suas competências? Pois é, isso faz parte das vivências, porém, é possível melhorar esta habilidade, como? Trabalhando a assertividade, a autoconfiança e a autoestima. Sokol e Fox (2010, p.203) referem que “confiança significa acre- ditar em si mesmo e em suas habilidades”. Bom, para isso é preciso 56 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN reconhecer que o que se fez até agora é digno de valor, isso mesmo, você precisa aprender a valorizar cada momento de sua vida, cada ati- vidade realizada, cada decisão tomada mesmo que ela não pareça ter sido a melhor, porém, se você parar para analisar a situação aquela foi a melhor decisão tomada naquele momento de sua vida, talvez você agisse diferente hoje, pois está mais maduro, mais experiente. Para desenvolver a autoconfiança você precisará trabalhar algumas questões como a valorização própria e como fazer isso? Questionando suas dúvidas em relação a você mesmo. Lembra das distorções cognitivas? Então, você poderá começar listando os pensamentos que você tem a respeito de si mesmo: 1.................................................................................................................2................................................................................................................. 3................................................................................................................. 4................................................................................................................. 5................................................................................................................. Agora use o questionamento socrático para refutar estes pensamentos, tenho certeza que você consegue! Depois disso faça uma lista das suas habilidades: 1................................................................................................................. 2................................................................................................................. 3................................................................................................................. 57MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE 4................................................................................................................. 5................................................................................................................. Agora liste todas as conquistas que você teve: e se vier a mente algum fracasso, veja o que você pode aprender com ele e lembre-se: não precisamos ser sempre os melhores, podemos errar, isso faz parte do crescimento pessoal e profissional. 1................................................................................................................. 2................................................................................................................. 3................................................................................................................. 4................................................................................................................. 5................................................................................................................. Sei que você precisará de mais de 5 linhas para as respostas. Pegue uma folha a parte para fazer os exercícios. Converse com seus amigos ou com familiares e procure identificar o que eles reco- nhecem em você, liste também: 1................................................................................................................. 2................................................................................................................. 3................................................................................................................. 4................................................................................................................. 5................................................................................................................. 58 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN Agora faça um cartão de enfrentamento, com frases positivas a respeito de si mesmo e leia-o todos os dias, várias vezes ao dia, ele te ajudará a acreditar mais em você. 1................................................................................................................. 2................................................................................................................. 3................................................................................................................. 4................................................................................................................. 5................................................................................................................. Alguns autores comentam que a autoconfiança está rela- cionada à assertividade e que esta poderá ser aprendida (Albert e Emmons, 2008), ou seja, você precisa aprender a lutar pelos seus direitos, precisa pedir para ser respeitado e tratado de igual para igual, não importando a função que desempenha. Ser assertivo é um comportamento que pode ser desen- volvido, pois você precisa posicionar-se frente as suas próprias opi- niões, respeitando as demais pessoas, mas expressando seus sen- timentos. Assertividade também é aprender a dizer não quando não se pode cumprir com alguma demanda feita por familiares e amigos. Pense em quantas vezes você se sentiu pressionado, ansioso com um mal estar emocional, um descontentamento por ter aceitado fazer algo que você não queria! Pois é, você tem o direito de con- versar com as pessoas e dizer-lhes o quanto você gostaria de ajudá- 59MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE -la, mas que naquele momento não será possível e não se sinta culpado por isso, pois é seu direito negar pedidos. Enfim...o sossego, isso mesmo, aprenda a lidar com todas as situações estressantes olhando para você mesmo, valorizando-se, analisando a situação, posicionando-se, assim, você encontrará o sossego necessário para lidar com tudo isso. Ah, não esqueça, você tem direito de mudar de opinião se assim lhe convier! Estabeleça seus próprios objetivos de vida e lute por eles! 3.6 Como enfrentar a ansiedade e o medo que ela gera? (adaptado de André, 2007). Identifique os hábitos diários que alimentam a ansiedade e o medo, o que os fortalecem e o fazem durar ao longo do tempo. ................................................................................................................... ................................................................................................................... ................................................................................................................... ................................................................................................................... ................................................................................................................... Para lutar contra a ansiedade e o medo: 1- Desobedeça o seu medo e a sua ansiedade: faça exatamente o contrário do que seu medo diz. 2- Informe-se sobre o que realmente lhe causa medo e ansiedade: 60 SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN pare de captar informações que só confirmem seus medos e aumentam sua ansiedade. 3- Deixe de temer o medo: não deixe de evitar que o medo apareça, mas aprenda a deixar de temê-lo, exercitando o con- trole sobre ele. 4- Pare de ter medo do medo: se exponha a ele e assim diminua sua ansiedade. 5- Pare de ter vergonha do medo: não faça julgamentos do seu medo. Considere-o um problema a ser resolvido. Diminua sua intensidade. 6- Pare de ficar triste por ter medo: lembre que se pode recair nos medos, mas é importante ser perseverante. 7- Modifique sua visão de mundo: pessoas com fobias tem uma excelente capacidade de captar qualquer sinal eventual de perigo, mas muitas vezes estes sinais são equivocados, são alarmes falsos. Pense que você possui muitos recursos para enfrentar os medos. 8- Pare de ruminar os medos: confronte-os, exponha-se a seu maior medo, até a sua ansiedade diminuir ao mínimo. 9- Saia do papel de vítima dos medos. 10- Reflita sobre seu medo, sua história e sua função: pense se há alguma vantagem em ter medo. 11- Cuide do seu estresse , pois ele aumenta os medos, provo- cando ma ativação do sistema nervoso simpático (taquicardia, sudorese, tremores, etc. que são os sintomas da ansiedade). 61MUDANDO O CAMINHO DA ANSIEDADE 12- Como cuidar de si mesmo? Faça exercícios físicos, evite café, chá mate, refrigerantes, energéticos, chocolates, álcool e drogas (eles aumentam os sintomas de ansiedade). Aprenda a relaxar (faça os exercícios de respiração e relaxamento dia- riamente). O relaxamento ativa o sistema nervoso parassim- pático que promove a diminuição do ritmo cardíaco. 13- Mantenha seu esforço ao longo do tempo: para superar e dominar o medo é preciso empenhar-se em confrontá-lo, sempre que ele quiser aparecer.
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