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NÚCLEO DE PÓS GRADUAÇÃO 
 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO 
Coordenação Pedagógica – IBRA 
 
 
 
DISCIPLINA 
 
 
 
JUVENTUDE E 
CRIMINALIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://encrypted- 
tbn3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTgO4I0g8aEyi8WKaCtI9eNIjNAf36e8PQmaQLlNDJDto 
85o54N 
 
 
 
 
 
A problemática envolvendo a criminalidade e a juventude tem atingido e 
preocupado autoridades, bem como toda a sociedade brasileira. “De fato, um 
rápido exame das sondagens de opinião pública indica que o crime constitui, 
na atualidade, uma das principais preocupações na agenda dos mais urgentes 
problemas sociais com que se defronta o cidadão brasileiro.” (ADORNO, 1999, 
p.62). 
 
O Brasil tem registrado altos índices de violência, porém tais indicadores 
não afetam toda a população da mesma maneira. Adolescentes e jovens com 
idade entre 12 e 29 anos representam 35% da população brasileira e 
representam as principais vítimas e autores de crimes violentos. Embora a 
morte não expresse todas as formas de violência cotidiana, pode-se considerá- 
la como o mais alto grau de violência interpessoal. 
 
 
 
 
 
 
 
“(...) as taxas de mortalidade juvenil, e especificamente as atribuíveis a causas 
 
violentas, indicam os diversos modos de sociabilidade e as circunstâncias
políticas e econômicas que exprimem mecanismos específicos de negação da 
 
cidadania.” (WAISELFISZ, 2010, p.7). 
 
 
 
Dados do Mapa da Violência 2010 – Anatomia dos Homicídios no Brasil 
revelam que a taxa de homicídios entre os jovens passou de 30 por 100.000 
jovens em 1980 para 50,1 no ano 2007. Ao contrário, no restante da população 
(excluída a população jovem) esta taxa permaneceu relativamente constante, 
inclusive com leve queda: de 21,2 por 100.000 habitantes para 19,6 no mesmo 
período. Segundo o relatório, “Isso evidencia, de forma clara, que os avanços 
da violência homicida no Brasil nas últimas décadas tiveram como motor 
exclusivo e excludente a morte de jovens.” (WAISELFISZ, 2010, p.137). 
Levantamento estatístico da Subsecretaria de Promoção dos Direitos da 
Criança e do Adolescente da Secretaria Especial dos Direitos Humanos 
realizado por Murad (2004) citado no SINASE (2006) – Sistema Nacional de 
Atendimento Socioeducativo – identificou que existiam no Brasil cerca de 
39.578 adolescentes no sistema socioeducativo. Destes, 70%, ou seja, 27.763 
se encontravam em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto 
(liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade). 
Segundo Rocha (2002) apud SINASE (2006, p.19), havia no país cerca 
de 9.555 adolescentes cumprindo medida privativa de liberdade – medida 
socioeducativa de internação e internação provisória. Dentre eles, 90% eram 
do sexo masculino; 76% tinham idade entre 16 e 18 anos; 63% não eram 
brancos e destes 97% eram afro descendentes; 51% não frequentavam a 
escola; 90% não concluíram o Ensino Fundamental; 49% não trabalhavam e 
85,6% eram usuários de drogas. 
 
Conforme demonstra os dados acima algumas características são 
peculiares a estes adolescentes. Em sua maioria são: do sexo masculino, não 
são brancos (negros e pardos), apresentam baixa escolaridade, grande 
defasagem escolar, além de não frequentarem a escola, não trabalharem e 
apresentarem alta taxa de consumo de drogas. 
A Teoria do Controle Social define que a gênese da delinquência juvenil 
está relacionada a problemas na vinculação social do jovem às instituições 
sociais como família, escola, igrejas. Estas teriam função fundamental na 
formação ou adaptação do indivíduo às normas sociais.
 
 
 
VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE JUVENIL NO 
BRASIL 
 
 
http://acritica.uol.com.br/manaus/politicas-voltadas-jovens-criminalidade- 
aumenta_ACRIMA20120812_0006_15.jpg 
 
 
“A delinquência pode ser a resultante de uma construção social cuja raiz 
está na própria violência familiar e social.” (LEVISKY, 2000, p.31). Dados do 
Mapa da Violência 2010 – Anatomia dos Homicídios no Brasil revelam que em 
2007 18,6% (dezoito vírgula seis por cento) da população brasileira era 
constituída por jovens entre 15 e 24 anos de idade, representando 35 milhões 
do total de 189,3 milhões de habitantes do país naquele ano. Nesta faixa etária 
tem se concentrado os maiores índices de homicídio. Naquele ano, foram 
registrados 17.475 homicídios nesta faixa etária o que significa 36,6% (trinta e 
seis vírgula seis por cento) do total de homicídios do país. O que pode explicar
http://acritica.uol.com.br/manaus/politicas-voltadas-jovens-criminalidade-
a concentração de tão altos índices de violência entre os jovens? Quais seriam 
as razões e características que os predispõem, nesta fase da vida, à violência? 
 
 
Considerações acerca da adolescência 
 
 
 
A adolescência representa uma etapa do desenvolvimento humano 
marcada por transformações biológicas, psicológicas e sociais, localizada entre 
a infância e a fase adulta. Pode ser definida a partir de diversas perspectivas 
ou correntes teóricas, variando nas diferentes culturas e organizações sociais. 
O termo adolescente, etimologicamente, vem do latim adolescere que 
significa crescer, brotar, fazer-se grande, admitindo diferenças no momento de 
“despertar” para esta fase da vida entre pessoas de diferentes raças, culturas e 
gerações. Para o ordenamento jurídico brasileiro, este período é delimitando 
temporalmente, considerando-se adolescente a pessoa entre 12 (doze) e 18 
(dezoito) anos de idade, conforme estabelecido no Art. 2º do ECA – Estatuto da 
Criança e do Adolescente. 
Muitas vezes os termos “adolescência” e “juventude” são tidos como 
sinônimos ou entendidos como fases que se sobrepõem. O Minidicionário da 
Língua Portuguesa, Bueno (2000, p.28) define o adolescente como “aquele que 
está na adolescência, jovem”. A OMS – Organização Mundial da Saúde – 
define adolescente como o indivíduo que se encontra entre os 10 (dez) e 20 
(vinte) anos de idade. Já a ONU – Organização da Nações Unidas – define 
juventude como a fase entre 15 (quinze) e 24 (vinte e quatro) anos de idade – 
sendo que deixa em aberto a possibilidade de diferentes nações definirem o 
termo de outra maneira. 
Do ponto de vista da psicologia do desenvolvimento, o início da 
adolescência é claramente marcado pelo início de transformações físicas e 
biológicas no corpo, que caracterizam a puberdade e geram o amadurecimento 
sexual. Por outro lado, o fim da adolescência se define sobretudo pela 
maturidade social, que abrange, entre outras coisas, a entrada no mercado de 
trabalho e a adoção do papel social de adulto. 
A adolescência não é uma fase homogênea, pelo contrário, é uma fase 
dinâmica. “Diferentes adolescências se configuram a partir de diferentes 
relações que os sujeitos desse ciclo de vida estabelecem com a família, a
escola, o trabalho, a cultura, o esporte e o lazer, com o próprio corpo, entre 
tantas outras esferas da vida.” 
Enquanto tenta se acostumar com as mudanças corporais, o 
adolescente corta os laços com a infância. Essa ruptura é fundamental para 
que se torne um ser único, em busca de sua autonomia. Assim, busca 
estabelecer uma nova identidade (adulta). Apoiado nas suas relações com a 
família e o meio social, reformula os conceitos que possui a respeito de si 
mesmo, abandonando a autoimagem infantil para projetar-se no futuro de sua 
vida adulta. (Aberastury & Knobel, 1992). 
 
 
http://i45.servimg.com/u/f45/17/35/23/19/delinq10.jpg 
 
 
 
“É durante a adolescência que se tem uma segunda, e grande 
oportunidade, para se oferecer condições construtivas ou destrutivas ao 
desenvolvimento da estrutura da personalidade dos jovens, a partir da 
interação com a sociedade da qual fazem parte, e na qual vão buscar seus 
novos modelos identificatórios. Os jovens são vulneráveis e susceptíveis às 
influências oriundas do meio social. Buscam fora do núcleo familiar aspectos 
que desejamincorporar à sua realidade pessoal, ou outros, com os quais 
necessitam aprender a lidar e que constituem uma parte do seu eu, nem 
sempre bem integrada à personalidade” (LEVISKY, 200, p.22).
http://i45.servimg.com/u/f45/17/35/23/19/delinq10.jpg
VIOLAÇÕES DE DIREITOS E SUAS 
IMPLICAÇÕES SOCIAIS NA JUVENTUDE 
 
 
http://www.crato.org/chapadadoararipe/wp-content/uploads/2012/06/criminalidade.jpg 
 
 
 
 
 
A realidade atual, cada vez mais global e sem limites, reflete uma 
sociedade que se encontra em constante transformação dos parâmetros que 
regem hábitos, normas e valores repletos de contradições, mostrando-se por 
vezes cruel, injusta e desigual em oportunidades. 
Expostos a esta sociedade marcada por diversos tipos de violência em que os 
direitos são violados – precariedade do sistema de saúde e educacional, falhas 
na segurança pública, relações perversas entre cidadãos e as instituições 
públicas, atrocidades cometidas por órgãos governamentais e seus 
representantes tendo como pano de fundo os interesses próprios ou de 
minorias – os jovens incorporaram este elemento como modelo identificatório, 
como padrão de conduta, e forma de autoafirmação dentro da sociedade. 
A literatura sobre violência estabelece uma forte ligação entre a violência 
sofrida e praticada por jovens e a condição de vulnerabilidade social em que se 
encontram. Para Abramovay et al. (2002) a vulnerabilidade pode ser entendida 
como o resultado negativo da relação entre a disponibilidade de recursos 
materiais ou simbólicos dos indivíduos ou grupos e o acesso à estrutura de 
oportunidades sociais, econômicas, culturais que provêm do Estado, do 
mercado e da sociedade. Esse resultado se traduz em debilidades ou
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desvantagens para o desempenho e mobilidade social desses atores 
 
(VIGNOLI, 2001; FILGUEIRA, 2001 apud ABRAMOVAY et al., 2002). 
 
Vale ressaltar que a vulnerabilidade assim compreendida traduz a 
situação em que o conjunto de características, recursos e habilidades inerentes 
a um dado grupo social se revela insuficiente, inadequado ou difícil para lidar 
com o sistema de oportunidades oferecido pela sociedade, de forma a 
ascender a maiores níveis de bem-estar ou diminuir probabilidades de 
deteriorização das condições de vida de determinados atores sociais 
(ABRAMOVAY et al., 2002). 
A partir de dados estatísticos coletados por organismos internacionais na 
América Latina e analisados pela UNESCO pode-se concluir que o acesso 
negado aos jovens a bens e direitos básicos como saúde, educação, trabalho, 
cultura e lazer restringe a capacidade de formação, uso e reprodução dos 
recursos materiais e simbólicos; torna-se fonte de vulnerabilidade, contribuindo 
para a precária integração dos jovens às estruturas de oportunidades. Nesse 
sentido, a abordagem da vulnerabilidade social se presta à compreensão da 
situação de jovens, especialmente os de baixa renda, e de sua relação com a 
violência. 
De acordo com Eva Blay apud Levisky (2000 p.38) “o problema da 
classe social, das desigualdades econômicas e da total ausência de cidadania 
para os pobres responde pela forma como estes são violentados na sociedade 
e, dentre eles, muitos reagem com respostas violentas.” Os jovens, por sua 
vez, são frutos de dinâmicas sociais pautadas por desigualdades de 
oportunidades, segregações, ausência de formação ética e cultural em valores 
de solidariedade e de cultura de paz e do distanciamento dos modelos que 
vinculam esforços a êxitos. 
Entretanto, não se pode atribuir a violência à pobreza, estabelecendo aí 
uma consequência direta, ressalta-se aqui, porém, o fato das desigualdades 
sociais e negação de direitos fundamentais (moradia, transporte, saúde, 
educação, esporte, lazer) desencadearem comportamentos violentos. Segundo 
Pinheiro (1996) citado em Abramovay (2000, p.23): “haveria uma violência de 
caráter endêmico relacionada a assimetrias sociais que se traduzem em 
autoritarismos de várias ordens como: (...) impunidade, corrupção; abusos de
forças policiais, principalmente contra os pobres e os não brancos; as violações 
dos direitos das pessoas presas-pobres; discriminação racial.” 
 
 
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Apesar da violência não estar limitada a estratos sociais, econômicos, 
raciais ou geográficos, levantamentos estatísticos demonstram que ela atinge 
com maior intensidade a grupos específicos, como por exemplo, jovens do 
sexo masculino. Uma das explicações desta incidência estaria associada à 
questão da vulnerabilidade social. Retomando as palavras sobre violência e 
crime proferidas pelo Prof. Evaristo de Morais durante o Fórum Nacional de 
Violência promovido pela Academia Nacional de Medicina em 1986 citado em 
Levisky (2000, p.45) nos leva a refletir: “Toda estrutura social se coloca por 
meio de dois pilares: as metas a serem alcançadas e os instrumentos legítimos 
para alcançá-las.” Este instrumento legítimo é o trabalho. 
Num país onde as condições de acesso a tal bem são tão desiguais, ou 
até mesmo subtraídas de determinada parcela da população, assistimos a 
busca de soluções através da violência e do crime. Os jovens sofrem os efeitos 
do déficit entre o sistema educacional e as novas imposições do mercado de 
trabalho. Fato este que promove a baixa autoestima e ausência de 
perspectivas de futuro os compelindo a lidar com as consequências de uma
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inserção precária neste mercado ou a se deparar com o desemprego. As 
dificuldades econômicas advindas como resultados deste processo geram um 
clima de instabilidade que pressiona jovens e, algumas vezes, crianças a 
buscarem formas de contribuir na subsistência da família, acarretando uma 
inserção prematura no mercado de trabalho (informal, na maioria das vezes) ou 
busca de outras formas de ganho financeiro. 
Peralva (2000) apud Abramovay (2000, p.25) considera novas 
configurações que singularizam um cenário que potencializaria violências nos 
centros urbanos na virada do século como: 1) aumento do acesso às armas; 2) 
a juvenilização da criminalidade; 3) a maior visibilidade e também a reação da 
violência policial, em especial contra jovens em bairros periféricos; 4) a 
ampliação do mercado das drogas e o poder de fogo do crime organizado, 
principalmente do narcotráfico, em diversos centros urbanos; 5) a cultura 
individualista e por consumo – individualismo de massa – que derivaria em 
expectativas não satisfeitas potencializando violências. 
A combinação destes fatores tem colocado os jovens à margem da 
participação democrática. Em decorrência, muitos ficam relegados às 
influências advindas da convivência nas ruas com outros que sofrem das 
mesmas carências quando não são atraídos pelo mundo do crime e das 
drogas, inclusive por símbolos e práticas autoritárias de imposição de poder. 
De acordo com Aberastury (1992) citado em Levisky (2000, p.50) “o 
adolescente, cujo destino é a busca de ideais e de figuras ideais para 
identificar-se, se depara com a violência e o poder e também os usa.” 
A violência juvenil, nesse contexto, tem emergido sob diversas lógicas. 
Se por um lado, tem representado uma forma de os jovens romperem com a 
invisibilidade e mostrarem-se capazes de influir nos processos sociais, por 
outro a ausência de um Estado atuante e preocupado com o bem-estar e 
qualidade de vida da população é substituído por formas de governabilidade 
negativa, como o tráfico de drogas. Segundo Levisky (2000) os adolescentes 
por suas características biopsicossociais, tendem, naturalmente, a partir para a 
ação, com maior tendência a descarregar seus impulsos agressivos e sexuais 
diretamente. Através de vias de expressão rápidas buscam asatisfação 
imediata de seus desejos, sem passar pelos critérios de avaliação,
simbolização e linguagem, frequentemente pensando depois da ação ter sido 
realizada. 
Zaluar (2002) destaca que apesar da enorme desigualdade existente no 
país, são poucos os jovens que se enveredam pela carreira criminosa. Isso 
exige que tenham um atendimento especial que considere o contexto social 
mais próximo de suas ações, tendo eles maior ou menor controle sobre estas. 
Segundo a autora, tal fato leva a um ponto crucial de discussão. Não se trata 
de optar pelos preceitos definidos pelo neoliberalismo, onde as escolhas 
ocorrem num ambiente independente de restrições sociais e de hábitos e 
aspirações exteriores aos indivíduos. Trata-se de tornar complexa a análise 
dos contextos sociais mais amplos e mais locais para entendermos os motivos 
pelos quais, cada vez um número maior de jovens (de todos os estratos 
sociais) comete crimes, o que nem significa a adoção de uma carreira 
criminosa, e por que alguns deles passam a exercer um poder paramilitar nas 
comunidades onde as instituições responsáveis pela implementação da lei 
estão ausentes, ou são ineficientes ou tornaram-se coniventes com a 
criminalidade. 
 
 
http://falandoserio.info/uploads/images/crime.jpg 
 
 
 
A vulnerabilidade social a qual estão expostos homens jovens e pobres 
resulta de um sistema escolar ineficaz, da ausência de capacitação profissional 
e da insuficiência dos postos de trabalho. Tais fatores aproxima-os das
http://falandoserio.info/uploads/images/crime.jpg
“soluções” ofertadas pelo crime-negócio. Além disso, boa parte das famílias 
encontram-se despreparadas ou são “incapazes de lidar com os conflitos 
surgidos na vida urbana mais multifacetada e imprevisível” (Zaluar, 2007). 
Ainda segundo Zaluar (2007) as armas trazem proteção e num país 
onde o dinheiro é capaz de garantir a impunidade, jovens imersos nesta 
estratégia de sobrevivência, logicamente, são impulsionados a cometerem 
cada vez mais crimes a fim de obter dinheiro e armas. Assim, conseguem o 
respeito da quadrilha e usufruem da sua proteção, já que estas fornecem 
segurança suplementar a seus integrantes. O sentimento de masculinidade é 
concebido nas relações de exibição de força, poder, dinheiro e armas de fogo, 
expressos especialmente na capacidade e disposição em destruir o adversário 
(Zaluar, 2007). 
Deste modo, adolescentes e jovens encontram nas turmas, gangues ou 
organizações criminosas uma forma de amenizar os efeitos da exclusão social, 
muitas vezes, pondo fim à invisibilidade social a qual são submetidos. Além de 
desenvolverem uma identidade individual e grupal são beneficiados pela 
proteção, reconhecimento, dinheiro e prestígio oferecidos por tais 
organizações. 
 
 
TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA 
CRIMINALIDADE E VIOLÊNCIA
 
 
http://ci.i.uol.com.br/album/3festival_cinema_latino_f_045.jpg 
 
 
 
Diferentes teorias sociológicas buscam esclarecer as razões que levam 
indivíduos a transgredir leis, cometendo crimes. Por meio da abordagem 
sociológica do crime e da violência são propostas explicações para o 
comportamento desviante, baseadas nas relações estabelecidas em sociedade 
e tendo como referência, em sua maioria, a chamada delinquência juvenil. 
Destas, algumas postulam interpretações macroestruturais para o crime, ou 
seja, suas explicações para a origem do crime se fundamentam no contexto 
social, relacionando a concentração de eventos criminosos a características de 
determinadas regiões, localidades ou grupos - exemplificadas através das 
teorias da Anomia Social e a Normalidade do Crime (Durkeim, 1995); 
Desorganização Social (Shaw e McKay, 1942; Sampson e Groves, 1989); 
Anomia (Merton, 1968); Subcultura (Wolfgang e Ferracuti, 1970) e a 
Criminologia Crítica (Young, 1980). 
Em contraposição, se apresentam as abordagens microestruturas que 
propõem interpretações individuais ou segundo MOLINA (2007) 
psicossociológicas, para as quais o crime é uma função das interações 
psicossociais do indivíduo e dos diversos processos da sociedade. Tendo 
como principais representantes: a teoria da Aprendizagem Social - Social 
Learning - (Sutherland, 1939; Cloward e Ohlin, 1970), a Teoria das
http://ci.i.uol.com.br/album/3festival_cinema_latino_f_045.jpg
Oportunidades (Wilson, J. Q. 1985); Escolha Racional (Wilson, 1985); Controle 
Social (Hirschi, 1969) e o Labelling Approach ou Rotulagem - Interacionismo 
Simbólico e Construtivismo Social. 
Desta forma, podemos agrupar as diferentes abordagens sociológicas 
sobre o crime em dois grandes programas de pesquisa: teorias 
macroestruturais ou estruturalistas e teorias microestruturas ou individualistas. 
As teorias que se agrupam no programa de pesquisa macroestrutural buscam 
analisar fatores que explicam a diferença entre taxas de criminalidade de 
diferentes localidades, populações ou grupos. Por outro lado, teorias que se 
enquadram dentro da linha adotada pelo segundo programa de pesquisa 
(teorias individuais), procuram responder à questão de por que, ainda que 
inseridos no mesmo contexto sócio-econômico-ambiental, alguns indivíduos 
cometem crimes e outros não. 
As teorias individualistas (teoria da “Associação Diferencial - 
Aprendizado Social”, teoria do “Controle Social” e a teoria do “Autocontrole”) 
partem do pressuposto fundamental de que a explicação para a prática de 
crimes deve ser conduzida pela análise de fatores cognitivos, psicossociais, 
motivacionais e interpessoais que interferem na conformação do 
comportamento individual. Ainda que haja variações entre as teorias 
individualistas quanto ao poder explicativo (alcance e limites) entre fatores 
psicossociais, interpessoais e relacionais para explicar a manifestação de 
comportamento desviante, há uma perspectiva que perpassa as diversas 
abordagens: a crença fundamental de que as causas do crime devem ser 
investigadas nas estruturas simbólicas que permeiam as relações dos 
indivíduos entre si e com a estrutura social. Dentro desse programa de 
pesquisa das teorias individualistas, vamos analisar neste trabalho a teoria do 
“Controle Social”. 
 
 
 
 
A Teoria do Controle Social
 
 
http://s01.video.glbimg.com/x240/2179980.jpg 
 
 
 
A teoria do Controle Social tenta identificar a influência que fatores 
sociais, psicossociais, interpessoais e relacionais exercem na conformação do 
comportamento delinquente individual (forma de trabalho que a insere dentro 
do programa de pesquisa das teorias individualistas). No entanto, cabe 
observar que a Teoria do Controle Social trabalha de maneira inversa à maioria 
das teorias sociológicas do crime: ao invés de se perguntar por que as pessoas 
cometem crimes, a teoria do Controle Social questiona por que as pessoas não 
cometem crimes (questão que ela compartilha com outros estudos também 
inseridos no programa de pesquisa das teorias individualistas). Nesse sentido, 
a explicação que a teoria do controle oferece a essa pergunta é a de que o 
crime ocorre quando os indivíduos não se encontram devidamente controlados, 
seja por instâncias estruturais ou psicossociais, externas ou internas, sociais ou 
individuais (HIRSCHI, 1969 apud AKERS, 2000). 
Assim, a teoria selecionada para fundamentar este trabalho foi a Teoria 
do Controle Social formulada pelo sociólogo americano Travis Hirschi em 1969. 
Na proposição teórica mais específica da teoria do Controle Social o argumento 
central é que o crime ocorre quando os laços sociais que os indivíduos mantêm 
com a sociedade se encontram enfraquecidos ou mesmo rompidos. 
Consequentemente, o que explicaria a maior ou menor manifestação de 
comportamentos delinquentes seriam as variações apresentadas pela condição 
desses tipos de controle e nãoas variações motivacionais (HIRSCHI, 1969 
apud AKERS, 2000). O foco de análise da teoria dos Laços Sociais, portanto, é
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direcionado para os mecanismos de controle social que atuam sobre o 
comportamento dos indivíduos. 
Para entender a criminalidade, o autor enfocou no papel dos laços 
sociais para fins da determinação do comportamento desviante. A proposição 
geral desta teoria é de que quanto mais fortes forem os laços entre um 
indivíduo e seus familiares, escola, igreja, clube, colegas de profissão, etc., 
maior a probabilidade de seu comportamento ser controlado ou direcionado a 
um comportamento conformista, convencional. Dentro dessa perspectiva, o 
comportamento delinquente seria resultante da quebra ou enfraquecimento dos 
laços sociais do indivíduo. 
Assim, são quatro os elementos principais que constituem os laços 
sociais: 
1. Afeição (attachment to others); 
 
2. Compromisso (commitment); 
 
3. Envolvimento (involvement); 
 
4. Crença (belief). 
 
A afeição representa a ligação e a consideração em relação a outras 
pessoas. Na medida em que há uma identificação e admiração com pessoas 
importantes para o convívio, sejam eles pais, irmãos, tios, avós, professores ou 
líderes religiosos, existe uma preocupação com a opinião e expectativas 
destes. Desta forma, qualquer atitude que possa abalar ou desapontar esta(s) 
pessoa(s) gera desconforto ou constrangimento para o indivíduo. Ao contrário, 
quando esta ligação ou afeição está enfraquecida ou até mesmo não existe, o 
sentimento de constrangimento diante da violação das normas é menor, 
aumentando assim a probabilidade da adoção ou manutenção do 
comportamento desviante. 
O compromisso diz respeito ao grau com que os indivíduos se 
identificam e se comprometem com valores convencionais. Através da 
participação em atividades escolares, trabalho, grupos sociais ou religiosos, o 
indivíduo mantém um comportamento convencional, desenvolvendo uma 
reputação positiva. O envolvimento em atividades criminosas prejudicaria o seu 
investimento, colocando em risco benefícios que foram alcançados durante 
uma vida (relação custo-benefício). Assim, o custo da perda de um
investimento conformista funcionaria preventivamente para a ocorrência de 
comportamentos desviantes. 
O envolvimento está relacionado ao grau de participação e envolvimento 
em atividades sociais convencionais. O engajamento em atividades 
convencionais como escola, trabalho, cursos, esporte, artes, absorve o 
indivíduo impedindo-lhe ou contribuindo para que se mantenha afastado das 
atividades delituosas. 
A crença significa a convicção do indivíduo em valores convencionais. 
Quanto maior for à crença de uma pessoa nas normas convencionais, maior 
será o seu conformismo e obediência, evitando que cometa atos que violem as 
leis e regras estabelecidas socialmente. 
A teoria propõe que, através da mensuração dessas quatro dimensões, 
é possível dimensionar a intensidade dos laços sociais mantidos entre 
indivíduo e sociedade e, consequentemente, aferir a propensão que as 
pessoas têm de se envolver em comportamento delinquente. Quanto mais 
intensa for à manifestação dessas quatro dimensões nas relações que os 
indivíduos mantêm com as instituições sociais (família, pais, amigos, escolas, 
professores, igrejas, etc.), mais intensos serão os laços sociais e menores 
serão as chances de manifestação de comportamento delinquente (HIRSCHI, 
1969 apud AKERS, 2000). 
 
As investigações sobre a evidência empírica da teoria do Controle Social 
são conduzidas em três frentes institucionais: (1) laços dos indivíduos com 
religião, (2) laços dos indivíduos com a família e (3) laços dos indivíduos com a 
escola. Dentro da análise sobre as relações entre indivíduos e instituições 
sociais, pesquisadores se encarregam de mensurar a intensidade dos laços 
estabelecidos entre uma instância e outra, através das quatro dimensões 
observadas anteriormente (AKERS, 2000). 
 
 
 
 
A Teoria do Controle Social e a Criminalidade Juvenil
 
 
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Relacionando os pressupostos teóricos definidos por Hirschi à 
criminalidade juvenil pode-se considerar a importância das instituições sociais 
na prevenção aos comportamentos infracionais. Dentre elas, mais do que a 
escola, ou qualquer outra instituição social, a família figura como a principal 
responsável pela transmissão social de valores, promovendo em crianças e 
adolescentes o desenvolvimento de capacidades morais e cognitivas. “A família 
é a primeira, a menor e a mais importante escola.” (LEVISKY, 2000 p.29). 
O constante processo de transformação social e tecnológica a qual a 
sociedade encontra-se submetida traz consequências para as interações 
sociais dos indivíduos, especialmente de crianças e adolescentes. Nas últimas 
décadas, as novas organizações familiares e suas necessidades suscitam 
situações propícias para o comportamento desviante. As consequências da 
emancipação feminina, a formação de famílias monoparentais, as exigências 
do mercado de trabalho e os apelos de uma sociedade de consumo, enfim, 
todos estes fatores podem contribuir para a redução da qualidade e ocorrência 
do vínculo estabelecido entre pais e filhos. 
Evitando generalizações, já que o comportamento criminoso se trata da 
exceção e não da regra, nestas situações onde os pais passam grande parte 
do tempo longe dos filhos, pode se manifestar a ocorrência do prejuízo no
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exercício efetivo do papel de educador e responsável por acompanhar o 
desenvolvimento das crianças e adolescentes, interferindo na capacidade de 
controle exercido pelos pais. 
Segundo Torisu (2008), para a Teoria do Controle Social, o que faz com 
que alguns indivíduos cometam ações desviantes é o fato desses não 
possuírem auto-controle devido a alguma deficiência em seu processo de 
socialização durante a infância. A ação delinquente pode ser considerada uma 
consequência de uma conduta educacional ineficaz dos pais, que não foram 
firmes o suficiente ao impor limites em relação às más condutas. 
Consequentemente, o indivíduo passa a agir de acordo com seus próprios 
interesses, não levando em conta ou desconsiderando as consequências de 
seus atos sobre terceiros ou situações futuras. 
Para crianças e adolescentes a participação em atividades através da 
inserção em grupos, programas ou entidades é fundamental para o 
desenvolvimento adequado e sadio, tanto físico, mental quanto cognitivo. A 
vinculação em atividades escolares, profissionalizantes, religiosas, artísticas, 
culturais, esportivas ou de lazer, além de proporcionar o desenvolvimento de 
habilidades intelectuais e motoras, estimula crianças e adolescentes a 
aprimorar sua capacidade de comunicação e socialização. Os benefícios 
alcançados não se restringem à saúde e bem-estar. Estes momentos 
proporcionam o aprendizado e assimilação de valores e hábitos que podem 
atuar preventivamente ao envolvimento com a prática infracional. O tempo 
dispensado à realização de tais atividades ou a participação em grupos ou 
programas pode impedir que adolescentes e jovens estivessem susceptíveis às 
atividades ilícitas. Parte-se do princípio, é claro, de que nestes locais não lhes 
sejam proporcionadas oportunidades de contato com tais práticas ou estas 
ocorram em menor intensidade. 
Na medida em que se integram e se envolvem com as atividades ou 
grupos passam a absorver os conhecimentos transmitidos, podendo despertar 
no adolescente o sentimento de pertencimento. Esse pertencimento pode ser 
responsável por desencadear o compromisso do adolescente e a crença nos 
valores e conhecimentospraticados por aquele grupo ou pertencente à 
determinada atividade.
Baseado nos pressupostos propostos por Hirschi através da Teoria do 
Controle Social a vinculação social de crianças e adolescentes pode neutralizar 
o potencial delitivo por meio da adoção de condutas conformistas. Ao contrário, 
quando fracassam tais mecanismos de controle, há um processo de 
desenvolvimento de uma identidade não conformista que se traduz em 
comportamentos desviantes e no aumento da criminalidade juvenil (MOLINA, 
2007). 
 
 
 
 
 
A "DELINQÜÊNCIA JUVENIL" 
 
 
 
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A problemática da inimputabilidade penal em face da idade 
 
 
 
O emprego da expressão delinquência juvenil tem suscitado interminável 
discussão teórica, quanto à impropriedade técnica dessa terminologia. A 
discussão está centrada no conceito analítico do delito, que, como se sabe, 
consiste na ação ou omissão típica, antijurídica e culpável. Ora, sustenta-se, 
desde que inexista um, dentre os três elementos, integrantes do conceito 
analítico do delito - tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade -, não se 
configura a hipótese de prática delituosa. 
No caso, o cerne da questão gira em torno da culpabilidade, que constitui
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o elemento subjetivo do delito, isto é, o nexo moral que liga o agente ao fato 
criminoso que lhe é imputado. 
Na linha desse raciocínio, a culpabilidade pressupõe a imputabilidade, ou 
seja, a capacidade moral atribuída ao homem, pelo fato que lhe é imputado - 
imputatio facti -, como sua obra e a forma dessa imputação - dolo ou culpa -, 
imputatio juris, isto é, a atribuição de um fato a um indivíduo para fazê-Io sofrer 
as consequências e torná-Io responsável por isso. Em outras palavras, o 
imputável é o penalmente responsável; o inimputável é o irresponsável. 
Em geral, os Códigos Penais não definem a imputabilidade, mas esta- 
belecem as condições de inimputabilidade, ou seja, as dirimentes, como é o 
caso de nosso Código Penal de 1940, em cujos artigos 22 a 24 adotou o cha- 
mado critério biopsicológico normativo, segundo o qual o agente é isento de 
pena ou esta é reduzida, em determinadas circunstâncias, que o próprio 
Código prevê. 
Nos casos concretos, isto é, quando houver dúvida sobre a integridade 
mental do agente, este será submetido a exame médico-legal, de natureza 
psiquiátrica, na forma prevista pelo artigo 149, do Código de Processo Penal de 
1941. 
 
Adotou o legislador de nosso Código Penal de 1940 o princípio da 
chamada responsabilidade moral, que se baseia na consciência e vontade do 
agente, responsabilidade essa sobre a qual a pena deve atuar, para a rea- 
lização de sua finalidade inerente à sua natureza aflitiva, expiatória, retributiva 
e também tendente a plasmar uma nova consciência no delinquente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conceito de responsabilidade ou imputabilidade penal
 
 
 
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Segundo Nélson Hungria, o Código Penal de 1940, não dá uma definição 
positiva da responsabilidade, sob o ponto de vista jurídico-penal, limitando-se a 
declarar os casos em que está se considera excluída, assim se expressando: 
"Por dedução a contrário do texto legal, verifica-se que a responsabilidade 
pressupõe no agente, contemporaneamente à ação ou omissão, a capacidade 
de entender o caráter criminoso do fato e a capacidade de: 
 
 
 Determinar-se de acordo com esse entendimento. Pode, então, definir- se 
a responsabilidade como a existência dos pressupostos psíquicos pelos quais 
alguém é chamado a responder penalmente pelo crime que praticou. Se- gundo 
um critério tradicional, que o Código rejeitou, haveria que distinguir entre 
responsabilidade e imputabilidade, significando esta a capacidade de direito 
penal ou abstrata condição psíquica da punibi1idade, enquanto. Aquela 
designaria a obrigação de responder penalmente in concreto ou de sofrer a 
pena por um fato determinado, pressupostos da imputabilidade. A distinção é 
bizantina e inútil. Responsabilidade e imputabilidade representam conceitos 
que de tal modo se entrosam, que são equivalentes, podendo, com idêntico 
sentido, ser consideradas in abstrato ou in concreto, a priori ou a posteriori. Na 
terminologia jurídica, ambos os vocábulos podem ser indiferentemente 
empregados, para exprimir tanto a capacidade penal in generis, quanto à 
obrigação de responder penalmente pelo fato concreto, pois uma e outra são
http://blogues.cyberpresse.ca/boisvert/files/2012/01/images-12.jpeg
aspectos da mesma noção" (Comentários ao Código Penal, voI. I, Tomo 2°, p. 
 
314). 
 
Entretanto, esse entendimento não é pacífico, do ponto de vista teórico, 
dele discordando, por exemplo, Aníbal Bruno (Direito Penal, I, Tomo U, p. 27), 
José Frederico Marques (cf. Euclides Custódio da Silveira, in Notas ao Direito 
Penal, 10 voI., p. 242), autores esses que distinguem responsabilidade e 
imputabilidade. 
 
 
 
 
Capacidade de entendimento ético-jurídico do agente do delito 
 
 
 
Como se sabe, segundo a sistemática adotada pelo nosso Código Penal 
de 1940, a responsabilidade só deixa de existir quando inteiramente suprimidas 
no agente, ao tempo da ação ou omissão, a capacidade de entendimento ético- 
jurídico ou a capacidade de adequada determinação da vontade ou de 
autogoverno. Tal supressão, porém, está indeclinavelmente condicionada a 
certas causas biológicas: "doença mental", "desenvolvimento mental 
incompleto ou retardado" e "embriaguez fortuita e completa". Foi, assim, 
adotado o método chamado misto ou biopsicológico, devendo notar-se, 
entretanto, que o Código faz uma exceção a essa regra quando trata dos 
menores de 18 anos, pois, nesta hipótese a causa biológica (imaturidade) 
basta, por si só, irrestritamente, sem qualquer indagação psicológica, para 
excluir a responsabilidade penal, como sustenta Nélson Hungria (Comentários 
ao Código Penal, voI. I, Tomo 2°, ps. 314 e segs.).
As reações psíquicas do embrião e do feto e seus reflexos no 
comportamento futuro do ser humano 
 
 
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Na realidade, o critério adotado pelo nosso Código Penal de 1940 tem 
origens e explicações de natureza psicológicas, eis que, qualquer que seja o 
momento em que surpreendemos o germe humano, desde a sua fecundação, 
até adquirir o caráter de embrião (aos dez dias) ou de feto (aos dois meses), 
nele podem obter-se experimentalmente dois tipos de reação: locais e globais, 
reações essas que, progressivamente, adquirem um caráter unitário e 
intelectual, base das reações psíquicas, cujo aparecimento se dá incon- 
testavelmente pelo sexto mês do desenvolvimento intrauterino, coincidindo com 
a viabilidade do feto. Em suma, há portanto uma psicologia pré-natal (Emília 
Mira y Lopez) 
Daí os efeitos nocivos, nos casos das gestantes que rejeitam a materni- 
dade, isto é, não desejam procriar, maldizem o feto, que se encontra em suas 
entranhas, utilizam-se de substâncias para tentar abortar, por não disporem de 
recursos financeiros para realizar o aborto, por meio de um médico. 
Após a passagem migratória do feto para o mundo exterior, inicia-se a / I 
evolução extrauterina do recém-nascido, que atravessa diversas fases, até 
atingir a primeira e segunda infâncias, daí passando à adolescência (do latim 
adolescere, que significa crescer), que constitui um breve espaço de tempo, 
que precede a puberdade, correspondendo aproximadamente ao período entre
os 11 e os 13 anos nas meninas e os 12 e 14 anos nos meninos. Nesse 
período, como ressalta Emilio Mira y Lopez, observam-se, a par de notáveis 
transformações anatômicas e psicológicas, alterações de conduta e mudanças 
morfológicas sensíveis. É o momento evolutivo do chamado"estirón", ou seja, 
de um crescimento estatural acelerado. 
À medida que a Psicologia vai progredindo, acentua-se a importância do 
estudo da problemática existencial dos adolescentes, ampliando-se a duração 
admitida para esse período, até compreender não somente a puberdade, mais 
também grande parte da juventude, isto é, o segundo decênio da vida. De sorte 
que, já não é a adolescência intercalada entre a meninice e a puberdade, mas 
sim entre a meninice e a maioridade, variando em consequência os critérios 
legislativos de cada país, no tocante à concessão dos direito sociais e 
responsabilidade civil e penal do indivíduo (Psicologia Evolutiva da Criança e 
do Adolescente, ps. 23, 24 e 157). 
 
 
Reflexos da problemática capitalista sobre o comportamento da 
criança e do adolescente 
 
 
Como é notório, o sistema capitalista vive inexoravelmente sujeito a crises 
cíc1icas, crises essas de natureza complexa, isto é, social, política, econômica, 
familiar, devido a diversas causas e múltiplos fatores, inerentes ao próprio 
capitalismo, e que se manifestam através do desemprego, recessão, 
especulação desenfreada, fome, miséria, impunidade da corrupção ad- 
ministrativa, ambição de lucros, utilização nociva dos meios de comunicação 
social (rádio, televisão, filmes, jornais, revistas, escritos e impressos 
pornográficos), exploração sexual, erotização, tráfico de drogas e de armas, 
bem como numerosos outros aspectos. 
Ora, tudo isso se reflete sobre a estrutura familiar, sobre o comportamento 
humano, a moralidade pública, os costumes. Em consequência disso: "A 
sociedade familiar decai. Crianças de oito, dez e doze anos se dedicam à 
prostituição na Inglaterra. Jamais presenciei um comércio de sexo infantil como 
agora", disse Arthur Nixon, delegado à Reunião Anual da Associação Britânica 
de Diretores de Colégio em 1981. 
Hungria sentenciou: "O delinquente juvenil é, na grande maioria dos
casos, um corolário do menor socialmente abandonado, e a sociedade, per- 
dendo-o e procurando, no mesmo passo, reabilitá-Io para a vida, resgata o que 
é, em elevada proporção, sua própria culpa" (Comentários ao Código Penal, 
voI. I, Tomo 2°, ps. 353 e 354). 
Note-se que a Lei n° 8.069/1990, assim considera e distingue a criança 
do adolescente, para os efeitos legais. 
"Art. 2° - Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até 
doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito 
anos de idade. Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se 
excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de 
idade." 
Cabe lembrar que a adolescência é o período de vida caracterizado por 
amplas e profundas modificações psicossomáticas, em que se completa o 
desenvolvimento morfológico-funcional do ser humano. 
Durante essa fase da existência humana, definem-se os caracteres se- 
xuais secundários, avivam-se os processos intelectuais, a sensibilidade, e toda 
uma nova problemática, de ordem biopsicológica, sócio-cultural e político- 
econômica, situação essa que repercute na esfera jurídica, daí por exemplo o 
fato de que aos dezoito anos completos o indivíduo está sujeito à convocação 
para efeito de prestação do serviço militar, direito de voto e ser votado (arts. 14, 
§ 1°, I, e 143, da Constituição de 1988), assim como o homem contrair 
matrimônio, mediante consentimento dos pais ou de representante legal (arts. 
183, XII, e 185 e segs. do Código Civil de 1916). 
 
Quanto à mulher, pode a mesma consorciar-se após completar dezesseis 
anos, observadas as formalidades para o consentimento, acima referidas.
 
Terminologia adequada acerca dos desvios de comportamento da 
criança e do adolescente 
 
 
http://thumbs.web.sapo.io/?epic=hFvCDmFsRVxYmKeScC5cKeyri5lRAp+LS16WI8s3rdWrcQTMfG 
 
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A expressão delinquência juvenil foi usada pela primeira vez na Inglaterra, 
em 1815, por ocasião do julgamento de cinco meninos de 8 a 12 anos de 
idade. 
Atualmente, essa expressão tem suscitado várias críticas, como assi- 
nalamos acima, sendo empregada com diferentes sentidos, conforme a opinião 
dos autores, para exprimir os seguintes conceitos, principalmente: 
a) a delinquência juvenil compreende os comportamentos antissociais 
praticados por menores e que sejam tipificados nas leis penais; 
b) a delinquência juvenil não deve ser encarada sob uma perspectiva 
meramente jurídica, devendo incluir também os comportamentos anormais, 
irregulares ou indesejáveis; 
c) a delinquência juvenil abrange, além do que foi assinalado nas teorias 
anteriores, aqueles menores que, por força de certas circunstâncias ou 
condutas, necessitam de reeducação, cuidado, proteção. 
Das três posições acima, a mais aceita é a primeira. 
 
Salienta ainda César Barros Leal que, por ocasião do Segundo Con- 
gresso das Nações Unidas sobre Prevenção do Delito e Tratamento do
http://thumbs.web.sapo.io/
Delinquente, realizado em Londres, em 1960, foi aprovada recomendação no 
sentido de que o significado da expressão delinquência juvenil deve restringir- 
se o mais possível às infrações do Direito Penal. 
Em muitos países confunde-se delinquência juvenil com inadaptação, cujo 
conceito não apenas compreende menores autores de infrações penais, como 
também retardados, neuróticos, desequilibrados, abandonados, órfãos, 
vagabundos etc. (A Delinquência Juvenil: Seus Fatores Exógenos e 
Prevenção, ps. 43 e segs.). 
Aliás, o. Segundo Seminário dos Estados Árabes sobre Prevenção e 
Tratamento do Delinquente, realizado sob os auspícios das Nações Unidas, em 
Copenhague, em 1959 já havia concluído que os termos delinquência e 
inadaptação não são equivalentes, pois, os dois problemas são diversos, eis 
que a delinquência de menores abrange somente os atos que, praticados por 
adultos, seriam considerados delitos. 
Por sua vez, o Seminário Latino-Americano sobre Prevenção do Delito e 
Tratamento do Delinquente, realizado no Rio de Janeiro, em 1953, embora 
concluísse que a expressão delinquência juvenil "era tecnicamente 
inadequada" ("por não reunir os elementos essenciais do conceito doutrinário 
do delito"), reconheceu, contudo, que pela inexistência de expressões 
substitutivas apropriadas, poderia continuar a ser utilizada. 
 
 
Casas dos desvios de comportamento da criança e do adolescente. 
As associações em bandos para fins criminosos 
 
 
Da mesma forma que em relação aos adultos, diversas causas - endó- 
genas e exógenas - influem sobre a conduta delituosa do menor. 
Essas causas podem ser de natureza genética, psicológica, patológica, 
econômica, sociológica, familiar. 
As condições de vida miseráveis dos pais, fome, subnutrição, alcoo- 
lismo, consumo de drogas, falta de condições mínimas de higiene, ausência de 
qualquer exame pré-natal e hábito de fumar da gestante, enfermidades 
crônicas e outros aspectos, marcam a vida do novo ser antes do seu 
nascimento. 
No período de zero a sete anos, em que a criança mais necessita de as-
sistência sanitária e de nutrição, ocorrendo à falta desta, os neurônios (células 
nervosas com os seus prolongamentos) do menor serão fatalmente atingidos, e 
o trabalho de recuperação, mesmo usando-se os mais sofisticados métodos, 
não surte efeito, como salientou Antônio Alfredo Fernandes (Jornal do Brasil, 
14.04.1978). 
 
Segundo o relatório da FAO (Organização para a Alimentação e Agri- 
cultura, órgão da ONU), divulgado em 1978, o consumo médio de calorias nos 
países ricos subiu para 3.380, contra 2 mil calorias consumidas em média nos 
países subdesenvolvidos. 
Essas disparidades, segundo a F AO, provocam males, sob um duplo 
aspecto, isto é, tanto ocasionam doenças por subnutrição como pelo consumoexcessivo de alimentos ou a adoção de dietas inadequadas nos países ricos. 
Está fora de dúvida, porém, que os males resultantes da fome são des- 
proporcionalmente maiores para os pobres, até porque estas condições lhes 
são impostas, como consequência das desigualdades internacionais e da 
exploração exercida pelas potências imperialistas, através do controle de 
preço, açambarcamento e distribuição de alimentos, nos diversos países 
capitalistas. 
A subnutrição não é apenas um mal em si: todos os anos cem mil cri- 
anças ficam cegas por causa daquela; 40% das mulheres adultas dos países 
subdesenvolvidos são anêmicas. 
Na América Latina, mais da metade das mortes entre as crianças de 
menos de dois anos é atribuída à alimentação deficiente. 
De acordo com as previsões de Luan Pablo Terra, consultor da UNICEF 
(Fundo das Nações Unidas para a Infância), se persistirem as condições atuais 
na América Latina, morrerão nos próximos 20 anos, cerca de 30 milhões de 
crianças e outras tantas sofrerão desnutrição grave (Rev. Bras. de Ciênc. 
Jurídicas, n° 1, ps. 76 e segs.). 
Na década de 1980, a UNICEF divulgou um relatório específico acerca da 
situação da criança no Brasil, registrando elevados índices de mortalidade 
infantil, devido, entre outras causas, à falta de assistência pré-natal e cuidados 
médicos, durante o parto; dito relatório salientou também aspectos 
relacionados à deficiência mental da criança, em razão da subnutrição das 
mães, bem como do próprio menor, nos primeiros meses de vida, com a
consequente atrofia das células cerebrais, insuficiência de peso, propensão a 
doenças etc. (Jornal Nacional, Brasília, 07.06.1984). 
Ora, esse conjunto de causas e fatores enseja inexoravelmente a 
formação de crianças deficientes e futuros adultos débeis mentais, por 
conseguinte, uma porta larga para os desvios de comportamento, inclusive 
condutas delituosas, tomando tais seres humanos um peso morto, uma carga 
inútil e nociva ao meio social em que vivem. Paradoxalmente, esse mesmo 
meio social - através de seus órgãos punitivos - acaba de liquidai-os, moral e 
fisicamente, nos seus estabelecimentos prisionais: as mundialmente 
conhecidas "casas de horrores". 
 
 
Fatores criminógenos que atuam sobre a criança e o adolescente 
 
 
 
Quanto aos fatores criminógenos, de natureza exógena, relacionados ao 
meio social, aos aspectos psicológicos e psiquiátricos, que atuam 
negativamente sobre a criança e ao adolescente, destacam os autores os 
seguintes: 
a) disciplina mais rígida ou descontínua da parte do pai; b) supervisão não 
adequada da parte da mãe; 
c) pai delinquente e hostil; 
d) mãe indiferente e hostil; 
e) família sem coesão; 
f) desejo marcante de afirmação pessoal na sociedade; g) atitude 
marcante de desprezo e desafio; 
h) marcante destrutividade; 
 
i) aventureirismo; 
 
j) instabilidade emotiva; 
 
k) procedentes familiares de vício ou delinquência; m) falta de ocupação; 
 
l) influências extrafamiliares, más companhias; 
 
m) famílias numerosas com problemas econômicos etc. 
 
Segundo estudos realizados na extinta Alemanha Federal, cerca de 
metade das crianças estava crescendo em meio a um ambiente em que devem 
contar, a cada instante, com uma surra ou bofetada, ou seja, hábitos violentos 
por parte dos pais.
O relatório publicado a respeito informa que grande número de 
ocorrências permaneciam ocultas, pois havia interesse em disfarçá-Ias, 
dificultando-se as sindicâncias. Apesar disso, suponha-se como realista a cifra 
de 15.000 a 18.000 casos anuais de maus tratos físicos a crianças, com 
reflexos negativos sobre a sua personalidade, conduta e reação emotiva. 
No Brasil, embora não existam estudos a respeito, há indícios do mesmo 
fenômeno, resultando inclusive, em alguns casos, fraturas em crianças, sob o 
disfarce de quedas, acidentes. 
No que tange às associações em bandos juvenis, elas existem de forma 
mais estruturada e em maior número nos EUA, onde, por coincidência, é 
também maior o índice de crime organizado (organized crime), embora ditas 
associações sejam universalmente conhecidas, inclusive no Brasil, como 
salientamos noutra parte deste trabalho. 
As denominações dessas associações variam nos diferentes países, a 
saber: gamberros (Espanha), vitelloni (Itália), teddy-boys (Inglaterra), blousons 
noirs (França), Halbstarker (Alemanha), nosem (Holanda), anderujmer 
(Dinamarca), pasek (Tchecoslováquia), hooligans (URSS e Polônia), pavitos 
(Venezuela), zazous (África), bodgies (Austrália), taizo-zoke (Japão) e Tai-Pao 
(China), como assinala César Barros Leal (ob. cit., p. 39). 
No Brasil, inexistem estudos específicos, a respeito das associações em 
bandos juvenis, com o objetivo de práticas delituosas; contudo, são flagrantes e 
exuberantes os indícios e provas, quanto à existência desses bandos, sendo os 
menores denominados, individualmente, de "trombadinhas" (São Paulo) e 
"pivetes" (Rio de Janeiro). 
Mutatis mutandis, da mesma forma que em relação aos adultos, existem 
cifras douradas (em relação aos menores pertencentes às classes sociais 
privilegiadas), cifras negras (práticas delituosas não detectadas, ou que 
escapam ao controle oficial) e as práticas delituosas reprimidas, em 
conformidade com a legislação aplicável em cada país.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IMATURIDADE PENAL 
 
 
 
http://www.jornaldamadeira.pt/sites/default/files/delinquenciainfantil_0.jpg 
 
 
 
Estabeleceu o art. 23, do nosso Código Penal de 1940 que, os menores 
de dezoito anos são penalmente irresponsáveis, ficando sujeitos às normas 
estabelecidas na legislação especial, preceito esse reproduzido no art. 228 da 
Constituição de 1988. 
A legislação especial em causa consistiu em diplomas legais específicos, 
que se sucederam até a vigência da Lei n° 8.069, de 13.07.1990-Estatuto da 
Criança e do Adolescente -, que dispõe, dentre outras medidas, sobre a 
assistência, proteção, vigilância, vida e saúde dos mesmos. 
Como se vê, pelos princípios acima expostos, a imaturidade individual e 
individual-social do psiquismo das crianças e adolescentes constitui causa de 
exclusão ou atenuação da imputabilidade, matéria essa que tem recebido as 
soluções mais diversas através dos tempos: a equiparação penal do menor ao 
adulto, a exclusão da pena para as primeiras idades, ou a sua atenuação
http://www.jornaldamadeira.pt/sites/default/files/delinquenciainfantil_0.jpg
subordinada ou não ao critério dos discernimentos. "Hoje, o pensamento 
fundamental em referência à chamada criminalidade dos menores, é que ela 
não constitui matéria do Direito punitivo, mas de um regime tutelar" (Aníbal 
Bruno - Direito Penal, I, Tomo 2°, ps. 163 e segs.). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Critérios legislativos distintos sobre a incapacidade civil e penal dos 
menores de dezoito anos 
 
 
http://1.bp.blogspot.com/_vTGju0yQDfU/TABGbHQyunI/AAAAAAAAAA0/slpn6Jm93sE/s 
 
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A incapacidade do indivíduo, segundo a lei civil, é de fato, e não de 
direito, quer dizer, as pessoas consideradas incapazes, II-° sentido jurídico, têm 
direitos, mas não os podem exercer, ou então, não 10 podem fazer de modo 
absoluto (art. 5°, I a IV, do Código Civil de 1916, ou relativamente a certo 
número de atos (art. 6°, I a III, do referido Código). 
Todavia, isso implica dizer, dentre outros aspectos, que a incapacidade 
civil não isenta o agente incapaz, quanto à obrigação de reparação do dano por 
ele causado, o que ocorre por intermédio de seu representante legal (arts. 84 e 
1.521, I e II, do predito Código), como decorrência do princípio da 
responsabilidade por fato de terceiro, como lembramos noutro trabalho
http://1.bp.blogspot.com/_vTGju0yQDfU/TABGbHQyunI/AAAAAAAAAA0/slpn6Jm93sE/s
(Responsabilidade Civil no Direito Brasileiro, ps. 271 e segs.). 
 
Nesse sentido, preleciona ClóvisBeviláqua, ao comentar o art. 155 do 
mencionado Código, que dispõe sobre a obrigação de o menor, entre de- 
zesseis e vinte e um anos, responder pelo seu ato, quando agir deso1amente, 
assim se manifestando: 
"A malícia supre a idade malitia supplet octatem. O menor que, do10- 
samente, esconde a sua idade consegue convencer a outrem, de que é capaz, 
não pode invocar, depois a proteção da lei em favor de sua debilidade mental. 
A malícia não deve aproveitar a ninguém, diz outro brocardo, nem, ainda, aos 
menores" (Código Civil, p. 340, vol. I, 1956). 
Versando sobre o tema, salienta Ga1dino Siqueira que, "no homem a 
noção do justo surge mais cedo do que a noção do útil", aduzindo o seguinte: 
"A lei civil mesmo tem em tanta conta este fato de observação, que 
declara o menor responsável pelos seus delitos ou quase-delitos civis, ainda 
que lhe seja permitido anular suas obrigações convencionais, desde que prove 
ter sido lesado. Daí por que a maioridade penal é fixada antes da maioridade 
civil nas diferentes legislações" (cf. Direito Penal Brasileiro, p. 354, vaI. I, 1932). 
Contudo, cumpre lembrar que a experiência legislativa brasileira adotou, no 
passado, o critério de responsabilidade penal aquém dos dezoito anos, como 
veremos adiante. 
 
 
 
 
Experiência legislativa brasileira, acerca da responsabilidade penal, 
em função da idade 
 
 
O nosso Código Penal de 1890 estabeleceu em seu art. 27, que não são 
criminosos, dentre outros, os menores de nove anos completos, e os maiores 
de nove e menores de 14, "que obrarem sem discernimento" (§§ 1° e 2°). 
Por sua vez, o art. 30, do mesmo diploma legal, dispôs que "os maiores 
de nove anos e menores de 14, que tiverem obrado com discernimento, serão 
recolhidos a estabelecimentos disciplinares industriais, pelo tempo que ao juiz 
parecer, contanto que o recolhimento não exceda à idade de 17 anos". 
Comentando o citado art. 27, do Código Penal brasileiro de 1890, sa- 
lientou Oscar de Macedo Soares que o critério de idade, adotado pelo Código
Criminal do Império (1830) e pelo referido Código de 1890, teve como fonte de 
inspiração o direito romano, que distinguia as três classes: infantes (até os 7 
anos), impuberes (dos 7 aos 14 anos), minores (dos 14 aos 18 ou aos 21 
anos). 
Em suma, segundo o referido Código, em se tratando de menores de 9 a 
 
14 anos, que obrarem sem discernimento, a irresponsabilidade é plena; quanto 
àqueles, da mesma idade, que obrarem com discernimento, a 
irresponsabilidade é semiplena, e por isso determinava o Código fossem 
recolhidos a estabelecimentos industriais, disciplinares, pelo tempo que o juiz 
determinasse, contanto que dito recolhimento não excedesse a idade de 17 
anos (Código Penal da República dos Estados Unidos do Brasil, 3a ed., p. 34). 
Por seu turno, a Consolidação das Leis Penais (Decreto n° 22.213, de 
 
14.12.1933), que vigorou até a entrada em vigor do Código Penal de 1940, 
dispôs em seu art. 27 que não são criminosos, dentre outros, os menores de 14 
anos (§ 1°), enquanto o art. 30, do mesmo diploma punitivo, estabeleceu que 
"os menores de 18 anos, abandonados e delinquentes, ficam submetidos ao 
regime estabelecido pelo Decreto n° l7.943-A, de 12.10.1927" (Código de 
Menores). . 
Versando sobre a matéria, escreveu Francisco Pereira de Bulhões 
Carvalho, que em relação aos menores infratores da lei penal de 14 a 18 anos, 
o Código de Menores, de 1927, determinou "um verdadeiro sistema penal 
próprio, isto é, aplicação de sanção penal relativamente indeterminada, 
correspondente à prática do delito e a ser cumprida em reformatório ou 
estabelecimento anexo a penitenciária de adulto" (Direito do Menor, p. 34). 
O fato é que a fixação da idade, para efeito de responsabilidade penal, 
varia de acordo com os Código Penais dos diversos países, atendendo natu- 
ralmente a critérios relacionados às tradições jurídicas, condições sociais, 
situação econômica e outros, variando a idade de 14 a 21 anos, como veremos 
oportunamente. 
Por sua vez, o legislador de 1940 não cuidou da maior ou menor pre- 
cocidade psíquica dos menores de dezoito anos: "declarou-os por presunção 
absoluta, desprovidos das condições da responsabilidade penal, isto é, o 
entendimento ético-jurídico e a faculdade de auto governo" (cf. Nélson Hungria, 
Comentários ao Código Penal, art. 23, vol. I, tomo 2°, 1955).
Em outras palavras, em virtude de mera presunção legal, de natureza 
biopsicológica, os menores de dezoito anos são considerados imaturos, si- 
tuação essa que basta, por si só, irrestritamente, sem qualquer indagação 
psicológica, para excluir a responsabilidade penal, deixando-os "fora do Direito 
Penal (00')' sujeitos apenas à pedagogia corretiva de legislação especial" (cf. 
Exposição de Motivos ao Código Penal de 1940, n° 19, infine). 
Por seu turno, a Lei n° 7.209, de 11.07.1984, que alterou dispositivos do 
Código Penal de 1940, manteve o mesmo critério sobre a inimputabilidade 
penal dos menores de dezoito anos (art. 27 da Parte Geral). 
Em outras palavras, não foram levados em conta os fundamentos de or- 
dem psicológica, concernentes ao discernimento e inteligência, para efeito da 
fixação da idade para a responsabilidade penal, como veremos adiante. 
 
 
 
 
Discernimento e inteligência em função da idade do ser humano 
 
 
 
 
 
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Como seres humanos, embora com tenra idade, as crianças são também 
suscetíveis de degenerescência, seja por fatores ou causas hereditárias, 
genéticas, biológicas, sociais, econômicas, psicológicas, familiares, que podem 
exercer influência maléfica sobre aquelas, a ponto de transformá-Ias em 
verdadeiros monstros, entes perversos, insensíveis, cruéis, torpes, assassinos,
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sanguinários. 
 
Daí a expressão criança-monstro, cujos casos concretos são conhecidos 
desde a Antiguidade, constituindo objeto de estudos psiquiátricos (cr. Philip 
Solomon e Vemon D. Patch, Manual de Psiquiatria, ps.530 e segs.; Arthur 
Ramos, A Criança Problema, ps. 31 e segs.). 
Seja como for, o tema em apreço relaciona-se à problemática de natureza 
psicológica, concernente ao discernimento e inteligência, que devem servir de 
fundamento para a fixação da idade de responsabilidade penal. 
 
 
Em síntese, discernimento é a faculdade que tem o indivíduo de distinguir 
perfeitamente os atos que pratica, assim como calcular os seus efeitos. 
Por sua vez, J. Alves Garcia assim conceitua a inteligência: 
"Chamamos inteligência ao conjunto constituído por todos os dons, 
talentos ou instrumentos que nos permitem adaptar às circunstâncias e 
desincumbir das tarefas que nos propõe a existência. Enquanto o 
desenvolvimento do corpo se opera até aos 20 ou mais anos, o da inteligência 
detém-se aos 15 anos, ou mais geralmente nos 13 anos, após o que crescem a 
experiência e a educação, somente" (Psicopatologia Forense, ps. 91 e segs.). 
 
Concluindo, a problemática em apreço está intimamente relacionada ao 
fator decisivo à afirmação individual, ou seja, o quociente da inteligência (QI) 
focalizado noutra parte da presente obra. 
Agora, a problemática da inteligência interessa como fundamento e 
critério para a fixação da idade, para efeito de responsabilidade penal do in- 
divíduo, como veremos adiante. 
Cabe lembrar ainda que, de acordo com os estudos sobre o assunto, o 
menor ou maior quociente de inteligência, assim como o fenômeno do indivíduo 
superdotado não resultam da hereditariedade, constituindo sim características 
individuais, da mesma forma, por exemplo, como os dotes vocais, a bela voz, o 
talento artístico. 
 
 
 
 
Direito Comparado acerca da fixação da idade para efeito de 
responsabilidade civil
De acordo comos dados coligidos por César Barros Leal, a idade fixada 
para efeito de responsabilidade penal, nos diversos países, dentre outros 
selecionados, é a seguinte: Haiti - 14 anos; Índia, Paquistão, Honduras, EI 
Salvador, Iraque-15 anos; Birmânia, Filipinas, Ceilão, Hong-Hong, Bélgica, 
Nicarágua, Israel- 16 anos; Malásia, Polônia, Grécia, Costa Rica - 17 anos; 
Brasil, Tailândia, Áustria, Luxemburgo, Dinamarca, Finlândia, França, Suíça, 
Iugoslávia, Peru, Uruguai, Turquia - 18 anos; EUA - há variação de critérios nos 
diversos Estados-Membros da Federação, entre 16,17,18,19 e 21 anos (ob. e 
loco cits.). 
Percentualmente, a variação de idade, nos diferentes países, é a se- 
guinte: 14 anos (0,5%),15 anos (8,0%),16 anos (13,0%),17 anos (19,0%), 18 
anos (55,0%), 19 anos (0,5%) e 21 anos (4,0%). 
 
 
 
 
Fundamento psicológico para afixação da idade, para efeito de 
responsabilidade penal, aos quatorze anos 
 
 
Como vimos anteriormente, de acordo com Nélson Hungria, nosso 
legislador não "cuidou da maior ou menor precocidade psíquica" dos menores 
de dezoito anos, simplesmente "declarou-os por presunção absoluta, 
desprovidos das condições da responsabilidade penal, isto é, o entendimento 
ético-jurídico e a faculdade de auto governo" (Comentários ao Código Penal, 
art. 23, voI. 2°, 1955). 
Acontece que, de acordo com os estudos e as conclusões da Psicologia, 
o desenvolvimento da inteligência no indivíduo se desenrola até aos 15 anos, 
ou mais geralmente aos 13 Y2 anos, após o que conta somente o crescimento 
da experiência e da educação (cf. J. Alves Garcia, Psicopatologia Forense, ps. 
91 e 93). 
 
Quer dizer, aos 15 anos o indivíduo já se encontra com suficientes dis- 
cernimento e inteligência para se desincumbir das tarefas lhe propõe a exis- 
tência, inclusive o entendimento ético-jurídico, a faculdade de autogoverno, 
enfim a capacidade para entendimento acerca dos atos ilícitos penais. 
Em face das considerações acima expostas e da realidade brasileira, 
toma-se imperiosa a reflexão acerca da fixação da idade em quatorze anos,
para efeito de responsabilidade penal, como ressaltamos na Indicação n° 
 
187/1995, oferecida ao Instituto dos Advogados Brasileiros. 
 
Isso se justifica em face da incontrolável violência, por parte dos menores 
de 15 anos no Brasil, e dos elevados índices de infrações penais por eles 
praticadas; por outro lado, os mesmos competem ombro a ombro, em matéria 
de ferocidade, com os delinquentes adultos, no que diz respeito aos sangrentos 
motins e rebeliões, ocorridos nos estabelecimentos correcionais, conforme o 
noticiário divulgado pelos meios de comunicação social, frequentemente, 
resultando daí várias mortes. 
 
 
ARTIGO PARA REFLEXÃO 
 
 
 
Juventude, Violência e Maioridade Penal 
 
Mário Felizardo* 
 
 
 
Vivemos momentos cruciais em relação aos direitos da infância e da juventude. 
A partir do brutal crime que vitimou uma criança no Rio de Janeiro, Juventude e 
Violência passou a ser tema de intensos debates na Sociedade. Se por um 
lado, há perigo quanto ao retrocesso na conquista de direitos e, de forma 
especial, no processo civilizatório de nossa sociedade, fruto de opiniões 
desqualificadas e que se afastam da realidade e, por vezes, escondem 
interesses adversos ao centro da questão, como o da exploração comercial de 
presídios e do sistema sócio-educativo. 
 
 
Por outro, é uma grande oportunidade para agregar-se valor ao debate, através 
do esclarecimento técnico. Vivemos um momento de Caos Social, no que 
tange violência e Juventude. A violência fazendo de nossos jovens vítimas e 
algozes já vem de décadas, fruto de inúmeros fatores. Porém o latrocínio de 
um inocente menino, branco e de classe média, no qual os editores dos 
grandes meios de comunicação viram espelhados a imagem de seus filhos, 
deu ao Brasil a sensação da chegada ao fundo do poço. Mas, um olhar com o 
devido distanciamento, não aponta que haja neste início de ano nenhuma 
catástrofe, nem mesmo uma tendência para isso.
 
Qual é nossa realidade? O Brasil, por sua grande extensão, difere-se em cada 
região. O estado do Rio Grande do Sul, que é modelo quanto ao atendimento 
aos jovens infratores - aponta recuo no número de internações nos dois últimos 
anos. No último ano houve recuo, em média, de 5%. São Leopoldo, comarca 
em que exerço minha atividade profissional, chegou a representar 47% dos 
jovens internos do ICS – casa que recebia jovens de Porto Alegre, Grande 
Porto Alegre e Vale dos Sinos. Hoje representa 25% do CASE – casa que 
recebe jovens do Vale dos Sinos e região, um universo muito menor. 
Consequência de políticas públicas que atravessaram duas gestões de 
governo estadual, criação de PPJ’s (políticas públicas para a juventude em 
nível federal, e investimentos nas medidas sócio-educativas de semiliberdade e 
em meio aberto). E essa sensação de impunidade dos jovens infratores e da 
falência do sistema. 
 
 
A partir da Lei 8069, O Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, 
passamos de uma legislação que tratava especialmente do jovem irregular e 
passamos para um modelo de proteção integral. Fruto de uma má 
interpretação deste princípio, responsabilidade, em parte, dos próprios 
operadores da infância e da juventude que ansiavam por avanços na área, 
confundiu-se proteção integral de INDIVÍDUOS, as crianças e os adolescentes, 
com proteção integral de DIREITOS. Daí a cristalização do ECA como uma lei 
paternalista, não punitiva, complacente em relação às leis de outros países. 
Ainda que necessários ajustamentos na lei, há que reconhecer que o Brasil 
possui um DIREITO PENAL JUVENIL, implícito no ECA, sendo imprescindível 
a quebra de paradigmas enraizados na opinião pública que, tanto levam o 
jovem para o crime, na certeza de que “não dá nada”, como dá a população a 
sensação de insegurança. 
 
 
Vamos a eles. 1. No Brasil, menores não são responsabilizados pelos seus 
atos! Mentira. Crianças efetivamente não estão sob o poder coercitivo do 
Estado. A responsabilidade penal, na prática, começa aos doze anos, quando 
poderão ser “forçados” pelo Estado a cumprir determinação da justiça. Dizer 
dos jovens, inimputáveis, trata-se de uma correção no uso do termo jurídico,
pois a eles não é atribuída a responsabilidade dos crimes. A eles são atribuídos 
ATOS INFRACIONAIS. Assim como não se pode dizer que menores são RÉUS 
em processos e sim REPRESENTADOS, pois contra eles há uma 
representação do Ministério Público. 
 
 
2. Jovens no Brasil não podem presos! O termo utilizado é APREENSÃO. Na 
prática não há nenhuma diferença. 
 
 
3. Para os menores “não dá nada”! Dá. E dá bem mais rápido. O processo de 
 
Apuração de ato infracional é extremamente célere. 
 
 
 
4. Não há punição para os jovens! Aqui o ponto mais importante. A medida 
socioeducativa não é um bem para o jovem, - ainda que o resultado deva o ser 
– e tem caráter de PUNIÇÃO. O jovem é OBRIGADO, assim como os adultos a 
cumpri-la. Portanto o jovem é PUNIDO por suas condutas antissociais, para 
pagar sua DÍVIDA com a sociedade. 
 
 
5. Menores ficam pouco tempo presos! “Meia-verdade”. Em comparação aos 
adultos, em razão da possibilidade da progressão de regime destes, a 
diferença no tempo recluso acaba não sendo tão significativa. Porém, pela 
necessidade da proporcionalidade da pena com o crime, efetivamente o 
aumento do prazo máximo de internação de 3 anos tem consenso no meio. 
 
 
6. É um absurdo dizer que o jovem não tem discernimento quanto ao 
cometimento de um crime. Realmente é. Segundo Piaget Entre dez e doze 
anos é quando o jovem passa a respeitar as regras por elas próprias e por 
seus valores e respeito ao outro, em detrimento ao simples controle social. Um 
tratamento diferenciado ao jovem não tem como motivo ele “não saber que é 
errado cometer um crime” e sim por suas condições biopsicossociaisque são 
absolutamente diversas de um adulto. Trata-se de tratar de forma diferente, 
indivíduos diferentes, isso é a base da IGUALDADE. 
 
 
7. Em outros países é diferente! Dados da ONU demonstram que são minoria 
os países que consideram penalmente adultos os menores de 18 anos. Sabe-
se que de um total de 57 legislações estrangeiras analisadas, apenas 17% 
adotam idade menor do que 18 anos como critério para definição legal de 
adulto. Sendo que somente 2 países, Estados Unidos e Inglaterra, são 
considerados desenvolvidos. 
 
 
8. O endurecimento das penas diminui a violência! A lei dos crimes hediondos 
que vigorou por quinze anos até ser considerada inconstitucional, representou 
um grande endurecimento das penas e não houve nenhum sinal de recuo na 
violência. 
 
 
9. Redução da maioridade penal vai diminuir a violência! Não. Vai aumentar a 
violência, pois submeteremos um maior número de pessoas a um sistema que 
não funciona. 
 
 
*Oficial do Juizado da Infância e da Juventude do Poder Judiciário do RS. 
Coordenador do Projeto Diga Não ao Bullying 
 
 
Fonte: Pauta Social (www.pautasocial.com.br) 
 
 
 
 
 
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