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SABRINA DE OLIVEIRA ALVES RESPONSABILIDADE CÍVIL NO ABANDONO AFETIVO E AÇÃO DE DANOS MORAIS Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Direito das Faculdades Integradas do Vale do Ivaí como requisito parcial para a conclusão do curso e obtenção do título de bacharel em Direito Sugestão Orientador (a): 1- Felipe 2-___Valter ________________________________ IVAIPORà 2019 1 DADOS DO ACADÊMICO E-mail: sabrinaalves_ivp@outlook.com Telefone: __________________ / Celular: 43 9 96666926 1 APRESENTAÇÃO Nos dias atuais é visível a constante mudança que ocorre no âmbito familiar, onde o conceito de família acaba obtendo formas e modelos diferentes dos adotados no século passado. A composição familiar, suas características, formas e modelos não possuem um significado sólido, pois, é algo que habitualmente acompanha as mudanças, evoluções sociais e os costumes de cada região (Gonçalves, 2012 p34). Em seu texto constitucional mais precisamente no artigo 226 e §§ a Constituição se refere à família como uma base da sociedade e possui a especial proteção do Estado, garantindo-lhes seus direitos e assegurando à família como forma de fortalecer o seu próprio âmbito. (Brasil, Constituição, 1988) Dentro do âmbito de família a proteção dos filhos fica subordinada aos pais que exercem o poder familiar, isso é uma consequência da inovação que a Constituição de 1988 trouxe em relação à igualdade entre homens e mulheres e a dignidade da pessoa humana, juntamente com a alteração do Código Civil de 2002. Pois, o Código Civil de 1916, travada o pater poder como o direito absoluto que o pai (figura masculina) obtinha sobre seus filhos (Gonçalves, 2016, p 34). O poder familiar exercido é um conjunto de direitos e obrigações que ambos os pais tem para com seus filhos de forma igualitária, incumbindo-lhes aos encargos propostos pela norma jurídica e a proteção necessária dos filhos, sempre visando à dignidade e o desenvolvimento da criança e do adolescente. (Diniz, 2016, p.1056) A paternidade responsável é dever dos pais, garantindo-lhes e dando direito a vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à convivência familiar, comunitária e entre outros. (Gonçalves, 2016, p36) O assunto em foco neste trabalho é o abandono afetivo dos pais, uma violência perpetrada no ser humano que ocasiona graves danos psicológicos na vítima e em seu genitor por não poder fazer nada para que possa ser revertida ou minimizada essa 2 situação. Ao contrário das demais, o abandono afetivo é uma violência silenciosa e duradoura que muitas vezes passa despercebida pelo Direito (Bicca, 2016, Cap. 1). O Instituto Brasileiro de Direito de Família traz o afeto como um elemento identificador da entidade familiar e dos vínculos parentais, é impossível nos dias atuais privar uma pessoa de ser feliz amada e de ser importante “Os vínculos afetivos são extremamente importantes e necessários para a solidariedade na família e o efetivo cumprimento dos deveres decorrentes do poder familiar” (Bicca, 2016, Cap.1). O abandono afetivo ocorre quando a figura paterna ou materna deixa de exercer os seus deveres indispensáveis, a figura moral, psíquica e a afetiva com seus filhos. (Bicca, 2016, Cap. 3) O poder judiciário não pode obrigar o pai ou a mãe a amar seu filho, mas é injusto que a ilicitude de abandonar e rejeitar o filho não tenha pronunciamento do judiciário, visto que é uma imposição legal de dever de cuidado e assegurar aos filhos o convívio familiar, além de protegê-los de violências, crueldades, explorações e opressões. O amor é algo que foge dos lindes legais, porém, o cuidado é um dever concreto e pode ser juridicamente tutelado (Bicca, 2016, Cap2). É visível que a ilicitude não esta no desamor, mas na negligencia absoluta ao dever de cuidado, requisito ao qual é essencial para o desenvolvimento de uma criança (Bicca, 2016, Cap. 1). Quando se pensa em dano moral no abandono afetivo, não se busca a compra ou preço do amor, mas sim a validade da reparação civil vinda do Poder Judicial caracterizando a conduta como ato ilícito praticado com o descendente e a sua devida punição. (Silva, 2005, revista) O tema em questão obtém vários posicionamentos e discussões no STJ e vários entendimentos de doutrinadores que serão elencados no decorrer deste trabalho. 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Busca-se no presente trabalho elencar a possibilidade de danos morais no abandono afetivo dos pais para com seus filhos, visando o poder familiar e as garantias 3 fundamentais e principiológicas da Constituição Federal de 1988, Código Civil de 2002, Estatuto da criança e do Adolescente, etc. Serão analisadas jurisprudências que foram a favor e contra a decisão de danos morais por abandono afetivo e justificados os entendimentos salientados nas decisões. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Descrição e contextualização da evolução que o conceito de família teve durante o passar do século; Citar as obrigações do poder familiar com seus devidos fundamentos jurídico, para que não reste duvidas sobre a reponsabilidade afetiva que os pais devem ter com seus descendentes; Abordagem explicativa da forma em que ocorre o abandono afetivo e as suas consequências psíquicas aos filhos e aos genitores que possuem a guarda; Serão apresentados jurisprudências e entendimentos diversos sobre o referido assunto; Analise dos elementos que compõem a responsabilidade civil e a sua aderência aos casos de abando afetivo; Por fim concluir com a pesquisa a analise de forma cientifica a questão da reparação civil e o abandono afetivo com o reconhecimento dos pressupostos da responsabilidade civil para este caso em especifico e as condições necessárias para sua imputação. 3 JUSTIFICATIVAS Há inúmeras crianças que passam pela situação de abandono afetivos dos pais em nossa sociedade, dessa forma escolhi desenvolver esse tema não apenas para argumentar juridicamente meu TCC, mas para poder alcançar a população que precisa saber que há sim um direito que pode ser pleiteado junto com judiciário para que um pai ausente possa ser responsabilizado civilmente. Como se trata de um assunto pouco falado é de grande importância que a sociedade tome conhecimento e que saiba o que fazer quando se deparar com uma situação de abandono afetivo. É preciso divulgar o assunto e insistir que seja realizada 4 a condenação dos responsáveis já que conviver com tamanha omissão ocasiona danos considerados graves aos incapazes. Muitas vezes os genitores não percebem a falta que o outro genitor pode estar fazendo na vida da criança, dessa forma uma pessoa externa àquela família tendo conhecimento dos fatos pode identificar e auxiliar de que a referida situação pode ser aparada juridicamente. É o poder de família que constrói uma sociedade digna, justa, seres humanos com percepções de vida, com dignidade e principalmente com amor ao próximo. Os danos causados no menor quando passam por uma situação de abandono afetivo por seus pais, tem grande índice de se tornarem adolescentes e ou adultos com problemas sociais, rebeldes e com transtornos. É preciso que seja tomado conhecimento das consequências que podem vir a acontecer. A doutrina atualmente traz a afetividade não só como um valor jurídico, mas como um principio, mesmo não estando expresso é possível enxerga-lo. Ao analisar o afeto é necessário que seja distinto de amor, já que afeto é uma ligação ou vinculo com outra pessoa que pode ser negativo ou positivo, diferente do amor que é uma carga sempre positiva, evidentemente ambos os casos estão presentes na relação familiar. Então demonstrar que os nossos juristas são sensitivos e foram capazes de considerar que a afetividade é sim umprincípio no nosso ordenamento jurídico, é mais uma justificativa em que se pode utilizar como base para que futuramente o assunto seja algo que tenha um regulamento próprio e determinado. Sou uma vítima do abandono afetivo e falar sobre esse assunto é como descrever a minha vida com a intensão de ajudar quem esta passando por isso ou dar conhecimento para que não venha a acontecer futuramente. Eu não obtive o conhecimento de que poderia ter ingressado judicialmente contra meus genitores dentro do prazo legal, então quero neste trabalho trazer de uma forma simples e de fácil entendimento como a lei permite a ação de danos morais e qual é o prazo para ingressar com a ação. 4 REFERENCIAIS TEÓRICOS A abordagem sobre o principio do afeto que a cada dia que passa é elencada e trazidos nos fatos inerentes ao poder familiar Karow cita que “O Afeto é o novel principio 5 do direito de família. Embora não esteja expresso no texto constitucional, decorre naturalmente da valorização constante da dignidade da pessoa através da externalização dos sentimentos em suas relações. A legislação infraconstitucional timidamente já começa a adotar o afeto como elemento da norma” (Karow, 2012, p45). Instituto de proteção do incapaz, que pela pouca idade não tem condições de reger a si próprio e as seus interesses, a lei estabelece quais funções os pais devem desempenhar no mister de dirigir a pessoa e administrar os bens dos filhos menores (Comel, 2003, p. 89). A aplicação da responsabilidade civil contra o genitor é citada por Monteiro nos termos de que “Se os deveres inerentes ao poder familiar são descumpridos com danos aos filhos, além da suspensão e destituição do poder familiar é perfeitamente adequada à aplicação dos princípios da Responsabilidade Civil, com a condenação do genitor na reparação cabível.” (MONTEIRO, 2012, p. 428). Quando se fala em danos morais em relação ao abandono afetivo, como forma de reparação, não se traz em questão o amor, o que se busca é a responsabilização do genitor omisso, Madaleno aborda a seguinte percepção “[...] não há como o judiciário obrigar a amar, também deve ser considerado que o poder não pode se omitir de se pronunciar contra o covarde e incompreensível gesto de rejeição dos filhos e aqueles que descurem dos seus deveres de cuidado para com a prole por eles gerada [...]” (Madaleno, 2012, p.27 revista). Como se deve tratar a responsabilidade civil dentro do âmbito familiar é considerado uma das possibilidade em que há uma necessidade de abranger de forma delicada conforme Karow “A responsabilidade civil no seio da família é a tipo de responsabilidade mais “delicada” que pode ser estudada, pois confrontam dois princípios muito próximos em si mesmos, aquele que coloca a dignidade do membro familiar acima de qualquer circunstância com aquele que dispõe sobre a função social da família e a limitação da intervenção estatal” (Karow, 2016, p 164 grifo nosso). A proporção entre a gravidade de culpa e o dano que é um critério de fixação da indenização é argumentada por Augustinho “é certo que a maior ou menor gravidade da falta não influi sobre a indenização, a qual só se medirá pela extensão do dano 6 causado. A lei não olha para o causador do prejuízo a fim de medir-lhe o grau de culpa e, sim, para o dano, a fim de avaliar-lhe a extensão.” (Alvim, 1972, p. 1999). Tem sido crescente o número de decisões em nossos tribunais em relação ao abandono afetivo e a indenização por dano moral que os esquecidos pelos próprios genitores vêm recebendo. Imperdoável e inexplicável e de crueldade ímpar, o abandono fere a estima da vitima por lhe negar acesso à identidade de família [...] como diria Lacan, o pai é a lei. Assim, o pai que abandona também é a lei que desabriga que desconhece [...]. (Cochlar, 2012, p.41). Sabe-se que a indenização não fará com que a vítima apague as sequelas deixadas, mas, “a indenização civil por abandono afetivo busca compensar aquelas crianças ou adolescentes que passou por duras sequelas emocionais e quem sabe insuperáveis, a ter uma recompensa em sua vida através da indenização recebida. [...] dessa forma terá um prazer ou sensação que compensa, em parte, e minimamente, as dores sofridas, como uma espécie de alento a sua alma.( karow, 2016 p. 295). 5 METODOLOGIA A metodologia utilizada neste trabalho será a de pesquisas explicativas aprofundando-se o conhecimento na realidade, identificar os fatores que determinam ou contribuem na ocorrência do abandono afetivo. Buscar meios e analisar a sua reparação. Os meios pelos quais se buscaram os objetivos serão por pesquisas doutrinárias estudos de casos e analise de decisões dos tribunais referentes ao tema. Abordando-se de forma qualitativa de se compreender o contexto do problema. 6 CRONOGRAMA PERÍODO DE EXECUÇÃO – 2019 ATIVIDADES F E V M A R A B R M A IO J U N J U L A G O S E T O U T N O V D E Z Definição Problema X Elaboração do Projeto X Entrega do Projeto X X Coleta de Fontes X X X X X 7 Elaboração Monografia X X X X X PERÍODO DE EXECUÇÃO – 2020 ATIVIDADES J A N F E V M A R A B R M A IO J U N Coleta de Fontes Elaboração Monografia Entrega Monografia Defesa 7 BIBLIOGRAFIA INICIAL DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. 8ª Edição. São Paulo: Saraiva 2002, p.1056. SILVA, Cláudia Maria da. “Descumprimento do dever de convivência familiar e indenização por danos à personalidade do filho”. Revista Brasileira de Direito de Família. Porto Alegre: Síntese, Vol. 6, nº 25, ago. /set. 2005. MONTEIRO, Washington de Barros & SILVA, Regina Beatriz Tavares da. Curso de Direito Civil - Direito de Família. Volume 2. Edição 42ª. São Paulo: Saraiva 2012, p. 428 COMEL, Denise Damo. Do poder Familiar. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. TARTUCE, Flávio o princípio da afetividade no direito de família - Revista Jurídica Consulex, ano XVI nº 378 outubro de 2012. RIOS, Roger Raupp, Direitos fundamentais, afeto e direito de família- Revista Jurídica Consulex, ano XVI nº 378 outubro de 2012. KIKUNAGA, Marcus Vinicius, Direito de família e afetividade no século XXI -Revista Jurídica Consulex, ano XVI nº 378 outubro de 2012. GODINHO, Adriano Marteleto, A tutela jurisdicional do direito de alimentos - Revista Jurídica Consulex. Ano XIII. N.º 298. 15 de junho de 2009. ALVIM, Augustinho. Da inexecução das obrigações e suas consequências. 4. ed. São Paulo:saraiva, 1972. BICCA, Charles. Abandono Afetivo: O dever de cuidado e a responsabilidade civilidades por abandono de filhos . OWL Editora. Edição do Kindle. 8 KAROW, Aline Biasuz Suarez. Abandono afetivo: valorização jurídica do afeto nas relações paterno –filiais. Curitiba: Juruá, 2012. SCHOR, Daniel. Heranças invisíveis do abandono afetivo: um dos estudos psicanalítico sobre as dimensões da experiência traumática. São Paulo: Blucher,2017. ANGELINI NETA, Ainah Hohenfeld. Convivência parental e responsabilidade civil: indenização por abandono afetivo. Curitiba: Juruá, 2016.
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