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DISSERTAÇAO_VERSAO_FINAL_DEFESA _2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO 
INSTITUTO DE GEOGRAFIA, HISTORIA E DOCUMENTAÇÃO 
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA 
 
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 
 
 
 
Da Lei de Terras em 1850 à Constituição de 1934: 
Políticas de acesso à terra e efetiva ocupação no 
processo de consolidação da fronteira entre 
Mato Grosso e Bolívia. 
 
 
JOÃO BATISTA LOBO DOS SANTOS 
 
 
 
Cuiabá-MT 
2017 
 
 
JOAO BATISTA LOBO DOS SANTOS 
 
 
 
Da Lei de Terras em 1850 à Constituição de 1934: 
Políticas de acesso à terra e efetiva ocupação no 
processo de consolidação da fronteira entre 
 Mato Grosso e Bolívia 
 
Dissertação apresentada à Banca Examinadora do 
Programa de Pós-Graduação em História, do Instituto 
de Geografia, História e Documentação – IGHD, da 
Universidade Federal de Mato Grosso, como 
requisito parcial à obtenção de título de Mestre em 
História. 
Orientadora: Profa. Dra. Tereza Cristina Cardoso de 
Souza Higa 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cuiabá-MT 
2017 
 
 
 
TERMO DE APROVAÇÃO 
 
 
Aprovada em_____/______/______ 
 
Banca Examinadora 
 
 
 
________________________________________________ 
Profa. Dra. Tereza Cristina Cardoso de Souza Higa (UFMT) 
Orientadora 
 
 
 
_______________________________________________ 
Prof. Dr. Flavio Gatti (UNIVAG) 
Examinador Externo 
 
 
 
_____________________________________ 
Profa. Dra. Leny Canzelli Anzai (UFMT) 
Examinador Interno 
 
 
 
___________________________ 
Profa. Dra. Onélia Carmem Rosseto (UFMT) 
 Suplente 
 
 
 
SANTOS, J.B.L. dos. Da Lei de Terras em 1850 à Constituição de 1934: Políticas de 
acesso à terra e efetiva ocupação no processo de consolidação da fronteira entre 
Mato Grosso e Bolívia. 2017. 143 p. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-
graduação em História, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2017. 
 
RESUMO 
A formação da grande propriedade na fronteira Oeste de Mato Grosso é o 
resultado de práticas políticas que se desenvolveram a partir da lei 601/1850, que 
criou a faixa de fronteira em sessenta e seis quilômetro do limite internacional, e 
tentou organizar e definir a propriedade privada no Brasil através da legitimação 
das antigas sesmarias. Esta organização territorial modificou-se em 1891, através 
da primeira Constituição republicana, que concedeu aos estados autonomia 
jurisdicional sobre suas terras devolutas. Em consequência dessa autorização 
Mato Grosso, através de edições de leis, decretos e resoluções do Legislativo 
passou a ocupar a faixa de fronteira com o capital estrangeiro, fosse através da 
venda ou arrendamento. As ocupações autorizadas pelo governo alcançaram a 
Constituição de 1934, que ampliou a faixa de fronteira em quarenta e quatro 
quilômetros criando uma faixa de segurança Nacional e retirou dos estados a 
autonomia sobre as terras devolutas dentro dessa região, sem, no entanto, alterar 
as celebrações anteriores, o que ocasionou imensas extensões de terra nas mãos 
de poucos proprietários. 
PALAVRAS CHAVE: Propriedade. Leis. Fronteira 
 
 
 
SANTOS, J.B.L. de. La Ley de la tierra en 1850 a la Constitución de 1934: las políticas 
de acceso a la tierra y la ocupación efectiva en el proceso de consolidación de la 
frontera entre Mato Grosso y Bolivia. 2017. 143 p. Disertación (master) - Programa 
de Posgrado en Historia, Universidad Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2017. 
 
RESUMEN 
 
La formación de gran propiedad en la frontera Mato Grosso West es el resultado 
de las prácticas políticas que se han desarrollado a partir de la ley 601/1850, que 
creó la línea fronteriza en el sesenta y de seis km frontera internacional, y trató de 
organizar y establecer la propiedad privada en Brasil sobre la legitimidad de las 
antiguas concesiones de tierras. Esta organización territorial fue cambiado en 
1891, por la primera constitución republicana, que concedió los estados 
autonomía jurisdiccional en sus tierras públicas como resultado de esta 
autorización Mato Grosso, a través de emisiones leyes, decretos y resoluciones 
legislativas llegó a ocupar la pista frontera por el capital extranjero, ya sea por 
venta o arrendamiento. Las ocupaciones autorizadas por el gobierno llegaron a la 
Constitución de 1934, que amplió la línea fronteriza en cuarenta y de cuatro km 
crear una franja de seguridad nacional y tiró de los Estados autonomía sobre las 
tierras desocupadas dentro de esa región, sin embargo, el cambio de las 
celebraciones anterior, lo que causó enormes extensiones de tierra en manos de 
unos pocos propietarios. 
 
PALABRAS CLAVE: Propiedad. Leyes. frontera 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Primeiramente agradeço a Deus, porque sem Ele eu nada teria feito. 
Acredito que toda conquista é resultado da bondade e do incentivo das 
pessoas que nos cercam. Meus sinceros e profundos agradecimentos a todos que 
colaboraram e me trouxeram luz durante o período de pesquisa e escrita deste 
trabalho. 
Sou grato a minha orientadora, Profa. Dra. Tereza Cardoso Higa, pela 
disponibilidade em me acompanhar nesta pesquisa, pelo seu respeito às minhas 
limitações, pelas conversas tranquilas e a grandeza de sua pessoa em me confiar 
parte de seu conhecimento. 
A minha mãe Anália, que sempre me incentivou, socorreu e ouviu 
minhas reclamações com paciência, e muitas vezes me apontou o caminho, meu 
muito obrigado. 
Ao meu pai, Dorival (in memoriam), foi o primeiro a me apontar a UFMT 
como caminho quando eu quis voar para longe, hoje sei que a proximidade com a 
família foi fundamental para a conclusão deste trabalho, e guardo os bons 
momentos e os conselhos que no decorrer da vida me deste. Onde estiver, meu 
obrigado. 
A minha esposa Carla Galbiati, que sempre me apoiou e me incentivou, 
e que através de seu companheirismo me ajudou a não desanimar diante dos 
desafios que o mestrado impõe. 
Aos meus filhos, Matheus e Bárbara, pela compreensão demonstrada 
quando a labuta da pesquisa me afastava do aconchego familiar, privando-os 
tantas vezes da minha presença e muitas vezes da minha atenção. Este título é 
dedicado a vocês. 
Aos meus irmãos Dorival, Sidney e Paulo, companheiros de incentivo 
nas dificuldades e compreensão nas faltas, vocês são importantes em todos os 
momentos. 
 
 
Aos professores do Programa de Pós-Graduação da Universidade 
Federal de Mato Grosso, eu acredito ser injusto citar alguns nomes se todos 
tiveram sua importância em minha vida de aprendizado. O meu muito obrigado. 
Aos meus amigos de vida Carol Ramazotti e J. Rocha pelas noites 
agradáveis curtindo o melhor da noite cuiabana nos raros momentos de 
tranquilidade, aos meus colegas do mestrado e doutorado, com maior deferência 
a Leonice, Yasmani, Emerson, Cristiano, Cristiane, Debora, Fernanda, Marco Túlio, 
Ricardo Laub e Kátia. O meu carinho e votos de que todos terminem bem esta 
tarefa e sejam felizes. A sempre presente Alice, secretária do programa de Pós-
graduação, que sempre foi mais que eficiente, foi amiga, e seus conselhos em 
nossos momentos de dúvida foram indispensáveis. 
A professora Paula Peña, Universidade Rene Moreno (Bolívia). Aos 
Doutores (as) e Mestres Domingos Sávio, Otavio Ribeiro Chaves, Maria do Socorro, 
Marli Auxiliadora, Elmar (Unemat) pelas dicas e apoio durante a pesquisa e escrita 
deste trabalho. A professora Doutora Wanda, diretora do APEMT, pelo carinho e 
atenção dedicado a mim durante minha estada no arquivo. 
A professora Doutora Leny Canzelli Anzai e ao professor Doutor Flavio 
Gatti pelas contribuições importantes para elaboração e conclusão deste trabalho. 
Meu reconhecimento. 
Ao Exército brasileiro, porque foram nas infindáveis andanças pela 
fronteira que nasceram os questionamentos que deram origem a este trabalho, e 
através da disciplina, ética, desprendimento, respeito, civilidade e 
companheirismo, tudo aprendido em suas fileiras, que durante as dificuldades me 
lembrava do lema “Missão dada, é missãocumprida”, e assim foi, mais uma missão 
cumprida. 
Ao Instituto Memoria da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, na 
pessoa de seus funcionários, pela atenção dispendida em me atender com as 
legislações solicitadas. 
Aos historiadores de Mato Grosso; 
 
 
Segundo Alcir Lenharo, a história não se isola, nem adormece na idade 
da Província em Mato Grosso. O fluxo histórico apenas muda de ritmo na 
passagem do estatuto colonial para o nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de 
tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas 
mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da 
honra e a ter vergonha de ser honesto. ” 
Rui Barbosa. 
 Obras Completas - V. 41, t. 3, 1914. p. 86 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 15 
FRONTEIRAS E LIMITES: A ESTRATÉGIA DA POSSE ATRAVES DA OCUPAÇÃO ......... 24 
1. Histórico expansionista .................................................................................. 24 
1.1 Colonização da Capitania de Mato Grosso ................................................. 32 
1.2 Política, Estratégia de Ocupação ................................................................ 37 
1.2.1 A Jacobina como centro irradiador de ocupação ................................................ 41 
1.3 Da independência a Lei de Terras - 1822-1850 .......................................... 44 
LIMITES E FRONTEIRAS: A CONSTRUÇÃO DO TERRITÓRIO NACIONAL NA FRONTEIRA 
OESTE, 1850-1900 ................................................................................................. 49 
2. Da Constituição a Lei de Terras ......................................................................... 49 
2.1 A espera de organização na Lei 601 de 1850 ............................................. 55 
2.2 Os limites são ocupados ............................................................................. 63 
2.3 O coronelismo e o tempo de posseiros ...................................................... 67 
2.4. Quando a política legisla em causa própria: .................................................. 74 
2.5 A legislação agrária no Estado de Mato Grosso .............................................. 77 
MUDA-SE O SÉCULO, MAS NÃO OS PROBLEMAS: O SURGIMENTO DO LATIFÚNDIO 
DA FRONTEIRA OESTE ............................................................................................ 85 
3. A política oitocentista e o início do século XX. .................................................. 85 
3.1. As prorrogações da ilegalidade ...................................................................... 86 
3.2 A Política através da terra ............................................................................... 91 
3.2.1 A Legislação dos Coronéis .......................................................................................... 91 
3.3 Fronteira: Território Do Mundo .................................................................... 102 
3.4. Conselho de defesa Nacional (CDN) ............................................................ 123 
3.4.1 A política de defesa nacional pós-guerra ............................................................. 123 
3.4.2 O Nacionalismo e o fortalecimento do poder central ...................................... 126 
3.4.3 Getúlio Vargas e a Constituição de 1934 ............................................................. 129 
3. 5. Faixa de Fronteira e Faixa de Segurança Nacional ...................................... 131 
3.5.1 A nova política territorial de fronteira: Dominialidade versus propriedade136 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 142 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 144 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 01: Capitanias Hereditárias – 1574................................................... 27 
Figura 02: Entradas e bandeiras................................................................... 29 
Figura 03 Sesmarias em Minas do Cuiabá - 1726-1728 .............................. 33 
Figura 04: Localização das missões espanholas no século XVIII.................. 34 
Figura 05: Fortificações Pombalinas............................................................ 36 
Figura 06: Produção agropecuária de MT e Goiás....................................... 50 
Figura 07: Limites imprecisos - 1850........................................................... 55 
Figura 08: Carta XXIII do Atlas do Império do Brasil, de Cândido Mendes. 56 
Figura 09: Mapa Ten. Cel. Antônio Pimenta Bueno -1880.......................... 57 
Figura 10: Mapa de Descalvados................................................................. 65 
Figura 11: Lagoa Uberaba a Bahia Negra..................................................... 95 
Figura 12: Economia no Brasil/XIX-XX.......................................................... 99 
Figura 13: Economia-Mato Grosso - XX........................................................ 99 
Figura 14: Concessões feitas a Matte Laranjeira ao Sul de Mato Grosso…. 102 
Figura 15: Empreendimentos na Fronteira Oeste até o século XIX............. 103 
Figura 16: Empresas ao longo da fronteira Oeste, século XIX..................... 105 
Figura 17: Tratado de Petrópolis-1903........................................................ 106 
Figura 18: Área da Fomento argentino agropecuária.................................. 114 
Figura 19: Fronteiras e Limites do Brasil - 1889........................................... 114 
Figura 20: Regiões em litígio na Fronteira................................................... 114 
Figura 21: Guajará Mirim/S. Antônio do Rio Madeira................................. 127 
Figura 22: Faixa de Segurança Nacional de Fronteira – 1934..................... 128 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 01: Brasil: Totais de Imigrantes entre 1850 e 1930............................. 52 
Tabela 02: Divisão Charqueada Descalvados.................................................. 66 
Tabela 03: de Posses Jaime Cibils Buxareo.................................................... 77 
Tabela 04: Número de títulos expedidos em 1925....................................... 111 
Tabela 05: Estados limítrofes na fronteira do Brasil e seus Municípios - 
2008................................................................................................................ 
 
132 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 01: Posses da jacobina – 1813.......................................................... 40 
Quadro 02: Usineiros na Assembleia Legislativa MT: 1883-1934................. 63 
Quadro 03: Leis e Decretos de Mato Grosso-1892/1900.............................. 70 
Quadro 04: Leis e Decretos de Mato Grosso-1900/1934.............................. 85 
Quadro 05: Arrendamento de terras – Individual – 1902............................. 92 
Quadro 06: Empresas instaladas em Mato Grosso-1895/1920.................... 102 
Quadro: 07: Empresas Latifundiárias na Fronteira....................................... 103 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
C.D.N.........................................................................Conselho de Defesa Nacional 
C.S.S.N .... ............................................Conselho Superior de Segurança Nacional 
 
15 
 
 INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho intitulado “Da Lei de Terras em 1850 à Constituição 
de 1934: Políticas de acesso à terra e efetiva ocupação no processo de 
consolidação da fronteira entre Mato Grosso e Bolívia”, analisa, dentro do período 
proposto para estudo, a relação entre as práticas políticas no campo agrário 
estabelecidas em Mato Grosso frente à normatização definida pelaLei de Terras 
de 1850 e a Constituição de 1934. 
A fronteira Oeste aqui tratada abrange a faixa de terras ao longo da 
linha limítrofe do estado de Mato Grosso com a Bolívia. Possui mais de 750 Km1 
de extensão formados por rios, pântanos, cerrados, regiões desérticas e fazendas. 
E ao atuar como militar da ativa do exército, experiência que instigou a pensar 
sobre a ocupação daquele espaço, e proporcionou questionar sobre até que ponto 
a fronteira, entre Mato Grosso e Bolívia, espaço hoje considerado área de 
segurança, fora tomado pela influência de interesses políticos e econômicos. 
As Áreas de Interesse da Segurança Nacional, foram estabelecidas pela 
Lei 5.449 de 19682, durante o governo do General Costa e Silva, com objetivo de 
apresentar uma política de defesa e de garantia de soberania, o que era 
considerado necessário frente às indefinições de limites com alguns países 
vizinhos. Nesta situação se encontravam áreas no Oeste de Mato Grosso, limítrofe 
com a Bolívia, o que proporcionava invasões e ocupações diversas do território 
brasileiro. 
Durante as andanças por estas áreas de segurança da “fronteira”, 
constantemente, percebia-se cercas de arame farpado de fazendas que possuíam 
início no Brasil e adentravam o território boliviano ignorando os marcos que 
delimitavam os limites entre os dois países. 
 
1 LUCENA, Roberto de. Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. Requerimento. 
Disponível: <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/852800.pdf>. Acessado em: 12 05 2017 
2 Ver, a esse respeito, Lei 5.449 de 04 de junho de1968, alterado pelo Decreto –Lei 2.183 de 19 
de dezembro de 1984. 
16 
 
Os marcos de fronteira representavam o “corpo físico” dos tratados. 
Do ponto de vista político e diplomático a retirada destes marcos de seu local de 
origem pelos fazendeiros que os utilizavam como esteio de cerca ou suporte para 
curral de gado, suprime a materialidade da fronteira. De forma que, nas 
fiscalizações dos marcos trabalhados podia se perceber as dificuldades 
acarretadas por conta das ausências dos mesmos. 
Alegando desconhecimento da lei erguiam-se cercas e os marcos eram 
utilizados de acordo com a conivência dos proprietários locais, que comumente 
não residiam nas fazendas, e seus funcionários muitas vezes tentavam impedir o 
trabalho dos militares nas fiscalizações. 
Em determinado percurso de reconhecimento realizado na região de 
Santa Rita em que o empregado nos questionava da autoridade para romper as 
cercas. Normalmente o policial federal, que nos acompanhava, acabava por 
notificá-lo e ameaçando-o de prisão, no entanto, sabíamos que seria inútil, e da 
mesma forma, inútil era romper as cercas, em 15 dias elas estariam erguidas 
novamente e cerceando o caminho entre os marcos, mas, fazíamos o nosso 
trabalho. 
Outra prática “comum” observada, estava relacionada às atividades 
criminosas. Muitas fazendas eram recortadas por estradas clandestinas, 
conhecidas como “cabriteiras”, nas quais o transporte de produtos ilícitos passava 
de um lado a outro. Além da prática ilícita, a criação de gado crescia dentro dessa 
região fronteiriça, o que desencadeava a busca de mais terras para o 
desenvolvimento de tal atividade, assim, se fortalecia as grandes propriedades 
voltadas para a pecuária, enquanto os pequenos produtores viam-se alijados da 
terra. 
A experiência empírica leva-nos a indagar tais práticas naquele espaço. 
O trabalho que é apresentado buscou nos documentos compreender a fronteira 
Mato Grosso com a Bolívia em um período distante deste, entre o império e a 
República. A partir das legislações agrárias promulgadas entre 1850 e 1934 
17 
 
buscamos perceber a relação entre as mesmas e as práticas políticas daquele 
momento. 
O processo de criação das leis agrarias do estado de Mato Grosso e sua 
aplicação, pode ter influenciado na ocupação e consolidação da faixa de fronteira 
entre Mato Grosso e Bolívia. De forma que, as edições de leis e sua aplicação 
poderiam esclarecer a visível imutabilidade na venda e na transmissão das terras 
localizadas nessa área de fronteira, da mesma forma proporcionar o 
entendimento da permanência de um grupo no domínio nestas terras. 
Este processo de criação das leis foi objeto de pesquisa de parte da 
historiografia, preocupada em estudar a questão da terra. As análises sobre a 
situação das terras no Brasil foram feitas, na sua maioria, em relação a outros 
objetos como a escravidão, migração, imigração e índios, e seus resultados 
mostraram a influência de determinados grupos da sociedade assim como na 
formação política nacional em diversos períodos históricos. 
Em Mato Grosso, a historiografia regional, a partir da mesma linha da 
historiografia brasileira, procurou analisar momentos históricos como tema 
principal, assim, as questões envolvendo a posse da terra aparecem em segundo 
plano ao momento pesquisado. 
Desta forma, ao se discutir o início das ocupações no pantanal em Mato 
Grosso, a partir do início do século XVIII, os índios Paiaguás são apresentados, por 
Corrêa Filho3, como a principal dificuldade para o avanço dos conquistadores e 
para sua política colonizadora. A “imensidão terrível”, citada pelo autor, 
possivelmente possa ter sido o que impulsionou os portugueses a fazerem a 
conquista e a aquisição daquelas terras que poderiam proporcionar novas minas 
e posteriormente o aumento na criação de gado, que entendemos estava voltada 
naquele momento, para a subsistência. 
 
3 CORRÊA FILHO, Virgílio. Fazendas de gado no pantanal Mato-Grossense. Serviço de informação 
agrícola; Documentário da vida rural nº 10; Rio de Janeiro, RJ; 1955.Op. Cit. In. p.18. 
18 
 
O domínio dessas terras proporcionou, com o passar dos anos, o 
aumento significativo dos criadores de gado pelo vale do Paraguai e na anexação 
de terras as sesmarias concedidas pela Coroa. 
Com estas anexações ocorreram privatismos4 de terras, prática esta, 
que havia sido comum no período colonial e que subsistiu às mudanças ocorridas 
com a independência do Brasil, que proporcionou novos entendimentos sobre a 
posse da terra, e se consolidou com a promulgação da primeira lei agrária do 
Brasil. 
Segundo Ligia Osório Silva5, a Lei de Terras promulgada em 1850 visava 
proporcionar um ordenamento jurídico da propriedade da terra diante de uma 
situação confusa herdada do período colonial. Assim, pode-se entender que esta 
“situação confusa” esteja relacionada ao fim do ordenamento jurídico português, 
sistema de sesmarias, determinada por D. Pedro I em 1822, mas, sem um 
regramento que o substituísse o que deu continuidade ao processo de ocupação 
de terras que já ocorria, sem fiscalização, durante o fim do período colonial. A nova 
lei representava, em muitos aspectos, os ideais de uma classe escravista e de 
proprietários de terra que eram manifestas na necessidade do Império em 
consolidar seu território e ao mesmo tempo impedir o acesso à terra daqueles que 
não poderiam cultivá-la. 
A legislação de terras foi aplicada no Estado de Mato Grosso a partir da 
Constituição republicana de 1891, que alterou o termo província para Estado e 
delegou-lhe autonomia para gerir sobre suas próprias leis. Assim, editou-se a lei nº 
20 de 1892, em consonância com a Constituição. De forma que, não se alterava a 
situação de dominialidade das terras já ocupadas na fronteira e mantinha sua 
expansão a necessidade do criador6. 
 
4 Ver SILVA, Ligia Osório. Terras devolutas e latifúndio: efeito da lei de 1850. p. 12 
5 SILVA, Ligia Osório. Terras devolutas e latifúndio: efeito da lei de 1850. Editora UNICAMP; 
Campinas, SP; 1996. p. 13 
6 MORENO, Gislaene. Terra e poder em Mato Grosso: política e mecanismos de burla: 1892-
1992; Ed. Entrelinhas; Cuiabá, MT; 2007.p. 65 
19 
 
A lei agrária do Estado manteve o corpo da Lei de Terras. Assim, o 
processo de ocupação da faixa de fronteira região se igualava a das terras 
localizadas fora dessa região, mantinha as posses adquiridas anteriores a lei, 
regularizadas ou não e favorecia a manutenção da relação entre o poder político 
com o capital estrangeiro. 
Diversas pesquisas, como mencionado anteriormente, não 
proporcionam o entendimento quanto a relação entre as práticas políticas na 
elaboração das leis dentro do estado Mato Grosso, frente ao processo de 
consolidação do território brasileiro. 
Portanto, estas pesquisas, não respondem se a ocupação das terras na 
fronteira Oeste visava a manter a soberania territorial brasileira nessa região, ou 
seja, se a distribuição de terras realizada nos limites de Mato Grosso com a Bolívia 
poderia prover o reconhecimento futuro de áreas ainda em litigio nos limites pré-
estabelecidos e sem acordos diplomáticos. 
A partir da constatação desta lacuna historiográfica, nos indagamos se 
a elaboração de leis, voltadas para a terra no estado de Mato Grosso, se ligavam a 
práticas políticas que haviam se iniciado na elaboração da Lei de Terras em 1850, 
que, favoreceram um longo caminho de ocupações e protelações de prazo até 
1934, e se, efetivamente, se relacionavam a interpretações das constituições 
brasileiras. Para responder a tais indagações estabelecemos como marcos 
cronológicos desta pesquisa, 1850 como ponto inicial, ano da promulgação da lei 
601 “ Lei de Terras” que definiu a faixa de fronteira e normatizou o acesso à terra 
bem como as formas de aquisição, e tornou-se base para a Constituição de 1891, 
que delegou competência aos estados legislar sobre todas as suas terras. Em Mato 
Grosso, ambas serviram como norteadoras para a elaboração da Lei 20/1892 que 
propiciaria a distribuição territorial do estado. 
Este conjunto de leis regulamentou a ocupação da área de fronteira 
entre 1892 a 1934, observando as conceptualizações jurídicas sobre a terra 
apresentadas na Lei 601/1850, o que proporcionou a ocupação das terras próximo 
20 
 
ao limite através de interpretação política sobre a conceptualização de terras 
devolutas7, apesar do distanciamento dos limites e os direcionamentos para a 
colonização informados na Carta Magna e na Lei de terras. 
Em 1934, segunda baliza temporal adotada neste trabalho, sobe ao 
poder Getúlio Dorneles Vargas e, através de uma nova constituição, retira dos 
estados a atribuição de gerir sobre as suas terras na fronteira. Foi crida uma zona 
de segurança, aumentando a área da faixa de fronteira8. Foi instituído, também, o 
Conselho de Defesa Nacional9, que viria mais tarde a se tornar o Conselho Superior 
de Segurança Nacional, e este tornar-se, na política de segurança nacional 
implantada por Vargas, o “administrador” das terras na fronteira. 
A análise aqui empreendida buscou relacionar as medidas adotadas na 
política de distribuição de terras a partir de 1850 e o processo de elaboração das 
leis agrárias do estado de Mato Grosso até o ano de 1934. Para tal, não analisamos 
apenas as leis do período proposto, mas, recuamos temporalmente e ampliamos 
o corpus documental, buscando entender a relação entre as sesmarias e a 
fronteira diante das áreas ainda indefinidas nos tratados. 
Entre os documentos pesquisados está o arquivo de leis da Assembleia 
Legislativa de Mato Grosso, fonte importante para se ter acesso às leis do Estado 
publicadas desde 1892 e aos discursos dos governadores do Estado que 
apresentam o cenário político e econômico naquele período, bem como, os 
relatórios e decisões quanto aos arrendamentos de terras na fronteira, e, em 
especial, o discurso do Governador Pedro Celestino que apresentou a 
 
7 BRASIL. Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850. Dispõem sobre terras devolutas do império. 
Artigo 3º; § 1 – 4. ” 
8 BRASIL, Constituição (1934) Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (16 de julho 
de 1934). “ Art 166 - Dentro de uma faixa de cem quilômetros ao longo das fronteiras, nenhuma 
concessão de terras ou de vias de comunicação e a abertura destas se efetuarão sem audiência 
do Conselho Superior da Segurança Nacional, estabelecendo este o predomínio de capitais e 
trabalhadores nacionais e determinando as ligações interiores necessárias à defesa das zonas 
servidas pelas estradas de penetração. ” 
9 “Criado pelo decreto n. 17.999, de 29 de novembro de 1927, tinha por fim proporcionar ao 
Governo os elementos necessários para que este pudesse resolver do melhor modo as questões 
relativas à defesa nacional, cabendo-lhe principalmente resolver as questões que interessam ou 
exigem a ação de mais de um ministério” 
21 
 
preocupação política com o desvio de finalidade da terra no estado, onde pode-se 
perceber a ligação entre o poder executivo e legislativo diante da edição de leis. 
A documentação abrangeu, também, a Biblioteca Nacional e o Arquivo 
Público do Estado de Mato Grosso, nos quais foram colhidos alguns títulos de 
posses expedidos em fins do século XIX, que apresentam a situação de 
dominialidade da fronteira por grupos estrangeiros, principalmente os belgas e a 
Cia Mate Laranjeiras, podendo-se, a partir da análise destes documentos, criar ou 
dar forma a ocupação ocorrida e todo o seu desenvolvimento em relação as leis 
que vinham sendo publicadas. O portal da Câmara e do Senado federal, tornaram-
se de grande valia pela facilidade de acesso as leis e suas modificações no decorrer 
do período. A leitura dessas leis permitiu entender que o estado interpretava as 
leis promulgadas de acordo com suas necessidades. Pode-se perceber, também, 
que a União seguia um determinado ritmo em relação às publicações, e este, 
somente foi quebrado com a chegada de Getúlio Vargas ao poder. 
Outras fontes se mostraram importantes no transcorrer da pesquisa, 
como mapas e trabalhos historiográficos de autores que possuíam no seu corpo, 
de forma esparsa, informações acerca do objeto da pesquisa proposta, o que nos 
auxiliou a preencher muitas das lacunas deixadas pela falta de acesso a 
documentos nos arquivos dos Cartórios, INCRA e INTERMAT, fontes riquíssimas e 
de pouco ou nenhum acesso, e que por entraves burocráticos e pelo pouco tempo 
que o mestrado disponibiliza para a elaboração da dissertação, foram 
abandonados. 
Para realizar a análise da relação entre as práticas ocorridas nas edições 
das leis agrárias e a ocupação efetiva da fronteira, o trabalho foi dividido em três 
capítulos. 
O primeiro capítulo, intitulado “Fronteiras e Limites: A estratégia da 
posse através da ocupação”, procura apresentar, ainda que parcialmente, o 
processo de interiorização do regramento sesmarial através das entradas e 
22 
 
bandeiras, estas como parte de uma política estratégica adotada com o intuito de 
conquistar novas terras, ocupando-as para consolidar o domínio português. 
O expansionismo português, para as proximidades do limite Oeste, 
trouxe as sesmarias como forma de divisão territorial, estas foram elementos 
importantes para entender a relação entre a distribuição de posses e o posseiro, o 
que criou a base de um sistema privatista que adentraria o Império. A fazenda 
Jacobina, no município de Cáceres, por exemplo, foi uma das primeiras 
propriedades ocupadas na segunda metade do século XVIII (1769). 
Esta fazenda, localizada próxima à fronteira, em conformidade com a 
legislação vigente no período, teve sua área inicial bastante ampliada, tornando-se 
uma das maiores e mais produtivas fazendas da fronteira. Mais tarde, esta fazenda 
passou a atender aos interesses de grupos estrangeiros interessados no controle 
do criatório e na produção e comércio de charque. 
Percebe-se, na documentação, que existia uma constante mudança nas 
anexações de terras nas antigas sesmarias da Capitania de Mato Grosso, prática 
estaque entendemos não permaneceu restrita ao fim do período colonial em 
1822. De forma que, entre o fim do domínio português e o início do Primeiro 
Império, as terras da Capitania eram mais anexadas às posses originais do que 
eram concedidas pela Coroa, e o fim do domínio português marcou o início das 
ocupações em torno das antigas posses, mas, com a mesma finalidade. 
No segundo capítulo, intitulado “Limites e Fronteiras: A Construção do 
Território Nacional na Fronteira Oeste, 1850-1934”, expomos a análise da Lei de 
Terras e das Constituições de 1824 e 1891. Acreditamos que houve, na passagem 
do Império à República, uma continuidade na política de “favores”, que se firmou 
com a ascensão dos coronéis e senhores de terra ao poder político dentro da 
Província. Estes mantiveram, mesmo com o advento da República, o comando sob 
o território devoluto ou não. Este domínio pode ser analisado também pelo acesso 
e permanência de usineiros e criadores nos cargos político dentro do Legislativo e 
do Executivo. 
23 
 
O último capítulo, “Muda-se o século, mas não os problemas: O 
surgimento do latifúndio da fronteira Oeste”, apresenta as considerações sobre as 
transformações da política agrária no Estado de Mato Grosso no início do século 
XX, tratando das decisões e mudanças ocorridas na política brasileira sob a 
influência da Grande Guerra e da quebra da bolsa de valores. Percebemos a 
continuidade do processo de favorecimento a grupos ligados ao capital 
estrangeiro e a indivíduos pertencentes ao círculo dos senhores de terra, de forma 
que, membros do legislativo, que desde o século XIX, permaneciam no poder, 
utilizavam-se da mesma prática centrada nas reedições dos prazos para 
legitimação e regularização das terras no estado. O fim destas práticas, 
acreditamos, veio a acontecer com a ascensão ao poder de Getúlio Dorneles 
Vargas, onde, por meio da Constituição de 1934 modificou as relações de 
dominialidade dos Estados em relação a terra e a faixa de fronteira, de forma a, 
implantar uma nova Política de Segurança Nacional que se efetivaria no Conselho 
Superior de Segurança Nacional. 
Neste trabalho não cabe apresentar novos conceitos sobre a fronteira 
ou explica-los à medida que as legislações são apresentadas. A fronteira deve ser, 
para este trabalho, o local de interesse capitalista e de aplicabilidade das leis 
agrárias do império a República através de práticas políticas oriundas no Primeiro 
Império. Estas práticas estavam ligadas a interesses que proporcionaram políticas 
de ocupação de terras, de forma que, indiretamente proporcionaram a 
consolidação da soberania territorial do Brasil nas áreas que ainda estavam 
indefinidas, no entanto, ao mesmo tempo, mantiveram uma política de exclusão 
social na terra que favoreceu, nos anos vindouros, a consolidação do grande 
latifúndio na fronteira Oeste. 
 
24 
 
CAPITULO I 
 
FRONTEIRAS E LIMITES: A ESTRATÉGIA DA POSSE ATRAVES DA OCUPAÇÃO 
 
A capitania de Mato Grosso foi criada em 1748 localizada no ponto 
mais avançado no Oeste da colônia. Com grande extensão de terras limítrofes com 
os domínios da Coroa espanhola, a ocupação10 desse espaço foi parte de uma 
estratégia expansionista que resultou mais tarde na consolidação dessas 
conquistas. Objetivamos neste capítulo demonstrar que tal estratégia teve como 
mecanismo principal a concessão de sesmarias nas proximidades dos limites 
coloniais. 
Serão feitas algumas considerações sobre o início da exploração da 
América Portuguesa a partir do litoral, enfatizando alguns aspectos da expansão 
territorial em direção ao Oeste. Especificamente em relação a Mato Grosso, serão 
apresentadas e discutidas as principais estratégias de conquistas territoriais 
adotadas que levaram à formação das primeiras vilas e núcleos populacionais da 
capitania. Por fim, será discutido o papel da questão agrária na consolidação 
territorial das fronteiras a partir da Independência do Brasil. 
 
1. Histórico expansionista 
 
Quando exploradores europeus, principalmente portugueses e espanhóis, 
no século XV e XVI, iniciaram o desbravamento11 dos mares então 
desconhecidos12, buscam de uma nova rota comercial para as Índias, fugindo dos 
 
10 Antes da promulgação da citada lei (de 1850) vigorava o costume de adquirirem-se por 
ocupação (posse era o termo consagrado) as terras devolutas, isto é, as terras públicas que não 
se achavam aplicadas a algum uso ou serviço do Estado, províncias ou municípios. 
11 Ocorreu do século XV ao XVI e ficou conhecida como a “Era das Navegações e dos 
Descobrimentos Marítimos. ”Ver, a esse respeito, História Moderna e Contemporânea Osvaldo 
Rodrigues de Souza; in.: <http://urs.bira.nom.br/literatura/descobrimentos_maritimos.htm>. 
Acesso em: 14 05 2016 
12 Oceano Atlântico, Pacífico e Índico 
25 
 
atravessadores na Itália, genoveses e venezianos, que cobravam alto valor pelas 
especiarias13, as quais eram muito consumidas na Europa. As Coroas portuguesa e 
espanhola agruparam a essa necessidade o interesse no descobrimento de novas 
terras e novos fiéis para a Igreja. Portugal tornara-se pioneiro na navegação 
marítima por diversos fatores e inventos que auxiliavam na navegação, como a 
escola na vila de Sagres14 formada pelo infante D. Henrique. 
Em 1493 a Bula papal Inter Coetera15 dividia o mundo conhecido, pela 
primeira vez, entre Espanha e Portugal. No entanto, como a referência de medida, 
fixada em “100 léguas de Cabo Verde” era imprecisa, pois só existia o Oceano 
Atlântico, tornou-se necessário uma desta divisão territorial, acertada com o 
Tratado de Tordesilhas, em 1494. Esta nova configuração dos limites permitiu, 
inicialmente, que Portugal tomasse posse de parte das terras do que viria a ser o 
Brasil. Quando a caravela de Cabral aportou na costa brasílica, em 1500, a falta de 
informações sobre a nova terra, suas dimensões e riquezas, fizeram com que 
fossem pouco exploradas nos anos iniciais, ficando a mercê de piratas e 
contrabandistas. 
A partir de 1534, a América portuguesa ocupou novo espaço na política 
da Coroa. Dom João III, com receio dos franceses que estimulados por Francisco I 
da França16 se entregavam a pirataria nos mares americanos e faziam incursões 
 
13 Pimenta, açafrão, gengibre, canela e outros temperos. 
14 A existência ou não da Escola de Sagres já foi amplamente debatida no panorama 
historiográfico português. Porém, desde o princípio do século XX que a ideia de uma escola 
náutica fundada pelo Infante D. Henrique se encontra ultrapassada. D. Henrique fundou uma vila 
no Algarve, em 1443, pelo pedido feito ao seu irmão, o regente D. Pedro, que lhe concedesse a 
região inóspita de Sagres, o pedido foi concedido e a vila foi fundada no lugar de Terçanabal. 
Durante o século XX desconstruiu-se a tese da escola científica, mas é importante perceber que a 
lenda da Escola de Sagres teve a sua grande expansão durante os séculos XVIII e XIX, ou seja, 
numa época em que as academias científicas proliferavam por todo o mundo. In. 
<http://cvc.instituto-camoes.pt/navegaport/g19.html>. Acesso em: 14 05 2016. 
15 A Bula Inter Coetera foi definida como um tratado em maio de 1493, pelo Papa Alexandre VI, 
esta procurou acordar e assegurar os direitos de Portugal e de Espanha quanto as novas terras a 
serem descobertas. À Portugal foi determinado como sendo suas, as terras encontradas até 100 
léguas à oeste do Arquipélago de Cabo Verde, já para a Espanha, todas as terras que fossem 
descobertas além desse limite. 
16 “Felipe I da França ficou irritado pela parcialidade pontifícia na divisão feita do mundo, entre 
Portugal e Espanha, ao ver seu país ser deixado de fora dessa divisão [...] e como não lhes 
26 
 
no litoral a fim de “explorar” o pau-brasil17, buscou alternativas para a defesa deste 
território que se tornara importante.Dom Diogo de Gouveia18 propôs, então, o 
primeiro projeto português de colonização, com a recomendação de implantação 
das Capitanias Hereditárias19, conforme figura 01 a seguir. As capitanias eram 
grandes extensões de terras recortadas na costa que seriam entregues a fidalgos 
da pequena nobreza, homens de negócios, funcionários burocratas e militares, 
enfim, homens de confiança da coroa. As capitanias tinham a função de servir 
como base militar e econômica e sua área seria dividida em lotes de terra, as 
sesmarias20, a serem distribuídas aos seus colonizadores21. 
Com a instituição das Capitanias Hereditárias a economia na América 
portuguesa voltou-se para o cultivo do o açúcar, produto consumido na Europa, e 
de alto valor no mercado. Tal projeto de colonização teve maior êxito nas 
capitanias de São Vicente e Pernambuco22, entretanto, outros espaços não 
 
atendessem os melindres incentivava os flibusteiros do mar do Norte a pilharem os mares 
americanos”. In. PORTO, Costa. O Sistema sesmarial no Brasil. 
17 ABREU, Capistrano de. 1853-1924. Capítulos de história colonial: 1500-1800. Conselho Editorial 
do Senado Federal; Brasília- DF, 1998. p. 54. 
18 “DIOGO DE GOUVEA em uma Cidade de Beja celebre solar da eruditíssima família onde teve 
por pai Antão de Gouvea Cavaleiro professo da Ordem de Cristo, e por irmãos Manoel de Gouvea 
Prior da Igreja de Nicolau de Lisboa e o Doutor Gonçalo de Gouvea Desembargador da Casa 
Providencia. Depois de estar mente instruído nas letras amenas passou a estudar na Universidade 
Paris e tal foi o progresso que fez que recebeu o título de Doutor na Faculdade de Teologia por 
aclamação geral de todos os Catedráticos, e pela sua prudência tornou-se Reitor da mesma 
Universidade”. Disponível: <https://books.google.com.br/>. Acesso em: 16 05 2016. 
19 “[...] consistia em dividir a conquista em largos tratos territoriais, quinhoados a vassalos que os 
dirigissem e defendessem, defendendo o próprio domínio da coroa, o sistema “donatorial”. In. 
PORTO, Costa. O Sistema sesmarial no Brasil. Volume 1 da Coleção Temas brasileiros; Editora 
Universidade de Brasília; Brasília, 1979. 
20 “O vocábulo sesmaria derivou-se do termo sesma, e significava 1/6 do valor estipulado para o 
terreno. Sesmo ou sesma também procedia do verbo sesmar (avaliar, estimar, calcular) ou, ainda, 
poderia significar um território que era repartido em seis lotes, nos quais, durante seis dias da 
semana, exceto no domingo, trabalhariam seis sesmeiros. ”In. PORTO, Costa. O Sistema sesmarial 
no Brasil. Volume 1 da Coleção Temas brasileiros; Editora Universidade de Brasília; Brasília, 
1979.p. 05. 
21PORTO, Costa. O Sistema sesmarial no Brasil. Volume 1 da Coleção Temas brasileiros; Editora 
Universidade de Brasília; Brasília, 1979.p. 03. 
22 “As capitanias que obtiveram sucesso – São Vicente e Pernambuco – o fizeram a partir do 
plantio de cana-de-açúcar, do estabelecimento de engenhos e da aproximação com os indígenas, 
especialmente através da união de europeus com mulheres nativas. ” In. DORNELLES, Bruna 
Pasetti. A cidade colonial brasileira na união ibérica: base da expansão territorial e lugar de defesa; 
PUCRS – Dissertação; Porto Alegre, RS; 2011. p. 91-92 
27 
 
obtiveram o mesmo tornando o sistema de Capitanias Hereditárias pouco viável 
para a Coroa23. 
 
Figura 01: Capitanias Hereditárias 1574 
 
*Fonte: Disponível em meio eletrônico24 
 
 
 
23 Op. Cit. In. PORTO, Costa. O Sistema sesmarial no Brasil. p. 4. 
24 ALONSO, Regina. <www.brasil500anos.ibge.gov.br>. Acesso em: 14 05 2017. 
28 
 
Segundo Dornelles durante a União Ibérica, período em que Portugal 
esteve sob o reinado dos reis espanhóis25, a administração portuguesa conseguiu 
melhorar o estabelecimento de suas fronteiras territoriais. 
Os primeiros trinta anos foram marcados por um governo equilibrado 
do ponto de vista do cumprimento dos compromissos assumidos pela Coroa 
portuguesa, no entanto, quando a armada espanhola foi derrota pelos ingleses em 
155826, a coroa portuguesa sentiu sua primeira perda através dos navios e homens 
que foram cedidos a Espanha e novamente em 1618, quando a Espanha entra na 
Guerra dos Trinta Anos, Portugal e suas colônias passam a sentir os efeitos da 
guerra pelos ataques dos inimigos da Espanha, como a Holanda, Inglaterra e 
França, que antes eram seus aliados. 
O fechamento dos portos brasileiros aos Holandeses, que eram 
consumidores e parceiros comerciais de Portugal nos produtos de suas colônias, 
afastaram os portugueses do comercio e forçou“ uma reorientação das táticas 
holandesas para a obtenção daqueles produtos que lhes eram importantes na sua 
lógica mercantil, sendo esta reorientação a intensificação do contrabando e o 
projeto de invasão e conquista de territórios americanos”27. 
 A União Ibérica teve seu fim em 1640, com a restauração portuguesa, 
chegando ao poder a dinastia Bragança, a América portuguesa recuperou, então, 
a sua importância comercial diante dos domínios portugueses d’além mar. No 
entanto, o comércio de açúcar já estava comprometido, uma vez que os 
holandeses produziam este produto nas Antilhas a um custo inferior. Com a queda 
do valor comercial do açúcar Portugal buscou outras formas de colonizar as terras 
americanas. 
Buscar novas terras, conforme figura 02 a seguir, tornou-se uma 
alternativa para a Coroa portuguesa, expedições de desbravamento territorial que 
 
25 “Unidade política que regeu a península ibérica de 1580 a 1640, resultado da união dinástica 
entre as monarquias de Portugal e da Espanha após a Guerra da Sucessão Portuguesa.” 
26 Armada invencível. Porto Editora, 2003-2017. [consult. 2017-02-13 12:16:16]. 
27 DORNELLES, Bruna Pasetti. A cidade colonial brasileira na união ibérica: base da expansão 
territorial e lugar de defesa. PUCRS – Dissertação; Porto Alegre, RS; 2011. p. 114. 
29 
 
possuíam como missão o apressamento de indígenas para escravizar, foram 
também usadas por Portugal como justificativa para avançar sobre o limite do 
Tratado de Tordesilhas28 em direção a colônia espanhola. Deu-se início ao 
expansionismo português em terras brasílicas, com duas frentes de exploração, as 
entradas e as bandeiras. 
A primeira eram expedições oficiais da coroa e, portanto, eram 
compostas por soldados portugueses e brasileiros e deveriam realizar o 
mapeamento do território a medida que o adentrava, e estas informações eram 
enviadas a Portugal para através do conhecimento da terra realizar a sua 
colonização. A segunda frente era organizada por particulares, compostas, 
normalmente, por familiares, agregados, brancos, pobres e mamelucos. Estas 
expedições tinham o caráter mais comercial por que o interesse estava em buscar 
as minas de ouro, prata e pedras preciosas29, no entanto, ambas possuíam como 
missão comum o combate e o apressamento indígena. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 Tratado de Tordesilhas foi assinado em 1494, e possuía, por princípio, uma divisão entre duas 
coroas Ibéricas, de forma que o mundo conhecido, e, ou aquele que seria descoberto seriam 
divididas por ambas as coroas. Esta linha imaginaria seria localizada a 370 léguas a oeste do 
arquipélago de Cabo Verde, de polo a polo, e caberia a Espanha as terras do lado ocidental, e a 
Portugal as do lado oriental. BACELA, Jonildo. Guia Geográfico-Informações e dados históricos do 
Brasil; UFPR. Disponível: <http://www.historia-brasil.com/colonia/tordesilhas.htm>. Acesso em: 
16 05 2016. 
29 Ver a esse respeito, VOLPATO, Luiza Rios Ricci. Entradas e Bandeiras. Editora Global. Disponível: 
<www.historiadobrasil.net/resumos/entradas_bandeiras.htm.>. Acesso em: 17 05 2016. 
30 
 
Figura 02: Entradas e bandeiras 
 
FONTE: Atlas histórico escolar.Rio de Janeiro: FAE, 1991. 
 
No final do século XVII estas expedições encontraram minas de ouro no 
sertão de Taubaté, o que impulsionou uma corrida em busca do metal precioso, 
favorecendo a política expansionista portuguesa. À medida que as minas eram 
descobertas, para além da linha do Tratado de Tordesilhas, as expedições mais 
adentravam ao território espanhol e deixavam vilas e povoados lusitanos pelas 
suas rotas. 
31 
 
Com o advento das descobertas das minas de ouro, a Coroa portuguesa 
entendeu que deveria tomar posse da região das minas e também das terras que 
ainda não haviam sido exploradas a fim de evitar a perda para quem o território 
pertencia de direito, a Espanha. 
As buscas pelos indígenas e pelo ouro, nesse período, já haviam se 
estendido para além dos limites das possessões portuguesas, mas, a partir da 
proposta do Marques de Pombal a Coroa portuguesa decidiu criar núcleos 
populacionais e montar um sistema administrativo30. Segundo Thais Cristina 
Innocentini31 foi a partir desta política que surgiu, através de um sítio antes 
ocupado por arraial de mineração, a Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá em 
1727. Ao mesmo tempo, foram criadas “as Capitanias de Minas Gerais (1720), 
Goiás (1748) e Mato Grosso (1748) 32 ”. A fundação destas capitanias favoreceu a 
política estratégica de ocupação adotada por Portugal (1534 a 1750) favorecendo 
uma sucessão de eventos decisivos para a posse portuguesa do território que 
vinha sendo conquistado. 
A consolidação e defesa do território que Portugal já conquistara foi 
efetivada através das concessões de terras, as sesmarias, que constituíam “o 
regime jurídico básico acerca da terra, instituído no reinado de Fernando I como 
uma lei agrária de fomento da produção agrícola e do cultivo das terras ermas.” 33 
Tal concessão teria o objetivo de marcar a presença da coroa portuguesa dentro 
do território ocupado impedindo a expansão territorial espanhola ao mesmo 
tempo que retirava da coroa portuguesa a administração direta das terras 
 
30SENA, Divino Marcos de. Camaradas: livres e pobres em Mato Grosso (1808-1850). Dourados. 
MS. UFGD. 2010.p. 23. 
31 INNOCENTINI, Thaís Cristina. Capitanias Hereditárias: Herança colonial sobre desigualdade e 
instituições; Escola de Economia de São Paulo, FGV; 2009.p.15. 
32 CHAVES. Op. Cit. p. 24. 
33 Disponível: <http://www.geomatica.ufpr.br/portal/wp-content/uploads/2015/03/Sesmarias-
Apossamento-Terras.pdf.>. Acesso em: 17 06 2016. 
32 
 
ocupadas, uma vez que, transferia para o sesmeiro a incumbência de a própria 
custa colonizar aquelas terras34. 
Não se pode concluir, portanto, que as distribuições de sesmarias fossem 
apenas concessões no sentido único de ocupar as conquistas, pois possuíam uma 
política própria em dois sentidos. Primeiro o estratégico, que era realizado pelo 
avanço dos desbravadores e a criação de povoados e segundo o administrativo, 
que era materializado na adoção de um regime jurídico colonizador, ambos viriam 
a ser colocados em prática mais tarde através do Uti possidetis35 na ratificação do 
Tratado de Madri (1750). 
 
1.1 Colonização da Capitania de Mato Grosso 
 
No bojo da expansão portuguesa, em 1718, a bandeira de Pascoal 
Moreira Cabral chegou às terras que viriam a formar a capitania de Mato Grosso, 
com o intuito de apressar indígenas e também encontrar metais preciosos. Assim 
com a descoberta de ouro, em 1719, foi fundado um pequeno arraial as margens 
do rio Coxipó, no local conhecido como Forquilha. Este primeiro núcleo 
populacional tornou-se a Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, em 1727, com 
a chegada do Governador e capitão General da Capitania de São Paulo, Rodrigo 
Cesar de Menezes, que levantou um pelourinho e estabeleceu a primeira vereança 
da vila36. 
A partir da Vila do Cuiabá outros dois núcleos surgiram no decorrer do 
século XVIII, e se tornaram importantes na política de consolidação portuguesa na 
Capitania de Mato Grosso. Vila Bela da Santíssima Trindade (1752) fundada por D. 
Antônio Rolim de Moura, com o intento de torná-la capital e Vila Maria do Paraguai 
(Cáceres) fundada por Luiz de Albuquerque de Melo e Pereira e Cáceres (1778). 
 
34INNOCENTINI, Thaís Cristina. Capitanias Hereditárias: Herança colonial sobre desigualdade e 
instituições: Escola de Economia de São Paulo, FGV; 2009.p. 17. 
35 Tradução: “Como possuis continuai possuindo” 
36 CHAVES, Otavio Ribeiro. ARRUDA. Elmar Figueiredo de. História e Memória de Cáceres. Editora 
Unemat; Cáceres; Mato Grosso, 2011. p. 80 
33 
 
A criação das vilas do Cuiabá e de Vila Bela da Santíssima Trindade 
teriam tido, também, a função de manter os limites, até então conquistados, 
demonstrando que a terra fora ocupada por Portugal, o que nas negociações 
diplomáticas recorrer-se-ia no princípio do Uti possidetis, como o proposto no 
Tratado de Madri (1750). 
Vila Maria do Paraguai fundada em 1778, possuía o mesmo objetivo 
que as outras vilas da capitania de Mato Grosso, que era a consolidação da 
conquista. Ao mesmo tempo, funcionava como entreposto dos caminhos entre os 
centros mineradores. Somente mais tarde sua função passou a de ocupação como 
parte da política da Coroa portuguesa para a de defesa de fronteira37 contra uma 
possível expansão dos espanhóis. 
Entre as primeiras medidas administrativas tomadas pelo capitão-
general Rodrigo Cesar de Menezes, ainda em 1727, destacam-se a doação e 
regulamentação de várias sesmarias no entorno da Vila do Cuiabá, conforme 
figura 03, dividindo-as em dois tipos, conforme o regramento sesmarial, em lavras 
e de uso agropastoril38, com isso efetivava-se então a ocupação e a colonização 
das terras mais a Oeste de Tordesilhas. 
 
 
37 CHAVES, Otavio Ribeiro. ARRUDA. Elmar Figueiredo de. História e Memória de Cáceres. Editora 
Unemat; Cáceres; Mato Grosso, 2011. p. 81. 
38LIMA, André Nicacio. Caminhos da integração, fronteiras da política: a formação das províncias 
de Goiás e Mato Grosso; Dissertação; USP; 2010. p. 44. 
34 
 
Figura 03: Sesmarias em Minas do Cuiabá - 1726-1728 
 
Fonte: Disponível em meio eletrônico39 
 
 
Estas sesmarias serviam como base irradiadora de ocupação e 
colonização diante da vastidão e das dificuldades de avanço e conquista que a 
 
39 Fonte. Disponível: <www.scielo.br/img/revistas/rh/n173//2316-9141-rh-173-00211-gf5.jpg>. 
35 
 
capitania de Mato Grosso apresentava. O povoamento era a melhor forma de 
colonização destas terras, talvez, por isso a coroa portuguesa tenha dado aos 
colonos o máximo possível de autonomia na administração das terras40. 
A doação destas sesmarias demonstrava a preocupação da coroa na 
vigilância contra a possível entrada de espanhóis, assim estas serviriam como 
barreira a este possível avanço. Tal preocupação fundamentava-se na ocupação 
de terras por parte da Coroa espanhola desde o século XVII no entorno das posses 
portuguesas, através da “ação missionária jesuítica (1691-1767)41, conforme 
figura 04, nas ‘terras baixas’ bolivianas”42 com o intento de evangelizar os 
indígenas. 
 
 
40 COSTA, Wanderley Messias da. O estado e as políticas territoriais no Brasil. Editora Contexto; 
São Paulo, SP; 2000. p. 29 
41 “A Companhia de Jesus controlou todo o Norte do atual Uruguai, as Missões Orientais, o Alto 
Uruguai e as missões guaraníticas do Paraguai. Construindo um amplo círculo em torno das 
possessões portuguesas. Chiquitos e Moxos na Bolívia e as missões Maynas na Amazônia. Os 
jesuítas atuaram, na prática, como um contraforte capaz de parar o avanço lusitano.”In. 
PEREGALLI, Enrique. Como o Brasil ficou assim. Formação das fronteiras e tratados de limites. 2 
ed. SãoPaulo: Global Editora, 1982 (História Popular; 9). p. 24. 
42 SILVA, Giovani José da. A Bolívia, a Chiquitania e as populações indígenas em um mosaico étnico 
e cultural. Revista de Estudos e Pesquisas sobre as Américas, vol.6, Nº 2/ 2012; Universidade 
Federal do Mato Grosso do Sul; Campo Grande, MS. p. 114. 
36 
 
Figura 04 Localização das missões espanholas no século XVIII 
 
Fonte Nogueira C. E. Blanchetti (2005) 
 
Desde 1732, o Conselho Ultramarino alertava quanto aos perigos 
externos e internos que eram alimentados pela “cobiça que a América portuguesa 
suscitava nas outras nações pelas suas riquezas”43. Essa cobiça ater-se-ia a “dois 
gêneros de perigos que estão sujeitos todos os estados, uns externos, outros 
internos. De forma que os externos são os da força e os internos são o que poderão 
causar os naturais do país, e os mesmos vassalos”44. Tais perigos eram 
 
43 NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). Editora 
Ucitec; São Paulo, SP; 1995. p. 141. 
44 NOVAIS. Op. Cit. p. 30. 
37 
 
minimizados com as concessões das sesmarias e na autonomia administrativa 
dispensada pela Coroa, ocupava-se a terra o que se traduzia na posse portuguesa 
daqueles limites. 
 
1.2 Política, Estratégia de Ocupação 
 
Ao longo do século XVIII a preocupação com a posse das terras da 
capitania de Mato Grosso materializou-se em alguns dispositivos de proteção das 
mesmas. A política proposta por Sebastião José Carvalho Melo, o Conde de Oeiras, 
buscava guarnecer a fronteira através da construção de fortes militares, conforme 
figura 05 a seguir, os principais foram erigidos na administração de Luís de 
Albuquerque de Melo e Pereira Cáceres que construiu em 1775 o Forte de 
Coimbra e deu início a construção do Príncipe da Beira em 1776. Os fortes 
desempenhavam papel importante, uma vez que estavam posicionados em locais 
estratégicos dentro da colônia, e exerciam principalmente três funções: a defesa 
externa, a coibição do contrabando e a criação de vilas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
Figura 05: Fortificações Pombalinas 
 
Fonte: Disponível em meio eletrônico45 
 
A política administrativa pombalina fora eficaz na defesa da fronteira, 
mas o mesmo não visualizava uma legislação agrária que proporcionasse a 
colonização das terras ocupadas, assim permanecia válido o regramento sesmarial 
como forma de colonização através da distribuição de terras. 
 
45 Fonte: Disponível. <fortificaçoespomalinas/images/slideplayer.com.br>. Acesso: 16 06 2016 
 
39 
 
Mesmo com a construção dos fortes na fronteira Oeste, o contrabando 
ainda era prática corrente e a apreensão da Coroa estava vinculada as minas da 
capitania que traziam especial preocupação pela proximidade com os domínios 
hispânicos46. Ao mesmo tempo“ a Espanha tentava impedir o contrabando de 
prata e ouro de Potosí e do alto Peru através do porto franco de Buenos Aires”47. 
A prática do descaminho na capitania de Mato Grosso era feita de 
forma abrangente, contrabandeava-se “ouro lavrado, laços, bretanhas, lenços, 
louças da Índia, vidros, instrumentos, ferramentas [...]” 48, além disso, havia o 
comércio ilegal de negros escravizados que eram vendidos para as minas do Alto 
Peru cujo pagamento era feito em prata. Desta forma, “as fronteiras mato-
grossenses eram constantemente envolvidas pela política oficial numa guerra 
intensa de incentivo ao contrabando”.49 
Esta prática tornara-se um problema para ambas as Coroas, uma vez 
que deixava claro a ausência de controle na inspeção da circulação de mercadorias 
e na demarcação dos limites das terras pertencentes a cada monarquia. Assim a 
busca pela definição dos limites e pelo controle comercial possuíam motivos 
concretos e imediatos50. 
Ainda indefinidos os limites, a coroa portuguesa passou a incentivar, 
como forma de fixação da população na fronteira, a criação de gado. Segundo 
Luíza Rios Ricci Volpato “a exploração do ouro era um fator negativo, cheio de 
 
46 Segundo Nauk Maria de Jesus, “[...] os castelhanos, sabedores da existência das minas 
cuiabanas, tinham interesse em obter o ouro e os Payaguá poderiam ser importantes peças na 
formação de alianças que visassem ao contrabando do metal e demais produtos levados nas 
monções, bem como no tráfico de escravos. ” NAUK, Maria de Jesus. O governo local na fronteira 
Oeste. A rivalidade entre Cuiabá e Vila Bela no século XVIII; Ed. UFGD; Dourados, MS; 2011. p. 98 
47 MACHADO, Lia Osório. Limites e Fronteiras: Da alta diplomacia aos circuitos da ilegalidade; 
Congresso Brasil-Portugal; Academia de Marinha; Lisboa, Portugal; 1999. Revista Território, Rio 
de Janeiro, ano V, n" 8, pp. 7-23, jan. jun., 2000. p. 13. 
48SOARES, Maria do Socorro Castro. Marcos que limitam, espaços que agregam: Os reflexos das 
lutas emancipatórias das colônias hispânicas e a fronteira Oeste de Mato Grosso; Tese; UFMT-
Universidade Federal de Mato Grosso; Cuiabá; 2015. p.38. 
49 LENHARO, Alcir. Crise e mudança na frente Oeste de colonização. Ensaios; Imprensa 
Universitária, UFMT; Cuiabá, 1982. p. 37. 
50 MACHADO. Op. Cit. p. 45. 
40 
 
riscos e que a própria coroa portuguesa teria insistido no incremento da 
agricultura criatória para permitir o guarnecimento da fronteira em condição 
permanente”51. Houve, como em outras capitanias, uma crescente aquisição de 
terras mais a Oeste, “entre Cuiabá e Vila Maria, acaudilhada por decididos 
desbravadores”52. 
A fronteira foi sendo aos poucos ocupada, como já exposto, através da 
concessão de terras de sesmarias, que nesta região adquiria contornos específicos, 
diversos daqueles adotados em outras partes da América Portuguesa com o 
regimento sesmarial53. Nas capitanias de Goiás e São Paulo apresentava-se 
incentivo a agricultura e inexistia problemas relacionados a limites externos, e no 
Norte a colonização ainda se desenvolvia. Desta forma, o regimento sesmarial 
acabava por ceder as peculiaridades de cada capitania. 
Na capitania de Mato Grosso, para a criação de gado havia necessidade 
de mais terras do que apenas uma sesmaria, desta forma, ocupava-se mais terras 
que a estipulada pelo regimento, esta prática não contrariava de todo ao que 
estipulava alguns artigos do regramento sesmarial. Em Alvará de 05 de outubro de 
1795, regulamentava-se os lotes de sesmarias, afirmando que os sesmeiros 
poderiam “possuir duas, ou mais sesmarias, contanto que tenham possibilidades, 
e número de escravos, que inteiramente cultivem umas, e outras terras54.” Assim, 
a falta de fiscalização proporcionou o aumento significativo de terras nas mãos de 
apenas um sesmeiro. 
Segundo José da Costa Porto “uma das principais distorções do nosso 
sesmarialismo ocorreria de respeito a estrutura fundiária”55, possivelmente pela 
 
51 VOLPATO, Luíza Rios Ricci. Mato Grosso: ouro e miséria no antemural da Colônia: (1751-1819); 
Dissertação; Universidade de São Paulo-USP; 1981. 
52 CORRÊA FILHO, Virgílio. Fazendas de gado no pantanal Mato-Grossense. Serviço de informação 
agrícola; Documentário da vida rural nº 10; Rio de Janeiro, RJ; 1955.Op. Cit. In. p.18. 
53 Legislação reguladora do acesso à terra até sua extinção em 1822. In.: MOTTA, Marcia Maria 
Mendes. Direito a terra no Brasil: a gestação do conflito, 1795-1824. Editora Alameda, São Paulo: 
2009. p. 18. 
54 Alvara de 05 de outubro de 1795. 
55 PORTO, José da Costa. O sistema sesmarial no Brasil. Editora Universidade de Brasília; UNB; 
Brasília, DF; 1979 p. 48. 
41 
 
falta dessas observações quanto as condições impostas pelo regramento e aliadas 
a preocupação portuguesa em consolidar as suas conquistas. As sesmarias 
solicitadas para criação de gado próximas ao limite dos domíniosespanhóis foram 
sendo ampliadas e ofereciam a possibilidade de guardar a fronteira ao ocupar 
aquelas terras. 
Na região próxima à São Luiz do Paraguai56, por exemplo, o número de 
fazendas não poderia servir como indicativo de fixação do homem no campo ou 
de guarnecimento, por que o grande vulto populacional se encontrava próximo a 
região das minas que eram Vila Real do Bom Jesus do Cuiabá e Vila Bela da 
Santíssima Trindade. Tomaremos a sesmaria Jacobina como caso ilustrativo da 
posse da terra na capitania de Mato Grosso nas proximidades da fronteira Oeste. 
 
1.2.1 A Jacobina como centro irradiador de ocupação 
 
Esta sesmaria ficava no caminho que ligava Vila Maria a Vila Real do 
Bom Jesus do Cuyabá e estava localizada a seis léguas de Vila Maria e próximo ao 
limite da colônia portuguesa com a coroa espanhola57. Havia pertencido, em 1769, 
ao português Leonardo Soares de Souza58, e era destinada a produção de 
rapadura, açúcar mascavo, agua ardente, etc., estava destinada também ao 
criatório de gado. Em 1813, a partir da assumpção do coronel Pereira Leite, suas 
terras se estenderam por um vasto território dentro da capitania de Mato Grosso 
 
56 Em 1779 Vila Maria do Paraguai teve seu nome alterado para São luís do Paraguai. Disponivel: 
<http://www2.unemat.br/atlascaceres/index.php?pasta=historia>. Acesso em: 17 06 2016. 
57 Segundo Corrêa Filho foi da Jacobina que “saíram aventureiros que tomaram conta de grande 
porção do Pantanal” CORRÊA FILHO, Virgílio. Fazendas de gado no pantanal Mato-Grossense; 
Serviço de informação agrícola; Documentário da vida rural nº 10; Rio de Janeiro, RJ; 1955.Op. 
Cit. In. p.22. 
58 Ver a esse respeito, GARCIA, Domingos Sávio da Cunha. Território e negócios na "Era dos 
Impérios”: os belgas na fronteira Oeste do Brasil; Fundação Alexandre de Gusmão; Brasília; 2009. 
p. 86. 
42 
 
indo até o Pantanal Norte na fronteira com a Bolívia e chegando a ultrapassar o 
rio Paraguai no sentido Leste-Oeste59. 
Segundo Romyr Conde Garcia, a Jacobina “possuía dezoito sesmarias, 
das quais a menor de três léguas em quadra, sem formação e só em seis ou sete 
delas, as quais ele chamava fazendas”60, conforme quadro 01 a seguir. A sua área 
total foi tão extensa que poderia ter influenciado na delimitação do limite Oeste, 
uma vez que possuía duas “sesmarias” – Salma e Santa Fé – em terras espanholas 
e próximo ao limite com a América Portuguesa. Este fato demonstra a inexistência 
de um limite jurídico preciso, entendendo-se que estas sesmarias poderiam 
configurar uma continuidade do território português em solo espanhol. 
 
Quadro 01: Posses da jacobina – 1813 
Fonte: DA SILVA, Leila Castro62/Adaptado pelo autor/2017 
 
Outros proprietários de terras próximo ao limite com a colônia 
espanhola seguiram o exemplo da Jacobina e passaram a ocupar terras de forma 
indiscriminada e em desobediência aos Alvarás e ao próprio regramento 
 
59 GARCIA, Domingos Sávio. Território e negócios na "Era dos Impérios”: os belgas na fronteira 
Oeste do Brasil. Op. Cit. p. 87. 
60 GARCIA, Romyr Conde. Mato Grosso 1800 – 1840: Crise e estagnação do projeto colonial; Tese; 
USP; 2003. p. 142. 
61 “Teve o nome alterado de Vila Maria do Paraguai para São Luiz do Paraguai-1779”. 
Disponível: <www2.unemat.br/atlascaceres/index.php?pasta=historia>. Acesso em: 17 06 2016. 
62 DA SILVA, Leila Castro. O processo de nomeação das fazendas-engenhos de Cáceres –MT; Rev. 
Digital do curso de Letras-AVE PALAVRA nº 11; Universidade do Estado de Mato Grosso-
UNEMAT; Alto Araguaia, MT; 2011. Site: 
˂http://www2.unemat.br/avepalavra/EDICOES/11/artigos/O%20processo%20de%20nomeacao
%20das%20fazendas%20engenhos%20de%20Caceres%20%20MT.pdf˃ Acesso em: 12 06. 2016. 
SE
SM
A
R
IA
 
JACOBINA 1800-1822 
 
 
 
São Luiz do 
Paraguai61-1813 
 
 
 
 
 
Leonardo Soares 
1. Parte de outras 
sesmarias 
2. Sesmarias Joao Criolo 
3. Posse da Criminosa 
4. São Luis Caetes 
5. Pastos de Carvalhos 
6. Guanandy 
43 
 
sesmarial63, tornando-se prática comum na ocupação de novas terras no pantanal 
a dentro ou próximo ao limite. 
Na Jacobina, o incentivo dado pela coroa portuguesa à criação de gado 
proporcionou uma infiltração forasteira e aumento dos estabelecimentos 
agropastoris pelo vale do Paraguai64. No entanto, raramente, “cada proprietário 
rural contentar-se-ia com uma única indicativa de comedidas aspirações”65, de 
forma que os proprietários das sesmarias passaram a adquirir mais terras e a 
anexa-las a inicial. Segundo Corrêa Filho normalmente o sesmeiro solicitava “a 
primeira sesmaria que servisse de núcleo, e em torno dela seriam requeridas as 
terras contíguas, até que perfizessem conjunto grandioso”66. 
Mesmo existindo exceções no regramento sesmarial e nos Alvarás que 
permitissem aos sesmeiros possuir duas ou mais Sesmarias, este número não era 
averiguado, primeiro por que as menções sobre produtividade eram relatadas 
sobre uma única posse, a principal, e segundo por que não havia observações 
quanto as particularidades ou localizações na posse das terras.67 A partir desta 
lacuna de informações, as sesmarias eram demarcadas conforme os “olhos” do 
proprietário, segundo Corrêa Filho “raras [demarcações] possuíam o seu 
respectivo título de sesmaria”68, e quando as tinham estavam firmadas por algum 
Capitão-General e sem validação dos títulos pela coroa. 
A Jacobina foi um centro de irradiação populacional na fronteira, a 
partir do governo do Capitão-General Luís Albuquerque de Melo e Pereira e 
Cáceres o qual muito auxiliou na consolidação dessa parte do território. Este 
governador possuía uma política estratégica de ocupação desta parte do limite 
 
63“[...] proibido que cada Sesmeiro possua mais de uma Data, ainda que seja por Título de 
Herança, ou compra”. In. LEITÃO, José Alberto. Alvara de 5 de outubro de 1795. Publicado na 
Chancelaria Mor da Corte, e Reino. Lisboa 22 de setembro de 1796. p. 05 Disponível: ˂www. 
Camarafederal.gov.br/˃ Acesso em: 12 06 2016. 
64 Ibid. p. 59. 
65 CORRÊA FILHO, Virgílio. Fazendas de gado no pantanal Mato-Grossense. Op. Cit. p. 60 
66 CORRÊA FILHO, Virgílio. Fazendas de gado no pantanal Mato-Grossense. Serviço de informação 
agrícola; Documentário da vida rural nº 10; Rio de Janeiro, RJ; 1955.Op. Cit. In. p. 64 
67 CORRÊA FILHO, Virgílio. Fazendas de gado no pantanal Mato-Grossense. Op. Cit. p. 23 
68 CORRÊA FILHO, Virgílio. Fazendas de gado no pantanal Mato-Grossense .Op. Cit. p. 22 
44 
 
Oeste, tendo proposto que as sesmarias que estivessem dentro dos limites69 
estipulados para São Luiz do Paraguai70 passariam a fazer parte da vila, que 
necessitava para sua oficialização de um maior número de almas. Com este intuito, 
foi enviada uma solicitação ao Prelado de Cuiabá e à Diocese do Rio de Janeiro71, 
onde constava o pedido de criação de uma igreja ou paroquia em São Luiz do 
Paraguai. 
Pode-se concluir que, a Jacobina como outras sesmarias tornaram-se 
importantes núcleos populacionais na ocupação e consolidação da capitania 
próximo ao limite Oeste. Com o advento da Independência do Brasil, as questões 
ligadas a posse da terra ganham outros contornos. 
 
1.3 Da independência a Lei de terras - 1822-1850 
 
Em 1822, o Brasil tentava renascer como nação independente, mas isso 
não seria feito de forma simples, pois, os problemas fundiários que o Império 
possuía neste momento, percorriam toda a sua extensão geográfica e alguns 
desses não poderiam ser resolvidos de forma independente, uma vez que, muitas 
das questões que envolviam a posse da terra estavam ligados ao litígio dos limites. 
No ano da Independência, as sesmarias foram suspensas72. As terras que haviam 
sido herdadas do regramento sesmarial, no Brasil colônia, necessitavam se69 “Norte o rio Jauru; a Leste o Sangrador do Melo; ao Sul localizamos Albuquerque”. In. MORAES, 
Maria de Fátima Mendes Lima de. Dissertação de Mestrado em História. Cuiabá/MT: UFMT, 2002. 
Disponível: ˂h�p://www.ppghis.com/site/dissertacao/arquivos/2003_mest_ufmt_ma 
ria_de_fatima_mendes.zip˃ A. p. 40. Acesso em: 17 06 2016. 
70Disponível: ˂http://www2.unemat.br/atlascaceres/index.php?pasta=historia˃. Acesso em: 17 
06 2016/ 14:30 h. 
71“Tendo eu de pôr na presença de V. Exa. que em execução do ofício que me foi dirigido, fiz o 
Tratado de cessão do território, que há do Sangrador do Melo até o rio Paraguai, e que mando 
autuar o documento dessa cessão com o que havia feito o Reverendo vigário dessa Capital, e 
carta de V. Exa, em que assim me determinava, procedi a criação da nova freguesia de São Luiz 
de Vila Maria do Paraguai [...] erigindo nesses territórios adidos a nova Freguesia, debaixo porém 
da condição de dever ser aprovada e confirmada por S. Exa. Reverendíssima, a quem unicamente 
compete o erigir Igrejas curadas ou Paróquias. ” In. MORAES. 2003. 
72 A resolução 76/1822 foi a base usada por D. Pedro I para a suspensão da distribuição de 
sesmarias. Sua decisão teve como base a petição de um posseiro de nome Manoel Jose dos Reis. 
45 
 
adequar à nova ordem política que caminhava naquele momento, e ficou 
acordado entre os políticos que, para isso, deveriam ser criadas leis que 
norteassem sua definição e regularização. 
Durante os vinte e oito anos posteriores à independência (1822-1850), 
configurou-se uma fase da ocupação de terras, que pode ser considerada como 
período de posseiros. Estes, eram os possuidores de terras sem a propriedade 
dessas, de forma que, o laço jurídico que os prendia às terras era unicamente o de 
posse73, pois inexistia uma lei agrária que norteasse e direcionasse, tanto a 
regularização da terra como sua forma de distribuição. 
Segundo Ligia Osório Silva a elaboração da Lei de Terras “veio no bojo 
das grandes transformações que nesse período começaram a propelir a sociedade 
brasileira, ainda escravista e arcaica”74, uma vez que, a regulamentação da terra 
estava ligada à questão da escravidão. Dois grupos antagônicos apresentaram 
projetos distintos para a elaboração de uma nova legislação agraria. 
O primeiro grupo, os escravistas, lutavam para manter o sistema de 
escravidão dentro das leis agrárias que estavam em discussão naquele momento, 
mas, a necessidade de reconhecimento de independência do Brasil por nações 
estrangeiras os obrigava a realizar mudanças que as agradassem a fim de obter o 
aval para a sua soberania. De outro lado, os antiescravistas, que tinham como 
representante mais ilustre José Bonifácio, entendiam que este momento seria 
propicio para inserir no corpo da lei que estava em discussão a extinção da 
escravidão no Brasil e o acesso à terra ao pequeno produtor, libertos e 
imigrantes.75 
As discordâncias políticas, entre os escravistas e os antiescravistas, 
foram marcantes durante boa parte do século XIX, e longe delas o Brasil 
 
73 Ver a esse respeito, TRECCANI, Girolamo Domenico. O título de posse e a legitimação de posse 
como formas de aquisição da propriedade. Universidade Federal do Pará – UFPA. 
74 SILVA, Ligia Osorio. Terras devolutas e latifúndio: efeitos da lei de 1850; Editora da UNICAMP; 
São Paulo, SP; 1996. p.11. 
75 CÔRTES, Geraldo de Menezes. Migração e colonização no Brasil - 1911-1962. Livraria J. Olympio; 
Rio de Janeiro, 1958. p. 50. 
46 
 
necessitava de uma legislação agraria que substituísse o regramento sesmarial que 
havia sido suspenso por D. Pedro I (1822)76. A dificuldade que se apresentava 
dentro desse panorama político era que parte dos políticos que votariam os 
projetos eram senhores de escravos. 
Possivelmente não foi apenas o medo da perda da mão de obra e do 
lucro fácil que tenham exercido força nos pensamentos dessa classe para protelar 
por anos a promulgação da lei, uma vez que esta poderia ser mais danosa a esta 
classe. Segundo Maria Josephina Mathilde Durocher77 a liberdade total e repentina 
traria “queda completa da lavoura que fonte de riqueza do país, traria assassinatos 
por vingança contra antigos senhores, crimes para as quais não haveria tribunais 
suficientes, nem polícia numerosa e enérgica para conter as desordens.78 
José Bonifácio, em 1821, já havia proposto um projeto onde se previa a 
colonização do território a partir da venda da terra, pondo fim ao processo de 
doação de terra. Este projeto teve forte influência nas discussões da política 
agrária, no entanto, o espírito ideológico estava sempre presente em suas 
propostas, onde insistia em articular o fim da escravidão com a nova Lei de Terras. 
José Luís Cavalcante ao se utilizar do pensamento de José Bonifácio, considerava 
fundamental uma nova legislação sobre as sesmarias, prevendo que as terras 
concedidas, mas não cultivadas, deveriam retornar ao patrimônio nacional, 
“deixando-se aos donos meia légua quadrada, quando muito, sob a condição de 
logo cultivá-las” 79. 
 
76 “A resolução 76/1822 foi a base usada por D. Pedro I para a suspensão da distribuição de 
sesmarias. Sua decisão teve como base a petição de um posseiro de nome Manoel Jose dos Reis. ” 
77 “Parteira pela faculdade de medicina do Rio de Janeiro, parteira da casa imperial, ex-parteira 
de Sua Alteza a finada princesa D. Leopoldina, Duquesa de Saxe Coburgo e Golba, e membro 
honorário da academia imperial de medicina do Rio 11e Janeiro”. 
78 DUROCHER, Maria Josephina Mathilde. Ideias por coordenar a respeito da emancipação. 
Tipografia do Diário do Rio de Janeiro; Rio de Janeiro, RJ, 1871. p. 5. 
Disponível: 
˂ www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/174468/000119430.pdf?sequence=1 ˃ Acesso 
em: 14 05 2016/14:30 h. 
79 CAVALCANTE, José Luís. A lei de terras de 1850 e a reafirmação do poder básico do estado sobre 
a terra. 2005. Disponível: 
47 
 
Cavalcante defendia, também, a regularização das terras adquiridas por 
posse onde seus donos deveriam ter o cultivo da terra como condição para sua a 
efetivação e deveriam perdê-las caso não as cultivassem dentro de um prazo 
determinado. A medida que os projetos foram sendo apresentados pelos 
favoráveis ao fim da escravidão, eram colocados de lado pela bancada dos 
senhores de escravo. O fim desta disputa ideológica, que havia se iniciado no 
reinado de D. Pedro I somente teve conclusão no segundo Reinado – D. Pedro II - 
em 1850, com a publicação da Lei de autoria do ministro da Justiça do Brasil 
Eusébio de Queirós Coutinho Matoso80, que havia sido decretada em 4 de 
setembro e não atendia totalmente aos anseios dos antiescravistas, mas, poderia 
ser considerado um sinal de mudança. 
Em 18 de setembro de 1850, a lei 601 – Lei de Terras – foi promulgada 
e tratava, exclusivamente, sobre revalidação e legitimação81, regularização, venda 
e dava outras definições sobre a terra e sua posse. Assim, a nova lei estabeleceu 
quatro formas para se possuir o reconhecimento da posse territorial: a revalidação 
das cartas de sesmaria que, apesar de não terem observados as demais exigências 
legais comprovassem o cultivo da terra; a legitimação das posses, a compra das 
terras devolutas82 e doação (este último instituto aplicável só na faixa de fronteira). 
 
˂www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao02/materia02/˃ Acesso em: 
10 06 2016/14:30 h. 
80 Lei Eusébio de Queiróz - “Foi considerada inicialmente sob o pejorativo de “lei para inglês ver” 
em relação as exigências da Grã-Bretanha para reconhecer a independência que o Brasil fosse 
adepto da lei inglesa -“Bill Aberdeen” (1845) ” Disponível: 
˂http://funag.gov.br/loja/download/1048-Manual_de_Historia_do_Brasil.pdf˃ Acesso em: 15 07 
2016/ 15:20 h. 
81 A revalidação e

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