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1 DIREITO PENAL – REGULAR AULA 03 APLICAÇÃO DA LEI PENAL 1. LEI PENAL NO TEMPO A eficácia da lei penal está situada, em regra, desde a sua entrada em vigor até a sua revogação, não alcançando fatos ocorridos antes ou depois desses limites extremos. A regra é a lei penal não retroagir e nem possuir ultra-atividade. O princípio da IRRETROATIVIDADE só vale, no entanto, para a lei penal mais severa, caso a lei seja mais benéfica é perfeitamente aplicável a retroatividade da lei penal. Há, portanto, dois princípios que regem os conflitos de leis penais no tempo: Não Extra-atividade da lei mais severa (Lex gravior); Extra-atividade da lei mais benigna (Lex mitior). OBS: Extra-atividade é a movimentação da lei revogada seja apara para frente seja para trás. Art. 2º, CP: “Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”. Parágrafo único: “A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado”. Esse conflito de leis podem gerar cinco situações. Vejamos cada uma: 1º) A lei cria uma nova figura penal (novatio legis incriminadora): Ocorre quando a lei tipifica como infrações penais comportamentos até então considerados irrelevantes. A nova lei incriminadora só pode atingir situações consumadas após sua entrada em vigor. Não poderá retroagir em hipótese alguma, conforme determina o art. 5º, XL, da CF/88. Assim, a novatio legis incriminadora somente tem eficácia para o futuro e jamais para o passado; 2º) A Lei penal é mais grave (Lex gravior): Lei penal mais grave é a que de qualquer modo implicar tratamento mais rigoroso às condutas já classificadas como infrações penais. A expressão “de qualquer modo” deve ser considerada de forma ampla, para atingir todo e qualquer tipo de situação prejudicial ao réu. Exemplos: aumento de pena, criação de qualificadora, agravante genérica ou causa de aumento da pena, imposição de regime prisional mais rígido, aumento de prazo prescricional, supressão de atenuante etc. Quando a lei for mais grave terá aplicação apenas a fatos posteriores à sua entrada em vigor. Jamais retroagirá. 3º) A lei posterior extingue o crime (abolitio criminis): Abolitio criminis é a nova lei que exclui do âmbito do Direito Penal um fato até então considerado criminoso. Encontra previsão legal no art. 2º, caput, do CP e é uma causa de extinção de punibilidade. O abolitio criminis alcança a execução e os efeitos penais da sentença condenatória, não servindo como pressuposto para reincidência, também não configurando maus antecedentes. Sobrevivem, entretanto, os efeitos civis de eventual condenação, quais sejam, a obrigação de reparar o dano provocado pela infração penal. Consequências do Abolitio Criminis: a) ainda não houve oferecimento da denúncia: o processo não pode ser iniciado; 2 b) a ação penal está em andamento: deverá ser trancada mediante declaração de extinção da punibilidade; c) após a prolação de sentença condenatória com trânsito em julgado: a pretensão executória não pode ser efetivada, ou seja, a pena não poderá ser executada; d) o condenado está cumprindo a pena: deverá ser solto, mediante declaração de extinção da punibilidade. Um cuidado que se deve ter referente ao abolitio criminis é o fato de que para que seja considerado não basta a simples revogação do tipo penal, mas também é necessário que o fato anteriormente criminoso deixe de ser relevante para o ordenamento jurídico. Vejamos dois exemplos: O primeiro exemplo é sobre o crime de adultério que se encontrava no art. 240 do CP, ele foi revogado e deixou de ser relevante para o direito. Quem trair o cônjuge não será mais punido, então de fato ocorreu o abolitio criminis; O segundo exemplo é sobre o crime de atentado violento ao pudor que encontrava-se no art. 214 do CP e foi revogado pela Lei 12.015/2009, mas o fato passou a ser tratado no art. 213 do CP, agora sobre o título de “estupro”. Observe que apesar de o tipo penal foi revogado, o fato em sim não foi, simplesmente mudou de nome e de artigo. Então, não ocorreu abolitio criminis. No abolitio criminis ocorre a retroatividade da lei penal. 4º) A lei posterior é mais benéfica (Lex mitior ou novatio legis in mellius): Ocorre quando a lei posterior, mantendo a incriminação do fato, torna menos gravosa a situação do réu. Ex: lei que comina pena menos gravosa; lei que cria causa extintiva de ilicitude; lei que facilita o livramento condicional; lei que diminui o tempo para progredir de regime etc. A retroatividade da lei é automática, dispensa cláusulas expressas e alcança inclusive os casos já julgados. OBS1: Somente se fala em RETROATIVIDADE (a lei voltar no tempo) da lei penal quando esta for mais benéfica ao réu. OBS 2: Quando o fato é praticado durante vigência da lei mais branda e logo depois essa lei é revogada por outra lei mais rígida, deve ser aplicada a lei anterior que é mais benéfica e isso se chama ULTRATIVIDADE da lei penal, pois perdura no tempo mesmo estando revogada. 1.1 LEI POSTERIOR E VACATIO LEGIS: Durante o período de vacatio legis, a lei penal não pode ser aplicada, mesmo que ela seja mais favorável ao réu. Assim, se a lei já foi publicada mais ainda não entrou em vigor, ela ainda não tem eficácia, sendo impossível sua incidência no caso prático. 1.2 COMBINAÇÃO DE LEIS (Lex Tertia): Sabendo, então, que a lei só retroagirá se for em benefício do réu e quando for mais grave jamais retroagirá, surge uma dúvida: Se uma lei for em parte mais benéfica e em parte prejudicial, poderá o juiz combinar leis em benefício do réu? A resposta é divergente. Alguns doutrinadores defendem que não, pois deve o juiz decidir uma ou outra. Outra parte da doutrina diz não encontrar problema, pois deve prevalecer o benefício do réu. 1.3 LEI PENAL EXCEPCIONAL E TEMPORÁRIA Art. 3º, CP: “A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante a sua vigência”. Lei Excepcional é aquela feita para vigorar em épocas especiais, como guerra, calamidade etc. É aprovada para vigorar enquanto perdurar o período excepcional. 3 Lei Temporária é aquela feita para vigorar por determinado tempo, estabelecido previamente na própria lei. Assim, a lei traz em seu texto a data de cessação de sua vigência. Ex: a Lei 12.663/2012 (“Lei da Copa do Mundo de futebol 2014”), cujo art. 36 contém a seguinte redação: “Os tipos penais previstos neste Capítulo terão vigência até o dia 31 de dezembro de 2014”. Tratam-se de LEIS ULTRA-ATIVAS, ou seja, perduram no tempo, mesmo após não mais existirem. Também são AUTORREVOGÁVEIS. 1.4 TEMPO DO CRIME Art. 4º: “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado”. O Código Penal adotou a teoria da ATIVIDADE, segundo a qual considera praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que não ocorra no mesmo momento o resultado. Não se confunde tempo do crime com momento consumativo do crime, que é quando se reúnem todos os pressupostos do tipo penal. Por exemplo, pra alguém responder por homicídio é preciso que alguém morra, pois o homicídio só se consuma com a morte. Para a teoria da atividade não importa quando se consumou o crime e sim o momento que foi praticado. A importância da definição do tempo do crime tem a ver com o saber norma será aplicada, no reconhecimento ou não da maioridade do réu etc. EX: Suponha que uma pessoa com idade de 17 anos 11 meses e 29 dias efetue disparo contra alguém, que morre uma semana depois. O homicídio só se consumou na data em que a vítima morreu, quando o agente já tinha 18 anos. Mas, isso não importa, porquequando ele efetuou os disparos era ainda menor de idade e assim vai responder. NÃO ESQUEÇA TEMPO DO CRIME = TEORIA DA ATIVIDADE (data da ação ou omissão). Tempo do crime nos crimes continuados e permanentes: Aplica-se a Súmula 711 do STF. Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. CURIOSIDADE: *Crime permanente: é aquele que se estende/prolonga/posterga no tempo. Ex: sequestro. Desde o dia que a vítima foi sequestrada até o dia de sua liberação ocorreu um crime de sequestro. *Crime continuado: são várias condutas com vários resultados em circunstâncias parecidas de tempo, lugar e modo de execução. Ex: Caixa de supermercado que todos os dias furta R$10,00. 1.5 LEI PROCESSUAL: Por norma processual deve-se entender aquela cujos efeitos repercutem diretamente sobre o processo, sem qualquer relação com o jus puniend do Estado. Ex: normas que disciplinam a prisão provisória. A lei processual NÃO SE SUBMETE ao princípio da retroatividade em favor do agente. Isso porque, de acordo com o art. 2º do CPP, a norma de conteúdo processual terá incidência imediata a todos os processos em andamento, pouco importando se o delito foi cometido antes ou depois da sua entrada em vigor ou mesmo se a inovação é, ou não, mais benéfica ao sujeito. Denomina-se PRINCÍPIO DA IMEDIATIDADE.
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