Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Amanda Viol Distúrbios Hemodinâmicos Amanda Reis Viol Amanda Viol Introdução As células e os tecidos do nosso corpo dependem da circulação do sangue, o qual vai liberar oxigênio e nutrientes e remover resíduos do metabolismo celular. Sabe-se que condições patológicas podem alterar a função endotelial, aumentar a pressão vascular ou diminuir o conteúdo de proteína do plasma, alterando o equilíbrio hemodinâmico. Neste resumo estudaremos os principais distúrbios (edema, congestão e choque) além dos princípios da hemostasia entendendo um pouco do processo da hemorragia, trombose e embolia. hiperemia e congestão Hiperemia e congestão são termos que fazem referência ao aumento de volume sanguíneo em um tecido ou uma região do organismo, mas possuem mecanismos de base diferentes. Nesse contexto, observa-se que a hiperemia é um processo ativo resultante da vasodilatação arteriolar e aumento do influxo sanguíneo estimuladas por mecanismo neurogênicos ou por substâncias vasoativas, como ocorre em locais inflamados ou no músculo esquelético durante um exercício. Já a congestão, é um p r o c e s s o p a s s i v o , q u e r e s u l t a d o comprometimento do fluxo de saída do sangue venoso de um tecido — o que acarreta na baixa oxigenação do sangue venoso acumulado, podendo ser sistêmica e crônica (Insuficiência cardíaca) ou local e aguda, devido a uma obstrução venosa isolada (varizes e trombose) edema O movimento de fluido entre os espaços vascular e intersticial, são determinados por duas forças opostas: pressão hidrostática vascular e pressão osmótica coloide (produzida por proteínas plasmáticas, em especial a albumina). Diante disso, percebe- se que situações como aumento na pressão hidrostática e redução da pressão osmótica, fazem com que haja maior movimento do fluido para dentro do interstício (é um líquido do tipo transudato, ou seja, pobre em proteínas). Outra causa de edema é baseada no aumento da permeabilidade vascular, sendo o fluido desse tipo de edema (inflamatório) chamado de exsudato (rico em proteínas). Além disso, excesso de sódio, e a obstrução linfática também podem ocasionar esses distúrbios. Em circunstâncias normais o excesso de fluido do edema é removido por drenagem linfática e retorna à circulação via ducto torácico, mas por algum motivo esse líquido acaba ficando retido. Esse acúmulo pode ser inofensivo ou potencialmente fatal a depender da região, por exemplo o fluido no pulmão leva a um edema alveolar impedindo uma boa troca gasosa e pode gerar uma hipóxia tecidual. Causas: Aumento da pressão hidrostática: devido a dilatação arteriolar (ocorre na inflamação e na hipertemia); devido ao aumento da pressão venosa (ocorre na ICC, ascite da cirrose hepática, trombose, inatividade postural, obstrução ou compressão venosa); devido a hipervolemia (ocorre na retenção de sódio). Diminuição da pressão oncótica: devido a hipoproteinemia (ocorre na síndrome nefrótica por a l teração da permeabi l idade da membrana basal gromerular, na cirrose hepática por diminuição da albumina que é Amanda Viol produzida no fígado, na desnutrição e na gastroenteroparia perdedora de proteína); devido ao aumento da permeabilidade capilar (ocorre na inflamação, queimaduras e na síndrome da angústia respiratória do adulto). Obstrução linfática: pode ser neoplasia ou i n fl a m a t ó r i a ; t a m b é m c a u s a d a p o r radioterapia ou pós operatório; Retenção sódica: por ingestão excessiva de sódio em indivíduos com insuficiência renal, p o r r e a b s o r ç ã o d e s ó d i o e l e v a d a , hipoperfusão renal (ativa SRAA) e secreção de SRAA elevada. O edema pode ser local, como na inflamação, obstrução venosa ou linfática, queimaduras, reações de hipersensibilidade do tipo I; ou sistêmico, como na ICC, nas doenças renais com perda de proteína sérica (síndrome nefrótica) e na cirrose hepática. localização: o líquido extravasado pode acometer: cavidade pleural (hidrotórax), cavidade p e r i t o n e a l ( a s c i t e ) o u p e r i c á r d i o (hidropericárdio). Ou todo o corpo, chamado de anasarca. Correlação Clínica: o edema pode ter manifestações variáveis, desde um mero incômodo até um edema rapidamente fatal. É muito importante reconhecer o edema subcutâneo, visto que ele pode sinalizar uma doença cardíaca ou renal de base, contudo, quando significativo, pode comprometer a cicatrização de feridas ou a eliminação de infecções. O edema pulmonar é uma condição comum, sendo muito associada com a insuficiência do ventrículo esquerdo, mas também pode ocorrer no caso de insuficiência renal, síndrome da angústia respiratória aguda desordens inflamatórias. O edema cerebral é potencialmente fatal, podendo, em casos graves, levar a herniação através do forame magno. Edema por aumento da permeabilidade vascular: É um edema inflamatório, que pode ser causado por queimaduras, traumatismos físicos, reações alérgicas ou picadas de insetos. Forma-se um exsudato rico em proteínas e células. São duros, elásticos e acompanhados dos sinais flogísticos. Edema cerebral: Pode ocorrer pela via intersticial, onde há um acúmulo de líquido nos ventrículos c e r e b r a i s e n a s u b s t â n c i a b r a n c a periventricular, acarretando obstrução da circulação liquórica e consequentemente hidrocefalia. Pela via vasogênica é onde há um excesso de líquido no espaço extracelular com ruptura da barreira hematoencefálica; é frequente em traumatismo cranioencefálicos, lesões tumorais e áreas hemorrágicas. Pela via citotóxica, há tumefação celular em resposta a lesão celular por hipóxia; dessa forma o parênquima encefálico edemaciado apresenta sulcos apagados e giros aplainados e mais largos, podendo levar a herniação. Edema na iCC: Por insuficiência esquerda: ↓débito cardíaco ➟ ↓taxa de filtração glomerular ➟ ↑secreção de renina ➟ liberação de aldosterona ➟ ↓fluxo sanguíneo ao fígado com ↓catabolismo de aldosterona ➟ ↑níveis de aldosterona ➟ ↑reabsorção de sódio e retenção de líquido ➟ ↑volume plasmático ➟ ↑pressão pulmonar e sistêmica ➟ ↑pressão capilar ➟ edema generalizado da ICC. Exame microscópico: capilares conceitos e alvéolos lesados com películas de material p r o t e i n á c e o c o n t e n d o f r a g m e n t o s (membranas hialinas). Manifestações clínicas: dispnéia e tosse, escarro rosado espumoso, hipoxia. Por insuficiência direita: dificuldade do retorno venoso (membros inferiores) com posterior estase venosa, l evando a um aumento da p ressão hidrostática no capilar periférico, causando edema. Depois generaliza-se, envolvendo inclusive cavidades, causando hidropericárdio, hidrotóra, ascite e anasarca. Edema na ascite: Causado pelo aumento da pressão hidrostática, principalmente do sistema porta, que drena o sangue venoso para o fígado. Causas: trombose das veias hepáticas (síndrome de Budd-Chiarl) que causa hipertensão portal do tipo pós-sinusoidal; cirrose hepática que cursa com alteração na arquitetura do fígado com fibrose e formação de nódulos regenerativos produzindo uma hipertensão sinusoidal e pré-sinusoidal; fibrose hepát ica da esquitossomose; obstrução do tronco da veia porta por compressão extrínseca ou infiltração de Amanda Viol tumores. OBS: O uso crônico de álcool acarreta inúmeros danos ao fígado e dentre eles está presente o ciclo vicioso de piora da inflamação, onde há necrose celular e apoptose resultantes da perda de hepatócitos e subsequentes tentativas de regeneração, o que acarreta fibrose. Como consequência, há estreitamento dos sinusoides, o que compromete a perfusão hepática e contribui para a hipertensão portal. A fibrose associada as tentativas de regeneração, resulta em nódulos hepáticos, e esse processo todo culmina em cirrose.A hipertensão portal gerada cursa com um aumento da pressão hidrostática das veias que confluem na veia porta, fazendo com que haja extravasamento do plasma sanguíneo para o interior da cavidade abdominal, principalmente através do peritônio. Como na cirrose a quantidade de albumina pode estar reduzida, tanto pela desnutrição quanto pela falência na produção dela pelo fígado, a pressão oncótica dos vasos sanguíneos diminui, o que torna mais “fácil” o extravasamento do plasma que já está sendo “empurrado” pelo aumento da pressão do sistema porta. Além disso, na h i p e r t e n s ã o p o r t a l s ã o l i b e r a d o s vasodilatadores em todo o organismo, que reduzem a pressão sanguínea e estimulam o S R A A . A s s o c i a d o a d i m i n u i ç ã o d o catabolismo da aldosterona pela diminuição da função hepática, há um aumento da reabsorção de sal e água, que aumentam ainda mais a ascite. Edema na síndrome nefrótica: Há uma perda intensa de proteínas na urina — hipoproteinemia — que cursa com a redução da pressão oncótica e consequente edema. Ele é generalizado e mais precoce na face. Edema na desnutrição: A desnutrição proteico-energética grave leva a um quadro de hipoalbuminemia (redução acentuada de albumina), o que reduz a pressão oncótica do plasma, diminuindo a reabsorção do fundo intersticial, gerando o edema. O edema agrava-se com a diminuição da volemia que ele causa, o que ativa o SRAA. O edema é generalizado. Edema pós operatório e na radioterapia: Causado por obstrução dos vasos linfáticos que acarreta redução da drenagem linfática. É um edema duro, visto que é rico em proteína; a pele tem aspecto dura e pregueada e o linfedema pode evoluir para fibrose. Hemorragia É u m a c o n d i ç ã o d e fi n i d a c o m o extravasamento de sangue e ocorre em várias situações, como trauma, aterosclerose ou erosão inflamatória ou neoplásica de um vaso. Observa-se que ela pode se manifestar de formas diferentes e com consequências. clínicas distintas. Dessa forma, ela pode ser dividida em: - Hemorragia em interstício: confinada dentro do tecido conjuntivo; sendo petéquias (1,2mm), púrpuras (>3mm), equimoses ou hematomas (>1,2cm) como no trauma - Hemorragia em cavidades: hemoperitônio, hemotórax, hemopericárdio, hemartrose. Observação: espectro equimótico -> degradação da hemoglobina das hemácias extravasadas, fazendo com que a cor varie com o decorrer do tempo; relevância na medicina forense (permite cálculo aproximado do tempo da lesão) Hemostasia e trombose Consiste em vários processos regulados que mantêm o sangue em estado fluido, sem PETÉQUIA PÚRPURA EQUIMOSE Amanda Viol c o á g u l o s , p o r é m c a p a z d e f o r m a r rapidamente um tampão hemostático, localizado no sítio de uma lesão vascular. No entanto, existe um outro processo, a contraparte da hemostasia, chamada de trombose, ou seja, formação de coágulos sanguíneos dentro de um vaso intacto. Nesse sent ido, percebe-se que esses dois processos envolvem três elementos: parede vascular, plaquetas e cascata de coagulação. Vale destacar que, as células endoteliais são as reguladoras centrais da hemostasia, ou seja, o equilíbrio entre as atividades anti e pró trombóticas do endotélio determina se ocorre formação, propagação ou dissolução de trombo. Logo, células endoteliais normais expressam uma variedade de fatores anticoagulantes que inibem a agregação plaquetária e a coagulação, promovendo fibrinólise; após algum evento traumático ou ativação (patógenos, forças hemodinâmicas e mediadores pró-inflamatórios), o equilíbrio se altera, e as células endoteliais adquirem numerosas atividades pró-coagulantes. Observação: em situação fisiológica, quando o endotélio está íntegro ele é: antiplaquetário (prostaciclina e óxido nítrico), fibrinolítico (ativador do plasminogênio tecidual) e anticoagulante (moléculas similares à heparina, trombomodulina e inibidor da via do fator tecidual). Mas, quando ocorre uma lesão celular, há exposição da matriz extracelular e torna-se: plaquetário (fator de Von Willebrand), antifibrinolítico e pró- coagulante. As plaquetas, como dita acima, também exercem uma função importante no processo hemostático, sendo a responsável pelo processo denominado de hemostasia primária. Nesse contexto, observa-se a ocorrência de 03 eventos, sendo eles: adesão plaquetária (dependente do fvW e da glicoproteína Gp1b), ativação plaquetária (ocorre devido a liberação de grânulos [tromboxano A2] responsáveis por ativar mais p laquetas ) e agregação p laquetá r ia (estimulada pelos mesmos fatores que ativam as plaquetas, promovida pela interação entre o fibrinogênio e os receptores GpIIb/IIIa). A concomitante ativação da cascata de coagulação gera trombina, responsável por estabilizar o tampão plaquetário por meio de dois mecanismos: ativando um receptor de superfície plaquetária, o que aumenta a agregação plaquetária, seguindo-se da contração plaquetária (constituindo o tampão hemostático secundário) e a trombina conve r t e o fib r i nogên io em fib r i na , “cimentando” o tampão plaquetário. A cascata de coagulação constitui o terceiro braço do sistema hemostático. Marcada por uma série sucessiva de reações enzimáticas, que leva à ativação da trombina, para a formação da fibrina. Nesse sentido, vale ressaltar que a cascata de coagulação é dividia em duas vias: extrínseca e intrínseca, convergindo na ativação do fator X, sendo a via extrínseca denomina dessa maneira, pois necessita de um deflagrador exógeno (ativada pelo fator tecidual), enquanto que a via Amanda Viol intrínseca necessita do fator XII para ser iniciada. Os laboratórios conseguem avaliar a função dos dois “braços” da coagulação, usando dois testes-padrão: tempo de protrombina (TP) – faz a triagem da atividade das proteínas na via extrínseca (fatores VII, X, II, V e fibrinogênio); Tempo de tromboplastina parcial (TTP) – faz a triagem da atividade das proteínas relacionadas à via intrínseca (fatores XII, XI, IX, VIII, X, V, II e fibrinogênio). Obs – Vale lembrar que existe a via comum, ou seja, para onde as vias intrínseca e extrínseca convergem, ativação do fator X. Após a ativação da cascata de coagulação, existem mecanismos que fazem com que ela seja restrita ao local de lesão para prevenir a coagulação inadequada. Nesse momento, o fator de restrição é exposto e a coagulação é c o n t r o l a d a p o r 0 3 c a t e g o r i a s d e anticoagulantes: antitrombina (inibe atividade da trombina e outras serinas proteases, ou seja fatores IXa e Xa, XIa e XIIa), proteína C e proteína S (dependentes de vitamina K, agem inibindo os fatores Va e VIIIa), inibidor da via do fator tecidual (inativa o fator Xa e o VIIa). Além disso, surge uma cascata fibrinolítica, que modera o tamanho do coágulo, sendo um processo realizada, principalmente, pela plasmina, que age quebrando a fibrina e interferindo em sua polimerização, o que libera produtos de degradação da fibrina, como o D-dímero. doença de Von willebran: Causada pela deficiência do fator de Von Willebrand, apresenta-se como pequenos sangramentos na pele ou nas membranas mucosas, em forma de petéquias ou púrpuras. Cursa com epistaxe (sangramento pelo nariz), hemorragias gastrointestinais e até mesmo hemorragia intracerebral. hemofilia: Defeito hereditár io nos fatores de coagulação, que cursa com sangramentos nos tecidos das partes moles, hemorragia nas articulações (hemartrose) e até hemorragia intracraniana. Nomenclatura de eliminação de sangue: - epistaxe: pelas narinas; - hemoptise: pela tosse e oriunda do sistema respiratório; - hematêmese: pela boca oriunda do sistema digestório (vômito); - hematoquezia: pelo ânus de sangue não digerido, de cor vermelha. - melena: pelo ânus de sangue digerido,confere cor escura às fezes; - hematúria: com a urina; - metrorragia: originado do útero fora da menstruação; - otorragia: pelo meato acústico externo. Trombose: É uma alteração, que na maioria das vezes, está associada à algumas anormalidades, como a famosa tríade de Virchow: lesão endotelial, estase e hipercoagulabilidade. Observa-se que os trombos podem se desenvolver em qualquer parte do sistema Amanda Viol cardiovascular, podendo ser caracterizada como trombose venosa ou trombose arterial. Os trombos arteriais ou cardíacos surgem tipicamente em locais de lesão endotelial ou turbulência, como nas bifurcações arteriais, e os trombos venosos ocorrem, geralmente, em locais de estase. A porção propagante de um trombo tende a se fixar de uma forma “instável”, o que favorece a sua fragmentação e a migração através do sangue, formando o êmbolo. Além disso, vale destacar que os trombos que ocorrem nas câmaras cardíacas ou no lúmen aórtico são designados trombos murais e os trombos presentes nas valvas cardíacas são denominados como vegetações. trombose arterial: • Causa mais comum: aterosclerose • Vasos envolvidos: artérias coronárias, cerebrais, mesentéricbs e renais, além das artérias nos membros inferiores • Manifestações clínicas: necrose isquêmica do tecido irrigado por tal artéria (infarto). trombose venosa (flebotrombose): • P a t o g e n i a : e s t a s e , l e s ã o e hipercoagubilidade (tríade) • Fatores de risco: idade avançada, doença falciforme • Manifestações clínicas: trombose venosa superficial (dolorosas, congestão local, edema); trombose venosa profunda (congestão, edema, cianose do membro inferior, mais propensas para embolizar); trombose de veias mesentéricas (necrose hemorrágica do intest ino delgado); trombose de veias hepáticas (síndrome de Budd-Chiari — insuficiência hepática) Destino do trombo: ele pode se organizar e aderir a parede vascular, aumentando por acréscimo de plaquetas e fibrina, maximizando a margem de oclusão ou embolização vascular; pode “sofrer” embolização, momento em que o trombo todo ou parte dele se desloca e é transportado na vasculatura; dissolução/resolução, quando os fatores fibrinolíticos atuam levando à sua rápida contração e dissolução total; organização e recanal ização, pelo crescimento de células endoteliais, células da musculatura lisa e fibroblastos para dentro de um trombo de fibrina, podendo ser formado canais capilares (condutos ao longo da extensão do trombo) o que restabelece a continuidade do lúmen original, exemplo: hemorróidas. Observação: coagulação intravascular disseminada (CIVD) – é caracterizada por trombose disseminada na microcirculação. Geralmente os trombos possuem tamanhos microscópicos, mas são numerosos, o que pode causas uma insuficiência circulatória, em particular no cérebro, pulmões, coração e rins. Como complicação, tem-se o consumo de plaquetas e proteínas da coagulação, por isso o termo coagulopatia de consumo e ao mesmo tempo mecanismos anticoagulantes são ativados. Logo, um distúrbio, inicialmente trombótico, pode evoluir para uma catástrofe hemorrágica. trombo x coágulo: o trombo adere-se ao endotélio vascular; já o o coágulo reflete o resultado da ativação da cascata de coagulação, podendo se formar in vitro ou in situ no estado pós-morte. EMBOLIA Embolia é a obstrução de um vaso sanguíneo ou linfático por um corpo sólido, líquido ou gasoso em circulação. O êmbolo é um corpo (massa sólida, líquida ou gasosa) que circula no interior dos vasos. Ele não se mistura com o sangue ou com a linfa e é transportado para pontos distantes de sua origem. Causas: trombos, líquido amniótico, gasosa, gordurosa, placa ateromatosa, vegetações de endocardi te, sépt ica, neoplásica. ESTASE SANGUÍNEA LESÃO ENDOTELIAL HIPERCOAGUBILIDADE alto risco médio risco baixo risco Amanda Viol tromboembolismo pulmonar: A embolia pulmonar é uma consequência comum da trombose venosa profunda, onde trombos que originam-se nas veias profundas dos membros inferiores podem obstruir o tronco da artéria pulmonar ou seus ramos. O fatores de risco da TVP tornam-se da embolia pulmonar, ligado diretamente com a t r í a d e d e V i rc h o w ( e s t a s e v e n o s a , hipercoagubilidade e lesão endotelial). Exemplos: pacientes hospitaizados, gravidez, câncer, idade, IAM, ICC, anticoncepcionais, trauma, cirurgia recente, varizes, tabagismo, obesidade, DPOC, etc. O trombo ascende dos MMII (mais comum) pela veia cava inferior e acessa o coração através do átrio direito. Posteriormente vai para o ventrículo direito e por fim alcança a circulação pulmonar. A obstrução dos vasos leva a diminuição da pré-carga e a liberação de mediadores inflamatórios como o t romboxano que age promovendo a vasoconstrição e elevando a resistência pulmonar. O ventrículo direito tenta manter o equilíbrio, ou seja, mantém o débito cardíaco à custa do aumento da pressão pulmonar. Como consequência desta instalação súbita as fibras cardíacas podem se esgarçar levando à dilatação da câmara direita, que pode deslocar o septo interventricular (situação visualizada no ecocardiograma). A hipertensão pulmonar pode permanecer mesmo após o tratamento do episódio agudo, sendo, portanto, uma complicação. Com a obstrução de um ramo da artéria pulmonar, surge uma área de espaço morto patológico no pulmão, definida como uma área em que há ventilação, no entanto, não há perfusão para que ocorra a troca gasosa. Dessa maneira, há uma alteração na relação ventilação/perfusão (V/Q), o que contribui o desenvolvimento de sintomas respiratórios como dispneia e alterações como hipóxia. Além disso, a dinâmica respiratória também é alterada na TEP em decorrência da resposta inflamatória, que contribui para a ocorrência d e a t e l e c t a s i a , t a q u i p n e i a e consequentemente hipoxemia e alcalose respiratória, nos casos mais graves. O TEP também pode ser classificado de acordo com a localização anatômica da obstrução da árvore vascular do pulmão. Obstrução na bifurcação das artérias pulmonares principais (esquerda ou direita) são classificadas como TEP em sela. Além disso, o TEP pode ser classificado como lobar, segmentar ou subsegmentar a depender de quão grande é a área de irrigação da artéria obstruída. Um paciente que teve um êmbolo pulmonar está em grande risco de ter mais trombos. Raramente um êmbolo atravessa um defeito atrial ou ventricular e entra na circulação sistêmica (embolia paradoxal). Múltiplos êmbolos, que ocorrem com o tempo, podem causar hipertensão pulmonar e insuficiência ventricular direita (cor pulmonale). • Êmbolo grande: falência cardíaca e não ocorrência de necrose pulmonar, pois é súbito. • Êmbolo médio: infarto e hemorragia pulmonar, com consequente necrose e alterações hemodinêmicas • Êmbolo pequeno: obstruem pequenos vasos e alguns passam até despercebidos. tromboembolismo sistêmico: A maioria dos êmbolos sistêmicos surge dos trombos murais intracardíacos, dois te rços es tão assoc iados a i n fa r tos ventriculares esquerdos e outros 25% ao átrio esquerdo dilatado (doença de valva mitral secundária). O restante origina-se de aneurismas aórticos, trombos sobrejacentes a placas ateroscleróticas ulceradas, vegetações valvulares fragmentadas ou sistema venoso (êmbolos paradoxais); 10-15% dos êmbolos sistêmicos são de origem desconhecida. embolia gordurosa: A lesão por esmagamento de tecido mole ou a ruptura de sinusoides vasculares medulares (fratura de osso longo) libera na c i r c u l a ç ã o g l ó b u l o s d e g o r d u r a microscópicos. A patogenia da síndrome dos êmbolos de gordura envolve obstrução mecânica e lesão bioquímica. Os microêmbolos de gordura ocluem a microvasculatura pulmonar e cerebral, tanto diretamente como por deflagração de agregaçãoplaquetária. Esse efeito deletério é exacerbado pela liberação de ácido graxo dos glóbulos de gordura, causando lesão endotelial tóxica local. A ativação plaquetária e o recrutamento de granulócitos (com liberação de radicais livres, protease e eicosanoides) completam o ataque vascular. Uma minoria de pacientes desenvolve sintomas, como insuficiência pulmonar, erupção cutânea neurológica, anemia, trombocitopenia e erupção petequial difusa. Os sinais clínicos e sintomas aparecem 1-3 dias após a lesão, como o início súbito de taquipneia, dispneia, taquicardia, irritabilidade e agitação, que podem progredir rapidamente para delírio ou coma. Amanda Viol embolia do líquido amniótico: A causa de base é a entrada do líquido amniótico (e seus conteúdos) na circulação materna via lacerações nas membranas placentárias e/ou ruptura da veia uterina. O início caracteriza-se por dispneia aguda súbita, cianose e choque hipotensivo, seguidos por convulsões e coma. Se a paciente sobreviver à crise inicial, tipicamente se desenvolve o edema pulmonar, juntamente (em cerca de metade das pacientes) com coagulação intravascular disseminada secundária à liberação de substâncias trombogênicas provenientes do líquido amniótico. embolia aérea: Bolhas de gás na circulação podem coalescer e obstruir o fluxo vascular causando lesão isquêmica distal. Assim, pequeno volume de ar capturado em uma artéria coronária, durante revascularização do miocárdio ou introduzido na circulação arterial cerebral por neurocirurgia realizada em “posição sentada” ereta, pode ocluir o fluxo, com péssimas consequências. Uma forma particular de embolia gasosa, chamada doença da descompressão, é causada por alterações súbitas na pressão atmosférica. Assim, os escafandristas, os trabalhadores em construções submarinas e pessoas em aeronaves não pressurizadas, submetidas a rápida ascensão, estão em risco. Quando o ar é respirado a alta pressão (durante um mergulho marítimo profundo), maiores quantidades de gás (particularmente nitrogênio) se dissolvem no sangue e nos tecidos. Se o mergulhador ascender (despressurizar-se) de forma muito rápida, o nitrogênio se expande nos tecidos, e bolhas da solução no sangue formam êmbolos gasosos, que causam isquemia tecidual. As bolhas gasosas na vasculatura pulmonar causam edema, hemorragias e atelectasia focal ou enfisema, levando à angús t i a resp i ra tó r i a , as chamadas sufocações. A doença da descompressão aguda é tratada colocando-se a pessoa afetada em uma câmara de alta pressão, para forçar o gás a voltar à solução. A subsequente descompressão lenta permite a gradual reabsorção do gás e a exalação, de modo que não voltem a se formar bolhas obstrutivas. embolia séptica: É causada por êmbolos sépticos advindos de infecções fúngicas ou bacterianas, como por exemplo, em vegetações valvares na endoca rd i t e i n f ecc iosa ou em uma tromboflebite purulenta. A embolia cursa com um processo inflamatório local — vasculite, e/ou formação de secreção puru lenta do te r r i tó r io embolizado. Infarto Um infarto é uma área de necrose isquêmica (coagulat iva) causada por obstrução do suprimento vascular para o tecido afetado. Os infartos são classificados com base em sua cor (que reflete a quantidade da hemorragia) e presença ou ausência de infecção microbiana. Assim, os infartos podem ser: • vermelhos (hemorrágicos): ocorrem com as oclusões venosas, em tecidos frouxos onde o sangue pode se acumular , em tecidos com circulações duplas (pulmão e i n t e s t i n o d e l g a d o ) , e m t e c i d o s previamente congestionados, quando o fluxo é restabelecido após ocorrer infarto; ou • brancos (anêmicos): ocorrem com as oclusões arteriais em órgão sólidos (coração, baço e rim) e onde a densidade tecidual limita o escoamento do sangue dos leitos vasculares patentes adjacentes. e • sépticos: ocorrem quando vegetações infectadas da valva cardíaca embolizam-se ou quando micróbios semeiam o tecido necrótico; ou • assépticos (brandos): Na maioria dos tecidos, o principal achado histológico associado aos infartos é a necrose coagulativa isquêmica. Uma respos ta i nflama tó r i a começa a se desenvolver ao longo das margens dos infar tos dentro de a lgumas horas e normalmente está bem definida em 1-2 dias. Eventualmente, à inflamação segue-se o reparo, começando nas margens preservadas. Em alguns tecidos, pode ocorrer regeneração parenquimatosa na periferia do infarto, onde a arquitetura estromal subjacente foi poupada. A maioria dos infartos, porém, finalmente é substituída por cicatriz. O cérebro é uma exceção a essas generalizações: a lesão do tecido isquêmico no sistema nervoso central resulta em ne- crose liquefativa. Amanda Viol Fatores que influenciam o desen- volvimento do infarto: anatomia do s u p r i m e n t o v a s c u l a r , t e m p o d e desenvolvimento da lesão, vulnerabilidade intrínseca do tecido afetado à lesão isquemia e pelo conteúdo de oxigênio no sangue. O infarto pode ser transmural ou não transmural (subendocárdico). Transmural: envolvem toda a espessura do miocárdio, do epicárdio ao endocárdio, e costumam ser caracterizados por ondas Q anormais no ECG. Causa por aterosclerose coronariana grave, ruptura aguda da placa de aterosclerótica e trombose oclusiva. É a necrose miocárdica com alterações do ECG constituídas por supradesnível do segmento ST, as quais não se revertem rapidamente com nitroglicerina. Os marcadores cardíacos, troponina I ou troponina T e CK são elevados. Subendocárdico: não se estendem pela parede ventricular e provocam apenas alterações em ST-T. Normalmente, envolvem o terço interno do miocárdio, onde a tensão de parede é mais elevada e o fluxo sanguíneo miocárdico é mais vulnerável às alterações circulatórias. Causado por demanda cardíaca aumentada na p resença de doença aterosclerótica e pode ocorrer como evolução de um infarto transmural. É a necrose miocárdica (evidenciada por marcadores cardíacos no sangue, troponina I ou T e CPK estarão elevadas) sem desenvolvimento agudo de supradesnível do segmento ST. Pode haver outras alterações no ECG, como infradesnível do segmento ST, inversão da onda T ou ambas. Obstrução vascular gera isquemia e hipóxia, que desvia o metabolismo para a via anaeróbia, o que faz com que haja acúmulo de ácido lático, diminuição do pH e consequente prejuízo do funcionamento enzimático. A depleção de ATP prejudica o funcionamento de Na+/K+ATPase gerando tumefação. Há disfunção na bomba de Ca+ que ativa fosfolipases, endonucleases e proteases que causam danos ao material genético e às membranas liposossomais e plasmática. A queda na síntese de fosfolipídeos também lesa a membrana. O dano mitocondrial acarreta poros de transição de permeabilidade mitocondrial, liberando espécies reativas de oxigênio que lesam membranas e DNA. A degradação da membrana lisossomal e a liberação de suas enzimas também contribui para a necrose. O resultado é morte celular, com degradação da membrana, formação de figuras de mielina, perda dos conteúdos celular com consequente resposta inflamatória. Microscopicamente, a necrose de coagulação revela aumento da eosinofilia e núcleo em pianose, cariorrexe ou cariólise devido ao processo de desnaturação proteica e clivagem do RNA.
Compartilhar