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CONCEITOS LINGUÍSTICOS
Maria Liliane da Cruz Francalino
Profª: Valeriana Torres da Silva
Centro Universitário Leonardo da Vinci- UNIASSELVI
Licenciatura em Letras (FLX0997) - Prática Interdisciplinar – Conceitos Linguísticos (LED113)
 06/12/2019
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo caracterizar as concepções de linguagem que são numa primeira concepção, a linguagem vista como a expressão do pensamento, ou seja, pensar bem seria o equivalente a f alar bem (conforme as normas gramaticais). Numa segunda concepção, a linguagem seria um instrumento de comunicação, cujo objetivo seria transmitir um a mensagem ou informação a ser decodificada por outra pessoa. 
Por fim, há a concepção de linguagem como forma ou processo de interação, sendo esta a mais aceita atualmente. Dentro desta última concepção o trabalho visa mostrar como fazer uso da interação através da linguagem no meio social e no ensino-aprendizagem, onde passa a haver um intercâmbio entre alunos e professores diante do ensino da língua.
Palavras-chave: Conceito. Linguagem. Interação.
1. INTRODUÇÃO
Estudiosos e educadores discutem nas últimas décadas concepções que procuram interpretar e conhecer a realidade das atividades em torno da linguagem. Três concepções distintas visam analisar como ocorre a comunicação em sala de aula e em outros meios sociais. A concepção que vê a linguagem como expressão; A concepção de linguagem como instrumento de comunicação; E a última concepção que vê a linguagem como um processo de interação, ou seja, como um lugar de socialização de indivíduos e grupos. Com base conceito processo de interação da linguagem, este trabalho visa elucidar como pode ocorrer e seu uso nos meios sociais de comunicação, dentro e fora das salas de aulas e através dos ensinos da língua. 
2. CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM 
Três concepções distintas sobre linguagem vêm sendo discutidas na história dos estudos linguísticos. Elas são: a concepção de linguagem como expressão do pensamento, a linguagem como instrumento de comunicação, e, a linguagem como forma de interação.
2.1 LINGUAGEM COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO 
Este conceito preconiza que a expressão resultante na linguagem é produzida no interior da mente do indivíduo, para esse estudo os indivíduos que não se expressam bem não pensam direito, ou não sabem pensar de forma organizada. Segundo TRAVAGLIA (1997:21), “o fenômeno linguístico é reduzido a um ato racional, a um ato monológico, individual, que não é afetado pelo outro, nem pelas circunstâncias que constituem a situação social em que a enunciação acontece.” A exteriorização do pensamento através da fala bem articulada por meio desse estudo, afirma que a linguagem acontece dependendo apenas da capacidade do indivíduo de organizar um pensamento lógico e incorporar os domínios das regras gramaticais normativas ou tradicionais, regras essas que predizem os fenômenos da comunicação através da fala em “certos” e “errados”, privilegiando algumas formas de linguagem em comparação de outras.
Nesta concepção a língua é pensada como forma abstrata em um sistema de normas e regras interiorizadas no indivíduo, sem interferência do social. 
2.2 LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO
Esta segunda vertente elucida que a linguagem se restringe a um processo interno de organização de um código (signos), onde combinados determinam os meios de transmitir uma mensagem do emissor para receptor. Segundo GERALDI (1997ª: 41), essa concepção de linguagem se liga a Teoria da Comunicação e prediz que a língua é um sistema organizado de sinais (signos), que serve como meio de comunicação entre os indivíduos. Aqui há a ideia de um sistema unidirecional onde há apenas uma linha de comunicação, sendo emissor-mensagem-receptor.
Essa é uma visão monológica imanente da língua, que a estuda segundo uma perspectiva formalista – que limita esse estudo ao funcionamento interno da língua – que a separa do homem no seu contexto social. [...] Para essa concepção o falante tem em sua mente uma mensagem a transmitir a um ouvinte, ou seja, informações que quer que cheguem ao outro. Para isso ele coloca um código (codificação) e a remete para o grupo através de um canal (ondas sonoras ou luminosas). O outro recebe os sinais codificados e os transforma de novo em mensagem (informações). É a codificação (TRAVAGLIA, 2006, p. 22-23). 
Ou seja, a comunicação só é estabelecida quando emissor e receptor partilham do conhecimento dos mesmos códigos, neste caso o receptor assume o papel de agente passivo na comunicação, pois a mensagem é recebida conforme estava na mente do emissor.
2.2 LINGUAGEM COMO PROCESSO DE INTERAÇÃO 
A terceira concepção vê a linguagem como forma de interação humana, como um lugar de constituição de relações sociais. Segundo TRAVAGLIA (1997: 23) “nessa concepção que o indivíduo faz ao usar a língua não é tão somente traduzir e exteriorizar um pensamento ou transmitir informações a outrem, mas sim realizar ações, agir, atuar sobre o interlocutor (ouvinte/leitor). 
A linguagem se faz aqui pela interação entre interlocutores que ocupam lugares sociais, tendo uma interação comunicativa mediana pela produção de sentido ente indivíduos em um dado contexto sócio histórico e ideológico. Ao contrário de outras concepções mais conservadoras, regidas por sujeitos passivos na comunicação ou baseada tão somente por regras gramaticais e tradicionais, aqui a linguagem é analisada através de situações concretas de interação. É vista como um reflexo das relações sociais, onde p locutor constrói seu discurso escolhendo formas linguísticas que permitam em dado contexto, uma forma de expressão ou variante que leve em consideração a plena compreensão do seu interlocutor e atendendo assim seu objetivo de comunicação. BAKHTIN (1997: 95) prioriza que:
Na prática via da língua, a consciência linguística do locutor e do receptor nada tem a ver com o sistema abstrato de formas normativas, mas que apenas com a linguagem no sentido do conjunto dos contextos de uso de cada forma particular. Todo enunciado tem um destinatário, entendido como a segunda pessoa do diálogo é no reflexo da interação verbal que a palavra se transforma e ganha diferentes significados de acordo com o contexto em que surge.
Essa vertente elucida que a linguagem é o lugar de interação que e tornam muito importantes em contextos históricos, dialógicos e sociais, não sendo a linguagem abordada fora da relação entre interlocutor e fenômenos sociais. 
3. O USO DE INTERAÇÕES A TRAVÉS DA LINGUAG EM NOS MEIOS SOCIAIS E NO ENSINO DA LÍNGUA 
Desde os anos 80, os pesquisadores da área do ensino de língua portuguesa defendem a necessidade de mudança, no sentido de priorizar a concepção de linguagem como um lugar de interação, de interlocução humana que favoreça a construção conjunta do saber e não a transmissão direta de um saber pronto e acabado. A concepção de linguagem que é melhor aceita atualmente compreende a língua como realizadora de ações coletivas através da interação social. Segundo PIAGET (1978: p.59):
A linguagem é, antes de tudo, social. Portanto, sua função inicial é a comunicação, expressão e compreensão. É por meio das relações sociais que o ser humano aprende e ensina, constrói e desconstrói conhecimento. A constante interação entre sujeito e o mundo exterior é o processo pelo qual se dá o desenvolvimento intelectual humano.
A partir do momento em que o indivíduo assimila a cultura do gripo social a que pertence, ocorre a interação. Essa interação só é possível através da comunicação e troca de ideias, ou seja, através da linguagem.
É preciso pensar a linguagem humana como lugar de interação, de constituição das identidades, de representação de papeis, de negociações de sentidos, por palavras, é preciso encarar a linguagem não apenas como representação do mundo e do pensamento ou como instrumento de comunicação, mas sim, acima de tudo, como forma de interação social.
Segundo a teoria histórico-social de Vygostsky (1994, p. 24), “quem fala com alguém fala de algumlugar social específico e carrega todas as marcas de sua persona na construção do significado: papel, sexual, classe social, raça, etc. a linguagem não ocorre em um vácuo social. A construção conjunta da aprendizagem coloca foco na linguagem, isto é, na interação social, sendo que através do contato desenvolvido pelos participantes do diálogo é que ocorre uma construção de aprendizagem”.
Interação e linguagem são complementares, a vida social do indivíduo parte da capacidade de interagir em seu meio social. Sendo assim, o indivíduo ao utilizar a língua age sobre as outras pessoas, influenciando atitudes e comportamentos, como contato entre indivíduos e grupo, resulta a troca de conhecimento e aprendizagem significativa para todos.
Diante desse contexto, no ensino aprendizagem em sala de aula, educação e interação são entrelaçados, professores e alunos fazem um intercâmbio da linguagem promovendo a interação. Pode-se afirmar que a vida na sala de aula é construída, definida, redefinida a todo momento, revelando e estabelecendo os contornos de uma iteração em construção. “Interação enquanto encontro em que os participantes, por estarem na presença imediata uns dos outros, sofrem influência recíproca, daí negociarem ações e construírem significados dia a dia, momento a momento” (CAJAL, 2001, 125). Desse modo, entendemos que, em sala de aula, alunos e professores constroem uma dinâmica própria, marcada pelo conjunto das ações, pelas reações dos alunos às ações do professor, pelas reações dos professores às reações dos alunos e pelo conjunto das ações e reações dos alunos entre si. 
 O ensino da língua através da perspectiva de interação deixa de ser efetivado apenas pelos exercícios contínuos de descrição gramatical, regras e normas cultas, para dar oportunidades aos alunos de dominarem habilidades de uso da língua em situações concretas de interação, de forma que os mesmos possam produzir e interpretar diferentes enunciados e formas de expressão, aprendendo a língua e seu uso em diferentes contextos.
Se o professor pensa o ensino da língua a partir de uma referência interacional (interação), saberá radicalizar o aspecto dialógico e trabalhará o seu discurso como um entre vários, no meio dos quais estarão aqueles dos alunos que vivem experiências culturais diferenciadas, que operam variáveis linguísticas nem sempre afinadas com a do mestre. (...), o ensino da língua, terá que refletir, (...), a dinâmica do confronto inter e intradiscursivo e não apenas considerava variável linearmente codificada pela gramática padrão como a única a ser valorizada e aplaudida. CITELLI (1994:16). 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O objetivo deste trabalho foi elucidar as diferentes concepções de linguagem que transpassam décadas de estudos. Analisar como elas explicam a comunicação entre indivíduos ou grupos. Com base nas pesquisas de diferentes análises das concepções, pude observar que para o meio social de interações humanas, a concepção de linguagem como processo de interação é a melhor aceita atualmente e que acompanha a comunicação dos indivíduos coletivamente, abrangendo seus lugares de fala, seus papeis e suas identidades. Adentrando os ensinos em sala de aula, pude observar que o melhor caminho que a educação deve seguir para que ocorra uma troca de conhecimentos entre alunos e professores, deve ser o caminho da interação, onde o professor deve pensar o ensino da língua de uma forma dialógica, promovendo as diferentes culturas que seus alunos trazem para o espaço da sala de aula, e ensinando-os a fazer uso de linguagem e enunciados que sejam compatíveis com o determinado contexto em que os mesmos sejam requisitados.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo:8. ed. Hucitec, 1997. CAJAL, Irene Belerone. A interação em sala de aula: como o professor reage às falas iniciadas pelos alunos. In: COX, MI. & PETERSON, A. (orgs) Cenas na sala de aula. Campinas/SP: Mercado de Letras, 2001. pp.125-159.
CITELLI, A. O. O ensino de linguagem verbal em torno do planejamento. In: MARTINS, M.H. (Org) Questões de linguagem. 4. ed. São Paulo: Contexto, 1994.
GERALDI, J. W. Da redação à produção de textos. In: GERALDI, J. W. & CITELLI, B. Aprender e ensinar com textos de alunos. São Paulo: Cortez, v.1, 1997.
KOCH, Ingedore. V. A interação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 2003. PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. São Paulo: Zaher, 1978.

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