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ARTIGO CONTRABANDO E DESCAMINHO

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AS PECULARIEDADES DOS CRIMES DE DESCAMINHO E CONTRABANDO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
Adriele Almeida Pereira1
adriylealmeida2017@outlook.com
Larissa Marques Souza2
larissa.marquesphb@hotmail.com
Karina de Oliveira Veras Trévia3
karinaveras2011@hotmail.com
RESUMO
Ao analisar os delitos de contrabando e descaminho, faz- se necessario apresentar a estrutura da redação anterior em que ambos os crimes faziam parte do mesmo tipo penal, sendo constantemente confundidos, necessitando dessa forma estabelecer sua diferenciação. Com advento da Lei 13.008/14, passaram a serem crimes autônomos, por meio de tipos penais distintos. Todavia a finalidade deste artigo, essencialmente é determinar essa distinção, enfatizar a aplicabilidade do principio da insignificância no crime de descaminho, apresentar os impactos causados com intuito de aprofundar o conhecimento para os aspectos mais relevantes demonstrando as causas que geram maiores preocupações e que impedem o desenvolvimento saudável do mercado, bem como expor as medidas adequadas de combate ao contrabando sob o ponto de vista da sociedade. Desta forma, busca-se auferir uma breve análise com relação ao tema estudado. 
Palavra chave: Principio da insignificância; Crimes distintos; Administração Pública.
ABSTRACT
When analyzing contraband and misdemeanor offenses, it is necessary to present an earlier drafting structure in which both crimes are part of the same criminal type, being considered confounded, thus requiring their differentiation. With the advent of Law 13.008 / 14, it became an autonomous crime, through different criminal types. However, the use of this article, the restricted use of this distinction, emphasizes the applicability of the principle of insignificance in misdemeanor crime, shows the effects caused by the attempt to deepen knowledge to the most relevant aspects by demonstrating how the causes that generate the most damage and impediments to the healthy development of the market, as well as exports as measures to combat smuggling from the point of view of society. Thus, the search offers a brief analysis regarding the studied subject.
Key-words: Principle of insignificance. Distinct crimes.Publicadministration.
1. INTRODUÇÃO
		O presente trabalho tem como finalidade apresentar as diferenças acerca dos tipos penais, entre contrabando e descaminho, visto que são frequentemente confundidos. Hoje em dia o contrabando ocorre no momento da transportação de mercadoria proibida no país, já o descaminho é o transporte illegal, sem o necessário recolhimento de impostos, mediante certa fronteira ou por outros meios.
		Com a nova redação determinada pela Lei 13.008/14, a tipificação dos dois crimes teve novo contexto, o crime de descaminho referente ao não pagamento do imposto pertinente, e o contrabando sendo a relação criminosa em conformidade com a mercadoria proibida importada ou exportada, esses delitos têm sido realizados constantemente na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, como também entre outras diferentes fronteiras. Ratificado nos artigos. 334 e 334-A cada um determinado com sua redação própria.
		Nesse contexto, o presente artigo possui como objetivo evidenciar análises a respeito da aplicação do principio da insignificância, além dos aspectos negativos do contrabando e descaminho, uma vez que são dois crimes distintos, com duas tipificações penais também distintas, se tornando assim crimes independentes, originando-se por meio da habitualidade. 
2. ACERCA DA DISTINÇÃO DOS CRIMES DE CONTRABANDO E DESCAMINHO
	 Com A vigência da Lei 13.008/2014 foi alterado o crime anteriormente previsto no artigo 334 do código penal “contrabando ou descaminho”, que faziam parte do mesmo tipo penal, para dois tipos autônomos, o contrabando por ser conduta mais danosa ficou com uma pena maior, forma que o direito penal usou para reprimir o crime de contrabando com mais rigor, justamente por sua conduta ser mais danosa, pois o contrabando e uma das formas dmanifestação do crime organizadona redação anterior, o caput trazia “importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria com pena de reclusão de 1(um) a 4(quatro) anos. 
		Nucci (2008, p. 1111) configura o descaminho, diz: “temos de iludir (enganar ou frustrar), cujo objeto é o pagamento de direito ou imposto. Trata-se do denominado contrabando impróprio”. A primeira parte (importar ou exportar mercadoria proibida) tratava do crime de contrabando e a segunda (iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria) do crime de descaminho. Com a alteração da nova Lei Nº 13.008/2014 a redação ficou da seguinte forma:
Contrabando:
Art.334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida:
Pena- reclusão, de 2(dois) a 5(cinco) anos.
Descaminho:
Art.334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria:
Pena- reclusão, de 1(um) a 4(quatro) anos. (BRASIL, 2014)
	 A diferença entre os dois crimes está que no descaminho consiste no não pagamento total ou parcial de imposto devido pela entrada, saída ou consumo de mercadoria, nesse caso o produto é lícito, porém o funcionário público deixa de recolher o tributo. Por outro lado, o contrabando é a entrada ou saída de mercadoria proibida para serem comercializadas ou consumidas.
	 Na visão de Fernando Capez, 
O contrabando diz com a entrada ou saída do País de mercadorias absoluta ou relativamente proibidas. Ganhou tipo penal especifico no novo art. 334-A, incluído pela Lei n. 13.008/2014. Além de separar o contrabando do descaminho em dois tipos penais diferentes, condutas antes reunidas no mesmo dispositivo, ainda tipificou novas condutas equiparadas a contrabando e aumentou as penas desse ultimo delito, agora previsto no art. 333-A. (CAPEZ, 2016, p. 685).
 Ambos são crimes comuns (podem ser praticados por qualquer pessoa) e tem o Estado como sujeito passivo. Se um funcionário público contribui para a prática do contrabando ou descaminho, vai responder pelo artigo 318 do código penal que diz:
Facilitação de contrabando ou descaminho:
Art. 318. Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art.334):
Pena- reclusão, de 3 (três) a 8 (oito anos), e multa. - Redação dada pela Lei n. 8.137/1990. ( BRASIL, 2014)
	 Ressaltando que, só se aplicará esse tipo penal, se o autor do delito for um funcionário público que estiver no exercício do seu dever funcional, requisito elementar para a prática desde dispositivo. 
2.1 DA COMPETÊNCIA
	 A competência para processar e julgar o crime de contrabando é em regra, do Juízo singular na Justiça Federal, previsto na Súmula 151/STJ:
A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido da aplicação do Verbete Sumular nº 151 do Superior Tribunal de Justiça, fixando a competência para o processo e julgamento por crime de descaminho pelo lugar da apreensão dos bens, ainda que as investigações preliminares indiquem que o crime tenha se consumado em outro local. (Conflito de Competência nº 119247/SP (2011/0237473-4), 3ª Seção do STJ, Rel. Laurita Vaz. j. 25.04.2012, unânime, DJe 14.05.2012.
	 Já em relação aos casos de conexão entre o delito de contrabando e o de facilitação de contrabando, a competência para julgar infração cometida por funcionário estadual, será também da Justiça Federal.
	 A Súmula nº 122 do STJ,em colegiado em parecer ministerial decidiram que:"havendo conexão entre crime praticado em prejuízo de autarquia federal e contravenção, entende-se que o Juízo Federal deva atrair a competência do julgamento de ambos os ilícitos para que não haja contradição de resultados.” Analise do supremo: 
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CONTRAVENÇÃO PENAL. CONEXÃO COM CRIME FEDERAL. SÚMULA 122/STJ. 1. Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexosde competência federal e estadual, não se aplicado a regra do artigo 78, "a", do CPP. 2. Conflito de competência conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da Vara de Imperatriz - SJ/MA, o suscitante". (STJ, CC nº 24215/MA, Rel. Min. Fernando Gonçalves, julg. em 8.9.99, DJU de 27.9.99)
3. IMPACTOS DO CONTRABANDO E DESCAMINHO
	 Para a caracterização do crime de descaminho, basta o ato de iludir o pagamento do imposto devido em razão da entrada de mercadoria no País. Em decisão monocrática impugnada encontra-se de acordo com a atual jurisprudência da Quinta Turma desta Corte, fazendo referencia ao aludido diploma, com as considerações devidas em face do dispositivo.
Que passou a se orientar no sentido de que a consumação do delito de descaminho se dá com a simples conduta de iludir o Estado quanto ao pagamento dos tributos devidos quando da importação ou exportação de mercadorias. (AgRg no Habeas Corpus nº 209.437/PE (2011/0133487-8), 5ª Turma do STJ, Rel. Marco Aurélio Bellizze. j. 11.02.2014, unânime, DJe 18.02.2014 e AgRg no Recurso Especial nº 1.275.783/RS (2011/0211813-5), 5ª Turma do STJ, Rel. Regina Helena Costa. j. 10.12.2013, unânime, DJe(13.12.2013).
	 Uma caracterização típica do delito enfatiza o entendimento dos tribunais, conceitua sua conduta em lesionar o bem jurídico frente aos atos praticados ilicitamente, cabendo observar que quando tal atitude está sendo executada ou facilitada por agentes da administração publica, a situação é mais agravante. De acordo com o STJ que:
O crime de descaminho se perfaz com o ato de iludir o pagamento de imposto devido pela entrada de mercadoria no país.Não é necessária, assim, a apuração administrativo-fiscal do montante que deixou de ser recolhido para a configuração do delito”. HC 218.961-SP, Rel. Min. ( Laurita Vaz, julgado em 15/10/2013). 
	 Trata-se de crime formal, razão pela qual o resultado da conduta delituosa relacionada ao quantum do imposto devido não integra o tipo legal. No entanto, o contrabando, maquiado por empresas aparentemente “legais”, conquista milhões de consumidores, tendo em vista preços bem acessíveis que as empresas convencionais. Os produtos originais ou falsificados chegam ao Brasil através de portos e rodovias e são distribuídos para as lojas sem dificuldades, circulam em uma velocidade flutuante. Toda via, na visão de Nucci:
Se a mercadoria for proibida de entrar ou sair do país, o simples fato de fazê-lo acontecer já consuma o descaminho, mesmo que não se tenha produzido um resultado passível de realização fática. É formal por não exigir para a sua consumação a ocorrência de resultado naturalístico, de forma livre, pois pode ser cometido por qualquer meio eleito pelo agente, comissivo na forma importar e exportar, comissivo ou omissivo na forma de iludir o pagamento, a depender do caso concreto. (NUCCI, 2008, p. 1113).
	 Segundo Greco (2007, p. 525) destaca que: “o sujeito ativo do delito pode ser qualquer pessoa, visto que o legislador não exigiu ao tipificar, nenhuma qualidade ou condição especial; o sujeito passivo neste contexto é o Estado, pois é este o lesado, deixando de arrecadar impostos devidos, afetando assim o seu interesse patrimonial”.
	 Entre os produtos mais contrabandeados estão drogas, armas, cigarros, medicamentos, eletrônicos e perfumes. Não é por acaso que esse delito possui uma pena bem mais acentuada que o descaminho, pois além de fraudar o sistema tributário, traz riscos à saúde de milhares de pessoas nos casos de produtos que necessitem do aval da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). 
	 Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) o estudo aponta que, em 2018, foram consumidos 106,2 bilhões de cigarros, dos quais 57,5 bilhões de unidades (54%) fora do mercado legal, um dos incentivos para a procura tem sido a diferença de preço, porém por não serem submetidos a controle de qualidade, são potencialmente mais tóxicos, confirmando os indicadores de diferentes problemas de saúde ocasionados pelo uso do produto. 
	 Outro problema bem delicado tem sido à entrada de medicamentos ilegais no país, um entendimento do MPF, consolidado pela decisão do STJ, manifestou que o contrabando de medicamentos vai além da questão econômica, atentando sim contra a saúde pública. Os riscos no consumo desses produtos de procedência duvidosa, vão desde um envenenamento a falhas no tratamento a que eles se destinam. Em consonância com a decisão jurisprudencial:
PROCESSO PENAL E PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONTRABANDO DE MEDICAMENTOS. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
Não se vislumbra no caso concreto nenhuma excepcionalidade que autorize o afastamento da orientação jurisprudencial desta Corte no sentido da inaplicabilidade do princípio da insignificância às hipóteses de contrabando de medicamentos, não havendo falar em absolvição por atipicidade da conduta.
Agravo regimental desprovido (g. n.)
PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONTRABANDO DE MEDICAMENTOS. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO APLICAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
Esta Corte Superior já consolidou o entendimento de que “não se afigura viável a aplicação do princípio da insignificância ao crime de contrabando, em face do alto grau de reprovabilidade da importação irregular de medicamentos” (AgRg no AREsp n 654.319-SP, REL. Ministro Gurgel de Faria, 5º T., DJe 2-6-2015).
Agravo regimental não provido ( g. n.)
	 O perfume importado é outro alvo do mercado ilegal, tendo em vista o preço elevado que é oferecido nas lojas convencionais brasileiras, e a grande preocupação gira em torno da falsificação. Muitos desses perfumes falsificados são vendidos não somente nas lojas de camelôs, mas em shoppings e sites, produtos estes que também devem passar pela regulamentação e controle de qualidade da ANVISA.
	 Dispõe a Lei Nº 6.360/1976 o seguinte enunciado:
Art. 1º- Ficam sujeitos às normas de vigilância sanitária instituída por esta lei os medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, definidos na Lei 5.991, de dezembro de 1973, bem como os produtos de higiene, os cosméticos, perfumes, saneantes domissanitários, produtos destinados à correção estética e outros adiante definidos. (BRASIL, 1976)
	 São produtos que devem obedecer a critérios de produção, pois são compostos de substâncias químicas que misturadas a outras podem causar sérios danos alérgicos e respiratórios. A compra de medicamentos ou perfumes irregulares desfavorecem os consumidores, uma vez que, ao se sentirem lesados, ficam impossibilitados de entrar com reparação de danos devido à procedência duvidosa no que tange ao fabricante.
	 Percebe-se que outro fator de difícil repressão tem sido as drogas, a quantidade encontrada pelas autoridades preocupa e deixa a entender que o contrabando é lucrativo para as organizações criminosas e que financiam o tráfico de drogas, armas e munições. Nas fiscalizações de portos, aeroportos e postos de fronteira, a Receita Federal tem se deparado com inúmeras quantidades de drogas como maconha, cocaína, crack, êxtase, LSD entre outras. Visto que, o contrabando tem sido uma alternativa bem mais vantajosa, levando em consideração a pena relativa ao tráfico de drogas até 15 anos.
3.1 O DELITO DE DESCAMINHO E A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
	 É muito comum encontrar lojas populares com mercadorias tabeladas em preços menores que as lojas convencionais, mesmo que essas mercadorias sejam permitidas, se não houver o recolhimento tributário exigido irão incorrer no crime de descaminho previsto no artigo 334 do código penal correspondente ao crime de sonegação fiscal, ou seja, entrada ou saída de produtos permitidos sem o pagamento do imposto devido, delito de sonegação fiscal.
	 Tendo em vista, o princípio da insignificância, dispondo a aplicação do Direito Penal no caso concreto, exercea função de elemento delimitador do tipo penal, retirando de sua abrangência as condutas incapazes de afetar o bem jurídico protegido pela norma penal. 
	 De acordo com Renato Brasileiro de Lima:
Em seu processo de formulação teórica, o princípio da insignificância apoiou-se no reconhecimento de que o caráter subsidiário do sistema penal reclama e impõe, em função dos próprios objetivos por ele visados, a intervenção mínima do Poder Público (de minimis, non curta praetor). O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de que a privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo somente se justificam quando estritamente necessárias à própria proteção das pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhe sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores penalmente tutelados se exponham a dano, efetivo ou potencial, impregnado de significativa lesividade. O direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam resultado, cujo desvaler - por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes - não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social. ( LIMA, 2017, p. 51)
	 Isso porque, no crime de descaminho, em que pese o prestígio da Administração Pública estar também resguardado pela norma penal, o foco primeiro do legislador foi, claramente, a proteção dos interesses econômicos do Estado, quer no recolhimento de tributos, quer na proteção da indústria e comércio nacionais.
	 Nesse sentindo salienta PRADO: 
O bem jurídico tutelado protege a Administração Pública, em especial o erário reforça é o interesse econômico-estatal. Busca-se proteger o produto nacional (agropecuário, manufaturado ou industrial) e a economia do país, que na elevação do imposto de exportação, para fomentar o abastecimento interno, que na sua sensível diminuição ou isenção, para estimular o ingresso de divisa estrangeira no país. O mesmo ocorre no tocante ao imposto de importação, cuja elevação ou isenção têm por escopo ora proteger o produtor nacional, ora proteger a própria nação da especulação por este engendrada e, ainda, suprir necessidades vitais do Estado. (PRADO, 2015, p. 141)
	 Para que seja possível sua aplicação, há certos requisitos estabelecidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), quais sejam: a mínima ofensividade da conduta do agente; nenhuma periculosidade social da ação; reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e inexpressividade da lesão jurídica provocada. Segundo Fernando Capez, “não cabe ao Direito Penal preocupar-se com bagatelas, do mesmo modo que não podem ser admitidos tipos incriminadores que descrevam condutas totalmente inofensivas ou incapazes de lesar o bem jurídico”. 
	 Uma mudança significativa remete-se a decisão do STJ em relação ao princípio da insignificância, que fixa em vinte mil reais o valor máximo para a sua aplicação em caso de crimes tributários federais e de descaminho. A medida foi adotada tendo em vista as recentes decisões do STF sobre o tema. Dentre tantas discussões, em 2012 o entendimento firmado pela Terceira Seção era de que esse princípio fosse analisado, dessa forma, decidiram revisar o Tema 157, que passou a ter a seguinte redação: “Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00, a teor do disposto no artigo 20 da Lei 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda”. Toda via, diante das divergências entre os tribunais superiores, nesse caso do tema repetitivo de número 157 do STJ, em que três recursos especiais estão em discussão numa possível revisão de tese. Sendo assim, pode o entendimento se adequar ao que foi externado pela Suprema Corte, definindo o valor de R$ 20 mil como parâmetro.
	 Para amenizar a equivocidade das decisões acerca da aplicação do princípio da insignificância, mas sem retirar do julgador do caso concreto a análise das circunstâncias, o STF estabeleceu dispositivo para averiguação da atipicidade material da conduta, a saber:
Ementa: HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. CRIME DE DESCAMINHO. VALOR DO TRIBUTO INFERIOR A VINTE MIL REAIS. REITERAÇÃO DELITIVA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INCIDÊNCIA. REDUZIDO GRAU DE REPROVABILIDADE DA CONDUTA. ORDEM CONCEDIDA. 1. A aplicação do Princípio da Insignificância, na linha do que decidido por esta Corte, pressupõe ofensividade mínima da conduta do agente, reduzido grau de reprovabilidade, inexpressividade da lesão jurídica causada e ausência de periculosidade social. (…) (HC 130453, Relator(a):  Min. EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em 08/08/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-186, publicação em 23-08-2017, grifo nosso)
	 Mediante a habitualidade no crime de descaminho vem afastando a incidência do princípio da insignificância, visto que a reiteração delitiva, por denotar a maior reprovabilidade da conduta incriminada, deve ser considerada para fins de aplicação do princípio, por conta da referida excludente de tipicidade não pode servir como elemento gerador de impunidade.
	 É pacífico o entendimento da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que o princípio da insignificância não tem incidência nos crimes de contrabando. Como ressaltado pelo Ministro Gilmar Mendes, no voto condutor do HC nº 97.541/AM: 
(...) no delito de contrabando o objeto material sobre o qual recai a conduta criminosa é a mercadoria proibida. Em outras palavras, o objetivo precípuo dessa tipificação legal é evitar o fomento de transporte e comercialização de produtos proibidos por lei. Assim, não se trata tão só de sopesar o caráter pecuniário do imposto sonegado. No contrabando, tenho para mim, que o desvalor da conduta é maior, sendo o caso, portanto, de afastar a aplicação do princípio da insignificância. (Segunda Turma, DJe de 1º/2/11).
3.2 O CONTRABANDO SOB O PRISMA DA SOCIEDADE
 O instituto Datafolha realizou uma pesquisa entre os dias 5 e 8 de fevereiro do ano passado (2018), em 129 municípios, cujo conteúdo da entrevista explanava a opinião dos brasileiros sobre o contrabando.
 Segundo dados coletados da pesquisa, grande parte dos entrevistados têm consciência dos malefícios que o contrabando traz para o comércio e a indústria brasileira, como a estimulação ao crime organizado, as perdas relativas a arrecadação de impostos provocadas pela competitividade do mercado ilegal, bem como os riscos que esses produtos podem trazer, tendo em vista a ausência de um controle de qualidade.
 Em resposta às medidas adequadas para enfrentar o problema, uma das iniciativas cobradas pelos brasileiros têm sido a melhoria do sistema de fiscalização das aduaneiras, que sofrem com um reduzido número de agentes nos postos de fronteira, necessitando de melhores investimentos, em contrapartida um aumento significativo do número de agentes geraria um custo bastante oneroso para o governo. Outro ponto abordado pelos entrevistadosfoi a adoção de punições mais severas para o crime de contrabando, pois levando em consideração os impactos sofridos pelo país, o crime é punido de forma desproporcional uma vez que reflete negativamente na economia, saúde pública e estimula a criminalidade. 
 Parcela significativa dos brasileiros exigiram maiores atitudes do estado em relação ao comércio de cigarros contrabandeados (dado que representa o principal estimulante para o financiamento do crime organizado), fechando estabelecimentos ilegais e aplicando atitudes mais rigorosas no que diz respeito ao Paraguai, fornecedor em grande potencial.
 Não poderia deixar de falar também sobre o sistema elevado de tributação do país, fator influente na manutenção do contrabando, ja que em virtude dos produtos nacionais sofrerem incidencia de tributação tornando-se mais caro, faz com que o brasileiro seja atraído pelos preços do mercado ilegal que assim ganhammaior competitividade. Nesse sentido, uma política de redução tributária seria mais uma medida de suma importância para a prevenção, mantendo um mercado mais acessível e produtivo.
4. CONCLUSÃO
 A causa principal do contrabando e descaminho tem sido a alta tributação imposta pelo país, pois a falta de um mercado competitivo faz com que a população seja induzida a comprar pelo preço mais acessível, deixando em desvantagem as empresas que operam de modo legal, bem como prejuízo aos cofres públicos.
 A mudança efetuada pela lei 13.008/2014 foi de extrema importância, pois antes da sua vigência o crime de contrabando, apesar de ser mais prejudicial, era punido com a mesma pena do descaminho, e com a sua autonomia o infrator passou a ter uma pena diferenciada.
 Com base na pesquisa realizada, por meio dos aspectos legais, jurisprudenciais e doutrinários desta modalidade de crime, percebem-se os relevantes impactos nos setores de tributação, bem como as infrações cometidas nos crimes praticados por particular contra a administração em geral. Isto mostra que o Direito, em regra, não deve mais repelir o comportamento daqueles que deixam ilicitamente de cumprir com suas obrigações tributárias, pois se há o delito o mesmo deve ser sancionado, fortalecendo a normatização e o efeito sancionador do Direito Penal, levando-se em consideração a posição adotada pelos tribunais em face às decisões jurisprudências de não minimizar os crimes de descaminho, mediante as interpretações das situações fáticas. Para o crime de descaminho, conforme se analisou a jurisprudência tem aplicado o princípio da insignificância, desde que preenchidos alguns requisitos, diferentemente do contrabando, para o qual as decisões judiciais voltam seu entendimento no sentido da inaplicabilidade do princípio.
	 Entretanto, conclui-se que os impactos que esses crimes trazem para a economia, saúde e segurança, são de suma importância que se realize políticas efetivas voltadas para as áreas de fiscalização, como forma de reprimir essas atividades ilícitas, protegendo a Administração Pública de lesões ao erário (bem jurídico tutelado), como a revisão de políticas efetivas na relativação ao mercado interno na ponderação de tributos mais justos para a população.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 13.008, 26 de junho 2014.Dá nova redação ao art. 334 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal e acrescenta-lhe o art. 334-A, usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13008.htm#art1. Acesso em: 20 mar.2019.
BRASIL, Lei 6.360, de 23 de setembro de 1976. ANVISA. Dispõe sobre a Vigilância Sanitária a que ficam sujeitos os Medicamentos, as Drogas, os Insumos Farmacêuticos e Correlatos, Cosméticos, Saneantes e Outros Produtos, e dá outras Providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6360.htm. Acessoem: 20 mar. 2019.
CAPEZ, Fernando. Código penal comentado/Fernando Capez e Stela Prado. – 7. ed. – São Paulo; Saraiva, 2016.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. 6ª edição atualizada e revisada. São Paulo: EditoraSaraiva, 2003.
ETCO, Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial: percepção do brasileiro sobre o contrabando -pesquisaEtco/ data folha – 14 fev2018.
FENAPEF, Federação Nacional dos Policiais Federais. Policiais federais relatam vulnerabilidade e falta de agentes nas fronteiras do Brasil. 03 set 2018.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. V. IV – Parte Especial (arts. 150 a 361 do Código Penal). 3 ed. Niterói/RJ: Impetus, 2007.
LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial comentada: volume único. - 5. ed. rev., atual. eampl. - Salvador: JusPODIVM, 2017.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
PAULO, Folha de S. 2018. A escalada do contrabando - “Comércio ilegal sofistica sua logística e se expande prejudicando a indústria, os cofres públicos, o bolso e até a saúde do consumidor”. Disponívelem:https://temas.folha.uol.com.br/contrabando-no-brasil/uma-muralha-da-china-por-ano/mercado-ilegal-cresce-no-pais-em-plena-crise-de-seguranca.shtml. Acesso: 20 mar.2019
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. - 14. ed. rev. atual. ampl. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
JUSTIÇA. Superior Tribunal de. – STJ, 2011. CONFLITO DE COMPETENCIA: CC 111932. Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/16090911/conflito-de-competencia-cc-111932. Acessoem: 19 mar.2019.
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1Bacharelanda do Curso de Direito da UNINASSAU - Parnaíba-PI. 
2Bacharelanda do Curso de Direito da UNINASSAU - Parnaíba-PI.
3Bacharelanda do Curso de Direito da UNINASSAU - Parnaíba-PI e Professora Especialista em Matemática e Física.
4Orientador do artigo cientifico e Professor Esp. da Disciplina Crimes em Espécies II da UNINASSAU - Parnaíba-PI. Advogado.
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