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2018 ServiçoS em reStaurante BariSta e Barman Profa. Aline Dal Conti Lampert Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Profª. Aline Dal Conti Lampert Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. L237s Lampert, Aline Dal Conti Serviços em Restaurante Barista e Barman. / Aline Dal Conti – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 203 p.; il. ISBN 978-85-515-0190-0 1.Restaurante – Brasil. 2.Barista – Brasil. 3.Barman – Bra- sil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 641.6 Impresso por: III apreSentação Olá! Seja bem-vindo ao curso e a nossa disciplina de Serviços em Restaurante Barista e Barman. Como você deve saber, a escolha de um curso de graduação, em modalidade de educação a distância ou presencial, exigirá, de alguma forma, conhecimentos e habilidades específicos relacionados a cada disciplina. Neste sentido, o presente material pretende introduzir conceitos e informações referentes à disciplina, servir como um facilitador da construção do conhecimento de forma cooperativa. Para que isso seja possível este material foi desenvolvido de forma didática e acessível, a fim de proporcionar a você, acadêmico e leitor, o contato com a disciplina de Serviços em Restaurante Barista e Barman, apresentar conceitos e técnicas fundamentais para que você possa desenvolver essa competência com excelência. Neste livro, você encontrará a nossa disciplina dividida em três unidades básicas, são elas: • Unidade 1 – Falaremos sobre a história do café, aspectos físicos e características dos grãos, técnicas para preparar um café expresso e todas as suas variedades (drinks, cafés quentes e frios...), além do conhecimento básico sobre o funcionamento de uma máquina de café expresso e os diversos tipos de preparo da bebida. Além disso, você terá acesso a curiosidades e textos complementares sobre como funciona a profissão de um barista e todo o conteúdo que essa profissão engloba. • Unidade 2 – Nesta unidade, você irá encontrar conteúdos referentes ao serviço de bar, aspectos históricos relacionados a origem dos bares e vertentes, origem e classificação de bebidas alcoólicas, métodos e técnicas de servir cada uma das bebidas e harmonizações diversas com alimentos. • Unidade 3 – A Unidade 3 tem como objetivo aprimorar seus conhecimentos adquiridos nas unidades 1 e 2, trazendo conteúdos sobre a profissão de barman, origem e classificações de coquetéis e suas vertentes, modo de preparo, questões sobre higiene, estrutura e equipamentos utilizados e um receituário com diversas receitas clássicas e inovadoras para sua apreciação. No decorrer das unidades elaboramos resumos, autoatividades e estão contidas também leituras complementares e vídeos a serem assistidos a fim de enriquecer o conteúdo apresentado. Ao concluir a disciplina, esperamos que você tenha apreciado o material e potencialize sua formação de forma continuada, afinal nossos objetivos englobam além do oferecimento de um material de qualidade, estimular sua autonomia e motivar a continuidade dos estudos na área escolhida. Desejamos a você uma boa leitura e um excelente aproveitamento! Aline Dal Conti Lampert IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – CONHECENDO O CAFÉ – SUA ORIGEM, CLASSIFICAÇÃO E MÉTODOS DE PREPARO....................................................................................... 1 TÓPICO 1 – LENDA E HISTÓRIA DO CAFÉ NO BRASIL E NO MUNDO .............................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 A LENDA DO CAFÉ ............................................................................................................................. 3 2.1 OUTRAS LENDAS RELATIVAS A ORIGEM DO CAFÉ ........................................................... 4 2.2 A HISTÓRIA DO CAFÉ – A CAFEÍNA ....................................................................................... 4 2.2.1 O chá ........................................................................................................................................ 5 2.2.2 O cacau ..................................................................................................................................... 6 3 A ORIGEM DO CAFÉ .......................................................................................................................... 7 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 10 4 A HISTÓRIA DO CAFÉ NO BRASIL ............................................................................................... 12 4.1 O CAFÉ BRASILEIRO NA ATUALIDADE .................................................................................. 15 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 16 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 18 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 19 TÓPICO 2 – CONHECENDO A PLANTA E OS GRÃOS ................................................................ 21 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 21 2 A PLANTA CAFÉ ................................................................................................................................. 21 2.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA PLANTA .............................................................................. 21 2.1.1 A semente ................................................................................................................................ 22 2.1.2 As flores .................................................................................................................................... 22 2.1.3 Condições para cultivo .......................................................................................................... 23 3 O GRÃO DE CAFÉ ..............................................................................................................................25 3.1 OS DIFERENTES GRÃOS DE CAFÉ ............................................................................................ 25 3.1.1 Grão tipo arábica ..................................................................................................................... 25 3.1.2 Grão tipo robusta .................................................................................................................... 26 4 CLASSIFICAÇÕES DO CAFÉ .......................................................................................................... 27 4.1 CLASSIFICAÇÃO POR TIPOS DE DEFEITOS .......................................................................... 28 5 CARACTERÍSTICAS DO CAFÉ ....................................................................................................... 30 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 32 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 33 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 34 TÓPICO 3 – TORREFAÇÃO E MOAGEM ......................................................................................... 35 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 35 2 A TORRA ............................................................................................................................................... 35 3 A CURVA DE TORRA DO CAFÉ ..................................................................................................... 36 4 NÍVEIS DE TORRA DO GRÃO DE CAFÉ ...................................................................................... 39 5 A MOAGEM .......................................................................................................................................... 41 6 ORGANIZAÇÕES DO CAFÉ ............................................................................................................. 45 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 48 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 49 Sumário VIII TÓPICO 4 – O PREPARO DO CAFÉ ................................................................................................... 51 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 51 2 MÉTODOS DE PREPARO DO CAFÉ ............................................................................................... 51 3 O BARISTA ........................................................................................................................................... 54 4 A MÁQUINA DE CAFÉ EXPRESSO ................................................................................................ 57 5 O EXPRESSO PELO BARISTA ......................................................................................................... 59 6 AVALIANDO O CAFÉ EXPRESSO .................................................................................................. 60 7 A VAPORIZAÇÃO DO LEITE .......................................................................................................... 60 8 O PREPARO DO CAFÉ ....................................................................................................................... 62 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 69 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 70 UNIDADE 2 – SERVIÇO DE BAR – CONHECENDO A ORIGEM E CLASSIFICAÇÃO DOS BARES, A ORIGEM E CLASSIFICAÇÃO DAS BEBIDAS ALCOÓLICAS E A FORMA DE SERVIR ................................... 71 TÓPICO 1 – O BAR E A BEBIDA ......................................................................................................... 73 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 73 2 A ORIGEM DO BAR ........................................................................................................................... 73 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 75 3 AS DIFERENTES NOMENCLATURAS ATRIBUÍDAS AO BAR ............................................... 78 4 A HISTÓRIA DA BEBIDA ALCOÓLICA ..................................................................................... 79 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 83 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 85 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 86 TÓPICO 2 – A CERVEJA 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 87 2 A HISTÓRIA DA CERVEJA .............................................................................................................. 87 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 91 3 TIPOS DE CERVEJAS ......................................................................................................................... 92 4 SERVINDO A CERVEJA .................................................................................................................... 95 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 97 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 98 TÓPICO 3 – O VINHO ........................................................................................................................... 99 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 99 2 A HISTÓRIA DO VINHO ................................................................................................................. 99 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................100 3 A HISTÓRIA DO VINHO NO BRASIL ........................................................................................102 4 VARIEDADE DE VINHOS ............................................................................................................103 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................108 5 SERVINDO O VINHO .....................................................................................................................113 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................118 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................119 TÓPICO 4 – AS DIFERENTES BEBIDAS ALCOÓLICAS .............................................................121 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1212 A CACHAÇA .......................................................................................................................................121 3 A VODKA .............................................................................................................................................122 4 O WHISKY .......................................................................................................................................... 123 5 O ESPUMANTE ..................................................................................................................................126 IX 5.1 SERVINDO UM ESPUMANTE ...................................................................................................128 6 O CONHAQUE ..................................................................................................................................129 7 OUTRAS BEBIDAS ...........................................................................................................................130 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................132 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................133 UNIDADE 3 – O BARMAN, SUAS HABILIDADES E O PREPARO DE COQUETÉIS ..........135 TÓPICO 1 – O BARMAN .....................................................................................................................137 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................137 2 QUEM É O BARMAN? .....................................................................................................................137 2.1 ATRIBUIÇÕES DO BARMAN .....................................................................................................138 2.2 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS PELO BARMAN .................................................................139 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................149 3 A MISE EN PLACE .............................................................................................................................150 4 A HIGIENE ...........................................................................................................................................152 4.1 LOCAL DE TRABALHO ..............................................................................................................152 4.2 INGREDIENTES E ALIMENTOS ...............................................................................................153 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................154 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................156 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................157 TÓPICO 2 – TIPOS, CLASSIFICAÇÕES DOS COQUETÉIS E PREPARAÇÃO DOS COPOS ....................................................................................................................159 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................159 2 CLASSIFICAÇÃO DOS COQUETÉIS ..........................................................................................159 2.1 MODALIDADES ...........................................................................................................................159 2.2 FUNCIONALIDADE ....................................................................................................................160 2.3 GRUPOS CLÁSSICOS ...................................................................................................................161 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................170 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................171 TÓPICO 3 – A PREPARAÇÃO DOS COPOS E A DECORAÇÃO ...............................................173 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................173 2 O PREPARO DOS COPOS ..............................................................................................................173 3 A DECORAÇÃO ................................................................................................................................175 3.1 DECORAÇÃO COM CEREJAS, MAÇÃS E MORANGOS ....................................................176 3.2 DECORAÇÃO COM ABACAXI E MELANCIA ......................................................................176 3.3 DECORAÇÃO COM AIPO E AZEITONAS ..............................................................................177 3.4 DECORAÇÃO COM HORTELÃ E ERVAS ..............................................................................177 3.5 DECORAÇÃO COM CACAU, NOZ MOSCADA E CANELA EM PÓ .................................178 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................179 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................181 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................182 TÓPICO 4 – PREPARANDO O COQUETEL ...................................................................................183 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................183 2 RECEITAS DE COQUETÉIS CLÁSSICOS ...................................................................................183 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................198 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................199 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................201 X 1 UNIDADE 1 CONHECENDO O CAFÉ – SUA ORIGEM, CLASSIFICAÇÃO E MÉTODOS DE PREPARO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo dessa unidade você deverá ser capaz de: • familiarizar o acadêmico com a origem e a história do café no Brasil e no mundo; • apresentar as classificações dos grãos e os tipos de cafés no Brasil e no mundo; • descrever os principais métodos de preparo do café; • identificar os tipos de moagem e torra dos grãos e analisar sua influência na qualidade do café; • explicar a profissão do barista; • proporcionar a experiência de testar receitas tradicionais e diferenciadas de bebidas com café expresso. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – LENDA E HISTÓRIA DO CAFÉ NO BRASIL E NO MUNDO TÓPICO 2 – CONHECENDO A PLANTA E OS GRÃOS TÓPICO 3 – TORREFAÇÃO E MOAGEM TÓPICO 4 – O PREPARO DO CAFÉ 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 LENDA E HISTÓRIA DO CAFÉ NO BRASIL E NO MUNDO 1 INTRODUÇÃO Para dar início ao estudo relacionado à história do café no Brasil e no mundo, começaremos conhecendo um pouco sobre as lendas que permeiam a descoberta do fruto e logo passaremos à história do grão. Pegue uma xícara quentinha emanando o aroma de um café de qualidade e degustegrande parte da história da humanidade. Tome um gole e saboreie essa viagem repleta de ação, romantismo e cultura. 2 A LENDA DO CAFÉ Não existe em documento histórico algum uma prova concreta sobre a origem do café, mas algumas lendas relatam de onde pode ter surgido a cultura do fruto. A lenda mais conhecida conta a história de um pastor chamado Kaldi, por volta de mil anos atrás. Esse pastor vivia na região conhecida como Absínia, que atualmente faz parte da Etiópia. Essa lenda conta que o pastor Kaldi, como de costume, estava observando suas cabras no campo e notou que elas se tornavam-se mais alegres, motivadas, ativas e tinham a energia redobrada quando consumiam certo fruto de coloração amarela avermelhada oriunda dos arbustos existentes em alguns campos de pastoreio. Essa alegria e energia possibilitava às cabras enfrentarem caminhadas longas e subidas íngremes, o que auxiliou o pastor a caminhar com seu rebanho por trilhas infindáveis. Foi observando o comportamento de suas cabras que, o pastor, intrigado, notou que os frutos poderiam ser fonte de uma substância diferente de tudo que se conhecia até aquele momento. O pastor, então, sentiu necessidade de dividir a descoberta com um monge que vivia na mesma região e decidiu levar a ele alguns desses frutos colhidos no pastoreio. O monge, interessado pela novidade, decidiu experimentar os curiosos frutos pelo método da infusão. Após ingerir a bebida, o monge percebeu que os mesmos efeitos que causavam nas cabras o fruto causava em seres humanos, com alguns efeitos a mais. A bebida permitia ao monge resistir ao sono durante suas longas noites de meditação e essa notícia fantástica logo se espalhou pela região. Todos os monges residentes resolveram experimentar a nova bebida que prometia ajudar em suas orações e vigilância noturna, efeito que fez se criar uma demanda muito grande pela bebida (MARTINS, 2008). UNIDADE 1 | CONHECENDO O CAFÉ – SUA ORIGEM, CLASSIFICAÇÃO E MÉTODOS DE PREPARO 4 FIGURA 1 – REPRESENTAÇÃO DE KALDI E SUAS CABRAS FONTE: Disponível em: <cafecombloggagem.wordpress.com>. Acesso em: 15 fev. 2018. Estudos levam a crer que a África foi o território de origem do café, porém, sabe-se através de estudos históricos, que quem dominou as técnicas de plantio e cultivo da planta foram os árabes, que inclusive podem ser considerados como responsáveis pela propagação do fruto. Algumas pesquisas estimam que os islâmicos na região do Iêmen foram os primeiros povos a cultivarem o fruto. 2.1 OUTRAS LENDAS RELATIVAS A ORIGEM DO CAFÉ Há vários relatos lendários da origem do café. Um desses relatos envolve o místico sufi iemenita Ghothul Akbar Nooruddin Abu al-Hasan al-Shadhili. O místico costumava viajar muito e, em uma de suas viagens para a Etiópia observou algumas aves agitadas, dispostas de certa vitalidade incomum, e, após provar as bagas avermelhadas que as aves estavam comendo experimentou a mesma vitalidade. Outra lenda atribui ainda a descoberta do café ao discípulo de Sheik Abou'l Hasan Schadheli, Omar. De acordo com a antiga crônica (preservada no manuscrito Abd-Al-Kadir), Omar, que era conhecido por sua habilidade de curandeiro, foi exilado de Mocha para uma caverna localizada em um deserto perto de Ousab. Omar estava morrendo de fome e não dispondo de recurso algum, mastigou algumas bagas de arbustos nas proximidades, mas de momento achou os frutos amargos e duros. Ele então tentou assar os grãos em uma tentativa de melhorar o sabor, mas não obteve sucesso. Omar então, desesperado, ferveu os grãos amargos e amoleceu os frutos, o que resultou em um líquido de coloração marrom com odor bastante agradável. Após beber o líquido Omar se sentiu revitalizado e seu corpo e suas forças sustentaram-se por vários dias. A história desta "droga milagrosa e energizante" então chegou a Mocha e Omar foi convidado a retornar a sua terra como um santo. 2.2 A HISTÓRIA DO CAFÉ – A CAFEÍNA Não se sabe ao certo em que momento da história o homem iniciou o consumo de alimentos vegetais, que contém cafeína em sua composição. De acordo com estudos e pesquisas, supõe-se que, provavelmente, o homem pré-histórico já consumia tais alimentos, como folhas de mate, cascas de yoco, algumas sementes de guaraná, alimentos facilmente encontrados na América do Sul. TÓPICO 1 | LENDA E HISTÓRIA DO CAFÉ NO BRASIL E NO MUNDO 5 2.2.1 O chá Os mitos em relação ao chá datam de 2737 a.C. e relatam que o herbanário e o primeiro imperador mítico da China, Shen Nung, que viveu há cinco mil anos, já tinha o hábito de ferver a água para o consumo de sua corte a fim de purificá- la. Conta o mito que certo dia, em meio a um forte vento, Shen Nung percebera que algumas folhas de um arbusto próximo caíram em sua tina de água fervente (acredita-se que as folhas eram da planta Camellia Sinensis). O imperador resolveu experimentar a água aromatizada, e o resultado de tal acontecimento resultara no primeiro chá de muitos que seriam consumidos na China e em todo o mundo (LE COUTEUR; BURRESON, 2006). FIGURA 2 - REPRESENTAÇÃO DE SHEN FONTE: Disponível em: <http://chacomigoo.blogspot.com.br>. Acesso em: 15 fev. 2018. Uma versão mais realista conta que ao final do século XXVIII a.C. os chineses já apreciavam o chá por se sentirem revigorados, para combater o sono, ajudar na concentração em meditações noturnas e trabalhos pesados, combater a depressão e revigorar o espírito. Diz-se que o chá foi introduzido pelos chineses como tônico, digestivo além de ser usado de forma tópica, como pomada para problemas de pele e reumatismo. A versão japonesa sobre a origem do chá conta que em torno de 520 d.C., quando o criador do zen-budismo, 28° Bodhidharma viajou à China, se propôs meditar diante de uma parede por nove anos sem dormir. A história conta que uma noite Bodhidharma adormeceu durante a meditação e isso o deixou tão furioso que teria cortado as próprias pálpebras. Diz a lenda que a planta do chá brotou exatamente no local onde suas pálpebras caíram. UNIDADE 1 | CONHECENDO O CAFÉ – SUA ORIGEM, CLASSIFICAÇÃO E MÉTODOS DE PREPARO 6 Durante muito tempo a China consumia chá importado do Japão. Por volta de 729 d.C., os monges budistas observaram que o chá não servia apenas como remédio ou tônico, como era utilizado até então, mas suas propriedades tinham o poder de combater o sono, facilitando dessa maneira, a meditação. Em 1187, o mestre zen Eisai Myoan viajou à China para estudar e ao regressar levou consigo algumas sementes de chá que foram plantadas junto ao templo Reisenji. Eisai Myoan esteve na China durante a dinastia Song (960-1279), quando se consumia chá verde em pó (matcha, muito consumido atualmente) e foi através da infusão das folhas pulverizadas em água quente que introduziu o preparo do chá no Japão, método utilizado também na cerimônia do chá. FONTE: Disponível em: <http://chacomigoo.blogspot.com.br/2015/02/mitos-de-origem- do-cha.html>. Acesso em: 15 fev. 2018. NOTA 2.2.2 O cacau Outra importante fonte de cafeína muito consumida no mundo é o cacau. Utilizado desde 1500 a.C., o cacau já fazia parte do cultivo das civilizações maia e tolteca. O cacau tem sua origem na América Latina, mas seu consumo e as lendas sobre a o fruto remetem ao México, em particular, à cultura Asteca, onde se acreditava que o cacau possuía origem divina. Como era considerado um fruto divino, o cultivo do cacau na época, era acompanhado de longas e solenes cerimônias religiosas, que, provavelmente, influenciaram o botânico sueco Carolus Linneu (1707-1778), ao denominar a planta de Theobroma cacao, ou “manjar dos deuses”. Uma das lendas astecas mais difundidas diz que Quetzalcoatl, Deus da Lua, queria presentear os homens com algo especial e único, então decidiu roubar as sementes de uma árvore de cacau da terra dos filhos do sol e deu aos humanos. Quatzalcault teria ensinado seu povo como cultivar o cacau tanto para o consumo como para ornamentos, a fim de embelezar os jardins desua cidade, Talzitapec. A lenda conta ainda que os deuses não o perdoaram por ter roubado e compartilhado a árvore sagrada, o expulsando e o condenando ao exílio. Na cultura Maia, a lenda de origem do cacau também remete aos deuses, mas de uma forma diferenciada. A lenda conta que o herói Hun-Hunahpú foi decapitado e sua cabeça pendurada em uma árvore morta. Milagrosamente, da noite para o dia, essa árvore passou a dar frutos novamente, e esse fruto era o cacau. Outra lenda Maia sugere ainda que existia uma deusa com os frutos do cacaueiro em seus cabelos. Um dia, o Deus do Vento espalhou-os com um grande furacão. Assim, tiveram origem os pés de cacau. FONTE: Disponível em: <http://www.cacaushow.com.br/artigos/lendas-sobre-origem-do- chocolate>. Acesso em: 15 fev. 2018. NOTA TÓPICO 1 | LENDA E HISTÓRIA DO CAFÉ NO BRASIL E NO MUNDO 7 Levado para a Espanha por volta de 1502, por Colombo, o cacau era consumido na sua forma líquida, como chocolate. O hábito de tomar chocolate perdurou por todo o século XVII, se espalhando por toda a Europa, constituindo a primeira fonte de cafeína do povo europeu. 3 A ORIGEM DO CAFÉ O nome café tem sua origem árabe, que significa vinho. Era conhecido como o “vinho das arábias”. Na Arábia, a infusão do café recebeu o nome de kahwah ou cahue (ou ainda qah’wa, do original em árabe ةوهق ). Na língua turca otomana, o fruto era conhecido como kahve, cujo significado original também era “vinho”. A palavra "café" entrou no inglês no ano de 1598 através da palavra koffie (do holandês). Uma possível origem do nome café é o Reino de Kaffa, na Etiópia, onde a planta do café teve origem. Em meio ao século XV data a evidência mais antiga de qualquer conhecimento sobre o cafeeiro nos mosteiros de Sufi do Iêmen no sul da Arábia. A planta se espalhou de Mocha para o Egito e para o norte da África, e no século XVI, o café havia alcançado todo o resto do Médio Oriente, Pérsia e Turquia. Até o século XVII, somente os árabes eram dominantes na produção do café. Alemães, franceses e italianos procuravam desesperadamente uma maneira de desenvolver o plantio desse fruto milagroso em suas colônias. Porém foram os holandeses que conseguiram as primeiras mudas e as cultivaram nas estufas do jardim botânico de Amsterdã, fato que tornou a bebida uma das mais consumidas no velho continente, passando a fazer parte definitiva dos hábitos dos europeus. Do mundo muçulmano, o consumo de café se espalhou para a Itália. Chegando às cidades italianas por volta de 1570, mas só se expandiu no início do século XVII. Os italianos nunca foram apreciadores da borra do café, então decidiram por utilizar um filtro para agradar o paladar. Por volta de 1644, o café aparece na França, e no início do século XVIII já havia em Paris mais de 380 botequins que vendiam café. Estima-se que no final do século esse número era superior a 600 (SANTOS, 2013). Devido ao sucesso das experiências holandesa e francesa com o fruto, o cultivo de café foi levado para outras colônias europeias. O crescente mercado consumidor europeu propiciou a rápida expansão do plantio de café em países africanos e a sua chegada ao Novo Mundo. Pelas mãos dos colonizadores europeus, o café chegou ao Suriname, São Domingos, Cuba, Porto Rico e Guianas. Foi por meio das Guianas que chegou ao norte do Brasil. Desta maneira, o segredo dos árabes se espalhou por todos os cantos do mundo. UNIDADE 1 | CONHECENDO O CAFÉ – SUA ORIGEM, CLASSIFICAÇÃO E MÉTODOS DE PREPARO 8 Você pode conhecer um pouco mais da história do café assistindo ao vídeo a seguir. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=2OCuUIXOJ_g>. Acesso em: 15 fev. 2018. DICAS Um importante botequim foi o Le Procópio, cujo proprietário era um visionário e intelectual siciliano que resolveu abrir o seu estabelecimento em frente à Comédie-Française. O botequim era um verdadeiro salão literário, vários renomes importantes da época como Voltaire, Rousseau, Condorcet e Diretot frequentaram o local (FLANDRIN, MONTANARI, 1998). Em 1652 chega a Londres o café, e, em 1700 já havia mais de duas mil coffehouses (casas de café) pela cidade. Inicialmente, os ingleses se mostraram bons consumidores de café. Contudo, essas cafeterias vendiam também chá, bebida que logo tomou a preferência dos ingleses (NUNES, 2013). Estima-se que o café conquistou definitivamente a Europa a partir do ano de 1615, quando comerciantes italianos trouxeram os frutos dos países árabes. O hábito de tomar o café, principalmente em Veneza, era altamente intelectualizado e estava diretamente associado aos encontros sociais e à música, que ocorriam nas alegres Botteghe Del Caffè. Em 1687, uma tentativa frustrada de conquista, os turcos abandonaram várias sacas de café às portas de Viena, que foram transformadas em troféu e usadas como prêmio pela vitória. Assim foi aberta a primeira coffee house de Viena, e mais que isso, nasceu aqui o famoso café vienense, com o hábito de coar a bebida adoçada e acompanhada de leite. As cafeterias desenvolveram-se na Europa durante o século XVII, época em que florescia o Iluminismo e se planejava a Revolução Francesa. Durante tardes inteiras, jovens intelectuais reuniam-se em torno de várias xícaras de café, discutindo o destino das nações, declamando poemas, lendo livros ou simplesmente passando o tempo. Atualmente, algumas casas famosas como o Café Procope, em Paris, e o Café Florian, em Veneza, ainda preservam o glamour dessa época. A seguir podemos ter uma ideia da aparência do antigo Café Le Procópio. FONTE: Disponível em: <http://www.brasitaliacafe.com.br/>. Acesso em: 15 fev. 2018. NOTA TÓPICO 1 | LENDA E HISTÓRIA DO CAFÉ NO BRASIL E NO MUNDO 9 FIGURA 3 – CAFÉ LE PROCÓPIO ANTIGAMENTE FONTE: Disponível em: <https://theculturetrip.com/europe/france/articles/ cafe-procope-and-the-birth-of-french-coffee-culture/>. Acesso em: 15 fev. 2018. O Café Le Procópio ainda existe e está mais belo e vivo do que nunca. Sua aparência atual pode ser apreciada na foto da figura a seguir. FIGURA 4 – CAFÉ LE PROCÓPIO ATUALMENTE FONTE: Disponível em: <http://www.ticket-to-timbuktu.com/2012/02/ if-you-ever-come-to-paris-no-35/>. Acesso em: 15 fev. 2018. Muitas pessoas vindas de todas as partes do mundo procuram o Café para apreciar uma boa xícara da bebida unida à magia da história que o lugar representa. UNIDADE 1 | CONHECENDO O CAFÉ – SUA ORIGEM, CLASSIFICAÇÃO E MÉTODOS DE PREPARO 10 O que você acha de realizar um tour cafeístico? Conheça os países produtores dos melhores cafés do mundo OS MELHORES CAFÉS PELO MUNDO Antes de se tornar uma das bebidas mais populares do planeta, o café acompanhou exploradores, prisioneiros de guerra, chefes de estado, espiões internacionais e toda a sorte de pessoas que viajavam pelo mundo e conheciam novas culturas. Desde os primeiros registros da planta na África, o hábito do café se espalhou pelos cinco continentes e foi nos trópicos que encontrou o ambiente ideal para o cultivo perene. A história da bebida por si só é uma aventura ao redor da Terra. Por todos os lugares que passou, a muda do café foi plantada e a tentativa de cultivo em maior escala realizada. Mas foi apenas em algumas regiões que encontrou as variáveis necessárias para que a lavoura rendesse grãos de maior qualidade. O grão de melhor qualidade é que dá origem ao Café Gourmet. Para descobrir os melhores cafés é necessário andar por duas famosas linhas retas. É entre os trópicos de Câncer e Capricórnio que se localizam os maiores e melhores países produtores de café do mundo. O clima tropical e as especificidades dos solos de certos lugares se mostraram a combinação ideal para a planta, gerando uma forte tradição do café na agricultura desses países. Para aqueles que querem provar os grãos mais saborosos e refinados, o roteiro a seguir é o mapa da mina! CAFÉS DA ÁFRICA ORIENTAL Na África Oriental foram registradas as primeiras plantas de café do mundo. O tipo mais difundido do grão (espéciearábica) tem origem na Etiópia. Atualmente, o café produzido nessa região, segundo notas recentes de especialistas, pode ser considerado o melhor café do mundo. Devido ao extenso leque de diferentes métodos de cultivo da planta, o café etíope possui uma enorme escala de variação. A África abriga um dos grandes exportadores de café do tipo robusta do mundo, a Uganda. O continente africano conta com muitas variedades de grãos, dependendo da região de plantio. O Quênia, por exemplo, produz um café de características ácidas e notas frutais. A Tanzânia, por sua vez, produz um tipo especial de grão chamado peaberry, o qual é semelhante a uma ervilha. CAFÉS DO SUDESTE ASIÁTICO Na Ásia, encontramos um café mais adocicado, menos encorpado e com acidez inferior. Para encontrar os melhores cafés no continente, os países a serem LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 1 | LENDA E HISTÓRIA DO CAFÉ NO BRASIL E NO MUNDO 11 visitados são Vietnã, Papua Nova Guiné e Indonésia. Esse último produz uma espécie bem famosa no mundo que é cultivada na região de Sumatra. CAFÉS DA AMÉRICA CENTRAL Nessa região, o café cresce nas montanhas desde o México até o Panamá e em países como a Costa Rica, Guatemala, Honduras, El Salvador e Nicarágua. Por isso, há uma variedade imensa de sabores vindos da América Central. A planta é cultivada em diversas altitudes, desde o nível do mar até as mais altas elevações de terra. A tradição das lavouras de café nessa região é muito forte, o que influencia diretamente na diversidade e na qualidade da bebida. CAFÉS DA AMÉRICA DO SUL O café mais famoso do sul do continente americano é o colombiano. Há muitos anos, a Colômbia ganhou sua reputação pela alta qualidade dos grãos produzidos em elevadas altitudes e temperaturas tropicais. O sabor da bebida aqui tem acidez média e é medianamente encorpado. O Brasil, por sua vez, começa a ganhar fama de produtor de qualidade e não só de quantidade. O país tem investido em pesquisas de melhoria genética de seus grãos e seu café de baixa acidez e corpo cremoso tem ganhado adeptos no mundo. Um tour pelos melhores cafés produzidos no planeta é também uma oportunidade para conferir as características da produção que fazem os diferentes sabores. Se aventure pelos países onde os grãos mais valiosos são cultivados, aproveite a bebida que valia ouro tempos atrás e descubra o porquê essa planta foi tão disputada! (CLUBECAFÉ, 2014b). FONTE: Disponível em: <blog.clubecafe.net.br/quer-fazer-um-tour-cafeistico-conheca-os-países- produtores-dos-melhores-cafes-do-mundo/>. Acesso em:19 fev.2018. UNIDADE 1 | CONHECENDO O CAFÉ – SUA ORIGEM, CLASSIFICAÇÃO E MÉTODOS DE PREPARO 12 4 A HISTÓRIA DO CAFÉ NO BRASIL Vamos conhecer um pouco da história desse fruto tão importante e difundido em nosso país? No Brasil o cafeeiro tem sua chegada datada de 1723. Conta a história que o primeiro pé de café no Brasil foi dado de presente a um oficial português pela esposa do governante da Guiana Francesa. Os primeiros arbustos foram inicialmente plantados no Pará, local de origem de boa parte dos cafeeiros brasileiros. Foi a plantação de café em São Paulo que concedeu ao Brasil o título de maior exportador de café da época, devido as suas terras roxas, consideradas boas para o plantio da planta. Os cafeeiros plantados em São Paulo eram oriundos do Rio de Janeiro que foram transferidos diretamente de Goa, um estado da Índia (NUNES, 2013). Vamos dar uma espiada nessa história? Confira o vídeo indicado no link a seguir: Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?time_continue=4&v=F41o7zhWsEE>. DICAS A Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC, 2009) relata que por volta do ano de 1727, o então governador do Estado de Maranhão, pediu que o Sargento Francisco de Mello fosse até a Guiana Francesa para buscar a semente da planta, devido ao sucesso em todo o mundo. A planta entrou no Brasil pela cidade de Belém do Pará. Devido às condições climáticas favoráveis do Brasil para o cultivo da planta, o cultivo se dispersou rapidamente pelos Estados do Pará, Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Minas Gerais. A produção do café no Brasil obteve sua garantia com os proprietários das grandes fazendas aproveitando-se dos escravos, fazendo que seus lucros fossem altos e uma grande fortuna fosse gerada. Com o sucesso da plantação do café a economia do Brasil deu um salto enorme, proporcionando muitos investimentos em infraestrutura para o país, como a estrada de ferro para o porto de Santos. Tendo fim a escravidão, a mão de obra começou a se tornar extremamente onerosa para os detentores de grandes lotes de terras que antes contavam com mão de obra dita gratuita, fato que deu início ao processo de imigração de mão de obra europeia, principalmente de italianos (PENSAR GASTRONOMIA, 2015). Em um intervalo de tempo relativamente curto, o café desenvolveu-se com total independência, e apenas com recursos nacionais conquistou a posição de produto-base da economia brasileira, sendo, portanto, a primeira realização exclusivamente brasileira que visou à produção de riquezas. Por volta do ano de 1820, o cultivo do fruto já dominava a agricultura e igualmente o comércio TÓPICO 1 | LENDA E HISTÓRIA DO CAFÉ NO BRASIL E NO MUNDO 13 brasileiro. Amplas faixas de terras anteriormente destinadas ao plantio da cana-de-açúcar agora seriam dedicadas ao plantio de café, gerando mudanças significativas além de econômicas, também no ambiente físico brasileiro. Após o plantio de uma safra de café o próximo plantio precisa ser em uma terra diferente, caso contrário as sementes não adquirem a mesma qualidade de antes, pelo motivo do cafeeiro exaurir o solo rapidamente. Esse fato ocasionou a monocultura do café e consequentemente acarretou uma série de problemas ambientais como florestas naturais devastadas e queimadas, animais nativos eliminados, tornaram o solo erosivo (NUNES, 2013). A cultura do café se estabeleceu inicialmente no Vale do Rio Paraíba, em condições favoráveis iniciando em 1825 um novo ciclo econômico no Brasil. No final do século XVIII, a produção cafeeira do Haiti, até então principal exportador mundial do produto, entrou em crise devido à longa guerra de independência que o país manteve contra a França. O Brasil, no entanto, utilizou esse quadro a seu favor, aumentando significativamente a sua produção, exportando o produto com maior regularidade. Os embarques foram realizados pela primeira vez no ano de 1779, em pequena quantidade (aproximadamente 79 arrobas), atingindo um volume mais significativo em 1806, onde as exportações chegaram a atingir mais de 80 mil arrobas (HORTA, 2009). As exportações de algodão, açúcar e cacau, até então dominantes, começaram a cair significativamente, o que ocasionou um maior investimento por parte dos fazendeiros, que apostaram suas fichas no “ouro negro”, investindo e ampliando suas plantações. Como esperado, em torno da segunda metade do século XIX, o café passou a ser amplamente consumido no mercado interno e, dessa forma, tornou-se o principal produto de exportação brasileiro. O desenvolvimento da cultura do café no Brasil confunde-se com a própria história do país devido a sua grande importância econômica e social (o Ciclo do Café). O Brasil contava com clima ameno e infraestrutura praticamente pronta para o plantio do café. Nesse sentido e tendo em vista que a atividade exigia um investimento de capital relativamente baixo, assumiu rápido destaque na produção e exportação do café. Além disso, o Brasil ainda contava com portos e estradas da época da mineração e mão de obra escrava disponível. A produção do café teve seu início no Rio de Janeiro, local que possuía ótimas condições de plantio, com pântanos e brejos, e posteriormente se expandiu pelo Vale do Paraíba. Somente depois de dominar essas duas regiões, chegou ao Oeste paulista, Sul de Minas Gerais (onde hoje é uma região destaque na qualidade de grãos) e ao Norte do Paraná.O ciclo do café e a alta taxa de exportação trouxe consequências imediatas ao país foi o crescimento da mão de obra livre, estimulado, principalmente, pela assinatura da Lei Eusébio de Queiroz, em 1850, que colocava fim ao tráfico negreiro, e também pela atração de mão de obra imigrante, devido ao lucro gerado pela exportação do café. UNIDADE 1 | CONHECENDO O CAFÉ – SUA ORIGEM, CLASSIFICAÇÃO E MÉTODOS DE PREPARO 14 Principais eixos da História: • 1820: o Brasil passou a ser considerado exportador de café. • 1845: o Brasil chega a atingir 45% da produção de café mundial. • 1857: elevação dos preços do café em 50% por redução de mão de obra. • 1865: queda dos preços devido à baixa das exportações para os Estados Unidos, que enfrentavam a Guerra de Secessão. • 1906: governantes de São Paulo e Minas Gerais assinaram o "Convênio de Taubaté". Fixou-se um preço mínimo do café e o plantio de novas lavouras foi proibido devido aos grandes estoques. • 1918: elevação de preços devido à geada de grandes dimensões. • 1932: queima de estoques devido à superprodução e proibição de novos plantios de café. • 1939 a 1945: queda nos preços internacionais do produto devido à segunda guerra mundial • 1945/54: melhoria dos preços após a guerra, incentivo a novos plantios. • 1955: superprodução de 22 milhões de sacas. • 1962/67: erradicação de 2 bilhões de pés de café. • 1969: geada no Paraná destruiu cerca de 80% da safra seguinte causando elevação dos preços. • 1970: plano de renovação dos cafezais oferecido pelo Governo Federal aumenta o parque cafeeiro. • 1977: preços altos devido à geada em 1975. Ocorrência da doença "ferrugem alaranjada do cafeeiro. Registram-se, nessa época, os maiores valores da história, cerca de 400 dólares por saca de café. • 1986: esgotamento dos cafeeiros no centro-sul do país devido à seca que provoca forte elevação dos preços. • 1987: renovação do acordo internacional do café. • 1989: término do acordo internacional do café. • 1991/93: fase de preços muito baixos, chegando a menos de 40 dólares em determinados períodos. Erradicação e abandono de muitas lavouras no centro-sul do Brasil. • 1994: ocorrência de duas fortes geadas em áreas produtoras no Brasil. Os preços sofreram altas históricas, chegando a ultrapassar 200 dólares/saca. • 1995: grande redução da produção brasileira (cerca de 12 milhões de sacas), resultado das geadas em 1994 e queda dos preços. • 1996: conselho Deliberativo de Política Cafeeira (CDPC), criado pelo Governo Federal. • 2001: o preço do café atinge um dos preços mais baixos da história, menos de $35/saca. • 2011: o preço do café mais do que dobra entre 2010 e 2011, alcançando $350/ saca em março de 2011, atingindo um recorde de mais de 30 anos. FONTE: Disponível em: <https://www.clubecafe.net.br/historia-cafe>. Acesso em: 16 fev. 2018. TÓPICO 1 | LENDA E HISTÓRIA DO CAFÉ NO BRASIL E NO MUNDO 15 4.1 O CAFÉ BRASILEIRO NA ATUALIDADE O Brasil responde atualmente por um terço da produção mundial de café, quantidade que o classifica como maior produtor mundial, posto que ocupa há mais de 150 anos, ficando em segundo lugar entre os países consumidores da bebida. Em relação às questões sociais e ambientais, conforme dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2017), a cafeicultura brasileira pode ser considerada uma das mais exigentes do mundo, possuindo uma grande preocupação em garantir a produção de um café sustentável, regida por normas e condições pré-estabelecidas. A atividade do plantio e cultivo da planta é desenvolvida baseada em rígidas legislações trabalhistas e ambientais, sendo que as leis brasileiras estão entre as mais rigorosas entre os países produtores de café. Esse rigor garante o respeito a biodiversidade e todas as pessoas envolvidas na cafeicultura, punindo, rigorosamente, qualquer tipo de trabalho infantil e ou escravo nas lavouras. O parque cafeeiro atual do Brasil é estimado em 2,25 milhões de hectares e são aproximadamente 287 mil produtores, em 1900 municípios, concentrados principalmente nos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, São Paulo, Bahia, Rondônia e Goiás. Vamos ver como funciona uma fazenda de café? Confira no site relacionado a seguir: Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NMYm1qxxFJ0>. NOTA UNIDADE 1 | CONHECENDO O CAFÉ – SUA ORIGEM, CLASSIFICAÇÃO E MÉTODOS DE PREPARO 16 LEITURA COMPLEMENTAR TIPOS DE CAFÉS E PRODUÇÃO NO BRASIL A produção de café arábica se concentra em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Bahia e parte do Espírito Santo, enquanto o café robusta é plantado principalmente no Espírito Santo e Rondônia. As principais regiões produtoras no Estado de São Paulo são a Mogiana, Alta Paulista Região de Piraju. Uma das mais tradicionais regiões produtoras de café, a Mogiana está localizada ao norte do estado, com cafezais a uma altitude que varia entre 900 e 1.000 metros. A região produz somente café da espécie arábica, sendo que as variedades mais cultivadas são o Catuaí e o Mundo Novo. Localizada na região oeste do estado, a Alta Paulista tem uma altitude média de 600 metros. A região é produtora de café arábica, sendo que a variedade mais cultivada é a Mundo Novo. A região de Piraju, a uma altitude média de 700 metros, produz café arábica, com cerca de 75% sendo da variedade Catuaí, 15% da variedade Mundo Novo e 10% de novas variedades, como Obatã, Icatu, entre outras. Em Minas Gerais, as principais regiões produtoras são: Cerrado Mineiro, Sul de Minas, Matas de Minas e Jequitinhonha. A altitude média do Cerrado Mineiro é de 800 metros e dentre o café arábica cultivado, a predominância é de plantas das variedades Mundo Novo e Catuaí. O Sul de Minas também produz apenas café arábica e a altitude média é de aproximadamente 950 metros. As variedades mais cultivadas são o Catuaí e o Mundo Novo, mas também há lavouras das variedades Icatu, Obatã e Catuaí Rubi. A região das Matas de Minas e Jequitinhonha está a uma altitude média de 650 metros e possui lavouras de arábica das variedades Catuaí (80%), Mundo Novo, entre outras. O Paraná chegou a ter 1,8 milhão de hectares dedicados ao cultivo de café. Hoje esse número é de apenas 156 mil hectares, mas o café ainda está presente em aproximadamente 210 municípios do estado e é responsável por 3,2% da renda agrícola paranaense. O café é cultivado nas regiões do Norte Pioneiro, Norte, Noroeste e Oeste do Estado. As áreas de cultivo são muito extensas, o que justifica a grande variação de altitudes. A altitude média é de aproximadamente 650 metros, sendo que na região do Arenito, próximo ao rio Paraná, a altitude é de 350 metros e na região de Apucarana chega a 900 metros. No Estado é cultivada a espécie arábica e as variedades predominantes são Mundo Novo e Catuaí. A cafeicultura na Bahia surgiu a partir da década de 1970 e teve uma grande influência no desenvolvimento econômico de alguns municípios. Há atualmente três regiões produtoras consolidadas: a do Planalto, mais tradicional produtora de café arábica; a Região Oeste, também produtora de café arábica, sendo uma região de cerrado com irrigação e a Litorânea, com plantios predominantes do café robusta (variedade Conillon). Na Região Oeste, um número expressivo de empresas utilizando alta tecnologia para café irrigado vem se instalando, contribuindo, assim, para a expansão da produção em áreas não tradicionais TÓPICO 1 | LENDA E HISTÓRIA DO CAFÉ NO BRASIL E NO MUNDO 17 de cultivo e consolidando a posição do Estado como o quinto maior produtor com, aproximadamente, 5% da produção nacional. No parque cafeeiro estadual predomina a produção de café Arábica com 76% da produção (com 95% sendo da variedade Catuaí) contra 24% de Café Robusta. No Espírito Santo, os principais municípios produtores são Linhares, São Mateus, Nova Venecia, São Gabriel da Palha, Vila Valério e Águia Branca. O café foi o produto responsável pelo desenvolvimento de um grande número de cidadesno Estado. São cultivadas no estado as espécies arábica e robusta (Conillon), tendo sido marcante a produção desta última, que se expandiu principalmente nas regiões baixas, de temperaturas elevadas. Atualmente, as lavouras de robusta ocupam mais de 73% do parque cafeeiro estadual e respondem por 64,8% da produção brasileira da variedade. O Estado coloca o Brasil como segundo maior produtor mundial de Conillon. No Estado de Rondônia a produção de café está concentrada nas cidades de Vilhena, Cafelândia, Cacoal, Rolim de Moura e Ji-Paraná. No cenário nacional, Rondônia representa o sexto maior estado produtor e o segundo maior estado produtor de café Robusta, com uma área de 165 mil hectares e uma produção de 2,1 milhões de sacas, constituídas exclusivamente pelo café robusta (variedade Conillon). FONTE: Disponível em: <http://www.viladoartesao.com.br/blog/o-cafe-brasileiro-na-atualidade/>. Acesso em: 16 fev. 2018. 18 Neste tópico, você aprendeu que: • O café é uma bebida muito consumida no mundo inteiro, tem sua origem na África e foi nos trópicos que encontrou o ambiente ideal para o seu cultivo. • Até o século XVIII o café era considerado uma preciosidade pelo povo árabe e eram os únicos que cultivavam a planta e dominavam a produção da bebida. No decorrer do mesmo século, o café ganhou importância e dominou o cenário do mercado internacional, tornando-se bebida de luxo, conquistando inicialmente a França, Inglaterra e Estados Unidos. • O café chegou a região norte do Brasil, por volta do ano de 1727, trazido da Guiana Francesa para o Brasil pelo então Sargento-Mor Francisco de Mello Palheta a pedido do governador do Maranhão e Grão-Pará. • Por volta do ano de 1820, o cultivo do fruto já dominava a agricultura e igualmente o comércio brasileiro. • O Brasil responde atualmente por um terço da produção mundial de café, quantidade que o classifica como maior produtor mundial, posto que ocupa há mais de 150 anos, ficando em segundo lugar entre os países consumidores da bebida. RESUMO DO TÓPICO 1 19 1 Em um intervalo de tempo relativamente curto, o café conquistou a posição de produto-base da economia brasileira desenvolvendo-se com total independência, apenas com recursos nacionais, tornando-se a primeira realização exclusivamente brasileira visando à produção de riquezas. Com base na leitura do Tópico 1 deste livro de estudos. Quais são as condições que tornaram o Brasil um grande produtor e exportador de café? 2 Com base na leitura do tópico responda o que torna a cafeicultura brasileira uma das mais exigentes do mundo? AUTOATIVIDADE 20 21 TÓPICO 2 CONHECENDO A PLANTA E OS GRÃOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Nesse tópico conheceremos um pouco sobre a planta do café, suas classificações e variedades. Abordaremos ainda questões sobre qualidade dos grãos, suas características e defeitos além de algumas organizações que determinam a pureza dos grãos. 2 A PLANTA CAFÉ A planta café da família botânica das Rubiaceae, possui o nome popular de cafeeiro e sua nomenclatura científica é Coffea Arábica L. 2.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA PLANTA É um arbusto que atinge até 10 metros de altura, no entanto, e de forma a permitir um melhor manuseamento, o arbusto é podado, atingindo ao seu máximo em torno de 2,5 a 3 metros de altura. Possui caule reto de casca cinza e aparência rugosa com ramos laterais pendentes. As folhas da planta são onduladas nos bordos e de coloração verde-acinzentada quando jovens, e verde-brilhante posteriormente. As flores são de coloração branca e acomodam-se aglomeradas ao longo dos ramos, são altamente aromáticas e atrativas para polinização, a seguir observe as características do fruto e do cultivo: • Fruto: o fruto apresenta forma oval de cor verde, que conforme vai amadurecendo adquire coloração de vermelho a preto. Tem a casca lisa e brilhante, e contém sementes de coloração acinzentada, branco-amarelada ou amarelo-esverdeada, envoltas por polpa adocicada de cor branca. • Cultivo: a planta tem preferência por climas amenos, não suportando geadas. Necessita de solos férteis, devidamente drenados e arejados para que possa crescer e se desenvolver, preferindo os locais sombreados. a) Aspectos botânicos O cafeeiro é uma planta perene, dicotiledônea, de porte arbustivo com caule lenhoso, folhas persistentes e flores hermafroditas, pertencente ao gênero Coffea que, juntamente com o gênero Pslanthus, forma a subtribo Coffeinae, família Rubiaceae. Existem relatos de sessenta espécies já classificadas de coffea. A maioria em estado silvestre e encontradas nas zonas intertropicais da África, Insulindia, Malásia. UNIDADE 1 | CONHECENDO O CAFÉ – SUA ORIGEM, CLASSIFICAÇÃO E MÉTODOS DE PREPARO 22 Você sabia que a planta do café demora cerca de 3 a 4 anos para amadurecer? Além de demorar tanto tempo para atingir a maturidade, a planta produz não mais de 1 a 2 quilos de grãos de café por colheita. IMPORTANT E 2.1.1 A semente Você sabia que a semente de café é na verdade o mesmo grão que dá origem ao café torrado? A diferença está na forma em que a semente é plantada e dos cuidados posteriores com a colheita. O fruto maduro do cafeeiro é conhecido como cereja, e as sementes se originam apenas da cereja. Em seguida, após serem colhidos, esses frutos deverão ser lavados, despolpados (retirada da casca e da polpa) e secos até atingirem aproximadamente de 15 a 20% de umidade, condição que os torna aptos para o semeio. O semeio do café ocorre entre os meses abril e julho, sendo a semeadura direta a mais usada, que consiste em colocar duas sementes (cada cereja agrupa, geralmente, duas sementes). Por vaso e após a germinação deixa-se apenas uma. Após 45 dias, a semente que apresentar o melhor desenvolvimento deverá permanecer, enquanto a outra semente é descartada. Possuindo sistema radicular já estabelecido e atingindo ao menos três pares de folhas é então feita a seleção e o plantio definitivo. Quando a cereja apresenta apenas uma semente o café chama-se MOKA. 2.1.2 As flores As flores do cafeeiro são brancas e possuem apenas cinco pétalas, similares as flores do jasmim e da laranjeira em aspecto e odor. A figura a seguir, ilustra o processo da planta até o pó de café que temos em nossas casas: FIGURA 5 – DA PLANTA À MESA FONTE: Disponível em: <https://www.pinterest.cl/pin/61108224315 8369817/?autologin=true>. Acesso em: 16 fev. 2018. TÓPICO 2 | CONHECENDO A PLANTA E OS GRÃOS 23 Como você pode observar na figura acima, existem diversos passos até o café chegar quentinho em nossas mesas, em alguns locais a cultura dos grãos ainda é feita de maneira manual e o plantio é bastante burocrático, o que faz com que o preço do café não seja assim tão baixo. 2.1.3 Condições para cultivo Algumas exigências climáticas se fazem essenciais no plantio do café. Recomenda-se que a planta seja cultivada em altitudes entre 450 a 800 metros e em clima ameno, com temperaturas entre 18 a 22 ºC para o café arábica e temperaturas entre 22 a 26 ºC e altitude de até 450 metros para o café robusta (veremos a classificação dos grãos logo em seguida). Em relação a chuvas, precipitações anuais de 600 a 1500 mm são suficientes para a cultura quando bem distribuídas. O solo não deverá possuir características pedregosas ou ser excessivamente arenoso. Nesse caso, a planta não irá se desenvolver. Deve possuir uma profundidade mínima de 1 metro, ser fértil e ter boa drenagem. O café é uma cultura que é explorada por um longo período de tempo pelo menos 25 anos, durante esse período devem-se preservar as características do solo para que a planta possa crescer e se desenvolver. O arbusto produz em média 2,5 kg de frutos por ano que irão render em torno de 0,5 kg de café verde (grãos). Considerando a retirada de grãos defeituosos, pode-se estimar que essa quantidade de 0,5 kg de café verde dê origem a aproximadamente 0,4 kg de café torrado. IMPORTANT E Até chegar em nossa mesa, o café precisa passarpor diversos processos que envolvem atividades humanas e naturais, essas atividades envolvidas desde a escolha da semente até o ensacamento dos grãos podem ser observadas no fluxograma a seguir: UNIDADE 1 | CONHECENDO O CAFÉ – SUA ORIGEM, CLASSIFICAÇÃO E MÉTODOS DE PREPARO 24 FIGURA 6 – FLUXOGRAMA ATIVIDADES HUMANAS SELEÇÃO DE SEMENTES SEMEADURA EM GERMINADORES COLOCAÇÃO DAS MUDAS EM SAQUINHOS PROTEÇÃO DO CAFEEIRO CONTRA PRAGAS, PESTES E ERVAS DANINHAS PREPARAÇÃO DO SOLO PARA TRANSPLANTE TRANSPLANTE DAS MUDAS OUTROS CUIDADOS CULTURAIS COLHEITA (DERRIÇA) LIMPEZA E PREPARAÇÃO SECAGEM ARMAZENAGEM BENEFICIAMENTO SEPARAÇÃO CLASSIFICAÇÃO ENSACADO ADUBAÇÃO DO CAFEEIRO GERMINAÇÃO DAS MUDAS DESENVOLVIMENTO VEGETATIVO FLORAÇÃO FRUTIFICAÇÃO ATIVIDADES NATURAIS FONTE: Disponível em: <http://br.monografias.com/trabalhos908/gestao-qualidade-cafe/ gestao-qualidade-cafe2.shtml>. Acesso em: 16 fev. 2018. Como se pode observar através do fluxograma, o processo de plantio e beneficiamento do café não é tarefa simples e deve ser realizado com muito cuidado e zelo a fim de garantir um grão de qualidade. TÓPICO 2 | CONHECENDO A PLANTA E OS GRÃOS 25 3 O GRÃO DE CAFÉ Não podemos generalizar o grão de café como sendo de um único tipo. Existem diversos tipos e qualidades de grãos de café, conforme estudaremos. 3.1 OS DIFERENTES GRÃOS DE CAFÉ Vamos conhecer os diferentes tipos e variedades dos grãos de café existentes, seus diferenciais e principais características quanto ao cultivo, sabor e aspectos visuais. 3.1.1 Grão tipo arábica Originária da Etiópia, a planta que dá origem a este tipo de grão apresenta uma excelente qualidade. Deve ser plantada em lugar alto (a altitude do local do cultivo faz muita diferença na qualidade do café produzido) quanto mais alto, melhor a qualidade do grão. Os grãos de café arábica cultivados no Brasil são geralmente plantados a 1200 metros de altitude. O café feito com grãos de Arábica possui maior acidez, uma coloração mais clara e seu sabor costuma ser peculiar e bastante marcante. Esse tipo de grão é ideal para a produção das bebidas gourmet. Vamos conhecer algumas variedades desse grão? Variedades do grão do tipo arábica: • Café Bourbon Sua principal característica é o sabor adocicado, com notas aromáticas que lembram o caramelo, possuem uma textura achocolatada, acidez média e o aroma forte. • Café kona Cultivada no distrito de Kona, Havaí, onde o clima e o solo são ideais para as plantações de grãos tipo arábica, especialmente as áreas próximas aos vulcões Mauna Loa e Hualalai, a bebida feita com grãos de Kona é muito elogiada por apreciadores de cafés gourmet. Há quem considere este o melhor café do mundo. • Café catuaí É um tipo de grão plantado a pelo menos mil metros de altitude e amplamente cultivado no Brasil. O café do tipo Catuaí apresenta acidez moderada, e para apreciadores da bebida, pode dispensar a adição de açúcar. UNIDADE 1 | CONHECENDO O CAFÉ – SUA ORIGEM, CLASSIFICAÇÃO E MÉTODOS DE PREPARO 26 • Café acaiá O café do tipo acaiá é ideal para quem aprecia um café suave e frutado, apresenta um leve sabor achocolatado e acidez média. Para um sabor mais forte e corpo intenso, este café pode ser harmonizado em um blend com grãos do tipo café bourbon. 3.1.2 Grão tipo robusta A planta Coffea Ccnephora é originária da África Ocidental e cultivada no Brasil e em diversos outros países. O café feito com este tipo de grão apresenta cor intensa, uma maior quantidade de cafeína e amargor mais pronunciado. Esta variedade se desenvolve com facilidade em regiões de clima quente e úmido e em baixas altitudes (até 600 metros), o que facilita o cultivo. O grão originário desta planta apresenta maior resistência a pragas do que o grão do tipo arábica, razão que viabiliza o cultivo desse tipo de grão economicamente. As bebidas preparadas com estes grãos apresentam finalização prolongada, podem apresentar sabor achocolatado e um teor de cafeína que pode variar entre 2 e 4,5%. Um dos empregos mais comuns dos grãos de robusta é nos cafés instantâneos. A adição destes grãos faz com que o café fique mais encorpado, com tonalidade mais escura e com amargor mais pronunciado (típico café apreciado no Brasil). Café robusta é uma denominação generalizada que une as variedades da espécie Coffea canephora. Atualmente, o grão é cultivado em alguns países da África Central e Ocidental, no sudeste da Ásia e também na América do Sul, mas a espécie é nativa das florestas baixas da África equatorial. Sua utilização é mais comum no preparo de blends ou misturas, nas quais é adicionado ao café arábica, podendo compor até 50% do produto final. Por possuir maior teor de sólidos solúveis que o café arábica e apresentar maior rendimento após o processo de torrefação, esse tipo de grão é componente essencial dos cafés solúveis, por exemplo, conillon, apoatã, guarini, robusta, laurenti (MALAVOLTA; YAMADA; GUIDOLIN, 1981). A diferença entre os dois grãos é visível e pode ser observada na figura a seguir: FIGURA 7 – DIFERENÇA ENTRE OS GRÃOS DE CAFÉ DO TIPO ARÁBICA E ROBUSTA Arábica Robusta FONTE: Disponível em: <http://www.cultivando.com.br>. Acesso em: 16 fev. 2018. TÓPICO 2 | CONHECENDO A PLANTA E OS GRÃOS 27 A diferença de coloração e estrutura morfológica do grão de café arábica para o grão de café robusta é bastante acentuada. 4 CLASSIFICAÇÕES DO CAFÉ O café pode assumir diversas classificações tendo em vista suas condições de plantio, tipos de grãos, quantidade de defeitos dos grãos e aspectos organolépticos. Veremos algumas dessas classificações. • Café tradicional O café tradicional pode ser exclusivamente feito de grãos arábica ou pode ser uma mistura (blend) de grãos arábica com grãos robusta, esse último com limite de até 30% no blend, e pode possuir até 20% de defeitos PVA (pretos, verdes e ardidos). • Café superior Os cafés superiores são cafés com alto valor agregado e constituídos de 85% de grãos arábica e no máximo de 10% de defeitos PVA (pretos, verdes e ardidos). • Café gourmet ou café premium Esse tipo de café é raro e possui valor agregado elevado devido à alta qualidade e características únicas dos grãos. Em sua composição, é estabelecido que só pode haver grãos arábica e esses tipos de grãos não podem apresentar defeitos PVA (pretos, verdes e ardidos). • Café especial Os cafés especiais são constituídos por 100% de grãos arábica, tem origem controlada e são cultivados em plantações acima de 800 metros de altitude. O café especial pode possuir, no máximo, 12 defeitos por 300 gramas de café. São equilibrados entre doçura, amargor e acidez e tem sabor marcante inigualável. • Defeitos comuns dos grãos de café Os grãos de café podem apresentar defeitos diversos em suas estruturas. Esses defeitos interferem diretamente na qualidade e no tipo do café. Veremos abaixo alguns dos defeitos mais comuns encontrados nos grãos de café. UNIDADE 1 | CONHECENDO O CAFÉ – SUA ORIGEM, CLASSIFICAÇÃO E MÉTODOS DE PREPARO 28 4.1 CLASSIFICAÇÃO POR TIPOS DE DEFEITOS A classificação por tipos de defeitos consiste em categorizar o café de acordo com o número de grãos que são defeituosos e imperfeitos. Esta amostragem é feita numa pequena quantidade (amostra) de café beneficiado (geralmente amostras de 300 gramas). O texto a seguir, escrito por Patrícia Nasser (ANO), no site Mexido de ideias, aborda os defeitos do café e suas classificações: • De natureza intrínseca: são grãos imperfeitos, avariados pela má aplicação de processos agrícolas, de secagem e/ou beneficiamento (grãos pretos, ardidos, verdes, mal granados, quebrados, brocados, entre outros). • De natureza extrínseca: são os elementos estranhos ao café beneficiado (como cascas, paus, pedras etc.). Alguns dos defeitos mais comuns estão listados a seguir: • Preto: grão ou pedaço de grão de coloração preta opaca. • Pedras: residuais de pedras e outros sólidos nos grãos. • Marinheiro: grão que nobenefício, o pergaminho (película que recobre o fruto do café, que se encontra entre ele e a casca) não foi total ou parcialmente retirado. • Pau médio: residuais de galhos e madeira. • Brocados: grão danificado pela broca do café (parasita dos cafezais) apresentando um ou mais orifícios limpos ou sujos. • Casca pequena: cascas de café, colheita por derriça no chão e abanação malfeita. • Ardido: grão ou pedaço de grão que apresenta a coloração marrom, em diversos tons, devido à ação de processos fermentativos. • Chocho: adubação malfeita, pouca irrigação e fatores genéticos ou fisiológicos • Malgrenado: grão com formação incompleta apresentando-se com pouca massa e, às vezes com a superfície enrugada. • Conchas: defeito genético resultante da separação de grãos imbricados oriundos da fecundação de dois óvulos em uma única loja do ovário. • Quebrados: pedaço de grão de forma ou tamanho variado. • Verdes: grão imaturo com película prateada aderida com sulco ventral fechado e de coloração verde em tons diversos. FONTE: Disponível em: <http://www.mexidodeideias.com.br/industria/os-defeitos-do-cafe-e-suas- classificacoes/>. Acesso em: 16 fev. 2018. Podemos observar alguns dos defeitos mais comuns nos grãos de café na figura a seguir: TÓPICO 2 | CONHECENDO A PLANTA E OS GRÃOS 29 FIGURA 8 – DEFEITOS MAIS COMUNS NOS GRÃOS DE CAFÉ IMPUREZAS E GRÃOS IMPERFEITOS PRETOS CASCAS GRANDES CASCAS PEQUENAS BROCADOS CONCHAS 4 DEFEITOS 2.100 DEFEITOS ARDIDOS MARINHEIROS PEDRAS E TORRÕES PAUS VERDES COCOS QUEBRADOS CHOCOS FONTE: Disponível em: <https://reservagourmet.files.wordpress.com/2014/06/defeitos-cafe. jpg?w=540>. Acesso em: 16 fev. 2018. Além dos tipos de defeitos devemos observar também a classificação do café quanto aos defeitos intrínsecos e extrínsecos. A Tabela a seguir mostra como é realizada a somatória dos defeitos em uma amostra de aproximadamente 300 gramas do grão. TABELA 1 – CLASSIFICAÇÃO DOS GRÃOS DE CAFÉ EM RELAÇÃO AOS DEFEITOS Tabela de Classificação do Café (tipos referem-se à somatória dos defeitos em uma amostra de 300g de café em grãos) 1 grão preto 1 defeito 1 pedra, pau ou torrão grande 5 defeitos 1 grão preto 2 defeitos 1 pedra, pau ou torrão regular 1 defeito 1 grão preto 1 defeito 1 pedra, pau ou torrão pequeno 1 defeito 1 coco 1 defeito 1 casca grande 1 defeito 2 ardidos 1 defeito 2 marinheiros 1 defeito 2 a 3 cascas pequenas 1 defeito 2 a 5 brocados 1 defeito UNIDADE 1 | CONHECENDO O CAFÉ – SUA ORIGEM, CLASSIFICAÇÃO E MÉTODOS DE PREPARO 30 3 conchas 1 defeito 5 verdes 1 defeito 5 quebrados 1 defeito 5 chocos ou mal granados 1 defeito FONTE: Disponível em: <http://www.reservagourmet.com.br/conteudo/os-defeitos-do-cafe- e-sua-classificacao/59>. Acesso em: 16 fev. 2018. 5 CARACTERÍSTICAS DO CAFÉ Sabor, aroma e corpo são as três características básicas e fundamentais para a classificação e apreciação do café, mas ainda encontramos outras não menos importantes: • Acidez: é responsável por dar brilho ao café e estimular a salivação ao primeiro contato da bebida com a língua. É a sensação percebida nas laterais da língua, que pode ser mais ou menos intensa. O ponto de torra influencia diretamente na acidez do café, pois qualquer que seja a acidez que um tipo de café naturalmente possua, esta característica será exaltada quanto mais clara for a torra. Do contrário, quanto mais escura for a torra menor será a acidez. A acidez desejável deverá ser fresca e cítrica. Um café com sabor azedo é geralmente resultado de grãos colhidos verdes ou com defeitos. • Amargor: percebido no fundo da língua e na garganta, onde as papilas gustativas são mais salientes, é o gosto produzido pela cafeína, é o contraponto da doçura. Um elevado gosto amargo pode ser resultado de grãos de baixa qualidade, torra exacerbada ou ainda, fruto de um preparo inadequado. • Corpo: o corpo pode ser definido como a viscosidade e a oleosidade. É a sensação de persistência no paladar causada na boca após beber o café. O café pode variar em sem corpo, corpo leve, bom corpo ou encorpado dependendo da variedade ou do blend. Quanto maior a viscosidade na boca, maior o corpo, quanto mais leve e delicado menor o corpo. Nesse caso a influência da torra e da moagem também é direta. O corpo do café será mais leve quando o grão passar por uma torra mais clara, ficando mais encorpado em pontos de torra mais escuros. Em relação a influência da moagem veremos mais adiante. • Doçura: a doçura pode ser percebida na ponta da língua, é uma característica encontrada em cafés de qualidade superior, como cafés gourmet ou especiais, o que pode dispensar a adição de açúcar. Já os cafés preparados com excesso de grãos verdes, pretos ou ardidos apresentam doçura baixa ou nula. • Aroma: são os elementos perceptíveis através do olfato. O café pode ter aroma de nozes, frutado, amêndoas, malte, cereal, caramelo, achocolatado ou florado. Quanto menor a acidez, mais intenso se torna o aroma, por esse motivo, cafés gourmet finos de alta qualidade possuem aroma pronunciado. TÓPICO 2 | CONHECENDO A PLANTA E OS GRÃOS 31 • Sabor: o sabor do café pode ser definido como a união das sensações de gosto doce, salgado, amargo e ácido com aromas de chocolate, caramelo, cereal torrado, que formam o sabor característico do café. Quando o café apresenta sabores estranhos, como de terra, cigarro ou queimado, provavelmente possui grãos de baixa qualidade, torra exacerbada e é considerado indesejável. • Sabor residual (aftertaste): é a sensação percebida após a degustação do café. É o sabor residual que permanece na boca. Café de boa qualidade costuma deixar um sabor que lembra chocolate ou caramelo. Se o sabor residual lembrar queimado cigarro, borracha ou qualquer sabor estranho, não pode ser considerado um café de qualidade. Os provadores avaliam a permanência do sabor, ou seja, quanto tempo leva desde as primeiras sensações aromáticas na garganta até o fim dessa sensação. • Adstringência: é a sensação de secura percebida na boca após a ingestão do café. Não deve ser exacerbada. Sabe aquele copinho de água que as cafeterias servem junto com o café expresso? Ela serve para limpar o paladar para a degustação do café, e deve ser servida na temperatura ambiente. Muitas pessoas bebem a água a fim de retirar o gosto de café após ingerirem a bebida, o que pode até mesmo ser considerado uma ofensa a apreciadores de um bom café. NOTA Tome café: pesquisas realizadas demonstram que o café pode diminuir o declínio cognitivo. Vários estudos mostraram que o consumo moderado de café reduz substancialmente o risco de doenças neurodegenerativas como doença de Alzheimer, Parkinson, além de prevenir doenças cardíacas, cirrose no fígado, gota, e ainda a diabetes Tipo 2. DICAS UNIDADE 1 | CONHECENDO O CAFÉ – SUA ORIGEM, CLASSIFICAÇÃO E MÉTODOS DE PREPARO 32 LEITURA COMPLEMENTAR Kopi Luwak, o café mais raro e exótico do mundo O café mais raro do mundo se chama Kopi Luwak e vem da Indonésia. Uma xícara chega a ser vendida por 80 dólares nos Estados Unidos. Apesar do preço, o local de cultivo desse café não é exatamente nobre: ele é colhido no cocô de um animalzinho chamado civeta. Os civetas são pequenos mamíferos da floresta, que lembram o cruzamento de uma raposa com um gato. “Kopi Luwak” significa “café de civeta” em indonésio, “O segredo do sabor”. Há duas boas razões para buscar as sementes de café nas fezes dos bichinhos em vez de colher diretamente na planta. A primeira é que eles são muito melhores do que a gente para escolher os melhores grãos. Os civetas são especialistas em achar os grãos mais saborosos e maduros. Como bons gourmets, só comem grãos de melhor qualidade. A segunda razão é que o estômago dos bichinhos não digere as sementes de café. Ao percorrer o trato digestivo deles, as sementes absorvem alguns dos ácidos e enzimas dos civetas e ocorre uma fermentação. Isto deixa as sementes com um sabor suave e sem amargor. E que sabor! Para a cafeteria
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