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1 2 APRESENTAÇÃO No presente capítulo você terá disponível conhecimentos e ferramentas para elaboração de um plano de intervenção, especialmente tratando de seu desenho. A intervenção, implementação da linha de cuidado definida prioritariamente, deverá considerar uma das quatro linhas de cuidado definidas na programação do Curso, a saber: Linha de Cuidado da Hipertensão, Linha de Cuidado do Diabetes, Linha de Cuidado da gestante, parto e puérpera e Linha de Cuidado da criança. O capítulo está organizado de forma que você possa: Relembrar os conteúdos tratados na FASE I e compreender os objetivos da FASE II; Elaborar o plano de ação para implementação da Linha de Cuidado priorizada a partir de: Breve Contextualização teórica do Planejamento Estratégico Situacional - PES; Apresentação de Ferramentas para realização do PES: A árvore de problemas/Árvore de decisão; Conceitos para priorização de problemas; e Modelo Lógico da Intervenção para sistematização esquemática das ações e estratégias. 3 CONTEÚDOS TRATADOS NA FASE I E OS OBJETIVOS DA FASE II É importante relembrar quantas fontes de informação temos para consulta. Neste curso tratamos de explorar a espiral construtivista da seguinte maneira: Figura 01 – Estratégia pedagógica do Curso de Gestão da Clínica segundo espiral construtivista OSB: Elaborado pelos autores e inspirado em Lima, 2017 A Fase I foi composta de três módulos: Módulo A - Regionalização em saúde e organização de redes assistenciais; Módulo B - Gestão da Clínica e Regulação: o papel do profissional de saúde como gestor do cuidado; Módulo C - Linhas do Cuidado 4 Iniciamos nosso curso (Bloco A1) fortalecendo nosso conhecimento com relação aos princípios e componentes do Sistema Único de Saúde – SUS. Perpassamos também pelos conceitos de acesso, integralidade e integração de serviços em rede, tão importantes e necessários em nosso cotidiano no SUS. Afinal, o SUS é um sistema universal de saúde e sua defesa acontece não somente nas lutas política e econômica, mas também nas lutas diárias de nosso dia-a-dia. Entendemos Acesso a partir de sua estrutura triangular conceitual que abrange: i) a disponibilidade da oferta de serviços em tempo oportuno; ii) a aceitabilidade – grau de adequação entre as atitudes dos prestadores de serviços e dos indivíduos; e iii) a viabilidade financeira – interação entre custos (diretos ou indiretos) e a “capacidade” de pagamento das famílias. A Integralidade como definição legal e institucional é concebida como um conjunto articulado de ações e serviços de saúde, preventivos e curativos, individuais e coletivos, em cada caso, nos níveis de complexidade do sistema1. E, na prática, podemos conceber a integralidade a partir de algumas perspectivas: a) individual – entender a pessoa como um todo e um ser bio-psico-social; b) oferta de serviços – ações de promoção, prevenção, assistência e recuperação; c) níveis de atenção – primário, secundário, terciário; d) associação de saberes – multidisciplinaridade e equipe multiprofissional; e por fim e) interinstitucional e intersetorial – entre UBS e hospitais, entre setor saúde e educação, por exemplo. Adentramos então no conceito de integração, afinal não promoveremos acesso e integralidade se não integrarmos pessoas, processos, instituições, serviços, conhecimentos e objetivos. Já no segundo Bloco (A2) discorremos sob a temática da Rede de Atenção em Saúde – RAS que pretendem, a partir do conceito de regionalização em saúde, favorecer a integralidade e a equidade e otimizar recursos para garantia da saúde em sua concepção ampliada e de direito de cidadania. A RAS é um espaço geográfico contínuo por agrupamentos de municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transporte compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde. A estrutura operacional da RAS permitiu então reconhecer seus componentes e respectivas derivações. Assim, tratamos dos serviços por níveis de atenção (APS – Atenção Primária à Saúde, Atenção Secundária e Terciária), dos Sistemas de Apoio ( Apoio Diagnóstico, Farmácia, 1 http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/intsau.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/intsau.html 5 Telessaúde e Sistemas de Informação), dos Sistemas Logísticos (Cartão do Usuário, Prontuário Clínico, Regulação e Transporte Sanitário) e da Governança (líderes, gestores, gerentes articulados no processo de Contratualização). Em nossa primeira Síntese Reflexiva lhes apresentamos a Matriz SWOT ou Matriz FOFA, ferramenta do planejamento estratégico utilizada para auxiliar pessoas, grupos e organizações a identificarem suas Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças. Neste exercício, desejamos provocá-los a refletirem sobre a RAS de sua região, distinguir seus pontos fortes e pontos fracos para uma assistência integral, humanizada, no tempo oportuno e a um custo razoável. Em meados do mês de novembro de 2019, iniciamos o Módulo B e lhes apresentamos as temáticas da Gestão da Clínica, da Regulação em Saúde e das Linhas de Cuidado. A Gestão da Clínica pode ser definida como um conjunto de tecnologias de migrogestão, destinado a prover uma atenção de saúde de qualidade que deve ser orientada para as necessidades das pessoas, efetiva e segura, eficiente e oportuna, equitativa e humanizada. Transformar as práticas da atenção, gestão e de educação para uma saúde de qualidade requer tomada de decisão, mobilização de pessoas e recursos e organização das responsabilidades e práticas em prol de objetivos comuns e coletivos. E, a partir da implementação das ferramentas de microgestão da Gestão da Clínica (Diretrizes Clínicas - Protocolos Clínico e Linhas de Cuidado, lista de espera, auditoria clínica e gestão do caso e da condição de saúde) espera-se reconhecer as necessidades da população, implantar planos de cuidados para indivíduos e grupos populacionais respeitando singularidades e especificidades, atender às demandas de forma sustentável e estimular sujeitos a serem agentes protagonistas e corresponsáveis por sua saúde. Já os processos regulatórios em saúde procuram reduzir as falhas entre produção e distribuição de serviços e entre acesso e uso dos mesmos, a partir de seus componentes normativo (Leis, portarias, regulamentos) e operacional (ações técnicas de orientação, fiscalização, controle, avaliação e auditoria). Para tanto, faz-se necessário conhecer os problemas de saúde da população (condições de morbimortalidade), definir critérios de acesso ao serviço, estabelecer protocolos de transferência de cuidados e de contra referência, atribuir ações e responsabilidades com relação à saúde da população adscrita em seu território entre níveis de gestão (municipal, estadual e federal), entre níveis de atenção (primário, secundário e terciário) e entre serviços (UBS, hospitais, centros de especialidade, SAMU etc). Por fim, a Linha de Cuidado foi inserida entre os conteúdos abordados no Módulo B e o conceito apresentado foi: “...a imagem pensada para expressar os fluxos assistenciais 6 seguros e garantidos ao usuário, no sentido de atender às suas necessidades de saúde. É como se ela desenhasse o itinerário que o usuário faz por dentro de uma rede de saúde...não funciona apenas por protocolos estabelecidos, mas também pelo reconhecimento de que os gestores dos serviços podem pactuar fluxos, reorganizando o processo de trabalho, a fim de facilitaro acesso do usuário às unidades e serviços aos quais necessita.” (Franco & Franco, s/dt). E quando tratamos das Linhas de Cuidado, uma das ferramentas da migrogestão da Gestão da Clínica, gostaríamos que pudessem reconhecer os fluxos assistenciais estabelecidos em suas respectivas regiões de saúde (área territorial, população adscrita, serviços e tecnologias sob sua responsabilidade). Ademais, esperamos reflexão de seu papel na implementação das Linhas de Cuidado, considerando seu contínuo e poderoso papel transformador das relações, das práticas e dos resultados em saúde. E exatamente por isso, a partir da Matriz SWOT, estimulamos vocês a pensarem Oportunidades e Ameaças no processo de cuidado em saúde em suas regiões durante o exercício da segunda Síntese Reflexiva. Chegamos então ao Módulo C, último da FASE I, apresentando-lhes conhecimentos técnicos e específicos para as quatros linhas de cuidado prioritárias neste curso. Os capítulos deste módulo pretendem ser textos que nos subsidiarão tecnicamente na nova etapa que iniciamos. Nestes capítulos não tivemos pretensão em tratar todos os componentes, etapas e ações para implantação das Linhas de Cuidado. Reconhecemos que muito a que se discutir e esperamos fazê-lo a partir de suas experiências com relação ao processo de organização dos serviços, as ações de cuidado da enfermagem, do trabalho multiprofissional (profissionais da fisioterapia, terapia ocupacional, odontologia, psicologia e farmácia dentre outras), das iniciativas de prevenção e promoção da saúde no âmbito das enfermidades e de seus fatores de risco, bem como experiências exitosas que possam conosco compartilhar. E na Síntese Reflexiva do Módulo C trabalhamos uma Matriz SWOT para cada Linha de Cuidado. Cada um de vocês elaborou e apresentou seus argumentos, organizando-os em Pontos Fortes e Fracos do diagnóstico da RAS e do processo de cuidado para aquela especialidade. E, finalizou a matriz em suas Oportunidades e Ameaças para sustentar a priorização daquela linha de cuidado. Posteriormente, tomou-se a decisão de qual linha de cuidado priorizar naquela região. Esperamos com isso que tenham escolhido a Linha de Cuidado com maior força, oportunidade e viabilidade de intervenção. 7 Parabéns àqueles que finalizaram a Fase I. E, muito bem-vindos à nova etapa do curso. Chegamos à Fase II quando o subsidiaremos e o estimularemos a exercer o seu papel transformador. Mãos à Obra!!!!! Na Fase II temos os seguintes objetivos: Módulo D - Construção/detalhamento do plano de intervenção Apoiar a elaboração do Plano de Ação para implementação da linha de cuidado priorizada; Apoiar a elaboração do Modelo Lógico do Plano de Ação da intervenção Módulo E - Construção/detalhamento do plano de monitoramento e avaliação da intervenção Apoiar à elaboração do plano de monitoramento e avaliação da linha de cuidado priorizada Elaborar o plano de ação para implementação da linha de cuidado priorizada Nesta fase pretendemos que sejam desenvolvidas habilidades para escolha do problema a ser priorizado, para o desenho das intervenções a serem realizadas e para análise de sua viabilidade. Especificamente no Bloco D, apresentar-lhe-emos ferramentas a exemplo da “Árvore de Problemas”, das “Variáveis de Planejamento” e do “Modelo Lógico”. Não pretendemos que se torne um especialista em Planejamento Estratégico Situacional - PES, nem tão pouco no uso destas ferramentas. Nossa intenção é traduzi-las para vocês a partir de perguntas-chave de forma a valorizar sua experiência, tratando-o não apenas como um consumidor de informação, mas um avaliador crítico de seu cotidiano (sua atividade diária, a organização da RAS e do processo de cuidado) e um pensador criativo de transformação desta realidade. E lá na FASE III, tendo adquirido conhecimentos (FASE I) e habilidades (FASE II), almejamos que possam tomar atitudes, iniciando pela apresentação de seu plano de intervenção e defesa da implementação em seu território para melhorar a organização da RAS e qualificar o processo de cuidado. "devemos, portanto, diante das perspectivas favoráveis da nossa luta, estudar cada problema em profundidade e encontrar para ele a melhor solução. Pensar para agir e agir para pensar melhor" (CABRAL, 1974, p. 15 apud GADOTTI, 2012, p. 62) http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982016000400391#B16 8 CONSTRUÇÃO/DETALHAMENTO DO PLANO DE INTERVENÇÃO Breve contextualização teórica do Planejamento Estratégico Situacional - PES Neste momento faremos uma breve revisão histórica e teórica do Planejamento Estratégico Situacional, muito adequado e convergente para determinação das melhorias que se deseja e ou necessita implementar. Definimos pela escolha desta abordagem conceitual, por já ter acúmulo no campo da saúde, por meio das iniciativas de formação com o PlanejaSUS e de articulação com o Pacto pela Saúde, e, de sua disseminação por meio das ferramentas do Planejamento – Planos Municipal, Estadual, Federal em Saúde e Relatórios anuais de Gestão. Entendemos o PES da seguinte maneira: planejamento – ação de planejar; estratégico - inclusão dos atores políticos no centro das decisões e ações de planejamento; já situacional porque aborda as situações contextuais específicas e a dinâmica das decisões e necessidades em saúde. Esperamos então que planejem a partir da inclusão de pessoas, processos e prioridades políticas para efetivo diagnóstico das necessidades singulares de sua região e dos momentos oportunos de intervenção. Mas afinal o que seria uma intervenção em saúde? Esta é uma pergunta cuja resposta poderia ser óbvia, mas não o é. Uma intervenção é, segundo o Dicionário Houaiss, uma ação, uma interferência, uma intromissão, uma mediação, uma manifestação, e, seu antônimo seria abstenção, desinteresse, isenção. Desta maneira, propusemos neste curso, desafiá-los a manifestarem-se por meio de um projeto, que reflita ações planejadas e viáveis (plano). Acreditamos que sempre é possível melhorar e que não podemos nos abster da responsabilidade que temos no processo de qualificação do cuidado e de fortalecimento do sistema de saúde. Isto posto, confiamos que vocês podem intervir no seu ambiente de trabalho, nas condições de saúde, nos fatores determinantes do risco de adoecimento e morte e na organização da rede de serviços de sua região. Qual(is) intervenção (ões) escolher depende, necessariamente, da definição de qual problema ou situação (conjunto de problemas) os atores sociais manifestam interesse e têm possibilidades de intervir sobre uma determinada realidade naquele momento. Na atualidade, as mudanças nos parecem mais incrementais que radicais, o que nos pode ser positivo se pensarmos que podemos fazer a diferença onde quer que estejamos e sem necessariamente muita tecnologia ou recursos: lembrem-se do caso 9 do “Filho do Território” e quem ainda não assistiu sugerimos ver o documentário “ Lixo Extraordinário2”. Mas não é só a partir do desejo de mudança que fazemos com que ações aconteçam. Existem técnicas e muito conhecimento científico no campo das ciências sociais, humanas, políticas e da administração para se instrumentalizar e planejar. Afinal quem não sabe o que busca, não identifica o que acha (Immanuel Kant); e se não sabes para onde ir, qualquer caminho serve (Lewis Carrol). Então o planejamento em saúde é importante? No caso das instituições de saúde, em que a quantidade e a complexidade das tarefas a serem realizadas, bem como o volume de recursos e pessoas envolvidas na sua realização não podem correr o risco do improviso, essa necessidade [do planejamento] torna-se premente. Acresce-se a isso o fato de lidarem com situações que envolvem a vida de milhões de pessoas e que podem resultar em doenças, incapacidades e mortes”. (PAIM, 2006) O planejamentoé o cálculo que precede e preside a ação. Tem sido aplicado nas mais variadas áreas do conhecimento e tem em como principal característica a concomitância de decisões que antecedem e ações que permanecem ao longo da implementação da intervenção para se obter melhores resultados, ampliar as oportunidades, reduzir as ameaças e incertezas. Neste capítulo optou-se por trabalhar com a abordagem metodológica do planejamento estratégico situacional porque seu enfoque reconhece que: • O sujeito que planeja está dentro da realidade (histórica) e coexiste com outros atores; • Há diferentes explicações, situações ou diagnósticos condicionados pelo lugar que os atores ocupam nessa realidade e na sua conjuntura (espaço & tempo); e • A realidade não é um fim em si mesma, nem um objeto pronto/acabado, ela é antes de tudo mutável e interpretativa (depende de quem a está descrevendo); e • A conduta/ação é um processo criativo; Na América Latina o Planejamento é introduzido a partir da década de 1940, por influência da ONU. Àquela época o planejamento estava intrinsicamente voltado para 2 Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=61eudaWpWb8 https://www.youtube.com/watch?v=61eudaWpWb8 10 o desenvolvimento econômico, como forma de promover a industrialização e reduzir as desigualdades entre países industrializados e subdesenvolvidos. Aos poucos a estratégia do planejamento se estendeu à outras áreas, tais como saúde, afinal considerava-se os problemas sociais como obstáculos internos ao desenvolvimento. No campo da saúde, especialmente, temos um marco importante em 1965 quando a Organização Pan- americana de Saúde edita um método de planejamento específico para esta área, mais conhecido como Método CENDES/OPS, cujo autor mais representativo é Mário Testa. Neste método o planejador está a serviço do político e planeja supondo-se sempre o consenso entre atores, e que estes, por sua vez, seriam sempre favoráveis ao emprego mais racional dos recursos visando maior eficiência. Este método foi uma proposta tecnocrática, onde o planejador, baseado em seus conhecimentos técnicos "neutros", faz o plano e estabelece prioridades. É um método normativo e economicista, onde a norma — o deve ser — tem como fundamento principal a relação custo- benefício (Giovanella, 1991 pg 32). Desta maneira, ideais de máxima eficiência com máxima produtividade, conhecimento de quanto se gasta e a relação do custo por morte evitada para cada caso reparado, foram estratégias para escolha da aplicação dos recursos e definição de prioridades neste método. Ao final da década de 1960 o método CENDES/OPS começa a ser duramente criticado tanto pela dificuldade de sua aplicação (administradores e gestores não seguiam os planos elaborados e dificuldades em estabelecer a relação custo/benefício), quanto por desconsiderar a existência de interesses muitas vezes contraditórios e conflituosos na disputa e acordos políticos. Ademais, iniciaram-se críticas ainda mais duras questionando-se à qual desenvolvimento este método se destinava? Verificou-se à época que um maior ritmo de desenvolvimento alcançado num país não fazia esse menos dependente nem levava à solução dos problemas diagnosticados, como, por exemplo, a concentração de renda e o desemprego (Giovanella, 1991 pg 35). Pode-se dizer que este método não é mais utilizado, mas tem grande valia no processo de programação em saúde. Além do que nos trouxe referenciais importantes na eleição de prioridades tais como os critérios de magnitude, transcendência e vulnerabilidade, que mais adiante voltaremos a discorrer. A partir das críticas ao Método CENES/OPS nasce o Planejamento Estratégico no início da década de 1970 e que tem como objetivo inserir a dimensão política como objeto do processo de planejamento. Carlos Matus, um dos autores mais emblemáticos, apresenta-nos a diferença entre procedimentos normativos e estratégicos no planejamento e que este deve ser contínuo, flexível e passível de ajustes. Para Matus o necessário é conflitivo e a estratégia é uma categoria do possível em função do necessário, onde devem ser integrados os campos econômico e político-social 11 (Giovanella, 1991 pg 36). As decisões políticas agora são parte do planejamento, e, análise de viabilidade, ou seja, a análise da possibilidade política do plano ser executado, é considerada fundamental. Matus busca a articulação dos componentes estratégicos, normativos, táticos e operacionais, diluindo as decisões em cada um desses componentes. E sugere envolver o maior número de atores para tornar o processo de planejamento mais transparente e a tomada de decisão mais integradora (RIVIERA, 2003). O Planejamento Estratégico Situacional (PES) é uma vertente do enfoque estratégico de Carlos Matus e tem como diferencial o reconhecimento de que os atores que planejam coexistem com outros atores que executam e, também, planificam. O PES tem por finalidade a definição de ações para um cenário complexo, com uma visão estratégica e situacional, considerando o envolvimento dos múltiplos atores do processo e a utilização de ferramentas para o enfrentamento dos problemas. Em sua perspectiva situacional nos desafia a considerar: A planificação refere-se ao presente, não domina o tempo e não é adivinhação do futuro; A planificação exige um cálculo situacional: em quais problemas os atores manifestam interesse em intervir; e quais são as oportunidades para fazê-lo; e O plano é construído em módulos/fases e não é monopólio ou privilégio de ninguém. O PES está dividido em quatro momentos não sequenciais, simultâneos e que se alternam continuamente, a saber: Explicativo: seleção e análise dos problemas relevantes para os atores chaves e sobre os quais se deseja atuar, se refere-se às questões “o que é”, “o que foi” “tende a ser”, e “é preciso conhecer”; Normativo: construção do plano de intervenção, a situação objetivo que se deseja alcançar ou “deve ser”; Estratégico: análise de viabilidade das ações e a construção de sua viabilidade quando consideradas essenciais; prospecta o que “pode ser”; Tático-operacional: implementação do plano, ou seja, a execução das ações; concentra-nos “no fazer”. 12 Figura 02 – Momentos do Planejamento Estratégico Situacional No momento explicativo é realizada a seleção e contextualização dos problemas trazendo a concepção da situação. Ou seja, deve-se explicar a realidade a sua volta, inserindo-se como ator desta realidade. Também fazem parte deste momento a análise dos demais atores envolvidos, do contexto social e dos eventuais conflitos que podem ocorrer entre os membros que compõem estes espaços. Neste momento você vai observar que cada ator provavelmente terá diferentes explicações para o problema, por vezes até conflitivas. Ademais cada um sob o seu ponto de vista atribuirá diferentes graus de importância ao problema. Por isso é tão importante reunir diferentes atores (usuários, trabalhadores e gestores) e assim ter a possibilidade de novas perspectivas com relação a um problema, o que por sua vez enriquece a análise e fomenta maior viabilidade de intervenção por consequência (> n° de grupos sociais participantes > n° de grupos sociais sentindo-se representados e criando sentido para a futura intervenção). Para análise da situação de saúde você deve preferencialmente: territorializar os problemas e grupos sociais; articular os enfoques clínico, epidemiológico e social; e, envolver os diversos atores sociais e políticos. O momento normativo apresenta o conteúdo do plano estratégico. Nesta fase os envolvidos no planejamento devem ter a clareza de onde desejam chegar, ou seja, a situação objetivo. Para tanto deve-se realizar análise de cenários prováveis e as eventuais forças, fraquezas,oportunidades e ameaças de execução do plano, assim como, as capacidades técnicas e métodos para construí-lo. Lembrem-se e tenham sempre à mão a Matriz SWOT que elaboraram da linha de cuidado priorizada. Explicativo Normativo Estratégico Tático-operativo Base de Informação Análise da Situação de Saúde Definição da Situação Objetivo Desenho Estratégico Gerência Tático-Operativa (TEIXEIRA,2001) no conhecer no deve ser no pode ser no fazer Ênfase 13 O momento estratégico está associado à viabilidade do plano. São analisadas as dimensões políticas, econômicas e organizativas, usa-se a concepção estratégica para diminuir a resistência dos atores ou conquistar sua colaboração e alcançar os objetivos planejados. O momento tático-operacional refere-se à efetivação das intervenções propostas no plano. Nesta etapa são traçadas estratégias de condução do plano bem como o seu monitoramento constante para realizar correções a serem efetivadas ao longo da sua execução. Matus elenca três variáveis na construção do planejamento que devem estar articulados: Projeto, Governabilidade e Capacidade de Governo. O projeto traz o conteúdo do plano de ação que deve ser executado para o alcance dos objetivos propostos. A capacidade de governo refere-se ao conjunto de conhecimentos, habilidades, recursos disponíveis, liderança que a equipe envolvida no planejamento possui. São analisadas também as aptidões em lidar com os aspectos subjetivos e sociais envolvidos nas leituras que outros atores farão do projeto construído. E a Governabilidade é a correlação entre as forças/fraquezas (variáveis controláveis) e oportunidades/ameaças (variáveis não controláveis) pelo agente que propôs o projeto. Estas três variáveis devem apresentar sinergia e equilíbrio entre si e por isso foram relacionadas no desenho de um triângulo como mostra a figura abaixo. Figura 03: Triângulo de governo Fonte: MATUS (1993) 14 E agora? Já sabemos o que vamos fazer – o plano de intervenção. Reconhecemos também que será necessário planejar de forma estratégica e situacional. Resta-nos então dizer como? O como será trabalhado em toda a FASE II, mas iniciaremos no Módulo D, tratando do “Desenho da Intervenção”. Vale lembrar que consideramos ser o “desenho da intervenção” um processo contínuo e criativo, mas também sustentado por vários conhecimentos técnicos. Desta maneira, sugerimos a seguir ferramentas muito utilizadas no Planejamento Estratégico Situacional para apoiá-los neste processo. Ferramentas para realização do Desenho da Intervenção Árvore de Problemas Na construção do planejamento é importante identificar e analisar os principais problemas que surgem em determinado contexto (lugar e tempo). Uma das metodologias de apoio para este momento é a “Árvore de Problemas” que busca a identificação de um problema e a sistematização do que é causa e do que é consequência deste problema (SOUZA, 2010). Várias técnicas podem ser utilizadas para confecção da Árvore de Problemas. Podemos destacar a técnica do Brainstorming ou “tempestade de ideias”, quando atores que tenham conhecimento do contexto dos problemas e da realidade institucional, preferencialmente em reuniões de equipes multidisciplinares, apresentam sugestões, ideias, problemas e soluções, fazendo a correlação entre causas e consequências. Após esta etapa, são selecionados os principais resultados potencializando os pontos considerados mais promissores pela equipe e eliminando os menos importantes. Podemos afirmar que o problema seria o caule, suas causas a raiz e suas consequências as folhas e frutos. E sua elaboração estaria muito correlacionada ao momento explicativo do PES. Figura 04: Esquema da Árvore de Problemas 15 Mas de fato o que seria um problema de saúde? Um Problema é uma discrepância entre a realidade constatada ou simulada e uma norma aceita ou criada como referência para um determinado ator social. Um problema é distância entre O que é e O que deveria ser, para quem o explica num determinado momento. Podemos ter problemas do estado de saúde das pessoas que estão relacionados aos processos de adoecimento e morte (indicadores de morbi-mortalidade), aos riscos e danos (fatores de risco/determinantes sociais do adoecimento e morte e as consequências/sequelas do adoecimento) e às necessidades que podem ou não tornar-se uma demanda por (Santos, Bertolozzi & Hino, 2010): Garantia de acesso às ações assistenciais e às tecnologias que melhorem e prolonguem a vida; Promoção de melhores condições de vida e maior possibilidade de escolha (autonomia) Fortalecimento do vínculo com um profissional e equipe; Para identificar os problemas do estado de saúde da população podemos fazer uso das seguintes perguntas-chave: Problemas do estado de saúde da população Perguntas-chave Exemplos O Que é? Óbito/surtos – surto de meningite Doença – hipertensão, diabetes; Agravo – acidente por animais peçonhentos; desidratação, diarreia por contaminação alimentar; acidente de trabalho Risco – fumantes, obesos; desnutridos, Necessidade – falta de acesso à..., pouca ou nenhuma adesão ao tratamento, Quem é atingido? mapeamento das condições de vida e saúde de indivíduos, grupos ou população Onde ocorre? Caracterização do território/lugar Quando ocorre? De forma episódica, sazonal, constante hoje, amanhã, mês, ano etc Exemplo: Elevada taxa de mortalidade infantil no município de Paraíso, no ano de 2008. Baixa cobertura vacinal de sarampo em 2019; 16 Podemos ter também problemas do sistema de serviços de saúde que estão relacionados aos processos de distribuição, utilização, (in)suficiência; (in)adequação entre serviços e necessidades, grau de controle, segurança e qualidade. Neste caso podemos identificar os problemas do sistema de saúde por meio das seguintes perguntas-chave: Problemas do sistema de serviços de saúde Perguntas-chave Exemplos O Que é? Insuficiência relativa de recursos humanos, tecnológicos, insumos e materiais Má distribuição das ações e serviços – grau insipiente de regionalização, ausência de serviços específicos Má utilização de recursos humanos, financeiros, insumos e medicamentos – desvio de função, baixo investimento, desperdício Inadequação organizacional – fluxos organizacionais pouco definidos Baixa capacidade de gestão – ausência de auditoria e controle social; Grau insipiente de qualidade e segurança na assistência – falta de padronização do atendimento, ausência de protocolos Onde ocorre? Caracterização do serviço Quando ocorre? Sempre, eventualmente, quase nunca Exemplo: Superlotação nas urgências médicas das unidades hospitalares do município de Paraíso; As perguntas acima são sugestões para que você construa sua Árvore de Problemas. Elas o ajudarão a visualizar qual problema estão pretendendo intervir, quais as causas desse problema e quais seriam as consequências atuais e futuras caso não interfira. Ao iniciar a elaboração de sua árvore de problemas você verificará que cada causa e cada consequência elencadas podem tornar-se uma nova árvore de problema. Na verdade, quanto mais nos debruçarmos sob a análise de um problema, maiores serão as possibilidades de construção de uma ou várias árvores. Além do quê, a consequência de um problema pode inclusive ser causa de outro e vice-versa. Desta maneira a dica é – mantenham o FOCO!!!! 17 Passo-a-passo para construção da Árvore de Problemas (Ministério da Saúde, 20173): 1. Escolher de um problema central; 2. Eleger as causas diretas e essenciais do problema central, agrupando-as abaixo deste; 3. Eleger as consequências diretas e essenciais do problema central, agrupando-as acima deste; 4. Revisar a árvore de problemas de “baixo para cima”, avaliando: o que falta nas causas para explicaras consequências. Quando não conseguimos, por alguma razão, relacionar causas e consequências podemos estar vivenciando as seguintes situações: Não conhecemos ou não conseguimos explicar e delimitar bem o problema; As causas e consequências são amplas e não são necessariamente explicações exclusivas daquele problema; Quando isso ocorrer, e, provavelmente acontecerá, não se preocupem. Tentem elaborar, ao máximo, mais duas árvores a partir de uma causa ou consequência que você selecionar. O objetivo principal deverá ser: Definir e delimitar o mais detalhadamente possível um problema; Selecionar causas e consequências que você tem governabilidade e capacidade de intervir. Tenham certeza de que não é possível intervir em todas as causas de um problema ao mesmo tempo. Muitas vezes não temos oportunidade, nem recursos humanos, físicos e tecnológicos para intervir em todas as causas, apesar de reconhecê-las. E é exatamente por isso que precisamos priorizar. Priorização de Problemas Anteriormente salientamos que podemos ter problemas do estado de saúde da população ou do sistema de serviços de saúde. Independentemente do “tipo” de problema sempre é possível priorizar. Priorizar não significa descartar problemas, mas sim decidir acerca daqueles que serão enfrentados primeiro. Priorizar é necessário, visto o 3 file:///G:/Drives%20compartilhados/FAEPA%20- %20GEST%C3%83O%20DA%20CL%C3%8DNICA/CAP%C3%8DTULOS/DESENHO%20DA%20INTERVEN%C3 %87%C3%83O/Semin%C3%ADrio_mato.grosso.sul_exp.PES_.PR_Monitoramento_galba.pdf file:///G:/Drives%20compartilhados/FAEPA%20-%20GESTÃ�O%20DA%20CLÃ�NICA/CAPÃ�TULOS/DESENHO%20DA%20INTERVENÃ�Ã�O/SeminÃrio_mato.grosso.sul_exp.PES_.PR_Monitoramento_galba.pdf file:///G:/Drives%20compartilhados/FAEPA%20-%20GESTÃ�O%20DA%20CLÃ�NICA/CAPÃ�TULOS/DESENHO%20DA%20INTERVENÃ�Ã�O/SeminÃrio_mato.grosso.sul_exp.PES_.PR_Monitoramento_galba.pdf file:///G:/Drives%20compartilhados/FAEPA%20-%20GESTÃ�O%20DA%20CLÃ�NICA/CAPÃ�TULOS/DESENHO%20DA%20INTERVENÃ�Ã�O/SeminÃrio_mato.grosso.sul_exp.PES_.PR_Monitoramento_galba.pdf 18 caráter ilimitado de problemas e a escassez de recursos para enfrentá-los. O processo de priorização implica na ordenação dos problemas listados segundo certa hierarquia, para a qual há critérios metodológicos para nos apoiarem. Estes critérios podem ser bem complexos em sua interpretação, mas para facilitar sua aplicação também sugerimos perguntas-chaves com as quais você poderá priorizar. Alguns critérios para a priorização dos problemas: CRITÉRIO O QUE É PERGUNTA-CHAVE Magnitude Avaliação do tamanho do problema. Quando relacionado ao processo saúde- doença se leva em conta principalmente a frequência da ocorrência, isto é, a incidência, a prevalência, a morbidade, a mortalidade. Se tratarmos de problemas do sistema de serviços, também podemos avaliar a dimensão do problema considerando quantas pessoas estão envolvidas, quantos processos estão relacionados, quantos estabelecimentos etc. Podemos considerar melhorar a caracterização do tamanho do problema pensando na intensidade da sua ameaça / gravidade e a sua frequência de ocorrência Qual o tamanho do problema? Atinge muitas pessoas? Envolve muitos processos? Qual a urgência em intervir neste problema? Com qual frequência ele acontece: ocasionalmente, frequentemente? As consequências deste problema são catastrófica, crítica, moderada, leve, mínima? Transcendência Avaliação da importância do problema, medida da relevância social, do reconhecimento que determinada população dá a um evento, do desejo da comunidade de resolver o problema. Este conceito também é muitas vezes chamado de Valor Social (planejamento estratégico). Características que conferem importância especial à doença ou agravo (severidade, relevância social, econômica, política) atribuída pela população Qual a importância política, cultural e técnica do problema? É um problema de relevância para a população? Vulnerabilidade Avaliação da permeabilidade do problema, disponibilidade concreta de recursos para enfrentar o problema, condição de modificação do processo, do quadro, conforme a capacidade científica, técnica, financeira de intervenção. Há conhecimento, recursos materiais ou financeiros para resolução do problema? Este é um problema factível de intervenção? Custo Avaliação do custo-benefício de intervenção no problema, devendo ser levado em consideração tanto os cursos diretos quanto os indiretos; este normalmente é o critério mais difícil de ser aplicado, pela fragilidade de análise de custo que ainda temos no SUS. Quanto custa intervir no problema? Quanto custa não intervir no problema? 19 A partir destes critérios você poderá criar diagramas, tabelas, quadros de classificação / ponderação de cada problema por critério avaliado. Podemos realizar por cores: O problema de prioridade 1 (verde) é aquele que atinge um número elevado de pessoas (magnitude alta); de grande importância para aqueles que atuarão e/ou para aqueles que sentirão os efeitos da intervenção (transcendência alta); para o qual temos conhecimento e recursos de intervenção (alta vulnerabilidade); e, cujo custo é baixo – pouco ou nenhum investimento, por exemplo. Para chegarmos a um diagrama como este, podemos mensurar cada critério de priorização dando-lhe a pontuação que nos convier, por exemplo de 1 a 3 em ordem crescente: 1 – baixo, 2 - médio, 3 - alto. Assim, a somatória dos pontos demonstrará com maior clareza o problema a ser priorizado. Aquele com maior pontuação seria sua prioridade 1 de intervenção. Quadro 01: Exemplos de Priorização de Problemas Fonte: Adaptação Planeja SUS, 2010 Problema Magnitu- de Transcen- dência Vulnerabi- lidade Custos Total Aumento da mortalidade infantil, no município DCO de 2016, 2017 e 2018 3 3 2 3 11 Baixa cobertura populacional, do município de DCO, pelas equipes de Saúde da Família, no ano de 2018 3 2 1 1 7 Aumento da população desempregada no município de DCO em 2018 2 1 2 1 6 20 Lembrem-se que o processo desde a definição dos problemas até a sua priorização é uma escolha, momentânea e pontual para aqueles presentes no momento da definição. Mas, desde que seja democrática, estratégia e viável, poderá ser uma ótima escolha de intervenção. Já identificamos, explicamos e priorizamos o problema. O que faríamos agora? Precisamos de fato organizar nossas ideias em um plano. E para isso é que faremos uso do Modelo Lógico. Modelo Lógico No âmbito da saúde o modelo lógico possibilita identificar a finalidade de um programa/intervenção relacionando as interfaces entre as estruturas, os processos e resultados. Tendo como objetivo responder aos seguintes questionamentos: Quais os objetivos podem ser alcançados? Quais os efeitos do programa e quem são os beneficiados? Quais fatores contextuais podem influenciar o sucesso da intervenção? O modelo lógico de um programa é definido como “uma imagem que permite a compreensão clara dos objetivos, de como o programa deve ser implementado e quais resultados seriam esperados” (CANABRAVA, 2012). Desta maneira, o modelo lógico de um programa torna-se uma representação do caminho a trilhar tanto para sua a implantação quanto para sua avaliação, tratando-o em sua singularidade (HARTZ & VIEIRA-DA-SILVA, 2008; MEDINA et al, 2008). Esta ferramenta tem um importante papel na comunicação e apresentação de uma intervenção, pois a compreensão e visualização no modelo esquemático torna-se mais facilitada do que um documento tradicional. Dentre os inúmeros benefícios da construção do modelo lógico podemos destacar: esclarecer os objetivos da intervenção; elaborar o painel de monitoramento com a escolha de instrumentos de medidasapropriados, realizar a análise do que foi proposto pela intervenção e o que foi realmente implantado. A construção do modelo lógico é bem diversa podendo ser simples ou complexa de acordo com a situação e objetivo de cada estudo. Alguns autores fazem a correlação do modelo lógico com recursos e resultados, outros já trazem a distinção entre inputs (atividades e recursos) e outputs (saídas - efeitos e impactos), e alguns recomendam a descrição os fatores contextuais que possam influenciar no curso da implantação. (FUNDAÇÃO WK KELLOGG, 2004; FRIAS, LIRA & HARTZ & VIEIRA-DA-SILVA, 2008). 21 Há várias possibilidades de desenho para seu Modelo Lógico, mas ele deve conter minimamente: objetivo principal, atividades, efeitos esperados. Para subsidiá-lo na sua elaboração é sempre oportuno consultar normativas (portarias, normas operacionais, protocolos etc), programas já implantados, experiências exitosas etc. Desejamos que elaborem o modelo lógico a partir de sua árvore de problemas priorizada. Ou seja, você já priorizou uma árvore de problemas e descreveu cada causa/consequência deste problema. Agora você pode transformar este desenho em um modelo lógico, como demonstrado na figura a seguir. Figura 07 – Transformando sua árvore de problemas em um Modelo Lógico 22 O desenho de seu Modelo Lógico pode ser criado por você. Segue abaixo dois exemplos: Figura 09 - Exemplos de Modelos Lógicos de Projetos de intervenção / Programas Fonte: Hartz e Vieira da Silva, 2005 23 E se desejarem ampliar o seu Modelo Lógico, consultem exemplos tais como: Fonte: Oliveira, 2017 Fonte: Fontenele et all, 2017. 24 Fonte: Tajra F.S.; Pontes R.J.S.; Carvalho F.H.C., 2017 25 Fonte: Vitorino SAS et al., 2017 26 Fonte: Silva Cavalcanti et al., 2013 27 Fonte: Canabrava, 2012 COMPONENTES OBJETIVOS DE IMPLANTAÇÃO OBJETIVOS A CURTO PRAZO OBJETIVOS A LONGO PRAZO Estratégia Gerencial Instituir um caráter contratual à relação SUS/SES-MG e os hospitais, com a pactuação de compromissos e metas PRODUTOS Termos de Compromisso de Gestão – TGC firmados entre a SES/MG e os hospitais Institucionalizar mecanismos formais de responsabilização mútua Orientar a Gestão à obtenção de resultados Implantar dispositivos que, de forma sistemática, favoreçam o monitoramento e a avaliação Relatórios elaborados pelos hospitais e/ou avaliação da Coordenação PRO- HOSP e dos Comitês Macrorregionais Vincular os recursos previstos para cada ciclo do Termo de Compromisso - TCG ao cumprimento das metas e compromissos Plano de Ajustes e Metas (PAM) que contemplam os compromissos e metas pactuados Estratégia Clínica Implantar Protocolos Clínicos que propiciem a gestão da clínica Protocolos Clínicos formalizados no TGC Estratégia Educacional Formar um quadro profissional de excelência Profissionalizar a Gestão hospitalar Ao menos 1 membro especialista em gestão hospitalar a partir dos cursos de especialização em Gestão Hospitalar oferecidos em parceria com a SES-MG/PRO-HOSP Ao menos 1 Plano Diretor elaborado para cada hospital Institucionali zar o planejament o hospitalar Padronizar os principais processos assistenciais para as redes prioritárias Permitir controle e programação da atenção hospitalar com vistas à maior eficiência e efetividade Fomentar maior qualidade no gasto público com definição da aplicação dos recursos segundo prioridades estabelecidas (gestão, estrutura e assistência) Promover a gestão especializada e o planejamento no hospital IMPACTO Consolidar a oferta da atenção hospitalar nos pólos macro e microrregionais de Minas Gerais, segundo a lógica da regionalização, contribuindo para o desenvolvimento de um parque hospitalar público, socialmente necessário, capaz de operar com eficiência, superar os vazios assistenciais, prestar serviços de qualidade e inserir-se nas redes de atenção integral à saúde do Estado de Minas Gerais. Protocolos Clínicos implantados nos hospitais 28 Fonte: Moreira ACG et al, 2017 29 Considerações Finais Elaborar um plano de intervenção não é tarefa fácil. Exige conhecimento e habilidades importantes. Ao mesmo tempo, exige comprometimento, disponibilidade em ouvir o outro, capacidade de negociação, criatividade e foco. Aqui tratamos sobretudo de instrumentalizá-lo a realizar em grupo um plano de intervenção para implantação/implementação de uma linha de cuidado em sua região de saúde, considerando os aspectos da Gestão da Clínica e da conformação das Redes de Atenção à Saúde. Numa tentativa de junção lógica de ferramentas importantes do planejamento, consideramos já ser capaz de: Provocar uma tempestade de ideias para definição/caracterização de um problema (Árvore de Problemas); Construir uma relação de causa/efeito do problema (Árvore de Problemas); Definir qual(is) problemas priorizar (Matriz de Priorização); e Dar início a construção do seu plano de intervenção por meio de Modelo Lógico. Estas ferramentas subsidiarão a cumprir com os momentos do planejamento estratégico situacional e você já passou pelos momentos explicativo, normativo, estratégico e tático operacional em alguma medida. Por fim, sugerimos consultar, especialmente, todo o material de diagnóstico e de proposições que a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo elaborou para o Plano Estadual de Saúde 2020-2023 e que está disponível em: http://www.saude.sp.gov.br/ses/perfil/gestor/documentos-de-planejamento-em- saude/elaboracao-do-plano-estadual-de-saude-2020-2023-informacoes-regionais/ http://www.saude.sp.gov.br/ses/perfil/gestor/documentos-de-planejamento-em-saude/elaboracao-do-plano-estadual-de-saude-2020-2023-informacoes-regionais/ http://www.saude.sp.gov.br/ses/perfil/gestor/documentos-de-planejamento-em-saude/elaboracao-do-plano-estadual-de-saude-2020-2023-informacoes-regionais/ 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BAHIA. Secretaria da Saúde do Estado da Bahia. Manual prático para elaboração de Planos Municipais de Saúde. 2009. 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Capítulo 2. p.41-63 http://www.saude.am.gov.br/planeja/doc/Manual_de_orientacoes_para_a_elaboracao_de_Planos_Municipais_de_Saude_compacta_20_09_09.pdf http://www.saude.am.gov.br/planeja/doc/Manual_de_orientacoes_para_a_elaboracao_de_Planos_Municipais_de_Saude_compacta_20_09_09.pdf http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v41nspe/0103-1104-sdeb-41-nspe-0167.pdf http://www.saude.sp.gov.br/resources/humanizacao/homepage/ac%20esso-rapido/formacao-tecnica-em-acolhimento-na-atencaobasica/passo_a_passo_linha_de_cuidado.pdf http://www.saude.sp.gov.br/resources/humanizacao/homepage/ac%20esso-rapido/formacao-tecnica-em-acolhimento-na-atencaobasica/passo_a_passo_linha_de_cuidado.pdf http://www.saude.sp.gov.br/resources/humanizacao/homepage/ac%20esso-rapido/formacao-tecnica-em-acolhimento-na-atencaobasica/passo_a_passo_linha_de_cuidado.pdf http://www.acervo.paulofreire.org:8080/jspui/bitstream/7891/35%2091/1/FPFPTPF12094.pdf http://www.acervo.paulofreire.org:8080/jspui/bitstream/7891/35%2091/1/FPFPTPF12094.pdf javascript:void(0); http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=i&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=LIMA,+VALERIA+VERNASCHI http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=i&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=LIMA,+VALERIA+VERNASCHI 31 MOREIRA, A. 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