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1Coríntios (N Comentario)

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1 CORÍNTIOS
 VOLTAR 
 Introdução 
 Plano do livro 
 Capítulo 1 Capítulo 5 Capítulo 9 Capítulo 13 
 Capítulo 2 Capítulo 6 Capítulo 10 Capítulo 14 
 Capítulo 3 Capítulo 7 Capítulo 11 Capítulo 15
 Capítulo 4 Capítulo 8 Capítulo 12 Capítulo 16
 
INTRODUÇÃO 
 
I. CONTACTOS DE PAULO COM A CIDADE DE CORINTO 
 O evangelho alcançou a cidade de Corinto, a principal da Acaia, 
cerca de vinte anos após a crucifixão de Jesus. A população era 
constituída de gregos nativos, colonos romanos e de judeus. A cidade 
estava situada na principal rota comercial entre o Leste e o Oeste, por 
isso havia uma corrente ininterrupta de comerciantes de espírito inquieto 
e vivaz. Nas próprias cartas aos coríntios descobre-se o efeito de tal 
atmosfera na vida dos crentes dali. 
 Somos informados a respeito de duas visitas de Paulo a Corinto 
em At 18 e At 20.1-3. Ele também manteve correspondência com aquela 
igreja em várias ocasiões, como recebia também cartas e informações 
dos crentes. (Veja-se 1Co 7.1; 2Co 2.4). As relações do apóstolo com a 
Igreja de Corinto revelam um caráter muito íntimo e pessoal. Ele foi o 
pioneiro na evangelização da cidade, (1Co 3.6 e 4.15) e acompanhava o 
crescimento daquela igreja com vivo interesse. Ali existiam dificuldades 
peculiares. Havia muito entusiasmo de mistura com muita propensão ao 
erro, algumas vezes o espírito sectário tomava vulto e parece que o 
Apóstolo teve seus detratores que procuraram minar sua influência. Isto 
se constata muito facilmente na segunda epístola. 
 A primeira visita a Corinto verificou-se no que chamamos de 
segunda viagem missionária de Paulo. Ali chegou ele após sua visita a 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 2 
Atenas, logo pregando na sinagoga (At 18.4). Paulo enfrentou tal 
oposição da parte dos judeus, que foi levado a declarar: “Sobre a vossa 
cabeça o vosso sangue! eu dele estou limpo, e desde agora vou para os 
gentios”. (At 18.6). Tais palavras parecem sugerir controvérsia sobre a 
culpa da crucifixão de Jesus. Que o apóstolo fez da Cruz seu assunto 
fundamental em Corinto, prova-o o que encontramos na primeira carta: 
“Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este 
crucificado», (1Co 2.2). Talvez a experiência do apóstolo em Atenas o 
tivesse levado a esta decisão, o que é bem possível. 
 Ao mesmo tempo houve alguns convertidos de entre os judeus. O 
primeiro foi Áquila e sua esposa Priscila. Não eram naturais de Corinto, 
mas residiam ali e Paulo morou com eles (At 18.1-3). Depois vem 
Crispo, principal da sinagoga. (At 18.8). Este creu no Senhor com toda 
sua família. A seguir, vem Sóstenes (1Co 1.1) que pode ser o mesmo 
referido em At 18.17, como o “principal da sinagoga”. Se assim é, ele 
também recebeu a fé em Jesus Cristo. Mais tarde viajou com Paulo e 
esteve com ele em Éfeso, pois seu nome está na relação daqueles da 
Igreja de Corinto aos quais Paulo envia saudações na primeira carta (1Co 
1.1). Todavia, o êxito mais importante de Paulo foi entre os próprios 
coríntios, a respeito dos quais se diz: “muitos dos coríntios... criam” (At 
18.8). Também Deus lhe assegurou por meio de uma visão: “tenho muito 
povo nesta cidade” (At 18.10). Os judeus hostis continuaram a perseguir 
o apóstolo e, eventualmente, o trouxeram perante Gálio, lugar-tenente ou 
procônsul romano da Acaia (At 18.12). Gálio não deu atenção a esses 
judeus e o incidente refluiu sobre a cabeça de Sóstenes, que era o 
principal da sinagoga, isto através de uma demonstração antijudaica por 
parte da população grega (At 18.17). A menção do nome de Gálio como 
procônsul dá-nos razão de colocar a primeira visita de Paulo a Corinto 
entre os anos 50 a 55 do primeiro século, pois o consulado de Gálio é 
colocado no verão, ano 51, ou o mais tardar no ano 52. O apóstolo 
demorou-se ali cerca de dezoito meses (At 18.11), o que lhe deu 
excelente oportunidade para estabelecer a igreja naquela cidade. Não foi 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 3 
a sua maior permanência em um só lugar, pois lemos de sua estada por 
dois anos, mais tarde, em Éfeso (At 19.10). 
 
II. AS VISITAS DE PAULO A CORINTO 
 Quantas vezes o apóstolo ainda visitou Corinto? Somente mais 
uma visita está registrada em At 20.1-3. Não há pormenores, mas foi 
uma visita anterior à sua última viagem a Jerusalém e, por isso, pode ser 
considerada como sua última visita a Corinto. Desse modo, temos em 
Atos o registro da primeira e da última visitas. Nas epístolas que ora 
estudamos, o apóstolo fala como se esta última visita fosse realmente 
uma terceira (2Co 13.1). Neste particular, não há dúvida que existe certa 
ambigüidade, visto como foi cancelada uma visita que havia sido 
prometida (2Co 1.23). Se outra visita foi realizada, não há referência 
explícita, o que torna difícil encontrar solução segura sobre a questão. O 
que sabemos é que Paulo teve de escrever com certo rigor aos coríntios 
sobre a conduta deles (2Co 2.4), e adiou sua prometida visita a fim de 
que não estivesse presente para repreendê-los mais severamente do que 
por meio da sua carta (2Co 1.23). Se a visita prometida não foi realizada, 
então não houve uma visita intermediária. 
 
III. A DATA DAS EPÍSTOLAS 
 O valor da discussão deste assunto está simplesmente em 
reconstituir as circunstâncias que se relacionam com a redação de 1 e 2 
Coríntios. Sabemos que Paulo demorou por dezoito meses em Corinto, 
na sua primeira visita, viajando depois, por mar, até Éfeso; visitou 
Jerusalém e Antioquia, percorreu os lugares da Ásia Menor onde, 
anteriormente, fizera trabalho missionário, voltando então a Éfeso onde 
demorou dois anos (At 18.11,18-23-19.1). Escreveu de Éfeso a primeira 
carta aos Coríntios, talvez um ano após sua chegada ali, no ano 55 A. D. 
A carta foi escrita, em parte para condenar o espírito faccioso existente 
entre eles, fato que lhe chegou ao conhecimento por intermédio dos 
membros da família de Cloe (1Co 1.11) e, em parte, para repreender os 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 4 
coríntios por motivo de um ato de baixa imoralidade cometido por um 
membro daquela igreja e contra quem eles não tomaram as medidas 
radicais que o caso exigia (1Co 5.1-8); e também foi escrita para 
responder a respeito de certas questões, sobre as quais lhe haviam 
solicitado conselhos (1Co 7.1). Parece que Timóteo já estava viajando 
para Corinto, quando Paulo escreveu esta carta (1Co 16.10) de modo que 
esta foi levada diretamente a Corinto por algum outro portador. 
 Sabemos com segurança que pouco tempo após Paulo haver 
escrito esta carta (embora não fosse a primeira que escrevera aos 
coríntios, como vemos em 1Co 5.9), ele mesmo partiu para Corinto via 
Macedônia (1Co 16.5). Embora tenha sido este o plano que ele 
estabeleceu finalmente, já havia previamente falado em ir primeiro a 
Corinto e, então, à Macedônia, voltando após a Corinto. Faz referência a 
esta intenção declarada antes (2Co 1.15-16) porque parece que alguns 
ficaram ofendidos por causa da modificação do plano, e tentaram, 
fazendo referências aviltantes, solapar sua influência entre os coríntios. 
Poderíamos ainda supor que o portador que levou a primeira carta aos 
coríntios regressou logo a Éfeso, com informações sérias a respeito do 
estado daquela igreja. 
Em conseqüência disso, Paulo, em vez de visitar Corinto 
imediatamente escreveu às pressas uma carta (que não chegou até nós), 
na qual repreendeu os coríntios um pouco severamente, carta que enviou 
a Corinto pelas mãos de Tito. (Veja-se 2Co 2.3-4,9 e 7.5-16). Isto deixou 
o apóstolo muito preocupado e muito ansioso por saber, logo que 
possível, como os coríntios tinham reagido a tal reprovação. Tito tinha 
de voltar pela Macedônia; e Paulo deixou Éfeso e foi primeiro a Trôade 
e, depois, à Macedônia, no intuito de encontrar Tito o mais breve 
possível.Quando o encontrou ficou muitíssimo alegre em saber, por 
intermédio dele, que aquela carta severa tivera efeito benéfico, e que os 
coríntios haviam reconhecido plenamente o ponto de vista do apóstolo 
(2Co 2.12-14). Em conseqüência disto escreveu a carta que chamamos 2 
aos Coríntios e enviou Tito de volta com a mesma, juntamente com 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 5 
outros dois irmãos (2Co 8.16-24). Esses entregaram a epístola e também 
completaram o recolhimento de uma coleta que tinha sido levantada em 
Corinto para os crentes pobres em Jerusalém (2Co 8.11). 2 Coríntios foi 
portanto escrita da Macedônia e expressou a alegria de Paulo sobre os 
resultados alcançados em Corinto. Nela, todavia, o apóstolo também não 
hesitou em ministrar-lhes as lições a respeito da “discórdia” sobre a qual 
se deteve nos últimos quatro capítulos (10.1-13.10). 
 Esta reconstituição é apenas conjectural e não é aceita por muitos. 
Alguns admitem que essa carta tão severa e mencionada em 2Co 2.3 é a 
mesma 1 Coríntios; outros sugerem que 2 Coríntios, como a possuímos, 
é constituída de duas ou três divisões tomadas de epístolas diferentes, 
escritas por Paulo aos coríntios em diferentes ocasiões. Tais divisões 
distintas seriam 1 a 9, exceção feita de 6.14-7.1, e 10.1-13.10. Tal 
possibilidade não pode ser desdenhada e a ela nos referiremos depois. 
Tal ponto de vista, porém, não é absolutamente necessário, e excelentes 
argumentos podem ser alinhados em favor da unidade de 2 Coríntios, 
como esta se apresenta. Em qualquer caso, porém, a autoria de Paulo 
quanto ao conteúdo total é indisputável. 
 Eventualmente, o próprio Paulo chegou a Corinto partindo da 
Macedônia, onde se demorou, por três meses. Uma vez mais teve de 
escapar à perseguição dos judeus e deixou Corinto por terra em vez de 
viajar por mar, como era sua intenção a princípio (At 20.3). Até onde é 
possível verificar-se, o apóstolo jamais voltou a Corinto. 
 
IV. EVIDÊNCIA EXTERNA 
 Muito tempo depois, Clemente de Roma enviou uma carta à Igreja 
de Corinto, escrita daquela cidade. Isto ocorreu mais ou menos no ano 95 
A. D. e nessa carta Clemente faz referência a uma epístola de Paulo que 
pode ser identificada com a 1Coríntios. Essa referência posterior torna 1 
Coríntios uma das mais bem autenticadas epístolas do Novo Testamento. 
Possivelmente a referência mais remota a 2 Coríntios é encontrada nos 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 6 
escritos de Irineu e Clemente de Alexandria, já nos fins do segundo 
século, mas a genuinidade da epístola jamais foi posta em dúvida. 
 
V. A IGREJA EM CORINTO 
 A Igreja em Corinto foi formada a princípio de uns poucos judeus 
e muitos gentios, como já foi dito. Seus pontos fracos e fortes podem ser 
notados através do estudo das cartas que Paulo lhe endereçou. Em 
nenhuma dessas epístolas, contudo, nem no relato das visitas de Paulo 
encontrado nos Atos, nos é referido exatamente o que aconteceu na 
igreja e que deu lugar à severa repreensão que lhes foi aplicada. Somos 
informados de um caso de incesto peculiarmente vergonhoso (1Co 5.1-
5); houve também um caso de um «que fez o mal» (2Co 7.12), se é que 
se trata de duas pessoas diferentes. Mas deduzimos que houve um 
motivo mais geral, além dos referidos, que inquietou o apóstolo, como 
algum movimento que lançava dúvidas sobre o seu apostolado, e lhe 
contrapunha um rival (2Co 11.1-6). Não temos bastante luz sobre este 
assunto para, com exatidão, traçar o curso dos acontecimentos. 
 Tentemos chegar a uma conclusão até onde possível. Do livro de 
Atos sabemos que Apolo também visitou a Acaia (e certamente Corinto, 
a capital) e pregou ali com bastante aceitação (At 18.28). Ele é também 
mencionado por Paulo elogiosamente, em 1 Coríntios – "Apolo regou” - 
(3.6). E é interessante observar que o nome de Apolo foi um dos 
escolhidos para líder de um partido - “Eu sou de Apolo” - (1Co 1.12). 
Do que lemos a seu respeito em Atos, parece ter sido um judeu culto que 
se tornou cristão e orador eloqüente. Evidentemente não era responsável 
pela criação do partido que tinha o seu nome como bandeira, nem 
tampouco Paulo pelo outro que tinha o seu. Timóteo, Tito e Suas 
também trabalharam com Paulo em Corinto (Veja-se At 18.5 e 1 e 2 
Coríntios, onde se fala deles). 
 Tem-se especulado se Pedro fez alguma visita a Corinto, e isto por 
causa da referência ao «Partido de Cefas» (1Co 1.12). Em todo o Novo 
Testamento não se pode descobrir qualquer referência ou idéia de ter 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 7 
ocorrido tal visita. Que representaria, em particular, esse partido de 
Cefas? É um problema para o qual não se tem resposta certa; mas devido 
ao fato de o próprio Paulo em sua epístola aos Gálatas declarar: «Resisti 
a Pedro face a face» (Gl 2.11), é possível que notícias dessa desavença 
entre eles em assunto de tanta seriedade tivessem chegado a Corinto e ali 
alguns ficassem do lado de Pedro. O caso teria sido, então, a estrita 
observância da lei judaica por todos os cristãos. 
 
VI. PROPÓSITO DE PAULO EM ESCREVER 
 A índole do povo de Corinto, devido à população ser constituída 
de raças diversas, prestava-se a divisões partidárias. Até mesmo os 
crentes foram atingidos por esse espírito sectarista, ostentando os nomes 
dos líderes mais destacados, até mesmo o do próprio Cristo, para fazer 
sobressair suas várias divisões. Contra isto o apóstolo tinha de escrever 
de maneira muito forte, e os primeiros quatro capítulos de 1 Coríntios 
são destinados a salientar o mal do espírito sectário entre os cristãos. 
Paulo atribui a causa dessas divisões a uma falsa concepção de 
sabedoria, de um lado, e do ministério cristão, do outro. 
Essas divisões na igreja eram um mal, não somente por causa da 
amargura que produziam, mas também porque os mestres, cujos nomes 
os diversos partidos adotavam, não viviam a se opor mutuamente. Isto 
acontecia entre a população pagã de Corinto, onde existiam mestres de 
opiniões opostas. Por exemplo, Públio Élio Aristides, do segundo século 
informa que “em cada rua de Corinto pode-se encontrar um ‘sábio’ que 
tem sua própria solução para os problemas da vida”. Esse partidarismo 
pode ser atribuído à natural tendência entre os gregos para certa 
inconstância mental; também uma curiosidade em torno de mistérios, a 
qual se satisfazia com muitas explicações possíveis, sem 
necessariamente decidir sobre qual era a verdadeira (cf. At 17.21). Para 
que a comunidade cristã não seguisse tal tendência, o apóstolo escreveu 
energicamente: “Está Cristo dividido? Foi Paulo crucificado em favor de 
vós?” (1Co 1.13). 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 8 
 Todavia, temos apenas considerado os nomes dos partidos 
mencionados em 1 Coríntios. Todos esses nomes eram de homens 
genuinamente bons, e a dificuldade não foi causada por eles, mas pelos 
próprios coríntios que usavam os nomes deles para fins sectaristas. 
Em 2 Coríntios encontramos uma situação diferente, porque agora 
um grupo de outros “apóstolos” surgiu, solapando a influência de Paulo, 
que a eles se refere nos últimos quatro capítulos dessa epístola. Quando 
os menciona, é levado a usar de grande clareza de linguagem. Mostra a 
atitude deles. Diziam: “Suas cartas (de Paulo), com efeito, são graves e 
fortes, mas a presença dele é fraca, e a palavra, desprezível” (2Co 10.10). 
Contra estes Paulo tem de falar acerca de si próprio, de uma maneira 
que, obviamente, o fere. “Mas o que faço, e farei, é para cortar ocasião 
àqueles que a buscam” (2Co 11.12); e “o que falo, não o falo segundo o 
Senhor e, sim, como por loucura nesta confiança de gloriar-me” (2Co 
11.17). E segue uma relação de experiências de sua própria vida, que não 
teríamos conhecido, se esses semeadores de desordens na igreja de 
Corinto não tivessem dado lugar a isso. Assim, do mal resultou o bem. O 
que nos inspira maior interesse, ao contemplarmos esses acontecimentos, 
é o fato de o apóstolo ter-se conservado em comunhão com tal grupo de 
crentes sectaristas. Nãose separou deles, como se fossem gente 
intratável, mas cumpriu a ordem de nosso Senhor «não desesperando de 
ninguém» (ver Lc 6.35). E em meio a essas palavras de controvérsia 
pessoal, podemos sentir o espírito do amor cristão e a operação do 
princípio proclamado em 1Co 13. «Eu de boa vontade me gastarei e 
ainda me deixarei gastar em prol das vossas almas. Se bem que tanto 
mais vos ame, tanto menos seja amado por vós» (2Co 12.15). 
 
VII. DUAS CARTAS, OU TRÊS? 
 Façamos aqui uma digressão a fim de considerar se esses capítulos 
(2Co 10 a 13), na posição que ocupam atualmente, não estão deslocados, 
devendo então ser considerados como uma carta separada, e mesmo 
como a carta referida em 2Co 2.3-4. Vejamos como Paulo a descreve: 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 9 
“E isto escrevi para que, quando for, não tenha tristeza da parte 
daqueles que deveriam alegrar-me; confiando em todos vós de que a 
minha alegria é também a vossa. Porque no meio de muitos sofrimentos 
e angústias de coração vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que 
ficásseis entristecidos, mas para que conhecêsseis o amor que vos 
consagro em grande medida”. 
 Agora, se passarmos diretamente destas palavras para o cap. 10, 
podemos apreciar a força do argumento acima apresentado. O cap. 10 
assim começa: 
“E eu mesmo, Paulo, vos rogo, pela mansidão e benignidade de 
Cristo, eu que, na verdade, quando presente entre vós, sou humilde; mas, 
quando ausente, ousado para convosco, sim, eu vos rogo que não tenha 
de ser ousado, quando presente, servindo-me daquela firmeza com que 
penso devo tratar alguns que nos julgam como se andássemos em 
disposições de mundano proceder”. 
 Mais adiante, em 11.2-3, lemos: 
“Porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho 
preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é 
Cristo. Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva, com a sua 
astúcia, assim também sejam corrompidas as vossas mentes, e se 
apartem da simplicidade e pureza devidas a Cristo”. 
 Tais sentimentos, pensam alguns, ajustam-se tão bem à descrição 
que Paulo faz da referida carta, que muitos comentadores concluem 
constituírem estes capítulos a carta em questão e, portanto, devem ser 
cronologicamente colocados antes de 1 a 9. A atual colocação, porém, é 
encontrada em todos os manuscritos e não aparece qualquer evidência 
que indique não pertencerem os quatro últimos capítulos originalmente 
aos primeiros nove. Portanto, a questão só pode ser discutida do ponto de 
vista da evidência interna, não se conseguindo unanimidade de opinião. 
Em defesa da correção da ordem atual pode-se argumentar que os caps. 1 
a 9, embora registrem alegria, também contêm reprimenda (veja-se por 
exemplo 1.23). Isto indica que a reprimenda não está inteiramente fora 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 10 
do pensamento do autor, por isso o tom de advertência dos últimos 
quatro capítulos pode seguir apropriadamente a matéria dos nove 
primeiros. Demais disto, o tom ou linguagem de 10 a 13 não é todo de 
hostilidade; e pode-se dizer não ser bastante severo para justificar a 
alegação feita de ser uma carta de repreensão. Amor genuíno e profundo 
interesse assinalam esses capítulos (veja-se por exemplo 12.20): “Temo, 
pois, que, indo ter convosco, não vos encontre na forma em que vos 
quero, e que também vós me acheis diferente do que esperáveis, e que 
haja entre vós contendas, invejas, iras, porfias, detrações, intrigas, 
orgulho e tumultos”. Quando se consideram essas qualidades de cada 
divisão, o teor geral de cada seção não é tão diferente que a última não 
possa vir em seguimento da primeira. 
 Teria o apóstolo conseguido reatar suas boas relações cristãs com 
a Igreja de Corinto, e também entre os membros da própria Igreja? 
Aqueles que colocam os caps. 10 a 13 antes dos caps. 1 a 9 podem 
responder: Sim. Se achamos que a ordem desses capítulos deve ser como 
se apresenta na carta, podemos ainda crer que Paulo, pelo Espírito Santo, 
teria sido uma vez mais “consolado e confortado” como o fora nas 
ocasiões anteriores (veja-se 2Co 1.1-14). 
 
VIII. O ENSINO DESTAS EPÍSTOLAS 
 A igreja de Corinto era, a um só tempo, fonte de alegria e de 
ansiedade para o apóstolo. As duas epístolas que estudamos são 
caracterizadas por um espírito de interesse pessoal intenso, da parte do 
autor, pelos crentes dali. Este interesse impediu-o de desenvolver uma 
linha de doutrina, como, por exemplo, na epístola aos Gálatas; ou uma 
apresentação sistemática do caminho da salvação em Cristo Jesus, como 
é o caso de Romanos (embora seja interessante recordar que a carta aos 
Romanos foi escrita em Corinto). Muitos tópicos doutrinários são 
abordados, alguns de capital importância para a compreensão da fé 
cristã. Certas divisões tratam da natureza da sabedoria humana e da 
sabedoria divina (1Co 1 a 4); a doutrina da conduta crista (1Co 5; 6; 8; 9 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 11 
e 11); o conceito cristão do casamento (1Co 7; cf. 2Co 6.14-7.1); a 
instituição e significação da Ceia do Senhor (1Co 10 e 11.17-34). Ha 
também o ensino relativo à unidade da Igreja (1Co 12-13; 16.1-9 e 2Co 8 
e 9); sobre os dons espirituais (1Co 14); sobre a Ressurreição (1Co 15) e 
o ministério cristão (2Co 3.1-6.10; 10.1-13.13). Desta relação pode se 
constatar que uma perda muito grande a Igreja teria sofrido se estas 
epístolas não tivessem sido escritas ou preservadas. 
 
PLANO DO LIVRO 
 
I. INTRODUÇÃO - 1.1-9 
 a) Saudação aos crentes de Corinto (1.1-3) 
 b) Gratidão pela graça que lhes foi dada (1.4-7) 
 c) Confiante esperança neles (1.8-9) 
 
II. DIVISÕES NA IGREJA - 1.10-4.21 
 a) Exposição dos fatos (1.10-17) 
 b) A raiz das divisões: uma concepção errônea de sabedoria (1.18-3.4) 
 e uma concepção errônea do ministério cristão (3.5-4.13) 
 c) Último apelo para pôr fim às divisões (4.14-21) 
 
III. DELITOS MORAIS NA VIDA DA IGREJA - 5.1-6.20 
 a) Frouxidão no caso de incesto (5.1-13) 
 b) Questões levadas a juízes pagãos (6.1-11) 
 c) O pecado da sensualidade (8.12-20) 
 
IV. RESPOSTAS A PERGUNTAS - 7.1-14.31 
 a) Acerca do casamento (7.1-40) 
 b) Acerca de carnes sacrificadas aos ídolos (8.1-11.1) 
 c) Culto público - os princípios em jogo (11.2-14.40) 
 
 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 12 
V. O EVANGELHO DA RESSURREIÇÃO - 15.1-58 
 a) Sumário dos fatos (15.1-19) 
 b) Conseqüência dos fatos (15.20-34) 
 c) A natureza do corpo ressurreto (15.35-49) 
 d) A imortalidade (15.50-58) 
 
VI. INSTRUÇÕES FINAIS - 16.1-24 
 a) Contribuição sistemática (16.1-9) 
 b) Acerca de Timóteo, Apolo e Estéfanas (16.10-18) 
 c) Saudações e bênção final (16.19-24) 
 
COMENTÁRIO 
 
I. INTRODUÇÃO - 1.1-9 
 
1 Coríntios 1 
a) Saudações aos crentes de Corinto (1.1-3) 
 
 O apóstolo adota a forma usual de saudação grega, na qual o nome 
do escritor vem no princípio. Apresenta-se ele como alguém que foi 
chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo (1). 
Estava bem cônscio de que Deus agira na sua chamada. Conhecendo a 
narrativa da conversão de Paulo (veja-se At 9.1-16), podemos apreciar 
por que ele constantemente a ela se refere, seja diretamente (veja-se v. g. 
At 22.1-16), seja indiretamente nas saudações de suas epístolas. 
Podemos também inferir que Paulo tinha interesse em sublinhar sua 
missão e autoridade apostólicas, de Deus recebidas, especialmente 
quando escrevia a igrejas onde, como no caso de Corinto, havia certa 
tendência da parte de alguns para desacreditá-las. 
 O irmão Sóstenes (1). Tem prazer em juntar ao seu o nome de 
outro crente, pensando sempre em termos de companheirismo com 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 13 
outros no evangelho (cf. 2Co 1.1 e as outras epístolas suas). (A respeito 
de Sóstenes, veja-se a Introdução). 
 A Igreja de Deus, que está em Corinto (2) é a maneira notável 
como o apóstolo fala do grupo de crentes, homens e mulheres, de 
Corinto - os representantes locais da única Igreja de Deus. 
 Santificados em Cristo Jesus(2), isto é, separados ou dedicados 
a Deus, por sua união com Cristo Jesus. O tempo do verbo no grego, 
correspondente à palavra “santificados”, indica um estado contínuo, 
resultante de uma experiência anterior de santificação. Chamados para 
ser santos (2) mais uma vez indica que a posição do crente procede de 
Deus e não é ganha por méritos próprios (veja-se nota sobre Fp 1.1). 
 Com todos os que, em todo lugar, invocam o nome de nosso 
Senhor Jesus Cristo (2). A Igreja de Cristo é universal, “católica”, e 
contudo há um sentimento íntimo entre as respectivas partes, entre todos 
os indivíduos e Cristo - Senhor deles e nosso (2). Podemos considerar as 
frases descritivas no verso 2, que seguem as palavras igreja de Deus, 
como expositivas da doutrina da Igreja e como maneira de descrever os 
seus membros. Observe-se a seqüência – “de Deus”, “santificados”, 
“chamados”, “invocam”, “deles e nosso”. 
A Igreja é criação de Deus, que Ele por Sua vontade criou para Si. 
Seus membros são santificados, postos à parte para uso de Deus; são 
chamados - também significando potenciados - para ser santos; e eles 
continuamente invocam o nome de Jesus Cristo, cientes de que outros, 
em outros lugares, fazem o mesmo, não se considerando eles, portanto, 
como sendo a Igreja toda, ou que somente eles estão de posse de Cristo. 
 Graça... paz (3); a primeira é a fonte de onde emana a nossa 
salvação; a segunda é a recompensa da confiança pessoal em Deus. 
 Deus nosso Pai, e... o Senhor Jesus Cristo (3). A associação do 
nome de Jesus com o de Deus o Pai, em frases incidentais como esta, 
oferece-nos uma garantia da fé apostólica na deidade de Jesus Cristo, 
mais do que o fariam declarações formais. A doutrina da Santíssima 
Trindade não decorre de textos isolados; cremos que ela permeia todo o 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 14 
Novo Testamento. Teremos outras ocasiões de lhe fazer referência, à 
medida que prosseguirmos (vejam-se especialmente as notas sobre o cap. 
15). 
 
b) Gratidão pela graça que lhes fora dada (1.4-7) 
 
 O apóstolo afirma que rende graças a Deus continuamente pelos 
resultados da pregação do evangelho em Corinto, através da qual a graça 
divina foi aceita por muitos (4). Deus lhe havia dito: “tenho muito povo 
nesta cidade” (At 18.10), o que se tornou para ele uma fonte de grande 
alegria. 
 Graça, que vos foi dada (4), o que indica uma experiência 
definida, no passado. Resultou isto no enriquecimento (5), de acordo 
com o testemunho que o apóstolo dera de Cristo, o que foi então 
confirmado neles (6). Os crentes coríntios demonstravam plena fé cristã 
e viviam na expectação da volta de Cristo (7). O apóstolo desse modo 
teria querido ensinar-nos a considerar esta expectação como expressão 
máxima da fé cristã. E é mesmo; hoje, a negligência generalizada por 
este assunto indica até onde vai o nosso desvio da fé apostólica da Igreja. 
Cf. a atitude dos “escarnecedores”, em 2Pe 3.3-4. 
 Agradecendo a Deus a graça concedida aos coríntios, notamos que 
o apóstolo refere a “palavra” e o “conhecimento” como dons especiais 
outorgados aos crentes daquela cidade. Isto é significativo à luz do que 
se lê adiante nesta epístola. 
 Por exemplo, ficamos sabendo no cap. 14 o que entendia ele a 
respeito de falar línguas. Anima antes os coríntios a “profetizar”, isto é, a 
dar expressão à mensagem do evangelho. Outrossim, nesta epístola 
discutem-se o verdadeiro e o falso “conhecimento” (vejam-se os vv. 18 e 
segs.). Os coríntios, pois, por sua atividade intelectual estavam 
provocando a discussão de novidades, sobre as quais havia necessidade 
de orientação apostólica. 
 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 15 
c) Confiante esperança neles (1.8-9) 
 
 Jesus Cristo vos confirmará até ao fim (7-8). «Confirmar» 
significa fortalecer a graça já concedida, de modo a fazê-la durar até ao 
fim. O resultado será tornarem-se eles irrepreensíveis, inatacáveis, no 
dia de nosso Senhor Jesus Cristo (8), isto é, quando Cristo voltar como 
juiz. 
 Fiel é Deus (9). Podemos confiar plenamente nas promessas 
divinas. Esta é a razão pela qual a confiança em Deus é a pedra de toque 
e a alegria do verdadeiro cristão. Fostes chamados (9). A certeza de que 
é Deus quem nos chama para a comunhão do Seu Filho Jesus Cristo 
(9) remove muitos temores oriundos da confiança própria. Este 
pensamento tem sido objeto da atenção de muitos mestres cristãos. A 
frase comunhão do Seu Filho é um modo de referir à Igreja, e seu uso 
aqui é significativo em vista dos sentimentos sectaristas que haviam 
surgido em Corinto, a respeito dos quais o apóstolo vai já tratar com 
seriedade. Os crentes devem estar em comunhão uns com os outros 
porque cada um deles está nessa relação para com Cristo. 
 
II. DIVISÕES NA IGREJA - 1.10; 4.21\ 
 
a) Exposição dos fatos (1.10-17) 
 
 Os vv. 10-17 são algo chocantes. Os “santos” estão brigando uns 
com os outros! Como explicar isto? A santidade, no Novo Testamento, 
significa em primeiro lugar um estado diante de Deus, mas deve também 
manifestar-se em santidade de vida. Isto requer exercício voluntário e 
autodisciplina. 
 Pelo (ou “mediante” o) nome de nosso Senhor Jesus Cristo (10). 
Trazer à lembrança o Mestre divino, eis o meio de fazer alguém 
envergonhar-se dos seus próprios pecados. Aliás Paulo não ousou 
corrigir os santos por sua própria autoridade. Antes sejais inteiramente 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 16 
unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer (10). 
“Mente” e “parecer” talvez se diferenciem em aquela significar acordo 
de pensamento, e este querer dizer acordo em decisão ou propósito. 
 Fui informado pelos da casa de Cloe (11). Alguns cristãos de 
Corinto estavam contristados com as atitudes sectaristas dentro de sua 
igreja, e apelaram a Paulo. Cloe não se menciona mais em parte alguma. 
 Eu sou de Paulo; e eu de Apolo, e eu de Cefas; e eu de Cristo 
(12). Qual fosse o ensino particular, ou ponto de vista, de cada um destes 
partidos, não se pode determinar com certeza. Talvez se tratasse apenas 
de preferências pessoais, mas neste caso é difícil explicar a razão de ser 
do partido de Cristo. Várias sugestões têm sido apresentadas - que os de 
Paulo eram um grupo que talvez mais do que este apóstolo dava ênfase à 
libertação de sob o jugo da lei judaica; os de Apolo eram aqueles 
influenciados por sua retórica, provindos de Alexandria, centro de 
retórica judaica; os de Cefas podiam ser oponentes dos Paulinos, 
homens que se firmavam na lei e no cerimonialismo dos judeus (ver a 
Introdução); e os de Cristo podiam ser cristãos que arrogavam para si, 
de um modo exclusivo, o nome do Salvador. Tudo isto, porém, é 
conjectura, e em qualquer caso não interfere com a principal mensagem 
da seção que é evitar distinções sutis que levam a meras diferenças 
verbais (Veja-se outra vez 2Co 10.7-18). 
 O apóstolo enfrenta a situação de modo muito eficaz. 
 Acaso Cristo está dividido? foi Paulo crucificado em favor de 
vós? (13). A união dos cristãos entre si está em Cristo, e nunca será 
conseguida por acordo em torno de teorias. Fostes porventura 
batizados em nome de Paulo? (13). O rito do batismo podia ser mal 
interpretado como algo que o seu ministro pudesse realizar por virtude 
própria (veja-se o verso 15). O apóstolo rende graças (nas presentes 
circunstâncias) por haver batizado muito poucos. 
 Não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o 
evangelho (17). O intuito destas palavras não é depreciar o batismo, mas 
dar ênfase ao fato de que a pregação de Cristo, levada a efeito por ele, 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 17 
Paulo, não podia dar ocasião a ninguém dizer que, por ela, o apóstolo 
granjeava convertidos para si. E tal pregação era desataviada de retórica 
mundana, sabedoria de palavras (17), que era, nos dias de Paulo, o 
critério pelo qual se reconhecia quem falava bem. Ele, porém, se absteve 
disso, porque a força salvadora de sua mensagem não estava em 
sabedoria de palavras,mas na cruz de Cristo (17). 
 
b) A causa (raiz) das divisões: uma concepção errônea de 
sabedoria (1.18; 3.4) e do ministério cristão (3.5-4.13) 
 
 1. CONTRASTADAS A VERDADEIRA E A FALSA SABEDORIA 
(1.18-2.5) - A pregação da cruz é loucura para os que se perdem (18). 
O homem natural, isto é, como nasce no mundo, não pode crer na séria 
conseqüência do pecado, e por isso não se pode compenetrar da 
necessidade de receber a Cristo, que foi feito pecado por nós (2Co 5.21). 
Uma coisa parece loucura ao homem natural, quando não se ajusta às 
suas idéias preconcebidas. Para nós, que somos salvos, é poder de 
Deus (18). O grego tem os verbos destas duas frases assim: “Os que 
estão perecendo... nós que estamos sendo salvos”. Cada frase representa 
uma classe. O Novo Testamento ensina que os “santos”, isto é, os 
verdadeiros crentes, estão na classe dos salvos, contudo ainda não estão 
plenamente santificados. A santificação é um processo. 
 O apóstolo agora passa a considerar a natureza e o valor da 
sabedoria do mundo, contrastando-a com a natureza e o valor da 
sabedoria que se acha em Cristo Jesus. 
 Não tornou Deus louca a sabedoria do mundo? (20). Todos os 
sistemas filosóficos da lavra do homem, que se alheiam de Deus ou O 
definem segundo a imaginação humana, acabam em nada, em loucura. 
“Porventura, pesquisando, poderás encontrar Deus?” (Jó 11.7). 
 Por sua própria sabedoria o mundo não O conheceu (21). Na 
última parte de Rm 1, o apóstolo discorre longamente sobre os falsos 
caminhos palmilhados pelo homem. Podia-se fazer um confronto das 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 18 
duas passagens. Tanto é verdade que Deus é manifestado pelo universo 
em si (esta é a mensagem de Rm 1) como é verdade que o homem não 
pode ter um verdadeiro conhecimento de Deus só pelos dons naturais (é 
esta a mensagem de 1Co 1). 
 A loucura da pregação (21). Pregação aqui, no grego, significa a 
“mensagem”. Refere-se aos simples fatos, como podíamos dizer, da 
história cristã, o conteúdo do evangelho. Este conteúdo parecia “loucura” 
(porque muito fora do comum; como o nascimento virginal, a 
ressurreição) aos gregos contemporâneos do apóstolo. Ainda parece 
loucura a muitos hoje, porque a mentalidade grega (mais ou menos 
racionalista) persiste na Europa. Os que crêem (21). “Crer” no Novo 
Testamento não implica comumente assentimento intelectual em 
primeiro lugar; antes é confiança pessoal adicionada a obediência. 
Aceitando-se os fatos do evangelho como provindos de Deus e, portanto, 
confiando-se neles plenamente, entra-se num estado de salvação. 
 Os judeus... sinais, os gregos... sabedoria (22). Temos aí a suma 
das características raciais de cada classe numa palavra. Os judeus eram 
caçadores de milagres. Lembramo-nos da atitude de nosso Senhor para 
com os ditos milagres. Aliás, procurava ocultá-los. A sabedoria dos 
gregos era uma atividade intelectual. Ninguém nega a elevada percepção 
intelectual dos filósofos gregos, nem a superioridade de muitos de seus 
escritos. Todavia nada disto tem poder salvador para o gênero humano 
em sua generalidade. Algo mais é necessário, na presença do qual as 
lucubrações humanas mais sublimadas se mostram de nenhum poder. 
 Esse algo é Cristo crucificado (23), que é pedra de tropeço (23) 
para os judeus, por várias razões. Em si mesma a cruz é sinal de 
ignomínia e derrota. Além disso, feria a sensibilidade da consciência 
judaica. Era o reverso da vitória do Messias, a estabelecer um «reino 
glorioso, aqui e agora». 
 É loucura (23) para os gregos, porque não parece ter explicação 
intelectual. Houve porém alguns judeus e gregos que acharam ser ela o 
poder e a sabedoria de Deus (24). Poder de Deus porque o pecado, até 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 19 
aí adversário invicto do homem, foi por ela vencido; sabedoria de Deus 
porque mostra que Ele conhecia a verdadeira natureza do fracasso do 
homem e fez provisão para o mesmo. 
 E o apóstolo conclui declarando triunfantemente que a loucura de 
Deus (como assim julgam) é mais sábia do que os homens; e a 
fraqueza de Deus é mais forte do que os homens (25). 
 À vista disso, não é de surpreender que não foram chamados 
muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos 
de nobre nascimento (26). As idéias deles estavam já fixas em outro 
canal. Pelo contrário, Deus «exaltou os humildes e os mansos». 
 Ele escolheu as coisas loucas... as coisas fracas.... as coisas 
humildes... e as desprezadas, e aquelas que não são (27-28) para 
mostrar Seu poder. Se Deus pode exaltar coisas que os homens 
rejeitaram como inúteis - tanto coisas como pessoas - então Ele é 
onipotente. 
 A fim de que ninguém se vanglorie em Sua presença (29). O 
primeiro passo para a recuperação do gênero humano é descobrir que, 
fora de Deus, o homem não tem qualquer base para existir. 
 Os vv. 30 e 31 resumem o pensamento do apóstolo. Podiam ser 
parafraseados assim: “Vós, cristãos, entretanto, reconheceis de fato vossa 
dependência de Deus, porque sois filhos de Deus em Cristo Jesus, isto é, 
mediante Seus méritos e vossa relação com Ele. Jesus Cristo é para nós a 
verdadeira sabedoria que vem de Deus; Ele também representa absoluta 
justiça e santidade, e completa restauração ao estado de perfeição, em 
nosso favor. Por conseqüência seguimos a verdade, como está escrito. 
Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (Veja-se Jr 9.23-24). 
 
1 Coríntios 2 
 O apóstolo Paulo mesmo procedia assim. Quando fui ter 
convosco... não o fiz com ostentação de linguagem, ou de sabedoria 
(2.1). Absteve-se de toda capacidade ou poderes naturais. Seu propósito 
era declarar o testemunho de Deus (1). Outros MSS gregos trazem 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 20 
“mistério de Deus”. A palavra “mistério” no Novo Testamento grego 
traz o sentido de algo que está sendo revelado - não, como entre nós, 
alguma coisa que nos mistifica. A idéia aqui do ensino de Paulo é que 
Deus Se revela aos que dEle se aproximam em Cristo - sendo este, 
naturalmente, o tema de todo o Novo Testamento. O conhecimento de 
Deus é, pois, “misterioso” no sentido de que o homem natural, agindo 
por suas próprias faculdades, não pode recebê-lo (veja-se ainda sobre o 
verso 14). O vocábulo “testemunho”, que ocorre em outros manuscritos 
gregos, dá ênfase antes à operação do conhecimento de Deus na vida de 
Paulo. A obra deste apóstolo em Corinto, como evangelista, assinalou-se 
por ausência de encenação - foi feita em fraqueza, temor e grande 
tremor (3). Ocupou-se inteiramente em apresentar a Pessoa de Cristo 
(pelas razões já enumeradas em 1.30) e Sua obra por nós na cruz - o 
evento da vida de Cristo que exigia o máximo de compreensão. 
 A minha palavra e a minha pregação não consistiram em 
linguagem persuasiva de sabedoria (4). Os coríntios não 
compreendiam um pregador sem oratória. Tinham ainda que reconhecer 
a vaidade de toda sabedoria humana, por um lado, e o poder convincente 
do Espírito (4), de outro. A fraqueza do apóstolo era de fato um auxílio 
para que o poder do Espírito se demonstrasse (veja-se também 2Co 12.9 
– “Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”). Teve o mérito de evitar que 
os coríntios fossem levados a exaltar a Paulo em lugar de Deus - para 
que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e, sim, no 
poder de Deus (5). 
 
 2. DEFINIÇÃO DA VERDADEIRA SABEDORIA (2.6-13) - 
Expomos sabedoria entre os experimentados (perfeitos) (6). Paulo 
está falando das coisas de Deus ao povo de Deus. A verdadeira sabedoria 
origina-se em Deus, e todo o seu conteúdo deriva-se dEle. “O temor do 
Senhor é o princípio da sabedoria”. (Veja-se também Jó 28.28). A 
sabedoria humana, pelo contrário, tem numerosos pontos de partida e 
igualmente diversos conteúdos, de modo que não há nela unidade. 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 21 
Experimentados (perfeitos) é um termo aplicado no Novo Testamento 
aos crentes. Pode ser considerado quase como um termo técnico. O 
crente é “perfeito” porque é nova criaturaem Cristo, de cuja perfeição 
participa aos olhos de Deus. Não implica impecabilidade enquanto ele 
estiver na carne. “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós 
mesmos nos enganamos” (1Jo 1.8). A palavra é provavelmente 
introduzida neste contexto para dar ênfase ao fato de que, em Cristo, o 
crente tem experiência das realidades finais. 
 Príncipes deste mundo (6). “Poderosos desta época” (ARA). A 
palavra é “governadores”, e o pensamento pode ser a maneira pela qual o 
povo do mundo acompanha o aparato dos que estão em autoridade. Tais 
aparatos logram larga publicidade, mas eventualmente se reduzem a 
nada (6). (Alguns comentadores acham que “príncipes deste mundo” 
significa anjos. Satanás algumas vezes é assim chamado). 
 Pelo contrário, a sabedoria de Deus é oculta (7), é falada em 
mistério (veja-se 2.1). Está oculta na própria natureza do universo, 
preordenada desde a eternidade (7) com vistas à nossa glória (7), isto 
é, levando-nos à glória e trazendo glória para nós. 
 Nenhum dos príncipes deste mundo conheceu (8) tal glória, 
porque se eles a conhecessem sua atitude para com Cristo teria sido 
diferente - não teriam crucificado o Senhor da glória (8). Note-se este 
título de Cristo. “Glória” é outro termo técnico no Novo Testamento que 
significa um atributo de Deus que Ele concede aos crentes. 
No verso 9 se diz que é algo além da capacidade natural que o 
homem tem de concebê-la - O olho não viu, etc. Estas palavras não se 
acham no Velho Testamento exatamente como estão citadas aqui, porém 
parecem ser uma combinação de Is 64.4 e 65.16-17. Temos aqui uma 
ilustração instrutiva do conhecimento que Paulo tinha do Velho 
Testamento, e do livre uso que dele fazia. 
 Deus no-las revelou pelo seu Espírito (10). Este versículo 
declara a necessidade que temos da direção do Espírito para a 
compreensão das coisas de Deus. Assim como alguém compreende seu 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 22 
companheiro mediante a participação de um espírito que lhes é comum 
(11), assim o homem só pode compreender a Deus por meio da 
comunhão do Espírito de Deus (11). Este verso é interessante por 
apresentar a idéia de comunicação mediante um “espírito” comum. 
 A palavra “espírito” na Bíblia não é facilmente definida, 
significando às vezes pouco mais do que “influência”, mas outras vezes 
é usada de um modo que indica plena e distintamente a terceira Pessoa 
da Santíssima Trindade. O verso 11 podia ser usado como ponto de 
partida de uma investigação deste assunto. 
 Nós não temos recebido o espírito do mundo, e, sim, o Espírito 
que vem de Deus (12). Aqui, no grego, a palavra “mundo” é diferente 
da que foi usada no verso 7, acima. Lá o sentido é de “época”; aqui a 
significação é de “universo ordenado”. A frase espírito do mundo quer 
dizer o espírito ou modo de ver, concepção de nossa humana civilização. 
 Foi-nos dado gratuitamente (12). A revelação de Deus foi-nos 
dada completamente no Jesus histórico; é pois um acontecimento do 
passado, mas com potencialidades sempre presentes. 
 Falamos esta verdadeira sabedoria de Deus, não em palavras 
ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito (13). 
É um tipo de sabedoria de todo em todo diferente, contendo concepções 
diferentes e assim se expressando de modo diferente. Conferindo coisas 
espirituais com espirituais (13). Dentro do âmbito desta sabedoria 
espiritual há oportunidade para comparações de uma parte com outra. 
 
 3. POR QUE TANTOS FALHAM EM COMPREENDER (2.14-3.4) – 
 O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus 
(14). No “homem natural” não há o Espírito de Deus que o capacite a 
compreender. 
 O homem espiritual (15). Temos aí o contrário do “homem 
natural”. O contraste é entre o homem como ser inteligente (mas caído) e 
o homem como ser espiritual (regenerado pelo Espírito). Julga todas as 
coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém (15). O regenerado 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 23 
tendo em si o Espírito de Deus, tem capacidade de julgar todas as coisas 
sob uma verdadeira luz - a luz de verdade; mas ele próprio esta fora do 
alcance da compreensão do homem natural. Moffatt tem: “Ninguém 
pode ler o que ele é”. 
 A razão é que o homem natural não conhece a mente do Senhor 
(16), mas os crentes têm a mente de Cristo (16), porquanto Cristo neles 
habita pela fé (veja-se Cl 3.16). 
 
1 Coríntios 3 
 O apóstolo põe de parte esse tema elevado e volta-se para os seus 
leitores, os cristãos coríntios. Estes ainda não estão inteiramente 
entregues à operação do Espírito Santo. 
 São carnais, crianças em Cristo (3.1). Teve de alimentá-los com 
leite, e não com sólido (2) e continuam precisando deste gênero de 
alimento. Ainda sois carnais: porquanto, havendo entre vós ciúmes, 
etc. (3). A existência de lutas partidárias era índice de que o Espírito 
Santo não dominava inteiramente aquela igreja. A forma grega da 
palavra “carnal” difere ligeiramente no verso 1 e no verso 3. No verso 1 
a palavra significa “carnal”, “feito de carne”; no verso 3 quer dizer 
“carnal no caráter”, “de mentalidade carnal”. Os recém-nascidos do 
Espírito ainda conservam seus desejos naturais por mais ou menos 
tempo. Isto não é censurável, porém, sim, permanecer mentalmente 
carnal, isto é, conservar o critério pelo qual o mundo julga as coisas. 
Proceder assim é andar segundo o homem (3). 
 E o mundo vai sempre atrás de vozes de partido - Eu sou de 
Paulo... Eu sou de Apolo (4). 
 Esta seção, em sua inteireza (1.18-3.4) ensina que o Espírito dá ao 
crente o poder de julgar todas as coisas. Todavia não implica que a 
religião cristã é uma forma de experiência ou de pensamento que se opõe 
às operações das faculdades naturais do homem, tais como a razão e o 
sentimento. Mais adiante, nos caps. 12 e 14, o apóstolo adverte seus 
leitores contra uma atitude anti-racionalista no que concerne a fatos 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 24 
espirituais. Além do que, o ensino aqui, enquanto sustenta que a vida 
cristã é vivida no Espírito, não implica entretanto que é uma vida de 
misticismo, divorciada dos interesses humanos e ordinários. Paulo era 
possivelmente, dos apóstolos, o de mentalidade mais prática. 
 
 4. OS MINISTROS, EM SI, NADA SÃO (3.5-9) - O apóstolo 
agora considera a segunda causa das divisões. Não apenas têm uma 
concepção errônea de sabedoria: do ministério também fazem um 
conceito errado. 
 Servos por meio de quem crestes (5). O ministro nada é em si, e 
de fato é erro perigoso ele agigantar-se no horizonte visual dos crentes, 
atraindo para si as atenções, porquanto ele é apenas aquilo que Deus o 
fez ser - conforme o Senhor concedeu a cada um (5). Eu plantei, 
Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus (6). Os dois primeiros 
verbos, no grego, indicam ação completa no passado, enquanto o terceiro 
(veio) está no pretérito imperfeito, denotando ação continuada. A 
mudança do tempo do verbo é digna de nota. 
 São um (8). Paulo e Apolo não dissentem entre si; aliás, os 
ministérios deles para Deus, embora diferentes no caráter, são partes de 
um mesmo processo. Cada qual, porém, tem sua parte a realizar, e 
receberá o seu galardão (8). 
 Lavoura de Deus, edifício de Deus (9). São duas metáforas 
favoritas da doutrina cristã, e vale a pena ponderá-las. Deus é o Mestre-
Jardineiro, o supremo Arquiteto. 
 Apolo, que é mencionado aqui, é também referido em At 18.24-
28. Alexandrino culto, com algum conhecimento do Cristianismo, veio a 
Éfeso onde foi mais instruído por Áquila e Priscila, amigos íntimos de 
Paulo. Parece que ele almejava, de modo particular, ir a Corinto, de onde 
Paulo, Áquila e Priscila saíram havia pouco, sendo recomendado por 
carta aos irmãos dali. Logo começou a ensinar na sinagoga de Corinto 
que Jesus era o Messias. Devia ser um orador distinto, para que um 
partido, naquela igreja, tomasse o seu nome. Será que ele, sem o querer, 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 25 
fez surgir ali o espírito de partido?Paulo não indica que Apolo se lhe 
opusesse - o que planta e o que rega são um - de modo que não 
podemos admitir esta idéia. No caso, a falta não estava nos ministros. A 
menção que o apóstolo faz aqui ao seu nome e ao de Apolo pode ser 
apenas para servirem de exemplo: o verso 4.6 possivelmente o indica. 
 
 5. OS MINISTROS SÃO RESPONSÁVEIS PELA NATUREZA 
DA OBRA QUE EXECUTAM (3.10-17) - Segundo a graça que me foi 
dada (10). Embora a si mesmo chame de mestre-construtor (10), 
recebe de Deus instruções e força. A obra é de Deus, pensamento este 
que tanto acalma ansiedade excessiva da parte do ministro, como 
também o inspira lembrando-lhe a alta dignidade de seu ofício. 
 Lancei o fundamento... que é Jesus Cristo (10-11). Cf. Ef 2.20 
n. O único fundamento do Cristianismo é Jesus Cristo. Nenhuma teoria 
ou sistema, de idéias, mesmo aquele que dê um lugar a Jesus Cristo, 
pode substituir esse fundamento. 
 Se alguém edificar... (12). Empregando a metáfora da construção, 
o apóstolo compara as obras dos ministros cristãos a ouro, prata... (12) 
Algumas obras são preciosas duráveis; outras não têm valor e não 
resistem à prova. 
 Será revelada pelo fogo (13). Ouro, prata e pedras preciosas 
podem passar ilesos pelo fogo; madeira, feno, palha são por ele 
consumidos. Assim, as obras de alguns ministros resistem; as de outros 
desaparecem. Note-se a mudança que Paulo faz da metáfora, passando 
de edifício para os materiais que ilustram durabilidade ou o inverso, 
quando submetidos ao fogo. O dia a demonstrará (13). Provavelmente 
o apóstolo queria dizer somente o dia da prova, não o dia de Juízo. Cf. 
Rm 14.10-12. 
 Receberá galardão... sofrerá dano (14-15). Quando estamos “em 
Cristo Jesus” (veja-se Rm 8.1), podemos executar trabalho para Deus, 
que Ele avaliará e recompensará conforme for de justiça; a natureza da 
recompensa não está revelada aqui. 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 26 
 Esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo (15). 
Paulo se empenha por fazer distinção entre o ministro e sua obra. Esta 
pode perder-se - como palha consumida no fogo; mas o ministro crente 
será salvo “todavia como que através do fogo”. Esta frase pode ser mero 
provérbio dos gregos significando “escapar por um triz”, sendo 
coincidência que a figura do fogo se empregue aí para descrever a prova 
da obra, e a mesma palavra se encontre nesta frase proverbial. O 
apóstolo considera digno de lástima o cristão que não tem obras para 
exibir, visto perder o gozo do serviço do Mestre. 
 Estes vv. 13-15, admite-se, soam estranho à primeira vista, e têm 
sido interpretados de outras maneiras que não a acima indicada. As 
idéias decisivas são apresentadas pelas palavras o dia (13) e salvos 
através do fogo (15). Trata-se do Dia do Juízo? Em caso afirmativo, 
“fogo” aí seria o juízo divino; e tal metáfora, com efeito, usa-se no Velho 
Testamento, e ainda por nosso Senhor ao referir-se à Geena. Perfilhando 
esta idéia, a Igreja Romana usa o verso 15 em apoio de sua doutrina 
acerca do Purgatório. Mas como acontece tantas vezes com hipotéticos 
apoios bíblicos que ela apresenta para suas doutrinas distintivas, a frase 
salvos pelo fogo está inteiramente deslocada do seu contexto. Este 
contexto é o Dia do Julgamento (se tal suposição for aceita), e não um 
estado intermediário entre a morte e o juízo. Não é possível a passagem 
em questão apresentar a doutrina de uma purificação dos crentes após a 
morte. 
 A explanação oferecida acima é muito simples, e baseia-se no 
ponto de vista de que “o dia” significa algo como sejam as ocasiões de 
prova que ocorrem cada dia; “fogo” emprega-se então aí em dois 
sentidos um como simples ilustração de algo que submete a um teste 
severíssimo, e o outro sentido deriva-se de um provérbio grego. 
 Em todo o Novo Testamento encontram-se exortações aos crentes 
para que se dêem às boas obras a começar com o ensino de nosso 
Senhor, assim quando disse, “Brilhe de tal modo a vossa luz diante dos 
homens que eles vejam vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 27 
está no céu”. Outrossim, a concessão de recompensas a tais boas obras 
foi referida por nosso Senhor – “de modo algum perderá seu galardão” - 
e outras vezes mencionada nos escritos apostólicos. Conseqüentemente a 
passagem em lide enquadra-se perfeitamente no ensino geral do Novo 
Testamento; apenas sua fraseologia é peculiar. 
 Vós sois santuário de Deus (16). Em outro lugar o apóstolo diz 
que o crente é habitado pelo Espírito Santo - "vosso corpo é santuário do 
Espírito Santo” (1Cr 6.19), mas aqui ele o diz da Igreja de Corinto 
inteira. 
 Se alguém o destruir... Deus o destruirá (17). É o oposto do 
pensamento do verso 15, onde se diz que o obreiro cristão faltoso é 
salvo, embora sua obra seja destruída. Aqui, o que danificar o santuário 
de Deus será por Deus destruído. Podemos comparar este pensamento 
com a doutrina de nosso Senhor acerca dos tropeços posto diante de um 
crente (veja-se Mt 18.6). 
 
 6. AVISO CONTRA A JACTÂNCIA E O JUÍZO (3.18-4.5) - Se 
alguém se tem por sábio (18). Este verso é um bom exemplo do modo 
franco de Paulo falar. Podia dirigir-se aos que se vangloriavam da 
educação que tinham, porque ele próprio tivera uma “educação 
universitária”. Conhecia de experiência a vaidade da especulação 
humana concernente ao sentido real da vida e do universo. Faça-se 
estulto (18). Seu conselho é que se ponha de lado, decididamente, tal 
sabedoria humana. 
 Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus 
(19). Parte da penalidade da queda é a corrupção de toda atividade 
humana - tudo quanto o homem faz «antes da graça de Cristo» (veja-se o 
Artigo nº XIII dos Artigos de Religião da Igreja Episcopal) está 
manchado de pecado. Seguem-se duas citações; a primeira é citação livre 
de Jó 5.13 - a única citação direta desse livro no Novo Testamento - e a 
segunda (verso 20) é do Sl 94.11. 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 28 
 Ninguém se glorie nos homens (21). Como o verso seguinte 
mostra, Paulo ainda tem no pensamento as lutas partidárias referidas em 
1.12 e 3.4. Cada grupo arrogava-se claramente o monopólio da verdade e 
da sabedoria, vangloriando-se no líder particular de sua preferência. 
Estes grandes líderes, porém, são realmente servos, e cada um deles 
pertence à igreja toda. Permitindo que tais grupos sectários ergam o colo 
no meio deles, os cristãos coríntios mostram não perceber a extensão do 
que possuem em Cristo. Têm um Mestre em quem se gloriar, Cristo 
Jesus ao qual pertencem. O próprio Jesus pertence a Deus. (Quanto a 
esta última frase e Cristo de Deus, veja-se nota sobre o cap. 15.24-28). 
A advertência contra o “culto dos heróis” deve ser observada com 
cuidado. A glorificação do homem é a raiz de muito sectarismo que há. 
 
1 Coríntios 4 
 Ministros... e despenseiros (4.1). O pensamento do apóstolo 
passa de um aspecto do caso para outro. Depois de dizer que os ministros 
em si nada são, e que é tolice alguém se proclamar adepto de um mestre 
humano, passa a considerar que ele e Apolo são ministros de Cristo - o 
nome de Jesus dá-lhes uma posição que não deve ser subestimada. 
Emprega a metáfora da mordomia. O mordomo (ou despenseiro), tendo 
irrestrito acesso aos haveres de seu patrão, precisa ser honesto tanto 
quanto leal ao mesmo patrão (1). 
 A única pessoa cuja apreciação o mordomo valoriza (ou teme) é o 
seu senhor - a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós.... pois 
quem me julga é o Senhor (3-4). O mordomo nem sequer pode confiar 
no juízo que faz de si mesmo; pode não estar cônscio de suas próprias 
falhas (4). 
 O conselho do apóstolo, portanto, aos cristãos é no sentido de 
desistirem de emitir juízo uns sobre os outros, deixando o exercício 
desse julgamento para Cristo, quando vier, e então cada um receberá o 
seu louvor da parte de Deus (5). É parte significativa do evangelho 
apresentado por Paulo o fato de o Senhor vir para julgar. Uma cláusula1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 29 
do Credo Niceno conserva-nos de sobreaviso com relação a esta verdade 
- “Creio... que Ele virá em glória, para julgar os vivos e os mortos”. 
 Deste modo o apóstolo enfatiza seu ensino concernente aos 
ministros cristãos. Todo o seu conceito repousa em Cristo, de quem eles 
são ministros. Todos os crentes pertencem a Cristo; os ministros foram 
instrumentos por meio dos quais creram (3.5). 
 
 7. O EXEMPLO DOS APÓSTOLOS (4.6-13) - Apliquei a mim e 
a Apolo (6). Desde a primeira referência às várias divisões em 1.12, 
Paulo omitiu qualquer alusão a líderes, exceto ele mesmo e Apolo. De 
16.12 podemos inferir que o assunto fora discutido com Apolo, e este, 
sem dúvida, concordou com a decisão de Paulo de usar os dois como 
ilustração de fragilidade humana, a fim de mostrar aos coríntios que não 
deviam ultrapassar o que estava escrito (6). Aí provavelmente se 
refere às Escrituras e significa que a opinião que fazemos do homem 
deve ser bíblica. Podíamos ainda entender daí que “na apreciação que 
fazemos dos homens não devemos ir além do que se acha escrito (isto é, 
manifesto) no caráter deles”. Exaltando um (digamos Paulo) em 
detrimento de outro (como Apolo) incentivavam o orgulho deles, 
coríntios. A tolice de tal orgulho é evidenciada nos versos seguintes. 
 Que tens tu que não tenhas recebido? (7). Este pensamento 
corta pela raiz toda vanglória. 
 Já estais fartos.... (8). Paulo fala ironicamente. Tal vanglória de si 
mesmos como crentes não é compatível com a verdadeira 
espiritualidade. Oxalá reinásseis (8). E uma súplica fervorosa pelo 
advento do reino de Deus, que torna ainda mais vívida a descrição que 
adiante faz dos seus sofrimentos presentes. 
 Espetáculo (9); é referência às disputas dos gladiadores na arena. 
Ele figura o mundo inteiro e até os anjos como espectadores, ao passo 
que os apóstolos, um grupinho fraco, são por fim introduzidos em cena 
para combaterem até à morte. Com certa ironia ele contrasta ainda mais 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 30 
as pretensões dos coríntios com a experiência atual dos apóstolos, que 
são desprezados e tratados como escravos. 
 E nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos 
(12). Veja-se At 18.2-3 e cf. 1Ts 2.9 e 2Ts 3.8. Cf. também 1Cr 9.18. 
(12). O apóstolo põe em prática o ensinamento de nosso Senhor no 
Sermão do Monte. Veja-se Mt 5.44. A atitude dos coríntios, na 
aparência, era muito diferente. Veja-se 6.7. Os termos lixo e escória, no 
verso 13, trazem a idéia de sacrifício. Tamanha degradação Paulo pode 
querer dizer que é em favor dos outros. Toda esta passagem revela a 
profunda simpatia do apóstolo e seu grande interesse pelos cristãos 
coríntios. 
 
c) Último apelo para pôr fim às divisões (4.14-21) 
 
 Escrevo para vos admoestar como a filhos meus amados (14). 
Isto mostra verdadeira simpatia de Paulo pelos coríntios. 
 Eu pelo evangelho vos gerei em Cristo Jesus (15). Aqui ele 
reclama explicitamente para si ter sido o primeiro a pregar o evangelho 
em Corinto. Provavelmente o mesmo aconteceu com a Grécia de modo 
geral. Veja-se At 16.6-11; 18.1-18. 
 Pode, portanto, exigir deles justificadamente atenção e lealdade - 
que sejais meus imitadores (16). Com efeito enviou-lhes Timóteo para 
lhes lembrar o que dele haviam aprendido, o que evidentemente vieram a 
esquecer (17). 
 Ensoberbeceram-se (18). Esta palavra aliás é distintiva desta 
epístola, onde ocorre seis vezes (4.6,18-19; 5.2; 8.1; 13.4). Indica uma 
atitude de superioridade sobre os outros, verdadeira antítese do espírito 
cristão. 
 Não a palavra, mas o poder (19). A atitude do apóstolo para com 
esses tais é desafiadora. Que sejam provados e vejamos se a força de agir 
é tão grande como a jactância deles quer sugerir. 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 31 
 O reino de Deus consiste não em palavra mas em poder (20). O 
que revela que somos membros desse reino é o poder de Deus em nossa 
vida, e não mera profissão de lábios. 
 Irei a vós outros com vara (21). O apóstolo assume atitude 
autoritária dispondo-se a aplicar medidas disciplinares contra eles, caso 
seja necessário. Esta deliberação, no entanto, procede não do desejo de 
dominá-los, mas de real ansiedade pelo bem estar espiritual deles, como 
se vê das palavras seguintes, ou com amor e espírito de mansidão (21). 
A eles cabia escolher. 
 
III. DELITOS MORAIS NA VIDA DA IGREJA - 5.1-6.20 
 
1 Coríntios 5 
a) Frouxidão no caso de incesto (5.1-13) 
 O apóstolo passa de súbito a comentar a frouxidão moral dos 
cristãos coríntios. Primeiro é o caso notório do crente que tomou a 
mulher de seu próprio pai. Podemos supor que o pai já houvesse 
morrido; contudo, esse ato era contrário às leis matrimoniais do Velho 
Testamento, as quais ainda obrigavam a Igreja. Além disso era um ato 
que nem os gentios toleravam (veja-se o verso 1). Mas o que mais 
admirava era a igreja ali aceitar a situação sem discuti-la! 
 Andais ensoberbecidos e não chegastes a lamentar (2). 
 Eu... já sentenciei (3), diz ele. Este é um dos casos em cuja 
condenação ninguém deve hesitar; não é possível haver circunstâncias 
que o atenuem. 
 Com palavras muito solenes o apóstolo instrui a igreja como deve 
proceder - Em nome do Senhor Jesus... seja ele entregue a Satanás 
para a destruição da carne (4-5). A igreja devia convocar uma 
assembléia solene e, cônscia do poder do Senhor Jesus Cristo (note-se o 
título completo) no seu meio, entregasse a Satanás o irmão escandaloso. 
Paulo mesmo estaria com eles, e o meu espírito (4). Pode significar que 
empregaria o tempo em fervente oração por eles. 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 32 
 Seja entregue a Satanás (5). O Novo Testamento ensina que 
Satanás é o “príncipe deste mundo” (veja-se Jo 12.31). Contudo tem 
poder apenas sobre a “carne” (Jó 2.5-6; Lc 13.16; 2Co 12.7). Em 1Tm 
1.20 lemos: “Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás para 
que aprendam a não blasfemar”. Estas passagens mostram que Satanás 
tem permissão de Deus para infligir sofrimento físico aos homens, o que 
pode resultar no arrependimento deles. 
 Devemos admitir que hesitaríamos muito, hoje em dia, em fazer 
precisamente o que o apóstolo mandou que os coríntios fizessem. 
Podíamos desculpar-nos lembrando que a Igreja dos tempos apostólicos 
tinha de agir de modo especial em determinadas circunstâncias, a fim de, 
inequivocamente, estabelecer a autoridade do Senhor ressuscitado. 
Demais disto, a Igreja apostólica era uma corporação pequena, 
relativamente, e por conseqüência sua vida era muito mais intensa em 
assuntos espirituais (ou era capaz de o ser, sob a direção apostólica). 
 Mas, embora hoje possamos achar difícil pensar nos termos 
precisos aqui usados pelo apóstolo, não há razão para não tomarmos a 
sério e pormos em prática o conselho que ele dá, a saber, excluir da 
congregação os que são malfeitores notórios. Olhando o verso 11 
adiante, vemos ali uma lista de pecados que devem ser tratados desse 
modo. Qualquer membro da igreja que peque dessa forma deve ser 
francamente condenado em face da congregação, fazendo-se ver a ele 
que Satanás o tem preso em tais práticas, afastando-se do seu convívio os 
outros crentes, na esperança de que venha a descobrir a gravidade de sua 
situação e se arrepender, de modo que seu espírito se salve no dia do 
Senhor Jesus (5). 
 Fermento (6). Aqui o termo é empregado como símbolo da 
natureza humana corruptível. Se um elemento de corrupção for tolerado 
na igreja, toda ela se corromperá. 
 Lançai fora o velho fermento (7). O uso que faz dessa palavra 
lembra-lhe a cerimônia da páscoa, na religião do Velho Testamento, e 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 33 
pelo Espírito é levado a ver na mesma uma ilustração da dispensação 
cristã. Cristo é nossa páscoa (7) e foi imolado por nós (7). 
 Por isso celebremos a festa... com sinceridade e verdade (8). Os 
israelitas na antiguidade ficaram de sobreaviso e se prepararam, 
espiritual e moralmente,para a observância da páscoa. Assim também 
devem estar os cristãos, em todo o tempo da presente era da páscoa de 
Cristo. 
 Acrescenta o apóstolo, no verso 9, que já lhes aconselhara, numa 
epístola anterior, a não se associarem com os impuros. Esclarece agora 
o que quis significar: não deviam admitir pessoas impuras como 
membros na igreja. Reconhece que os crentes, em suas relações com o 
mundo, não podem evitar o contacto dos impuros, avarentos ou 
roubadores (10). 
 Mas, se alguém que se diz irmão for impuro, com esse tal nem 
ainda comais (11). Esta referência a uma carta anterior é muito 
interessante. Ao que saibamos, nada ficou dessa carta, que chegasse ao 
nosso conhecimento, a não ser (como alguns pensam) que 2Co 6.14-7.1 
seja parte da mesma. 
 O apóstolo termina sublinhando outra vez a necessidade que a 
Igreja tem de manter disciplina para os seus membros - os de fora Deus 
os Julgará (13). E assim, insiste com os coríntios que expulsem do seu 
meio o malfeitor (13). 
 
1 Coríntios 6 
b) Questões levadas a juízes pagãos (6.1-11) 
 Esta passagem ensina que se os crentes têm pendências uns com 
os outros, devem levá-las ao conhecimento de outros crentes, para serem 
por estes julgadas e não levá-las aos juízes pagãos (1). Mas a só 
existência de tais animosidades entre irmãos é índice de falta de 
compreensão espiritual. Os crentes que forem injuriados devem sofrer 
isso, e não procurar desforra (7). Cf. 4.12-13 onde, sem dúvida, ele teve 
esta situação em mente. 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 34 
 Os santos hão de julgar o mundo (2). Havemos de julgar os 
próprios anjos (3). Tais afirmações surpreendentes não são 
invencionices de Paulo. Nosso Senhor ensina no Evangelho de Mateus 
que os apóstolos se sentarão “em doze tronos para julgar as doze tribos 
de Israel” (Mt 19.28). Veja-se ainda Ap 20.4, “Vi também tronos e 
nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar”. Esse 
julgamento a cargo dos santos será também exercido nos anjos, ou seres 
espirituais. A crença nos anjos está, naturalmente, presente em toda a 
Escritura e tem sido mantida pelos cristãos através dos séculos. Hb 1 e 2 
trata da função e posição deles. 
 Constituís um tribunal daqueles que não têm nenhuma 
aceitação na Igreja! (4). Estas palavras têm sido interpretadas de vários 
modos. Podiam ser irônicas. E podiam significar que mesmo os crentes 
menos aceitos são mais dignos de julgar do que os pagãos. Podiam 
referir-se aos pagãos, “que nenhuma aceitação” tinham na igreja. Este 
escritor aceita a primeira hipótese, porque o apóstolo prossegue 
orientando os coríntios na escolha de pessoas sensatas (5) entre eles para 
exercerem juízo. Pareceria, a julgar pelo procedimento estulto desses 
coríntios, que tais homens eram com efeito de nenhuma aceitação entre 
eles. 
 O apóstolo prossegue avisando-os que, se continuam nos pecados 
que os caracterizavam antes de se converterem, não herdarão e reino 
de Deus (9-10). Os pecados enumerados aqui indicam o baixo padrão 
moral da vida em Corinto, antes da chegada do evangelho. 
 Mas vós vos lavastes... fostes santificados.... justificados (11). O 
evangelho, porém, ergueu os que o aceitaram para uma nova posição 
diante de Deus. Entretanto os velhos pecados apegavam-se firmemente 
neles e alguns não se haviam ainda aproveitado do poder do Espírito 
Santo que opera na vida dos crentes, para lançarem fora tais pecados. 
Pode haver aqui uma referência ao rito do batismo (cf. At 22.16). 
Santificação e justificação são aspectos da regeneração. 
 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 35 
c) O pecado da sensualidade (6.12-20) 
 
 O verso 12 contém toda a filosofia a atitude cristã para com as 
coisas terrenas. (Usamos a palavra “terrenas” em lugar de «mundanas». 
A primeira significa o que por natureza pertence a esta vida aqui na terra; 
a segunda significa civilização humana desenvolvida pelo homem sem 
referência a Deus). Todas as coisas são lícitas, diz o apóstolo, mas nem 
todas convêm, ou não são proveitosas; e mais, embora lícitas, ele tem 
cuidado para não se deixar dominar por elas. Pode, portanto, não 
convir, às vezes, participar de algumas dessas coisas terrenas; e em 
tempo algum a condescendência com elas deve levar à escravização. 
 Ora, é claro que os folguedos e a impureza se associavam 
intimamente à idolatria; os que usavam sua liberdade com relação a uma 
dessas coisas podiam reclamar igual liberdade a respeito de outra. Paulo 
então mostra que o princípio de liberdade, apresentado no verso 12, não 
se aplica a coisas definidamente ruins em si mesmas. Com relação ao 
alimento, este e o corpo foram feitos um para o outro, e ambos 
eventualmente perecerão ou “serão reduzidos a nada” (gr. lit.). Comer ou 
não comer é, pois, matéria neutra. A impureza, entretanto, pertence a um 
gênero de todo diferente. 
 O corpo não foi feito para ela, mas para o Senhor (13), como se 
prova pelo fato de Deus nos levantar na ressurreição (14). 
 Os corpos dos crentes são de fato membros de Cristo (15), por 
uma união espiritual com Ele (17), pelo que devem ser instrumentos para 
o Seu uso. Como pode um crente condescender na entrega do seu corpo 
a uma meretriz? Porque a impureza é nada menos que isso (16). Fugi, 
pois, da impureza, diz o apóstolo (18). Todo outro pecado é fora do 
corpo, mas este o atinge, cumprindo ter cuidado especial para evitá-lo. 
Em outras palavras, o crente é habitação do Espírito Santo e no sentido 
mais profundo não se pertence a si mesmo (19). Um resgate de alto 
preço foi pago por ele; deve pois glorificar a Deus por isso, fazendo-se, 
no corpo e no espírito, instrumento de Deus (20). Note-se como o 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 36 
apóstolo repete a frase não sabeis? (15-16,19), lembrando-lhes assim o 
orgulho que tinham da plenitude do seu conhecimento e sabedoria cristã. 
 Esta passagem proporciona-nos a doutrina cristã a respeito do 
corpo e prepara-nos para a crença na sua ressurreição, que nos é 
apresentada cabalmente no cap. 15. Também esboça o princípio de 
liberdade cristã, assunto que volta a ser tratado no cap. 8 (veja-se). O 
fato básico, que governa o exercício da liberdade cristã, é que o crente 
foi remido pelo precioso sangue de Cristo, e assim Lhe pertence. Sua 
dedicação a Cristo é mais profunda do que anteriormente ao «mundo», 
ao qual pertenceu antes de ser resgatado. 
 
IV. RESPOSTAS A PERGUNTAS - 7.1-14.31 
 
1 Coríntios 7 
a) Casamento (7.1-40) 
 
 1. A OPINIÃO PARTICULAR DO APÓSTOLO SOBRE O 
CASAMENTO (7.1-9) - Passa o apóstolo a responder perguntas 
formuladas pela igreja dos coríntios. A primeira delas diz respeito ao 
casamento e aos deveres recíprocos de marido e mulher. 
 Afirma claramente ser bom o homem não tocar mulher (1). 
Para ele, o companheirismo que em Cristo tinha com os demais crentes 
satisfazia plenamente a necessidade humana de companhia, a que o 
casamento normalmente supre. Com efeito, ficava mais do que satisfeita, 
porque para o apóstolo o companheirismo cristão ou espiritual era até 
mesmo mais profundo do que o casamento. 
 Contudo, reconhece que “por causa da tentação para a 
imoralidade” (2) existente numa cidade pagã como Corinto, havia fortes 
razões pelas quais seus sentimentos pessoais nessa questão deviam ser 
desatendidos. Paulo, aqui, não faz um conceito menos digno do 
matrimônio. Está escrevendo na contextura de um estado de coisas 
existente. O que ele diz deve ser interpretado dentro dessa contextura. 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 37 
Passa a dar conselho concernente ao estado matrimonial. Um homem e 
uma mulher ligados pelo casamento têm o dever de atentar para as 
necessidades um do outro. Um falso ascetismo pode realmente dar 
oportunidade a Satanás de levar um ou outro ao pecado. 
 Isto vos digo como concessão (6). Na ARC se lê “por permissão”. 
Não quer ele dizer que tem permissão, porém não mandamento, do 
Espírito para dizer isto; senão que sua sugestão, para que os homens e as 
mulheresse casem, não deve ser vista como ordem, e sim apenas como 
permissão. Seu verdadeiro desejo é declarado no verso 7. Contudo aqui 
novamente ele observa que os homens e as mulheres têm capacidades e 
dons variados, de modo que ele seria o último a julgar um irmão ou a 
insinuar, por pouco que fosse, sua própria superioridade. 
 É melhor casar do que viver abrasado (9). O apóstolo declara 
aqui graus de moralidade cristã - é melhor casar, porém o melhor é ficar 
solteiro, de modo a pessoa poder dedicar-se inteiramente a Cristo. Daí 
teólogos católicos terem elaborado a teoria do “padrão duplo”, isto é, um 
padrão para os cristãos comuns, e outro para os “experimentados”. O 
sistema monástico nasce desta concepção. O ponto de vista evangélico 
de Cristianismo prefere não fazer tal distinção, porque ela conduz 
inevitavelmente à crença de que os “religiosos” adquirem méritos, o que 
é contrário ao princípio básico da redenção, como compreendido pelos 
evangélicos. Embora não se negue que o sistema monástico tem levado 
alguns dos seus membros a um grau elevado de santidade e à realização 
de obras admiráveis por Cristo, a opinião evangélica é que, apuradas as 
contas, o sistema resvala para o lado oposto. O fato de a Igreja Romana 
ensinar abertamente haver méritos no monasticismo parece justificar a 
opinião evangélica sobre esta matéria. Embora não tenhamos que hesitar 
em dizer com Paulo que certo modo de agir é superior espiritualmente a 
outro, devemos evitar a sistematização e a formação de institutos de 
gente “superior”. A discussão destes assuntos constitui o escopo da 
teologia moral e ascética. 
 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 38 
 2. MANDAMENTO DIVINO CONTRA O DIVÓRCIO (7.10-11) 
- O apóstolo declara, em termos categóricos, que o voto do matrimônio 
vigora por toda a vida. E tem o cuidado de lembrar aos coríntios o ensino 
de Cristo sobre esta questão. A mulher não se separe do marido (se, 
porém, ela vier a separar-se, que não se case)... o marido não se 
aparte de sua mulher (pensando em casar com outra). O apóstolo 
interpreta o ensino de nosso Senhor, portanto, como permitindo a 
separação, porém não o divórcio. 
 
 3. ACERCA DE CÔNJUGES INCRÉDULOS (7.12-16) - Digo 
eu, não o Senhor (12). Paulo agora passa a tratar de um problema que 
não fora objeto de nenhum mandamento específico de nosso Senhor. 
Que fazer quando um cônjuge é crente e o outro ainda é pagão? Devia 
haver muitos casos desses em Corinto, como ocorrem hoje 
constantemente no campo missionário. Aconselha os cristãos a não se 
separarem do cônjuge incrédulo, a não ser que este voluntariamente vá 
embora (12,13,15). Tal conselho nos impressiona de pronto, por sua 
caridade e espírito cristão. 
 O apóstolo tece outros comentários: O marido incrédulo é 
santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada 
no convívio do marido crente. Doutra sorte os vossos filhos seriam 
impuros; porém, agora, são santos (14). 
 Os comentadores não são acordes sobre o sentido destas palavras. 
Quererão dizer que o incrédulo ou a incrédula em razão de sua união 
conjugal com uma crente ou um crente, participa com o cônjuge fiel de 
uma posição de santidade diante de Deus e, além disso, que os filhos 
nascidos de tal união (e a fortiori, da união de dois crentes) são de 
algum modo santos (i. e., isentos da mancha do pecado original)? 
Significarão que, por serem santificadas as relações com o cônjuge 
inconverso, no mundo subjetivo do pensamento e vida do crente, nada há 
de mal em manter tais casamentos já existentes, aos quais se refere? Se 
as relações, dessa forma, não fossem santificadas, então os filhos, por 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 39 
igual, seriam uma ofensa a Deus (impuros), porém agora são santos, 
isto é, não há mal que lhes pegue por serem filhos de tal casamento 
«misto». Ou, ainda, significarão simplesmente que, por ser Cristo mais 
forte que Satanás, o cônjuge fiel exercerá uma influência dominadora no 
lar, introduzindo, neste, dose elevada de santidade, de modo que, de fato, 
os filhos que aí se criem são santos? Este escritor subscreve esta terceira 
alternativa, visto a mesma estimular os cônjuges crentes à evangelização 
dos seus familiares. 
 Se, no entanto, o cônjuge infiel deliberar se apartar, que se aparte 
(15), diz o apóstolo. O vínculo matrimonial não exige do crente um 
esforço por conservar essas relações sob tais circunstâncias. Não há 
certeza de resultar daí a salvação do marido ou da esposa descrente (16). 
Conclui reconhecendo que se deve decidir cada caso individual à luz dos 
dons e da vocação recebida de Deus, de sorte que essa decisão seja 
tomada, por fim, entre o indivíduo e seu Senhor (17). Vejam-se os 
versículos 7,20 e 24 onde o mesmo pensamento aparece. 
 
 4. É NECESSÁRIO PERMANECER NO ESTADO EM QUE 
FOMOS CHAMADOS (7.17-24) - Paulo ensina: cada indivíduo tem seu 
próprio dom ou posição na sociedade que a divina providência lhe 
concedeu. Deve procurar viver para a glória de Deus no lugar em que o 
Senhor o colocou, e não procurar ou esperar grande mudança porque se 
tornou cristão. E vêm como exemplos: circuncisão ou incircuncisão (18); 
servo (escravo) ou livre (20). 
 A atitude cristã é permanecer a pessoa no seu estado particular, no 
que concerne à aparência exterior, porém permanecer nele diante de 
Deus (24). Isto é o que faz toda a diferença, relativamente ao sentido que 
o “estado” tem para a pessoa em causa. A circuncisão, por exemplo, 
nada é em si, nem a incircuncisão é impedimento algum. O essencial é 
observar os mandamentos como apresentados por Cristo (19). 
Outrossim, aquele que ao ser chamado era escravo, não se preocupe com 
isto; embora que, se lhe oferecerem liberdade, deve aproveitar-se da 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 40 
oportunidade. Esta questão de posição social não é o que importa. 
Porque o escravo cristão é espiritualmente livre em Cristo, e o livre faz-
se voluntariamente servo de Cristo quando se torna crente. 
 Por preço fostes comprados; não vos torneis escravos de 
homens (23). As primeiras palavras são um eco de 6.20. Uma vez que 
pertencem a Cristo, os crentes não mais seguem servilmente o juízo 
humano em assuntos que tais. O espírito cristão transcende os 
empecilhos terrenos, ciente de que as circunstâncias da vida estão todas 
sob a direção de Deus. 
 
 3. UM PROBLEMA ESPECIAL: O CASAMENTO DE VIRGENS 
(7.25-40) - Existe alguma dificuldade em descobrir se Paulo se dirige 
aqui a pessoas casadas que se abstiveram da consumação física do 
casamento, ou se responde à pergunta “Devem os pais cristãos dar as 
filhas em casamento?” o que parece ser o sentido. 
 Vejam-se especialmente os vv. 36-38. Se a passagem for 
interpretada do primeiro modo a resposta é a seguinte: o homem que 
acha ser mais prudente casar tem toda a liberdade de fazê-lo. Se, 
entretanto, pode permanecer firme no seu propósito - e sua consorte 
também então faz melhor (38) Este escritor, no entanto, vê na passagem 
a resposta à pergunta atinente à responsabilidade dos pais na questão do 
casamento de suas filhas. Respondendo, Paulo aproveita a oportunidade 
de lembrar e repetir o que disse antes sobre o casamento em geral e 
acerca da necessidade de se glorificar a Deus naquela condição de vida 
em que Ele nos encontrou. 
 Estás casado? não procures separar-te. Estás livre de mulher? 
não procures casamento (27). Este princípio aplica-se às mulheres 
tanto quanto aos homens, e nos versos seguintes é desenvolvido em sua 
dupla aplicação. O celibato deve ser preferido, contudo o apóstolo 
percebe perfeitamente que todos não receberam esse dom. Se todas as 
circunstâncias sugerirem que a uma filha se deve dar consentimento para 
1 Coríntios (Novo Comentário da Bíblia) 41 
casar, que se case. Todavia as que forem capazes de ficar solteiras, farão 
melhor (36-38). 
 O ensino da passagem, no seu todo, é bastante claro. Desestimula 
para o casamento, no interesse de maior serviço cristão. O apóstolo

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