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Filipenses (N Comentario)

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FILIPENSES 
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 Introdução 
 Plano do livro 
 Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 
 
INTRODUÇÃO 
 
I. A FUNDAÇÃO DA IGREJA 
 A cidade de Filipos era originalmente chamada Crenides 
(pequenas fontes), tendo sido denominada, posteriormente, no ano 350 
A. C., Filipos, em homenagem a Filipe da Macedônia, pai de Alexandre, 
o Grande. Cerca do ano 168 A. C. a cidade passou para o domínio 
romano, quando a província da Macedônia foi subjugada. Em 42 A. C. 
tornou-se colônia romana (At 16.12) ou reduto militar, em honra da 
vitória de Antônio e Otaviano sobre as forças republicanas de Bruto e 
Cássio, vitória esta que vingou o assassínio de Júlio César. Onze anos 
mais tarde, em 31 A. C., Otaviano, agora Imperador Augusto, 
recolonizou Filipos. Uma colônia romana deveria ter, então, tanto a sua 
forma de governo quanto os seus costumes modelados pelos da própria 
Roma. Seus magistrados eram devidamente escolhidos pelos cidadãos da 
própria colônia e a autoridade daqueles magistrados, dentro da cidade, 
era suprema. Há alusões ao estado colonial de Filipos em 1.27 e 3.20. A 
administração da cidade era, pois, inteiramente romana, sob pretores e 
litores (At 16.35). O acontecimento mais notável acerca de Filipos é que 
ali se realizou a primeira conquista de Paulo, na Europa, tendo sido «o 
berço do Cristianismo europeu». 
 A história da fundação da igreja é relatada em At 16. Os membros 
da comunidade cristã eram, em sua maioria, gregos e possivelmente 
alguns cidadãos judeus e romanos. As mulheres tinham um lugar de 
merecida honra (At 16.13-14). 
 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 2 
II. OCASIÃO EM QUE FOI ESCRITA 
 
 Houve duas razões principais que induziram o apóstolo a escrever 
aos filipenses. A primeira, para hipotecar-lhes sua gratidão pelo fato de 
eles, simpatizando com seu apostolado e partilhando de suas aflições, 
lembrarem-se de enviar-lhe algumas dádivas por Intermédio de 
Epafrodito, um de seus membros (Fp 4.10-18). A segunda, para corrigir 
algumas pequenas desordens existentes no seio da igreja. 
 Parece que a congregação de Filipos foi a única da qual o apóstolo 
aceitou dinheiro. É testemunho eloqüente da absoluta confiança de Paulo 
na compreensão dos membros da igreja, quanto à relação mútua, e 
também o reconhecimento do direito de Paulo viver pelo evangelho e 
viver independentemente. Evidentemente, tal envio de dádivas há muito 
não acontecia, mas o apóstolo, com infinita delicadeza e tato exemplar, 
não lhes exprobra qualquer incúria cometida contra ele. Faltava-lhes 
somente oportunidade (4.10). Mas o amor e cuidado pelo apóstolo eram 
tão ardentes e reais como sempre. É provável que os oficiais da igreja 
ocupavam papel saliente no ministério de auxílio econômico ao apóstolo, 
corno se pode deduzir da menção especial feita por aquele, na 
dedicatória da carta, dirigida aos bispos e diáconos, o que, em nenhuma 
das outras epístolas, ocorre de modo semelhante. 
 O próprio Epafrodito foi também enviado como ajudante do 
apóstolo em sua prisão, porém, neste mesmo tempo, o mensageiro dos 
filipenses adoeceu gravemente e quase morreu. Por esse motivo, logo 
que Deus, apiedando-se de Paulo e de Epafrodito, restaurou a saúde 
deste, o apóstolo o enviou de volta a seus irmãos de Filipos. 
 É claro que Epafrodito, a dádiva viva dos filipenses a Paulo, tenha 
sido portador, além das oferendas a que já aludimos, de uma carta na 
qual eram focalizados certos problemas da igreja. Por esse motivo, o 
apóstolo, aproveitando o fato de estar Epafrodito cheio de saudade de 
sua terra, após restabelecer-se da moléstia que o acometera, fê-lo 
portador da extensa carta que estamos apreciando, que não é senão a 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 3 
resposta aos seus irmãos de Filipos. Uma corrente de inquietação sobre 
parte dos convertidos pelo apóstolo foi revelada dada a ansiedade de 
Paulo em reafirmar aos filipenses sua profunda gratidão. Regozijou-se 
realmente seu mestre amado naquelas ofertas voluntárias? Estaria ele um 
pouco mais frio do que usualmente ou eles não o estavam 
compreendendo bem? Paulo, em palavras memoráveis, no entanto, enche 
suas mentes e seus corações de paz. A outra importante razão que 
também deu motivo à epístola foi a necessidade de corrigir certas 
irregularidades da igreja, as quais, provavelmente, foram relatadas na 
carta que os filipenses enviaram a Paulo. Tais irregularidades poderiam 
ser mais bem esclarecidas pelo próprio Epafrodito. Possivelmente eram 
as seguintes: 
 Pessimismo reinante entre os filipenses por causa da perseguição e 
as más notícias da prolongada prisão de Paulo. 
 Divisão na igreja, dada a incompatibilidade pecaminosa de alguns 
de seus membros. Duas mulheres, em particular, Evódia e Síntique, 
foram a causa do atrito (4.2). Não houve em Filipos partidarismos 
extremados, como em Corinto, mas simplesmente murmurações e 
discussões de caráter secundário. 
 Deslealdade, rastejando de seus lugares sombrios, cresceu, em sua 
ausência, alimentada pelos judeus inimigos de Paulo (3.2 e 4.8). Isso, 
entretanto, era apenas em pequena escala e Paulo sentia que uma 
advertência bastava para restaurar a antiga lealdade. 
 
III. LUGAR E DATA 
 
 Quatro das cartas de Paulo foram escritas, conforme nelas está 
mencionado, quando o apóstolo estava na prisão (Ef 3.1; 6.20; Fp 1.7,13-
14; Cl 4.18; Fm 9). A questão surge quanto ao lugar da prisão e se todas 
foram escritas durante o mesmo aprisionamento. A tradicional resposta é 
Roma, como sendo a fonte do escrito, o que tem sido contestado 
primeiro em favor de Cesaréia e por último em favor de Éfeso. O livro 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 4 
de Atos menciona três encarceramentos. Em Filipos (At 16.23), em 
Cesaréia (At 23.23) e em Roma (At 28.30). A prisão em Filipos foi, 
obviamente, muito curta para qualquer atividade literária. A objeção 
contra Cesaréia é do mesmo modo considerável em relação à Epístola 
aos Filipenses, porque, no momento de escrevê-la, Paulo estava 
antecipando sua libertação próxima, mas, na prisão em Cesaréia, ele 
aguardava ansiosamente sua longa viagem a Roma. A teoria a favor de 
Cesaréia é abandonada quase que unanimemente. Deste modo resta 
Roma, mas também ela não em possessão do campo. Recentemente, 
Éfeso tem sido apontada como a fonte das epístolas da prisão e das 
quatro cartas pode-se afirmar que Filipos, pelo menos, está 
definitivamente fora da questão. O fato de Éfeso ser considerada como 
fonte da Epístola aos Filipenses pode ser brevemente considerado pelo 
modo como foi apresentado pelo Reitor G. S. Duncan, Prof. J. H. 
Michael e outros. 
 Embora não haja nas Escrituras nenhuma declaração definitiva a 
respeito de alguma prisão de Paulo em Éfeso, todavia nenhum forte 
argumento pode ser baseado em tal silêncio. Pelo contrário, Paulo fala de 
muitas prisões, em uma carta (2Co 11.23) escrita antes das prisões de 
Cesaréia e Roma. A antipatia dos judaizantes era suficientemente amarga 
para tornar possível um encarceramento de Paulo logo no início de seu 
ministério em Éfeso. Admite-se também que as palavras de Paulo, em 
1Co 15.30-32 e 2Co 1.8-10, tratam implicitamente de sua prisão em 
Éfeso. 
 Quando a Epístola aos Filipenses foi escrita, Timóteo estava sendo 
esperado para breve em Filipos (2.19). Isso, aliás, está em concordância 
com At 19.22. Paulo, se posto em liberdade, espera ir a Filipos (Fp 1.27 
e Fp 2.24), mas, se a epístola foi escrita de Roma, este fato entra em 
conflito com Rm 15.24. 
 Fp 1.30 cresce em significação se foi escrita de Éfeso. Paulo, com 
efeito, diz: «Vós me vistes na prisão em Filipos e agora ouvis a respeito 
de minha prisão em...». Se estivesse em Roma, o apóstolo estaria 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 5 
colocando juntos dois acontecimentos que tiveram entre si um intervalo 
de cerca de doze anos. Se em Éfeso, houve um espaço de tempo 
relativamentecurto entre a ocasião em que foi escrita a carta e a visita do 
apóstolo a Filipos, que ocorreu no verão de 54 A. D. 
 Fp 1.13 tem sido bastante evocado para indicar Roma como sendo 
a fonte de onde a carta fluiu, porém a palavra pretório era usada 
comumente para designar a residência do governador de qualquer 
província e não somente para designar um lugar supremo em Roma. 
Assim também a frase «da casa de César» não se limita apenas a Roma, 
mas a todos aqueles que, em Roma ou em qualquer outro lugar, estavam 
ligados ao serviço de César. 
 É evidente em 2.26 que os filipenses tinham ouvido que 
Epafrodito adoecera e que Paulo sabia estarem eles a par do acontecido. 
Mas a distância existente entre Roma e Filipos tornava praticamente 
impossível freqüentes comunicações entre Paulo e os conversos 
indicados na Epístola aos Filipenses. Epafrodito teria que gastar cerca de 
um mês para fazer uma viagem de Roma a Filipos, enquanto que para 
fazer uma viagem de Éfeso a Filipos duas semanas seriam suficientes. 
 Pelo exposto, parece não ser inteiramente infundada a idéia da 
prisão de Paulo em Éfeso, mas ainda não vimos um argumento 
suficientemente forte para destruir a posição tradicional de uma prisão de 
Paulo em Roma. 
 A alegação de que a distância entre Éfeso e Filipos é mais curta é 
consideravelmente enfraquecida quando notamos que, como dizem 
Wood e outros, a comunicação entre Roma e Filipos era fácil e 
freqüente, pois a Macedônia estava situada às margens da Via Egnatia, a 
grande estrada que ia do Helesponto ao Adriático. 
 Os termos «pretório» e «casa de César» devem igualmente ser 
usados, tanto cm referência a Éfeso, como a Roma, porém, Roma é o 
lugar a que os mesmos mais claramente se referem. 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 6 
 Se Éfeso for de fato a fonte das epístolas da prisão e, mui 
especialmente, a de onde saiu a Epístola aos Filipenses, é de admirar que 
nenhum traço desta opinião seja achado nos primeiros séculos. 
 Mesmo que as palavras do apóstolo em 1Co 15.30-32 e 2Co 1.8-
10 signifiquem que ele sofreu aprisionamento em Éfeso, não se pode 
concluir disso que as epístolas da prisão tenham ali sido escritas. 
 A prisão em Roma tinha uma causa específica para sua duração, 
porquanto Paulo estava ali esperando ser julgado; mas o aprisionamento 
em Éfeso foi, comparativamente, por um tempo muito curto e, na 
verdade, os partidários da hipótese de Éfeso realmente postulam vários 
períodos curtos de prisão. 
 Finalmente, se a hipótese de Éfeso é certa, temos que 1.12-20 deve 
ter uma interpretação à parte do apelo, que Paulo sabia dever ser ouvido 
em Roma, diante de César (At 25.11). 
 O assunto em causa não pode ser dogmaticamente decidido, mas, 
felizmente, não perturba a mensagem permanente do apóstolo. 
Entrementes, podemos aceitar a origem romana e a data 61-63 A. D. (Se 
Éfeso, a data apontada é 54-57 A.D.) A maioria dos que aceitam Roma 
como o lugar de origem da epístola, crê que ela foi a última do período 
das epístolas da prisão. Essas, indubitavelmente, podem ser divididas em 
dois grupos, tanto geográfica quanto teologicamente. Efésios, 
Colossenses e Filemom tomam o mesmo destino no vale de Licus, na 
Ásia Menor, enquanto que Filipenses vai localizar-se na Europa. Do 
mesmo modo, essa epístola permanece isolada entre as cartas escritas na 
prisão, como não tratando da onda de heresias gnósticas que 
avassalavam as igrejas da Ásia Menor. As três cartas - Efésios, 
Colossenses e Filemom -- foram escritas quase que ao mesmo tempo, 
enquanto Filipenses vem por si mesma em data posterior. O fato de essa 
epístola ter sido escrita mais tarde que as demais pode ser defendido pelo 
fato de observarmos que: a) as comunicações entre Filipos e Roma, 
subentendidas em 2.26, devem ter tomado um tempo considerável; b) 
quando Paulo escreveu aos Filipenses, era bem conhecido «em todo o 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 7 
pretório» (isto é, em todo o palácio e em todos os outros lugares). Ele 
tinha entrado em contacto com muitos soldados e outras pessoas, de 
modo que o motivo de sua prisão era de conhecimento geral, pelo que 
muitos se interessavam pelo seu apelo a César (1.13 e segs.). 
 A inferência é que a Epístola aos Filipenses deve ter sido escrita 
pelo término da prisão de Paulo e, deste modo, a data sugerida está entre 
61-63 A. D. 
 
IV. CARACTERÍSTICAS 
 
 Esta carta apresenta três características dignas de nota. É, em 
primeiro lugar, a mais pessoal de todas as cartas de Paulo. Não há 
restrições de sua parte. Ele escreve, mais como amigo do que como 
bispo ou eclesiástico. Na saudação inicial dispensa o título «apóstolo» e 
com plena ciência do lugar que ocupa no coração de seus leitores, ele se 
chama simplesmente «servo». A passagem intensamente biográfica de 
3.4-14 revela uma profunda experiência espiritual com toda a 
naturalidade de perfeita confiança. Enquanto dita seus pensamentos, ele 
parece ter seus amigos a seu lado aí em Filipos. 
 A carta é também notável pela revelação da pessoa de Cristo. A 
grande passagem cristológica (2.5-11) é aí introduzida não com um 
propósito de ensinamento doutrinal, mas para mostrar aos leitores a 
graça da humildade. O exemplo supremo de pobres de espírito é aquele 
manifestado na encarnação de Jesus, o Senhor da Glória. Daí a exortação 
prática de possuir o espírito de Jesus Cristo e amar ao próximo mais que 
a si mesmo. Que tão grande revelação da pessoa de Nosso Senhor tenha 
vindo tão espontânea da mente de Paulo convence-nos mais prontamente 
de sua realidade e verdade. 
 A terceira característica é a nota dominante de alegria. O nome 
«alegria» (chara) é encontrado cinco vezes (1.4,25; 2.2,29; 4.1), 
enquanto que o verbo «regozijar» (chairein) aparece onze vezes (1.18 
duas vezes, 2.17 duas vezes, 2.18 duas vezes, 2.28; 3.1; 4.4 duas vezes, 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 8 
4.10). O fato de o apóstolo, em circunstâncias humanamente tão tristes, 
escrever com um otimismo tão magnífico torna a brilhante exortação 
muito mais notável, Paulo, realmente, sente-se bem acima das 
circunstâncias e senhor da situação, sua «cabeça ensangüentada, mas do 
pé (altiva)». Ele não estava apenas fazendo um espetáculo e 
representando sua parte, a fim de que os crentes filipenses pudessem ter 
um bom exemplo para suas dificuldades peculiares e perseguições 
pessoais. Era uma alegria «no Senhor». «Regozijai-vos comigo» é um 
apelo sincero e ressonante. Indica para todos os tempos o dever do 
otimismo cristão. 
 
V. INTEGRIDADE 
 
 A genuinidade da Epístola aos Filipenses é quase que 
universalmente aceita. Desde os primeiros tempos ela tem sido aceita 
como uma carta autêntica do apóstolo Paulo à igreja cristã em Filipos. 
Sua unidade é que tem sido discutida, Supondo que Paulo tenha escrito 
aos filipenses outras cartas além desta, alguns críticos lançaram a teoria 
de que esta epístola é composta, uma combinação de pelo menos duas 
cartas. Uns poucos fatos sugerem a probabilidade de tal ponto de vista, 
como por exemplo o termo «finalmente» em 3.1a; a rápida mudança de 
tom expressa em 3.2 «cuidado com os cães»; a expressão tardia de 
gratidão (4.10 e segs.); e o duplo «amém» (4.20,23). Do mesmo modo 
sugere-se que em nossa epístola há uma interpolação, ainda que paulina, 
mas pertencente a outra carta nos filipenses. Muitos estudiosos não 
aceitam a solução de uma «interpolação», mas, sim, de uma 
«interrupção», solução esta totalmente aceita aqui. 
O argumento básico de alguns redatores para uma inserção paulina 
é a mudança brusca de tom em 3.2. Isto pode ser satisfatoriamente 
interpretado de um ponto de vista psicológico. O apóstolo está ditando 
sua carta e, enquanto fala, chegam notícias de alguma ofensa judaica em 
Filipos. Este fato distrai seu pensamento e imediatamente ele irrompe na 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 9 
grave advertência: «Acautelai-vos dos cães! acautelai-vos dos maus 
obreiros! acautelai-vos da falsa circuncisão!». O hábito do apóstolo de«cortar por uma tangente» de há muito tem sido observado por 
estudiosos. Como uma pedra lançada ondula a corrente transbordante, do 
mesmo modo a corrente de seus pensamentos pode ser levada para 
diferentes canais. A deficiência da teoria da interpolação é a dificuldade 
encontrada por seus defensores em traçar os limites exatos da 
interpolação. Alguns dizem 4.8, outros 4.9 e ainda outros 4.20. Existem 
ainda hipóteses de três cartas paulinas que formariam a que temos em 
mãos. Essas teorias de divisão destroem-se a si mesmas. 
 
PLANO DO LIVRO 
 
I. SAUDAÇÃO INICIAL -- 1.1-2 
 
II. AÇÃO DE GRAÇAS E ORAÇÃO -- 1.3-11 
 
III. A SITUAÇÃO EM ROMA -- 1.12-26 
 
IV. INCENTIVOS A UNIDADE CRISTÃ -- 1.27-2.4 
 
V. O EXEMPLO DE CRISTO -- 2.5-18 
 
VI. PRÓXIMAS VISITAS -- 2.19-30 
 
VII. ADVERTÊNCIA CONTRA OS FALSOS MESTRES -- 3.1-21 
 
VIII. TRÊS EXORTAÇÕES FINAIS -- 4.1-9 
 
IX. RECONHECIMENTO DE DÁDIVAS -- 4.10-20 
 
X. SAUDAÇÃO FINAL -- 4.21-23 
 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 10 
COMENTÁRIO 
 
Filipenses 1 
I. SAUDAÇÃO INICIAL - 1.1-2 
 
 E Timóteo (1). Neste preâmbulo, Paulo associa Timóteo consigo 
mesmo, não como autor, mas como companheiro de lutas. Pode ter sido 
até o amanuense do apóstolo. Os dois nomes também aparecem juntos 
nas saudações do começo de 2 aos Coríntios, Colossenses, 1 e 2 aos 
Tessalonicenses e Filemom. Paulo intitula-se a si e a seu assistente como 
servos de Cristo Jesus. No grego a palavra douloi significa literalmente 
«escravos» e demonstra que os laços espirituais entre Cristo e eles era de 
servidão, pois eles se haviam dado a Cristo, como a um Senhor e não se 
iriam livres (Êx 21.5-6). Paulo não usa seu título de apóstolo aqui (cf. 
1Co 1.1; Gl 1.1). Sem dúvida porque sua posição jamais foi disputada na 
relação de amor existente entre ele e esta igreja. Note-se a ordem no uso 
do nome de Nosso Senhor. Em algumas versões temos Jesus Cristo e 
em outras «Cristo Jesus», que é a ordem preferida no texto grego. Isto é 
importante porque Paulo é cuidadoso neste ponto. Quando a ênfase recai 
sobre a humanidade histórica de Cristo, ele coloca «Jesus» primeiro, em 
qualquer construção; quando, porém, a palavra «Cristo» tem a 
precedência, ele significa com isso o Cristo ressurreto, o Messias eterno. 
 Os destinatários são todos os santos... com os bispos e diáconos 
(1). O apóstolo chama os filipenses convertidos de santos, tanto por 
causa de sua presente justificação através de Cristo, como por causa de 
seu fim assegurado inteiramente por Sua divina Pessoa, totalmente 
santificados nEle (cf. 1.6). A adição com os bispos e diáconos torna esta 
saudação única. O termo episkopos ou «bispos» significa alguém que 
inspeciona ou revista, uma espécie de superintendente (cf. 1Ts 5.12, «os 
que vos presidem»). Do uso desse termo na literatura paulina, muitos 
adotam a opinião que o episkopos estava presente na igreja primitiva, 
desde a sua fundação, e não que apareceu mais tarde, em séculos 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 11 
posteriores. Outros notam que presbyteros («presbítero» ou «ancião») é 
o nome geral do dirigente de uma igreja, no Novo Testamento, e estão 
convictos de que o episcopado é de data posterior. Episkopos o 
presbyteros são aceitos como termos idênticos, especialmente porque 
encontramos, na Epístola aos Filipenses, a palavra bispos, no plural. É 
interessante ressaltar aqui a origem das duas opiniões a respeito do 
governo da igreja. O vocábulo diakonos aparece freqüentemente nos 
Evangelhos e Epístolas, sendo traduzido por «servo» ou «ministro» que é 
sua significação. Num sentido mais técnico «diácono» é o termo 
aplicado à classe dos oficiais da igreja, cujo dever se relaciona mais com 
os negócios materiais da igreja, do que com assuntos espirituais (1Tm 
3.8). A função especial dos diáconos pode ter tido origem na escolha dos 
sete, em At 6, ainda, que ali tal nome não seja mencionado para eles. As 
saudações do verso 2 são uma combinação cristã do grego familiar e da 
forma de saudação dos hebreus, graça e paz que somente podem vir de 
Deus, o Pai, e do Senhor Jesus Cristo (Ef 6.23-24 n). 
 
II. AÇÃO DE GRAÇAS E ORAÇÃO - 1.3-11 
 
 Uma predominante feição característica da vida do apóstolo é a 
ação de graças. Constantemente, em cada carta, com exceção da Epístola 
aos Gálatas, ele infunde no coração dos convertidos o sentimento de 
gratidão a Deus (Cl 1.12 n.). 
 Cada oração é feita com esse espírito. Aqui nos vv. 3-8 Paulo 
expressa gratidão a Deus pela amizade (5) que desfrutou com os 
convertidos em Filipos. Desde o primeiro momento da evangelização da 
cidade de Filipos até o tempo de seu encarceramento, jamais se quebrou 
um elo sequer desta amizade. O gr. koinonia deriva-se da raiz que 
significa «fazer comum» e tem duas aplicações no Novo Testamento. 
Significa sociedade, comunhão, ter todas as coisas em comum, como na 
prática da igreja pentecostal (At 2.42), Como não pode haver comunhão 
sem que haja um «dar» e um «receber», a palavra também é usada no 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 12 
sentido de «contribuição» (Rm 15.26; 2Co 8.4; 9.13; Hb 13.16. Cf. 
também Fm 6 n,). O uso de Paulo aqui envolve ambos os sentidos, uma 
vez que rende graças por sua camaradagem pessoal com os filipenses, 
uma união louvável não só por si mesma como uma real contribuição 
para o evangelho. 
 No evangelho (5); melhor, como em algumas versões, que dão 
plena força à preposição eis («para» ou «em»), lendo «pela vossa 
cooperação no evangelho». 
 A ação de graças de Paulo é inspirada na lembrança (3), expressa 
em oração (4), seguida de alegria (4) e robustecida pela convicção de que 
Deus mesmo fará perfeita Sua obra da graça em suas vidas (6). O 
apóstolo se sente justificado nesta atitude para com Deus e para com os 
cristãos em Filipos por duas razões. 
 Primeiro, eu vos tenho posto em meu coração (7), uma confissão 
aberta de amor, interpretada mais adiante, no verso 8, que significa «meu 
amor é grande, na verdade, pois é o próprio amor de Cristo amando-vos 
através de mim», tão íntima é a koinonia entre o apóstolo e seu 
Salvador. 
 Segundo, todos vós fostes participantes da minha graça, isto é, 
todos são participantes comigo da graça divina, dada a mim enquanto 
padeço prisões e estabeleço o evangelho por meu testemunho aqui em 
Roma e defendo minha fé nas cortes de justiça. A ajuda e simpatia que 
me estão dando tornam isso manifesto. 
 Paulo revela que este espírito totalmente impregnado de ação de 
graças sempre o dominava em todos os exercícios espirituais e o 
conduzia a uma oração definida. 
 E peço isto (9). Sua palavra aqui, proseuchomai, é o termo mais 
amplo e mais sagrado. É irrestrito quanto ao conteúdo e nunca é 
empregado para uma súplica feita a um homem, mas unicamente a Deus. 
Nesta carta, o apóstolo emprega dois outros termos para oração deesis e 
aitema. A primeira (1.4,19) implica uma necessidade real, uma petição 
urgente; a segunda (4.6), porém, indica «aquilo que eu preciso pedir», é 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 13 
uma súplica definida. As três palavras, com seus matizes peculiares, 
encontram-se combinadas em 4.6. 
 Algumas orações de Paulo nos foram preservadas e se 
caracterizam por uma adaptabilidade perfeita a cada necessidade 
agudamente sentida. No caso dos filipenses, ele reconhecia existir um 
fervente e genuíno emocionalismo, porém, que eles tinham grande 
necessidade de uma luz compensadora. Ele ora, portanto, não para que se 
arrefeça o amor dos filipenses, mas para que esse sentimento mais e mais 
abunde neles, equilibrado, porém, por conhecimento e julgamento ou 
«discernimento moral» (9). Deste modo, o amor não se tornaria um 
impulso desregrado, mas um princípio orientador, com o fim prático de 
que eles pudessem distinguir as diferenças existentes entre as várias 
qualidades morais e, desse modo, escolher a melhor. 
 Para que aproveis as cousas que são excelentes (10). Uma 
possível alternativa na interpretação é «posta para provar coisas 
diferentes»,com um voto favorável à mais elevada. O resultado de tal 
amor e de tal luz em combinação seria, inevitavelmente, que os 
filipenses saberiam o que deveriam ser ou não ser, sinceros e sem 
escândalo para si mesmos e para os outros (10). 
 Desse modo, aqueles para quem era feita a oração de Paulo, com 
amor, enriquecidos por sua intercessão, possuiriam três coisas: uma 
faculdade de crítica (9-10), um caráter sincero (10) e uma vida cheia de 
fruto de justiça (11). 
 Todos os louváveis benefícios, bem como a conduta cristã dos 
santos de Filipos, estariam em perfeita harmonia, todos unidos para 
glória e louvor de Deus. Note-se que o gr. karpos é singular o não 
plural, «fruto» não frutos. 
 As raízes de uma nova vida em Cristo produzem o único fruto de 
santidade ou semelhança de Cristo, embora em diferentes formas e 
padrões humanos (cf. Gl 5.22 n.). 
 
 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 14 
III. A SITUAÇÃO EM ROMA - 1.12-26 
 
 Nesta seção Paulo revela vários fatos acerca de si mesmo e de seu 
trabalho evangélico em Roma. Os vers. 12 e 13 afirmam que ele estava 
na prisão, aguardando julgamento, cujo veredito poderia ser até mesmo a 
morte. Seus negócios (i. e., as coisas que me aconteceram), acerca dos 
quais o apóstolo sabe que os filipenses estavam profundamente 
preocupados, juntamente com as minhas cadeias em Cristo (13), 
combinam-se testemunhar sua prisão real. No vers. 20, Paulo revela 
inteira e francamente quão séria era a situação, com sucessivas 
alternativas de vida ou morte. Seu corajoso exemplo de pregar 
desassombradamente o evangelho, até mesmo como prisioneiro, serviu, 
contudo, para infundir ânimo no coração dos crentes da igreja, em Roma, 
a fim de que evangelizassem com um entusiasmo maior. 
 O campo de ação missionária do apóstolo é por ele descrito como 
sendo todo o palácio e todos os demais lugares (13), lit. «em todo o 
pretório». A palavra pretório tanto pode significar o quartel-general de 
um acampamento romano, como a residência oficial do governador de 
uma província, ou mesmo a guarda imperial, um corpo escolhido de 
tropas especiais. No segundo sentido é ela empregada nos Evangelhos e 
Atos (ver Mt 27.27; Mc 15.16; Jo 18.28,33; 19.9; At 23.35). Não há, 
contudo, evidência de que a mesma haja sido empregada como 
significando o palácio do imperador em Roma e é provável que, no passo 
bíblico citado, Paulo emprega o termo na significação de guarda 
pretoriana, que era comumente conhecida como o pretório. 
 Tem sido levantada a suposição de que a palavra pretório, usada 
em 1.13, foi empregada para significar autoridades judiciais diante de 
quem o apóstolo deveria ser submetido a julgamento, mas não há 
nenhuma prova de que o referido julgamento haja ocorrido no tempo em 
que a epístola foi escrita. Paulo, em sua casa alugada, estaria guardado 
por um soldado da guarda pretoriana (At 28.30) e, como este era 
constantemente substituído por outros da mesma corporação, não é de 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 15 
admirar que, em pouco tempo, o que ele pregava e ensinava a cada um, 
bem como a todos que o visitavam, fosse divulgado, não só no seio de 
toda a guarda pretoriana, mas por todos os demais lugares, penetrando 
até na Casa de César, como se vê em 4.22, em que o apóstolo se 
apresenta como prisioneiro por amor de Cristo. 
 Evidentemente, Paulo contribuía para o encorajamento de dois 
tipos de pregadores, alguns de má e outros de boa vontade (15 e segs.). 
Entre os primeiros, certamente, estão incluídos os dirigentes da 
comunidade cristã, antes da chegada de Paulo, porque não obtendo a 
simpatia do apóstolo os pontos de vista que defendiam e os métodos que 
seguiam, logo se encheram de ciúmes dele, dada a sua influência. Os 
últimos eram poucas, mas nobres almas, que não julgavam a situação de 
Paulo como a de um indivíduo egocêntrico que buscava a sua própria 
glória, mas sim como a de quem se devotara inteiramente à obra do 
evangelho. Esses, portanto, alegremente, deram ao apóstolo todo o amor 
e simpatia, na perigosa situação em que se achava e a si mesmos se 
apresentavam como as mais corajosas testemunhas de Cristo. A reação 
de Paulo a essa rivalidade é magnânima. Os motivos que levam à 
proclamação do evangelho podem ser confusos e até mesmo destituídos 
da verdadeira dignidade, mas o que verdadeiramente importa é que 
Cristo seja anunciado (18). 
 Eu sei que disso me resultará salvação (19). Paulo estava 
confiante que no final sairia salvo. O termo salvação tem uma conotação 
muito ampla no Novo Testamento e Paulo via algo de espiritual em sua 
temporal libertação. Alguns estudiosos descobrem aqui uma citação de 
Jó 13.16 que, na versão dos LXX, diz: «Isto resultará em salvação para 
mim». Depois de passar pelo sofrimento da prisão e do julgamento, 
Paulo crê que será posto em liberdade, não apenas para seu próprio 
conforto, porém muito mais pelo triunfo e fortalecimento do evangelho. 
 Dois fatores assegurariam aquele fim desejado: a intercessão dos 
filipenses e os recursos que lhe foram outorgados pelo Espírito de Jesus 
Cristo (19). Esta última frase é encontrada somente aqui no Novo 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 16 
Testamento, porém, há expressões semelhantes em vários outros lugares 
que põem fora de dúvida que, na mesma, deve ser compreendida a 
terceira Pessoa da Divindade (ver At 5.9; 16.7; Rm 8.9; 2Co 3.17; Gl 
4.6). A expressão que Paulo usa aqui compreende a doutrina que mais 
tarde foi conhecida como a «operação» do Espírito Santo do Filho junto 
ao Pai, como na famosa cláusula do credo filioque. Em nada... 
envergonhado (20). Que ele pudesse ser uma testemunha 
desassombrada de seu Senhor era a esperança do apóstolo, enquanto 
considerava estes dois fatores de sua salvação, isto é, a intercessão e a 
graça do Espírito Santo. Mas qualquer que fosse o veredito legal da corte 
de Roma, seu alvo era glorificar a Cristo, quer com o prolongamento de 
sua vida terrena, quer com sua morte iminente. A atitude de Paulo em 
relação ao resultado de seu julgamento é de perfeita submissão à vontade 
de Deus, ainda que sentisse que seria posto em liberdade. Mas a vida ou 
a morte terão o mesmo resultado – Cristo será glorificado (20). 
 O apóstolo, contudo, não é sobre-humano, a despeito de toda a sua 
confiança e não é, portanto, absolutamente capaz de banir a possibilidade 
de morte. Isto cria para ele um dilema: O que deva escolher, não sei, 
mas de ambos os lados estou em aperto (22-23). Mas se eu vivo na 
carne, isto é o fruto do meu trabalho (22; gr. touto moi karpos 
ergou). 
 Várias interpretações têm sido dadas a esse trecho. 
 a) Ficar na carne pode ter a significação de «fruto» ou de 
recompensa de seus trabalhos no evangelho. Sua conservação em vida 
seria uma recompensa por seu trabalho no passado; 
 b) Essa versão e interpretação do grego não é satisfatória, 
porquanto a última coisa que o apóstolo considera e assim mesmo como 
não tendo valor algum é o mérito humano e em nenhuma parte ele 
emprega a palavra «fruto» com a significação de recompensa por um 
trabalho feito; 
 c) A versão mais simples transmite o pensamento geral do 
apóstolo: «Mas se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, não sei 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 17 
então o que hei de escolher». A tradução do Dr. J. W. C. Wand apresenta 
o discutido trecho na seguinte forma: «Para mim, na verdade, a vida tem 
a significação de Cristo e a morte me traria uma grande vantagem. Mas 
também como a existência física dá uma oportunidade de trabalho 
frutífero, eu dificilmente sei o que preferir». 
 Eu estou em aperto de ambos os lados (23). O verbo é 
synechomai, que significa ser constrangido ou pressionado. É ele 
encontrado também em Lc 12.50; At 18.5 e 2Co 5.14. Duas forças 
poderosas agiam nele, tornando-o imóvel em ambas as direções. 
Pessoalmente, todo o seu coração se inclinava para estar com Cristo, na 
felicidade de uma vida eternal perfeita; mas, ao mesmo tempo, a 
necessidade urgentede seus filhos na fé prendia-o à vida terrena e ao 
privilégio de seu trabalho. Da expressão do pensamento do apóstolo 
aqui, embora conciso, pode afirmar-se com segurança que ele não 
admitia nenhum dogma ou doutrina a respeito de um estado 
intermediário. Seu pensamento é mais semelhante ao relatório dos 
teólogos de Westminster, quando afirma que «as almas dos crentes que 
dormern no Senhor tornam-se perfeitas em santidade e imediatamente 
passam para a glória; e seus corpos, sendo unidos com Cristo, 
permanecem na sepultura até o dia da ressurreição» (cf. Hb 12.23; 2Co 
5.1,6,8; Lc 23.43). 
 
IV. INCENTIVOS À UNIDADE CRISTÃ - 1.27-2.4 
 
 Nesses versículos Paulo expõe, de modo mais incisivo, a atitude e 
o espírito que deseja ver na igreja de Filipos. As frases principais são, 
que permaneçais firmes em um só espírito (27) e sendo de comum 
acordo, de um só pensamento (2.2). Essas palavras enfatizam o dever 
da unidade cristã. Evidentemente houve em Filipos indicações de 
rompimento, embora incipientes, definitivamente perigosas. Os 
filipenses eram os convertidos a quem Paulo devotava mais amor e a 
igreja de Filipos era a que menos lhe dava cuidados, tão verdadeira e leal 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 18 
era. Mas não era perfeita. Por isso, necessitava também de exortações e 
de conselhos. No caso dos crentes de Filipos, duas coisas se faziam 
mister para estabelecer entre eles uma perfeita harmonia de vida e 
testemunho: solidez da conduta cristã e continuidade da luta contra o 
mal. 
Fazei que as vossas conversas girem unicamente em torno do 
evangelho de Cristo (27). Note-se que o termo «conversas» tinha um 
sentido amplo de comportamento, conduta, como a palavra latina 
conversatio. O grego aqui é politeuesthe, «viver como um cidadão, da 
raiz polis «cidade». A palavra é encontrada outra vez em At 23.1, onde 
Paulo faz referência à sua boa cidadania, pois era cidadão romano de 
nascimento. Os cristãos de Filipos, residindo nessa colônia romana (At 
16.12), compreendiam bem os privilégios e obrigações de sua cidadania. 
Assim como uma colônia romana era obrigada a reger-se pelas leis do 
Império, assim também a igreja de Filipos deveria mostrar pelo seu 
procedimento que seus membros eram cidadãos do Reino dos Céus. 
«Somente deixai que a vossa maneira de viver seja digna do evangelho 
de Cristo». «Vivei a vida do evangelho», Paulo exorta os filipenses, pois 
o evangelho supre todas as necessidades. 
 Combatendo juntamente (27). A unidade cristã pode ser 
alcançada pela participação de todos os crentes no mesmo combate. O 
verbo grego aqui é synathlountes; o prefixo syn aplica-se á comunidade, 
indicando a luta em que todos se empenham juntamente. 
No verso 30, Paulo afirma, para encorajá-los, que eles lutam 
juntamente com ele, tendo o mesmo conflito (gr. agon, cf. 4.3; Rm 
15.30). Este companheirismo no sofrimento por causa do amor pela fé 
no evangelho (isto é, as coisas reveladas para a salvação e mais 
seguramente cridas) é uma força unificadora. É uma verdadeira graça de 
Deus outorgada aos filipenses, que não precisam ficar atemorizados nem 
recuar ante a perseguição, considerada deste ponto de vista, uma vez que 
isso constituía um privilégio dos santos, porque a vós é dado (29), isto 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 19 
é, a perseguição para vós é concedida como um presente. A expressão do 
grego echaristhe enfatiza a idéia de dádiva, sendo a raiz charis (graça). 
 Que Paulo era um sofredor, seus filhos na fé bem o sabiam, desde 
a primeira vez em que esteve em Filipos até a prisão atual em Roma. Tal 
era o seu quinhão por amor de Cristo. 
 Agora a perseguição era também deles; portanto, Paulo exortava-
os a permanecer firmemente em um só espírito (27). 
 Coragem ao sofrer hostilidades, diz o apóstolo é um sinal visível 
da destruição final do inimigo, prova evidente de perdição (28) mas 
para eles é uma prova de salvação, não provinda de qualquer fonte 
humana, mas promanada inteiramente do próprio Deus. Em outras 
palavras, o destemor dos cristãos, diante da perseguição, infunde pavor 
no coração dos perseguidores, enquanto contribui para o crescimento da 
confiança no coração do crente sofredor. As palavras perdição (gr. 
apoleia) e salvação (gr. soteria) estão em absoluto contraste. A primeira 
é uma terrível negativa, uma espantosa perda; a outra, uma libertação 
positiva do pecado, uma bendita segurança para a eternidade. Paulo 
aconselha o cultivo dessas forças construtoras da resistência e combate 
ao pecado para a criação de uma verdadeira comunidade espiritual. 
Insiste ele em fazer aos filipenses duas exortações com o mesmo alvo: 
completar sua alegria e preservar neles um espírito humilde para com 
toda a irmandade. Primeiro, ele os exorta a união por uma súplica cheia 
de amor para que seu coração transbordasse de gozo, como se fora a 
habitação de felicidade espiritual, completai minha alegria (2.2). Eles 
já lhe haviam dado motivo de júbilo (1.3; 4.10), mas se quisessem que 
seu gozo fosse completo, deixassem de praticar aquelas coisas a que se 
refere e se tornassem unidos. 
 
Filipenses 2 
 A admoestação é sustentada por quatro fortes razões (2.1) que o 
apóstolo, em estilo exortativo, crê que certamente trarão importância, 
porque, seguramente, tais coisas são reais e servem para atrair poder. 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 20 
Moffatt traduz o verso referido assim: «Desse modo, por todos os 
estímulos de Cristo, por todo incentivo de amor, por toda a vossa 
participação no espírito, por todos os vossos ternos afetos eu vos rogo 
que me deis uma completa alegria, por saber que estais vivendo em 
harmonia». 
 Uma segunda admoestação com o fito de estimular a unidade é 
acrescentada, o cultivo da humildade. Forças desagregadoras fortemente 
se abaterão sobre os crentes se entre eles tiver preponderância e espírito 
de baixeza (3). A cidadania celestial da vida espiritual em comum dos 
membros da igreja em Filipos será completamente preservada, se 
desinteressadamente cada um, ou cada grupo, atentar também para os 
interesses de seu próximo, considerando-o superior a si. Entre os pagãos, 
o espírito de humildade não constituía uma virtude, mas um grave 
defeito. 
 Contenda (3, ARA «partidarismo») contribuía, no entanto, para a 
formação de facções no seio da igreja, que tentariam manobrar todas as 
coisas a seu modo, por amor de interesses partidários. Vanglória 
significa a ambição de cada membro da igreja em adquirir posição de 
relevo e bem assim criar um séquito para que assim pudesse exercer um 
ministério pleno de vaidade pessoal. 
 
V. O EXEMPLO DE CRISTO - 2.5-18 
 
 O apóstolo apela para o exemplo de Cristo como sendo uma 
inspiração de humildade espiritual necessária à formação de uma 
sociedade unida e feliz. Esta seção tem duas partes: 2.5-11 e 2.12-18. 
 
a) O auto-aniquilamento e a auto-humilhação de Cristo (2.5-11) 
 
 Essa é a grande passagem cristológica, que projeta luz sobre a 
encarnação de Jesus Cristo. A grande verdade aqui revelada é justamente 
a que dimana do pensamento do apóstolo, quando se voltou para o 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 21 
advento histórico de Cristo, a fim de ilustrar a doutrina da humilhação do 
Filho de Deus (cf. 2Co 8.9). O coração da doutrina está na frase tornou-
se a si mesmo como não tendo reputação alguma, ou melhor, 
esvaziou-se de si mesmo, sendo esta última frase a tradução literal do 
grego ekenosen, de que se deriva o termo teológico e técnico kenosis ou 
auto-aniquilamento. 
 Jesus, que existiu em forma de Deus e igual a Deus (6), 
humilhou-se a Si mesmo tomando a forma de servo (7) em lugar da 
pré-existente forma de Deus. 
 Note-se que nesta passagem há três idéias gradativas: «essência» 
(gr. hyparchon, lat. essentia); «forma» (gr. morphe, lat. forma); 
«figura» (gr. schema, lat. figura). Essência, existência ou ser são 
fundamentais e devem existir em alguma forma, que, uma vez adotada, 
permanece sempre a mesma. Cada ser tem suaprópria forma. Forma é a 
expressão permanente da existência. Assim temos a forma de Deus, a 
forma de um anjo, a forma de homem, a forma dos animais; todas essas 
formas são qualidades inalienáveis ao ser ou existência. A figura, no 
entanto, é transitória. Em outras palavras: a figura ou aspecto podem 
mudar, mas forma permanece. Desse modo a aparência deste mundo 
(schema) passa, não porém sua forma (morphe), (1Co 7.31). Satanás 
pode transfigurar-se num anjo de luz, mas não pode transformar-se em 
tal (cf. 2Co 11.14). Assim nosso Senhor existiu primeiramente na forma 
de Deus, uma forte afirmação de Sua deidade essencial e na encarnação 
e aniquilamento de Si mesmo Ele adotou a forma de servo, o que 
resultou em se tornar homem, tornando-se seu Ser na semelhança de 
homem. 
 O apóstolo encontra em Cristo o exemplo supremo do que por ele 
havia ensinado nos vv. 3 e 4. 
 Descreve ele, primeiro, a altura da qual Cristo desceu, sendo (gr. 
«sendo originalmente») na forma de Deus (6). Isso demonstra os 
atributos essenciais de Deus e compreende não somente a pré-existência 
de Cristo, mas Sua existência como Deus era uma divina maneira do ser. 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 22 
Ele era em tudo, consoante mostra a cláusula seguinte, igual a Deus (6). 
Entretanto, Ele não considerou esse modo de ser como algo que devesse 
ser usurpado, mas «despojou-Se a Si mesmo». 
 Em segundo lugar, o apóstolo descreve até onde Cristo desceu. Em 
vez de viver em igualdade com Deus, tomou a forma de servo (de 
Deus), como um ser humano entre os homens (7). Assim, sendo achado 
na forma de homem («sendo reconhecido como verdadeiramente 
humano»), não buscou a Sua própria glória (Jo 7.18), mas humilhou-se 
a Si mesmo, vivendo na obediência de servo, sem cessar até a crucifixão 
(8). 
 Em terceiro lugar, o apóstolo descreve a altura a que Deus 
soberanamente o exaltou (9), gr. hyperypsosen, indicando o prefixo 
uma exaltação superior a qualquer outra. Deus colocou assim o selo de 
Sua aprovação sobre a humildade, «o espírito que estava em Cristo 
Jesus». 
 Assim a encarnação consistiu no próprio aniquilamento voluntário 
de Cristo, processo esse claramente expresso no verso que... não teve 
por usurpação ser igual a Deus (6). Diversas interpretações são aqui 
possíveis, de acordo com o sentido da palavra harpagmon ativa ou 
passiva, isto é, «usurpando» ou uma coisa «usurpada». Paulo pode estar 
dizendo que Jesus não considerou sua igualdade com Deus uma 
«usurpação», um «ato de usurpar», um «roubo», isto é, algo ainda são 
legitimamente seu. Mas, embora tão indiscutivelmente igual a Deus, 
Cristo despiu-se de todas as prerrogativas divinas e fez-se homem. Ou 
então a significação pode ser que Jesus não considerou Sua igualdade 
com Deus «algo que devesse ser conquistado», um prêmio, alguma coisa 
a «se apegar», com avidez, como se fora o acúmulo de riquezas. Jesus 
livremente despiu-se dessa igualdade com Deus». Nesse ponto de vista a 
«igualdade com Deus» já era prerrogativa de Cristo em Seu estado 
anterior, pois só assim poderia deixá-la. 
 Uma terceira opinião que, à semelhança da segunda, também 
admite o sentido passivo de harpagmon, dá a significação de que Jesus 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 23 
não considerou a alguma coisa que devesse ser arrebatada e possuída 
como presa (cf. a tentação de Satanás em Gn 3.5 – “sereis como Deus”). 
Pelo contrário, Cristo esvaziou-Se a Si mesmo, a fim de que pudesse 
obter aquela qualidade e manifestar sua deidade inerente em Si, 
humilhando-se e tornando-se obediente até a morte e morte de cruz. 
Esse ponto de vista ainda mais se fortalece à luz de Hb 5.8-9. Cristo 
considerou o alvo de Sua exaltação final, após a consumação da obra 
redentora, como algo que deveria ser alcançado, não por força de 
usurpação de que fosse o autor, mas como um compromisso divino 
plenamente satisfeito pelo sacrifício da cruz. 
 Qualquer que seja a interpretação dessa difícil passagem 
cristológica, pode ser aceita a distinção entre «deidade» e «igualdade 
com Deus». Não padece dúvida o fato de que o pensamento do apóstolo, 
a esse respeito, é que «igualdade com Deus» significa o ato pelo qual 
Deus exaltou a Seu Filho a um plano superior e Lhe deu um nome que é 
sobre todo nome (9-11). Deste modo, não Sua deidade, mas Sua 
igualdade com Deus é o prêmio conquistado por Cristo por Se haver 
humilhado a Si mesmo, por tornar-se homem e por cumprir 
perfeitamente o plano redentivo da vontade de Deus, o Pai. 
 
b) Normas práticas de vida para os filipenses (2.12-18) 
 
 1. OPERAI VOSSA PRÓPRIA SALVAÇÃO (2.12-16) - O 
exemplo de humilhação de Jesus, em todo o Seu estupendo sacrifício, 
deve inspirar aos que o lêem a uma vida de verdadeiros discípulos, 
especialmente imitando-o quanto a Sua impressionante humildade. Os 
filipenses (não todos, talvez, porém vários deles) eram propensos a um 
alto espírito de divergência, a fonte fértil de dissensões. O dever 
imediato deles, portanto, muito mais na ausência de Paulo do que na sua 
presença, de cujo auxílio espiritual presentemente estavam privados, era 
trabalharem para operar a Sua própria salvação, elevar cada esforço 
individual ao máximo, a fim de que fossem libertados do pecado que os 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 24 
estava bloqueando. A exortação é dirigida, em primeiro lugar, ao grupo 
faltoso, mas por fim é extensiva a toda a igreja de Filipos, porque é dever 
de cada um trabalhar, não somente pela Sua própria perfeição, mas 
também pela de seu próximo. 
 A mesma exortação é apresentada quanto a seu modo, base e 
propósito. Com temor e tremor (12). Descreve como os filipenses 
deveriam trabalhar ardentemente pela sua própria salvação (cf. 2Pe 1.10. 
A frase ocorre também em 1Co 2.3; 2Cor 7.15 e Ef 6.5). Essas três 
referências implicam numa dúvida ansiosa, pelo temor de que fossem 
desfeitos os laços da fraternidade e todas dizem respeito à esfera 
humana. Nesta passagem a exposição é dada com freqüência como à 
vista de Deus e a tradução que se oferece «com meticulosa reverência» 
(Wand) ou interpretação semelhante. Isto é permitido se a conduta da 
comunidade não é obscurecida. 
 A base da admoestação está inspiradamente afirmada na frase 
Porque Deus é o que opera em vós (13), isto é, «habilita-vos». A 
ênfase, portanto, recai sobre a palavra Deus. No grego ela vem colocada 
em primeiro lugar. Não é Paulo quem é dinâmico, nem qualquer ideal 
elevado deles mesmos, que podem operar e completar a salvação. É 
Deus apenas. A graça divina interior procede para com ambas a vontade 
e a ação, de modo semelhante. Deste modo, tanto o querer como o 
efetuar são operações da graça divina, produzidas pela boa vontade de 
Deus (13). O apóstolo emprega o mesmo vocábulo grego eudokia, em 
1.15, para descrever a atitude de outros para com ele mesmo. 
 Aqui ele o emprega, como em Ef 1.5,9; 2Ts 1.11, para significar o 
beneplácito da vontade de Deus. O propósito da exortação aos 
filipenses para que operem sua própria salvação é no sentido de que vos 
torneis irrepreensíveis e sinceros filhos de Deus inculpáveis (15). Este 
deve ser o desígnio deles e o alvo da Providência divina. A vida dos 
filipenses na sociedade dos santos deve ser unificante, trazendo unidos 
cada indivíduo, família ou grupo, e não dispersiva, devido às ofensas. 
Como filhos de Deus estão eles destinados a ser astros do mundo (15; 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 25 
ARA «luzeiros»). A figura é de uma estrela resplandecendo em uma 
noite escura. Seu brilho atrativo fere a imaginação do apóstolo e ele os 
vê, num instante, irradiando as palavras da vida e dissipando as trevas 
espirituais, no meio de uma nação perversa («geração», cf. Dt 32.5). 
 
 2. ALEGRAI-VOS E REGOZIJAI-VOS COMIGO (2.17-18) -- 
Esta é a segunda injunção que Paulo faz aos crentes em Filipos como 
resultado prático da humilhação do Senhor Jesus Cristo. O pensamento 
principal do apóstolo em toda esta seção é o exemplo do sacrifício em 
Cristo, depoisem si mesmo e nos filipenses. 
Se os filipenses abandonarem o espírito de auto-suficiência, que é 
entre eles a causa de algumas divisões e crucificarem o orgulho e 
vontade-própria, serão verdadeiramente filhos de Deus (15). Se sua fé 
encontrar expressão semelhante à vida de sacrifício e trabalho de Jesus 
Cristo, então Paulo saberá que seu ministério não foi em vão (16) e 
então se regozijará. Mesmo se em adição a essa vida de sacrifício dos 
filipenses (cf. Rm 12.1) o apóstolo for levado a derramar seu próprio 
sangue como libação de sacrifício (17; cf. Nm 28.7), isto deve ser 
considerado motivo de triunfante alegria tanto para eles como para o 
próprio apóstolo. 
 
VI. PRÓXIMAS VISITAS - 2.19-30 
 
 Nesta seção o apóstolo revela seus planos para o futuro. Fala de 
três visitas aos filipenses, uma por Timóteo (19-23) outra por ele mesmo 
(24) e a terceira por Epafrodito (25-30). 
 A decisão de enviar Timóteo firma-se no desejo de alegrar tanto 
nos filipenses quanto a si mesmo pela troca de notícias. Timóteo é o 
homem certo para aquele empreendimento e um testemunho elevado é 
dado a seu respeito. Ele apenas, dentre o círculo de amigos e ajudadores 
de Paulo, é o que tem igual sentimento (20; lit. «de igual espírito»). 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 26 
 O coração de Paulo está cheio de cuidado pela igreja de Filipos, 
mas todos que cercavam o apóstolo naquele momento, estavam 
completamente ocupados com seus próprios interesses, com exceção de 
Timóteo (21). Faz Paulo essa angustiosa condenação a todos os seus 
seguidores e assistentes, a todo o círculo interno de seus amigos? 
Dificilmente, pois onde estavam Lucas e Epafrodito naquele tempo? A 
linguagem seguramente expressa mais as especiais qualidades de 
Timóteo para ir a Filipos, um egoísmo tanto dos pagãos como de alguns 
cristãos imaturos que o cercavam, do que um impedimento, por 
incapacidade espiritual, dos demais companheiros de trabalho 
evangélico. 
 Timóteo ganhou seu estímulo, é um servo experimentado do 
Senhor e um verdadeiro filho espiritual de seu pai na fé, Paulo, donde o 
advérbio gnesios. O termo grego refere-se a «filho nascido legalmente», 
«nascido pelo casamento», genuíno, verdadeiro. Timóteo reproduz a 
natureza do apóstolo como um pai espiritual, especialmente no cuidado 
para com os filipenses. Esta solicitude é traduzida no fato de o apóstolo 
desejar enviá-lo a eles como sendo o companheiro que tinha um 
sentimento igual ao seu e cuja experiência no evangelho também era por 
eles conhecida. 
 A segunda visita prevista nos filipenses é do próprio Paulo (24). 
Ele refere-se a isso brevemente. Ao mesmo tempo em que está pronto a 
se tornar um mártir por causa de sua fé, o apóstolo está plenamente 
confiante que será libertado. Atente-se para a repetição da frase no 
Senhor (19,24), Esta é a esfera de todos os seus planos. 
 A terceira visita que Paulo tem em mente é a de Epafrodito, nome 
que aparece apenas nesta epístola (2.25 e 4.18). Esse nome significa 
«amável» e, provavelmente, esse cooperador era digno do nome, pois era 
muito amado pelos filipenses. Não deve ele ser confundido com Epafras 
(Cl 1.7; 4.12; Fm 23). Paulo dá a ele cinco títulos: Meu Irmão e 
companheiro de lutas e cooperador e, depois, vosso mensageiro e 
vosso auxiliar nas minhas necessidades. Não era voluntariamente que 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 27 
o apóstolo o deixava ir, mas julgava necessário fazê-lo por amor do 
próprio Epafrodito, dos filipenses e de si mesmo. 
 Havia três razões para sua volta. Epafrodito adoecera, ficando às 
portas da morte (27,30) e se angustiava de saudade por rever os seus, 
principalmente depois que soubera que esses tiveram conhecimento de 
sua enfermidade (26). 
 Além disso, a posição que Epafrodito ocupava na igreja devia ser 
importante e seu trabalho entre eles muito apreciado, daí o grande afeto 
que os filipenses sentiam por ele. Finalmente, por amor do próprio 
Paulo, Epafrodito está sendo enviado de volta, dedução que se tira da 
frase e eu tenha menos tristeza (28). Provavelmente Paulo está 
pensando na morte da qual seu amigo escapara pela misericórdia de 
Deus e em torná-lo a salvo de uma possível recaída, da doença que o 
acometera, por força dos perigos a que estava exposta a saúde de 
Epafrodito em Roma. Também é possível que o pensamento de reunião e 
explanações mútuas entre Epafrodito e os filipenses trouxesse algum 
alívio à angústia do apóstolo, por causa da ansiedade de que eles eram 
presa. É possível até que algum mal-entendido houvesse sido levantado 
entre eles. 
 
Filipenses 3 
VII. ADVERTÊNCIA CONTRA FALSOS MESTRES - 3.1-21 
 
 O apóstolo tinha terminado de ditar Finalmente, meus irmãos, 
regozijai-vos no Senhor (1), quando alguma coisa aconteceu que fez 
voltar o curso de seus pensamentos felizes à corrente menos 
congratulatória. O que aconteceu, porém, não pode ser afirmado 
definitivamente. Pode ter ocorrido algo que impediu Paulo de continuar a 
escrever e, antes que voltasse novamente à redação da epístola, um grave 
relatório chegasse às suas mãos. Provavelmente alguma notícia de 
desordens em Filipos, juntamente com outras de agitações fomentadas 
contra ele próprio em Roma. Seja o que for, a verdade é que Paulo 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 28 
começa a falar rápida e veementemente, em indiscutível admoestação 
contra três classes de falsos mestres. 
 
a) Advertência contra os judaizantes (3.2-11) 
 
 Cf. Gl 3.1-29; 4.21-31; Rm 2.25-29. Ver também a Introdução a 
Gálatas. 
 Paulo, completamente cheio de justa indignação dá a esses homens 
nomes equivalentes a seus caracteres, como cães, maus obreiros, falsa 
circuncisão (2). Cães é uma palavra de desprezo. Eram eles os párias do 
Oriente, que se alimentavam de rebotalhos das ruas. Paulo inferia que os 
judaizantes estavam colocados em plano oposto ao concerto e à graça, 
merecendo, portanto, o mesmo tratamento que eles davam aos gentios. 
Os judaizantes injuriavam por onde quer que andassem e iam por toda 
parte com perversa e pessoal animosidade. Eram também eles iguais à 
circuncisão, «partido da incisão», «os que mutilam a carne». O grego é 
katatome em oposição a peritome, deste modo, uma paródia de 
desprezo -- amputação, não circuncisão. A palavra implica em rito 
despojado de fé, símbolo vazio, apenas mutilação do corpo. Peritome, 
ao contrário, significa uma circuncisão real de fé, como no verso 3 – os 
que servem a Deus e se gloriam em Jesus Cristo que é a única fonte da 
justiça. Os que fazem assim não põem sua confiança em sua própria 
justiça nem nas obras da carne. 
 Nos vv. 4-11 encontramos uma síntese biográfica de Paulo, na 
qual declara que ele tem todos os privilégios raciais dos judaizantes e 
ainda mais que eles. Revela como ele mesmo podia orgulhar-se em 
termos de lei. Há sete excelentes anotações: «Se alguém cuida que pode 
fiar-se em privilégios externos, eu posso mais ainda. Fui circuncidado ao 
oitavo dia; pertenço à raça de Israel, da tribo de Benjamim; hebreu filho 
de hebreus, fariseu de acordo com a lei, a ponto de ser um ardoroso 
perseguidor da igreja; imaculado segundo o padrão da justiça legal». 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 29 
 O verso 9 apresenta duas qualidades da justiça que, em sua vida 
cheia de experiências, Paulo conheceu muito bem: que vem da lei, mas 
a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela 
fé; isto é, uma legal, outra atribuída. Paulo apóia-se apenas em Cristo 
para a justiça. Seu grande problema, a que dá forma definida na epístola 
aos Romanos, é «Como posso ser justo diante de Deus?» e encontra 
solução através da fé em Cristo ressuscitado. 
 Todos os méritos religiosos e hereditários, a justiça que procede da 
lei, é considerada por ele como perda (8) ou «refugo», aquilo que é 
desprezado como sendo inútil. Seus valores sofreram uma revisão 
radical. O tesouro mais precioso ele agora ambiciona, a excelência do 
conhecimento de Cristo Jesus meu Senhor (8). O pronomepossessivo 
singular, meu, é bastante impressivo. Paulo não se envergonha de 
pertencer a seu Senhor. 
 O pensamento primordial destes versos está no conhecimento por 
experiência do Cristo ressuscitado. O apóstolo move-se ao redor deste 
fato e revela-o como sendo a força dinâmica de toda a sua auto-renúncia, 
o motivo precípuo do repúdio total de todo e qualquer mérito pessoal. 
Ele expressa seu objetivo de modo diferente: para ganhar a Cristo (8), 
que eu possa ser achado nele (9), para o conhecer (10) e para de 
algum modo alcançar a ressurreição dentre os mortos (11). Estas 
quatro frases merecem consideração. 
 
 1. PARA GANHAR A CRISTO (3.8) -- Paulo usa para «ganhar» 
o mesmo termo grego que usou anteriormente para avaliar os ganhos 
(ver vers. 7). Ele já possui Cristo, mas não ainda totalmente. A vida 
cristã é uma luta de fé. Seu alvo não é atingido automaticamente. 
 
 2. PARA QUE EU POSSA SER ACHADO NELE (3.9) – Paulo 
pensa aqui acima de tudo em sua comunhão com Cristo. Levado a uma 
união espiritual com Cristo (nEle) pela fé, não pela lei, ele está salvo 
agora e sempre. Ele é a salvação completa, uma perene amizade com 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 30 
Deus, o Pai, através de Cristo, o Filho. Este conhecimento pessoal de 
Cristo torna-se ainda mais explícito. 
 
 3. PARA O CONHECER (3.10) -- o próprio Cristo que Paulo 
deseja conhecer cada vez mais, o Cristo da ressurreição, o Cristo da cruz. 
As três frases cheias de significação, o poder da ressurreição, a 
comunhão de seus sofrimentos, conformando-me com Ele na Sua 
morte, contêm uma riqueza de sentido. A pergunta surgida refere-se ao 
fato de elas se referirem à vida do apóstolo em Cristo ou a seus serviços 
para Ele. A resposta é que certamente elas incluem ambas. 
 O poder de sua ressurreição; não o poder da doutrina 
simplesmente, que no terceiro dia, de acordo com as Escrituras, Jesus 
ressuscitou dos mortos, embora este fato também seja poderoso (cf. At 
17.31; Rm 1.4; 4.25); porém o poder da vida ressurreta do Salvador, 
realizada na vida e trabalhos diários de Paulo (cf. Rm 8.10-11; 15.18-19; 
2Co 4.7-11; 12.9). 
 A comunhão de seus sofrimentos, uma experiência tão 
intimamente ligada ao fluxo vital da graça provinda do Deus vivo e 
ressurreto que ela vem juntamente com a própria realização de Cristo. 
Um único artigo no grego serve igualmente para o poder da ressurreição 
e a comunhão de seus sofrimentos, tornando, deste modo, as duas frases 
numa só gramaticalmente. A comunhão com o sofrimento de Cristo é 
adquirida através da experiência da negação de si mesmo (Mc 8.35), em 
aprender a obediência (Hb 5.8) na obra da redenção (2Co 4.11-12). 
Conformando-se com Ele na Sua morte. Esta é uma experiência íntima 
relacionada com a forma essencial (gr. morphe) e não com a figura 
exterior (gr. schema), como em Rm 12.2, onde Paulo proíbe conformar-
se com e mundo. Cf. Gl 2.20; 5.24; 6.14. 
 
 4. PARA DE ALGUM MODO ALCANÇAR A RESSURREIÇÃO 
DENTRE OS MORTOS (3.11) – No conhecimento de Cristo, como Paulo 
já compreendera, está a bênção sem par de levantar-se com Cristo na 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 31 
ressurreição dos mortos. Conhecer a Cristo no poder de sua ressurreição 
e conformar-se com Ele na Sua morte, é estar a caminho da glória 
através da ressurreição. A justiça atribuída de Cristo transforma-se em 
justiça adquirida, pois o conhecimento experimental do Salvador 
transforma a vida totalmente. Paulo antecipa-se, tornando real a vida 
ressuscitada e vitoriosa de Cristo em sua própria personalidade e 
partilhando com a mente de homens justos, transformados. O «dia de 
Senhor» será um dia glorioso para o apóstolo. Paulo não tem qualquer 
dúvida a respeito de seu destino. As palavras para de algum modo não 
expressam dúvida, mas uma livre vontade de seu coração de tomar parte 
na «ressurreição da vida» (Jo 5.29). 
 
b) Advertência contra os perfeccionistas (3.12-16) 
 
 O apóstolo fala de sua própria experiência de um modo bem 
franco. Alguns de seus conversos menos iluminados podem crer que 
sejam perfeitos, mas Paulo nega-lhes tal perfeição. Este convencimento é 
habilmente condenado. 
 Mas prossigo, Paulo o pai espiritual humildemente confessa, para 
conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo 
Jesus (12). O verbo grego no aoristo passivo (katelephthen) denota uma 
ação definitivamente no passado, um acontecimento específico na 
experiência do apóstolo, isto é, sua conversão. A finalidade de Cristo em 
salvá-lo deve ser completada por sua luta contínua na mesma direção. 
«Continuo na conquista, porque do mesmo modo fui conquistado». 
 Mas mesmo assim, através de toda sua vida, inteiramente 
consagrada, Paulo não se atribui perfeita santificação. Ao contrário, 
como um corredor numa competição, ele se esforça para ir avante, na 
direção da meta, para alcançar o prêmio de estar com Cristo nos céus. A 
idéia do fim do cristão e sua felicidade é comum na literatura paulina e 
resume-se em receber plenamente tudo o que Deus nos deu em Cristo. 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 32 
Cf. 1Co 2.9; Ef 4.13-14; Cl 4.12. Ver também 1Pe 5.4 («coroa de 
glória»); 2Tm 4.8 («coroa de justiça»); Ap 2.10 («coroa da vida»). 
 Para Paulo a abençoada consumação da boa luta cristã jamais é 
apenas uma experiência individual. Ele revela seu ideal de inspirar seus 
convertidos a uma «perfeição dos santos». 
 Assim ele continua todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos 
este sentimento (15). Alguém sugeriu que Paulo está aqui sendo irônico: 
«aqueles que entre vós vos julgais perfeitos». O sentido está no grego 
teleios. Paulo em suas cartas usa esse termo nove vezes (Fp 3.15; 1Co 
2.6; 14.20; Ef 4.13; Cl 1.28; 4.12; Rm 12.2; 1Co 13.10). Apenas os seis 
primeiros referem-se a pessoas; 1Co 14.20 e Ef 4.13 estilo 
definitivamente em contraste com nepios (criança). Logo, «maduro» é 
claramente um sentido de teleios. É possível que a palavra fosse usada 
na igreja primitiva em referência aos cristãos amadurecidos na fé (cf. Hb 
5.14). 
 Alguns traduzem também por «iniciado», palavra usada para 
designar os que tinham acesso aos cultos dos mistérios da época. Mas a 
tradução «perfeito» é a que melhor convém quando chegamos à 
conclusão de que a realização de nossa finalidade é possível nos vários 
estágios de nossa experiência. Assim é que a perfeição da criança é 
diferente da do jovem, do adulto e do velho. Outro modo de 
interpretação é examinar a palavra «santos» que Paulo emprega à luz de 
seu fim. Ninguém é absolutamente perfeito, mas tanto Paulo como seus 
filhos na fé ainda se encontram a caminho da perfeição e já podem ser 
chamados santos. Por isso, não se deve presumir exista aqui sarcasmo. 
 Paulo exorta aos filipenses (principalmente aos perfeccionistas 
existentes entre eles) que julgavam ter atingido tal perfeição, a que 
tenham o mesmo sentimento (15). Ter esta opinião, isto é, o de visar 
chegar a uma altura ainda não atingida. Se seus filhos na fé, em Filipos, 
tiverem idéias diferentes, o próprio Deus lhes dará a necessária 
revelação: deste modo, gentilmente Paulo admoesta a facção dos 
perfeccionistas. Apenas uma coisa mais o apóstolo precisa dizer, antes 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 33 
de ir além. «Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos» 
(16). A perfeição é conseguida apenas pelo progresso do estágio já 
alcançado. Este progresso não pode ser alcançado no isolamento da 
desunião, mas andando passo a passo com os outros. O gr. stoichein - 
«andar» significa marchar em fileira na mesma direção. 
 
c) Advertência contra os antinomistas (3.17-21) 
 
 Crê-se que Paulo, nesta seção, está pensando nos antinomistas (lit. 
«aqueles que são contra a lei ou código moral»). Os sentimentos desses 
pareciam ser de uma espiritualidade tão alta que menosprezavam a carne 
como sendo mal, entretanto, tal espiritualidade é espúria. Não há 
necessidade, segundo tal opinião, de se obedecer à lei naquilo que diz 
respeito à carne, porqueo espírito é tudo. Na verdade, ao espírito 
compete dominar seu contaminado sócio, o corpo. Tal atitude, no 
entanto, para com esse, ora descamba para o ascetismo, ora resvala para 
a libertinagem. Aqui em Filipos, evidentemente, a inclinação foi para a 
última alternativa, ou seja, grosseira sensualidade. Tais idéias usadas 
como um caminho de vida são absolutamente alheias à verdade cristã. 
Paulo exorta os filipenses a seguirem seu exemplo (17) e a evitarem o 
dos antinomistas, em seu meio, porque os tais fazem deuses de seus 
apetites (19). O evangelho de Jesus Cristo, pregado pelo apóstolo aos 
filipenses, põe ênfase no que é espiritual e não no que é carnal, sobre as 
coisas celestiais e não sobre as terrenas (cf. Cl 3.1). 
 A pátria deles («cidadania», ver 1.27 n.) está nos céus (20). Por 
isso, o caminho da vida cristã é regulado pelo Senhor Jesus Cristo, cuja 
regra espiritual na vida dos crentes envolve dois fatos, a Sua segunda 
vinda e a transformação do corpo (20-21). Longe do desprezo pelo 
corpo, o que deve haver é reverência. 
 Nosso corpo abatido (21). Não se deve compreender como uma 
depreciação; é somente uma interpretação infeliz. Mesmo a idéia de 
humilhação quer dizer apenas que o corpo que agora temos está 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 34 
subordinado às limitações terrenas, inclusive a morte; porém, tem a 
potencialidade de exaltação, glorificação, transformação em um corpo 
espiritual semelhante ao seu corpo glorioso (21). O onipotente poder de 
Cristo, o Redentor, completará esta maravilhosa obra. 
 
Filipenses 4 
VIII. TRÊS EXORTAÇÕES FINAIS - 4.1-9 
 
 O primeiro versículo pode ser a conclusão da seção anterior -- um 
apelo geral a permanecerem unidos («firmes») no Senhor. Também 
pode referir-se à advertência que Paulo está por fazer. Deste modo ele dá 
três últimos conselhos, a fim de que permaneçam firmes, um diretamente 
a indivíduos e os demais à igreja como um todo. 
 
a) Conselhos de reconciliação (4.2-3) 
 
 Duas mulheres, que tinham certa posição de destaque na igreja, 
desavieram-se – Evódia e Síntique. Cada uma possuía um grupo de 
seguidores, pelo que a semente da discórdia estava sendo semeada no 
seio da igreja. Paulo as exorta para que tenham o mesmo sentimento no 
Senhor (cf. 2.2) e a viverem em harmonia. A assistência de uma terceira 
pessoa é solicitada para completar a pacificação. Quem é o fiel 
companheiro aqui mencionado não se sabe. Semelhantemente não se 
pode identificar quem é Clemente. Possivelmente ambos eram bispos em 
Filipos (ver 1.1). A expressão simbólica livro da vida só é encontrada 
aqui e no Apocalipse (cf. Ap 3.5; 13.8; 17.8; 20.12,15; 21.27). Mas cf. 
Êx 32.32; Sl 69.28; Is 4.3; Dn 12.1; Lc 10.20. 
 
b) Conselhos de regozijo (4.4-7) 
 
 A nota predominante da epístola é a alegria. Ela vem à tona em 
todos os lugares. As coisas que se seguem ao regozijo são aqui 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 35 
apresentadas em número de cinco: suave equidade (moderação, 
«indulgência», «gentileza»), a presença de Jesus (o Senhor está perto 
ou, talvez, «está próximo»; Sua presença e não sua Parousia, ausência de 
cuidado, oração com ações de graças (ver 1.9) e a paz de Deus. 
 
c) Conselhos de justiça (4.8-9) 
 
 Esses conselhos se integram no cômputo dos verdadeiros valores 
da vida. Pensai nessas coisas significa «tomai essas coisas na devida 
conta». Tem a força de um apelo ao julgamento moral. Que valores são 
esses? O apóstolo dá uma lista de sete: real (verdadeiro), venerável 
(honesto), direito (justo), puro, amável (tudo o que é de boa fama), 
respeitável (tudo o que for de valor moral digno de louvor). Tais 
virtudes, na acepção de Paulo, eram mais excelentes que todas as 
demais, por isso ele exorta os crentes a ocuparem seus pensamentos com 
elas e a fazerem norma prática de seu modo de viver. Isso porque a mera 
contemplação daquelas coisas não é suficiente. O pensamento deve ser 
traduzido por ação, de acordo com o próprio ensinamento e exemplo de 
Paulo (9). Se deste modo andarem, o Deus de paz será com eles (cf. 
verso 7). 
 
IX. RECONHECIMENTO DE DÁDIVAS - 4.10,20 
 
 Nesta seção Paulo expressa, em primeiro lugar, sua gratidão pela 
generosidade da igreja dos filipenses. Este elevado e maneiroso 
reconhecimento é, na verdade, a causa principal da epístola. Outra vez o 
prisioneiro grandemente se regozija. E agora por causa do zelo para com 
ele de seus amados filhos na fé. Estes sempre se lembravam de suas 
necessidades materiais, mas, ultimamente, não tinham achado 
oportunidade para lhe enviar qualquer dádiva, faltando ocasião 
apropriada para isso. Não resta dúvida de que as dádivas que então 
chegaram às mãos de Paulo, por intermédio de Epafrodito, chegaram no 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 36 
mais oportuno momento. Mas, ao mesmo tempo em que se regozija pela 
generosidade dos filipenses, sente o apóstolo que lhes deve asseverar sua 
completa independência das condições materiais, pois pode depender do 
poder de Cristo, existente nele (13), não sendo um homem ansioso à 
espera de dádivas. É a graça da liberalidade outorgada pelos filipenses 
que enche de regozijo o coração do apóstolo. 
 Há quem descubra no versículo 18 um trocadilho do nome de 
Evódia, a quem Paulo faz referência no verso 2, porque um cheiro de 
suave sacrifício é, no original, osmen euodias «perfume de boa 
fragrância» ou «de evódia». Pode ser que Evódia houvesse tido um papel 
proeminente na aquisição de dádivas que foram enviadas a Paulo por 
intermédio de Epafrodito. Um trocadilho semelhante é encontrado em 
Fm 11 (Onésimo). 
 Paulo prossegue em seu reconhecimento pelas dádivas dos 
filipenses com louvor à característica liberalidade deles (14-16). Desde a 
fundação da comunidade cristã ali, alguns anos antes, os filipenses 
revelaram uma constante consideração ao apóstolo, procurando sempre 
suprir-lhe as necessidades imediatas. Enviavam-lhe vez por outra 
contribuições espontâneas. Parece mesmo que Paulo fez dos filipenses 
seus únicos benfeitores. Eles eram tão leais, amáveis e desejosos de 
contribuir. Enquanto ele recebe essas novas agora, suas muitas dádivas 
afetuosas voltavam-lhe ao espírito. Todas eram levadas à presença de 
Deus. Sob o ponto de vista espiritual mais do que do lado material, Paulo 
declara aos filipenses que seriam compensados por sua bondade, não 
como compensação, na verdade, mas como um elogio. Deus é o 
banqueiro do apóstolo. «Minhas necessidades vós supris. Vossas 
necessidades meu Deus suprirá» (19). 
 
X. SAUDAÇÃO FINAL - 4.21-23 
 
 Crê-se que essas últimas linhas da epístola foram escritas pela 
própria mão do apóstolo ( cf. 2Ts 3.17; 1Co 16.21; Gl 6.11; Cl 4.18). A 
Filipenses (Novo Comentário da Bíblia) 37 
pequena frase em Cristo Jesus é usada às vezes com o verbo salute e 
outras vezes com o nome santo (21). Emprega-se com o verbo em Rm 
16.22 e 1Co 16.19, onde é ligeiramente mudada para no Senhor. Mas a 
associação com o nome é preferida aqui (cf. 1.1). 
 Os irmãos que estão comigo, que enviam saudações, não são 
nomeados. Poderiam ser conhecidos se conhecêssemos o lugar onde 
Paulo estava preso, se Roma ou Éfeso, mas o portador da epístola, 
Epafrodito, poderia suprir toda a informação necessária àqueles. «Com 
vosso espírito» em lugar de com vós todos (23), de acordo com os 
melhores textos. «Com vosso espírito» significa que a graça é desejada 
para ser infundida na mais íntima natureza e é também encontrada em Gl 
6.18 e Fm 25. 
 
 F. DAVIDSON 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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	PLANO DO LIVRO 
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