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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 2 UNIDADE 1 - A FUNÇÃO FINANCEIRA NA EMPRESA E O GESTOR DE NEGÓCIOS ................................................................................................................. 4 UNIDADE 2 - AS FINANÇAS INTERNACIONAIS NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO ....................................................................................................... 6 UNIDADE 3 - OS BLOCOS REGIONAIS ................................................................. 10 UNIDADE 4 - O MERCADO INTERNACIONAL DE CÂMBIO E DE CAPITAIS ....... 20 4.1 MERCADO DE CÂMBIO ......................................................................................... 20 4.2 FATORES QUE DETERMINAM A TAXA DE CÂMBIO ..................................................... 23 4.3 MERCADO DE CÂMBIO NO BRASIL ......................................................................... 24 4.4 MERCADO DE CAPITAIS E INVESTIDORES INSTITUCIONAIS ........................................ 32 UNIDADE 5 - O SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL .................................. 41 UNIDADE 6 - O CENÁRIO PARA OS FINANCIAMENTOS INTERNACIONAIS ..... 46 UNIDADE 7 - AGÊNCIA DE CRÉDITO À EXPORTAÇÃO - ECA ............................ 49 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 54 Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 2 INTRODUÇÃO O comércio internacional é a “turbina-mãe” que gera a energia das finanças internacionais: sem o comércio não há finanças, seja no mercado doméstico, seja no mercado internacional. Em 2005, o comércio internacional movimentou US$ 10,1 trilhões em mercadorias e US$2,4 trilhões em serviços associados (transporte, viagens e logística) (CARVALHO, 2007). Para Baumann, Canuto e Gonçalves (2004) “o elemento básico de análise da Economia Internacional é um determinado espaço geográfico e suas relações com o resto do mundo.” Essas primeiras afirmativas nos oferecem uma ideia do clima dessa apostila: integração regional, os efeitos do crescimento econômico no comércio internacional, financiamentos internacionais e a globalização. São temas que devem permear o cotidiano dos profissionais do mercado de trabalho que lidam constantemente com questões relativas às finanças internacionais e à dinâmica do comércio exterior e suas relações como um todo. Assim, a disciplina intitulada Finanças Internacionais, que compõe a grade do curso de Gestão de Negócios, tem o objetivo de oferecer subsídios conceituais para aqueles profissionais que estão se habilitando na área de negócios, uma vez que a globalização praticamente nos impôs a necessidade de “trocar” com o mundo todo. Aquele isolamento em que vivíamos, preocupados somente com o mercado interno, com os acontecimentos ao nosso redor, deu lugar à necessidade de conhecer detalhes do mundo, particularidades de cada país, mercado, etc. Interessante perceber que antigamente o que mais chamava atenção em termos de mundo poderia ser resumido basicamente no turismo. Hoje, não. Hoje, a tendência das organizações é se tornarem multi, transnacionais, ou pelo menos “fazer negócios” além das fronteiras. Para isso o gestor de negócios, aqui entendido como aquele profissional múltiplo, precisa conhecer todas as ferramentas, conceitos e detalhes que possam levar a empresa sob sua gestão a se firmar e destacar no mercado. Que esse gestor precisa ter visão de futuro não há como negar, indo muito além, ele precisa perceber que mercado de capitais, taxa de câmbio e política econômica são três fatores extremamente importantes quando se trata de finanças internacionais. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 3 Essa apostila é uma compilação dos aspectos mais importantes que envolvem as finanças internacionais. Expressões em língua inglesa surgirão a todo momento, as quais tentaremos traduzir não ao pé da letra, mas dentro do contexto e salientamos que não há como fugir delas, uma vez que estamos tratando de um matéria que segue regras internacionais. O assunto “finanças internacionais” é extenso, possui muitos detalhes, exige o uso de fórmulas matemáticas, no entanto, procuramos nos ater ao que mais interessa para orientar um gestor em sua caminhada à frente de uma organização em crescimento e que veja no mercado internacional um novo caminho a desbravar. De todo modo, o gestor de negócios precisa dominar conceitos relativos ao mercado internacional, interpretar e analisar as informações financeiras para avaliar, tomar decisões e desenvolver estratégias empresariais. O primeiro capítulo identifica a função financeira em uma organização e o papel do gestor. Sequencialmente apresentamos as finanças internacionais no contexto da globalização; apresentamos os blocos regionais e demonstramos sua importância como centros de poder, autoridade, influência e governança; conceituamos e situamos o mercado internacional de capitais e de câmbio, as operações, taxas e seus fatores determinantes; explicamos o Sistema Financeiro Internacional; analisamos o cenário para financiamentos internacionais e para finalizar buscamos entender o que é uma ECA (agência de crédito à exportação), suas funções e mecanismos. Ressaltamos que o assunto não se esgota e oferecemos ao final da apostilas referências bibliográficas utilizadas no decorrer desta que também servem de leitura para aprofundamento do tema e para sanar lacunas que possam surgir ao longo do curso. Desejamos a todos boa leitura! Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 4 UNIDADE 1 - A FUNÇÃO FINANCEIRA NA EMPRESA E O GESTOR DE NEGÓCIOS Segundo Gitman (1997) ‘finanças’ pode ser considerada como a arte e ciência de administrar fundos, afetando a vida de qualquer pessoa e/ou organização. As principais oportunidades em serviços financeiros ocorrem nas áreas de bancos e instituições correlatas, planejamento das finanças pessoais, investimentos, bens imóveis e seguros. A meta da administração financeira é maximizar a riqueza dos proprietários da organização, então, ao gestor financeiro cabe avaliar a situação econômico- financeira da empresa, a formação do resultado, os efeitos de decisões tomadas anteriormente; tomar novas decisões, corrigindo o rumo indesejado e, desenvolver planos operacionais e de investimentos (CARDOSO E BRITO, 2004). As áreas de decisões financeiras mais importantes são: � Investimentos (administração da estrutura do ativo e implementação de novos projetos); � Financiamentos (propor e organizar a estrutura financeira mais adequada às operações normais e aos novos projetos) e, � Trabalhar a política de dividendos e financiamentos para destinar o lucro são as áreas de decisões financeiras mais importantes, ou seja, distribuir os dividendos (FERREIRA, 2008, p. 6). Para a mesma autora, a função financeira preocupa-secom todos os problemas que são associados com a eficiente aquisição e o uso do capital (dinheiro que se ganhou com empréstimos passados, o que se economizou dos ganhos com lucros ou salários, a riqueza acumulada para financiar novos investimentos). O capital pode ser físico, estando nas fábricas e máquinas ou financeiro, que está na riqueza investida nas empresas por meio de empréstimos tomados, ações vendidas ou outros instrumentos financeiros. Os principais objetivos da função financeira são: � Obter o montante adequado para a continuidade do negócio. � Conservar o capital e saber obter lucro com o uso desse capital, para que os investimentos continuem fluindo (FERREIRA, 2008, p. 4) Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 5 Ao gestor de negócios caberá, dentre outras atribuições, desenvolver habilidades e competências que lhe permitam conhecer todo o negócio da empresa, desde o chamado “chão de fábrica”, até a área de finanças e ter conhecimentos do mercado internacional é um ponto que na atualidade se faz pertinente. Em relação às finanças da empresa em geral, ele precisa ter condições de analisar a situação real da empresa e analisar com perspicácia os balanços apresentados pela contabilidade. Em se tratando da área internacional, participar de negociações, realizar pesquisas de mercado internacional, manter relacionamentos com canais e clientes internacionais, trabalhar com atividades de exportação, estar sempre em busca de capacitações, “antenado” com os acontecimentos globais, enfim, conduzir negócios e desenvolver projetos são atribuições que as grandes organizações atuantes em várias partes do mundo, vem buscando na contratação de pessoal. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 6 UNIDADE 2 - AS FINANÇAS INTERNACIONAIS NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO A Globalização pode ser definida como o aumento dos processos econômicos de natureza supranacional, ou seja, como a transformação da atividade econômica, financeira, política e social de caráter eminentemente nacional para um caráter eminentemente internacional, com o desenvolvimento de interdependências dos diversos países naquele conjunto de níveis. A tendência de globalização das atividades econômicas ocorre há várias décadas, tendo conhecido um enorme impulso nos últimos vinte anos. De acordo com Fortuna (2005) o processo atual de globalização é caracterizado por cinco importantes desenvolvimentos: � Aumento rápido das transações financeiras internacionais; � Aumento rápido do comércio, em especial efetuado por Empresas Multinacionais (EMN); � Expansão do Investimento Direto Estrangeiro (IDE), sobretudo devido às Empresas Multinacionais; � Emergência de mercados globais (financeiro; de produção, distribuição e consumo de bens e serviços; tecnologias ligadas à informática, etc.); � Difusão de tecnologias e ideias através da globalização dos transportes e dos sistemas de comunicações. Nesses últimos vinte anos vimos ocorrer a globalização de diversos processos produtivos, movimento este liderado pelas Empresas Multinacionais, e facilitado quer pelos programas de ajustamento estrutural do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, quer pelos acordos multilaterais de abertura comercial patrocinados pela Organização Mundial do Comércio (OMC). O aumento do Investimento Direto Estrangeiro (IDE) ocorre por uma alteração das condições domésticas e internacionais, já que por um lado as Empresas Multinacionais enfrentam uma procura estável e custos de produção crescentes nas suas economias, e por outro lado, mercados em expansão nos países em desenvolvimento onde os custos de produção são muito mais baixos que nos países de origem destas empresas. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 7 Este aumento do Investimento Direto Estrangeiro foi facilitado por alterações infra-estruturais de grande importância, ao nível dos meios de transporte e comunicações, que diminuíram os seus custos e desenvolveram a sua disponibilidade (FORTUNA, 2005). Na mesma linha de pensamento, Bravo (2008) fala que para além deste processo de globalização ocorrem diversos processos de Regionalização internacional, tratando-se de um movimento participante no processo de Globalização e baseado num conjunto de seus elementos, como seja standards1 mundiais, regulamentação e tarifas de comércio globais, aquisição de capitais ao nível global, standards tecnológicos globais, sistemas de informação e comunicação globais, etc. O processo de Regionalização está também ligado à constituição e/ou promoção de pólos de desenvolvimento de nível mundial e participantes em Redes de produção, distribuição e consumo de caráter mundial, desenvolvidos pelas Empresas Multinacionais e onde o comércio intra-firma e intra-rede assume cada vez maior importância. Percebemos assim que a economia mundial funciona em torno de “Redes Globais de Capitais, Gestão e Informação” com acesso a tecnologias que possibilitam alcançar níveis de produtividade e inovação elevados em diferentes espaços geográficos internacionais, diferentes setores ou segmentos de atividade, e empresas de diferente dimensão. Estas “Redes” de Globalização e produtividade organizam-se segundo a constituição de diversos pólos geográficos onde ocorrem economias de aglomeração que permitem o desenvolvimento permanente de novas capacidades econômicas e produtivas A área onde a Globalização está mais avançada é sem dúvida a área financeira. O volume e mobilidade do capital financeiro é elevado. Por exemplo, o conjunto do comércio monetário diário para as três praças: Nova Iorque, Tóquio e Londres alterou-se de 188 bilhões de dólares em 1986, para 1200 bilhões de dólares em 1995 (BRAVO, 2008). 1 Podemos definir standard como critérios que servem de base para comparação de características quantitativas e qualitativas. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 8 Anteriormente a maioria do comércio monetário tinha como motivo o comércio internacional de bens e serviços. Atualmente, esta necessidade representa apenas cerca de 2% das trocas internacionais de moeda realizadas. Os movimentos financeiros internacionais dirigem-se, sobretudo, para a realização de investimentos nos mercados de capitais (investimentos de carteira) procurando-se obter a maior rentabilidade possível para os fundos disponíveis. A origem da globalização financeira pode ser creditada na desregulamentação dos mercados de capitais e na liberdade de movimentos internacionais de capitais, possibilitando o desenvolvimento de um conjunto deinstrumentos financeiros como as obrigações internacionais, os derivados, “Global Depository Receipts2”, etc. Retrospectivamente podemos dizer que o atual movimento de Globalização financeira e produtiva surgiu a partir de finais da 2ª Guerra Mundial, tendo também impacto importante nos países em desenvolvimento. Para este conjunto de países, e até finais dos anos 70, a internacionalização dos fluxos de capital ocorre como forma de financiamento do crescimento econômico, com os Estados Unidos oferecendo ajuda e abertura do seu mercado como forma de garantir o desenvolvimento econômico destes países. A maioria dos meios financeiros internacionais disponíveis para os países em desenvolvimento era oriundo de entidades oficiais, quer fosse de caráter bilateral ou multilateral; o Investimento Direto Estrangeiro nos países em desenvolvimento apenas se verificava em áreas associadas à exploração de recursos naturais (BRAVO, 2008). Os países em desenvolvimento só conheceram os fluxos internacionais de capitais privados a partir de meados dos anos 70, constituídos normalmente por empréstimos realizados por entidades financeiras. No entanto, a elevação do serviço da dívida de muitos desses países a partir do início dos anos 80 levou ao declínio desta forma de financiamento, tornando as entradas líquidas de capitais nesses países negativas. Tal condição alterou-se apenas no final dos anos 80, quando ocorreu o crescimento do Investimento Direto Estrangeiro, precedido normalmente 2 Os GDRs são os ADRs que podem ser negociados nas bolsas internacionais e outros mercados fora dos Estados Unidos da América. Sobre os ADRs falaremos mais adiante. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 9 de uma reforma do sistema financeiro doméstico e da liberalização dos movimentos de capitais. O processo de Globalização financeira acontece pela integração internacional do conjunto destes mercados, baseada no processo de desregulamentação, liberalização de movimentos de capitais e diminuição da carga fiscal destes mercados. Ela implica um conjunto vasto de alterações dos quais se destaca: � Passagem de um sistema financeiro de crédito para um sistema financeiro de capitais, isto é, se anteriormente as entidades obtinham crédito através de financiamento junto de entidades bancárias, agora obtêm capital para investir junto de indivíduos, empresas com excedentes financeiros e fundos que pretendem investir ativos que detêm; � Desenvolvimento da atividade de um conjunto de novos atores financeiros, dos quais se destaca os investidores institucionais, que reúnem capitais cada vez mais avultados necessitando de colocá-los em mercados de capitais onde exista a expectativa de rentabilidade e liquidez dos investimentos elevada, tendo como custo um nível de risco controlável. Neste conjunto destacam-se os “hedge funds” de características particulares, como sejam a volatilidade elevada dos seus investimentos, estratégias ativas baseadas no aumento do preço de mercado dos ativos, e procura de ganhos de rentabilidade de curto prazo; � Participação dos Sistemas de Pensões no processo de Globalização financeira, já que a passagem de um sistema público obrigatório, para um sistema misto com participação privada e gestão descentralizada permite a participação destes fundos nos mercados de capitais internacionais (BRAVO, 2008, p. 49). Não podemos nos esquecer que informação e comunicação são os elementos fundamentais para que todo este conjunto de movimentos aconteça. Sem eles o mercado não seria acessado e possibilitado a um conjunto vasto e amplo de atores que são os agentes financeiros. Ou seja, sem as novas tecnologias o mercado financeiro não teria evoluído como o fez. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 10 UNIDADE 3 - OS BLOCOS REGIONAIS Devido ao efeito da economia global a qual foi possibilitada por meio das novas tecnologias da comunicação e informação, houve um encolhimento do mundo moderno e com isso, a geografia econômica e por extensão, a geopolítica, assumiu grande importância, apresentando-se sob um novo conceito de espaço. Entretanto, a criação dessas regiões (que veremos daqui a pouco e que são os blocos regionais) acaba por comprometer a visão tradicional que se tem dos Estados- nações. Por um lado, os extraordinários progressos havidos nos transportes e nas comunicações realmente aproximaram os pontos mais distantes do globo terrestre. Por outro lado, as variadas formas de transação que se estabeleceram, notadamente as transações de comércio, muitas vezes são impossíveis de se realizar, pela ausência de logística e governança entre parceiros situados a longa distância e, nestes casos, a proximidades entre as partes mais relevantes envolvidas na transação é um fator necessário para que esta se complete com êxito (SCOTT, 2000 apud CARVALHO, 2007). Na macro visão de Scott, uma nova hierarquia poderá vir a estruturar a política internacional em quatro níveis de poder como mostra a figura abaixo: Fonte: Carvalho (2008) Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 11 No topo da hierarquia situa-se um regime global emergente, composto de organizações supranacionais, organismos multilaterais, organizações intergovernamentais e convenções diplomáticas. Esse regime emergente global realiza a coordenação das taxas de câmbio, a supervisão das empresas multinacionais, a administração dos direitos autorais, a supervisão dos direitos da propriedade intelectual, além de fazer a superintendência e o monitoramento do meio ambiente. Em resumo, todas as questões que ultrapassem a soberania das nações individualmente tomadas e que estejam inseridas em agendas intergovernamentais devem ser contempladas nesse regime global emergente. Scott observa que a capacidade deste regime global exercer tais funções de controle é ainda limitada; e que as reflexões sobre como se poderia consolidar esse regime global emergente, pela criação de um novo Conselho das Nações, são ainda meramente experimentais e especulativas. No segundo nível situam-se os blocos regionais, a exemplo da União Européia, o Nafta, a Alca e o Mercosul. Esses blocos regionais multiplicaram-se no mundo a partir de 1957, quando da celebração do Tratado de Roma, que criou a então Comunidade Econômica Européia. Peter Drucker (s/d apud Carvalho, 2007) explica que os blocos regionais têm como fundamento o Princípio da Reciprocidade, que orienta para a possibilidade de uma melhor governança em nível supranacional, ao destacar que a nova sociedade em que vivemos é uma sociedade de organizações e que a sociedade pós-capitalista será forçosamente descentralizada. No nível interblocos observa-se uma melhor utilização das vantagens comparativas de cada região, seja quanto à divisão do trabalho, seja quanto à disponibilidade de matérias-primas, seja, ainda, quantoà localização da região em questão como um centro de distribuição logística. Ao longo dos últimos anos, os blocos regionais têm consolidado sem papel de centro de autoridade, de influência e de governança para os países membros, na realidade constituindo-se num “antídoto” para o pretenso esvaziamento do Estado-nação. O terceiro nível dessa hierarquia é o espaço formado justamente pelos Estados soberanos – o que é ainda hoje, de longe, o mais poderoso vetor do poder político e econômico do mundo moderno. Frente ao moderno capitalismo e à Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 12 globalização, verifica-se na realidade um hiato de poder entre o Estado-nação e as modernas estruturas do capitalismo. A principal consequência desse hiato é a transferência de parte do poder dos Estados-nações para o nível superior do regime emergente global e de outra parte para o nível inferir a este, o dos blocos regionais. Essa transferência de poder tem gerado espaços para demandas, bem como oportunidades para ações políticas e ações regulatórias, no nível subnacional da governança (CARVALHO, 2008). O quarto e último nível da hierarquia de poder é constituído pelo grupo das regiões políticas internas que formam o complexo mosaico global. Cada uma dessas regiões apresenta uma mistura, às vezes mais e às vezes menos avançada, das atividades econômicas e sociais que se formam a partir da própria dinâmica centrípeta das aglomerações humanas. No contexto nacional, esses territórios- regiões deveriam manter uma relação de subordinação com o poder federal do Estado-nação em que se encontram, embora essa relação esteja sendo, de modo geral, progressivamente enfraquecida, fortalecendo-se ao mesmo tempo a autonomia da região interna em si. Um exemplo de como a economia global alavancou o conceito de região é o projeto Ciberjaya, um centro projetado para alta tecnologia, que incorporou uma universidade multimídia na região metropolitana de Kuala Lampur, na Malásia (CARVALHO, 2007, p. 13). Entrando especificamente nos blocos regionais, podemos dizer que eles são, hoje, os principais agentes de integração político-econômica no mundo, mantendo um forte papel catalisador. Tornaram-se autênticos reguladores na criação de supranacionalidades3. O Mercosul é um exemplo de bloco regional com a característica de um bloco de cooperação, quando tem o papel de facilitar o livre comércio a partir da criação de uma tarifa aduaneira comum. A União Européia é exemplo de bloco que assume o papel de bloco de integração econômica. Além do mercado comum, incorpora também a união monetária das nações representadas como um de seus objetivos centrais. Nesse 3 Essa expressão foi criada recentemente por juristas, para salientar o caráter transnacional desses blocos regionais. Eles explicam que esses blocos, ao constituírem uma sociedade transnacional, relativizaram a perda da soberania do Estado-nação, pelo fato de esse caráter trasnacional conseguir realizar a união de várias nações sob a mesma bandeira de uma mesma instituição. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 13 caso, o bloco controla os níveis de déficits e dos orçamentos econômicos dos Estados-nações e harmoniza a política externa e a defesa comum dos países membros. Os cientistas políticos tendem a ressaltar o transnacionalismo4 como um fator maior de concorrência do bloco, em relação à soberania do Estado-nação. Recapitulando, a cooperação nos blocos pode se dar por: � Regime de livre comércio – implicando eliminação ou redução das tarifas aduaneiras e de restrições ao intercâmbio comercial entre os países membros. Por exemplo, o Nafta é regido por um acordo que criou a zona de livre comércio entre os países signatários (Estados Unidos, Canadá e México), visando eliminação gradual das tarifas, ao longo de quinze anos, a partir de 07 de outubro de 1992. � Regime de união aduaneira – neste caso a colaboração implica livre comércio entre os países membros e o estabelecimento de uma tarifa comum. No caso do Mercosul, estabelecido pelo Tratado de Assunção de 1991, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, as condições criadas foram: livre circulação de capital, mercadorias, serviços e pessoas; criação de tarifa externa comum de comércio e o estabelecimento de uma política externa comum de comércio; coordenação de políticas macroeconômicas. A mais completa forma de integração entre os países membros de um bloco seria a prática global de união política e econômica, a qual engloba além de um regime de mercado comum e um sistema monetário comum, uma política externa comum e uma política de defesa comum, como é o caso, novamente, da União Européia. Ela é fruto de um longo processo evolutivo que já dura cinquenta anos desde que surgiu a união Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo), marco inicial, passando pelos projetos das três comunidades (carvão e aço, energia atômica e européia). Etapa por etapa, a União Européia foi se constituindo no projeto de integração política e econômica jamais visto no mundo em época alguma. 4 Transnacionalismo é definido por Celso Lafer (jurista brasileiro) como “Aquelas relações que não transitam necessariamente pelos canais diplomáticos do Estado, mas influem nas sociedades e revelam que nenhum Estado é uma totalidade auto-suficiente”. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 14 ALCA – Área de Livre Comércio das Américas A ALCA surgiu em 1994 com o objetivo de eliminar as barreiras alfandegárias entre os 34 países americanos (exceto Cuba). Com o PIB total de 12,5 trilhões de dólares (maior que o da União Européia - U.E.), os países da ALCA somam uma população de 790 milhões de habitantes, o dobro da registrada na U.E. Na prática, sua formação significa abortar os projetos de expansão do MERCOSUL e estender o NAFTA para o restante das Américas. Os EUA são os maiores interessados em fechar o acordo. O país participa de vários blocos comerciais e registrou em 2000 um déficit comercial de quase 480 bilhões de dólares. Precisa, portanto, exportar mais para gerar saldo em sua balança comercial. Com uma área livre de impostos de importação, os norte-americanos poderiam suprir as demais nações da América com suas mercadorias. Em maio de 2002, foi aprovado nos EUA o fast-track, que permite que o presidente do país possa negociar acordos comerciais, permitindo ao Congresso apenas aprovar ou não os acordos, sem fazer qualquer tipo de emenda ou modificação no texto original. A criação do fast-track está ajudando os EUA a agilizar a implementação da ALCA. A grande preocupação da comunidade latino-americana, que gera a maioria das reclamações por parte dos críticos à formação do bloco, assim como a preocupação por parte dos governos dos países que irão fazer parte da ALCA, diz respeito às barreiras não-tarifárias (leis antidumping,cotas de importação e normas sanitárias) que são aplicadas pelos EUA. Apesar da livre circulação de mercadorias, essas barreiras continuariam a dificultar a entrada de produtos provenientes da América Latina naquele mercado. UE – União Européia Conhecido inicialmente como Comunidade Econômica Européia (CEE), o bloco econômico formado por 15 países da Europa Ocidental passou formalmente a ser chamada de UNIÃO EUROPÉIA (UE) em 1993, quando o Tratado de Maastricht entra em vigor. É o segundo maior bloco econômico do mundo em termos de PIB, com uma população de 374 milhões de pessoas. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 15 Pequeno Histórico: 1951 - Criada a Comunidade Européia do Carvão e do Aço. 1957 - Tratado de Roma cria a Comunidade Econômica Européia - Europa dos 6: Alemanha, Bélgica, França, Itália, Holanda e Luxemburgo. 1992 - Consolidação do Mercado Comum Europeu (eliminação das barreiras alfandegárias). 1993 - Entra em vigor o Tratado de Maastricht (Holanda), assinado em 1991. 2004 – Dez novos países aceitos na UE, Chipre, Eslováquia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, malta, Polônia e República Checa. 2005 – Registram-se 25 países membros. 2007 – Bulgária e Romênia aderem a União Européia. NAFTA – Acordo de Livre Comércio da América do Norte O NAFTA é um instrumento de integração entre a economia dos EUA, do Canadá e do México. O primeiro passo para sua criação é o tratado de livre comércio assinado por norte-americanos e canadenses em 1988, ao qual os mexicanos aderiram em 1992. A ratificação do NAFTA, em 1993, veio para consolidar o intenso comércio regional já existente na América do Norte e para enfrentar a concorrência representada pela União Européia. Entrou em vigor em 1994, estabelecendo o prazo de 15 anos para a total eliminação das barreiras alfandegárias entre os três países. Seu mais importante resultado até hoje é a ajuda financeira prestada pelos EUA ao México durante a crise cambial de 1994, que teve grande repercussão na economia global. Mercosul – Mercado Comum do Sul O Mercosul - Mercado Comum do Sul - é um processo de integração econômica (Florêncio e Araújo, 1996, p. 15 apud Almeida, 2008) entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai que foi constituído em 26 de março de 1991, com a assinatura do Tratado de Assunção. Sua evolução começa a partir do programa de aproximação econômica entre Brasil e Argentina, meados dos anos 80, e tem dois grandes pilares: Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 16 a) a democratização política; e, b) a liberalização econômico-comercial (FLORÊNCIO E ARAÚJO, 1996 apud ALMEIDA, 2008). A criação do Mercosul não representa uma ação diplomática isolada, mas sim o resultado de um longo processo de aproximação entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Durante a década de 1970, obstáculos de natureza política e econômica inviabilizaram o aprofundamento do processo de integração na América Latina. Exemplo disso foi a questão entre Brasil e Argentina sobre o aproveitamento dos recursos hídricos da Bacia do Prata, que durou anos (BRASIL, 1992 apud ALMEIDA, 2008). A partir de 1980, com a criação da ALADI, em substituição à ALALC (Associação Latino-Americana de Livre Comércio), geraram-se as condições necessárias à promoção do aprofundamento do processo de integração latino- americana. Houve a extinção da “cláusula de nação mais favorecida regional”, adotada pela ALALC, passando a permitir a outorga de preferências tarifárias entre dois ou mais países da ALADI, sem a extensão automática das mesmas a todos os membros da Associação, o que viabilizou o surgimento de esquemas sub-regionais de integração, como o Mercosul (BRASIL, 1992 apud ALMEIDA, 2008). Em seguida, Brasil e Argentina começaram a integrar-se e esta integração foi impulsionada por três fatores principais: a) a superação das divergências geopolíticas bilaterais; b) o retorno à plenitude do regime democrático nos dois países; e, c) a crise do sistema econômico internacional (BRASIL, 1992 apud ALMEIDA, 2008). Contudo, uma série de acordos bilaterais precederam o Mercosul. O primeiro deles foi a “Declaração de Iguaçu”, firmada pelos Presidentes Sarney e Alfonsin em 1985, que buscava acelerar a integração dos dois países em diversas áreas (técnica, econômica, financeira, comercial, etc.) e estabelecia as bases para a cooperação no campo do uso pacífico da energia nuclear (ALMEIDA, 2008). Em 1986, foi assinada a “Ata de Integração Brasileiro-Argentina”, que estabeleceu os princípios fundamentais do “Programa de Integração e Cooperação Econômica” – PICE. O objetivo do PICE foi o de propiciar a formação de um espaço econômico comum por meio da abertura seletiva dos mercados brasileiro e Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 17 argentino. Segundo Jacob Paulo Kunzler, a Ata de Integração Brasileiro-Argentina pode de ser chamada de o “embrião” do Mercosul. (KUNZLER, 1995, p. 185 apud ALMEIDA, 2008). O processo de integração brasileiro-argentino evoluiu, em 1988, para a assinatura do “Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento”, cujo objetivo era constituir, no prazo máximo de dez anos, um espaço econômico comum por meio da liberalização integral do comércio recíproco. O Tratado previa a eliminação de todos os obstáculos tarifários e não-tarifários ao comércio de bens e serviços (BRASIL, 1992 apud ALMEIDA, 2008). Também foram assinados 24 Protocolos em diversas áreas, sendo que os de natureza comercial foram posteriormente consolidados em um único instrumento: o Acordo de Complementação Econômica nº 14, da ALADI. Nesse contexto, circunstâncias de natureza política, econômica, comercial e tecnológica, decorrentes das grandes transformações da ordem econômica internacional, exerceram papel relevante no aprofundamento ainda maior da integração brasileiro-argentina, dentre elas: a globalização da economia; o advento de um novo padrão industrial e tecnológico; a formação dos megablocos econômicos e a tendência à regionalização do comércio; os impasses do multilateralismo econômico, prevalecentes em certas fases do processo de negociação da Rodada Uruguai do GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio); o protecionismo e o esgotamento do modelo de desenvolvimento baseado na substituição de importações; etc. (BRASIL, 1992 apud ALMEIDA, 2008). Diante das mudanças na estrutura e no funcionamento do sistema econômico mundial e, em face de uma evidente perda de espaço comercial, da redução do fluxo de investimentos e de dificuldades de acesso a tecnologias de ponta, Brasil e Argentina viram-se diante da necessidade de redefinirem sua inserção internacional e regional. A integração passa a ter papel importante na criação de comércio, na obtenção de maior eficiência com vista à competição no mercado internacional e na própria transformação dos sistemas produtivos nacionais (ALMEIDA, 2008). Todos os direitos reservadosao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 18 Em 06 de julho de 1990, Brasil e Argentina firmam a “Ata de Buenos Aires”, mediante a qual fixam a data de 31/12/94 para a conformação definitiva de um Mercado Comum entre os dois países. (BRASIL, 1992 apud ALMEIDA, 2008). É firmado também o Tratado para o estabelecimento de um Estatuto das Empresas binacionais Brasileiras e Argentinas, constituindo um importante instrumento na liberdade de estabelecimento de empresas privadas num território econômico em processos de integração. (FIGUEIRAS, 1996, p. 17 apud ALMEIDA, 2008). Em agosto de 1990, Paraguai e Uruguai são convidados a incorporar-se ao processo integracionista, tendo em vista a densidade dos laços econômicos e políticos que os unem a Brasil e Argentina. Como consequência, é assinado, em 26 de março de 1991, o “Tratado de Assunção para Constituição do Mercado Comum do Sul” (ALMEIDA, 2008). O Mercosul é, desde 1º de janeiro de 1995, uma União Aduaneira (BAPTISTA, MERCADANTE E CASELLA, 1998, p. 21 apud ALMEIDA, 2008). No entanto, pode-se dizer que é um projeto de construção de um Mercado Comum (PIMENTEL, 2001, p. 17 apud ALMEIDA, 2008) cuja execução se encontra na fase de União Aduaneira (ALMEIDA, 2008). APEC – Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico A APEC foi criada no ano de 1989 na Austrália, como um fórum de conversação entre os países membros da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático) e seis parceiros econômicos da região do Pacífico, como EUA e Japão. Porém, apenas no ano de 1994 adquiriu características de um bloco econômico na Conferência de Seattle, quando os membros se comprometeram a transformar o Pacífico em uma área de livre comércio (CARVALHO, 2007). A criação da APEC surgiu em decorrência de um intenso desenvolvimento econômico ocorrido na região da Ásia e do Pacífico, propiciando uma abertura de mercado entre 20 países mais Hong Kong (China), além da transformação da área do sudeste asiático em uma área de livre comércio nos anos que antecederam a criação da APEC, causando um grande impacto na economia mundial. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 19 Um aspecto estratégico da aliança, é aproximar a economia norte-americana dos países do Pacífico, a para contrabalançar com as economias do Japão e de Hong Kong. Entre os aspectos positivos da criação da APEC estão o desenvolvimento das economias dos países membros que expandiram seus mercados, sendo que hoje em dia, além de produzirem sua mercadoria, correspondem a 46% das exportações mundiais, além da aproximação entre a economia norte americana e os países do Pacífico e o crescimento da Austrália como exportadora de matérias primas para outros países membros do bloco (CARVALHO, 2007). Como aspectos negativos, pode-se salientar que um dos maiores problemas da APEC, senão o maior é a grande dificuldade em coincidir os diferentes interesses dos países membros e daqueles que estão ligados ao bloco, como Peru, Nova Zelândia, Filipinas e Canadá. Além disso, o bloco tem pouco valor em relação a Organização Mundial do Comércio, mesmo sendo responsável por grande movimentação no comércio mundial (CARVALHO, 2007). Os países membros da APEC são: Austrália, Brunei, Canadá, Indonésia, Japão, Malásia, Nova Zelândia, Filipinas, Cingapura, Coréia do Sul, Tailândia, Estados Unidos, China, Hong Kong, Taiwan, México, Papua, Nova Guiné e Chile. A relação da APEC com o Brasil não é muito direta ou explícita, porém alguns países membros da APEC, também fariam parte da ALCA, caso seja realmente formada, além de uma reunião que foi criada pelos membros do Foro de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico que discutiu a globalização e durou sete dias, na qual o Brasil foi um dos temas junto com outros países da América Latina, discutindo-se a relação entre os países. O bloco está dividido quanto a questão do petróleo, pois vários de seus membros são produtores e estão satisfeitos com a alta nos preços, em quanto aqueles que precisam comprar o petróleo brigam para que o preço diminua. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 20 UNIDADE 4 - O MERCADO INTERNACIONAL DE CÂMBIO E DE CAPITAIS 4.1 Mercado de câmbio Cambiar vem do latim “cambiare” que deriva de um antigo termo celta, Kamb, que quer dizer: trocado, alterado. De modo geral câmbio quer dizer então, mudança, troca, permuta. Em inglês usa-se “Exchange” que tem a mesma origem. Internacionalmente quando queremos nos referir ao mercado de moedas estrangeiras usamos foreign Exchange = mercado de câmbio = FX. Abreviatura que usaremos a partir de agora. O FX é o ambiente ou plataforma em que se dá a liquidação financeira das moedas nacionais dos vários países e das divisas internacionais. É nesse mercado que ocorrem as compensações financeiras derivadas de transações havidas no comércio internacional em decorrência de compromissos bilaterais entre países, incluindo importações e exportações, movimentações de capitais de um país para outro em casos de financiamentos ou investimentos internacionais. Segundo Carvalho (2007) o mercado internacional de câmbio é um dos mais importantes mercados financeiros da economia global tendo como principais agentes: � Bancos centrais dos países; � Bancos comerciais; � Bancos de investimento; � Importadores e exportadores; � Investidores institucionais; � Os hedges funds (fundos de investimentos que detalharemos mais adiante); � Instituições financeiras internacionais públicas e privadas; � Instituições multilaterais constituídas pelos governos como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional – FMI. Sem o FX não haveria como acontecer as trocas de mercadorias, serviços e ativos porque não teríamos um parâmetro, um denominador comum para as trocas. Na realidade, o FX funciona como a “face” monetária do comércio internacional. Ele compreende três grandes segmentos: Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 21 1. Transações à vista (spot5), implicando a entrega imediata do valor transacionado. Pode ser dividido em dois segmentos distintos: o mercado manual e o mercado interbancário. 2. Transações a termo (outright forwards6) quando as liquidações ou entrega dos valores transacionados é feita posteriormente. 3. Swaps7 de câmbio, operações que envolvem a compra e venda simultânea de duas moedas (CARVALHO, 2007). O mercado de câmbio manual negocia bank notes (cédulas) e travellers checks (cheques de viagem), sendo a indústria do turismo, o grande consumidor. Esse mercado geralmente é desfavorável para os clientes devido ao grande spread8 (geralmente entre 5 e 6%) que se estipula entre as cotações de compra e vendadas moedas. Quando são grandes somas de dinheiro, os bancos operam através dos chamados “operadores de atacado”, empresas especializadas em comprar e vender moedas em grandes volumes, de e para os operadores de câmbio e os bancos (CARVALHO, 2007). O mercado interbancário é o maior do mundo, concentrando em 2007, algo em torno de 53% do volume diário do mercado total de câmbio. Nele trabalham os operadores de câmbio dos maiores bancos do mundo que, dada a alta volatilidade do mercado, por várias vezes ao dia compram e vendem grandes lotes de contratos de câmbio, o que requer desses agentes grande liquidez, informações minuciosas e precisas sobre o mercado de câmbio. O quadro abaixo apresenta uma comparação entre o giro havido no mercado interbancário de câmbio e o giro em outros mercados. 5 Spot - no mesmo lugar, no ato. 6 Outright forwards – inteiramente à frente, totalmente no futuro. 7 Swap – troca, barganha. 8 Spread quer dizer a diferença entre as taxas de aplicação e captação de recursos. Ela é expressa no mercado em pontos-base. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 22 Giro do mercado de câmbio por segmento (% do giro total) Segmentos de mercado considerados 1995 1998 2001 2005 Mercado interbancário 64 64 59 53 Outras instituições financeiras 20 20 28 33 Clientes não financeiros 16 17 13 14 Total (%) 100 100 100 100 Fonte: Carvalho (2007, p. 25) Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 23 As principais praças financeiras em que se realizam as operações do mercado interbancário de câmbio são: Londres (Reino Unido), Nova York (EUA), Tóquio (Japão), Cingapura e Zurique (Suíça). O mercado a termo foi criado, segundo Carvalho (2007), com base nas necessidades que empresas e bancos têm em proteger seus futuros fluxos de caixa diante de flutuações provocadas pela alta volatilidade do mercado. Por exemplo, se a General Motors deseja colocar sob proteção suas receitas em dólares obtidas nas vendas ao Japão, ela provavelmente irá, para isso, vender ienes futuros, recebendo em troca dólares americanos. 4.2 Fatores que determinam a taxa de câmbio O balanço de pagamentos e o regime cambial do país emissor da moeda são os dois principais fatores que influenciam a dinâmica da determinação da taxa de câmbio de um país. O balanço de pagamentos exerce influência pelo seu papel na inserção do país na economia e no comércio internacional; e o regime cambial, pela contribuição que dá à forma de atuar da autoridade monetária desse país, na política econômica e no mercado. Em face da globalização, há um consenso de que, ao se analisar as economias nacionais, seja em nível doméstico, seja quanto à avaliação do risco oferecido por um país, os pontos de partida para tal análise são o balança de pagamentos e a trajetória de atuação do regime cambial dessa economia. O balanço de pagamentos representa o conjunto de todos os fluxos das economias internacionais geradas entre a economia aberta de um país e o resto do mundo. Ele é dividido em duas grandes contas: conta corrente e conta de capital. A conta corrente é a soma de quatro contas: balança comercial (exportações e importações), serviços de não-fatores (fretes, seguros, viagens de turismo ou serviços diplomáticos pagos ou recebidos do exterior), serviços de fatores (salários, aluguéis, juros, lucros ou dividendos remetidos ao exterior ou recebidos do exterior) e transferências unilaterais (transações sem contrapartida, como doações e remessas de migrantes do país residindo no exterior). Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 24 O resultado da soma saldo da balança comercial + saldo dos serviços não fatores é chamado de saldo das transações (tr) reais: x + m = tr O resultado da soma saldo dos serviços de fatores + saldo das transferências unilaterais é chamado de renda líquida (rl) enviada ao exterior: N + y = rl O saldo das transações reais menos (-) a renda líquida enviada ao exterior é o saldo da conta corrente (scc): (x+m) – (n + y) = scc ou tr – rl = scc A conta de capital é composta por investimentos diretos (saldo das contas dos investimentos permanentes de empresas estrangeiras no país e dos investimentos das empresas do país no exterior); empréstimos e financiamentos; amortizações e outros capitais. O saldo da conta de capital (sck) é expresso pela fórmula: Id + ef + am + ok = sck O saldo da balança de pagamentos (sbp) será: scc + sck + seo = sbp Registra-se um equilíbrio no balanço de pagamentos (RI) de um país quando o saldo da conta corrente (scc) e o saldo da conta de capital (sck) entre residentes e não-residentes é zero ou próximo de zero. Este equilíbrio tem reflexos sobre a estabilidade do nível de reservas internacionais do país. scc + sck = 0 = RI Quando scc e sck forem ambos positivos, ocorre um superávit em conta corrente, o que quer dizer que o país está emprestando fundos ao mercado internacional e exportando mais do que importando bens e serviços. Ao contrário, quando scc e sck foram ambos negativos, o país é um tomador de fundos no mercado internacional e está importando mais do que exportando bens e serviços. 4.3 Mercado de câmbio no Brasil No Brasil, o mercado de câmbio é regido pelo Regulamento do Mercado de Câmbio e Capitais Internacionais (RMCCI), instituído pela Circular nº 3.280, de 09 de Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 25 março de 2005, abrangendo as compras e vendas de moedas estrangeiras, as transferências internacionais em reais, a compra e venda de ouro, instrumento cambial, os capitais brasileiros no exterior e os capitais estrangeiros no Brasil. Segundo o BCB (2008) temos bancos autorizados no Mercado Interbancário COM CLEARING, que são instituições bancárias autorizadas, no mercado interbancário automático, que registram suas operações com a participação da Câmara de Compensação e SEM CLEARING, que são as instituições bancárias autorizadas, no mercado interbancário automático, que registram suas operações sem a participação da Câmara de Compensação. O tratamento aplicável às operações de câmbio e aos fluxos de capitais passou por diversas fases, acompanhando as conjunturas econômicas e cambiais vividas pelo Brasil, que atravessou períodos de dificuldades e restrições (BCB, 2008). A estrutura regulatória passou por importantes aperfeiçoamentos e modificações nos últimos anos, permitindo atualmente transferências do e para o exterior sem necessidade de autorização prévia do Banco Central do Brasil, observados os princípios da legalidade, fundamentaçãoeconômica e do respaldo documental. De acordo com a legislação e regulamentação brasileira, os capitais internacionais se dividem em capitais estrangeiros no País (registrados no Banco Central do Brasil, de forma declaratória e individualizada, no prazo máximo de 30 dias do ingresso no País, em moeda estrangeira ou nacional, em bens ou serviços) e capitais brasileiros no exterior (sujeitos a uma declaração anual ao Banco Central do Brasil) (BCB, 2008). Tanto o procedimento de registro quanto as declarações prestadas têm por propósito o acompanhamento dos fluxos de ingresso e saída desses capitais, assim como a permanente avaliação dos seus estoques. Por muitos anos, o registro do capital estrangeiro se sujeitou a exames prévios por parte do Banco Central, a partir dos quais era expedido um certificado em papel comprovando o registro, que se constituía em documento hábil à efetivação de transferências do e para o exterior. A partir de 1996 iniciou-se o processo de substituição do registro autorizativo para a atual forma de registro Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 26 declaratório eletrônico, que não requer exames prévios e autorizações específicas do Banco Central (BCB, 2008). A legislação básica que ampara os capitais estrangeiros no País, ingressados em moeda estrangeira, bens e serviços é a Lei N. 4.131, de 3 de setembro de 1962. É possível, também, a realização de investimentos em moeda nacional e no mercado financeiro e de capitais, ao amparo de outra regulamentação, na forma comentada no presente documento. Consideram-se capitais estrangeiros, para os efeitos da Lei N.4.131, os bens, máquinas e equipamentos entrados no Brasil, destinados à produção de bens ou serviços, bem como os recursos financeiros ou monetários introduzidos no País, para aplicação em atividades econômicas, desde que, em ambas as hipóteses, pertençam a pessoas físicas ou jurídicas residentes, domiciliadas ou com sede no exterior. É assegurado ao capital estrangeiro tratamento jurídico idêntico ao capital nacional, proibidas todas as formas de discriminação não contidas em lei (BCB, 2008). Há disposições específicas que devem ser observadas com relação a investimentos estrangeiros em setores específicos da economia, como é o caso dos investimentos em instituições financeiras, energia nuclear, propriedade e administração de jornais, revistas e demais publicações, assim como de redes de rádio e teledifusão, entre outros. Maiores informações sobre tais disposições podem ser obtidas na página do Ministério das Relações Exteriores, no seguinte endereço eletrônico http://www.braziltradenet.gov.br. O registro do capital estrangeiro ingressado no País é feito por meio eletrônico, diretamente no Sisbacen9 - Sistema de Informações Banco Central, no sistema de Registro Declaratório Eletrônico (RDE). As instruções para fins desse registro encontram-se disponíveis na internet, no endereço eletrônico http://www.bcb.gov.br opção Sisbacen. 9 O Sistema de Informações Banco Central é um sistema eletrônico de coleta, armazenagem e troca de informações que liga o Banco Central aos agentes do sistema financeiro nacional. Todas as operações de câmbio realizadas no País precisam ser registradas no Sisbacen pelo agente autorizado a operar no mercado, permitindo ao Banco Central o acompanhamento de todas as operações. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 27 Os capitais estrangeiros são registrados em módulos específicos do sistema, de acordo com a sua classificação, ou seja, investimento direto, créditos externos (empréstimos, financiamentos de importação com prazo superior a 360 dias), contratos de assistência técnica, royalties e assemelhados, e aplicações no mercado financeiro e de capitais – portfólio. São, ainda, passíveis de registro os contratos de garantia prestada por organismos internacionais em operações de crédito interno. Para cada registro é gerado um número de RDE, que passa a ser de utilização obrigatória nas operações de câmbio relativas às remessas ao exterior em pagamento de principal, retorno de capital, juros, lucros e dividendos, cursados diretamente da rede bancária autorizada a operar no mercado de câmbio. Não há necessidade de qualquer exame adicional ou de autorização prévia do Banco Central do Brasil para fins de realização das remessas. As normas sobre capitais internacionais encontram-se na página do Banco Central do Brasil, no endereço www.bcb.gov.br, opção “câmbio e capitais estrangeiro”, inclusive traduzidas para o idioma inglês. No mercado financeiro e de capitais, o investimento em Portfólio é regulamentado pela Resolução 2.689, de 26 de janeiro de 2000, e pelas Circulares do Banco Central 2.963 e 2.975, de 26 de janeiro e 29 de março de 2000, respectivamente. Podem investir no Brasil tanto investidores institucionais, quanto investidores individuais. Os investidores não residentes podem fazer aplicações nos mesmos produtos disponíveis aos investidores domésticos. Para fazer aplicações no País, o investidor não residente precisa nomear representante, que ficará responsável pela prestação de informações e registros junto ao Banco Central do Brasil e à Comissão de Valores Mobiliários. Quando este representante for pessoa física ou jurídica não financeira, o investidor deve nomear, também, instituição autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil, que será co-responsável pelo cumprimento das obrigações do representante. A nomeação deverá estar formalizada em Contrato de Representação. Quanto aos créditos externos, estes estão regulamentados pela Resolução do Conselho Monetário Nacional 2.770, de 30 de agosto de 2000 e pela Circular do Banco Central do Brasil 3.027, de 22 de fevereiro de 2001. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 28 O registro de uma operação no módulo ROF (Registro de Operações Financeiras) deve ser providenciado no Sisbacen, pelo devedor, através da Internet ou pela rede Serpro quando o titular for importador cadastrado no Sistema Integrado de Comércio Exterior - SISCOMEX, podendo ainda ser realizado por instituição financeira em nome do devedor, conforme instruções contidas no endereço eletrônico http://www.bcb.gov.br, opção Sisbacen, opção Câmbio e Capitais Estrangeiros/Manuais/Manuais do Registro Eletrônico/RDE-ROF Manual do Declarante. As aplicações de capitais brasileiros no exterior por pessoas físicas ou jurídicas residentes, domiciliadas ou com sede no Brasil são livres, observada a legalidade da transação, tendo como base a fundamentação econômica e as responsabilidades definidas na respectiva documentação (BCB, 2008). As transferências financeiras relativas a aplicações no exterior por instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil e por fundos de qualquer natureza devem observar as disposições do Conselho Monetário Nacional e, deacordo com as respectivas áreas de competência, regulamentação específica do Banco Central do Brasil e da Comissão de Valores Mobiliários. Anualmente, as pessoas físicas e jurídicas residentes, domiciliadas ou com sede no Brasil, que possuam valores de qualquer natureza, ativos em moeda, bens e direitos fora do território nacional, devem declará-los ao Banco Central do Brasil (Resolução do Conselho Monetário Nacional 2.911, de 29 de novembro de 2001). A regulamentação cambial brasileira estabelece que todas as operações de câmbio são realizadas com instituições autorizadas a operar no mercado de câmbio no País pelo Banco Central do Brasil, diretamente ou por meio de instituições conveniadas. Os bancos podem ser autorizados a realizar qualquer tipo de operação de câmbio. As caixas econômicas, as sociedades de crédito, financiamento e investimento, as corretoras de câmbio ou de títulos e valores mobiliários e as distribuidoras de títulos e valores mobiliários podem ser autorizadas a realizar operações de forma limitada. Todas as operações de câmbio devem ser formalizadas pelo uso de formulário definido pelo Banco Central do Brasil, denominado contrato de câmbio, que é registrado no Sisbacen, permitindo a identificação dos clientes, a natureza e o valor da operação, entre outras informações. Nas operações de até US$ 3 mil, ou Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 29 seu equivalente em outras moedas são dispensadas a formalização do contrato de câmbio e a documentação que ampara o negócio, mantida a obrigatoriedade de registro da operação no Sisbacen e de identificação do cliente. (BCB, 2008). Aos residentes e domiciliados no exterior é facultada a abertura e manutenção de contas em bancos autorizados a operar em câmbio no Brasil, em moeda nacional. As contas em moeda estrangeira no País somente são admitidas em situações específicas, para residentes e não residentes. Nos últimos anos, o mercado de câmbio brasileiro vem passando por constantes e importantes modificações, sempre no sentido de uma maior simplificação e desburocratização de regras e procedimentos. Em 2005, foi implantada nova filosofia cambial no País, no que diz respeito à regulamentação e aos procedimentos operacionais. Até aquele ano, as transferências ao exterior somente podiam ser cursadas diretamente na rede bancária se estivessem contempladas de forma específica e detalhada na regulamentação do Banco Central do Brasil. A ascensão de compromissos no exterior que pudessem resultar em solicitações de transferências de recursos para o exterior necessitava de prévia e expressa manifestação favorável daquela Autarquia. As operações que não estivessem claramente contempladas na regulamentação necessitavam de exame, caso a caso, pelo Banco Central do Brasil. Além disso, até então, a regulamentação indicava os procedimentos a serem observados e, na maioria dos casos, discriminava os documentos necessários à realização das operações. Toda essa carga burocrática foi eliminada pela Resolução nº 3.265, de 2005, do Conselho Monetário Nacional, que estabeleceu a livre negociação entre os agentes autorizados a operar em câmbio e seus clientes, sem limitação de valor e natureza e, também, sem qualquer dependência de autorização prévia do Banco Central do Brasil. Em resumo, todas as operações de câmbio passaram a ser permitidas, desde que observada a legalidade da transação, tendo como base a fundamentação econômica das operações e as responsabilidades definidas na respectiva documentação. Em 2006 foi editada a Lei 11.371, simplificando e flexibilizando os procedimentos cambiais aplicáveis às operações de comércio exterior. Aos exportadores nacionais passou a ser facultada a manutenção de recursos no Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 30 exterior, até o limite de 30% do valor das suas vendas externas. Posteriormente, por meio da Resolução 3.548, de 2008, foi permitido que os exportadores mantivessem no exterior 100% das receitas auferidas com suas exportações relativamente aos embarques e serviços prestados desde 1° de março de 2007. Para os embarques e serviços prestados em data anterior, prevalecem as regras anteriormente estabelecidas (BCB, 2008). Assim como as disponibilidades no exterior constituídas via transferência financeira diretamente do País, os recursos de exportação podem ser usados para liquidação de compromissos externos em nome do exportador, sem qualquer tipo de autorização adicional por parte do Banco Central do Brasil, sendo, no entanto, vedada a realização de empréstimo ou mútuo de qualquer natureza com esses recursos. A Resolução 3.568, de 2008, permitiu que, para operações de até US$ 3 mil, as instituições integrantes do SFN (Sistema Financeiro Internacional) autorizadas a operar no mercado de câmbio contratem, mediante convênio e sem prévia anuência do Banco Central: � Pessoas jurídicas em geral para negociar a realização de transferências unilaterais; � Pessoas jurídicas cadastradas no Ministério do Turismo como prestadores de serviços turísticos remunerados, para realização de operações de compra e de venda de moeda estrangeira em espécie, cheques ou cheques de viagem; e, � Instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, não autorizadas a operar no mercado de câmbio, para realização de transferências unilaterais e compra e venda de moeda estrangeira em espécie, cheques ou cheques de viagem. Essa medida possibilita a abertura de novos pontos de atendimento para operações de pequeno valor, sendo visível o alcance social da nova regulamentação que permite a ampliação da capilaridade do mercado de câmbio para atendimento de operações de câmbio manual e transferências internacionais, de pequeno valor. As agências de turismo e os meios de hospedagem de turismo que ainda possuam autorização para operar no mercado de câmbio deverão operar pelo sistema de convênio até maio de 2009 (BCB, 2008). Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 31 A Resolução 3.568, de 2008, também permitiu que os bancos autorizados a operar no mercado de câmbio no Brasil (exceto os de desenvolvimento) e a Caixa Econômica Federal realizem operações de câmbio com bancos do exterior, recebendo e entregando, em contrapartida à liquidação da operação, reais em espécie. Além disso, houve elevação para US$ 50 mil dos limites das operações realizadas por sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários, sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários e sociedades corretoras de câmbio, para: � Operações de câmbio simplificado de importação e exportação, sendo o limite anterior de US$ 20 mil; � Operações de transferências do e para o exterior, de natureza financeira, não sujeitas ou vinculadas a registro no Banco Central do Brasil, sendo o limite anterior de US$ 10 mil. Referida resoluçãotambém eliminou a exigência de devolução ao exterior de ordem de pagamento não negociada no prazo de 90 dias, mantida a faculdade de sua negociação de forma integral ou parcelada, sendo obrigação da instituição receptora da ordem avisar imediatamente o beneficiário da chegada da ordem. Além disso, as operações de câmbio passaram a poder ser livremente canceladas por consenso entre as partes ou baixadas da posição cambial das instituições autorizadas a operar no mercado de câmbio, independentemente do seu valor e de sua natureza. Não há, portanto, qualquer restrição nas transferências financeiras do e para o exterior, as quais são conduzidas diretamente na rede bancária autorizada, sem interferência do Banco Central do Brasil. Incluem-se, entre essas operações, aquelas realizadas por pessoas físicas e jurídicas residentes e domiciliadas no País, para fins de constituição de disponibilidades em bancos no exterior. A regulamentação sobre o assunto está disponível no Regulamento do Mercado de Câmbio e Capitais Internacionais (RMCCI) no endereço http://www.bcb.gov.br/?rmcci. No caso de exportações e importações, devem ser observadas as condições registradas no Sistema Integrado de Comércio Exterior - Siscomex. Informações sobre esse sistema estão disponíveis no endereço do Ministério do Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 32 Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC (http://www.mdic.gov.br). CAPITAIS INTERNACIONAIS E MERCADO DE CÂMBIO NO BRASIL. http://www.bcb.gov.br/rex/LegCE/Port/Ftp/Capitais_Internacionais_Mercado_Cambio _Brasil.pdf. 4.4 Mercado de capitais e investidores institucionais Nos mercados de capitais atua um conjunto de “atores”, como os diversos bancos, os Estados, os Investidores Institucionais, e as empresas. Cerca de uma década atrás, os bancos e os Estados dominavam os mercados de capitais, sendo que os primeiros eram os elementos fundamentais da gestão de riscos e oferta no mercado de capitais disponíveis, e os segundos, os principais destinatários dos fundos colocados em investimento, mantendo um rigoroso controle do mercado de capitais e da atividade das entidades financeiras. As transformações ocorridas nos mercados de capitais nos últimos anos alteraram o panorama. A globalização e internacionalização das atividades, a desregulamentação e abertura de todas as atividades comerciais, bem como a procura de melhores condições quer pelos detentores de poupanças, quer por aqueles que procuram fundos, causou o aumento de importância de outros atores. Segundo o Portal do Investidor (2008) o mercado de capitais é o conjunto de mercados, instituições e ativos que viabiliza a transferência de recursos financeiros entre tomadores (companhias abertas) e aplicadores (investidores) destes recursos. Essa transferência ocorre por meio de operações financeiras que podem se dar diretamente entre companhias e investidores ou através de intermediários financeiros. As operações que ocorrem no mercado de capitais, bem como seus participantes são regulados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). As companhias abertas necessitam de recursos financeiros para realizar investimentos produtivos, tais como: construção de novas plantas industriais, inovação tecnológica, expansão da capacidade, aquisição de outras empresas ou mesmo o alongamento do prazo de suas dívidas. Os investidores, por outro lado, possuem recursos financeiros excedentes, que precisam ser aplicados de maneira rentável e valorizar-se ao longo do tempo, contribuindo para o aumento de capital do investidor. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 33 Existem companhias de diferentes portes, com necessidades financeiras variadas. Ao mesmo tempo, investidores podem aplicar com o objetivo de obterem retorno financeiro no curto, médio ou longo prazo, e com diferentes níveis de risco (PORTAL DO INVESTIDOR, 2008). Para compatibilizar os diversos interesses entre companhias e investidores, estes recorrem aos intermediários financeiros, que cumprem a função de reunir investidores e companhias, propiciando a alocação eficiente dos recursos financeiros na economia. O papel dos intermediários financeiros é harmonizar as necessidades dos investidores com as das companhias abertas. Por exemplo, uma companhia que necessita captar recursos para investimentos, se desejar fazê-lo através do mercado de capitais, deve procurar os intermediários financeiros, que irão distribuir seus títulos para serem oferecidos a diversos investidores, possibilitando mobilizar o montante de recursos requerido pela companhia (PORTAL DO INVESTIDOR, 2008). Os Investidores Institucionais pelas suas características (regulamentação, dimensão, conhecimentos de mercado, etc.) têm possibilidade de oferecer taxas de rentabilidade dos ativos investidos, superiores, e como as Empresas Multinacionais, procuram desenvolver redes de produção e distribuição em escala mundial, procurando também o seu financiamento a nível internacional e através de uma diversidade cada vez maior de instrumentos financeiros (BRAVO, 1999). Essas transformações dos Sistemas Financeiros têm produzido profundas consequências nos Bancos de Investimento. Diminuiu a procura de empréstimos bancários tradicionais por parte das empresas e aumentou o interesse do financiamento através do mercado de capitais (emissão de ações e obrigações, etc.) (BRAVO, 1999). Como resposta às alterações dos Sistemas Financeiros, os bancos procuram desenvolver uma estratégia de internacionalização dos seus negócios, quer procurando desenvolver operações a nível mundial, quer desenvolvendo operações a nível regional, ou ainda em determinado nicho de mercado. Estas estratégias explicam-se em grande medida pela própria estabilidade de mercado dos Sistemas Financeiros internos, em termos de possibilidade de expansão dos resultados. No caso dos Bancos de investimento americanos, estes cresceram a sua participação Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 34 em negócios de emissão de obrigações e ações internacionais como forma de responder à atual transformação (BRAVO, 1999). Os Bancos de investimento enfrentam a concorrência de outras entidades em diversas das suas atividades, como: � A área das Fusões e Aquisições (F&A) em que as maiores empresas realizam estas operações sem a colaboração de outras entidades; � A área de gestão de Fundos, na qual os principais Investidores Institucionais detêm capacidade de mercado para negociar margens de operação muito baixas ou têm sistemas de transação próprios. Os Bancos de Investimento enfrentam também um momento de concentração do seu setor, bem como de sobrecapacidade instalada em alguns segmentos do seu negócio. No que respeita ao fenômeno de concentração, este tem sido mais comum em áreas como gestão de investimentos, derivados, empréstimos sindicados, e atividades internacionais. No que respeita à sobrecapacidade e grande
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