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Tópicos Especiais em Comércio Exterior Professor Me. George Lucas Máximo Ferreira AUTOR Professor Me. George Lucas Máximo Ferreira Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Regional de Joinville – UNI- VILLE (2017). Mestre em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá – UEM (2020). Especialização em Tecnologias Aplicadas ao Ensino a Distância pelo Centro Uni- versitário Cidade Verde – UniFCV (2020-atual). Além disso, é Tutor Educacional na UniFCV. Tem experiência na área de Economia, atuando como Instrutor em Consultorias econômi- co-financeira e valoração de Empresas, bem como nas áreas de Mercado de Capitais por meio do Programa Bom Negócio Paraná. http://lattes.cnpq.br/7384837321788311 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Olá, caro(a) aluno(a). Seja muito bem-vindo(a) ao material de Tópicos Especiais em Comércio Exterior! Sou o Professor George Lucas Máximo Ferreira e é com grande satisfação que lhe apresento este conteúdo de minha autoria, cuja finalidade consiste em introduzir os conceitos e definições, bem como contextualizar os Direitos Humanos e sua relação com o comércio internacional, nacional e local. Doravante, aprenderemos sobre os valores, atitudes e práticas sociais por meio das políticas adotadas por órgãos mundiais. Além disso, vamos abordar os aspectos do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH). Ademais, vamos introduzir o processo de internacionalização do capital e das empresas. Na Unidade II, vamos aprender sobre a globalização, contexto, características e efeitos sobre a economia mundial e nacional. Por sua vez, explicaremos os conceitos que envolvem a economia e o comércio exterior, explorando a Renda Agregada, Balanço de Pagamentos e a Balança Comercial por meio de dados reais da economia brasileira. Na Unidade III apresentaremos em detalhes a organização do comércio exterior brasileiro por meio dos órgãos anuentes, intervenientes, agentes operadores do comér- cio exterior, bem como as instituições financeiras e os sistemas informatizados. Vamos aprender sobre algumas profissões que envolvem o comércio exterior, funções e principais atribuições e apresentaremos os documentos necessários a operacionalização das expor- tações e importações. Finalizaremos com o cenário econômico brasileiro explicando os aspectos do Produto Interno Bruto (PIB), como ele se diferencia do Produto Nacional Bruto (PNB), por que o Brasil adota um em detrimento do outro e apresentaremos os dados reais da economia. Por conseguinte, finalizamos na unidade IV, acerca das relações comerciais entre as principais economia mundiais destacando por relevância e peso no comércio internacio- nal, debatendo a posição do Brasil nesse ranking e vamos discorrer sobre a participação dos residentes brasileiros no comércio mundial por meio de prestação de serviços e/ou despesas. Adentraremos, sobre as práticas desleais de comércio internacional, explicando sobre a adoção de medidas combativas que visam resguardar o país, bem como a produção nacional e os empresários com relação a tais práticas. Além disso, vamos descrever como acontece o registro por meio de sistema informatizado, as operações de residentes brasilei- ros com exterior relacionado a bens intangíveis. Ademais, finalizamos com os aspectos da infraestrutura logística brasileira explicando sobre a estrutura portuária e sobre os modais de transporte. Reitero ainda, caro(a) aluno(a), que o ato de estudar e obter conhecimento acerca de um tema é imprescindível para o nosso enriquecimento intelectual e pessoal, pois per- mite o ganho e a elevação que jamais serão perdidos. Desejo bons estudos! Prof. Me. George Lucas Máximo Ferreira SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 6 Relações Internacionais UNIDADE II ................................................................................................... 23 Comércio Exterior (Brasil) UNIDADE III .................................................................................................. 42 Campo de Trabalho e Gestão UNIDADE IV .................................................................................................. 61 Defesas Nacionais 6 Plano de Estudo: ● Os Direitos Humanos e a sua relação com o contexto internacional, nacional e local ● Processo de internacionalização do capital ● Internacionalização de empresas Objetivos de Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar os Direitos Humanos e a sua relação com o comércio internacional. ● Descrever as metas propostas pelo Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH). ● Estabelecer os princípios sobre a mundialização e internacionalização do capital. ● Abordar as Teorias de Internacionalização de empresas com enfoque na escola de Uppsala e no Paradigma Eclético de Dunning. UNIDADE I Relações Internacionais Professor Mestre George Lucas Máximo Ferreira 7UNIDADE I Relações Internacionais INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a) da disciplina de Tópicos Especiais em Comércio Exterior, vamos iniciar a nossa jornada pelo aprendizado abordando as principais características, conceitos e definições que abrangem os direitos humanos, bem como sua contextualização nos âmbi- tos internacional, nacional e local. Além disso, vamos apresentar a Declaração e Programa de Viena sobre os direitos humanos de 1993. Por sua vez, vamos compreender o relacionamento entre as práticas de comércio internacional e os direitos humanos por meio das regras e tratados estabelecidos ao longo das décadas. Doravante, estudaremos sobre o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) apresentando algumas de suas dimensões. Adentraremos os aspectos da internacionalização do capital apresentando termos como a mundialização e globalização, cujas contribuições fizeram parte do processo de internacionalização do capital, assumindo práticas de desregulamentação e liberalização econômica e financeira que vieram a culminar em crises econômicas mundiais. Ademais, contextualizaremos acerca das teorias de internacionalização das empresas, enfatizando na abordagem da escola de Uppsala apresentando o modelo de internacionalização de Uppsala proposto por Johanson e Vahlne (1977) e o Paradigma Eclético de Dunning. Bons estudos! 8UNIDADE I Relações Internacionais 1 OS DIREITOS HUMANOS E A SUA RELAÇÃO COM O CONTEXTO INTERNACIONAL, NACIONAL E LOCAL Caro(a) aluno(a), a Declaração e Programa de Viena sobre os Direitos Humanos, de 1993, consolida e explicita a compreensão dos direitos humanos como: universais, indivisíveis, interdependentes e interrelacionados. Além disso, as tratativas sobre direitos humanos têm origens longínquas na história da humanidade. Posto isso, vamos nos concentrar nos esforços recentes acerca da organização desses direitos, a seguir são apresentadas algumas, a saber: (i) “Virginia Bill of Rights”, Declaração de Direitos de Vir- gínia, Estados Unidos (1776) considerada a primeira declaração da modernidade sobre os Direitos Humanos, a (ii) “Carta de Direitos” com as dez primeiras Emendas à Constituição dos Estados Unidos (1789), a (iii) “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, que recebeu influência da Declaração de Direitos da Virgínia. Por sua vez, é considerada como um dos mais importantes documentos acerca dos Direitos Humanos da época moderna, produzida na França (1789), a (iv) “Declaração dos Direitos da Mulher”, contrapondo a ausência de menção às mulheres na Declaração dos Direitos dos Homens e do Cidadão, França (1790); a (v) “Lei Eusébio de Queiroz”, cujo obje- tivo consistia em extinguir a prática do Tráfico Negreiro no Brasil (1850); a (vi) Proclamação da “emancipação dos escravos”, documento que embasou a aprovação da 13 emenda da Constituição dos Estados Unidos, proibindo a escravidão (1863); a (vii) “Convenção da Cruz Vermelha”, que contemplava o socorro aos feridos noscampos de batalha, Suíça (1864); 9UNIDADE I Relações Internacionais a (viii) promulgação da “Lei Áurea”, cujo objetivo foi abolir a escravatura no Brasil (1888). Além disso, a (ix) “Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado”, cuja finalida- de consistia em eliminar a exploração da força de trabalho, ato promulgado um ano após a revolução socialista, Rússia (1918); o (x) Discurso “Um Apelo à Nação”, em que Mahatma Gandhi propõe e lança os fundamentos do moderno estado indiano, cuja revolução se baseava no Satyagraha (uma forma não violenta de protesto) (1942). Por fim, (xii) Martin Luther King profere o discurso “I have a dream” (Eu Tenho Um Sonho) na marcha para Washington, em 1963 (CASTILHO, 2018). As contribuições para a consolidação dos direitos humanos não são exauridas nas apresentações supramencionadas. Dito isso, os direitos humanos representam valores essenciais, comumente retratados de forma implícita ou explícita por meio das Consti- tuições ou tratados internacionais. Para Ramos (2017), a fundamentalidade dos direitos humanos pode ser: (i) formal e (ii) material. É descrito como formal quando esses direitos são inscritos no compêndio de direitos protegidos pela Constituição e tratados; é material quando, mesmo não expressos, são considerados fundamentais e indispensáveis para a preservação da dignidade humana. Ademais, Ramos (2017), explica que os direitos humanos se subdividem em quatro ideias basilares, a saber: (1) universalidade; (2) essencialidade; (3) superioridade norma- tiva; e (4) reciprocidade. A universalidade reflete o reconhecimento de que todos têm esse direito conflitando com a visão de grupos privilegiados na sociedade. No que se refere a essencialidade, ela implica os valores indispensáveis e que todos devem preservar e proteger. Por sua vez, a superioridade normativa disciplina que os direitos humanos são superiores às demais normas, não permitindo a subjugação deste em prol de atender as necessidades de Estado, característica reconhecida como preferencialidade. Assim sendo, a reciprocidade consiste nos direitos que unificam toda a sociedade como na titularidade em que os direitos são universais, bem como na sujeição passiva em que não há só o firmamento dos deveres de proteção de direitos do Estado e agentes públicos, mas abrange toda a coletividade. Esses quatro pilares, que constituem os direitos humanos, instrumentalizam os vetores de uma sociedade elencada na igualdade e inte- resses de todos. 10UNIDADE I Relações Internacionais 1.1 Valores, Atitudes e Práticas Sociais que Expressem a Cultura e o Comércio Ex- terior Os direitos humanos redigidos na Carta das Nações Unidas e na Declaração Uni- versal de Direitos Humanos (UDHR) de 1948 foram negociados ao mesmo tempo que o Acordo de Bretton Woods1, de 1944, o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), de 1947, e a carta de Havana, de 1948, para uma Organização Internacional de Comércio. Diante do exposto, esses acordos objetivam proteger a liberdade, a não discriminação, o estado de direito, o bem-estar social e outros valores de direitos humanos por meio de uma ordem internacional referenciadas em regras. Além disso, para Petersmann (2002) o “Pac- to Global”, lançado pelo Secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) Kofi Annan, em 1999, reitera o apoio e respeito à proteção do direitos humanos internacionais dentro de suas esferas de influência e para garantir que as suas próprias empresas não sejam cúmplices de abuso dos direitos. O objetivo passa a ser um “Pacto Global” complementar entre a ONU e as Agências especializadas da ONU e sobretudo entre outras organizações públicas mundiais como a Organização Mundial do Comércio (OMC) para integrar os direitos humanos universalmen- te reconhecidos por meio da lei e da prática de organizações intergovernamentais. Assim sendo, uma das medidas a ser adotada é a exigência da apresentação de “declarações de impacto sobre os direitos humanos” anualmente aos órgãos de direitos humanos da ONU, bem como a abertura de diálogos transparentes sobre a contribuição das Agências especializadas para a promoção e proteção dos direitos humanos (PETERSMANN, 2002). Ademais, essas medidas são devido a aparente distância entre o comércio inter- nacional e os direitos humanos, sendo que a OMC, principal mediadora de negociações econômicas e câmara de arbitragem de conflitos e resolução de controvérsias entre os agentes de comércio exterior, apresenta desinteresse e críticas, conforme argumentam os defensores dos direitos humanos. Posto isso, surge com a iniciativa do “Pacto Global”, de 1999, um esforço, recente por parte do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que suscitou uma série de publicações analisando a abrangência dos direitos humanos nos principais Acordos da OMC. 1 Conferência de Bretton Woods, como ficou conhecida a Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas, realizada em julho de 1944, na cidade de Bretton Woods nos Estados Unidos, que se reuniu 44 países com o objetivo de planejar a estabilidade da economia mundial e das moedas nacionais devido à destruição provocada pela Segunda Guerra Mundial. Surgiu dos acordos firmados a criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird) (SANDRONI,1999). 11UNIDADE I Relações Internacionais Doravante, esses documentos propõem uma nova abordagem do comércio inter- nacional baseada nos direitos humanos, qual estabelece objetivos precípuos do comércio, examina os efeitos da liberalização do comércio sob os indivíduos e determina que as regras do comércio internacional considerem o direito de todos, com ênfase nos indivíduos e grupos vulneráveis. Além disso, enfatiza o papel do estado no processo de liberalização não se restringindo a negociadores das regras de comércio internacional, mas sobretudo como garantidores dos direitos humanos, examina constantemente os impactos liberalizan- tes do comércio nos atributos dos direitos humanos e promove a realização da cooperação internacional dos direitos humanos e liberdades no contexto de liberalização comercial (UNITED NATIONS, 2001). Por fim, o Alto Comissariado propõe que a normatização de direitos humanos ofere- ça abrangência e segurança jurídica para a proteção das dimensões sociais da liberalização do comércio como complemento das regras de comércio internacional como a sugestão da cooperação recíproca entre os órgãos de direitos humanos e organizações econômicas e, sobretudo, com o reconhecimento da promoção dos direitos humanos como um dos parâmetros do direito da OMC. 1.2 A Consciência Cidadã e Ética nos Níveis Cognitivo, Social, Cultural e Político O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) surge em 2003, com a criação do Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos (CNEDH), sendo consolidado após divulgação e debate, em 2006. O PNEDH estabelece que a educação em direitos humanos é definida por meio de um processo sistemático e multidimensional que orienta a formação do sujeito de direitos, desenvolvendo as seguintes dimensões, a saber: ● Afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expressem a cultura dos direitos humanos em todos os espaços da sociedade. ● Formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer presente em níveis cognitivo, social, ético e político. ● Desenvolvimento de processos metodológicos participativos e de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didáticos contextualizados. ● Fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem ações e instrumentos em favor da promoção, proteção e da defesa dos direitos humanos, bem como da reparação das violações. 12UNIDADE I Relações Internacionais Diante do exposto, a apreensão de conhecimentos históricos construídos sobre direitos humanos reflete a apropriação e compreensão da nossa própriaconjuntura por meio das distintas práticas sociais e conflitos que nos fazem entender a nossa posição de indivíduos determinados no contexto internacional, nacional ou local. Apreensão de conhe- cimentos históricos construídos sobre direitos humanos e a sua relação com o contexto internacional, nacional e local. 1.3 Processos Metodológicos Participativos e Construção Coletiva Além disso, a educação é apresentada como o principal meio pelo qual os direitos humanos são promovidos. Assim, é importante ressaltar a priorização na formação de agen- tes públicos e sociais cuja atuação seja nos sistemas de educação, saúde, comunicação e informação, justiça, segurança entre outros (BRASIL, 2007). Por entendimento, a educação é um meio indispensável para o acesso a outros direitos, ganhando notoriedade e, portanto, maior importância quando direcionada ao de- senvolvimento humano e as suas potencialidades, objetivando a valorização dos grupos socialmente excluídos. Por sua vez, essa ideia de educação busca efetivar a cidadania para a construção de conhecimentos, desenvolvendo os valores, atitudes e comportamentos, incluindo a defesa socioambiental e a justiça social. Por fim, o PNEDH (2007) reforça a ideia da formação de sujeitos de direitos, signi- ficando que os sujeitos de direitos estão em transição, isto é, não se encontram finalizados, denotado pelo propósito de processo. Além disso, denominar como sujeito de direito reco- nhece o indivíduo como ser relacionável, ou seja, interage com outros indivíduos, repre- sentado pela noção de multidimensionalidade. Assim, a educação em direitos humanos apresenta um comprometimento com a afirmação de sujeitos históricos que há nos direitos humanos. 13UNIDADE I Relações Internacionais 2 PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DO CAPITAL A Mundialização da Economia ou mais precisamente a “mundialização do capi- tal”, segundo Chesnais (1996), deve ser doravante compreendida como algo mais, ou até mesmo outra coisa, do que uma simples fase a mais no processo de internacionalização do capital iniciado há mais de um século, processo do qual as “multinacionais globais2” da indústria e dos serviços são a evidência mais clara, as quais a liberalização conferiu organi- zar como desejavam o trabalho de suas filiais, bem como as suas relações de terceirização. A utilização da expressão “mundialização do capital” apresenta uma filiação teórica, aquela dos trabalhos franceses dos anos 1970, sobre a internacionalização do capital. Além disso, reflete também as prioridades metodológicas que foram totalmente ocultadas pela adapta- ção teórica ao neoclassicismo atribuídas à escola de Williamson. A mais importante dessas prioridades diz respeito ao postulado central de referência clássica nas obras de Smith, Ricardo, Marx, relativo à anterioridade e à predominância do investimento e da produção em relação à troca. Partir da produção torna possível buscar e entender uma das bases da internacionalização, porque obriga a dedicar uma atenção muito particular ao que acontece “nos bastidores” das oficinas e dos escritórios, mas também dos 2 De acordo com Sandroni (1999), uma empresa multinacional é uma estrutura empresarial básica do capitalismo dominante nos países altamente industrializados, cuja estratégia envolve o acesso ao mercado internacional a partir de uma base nacional sob a direção de uma coordenação centralizada. Conhecidas também como empresas internacionais ou transnacionais, as multinacionais surgem da concentração de capital e da internacionalização da produção capitalista, a exemplo dessa prática está o “fordismo”. 14UNIDADE I Relações Internacionais laboratórios de pesquisa industrial, isto é, a maneira como o trabalho está organizado sobre a base de tecnologias em prol de uma maximização da produtividade (CHESNAIS, 1996). Diante do exposto, são apresentadas as três modalidades de internacionalização e o ciclo diferenciado do capital proposto por Chesnais (1996), que sublinha a relevante contribuição de Carlos-Albert Michalet acerca das diferentes formas de internacionalização, de tal forma que permita pensar nas suas três dimensões, a saber: ● Intercâmbio comercial. ● Investimento produtivo no exterior. ● Fluxos de capital financeiro. Essas três modalidades de internacionalização devem ser estudadas ao nível de três “ciclos” da movimentação do capital, conforme defendido pela corrente marxista, o capital mercantil, capital produtor de valor e de mais-valia e o capital monetário ou capital- -dinheiro. Essa forma de abordar de Michalet (1984) é utilizada para definir os períodos do movimento da internacionalização. Além disso, é a partir do movimento do capital produtivo que acontecem as rela- ções entre as três modalidades basilares da internacionalização e é com essa dinâmica que se cria valor e riqueza. Dito isso, a produção, circulação ou comercialização estão intrinsecamente relacionadas a produção com o comércio internacional. Para Chesnais (1996), a internacionalização é dominada mais pelo investimento internacional do que pelo comércio exterior, condicionando as estruturas que predominam na produção e nas trocas de bens e serviços, destacando o fluxo intracorporativo. Posto isso, o investimento interna- cional é recepcionado pela globalização das instituições financeiras que provêm os meios de facilitação para as fusões e aquisições transnacionais. Por sua vez, os dois principais fatores que contribuíram na década de 1980 e intensi- ficaram as mudanças nas formas de internacionalização foram a “desregulamentação finan- ceira” e o desenvolvimento da globalização financeira impulsionado pelas novas tecnologias. Entretanto, é a partir da década de 1960 que surgem os primeiros sintomas do desarranjo econômico que viria a contribuir para o processo de internacionalização, a saber: ● Elevação do patamar inflacionário, tornando insustentável os limites impostos às taxas de juros. ● Surgimento do Euromercado e das praças offshore, fomentado pelo “exceden- te” de dólares gerado pelo déficit crescente do balanço de pagamentos dos Estados Unidos e a posteriori pela entrada dos petrodólares. ● Substituição do “regime” de taxas fixas por taxas flutuantes de câmbio. 15UNIDADE I Relações Internacionais Além disso, o final das décadas de 1960 e 1970 é marcado pela pressão de um am- biente econômico mundial “desregulamentado” para a criação de empréstimos e depósitos, num contexto de aumento da inflação, provocando uma corrida por inovações financeiras. Sendo que o endividamento das economias emergentes, como o Brasil, se intensifica nesse período, inclusive em decorrência da crise do petróleo3 (CHESNAIS, 2005). Doravante, no contexto de crescente liberalização das movimentações do capital, da instabilidade cambial e dos juros, os governos dos países seguiram as políticas anticí- clicas, enfatizando o argumento a favor do crescimento da renda e do emprego, refletindo a aversão à deflação4 dos ativos. No entanto, essa combinação de medidas provocou um aumento da instabilidade entre as taxas de câmbio e juros, gerando uma segunda onda de inovações, seguindo o processo de desregulamentação, culminando na expansão dos ins- trumentos financeiros compostos por derivativos e dos mercados de emissão e negociação de títulos de dívida. Essa reconfiguração institucional intensificou a concorrência entre as instituições financeiras na atração de consumidores e no processo de inovação financeiro. Posto isso, as finanças diretas e “securitizadas” ganharam notoriedade, porque os bancos comerciais perderam posições na captação de depósitos e, por consequência, na concessão e crédito. Assim, o capital das famílias e das empresas começou a ser direcionado e concentrado em investidores institucionais de grande porte, como fundos de pensão, fundos mútuos e fundos de hedge, cuja abrangência e métodos incluíam operações em praças financeiras globaise alavancagem financeira (CHESNAIS, 2005). Entretanto, as sucessivas desregulamentações dos mercados de capitais e crédito produziram contextos econômicos de euforia e alavancagem imprudentes, contrariando as limitações impostas de contração súbita de liquidez, culminando em crises econômicas. 3 Aumentos nos preços do petróleo provocados em parte pelo projeto das nações exportadoras de petróleo (OPEP) no sentido de controlar a produção e o preço no mercado internacional e somado à deflagração do conflito árabe-israelense de 1973 (SANDRONI,1999). 4 Se constitui pela persistente queda geral nos níveis de preços, sendo a situação oposta à inflação. Além disso, se caracteriza pela reduzida oferta de moeda em relação à oferta de bens e serviços ou pela queda na demanda agregada. Por sua vez, o excesso de bens e serviços disponíveis na economia eleva o índice de capacidade ociosa e intensifica a concorrência entre os produtos que disputam os escassos consumidores, levando à uma redução dos preços (SANDRONI, 1999). 16UNIDADE I Relações Internacionais 3 INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS As constantes mudanças econômicas influenciam os ambientes de negócios, revelando a necessidade de adaptação das empresas a esse contexto para que possam produzir uma resposta rápida e efetiva às exigências do mercado. Diante do exposto, as empresas buscam se aparamentar de ferramentas de captura, tratamento e análise dos dados, como o Big Data, Machine Learning e a Ciência de Dados para prover informações que auxiliem na tomada de decisão, suprindo uma gestão mais assertiva, que sustente o empreendimento por meio de vantagens competitivas. Além disso, surge a internaciona- lização com o acesso pelas empresas nas cadeias de produção mundial, livre circulação de capitais e informações, bem como os fluxos de investimentos imobiliários. Para Welch e Luostarinen (1988), a internacionalização é o processo cuja finalidade consiste em au- mentar a participação nas operações internacionais. Sendo que, as principais teorias de internacionalização, segundo Costa e Lorga (2003), são: ● Teoria do Comércio Internacional. ● Teoria do Ciclo de Vida do Produto (VERNON, 1966). ● Teorias relacionadas ao comportamento e a gestão empresarial. ● Teorias com base nas imperfeições dos mercados, organização industrial e abordagens dinâmicas acerca da internacionalização. 17UNIDADE I Relações Internacionais Por sua vez, vamos explorar os aspectos da Teoria relacionada à gestão empre- sarial por meio da abordagem da escola de Uppsala, cujo processo de internacionalização das empresas pode ser explicado pelo modelo Uppsala, proposto por Johanson e Wie- dersheim-Paul (1975) e Johanson e Vahlne (1977). Sendo o processo de aprendizagem pelo qual as empresas investem os seus recursos de forma gradual enquanto adquirem conhecimento sobre um determinado mercado internacional. Essa ideia de gradualismo foi observada para as empresas suecas por meio de estudos empíricos sobre as suas trajetórias no mercado internacional e descobriram que estas apresentavam algumas ca- racterísticas comuns denominadas de cadeia de estabelecimento e a distância psicológica. A cadeia de estabelecimento se baseia na ideia do desenvolvimento de determi- nada empresa no contexto internacional, que investe recursos de forma sequencial. No entanto, o montante de recursos investidos no mercado-alvo é dependente do seu nível de conhecimento da empresa sobre este. Posto isto, quanto maior for o conhecimento sobre o mercado em que está se investindo, maior será a tendência em aumentar esses investimentos. Por sua vez, a distância psicológica é definida como as diferenças percebidas entre valores, práticas de gestão e o grau de educação entre os dois países. A distância psíquica se revela importante no processo de internacionalização, devido à restrição que impõe previamente aos investimentos iniciais da empresa em países de culturas opostas, ou seja, o processo tende a ser iniciado em países com culturas semelhantes. Ao adotar essa medida e transferir as operações para países de cultura próxima, a empresa absorve conhecimentos sobre o mercado-alvo e sobre como internacionalizar suas atividades. Pos- to isso, o primeiro conhecimento se refere aos aspectos do mercado-alvo, sendo, portanto, de característica intransferível para outros países, e o segundo tipo de conhecimento é utilizado para adentrar novos mercados internacionais, porque se refere ao conhecimento adquirido no processo de internacionalização. Ademais, de acordo com o pressuposto de conhecimento adquirido gradualmente pela empresa, introduzido por Johanson e Vahlne (1977), em que o processo de internacio- nalização acontece de forma incremental devido às incertezas e informações imperfeitas recebidas do novo mercado, estes apresentam dois conceitos para explicar o modelo, a saber: (i) conhecimento, referente ao mercado-alvo e (ii) comprometimento, representado pela soma de recursos investidos no mercado internacional e a possibilidade de utilizar es- ses recursos em outros mercados sem prejuízo de desvalorização. Assim sendo, o modelo de Uppsala é fundamentado por meio de três pressupostos, a saber: 18UNIDADE I Relações Internacionais ● O maior desafio no processo de internacionalização ocorre por meio da falta de informação. ● O conhecimento para a o processo de internacionalização é obtido devido a operacionalização das empresas no mercado-alvo. ● Os investimentos acontecem gradualmente no processo de internacionalização. Por sua vez, conhecimento e comprometimento são compreendidos como estados do modelo. Para Johanson e Vahlne (1977), essas duas características do modelo se refe- rem às decisões de investimentos dos recursos no mercado-alvo, sendo que o pressuposto é de que as empresas investem em operações que já foram testadas e, portanto, são conhecidas neutralizando e/ou reduzindo o nível de incerteza relativo a essa atividade. Por fim, o segundo aspecto está relacionado aos negócios atuais da empresa no mercado alvo, que se caracteriza como o principal recurso na absorção de conhecimento. O modelo de Uppsala de internacionalização pode ser observado por meio da Figura 1. Figura 1 - Modelo de Internacionalização de Uppsala Fonte: adaptado de Johanson e Vahlne (1977, p. 26). O conhecimento de mercado e o comprometimento com o mercado assumem o efeito para ambas as decisões de comprometimento e as atividades atuais. Dessa forma, quanto mais uma empresa investe em determinado mercado-alvo internacional, mais absor- ve conhecimento sobre esse mercado, sendo que quanto maior for o nível de conhecimento adquirido maior a propensão a investir e, por fim, quanto maior a propensão a investir maior a possibilidade do investimento ser executado, caracterizado pela postura cíclica da estratégia conforme observado na Figura 1. Além disso, surgiu das Teorias de Internacionalização o Paradigma Eclético de Dunning, Dunning (1988), que buscou associar a abordagem econômica com as explica- Aspectos de Estado Aspectos Transitórios 19UNIDADE I Relações Internacionais ções de outras variáveis inerentes ao processo. Posto isso, o resultado foi a consolidação das teorias que englobam a localização, competição monopolista, internacionalização e custos de transação desenvolvendo o ownership, localization, internalization (OLI). São três os aspectos que buscam elucidar os padrões de internacionalização, a saber: ● Ownership: vantagem de propriedade cuja finalidade consiste na análise da organização relacionada ao posicionamento estratégico da empresa no merca- do exterior. Nesse aspecto, os ativos intangíveis são a principal vantagem, tais como: capital intelectual, tecnologia, informações, marcas e patentes, processos produtivos e gerenciais, entre outros. ● Localization: vantagem de localização que pode ser desenvolvida pela organi- zação, consideradas as característicasde cada país ou região em que a empre- sa instalou suas operações. Os principais aspectos abordados são custos com a mão de obra, tributação, estrutura local, entre outros. ● Internalization: consiste na capacidade de internalização da empresa sob as vantagens referentes à propriedade adquirida no mercado-alvo. Dito isso, quando os custos de transação se revelam superiores aos de incorporação, a empresa opta por internalizar as suas operações nesse mercado. Essa teoria não considera o comportamento do exportador sendo que o Paradigma eclético da produção internacional é fundamental para o desenvolvimento dos custos de transação e de informações e que determinadas características do país de destino, como o tamanho do mercado, riscos políticos e perspectivas de crescimento condicionam a forma como essas empresas adentram nos mercados-alvo. Diante do exposto, em situações em que a extensão do mercado é restringida ou que há inerentes riscos políticos as organiza- ções tendem a optar pela exportação ou licenciamento, não demonstrando interesses em realizar os investimentos físicos no país. 20UNIDADE I Relações Internacionais SAIBA MAIS O processo de desregulamentação e liberalização financeira, cujo início remete à dé- cada de 1930, passando pelo Acordo de Bretton Woods e a formação do mercado de eurodólares, contribuíram para a deflagração da crise econômica dos “subprimes” de 2007-2008, devido, inclusive, aos mecanismos de securitização de títulos tóxicos (Colla- terized Debt Obligation – CDO) constituídos pelos chamados tranches baseados, princi- palmente em créditos imobiliários. Fonte: Ruppelt et al. (2018). REFLITA “Um direito adiado é um direito negado” (Martin Luther King Jr.). 21UNIDADE I Relações Internacionais CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) estudante, nesta Unidade entendemos sobre os aspectos que determinam os direitos humanos como a Declaração e Programa de Viena sobre os Direitos Humanos, de 1993, bem como os quatro princípios basilares de universalidade, essencialidade, supe- rioridade e reciprocidade. Aprendemos sobre as relações entre Comércio Internacional e os Direitos hu- manos em que foram apresentados uma nova abordagem por meio do Relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas, de 2001, em que se previa uma integração dos direitos humanos com as normas da Organização Mundial do Comércio, objetivando o respeito mútuo, prerrogativa iniciada com o “Pacto Global” proposto pelo Secretário-geral da ONU Kofi Annan, em 1999. Apresentamos o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH), cujas atribuições consistem em definir o processo multidimensional que orienta a formação do sujeito de direitos. Explicamos acerca da mundialização e globalização, aspectos que ajudaram a contribuir para a internacionalização do capital por meio de práticas de desregulamentação e liberalização econômica e financeira, fundamentais nas crises econômicas posteriores. Além disso, abordamos as teorias de internacionalização das empresas com enfo- que para a escola de Uppsala por meio do Modelo de internacionalização de Uppsala bem como os aspectos do Paradigma de Dunning. Na próxima unidade vamos dar continuidade, abordando a globalização e o con- texto brasileiro, envolvendo os riscos, oportunidades e desafios, dando sequência com as características do comércio exterior na economia, apresentando o Balanço de pagamentos, Balança comercial e as interações cambiais. 22UNIDADE I Relações Internacionais LEITURA COMPLEMENTAR DOMMEN, C. Comércio e direitos humanos: rumo a coerência. Sur. Revista Internacional de Direitos Humanos, São Paulo, v. 2, n. 3., dez. 2005. HILAL, A.; HEMAIS, C. A. O processo de Internacionalização na ótica da escola nórdica: evidências empíricas em empresas brasileiras. Revista de Administração Contemporâ- nea, v. 7, n. 1, p. 109-124, 2003. MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Direitos Humanos Autor: Ricardo Castilho Editora: Saraiva Sinopse: Direitos Humanos apresenta os principais aspectos e desdobramentos doutrinários e jurisprudenciais sobre a matéria. O autor Ricardo preparou uma obra completa e didática sobre a ma- téria, iniciando a exposição com a análise do processo histórico de reconhecimento dos direitos humanos fundamentais e culminando com o nascimento do sistema internacional de proteção dos direi- tos humanos, passagem em que aborda a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e dos principais tratados que forjam seu arcabouço jurídico. O autor analisa ainda a liberdade como fundamento dos direitos humanos e ingressa no tortuoso tema da educação, como fator preponderante para a verdadeira liberdade dos povos. Obra destinada especialmente aos alunos dos cursos de graduação e de concursos públicos. FILME/VÍDEO Título: Mandela – O caminho para a Liberdade Ano: 2014 Sinopse: Inspirado na autobiografia de Nelson Mandela, lançada em 1994, o filme retrata todo o percurso traçado pelo líder sul-afri- cano, a partir de seu próprio ponto de vista, desde a sua infância, vivendo em uma pequena aldeia rural, até a eleição democrática ao cargo de Presidente da República da África do Sul. Em uma luta constante pelo fim do apartheid no país, Mandela (Idris Elba) chegou a passar 27 anos em cárcere pelo que acreditava. 23 Plano de Estudo: ● Globalização e o Brasil: riscos, oportunidades e desafios ● Economia e comércio exterior ● Práticas cambiais ● Meio ambiente e comércio exterior Objetivos de Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar a globalização ● Descrever as estratégias adotadas pelo Brasil no processo de globalização ● Apresentar os conceitos de Renda Agregada, Balanço de Pagamentos e Balança Comercial ● Compreender as práticas cambiais ● Diferenciar os processos de exportação e importação ● Entender as relações entre Ética, Meio Ambiente e Comércio Exterior UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) Professor Mestre George Lucas Máximo Ferreira 24UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a) da disciplina de Tópicos Especiais em Comércio Exterior, segui- mos em nossa jornada pelo conhecimento na Unidade II. Vamos abordar as principais características acerca da globalização, expondo as políticas de liberalização e desregulamentação financeira precursoras desse contexto, bem como a influência que a globalização exerceu sobre a economia brasileira nas décadas de 1970 até o tempo presente e as medidas adotadas pelos gestores políticos. Por sua vez, vamos introduzir os conceitos básicos sobre Renda Agregada (RA) e Balanço de Pagamentos para adentrar os aspectos da Balança Comercial, explorando os dados reais da Balança Comercial brasileira. Por conseguinte, avançaremos sobre as variantes que compõem as transações cambiais explicando a importância da taxa cambial e as implicações para as operações de exportação e importação. Além disso, abordaremos os processos de importação e exportação, explicando a diferença entre exportação direta e indireta e a importância das importações para o desen- volvimento do setor industrial doméstico. Ademais, desvendamos os nuances entre o meio ambiente e as negociações inter- nacionais, finalizando com a influência da ética nas relações comerciais. Desejo bons estudos! 25UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) 1 GLOBALIZAÇÃO E O BRASIL: RISCOS, OPORTUNIDADES E DESAFIOS Caro(a) aluno(a), exploramos, na Unidade I, os aspectos da internacionalização do capital e como está relacionado com as políticas de desregulamentação e liberalização econômica que se iniciaram com a ruptura do padrão-ouro no Acordo de Bretton Woods de 1944, bem como por movimentos sucedâneos das décadas de 1960 a 1970, influenciados inclusive pela crise do petróleo, o que provocou aumentos nas taxas de juros dos Estados Unidos como medida de fortalecer a sua liquidez durante esse contexto econômico. Entre- tanto, tais medidas elevaram o endividamento dos países em desenvolvimento, inclusive o Brasil,e pressionou outros, como o México, que convergiu para a crise de 1995. Assim sendo, a internacionalização do capital como parte integrante do movimento de mundializa- ção e a globalização contribuíram para esses desdobramentos econômicos e geopolíticos. Diante do exposto, a mundialização do capital é a expressão que melhor se adequa para dar sentido ao termo “globalização”. Chesnais (1996), sublinha que a globalização se traduz na capacidade estratégica de grande grupo oligopolista cuja produção manufatureira ou de serviços são destinados ao enfoque global. A palavra global surge em meados da década de 1980, nas renomadas escolas de administração de empresas as “business mangament schools”, sendo propagada por meio dos artigos de ilustres nomes, como Porter (1990). O termo “globalização” foi amplamente difundido no âmbito da administração das empresas com a seguinte mensagem: “Nos lugares onde foi possível auferir lucros os obstáculos que os detinham foram sobrepujados devido ao processo de liberalização e 26UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) desregulamentação, ao desenvolvimento e utilização da tecnologia por satélites de comu- nicação”. O que significa que o processo de globalização permitiu o acesso e a facilitação na obtenção de resultados. Para Frieden (2008), são muitos os que julgam a globalização como um processo inevitável e irreversível. Após décadas de integração econômica mundial, muitas economias, agentes econômicos e police makers consideram o capitalismo global o estado natural, bem como sua perpetuidade. Entretanto, o autor reitera que a globalização sofreu revesses no passado com a ruptura causada pelas Primeira e Segunda Guerras Mundiais e, portanto, continua a ser uma escolha e não um fato a ser adotado pelos governos dos países que, de forma consciente e deliberada, decidem por reduzir as barreiras de comércio internacional e dos investimentos, bem como adotar novas abordagens para a movimentação do capital e as finanças. Posto isso, as finanças internacionais, o comércio exterior e as relações mo- netárias internacionais são cada vez mais dependentes de ações conjuntas dos governos, ou seja, as políticas internas são pensadas agora de forma global. Por sua vez, Giddens (2006) subdivide a globalização em duas principais visões caracterizadas pelos: (i) “céticos” e os (ii) “radicais”. De acordo com os céticos, toda essa ideia de globalização não passa de folclore, ou seja, quaisquer que sejam os benefícios, preocupações ou desafios a economia mundial não difere muito da que existia anteriormen- te, sendo assim, o mundo continua o mesmo. Além disso, o comércio externo é explicado por uma participação não significativa nos rendimentos do país. Sendo que as incipientes trocas econômicas que acontecem são realizadas entre as regiões, implicando, portanto, na inexistência de um sistema de comércio internacional. Ademais, a globalização, para os céticos, é uma ideia difundida pelos defensores da liberalização do comércio, com o objetivo de destruir a segurança social, bem como diminuir os gastos públicos. Doravante, para os radicais, a globalização é uma situação clara e concreta, cujos efeitos estão em todas as partes. Assim sendo, o mercado para esses indivíduos está mais avançado que em décadas anteriores e não distingue fronteiras. Posto isso, as nações, nesse âmbito, perderam parte da sua soberania e os políticos exercem, com influência reduzida, os acontecimentos. No entanto, parece que nem os céticos ou radicais compreenderam a globalização, haja vista que a observam como um fenômeno que se apresenta com características: política, tecnológica, cultural, econômica e, sobretudo, tem se intensificado com o progresso nos meios de comunicação (GIDDENS, 2006). A seguir adentramos sobre o contexto brasileiro e a sua relação com o processo de globalização, causas e efeitos. 27UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) O Brasil enfrentou o avanço da globalização, na década de 1970, com razoável êxito devido a fundamentos macroeconômicos previamente estabelecidos no período pós-Segun- da Guerra Mundial, baseado principalmente pela matriz econômica agrícola-exportadora e por meio da substituição de importação que ajudou no processo de industrialização do país. Entretanto, desafios surgiam, como a desvalorização cambial que promovia as operações de exportação, mas inibia as importações, em específico, de bens de capital – umas das finalidades consiste em modernizar o parque produtivo do país (CARDOSO, 2008). Com a estabilização da inflação, na década de 1990, a criação de um sistema financeiro sólido, ampliação da rede de telecomunicações por meio da Embratel e Telebrás, os gestores políticos julgaram que havia espaço para expandir para a atual estratégia que levou o país ao desenvolvimento. Ou seja, protecionismo tarifário e instrumentos de crédito utilizando os bancos públicos, em especial o Banco de Desenvolvimento Econômico (BNDE). Entretanto, Cardoso (2008) expõe que o Brasil permanecia uma economia fechada, dessa forma, as operações de exportações e importações eram incipientes e não significativas. Por sua vez, esse modelo precisou ser revisto e passou por inúmeras mudanças. O temor de que uma abertura da economia, décadas mais tarde, gerasse uma desorganiza- ção da indústria nacional, bem como a ruptura das empresas não se concretizou, apesar de desajustes em setores, como o têxtil e de peças para automóveis, os quais só alcançaram a recuperação tempos depois. Ademais, Cardoso (2008) sublinha dois aspectos fundamen- tais que ajudaram a pavimentar o processo de globalização brasileiro e são basilares até a atualidade, são estes: as privatizações e o controle do câmbio. 28UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) 2 ECONOMIA E COMÉRCIO EXTERIOR Caro(a) aluno(a), para discutir o conceito de Balança Comercial é necessário aprender o contexto que está inserida. Diante do exposto, vamos introduzir os aspectos sobre Renda Agregada e o Balanço de Pagamentos (BP). A Renda Agregada (RA) ou Nacional (RN) é constituída da soma das remunerações pagas às famílias que detêm fatores de produção e/ou serviços, a saber: (i) salários (w) – representa a remuneração do fator de produção trabalho –, (ii) juros – remunera a produção do capital monetário –, (iii) aluguel – remuneração do capital físico, isto é, ganhos monetários sobre arrendamento de terras, aluguéis de salas, galpões indústrias e construções e afins – e, por fim, (iv) lucros – remuneração incide sobre o fator risco que o empresário assume. Posto isto, Lopes e Vasconcellos (2008, p. 21) definem a equação de Renda Agregada como: Além disso, temos o conceito de Despesa Agregada (DA) ou Nacional (DN) re- presentada pelo valor das despesas dos vários agentes econômicos na compra de bens e serviços finais, ou seja, as possíveis destinações do produto. Dito isso, as empresas utilizam os fatores de produção fornecidos pelas famílias remuneradas, para a manufatura dos produtos e serviços, cujo destino são essas famílias. Para Lopes e Vasconcellos (2008, p. 22), esse fluxo circular da renda estabelece a seguinte identidade macroeconômica: 𝑅𝑅𝑅𝑅 = 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠á𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑠𝑠(𝑤𝑤) + 𝑗𝑗𝑗𝑗𝑟𝑟𝑟𝑟𝑠𝑠(𝑗𝑗) + 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑗𝑗𝑎𝑎𝑗𝑗é𝑟𝑟𝑠𝑠(𝑠𝑠𝑠𝑠) + 𝑠𝑠𝑗𝑗𝑙𝑙𝑟𝑟𝑟𝑟𝑠𝑠(𝐿𝐿) (1) 29UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) Em que o Produto Agregado representa o valor final da produção, a Despesa Agregada é a despesa com o produto e a Renda Agregada é o somatório da equação (1). Reescrevendo a equação (2), obtemos: 𝑌𝑌 = 𝐷𝐷𝑅𝑅 (Renda = Despesa Agregada) e, portanto, a expressão da identidade macroeconômica é obtida por meio da equação (3). Em que, I representa o investimento no modelo econômico e este se iguala à pou- pança (S). Ademais, vamos introduzir o governo e o setor externo nesse modelo que surge como uma alternativa ao fluxo circularde renda por abranger aspectos mais complexos da realidade. Assim sendo, o termo governo é usualmente empregado para designar a instân- cia máxima de administração executiva de um país, conforme a sua organização política, o governo pode ser local, regional ou nacional. Dito isso, suas principais atribuições são: ● Funções de natureza administrativa direta no legislativo, judiciário e executivo (e.g., Câmara dos Deputados, STF, Presidência da República); ● Prover a Segurança Nacional; ● É dependente de dotação orçamentária para executar as premissas dos itens supramencionados; ● Arrecadação de impostos das empresas e famílias e gasta com consumo; ● Prover os bens públicos (e.g., justiça, segurança nacional). Assim, segundo Lopes e Vasconcellos (2008), o governo está presente nas mais distintas atividades da economia na posição de consumidor ou fornecedor de bens e ser- viços ou como agente regulador. Adicionando o governo no modelo, é inserido mais um destino para a renda das famílias, pois, além do consumo e poupança, surge a tributação (T), representada pela seguinte expressão: Acrescentando os gastos públicos que representam o consumo do governo com bens e serviços na equação de Demanda Agregada, obtemos: 𝑃𝑃𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑗𝑗𝑟𝑟𝑟𝑟 𝑅𝑅𝑎𝑎𝑟𝑟𝐴𝐴𝑎𝑎𝑠𝑠𝑟𝑟𝑟𝑟(𝑃𝑃𝑅𝑅) = 𝐷𝐷𝐴𝐴𝑠𝑠𝐷𝐷𝐴𝐴𝑠𝑠𝑠𝑠 𝑅𝑅𝑎𝑎𝑟𝑟𝐴𝐴𝑎𝑎𝑠𝑠𝑟𝑟𝑠𝑠(𝐷𝐷𝑅𝑅) = 𝑅𝑅𝐴𝐴𝑅𝑅𝑟𝑟𝑠𝑠 𝑅𝑅𝑎𝑎𝑟𝑟𝐴𝐴𝑎𝑎𝑠𝑠𝑟𝑟𝑠𝑠(𝑅𝑅𝑅𝑅) (2) 𝐶𝐶 + 𝑆𝑆 = 𝐶𝐶 + 𝐼𝐼 (2) 𝑆𝑆 = 𝐼𝐼 (2𝑠𝑠) 𝑌𝑌 = 𝐶𝐶 + 𝑆𝑆 + 𝑇𝑇 (3) 𝑌𝑌 = 𝐷𝐷𝑅𝑅 = 𝐶𝐶 + 𝐼𝐼 + 𝐺𝐺 (4) 30UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) Dessa forma, na Contabilidade Social1, o governo gasta com despesas de cus- teio da administração pública com a aquisição de bens e serviços e transfere recursos as famílias (e.g., militares, aposentadorias, assistência social, estudantes). Por fim, temos o Resto do Mundo, cuja descrição contempla toda família, empresa, governo de outros países, os chamados de não-residentes que realizam transações com residentes do país. Para Lopes e Vasconcellos (2008), essas transações se subdividem em duas, a saber: (i) com bens e serviços, representadas pelas Exportações, isto é, a venda da produção nacional destinada ao mercado internacional e as Importações que são adquiridas a partir da produção realizadas em outros países. Além disso, tem-se (ii) a categoria de transações com fatores de produção, ou seja, as empresas situadas no país podem empregar trabalho e capital vindo do resto do mundo, que devem ser remunerados. Posto isto, essa remuneração significa o envio de renda ao exterior como juros da dívida externa, remessa de lucros, royalties e assistência técnica, cuja nomencla- tura é Renda líquida enviada ao Exterior (RLEE) (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). Além disso, a RLEE é conhecida como fatores de serviços porque representa a remuneração dos fatores na Balança de Serviço que integra a Balança de Pagamentos. No mais, RLEE é a diferença sobre o que é pago pela utilização dos fatores de produção inter- namente e o que é proveniente do exterior devido ao uso de fatores nacionais em produção em outros países. Diante do exposto, se 𝑅𝑅𝐿𝐿𝑅𝑅𝑅𝑅 > 0 , significa que o país envia mais divisas do que recebe e 𝑅𝑅𝐿𝐿𝑅𝑅𝑅𝑅 < 0 , caso contrário (LOPES E VASCONCELLOS, 2008). Adicio- nando o Resto do Mundo no modelo macroeconômico, obtemos agora a Oferta agregada global que representa a produção doméstica (Y) somada às importações (M). Rearranjando a equação (5), obtemos: Em que: Y: PIB, Produto Interno bruto; C: Consumo das famílias; I: Investimento Privado; G: Gastos do Governo; X: Exportações; M: Importações; (𝑋𝑋 −𝑀𝑀) : Transferências líquidas de recursos ao exterior. 1 De acordo com Lopes e Vasconcellos (2008), o objetivo de um sistema de contabilidade social de um país consiste em apresentar as medidas de desempenho macroeconômico num recorte temporal, isto é, quantidade de produção de bens e serviços do país, consumo agregado, investimentos entre outros. Sendo que os dois principais métodos empregados são o Sistema de Contas Nacionais criado por Richard Stone e a Matriz de Insumo-Produto elaborada por Wassily W. Leontief. 𝑌𝑌 + 𝑀𝑀 = 𝐶𝐶 + 𝐼𝐼 + 𝐺𝐺 + 𝑋𝑋 (5) 𝑌𝑌 = 𝐶𝐶 + 𝐼𝐼 + 𝐺𝐺 + (𝑋𝑋 −𝑀𝑀) (5𝑠𝑠) 31UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) Posto isso o rendimento nacional de uma economia aberta é composto da soma das despesas nacionais e estrangeiras, considerando as mercadorias e serviços produzidos por meio dos fatores de produção. Assim, a identidade macroeconômica do modelo para uma economia aberta, ou seja, que realiza transações comerciais com o exterior segue a equação (5a) (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015). Além das contas de renda nacional, temos o Balanço de Pagamentos, organizado para manter o controle das entradas e saídas de um país. Assim, toda transação que resulte em recebimento do exterior entra no BP como crédito e, quando se tratar de pagamento ao exterior, é registrado como débito. De acordo com Krugman, Obstfeld e Melitz (2015, p. 255), as transações internacionais são divididas em: ● Transações cuja origem são as exportações e importações de mercadorias ou serviços provisionados diretamente na conta-corrente. ● Transações cuja origem são a compra e venda de ativos financeiros, como: ações, metais preciosos, obras de arte etc., o registro é realizado na conta financeira. ● Outras atividades que destinam transferência de riquezas entre países são registradas na conta capital. O princípio do BP segue o Método das Partidas Dobradas ou Método Veneziano, isto é, toda transação internacional é lançada duas vezes, uma como crédito e uma como débito (Quadro 1). Quadro 1 - Entradas compensatórias de contabilidade no BP Mercadoria Ação Conta BP Crédito Débito Compra de um centro de usinagem Importação da Alema- nha de mercadoria Conta Corrente - US$ 5.000 Venda do depósito bancá- rio pelo Commerzbank Venda de ativo alemão Conta Financeira US$ 5.000 - Refeição restaurante em Paris Importação francesa de serviço Conta Corrente - US$ 150 Venda de reivindicação do Master Card Venda de ativo francês Conta Financeira US$ 150 - Aquisição de Ações da TESLA Compra de ativo dos Estados Unidos Conta Financeira - US$ 1.890,35* Depósito do pagamento no Second Bank de Chicago Venda de ativos dos Estados Unidos Conta Financeira US$ 1.890,35 - Nota: *Cotação em ago. 2020. Fonte: adaptado de Krugman, Obstfeld e Melitz (2015). 32UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) Diante do contexto, Krugman, Obstfeld e Melitz (2015) sublinham que muitas cir- cunstâncias podem influenciar a forma como uma transação é provisionada no BP. Assim, qualquer transação comercial internacional gera, automaticamente, entradas de crédito e débito compensatórios no BP e, portanto, a soma do saldo da conta-corrente e do saldo da conta capital se igualam ao saldo da conta financeira, conforme a expressão: Quadro 2 - Balanço de Pagamentos US$ mi- lhões Discriminação 2019 2020* Jun Jan-jun Ano Jun Jan-jun I. Transações correntes - 2 659 - 20 998 - 49 452 2 235 - 9 734 Balança comercial (bens) 4 714 22 412 40 782 6 898 19 327 Exportações1/ 18 429 109 590 225 821 17 997 102 184 Importações2/ 13 715 87 177 185 039 11 099 82 858 Serviços - 3 550 - 17 653 - 35 139 - 1 371 - 11 187 Renda primária - 3 876 - 26 420 - 56 059 - 3 452 - 18 608 Renda secundária52 662 964 160 734 II. Conta capital 3 147 369 18 190 III. Conta financeira3/ - 2 605 - 22 646 - 51 511 2 420 - 8 643 Investimento direto no exterior 1 602 11 176 22 085 - 2 866 - 15 588 Participação no capital 1 793 11 505 21 803 - 3 627 - 16 603 Operações intercompanhia - 191 - 329 282 761 1 016 Investimento direto no país 574 32 233 78 559 4 754 25 349 Participação no capital 4 385 29 412 67 961 2 968 14 633 Operações intercompanhia - 3 810 2 820 10 599 1 787 10 716 Investimento em carteira – ativos 854 6 619 11 213 1 194 5 063 Ações e cotas em fundos 856 1 721 9 989 1 103 5 263 Títulos de dívida - 3 4 898 1 224 91 - 200 Investimento em carteira – passivos - 1 566 5 217 - 11 034 5 512 - 25 906 Ações e cotas em fundos 984 - 1 060 - 2 689 431 - 17 349 Títulos de dívida - 2 550 6 277 - 8 344 5 081 - 8 558 𝐶𝐶𝑟𝑟𝑅𝑅𝑟𝑟𝑠𝑠 𝐹𝐹𝑟𝑟𝑅𝑅𝑠𝑠𝑅𝑅𝑙𝑙𝐴𝐴𝑟𝑟𝑟𝑟𝑠𝑠 = 𝐶𝐶𝑟𝑟𝑅𝑅𝑟𝑟𝑠𝑠 𝐶𝐶𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝐴𝐴𝑅𝑅𝑟𝑟𝐴𝐴 + 𝐶𝐶𝑟𝑟𝑅𝑅𝑟𝑟𝑠𝑠 𝐶𝐶𝑠𝑠𝐷𝐷𝑟𝑟𝑟𝑟𝑠𝑠𝑠𝑠 + 𝑅𝑅𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑠𝑠 (6) 33UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) Derivativos – ativos e passivos - 343 420 1 673 974 5 677 Outros investimentos – ativos4/ 908 1 517 3 810 - 722 2 103 Outros investimentos – passivos4/ 5 297 10 556 - 3 288 - 11 616 - 10 311 Ativos de reserva - 1 321 5 627 - 26 055 2 491 - 16 766 Erros e omissões 51 - 1 795 - 2 428 167 902 Memo: Transações correntes / PIB (%) - 2,33 - 2,69 - 1,41 Investimento direto no país / PIB (%) 3,58 4,27 3,68 Nota: 1 Exclui mercadorias, deixando o território nacional sem mudança de proprietário. Inclui mercadorias entregues no território nacional (exportação ficta), encomendas postais, e outros ajustes. 2 Exclui mercadorias ingressando no território nacional sem mudança de proprietário. Inclui mercadorias entregues fora do território nacional (importação ficta), importação de energia elétrica sem cobertura cambial, encomendas postais e outros ajustes. 3 Para contas de ativo e de passivo, + = aumento de estoque e - = redução de estoque. Conta financeira = fluxos de investimentos ativos - fluxos de investimentos passivos. 4 Inclui depósitos, empréstimos, créditos comerciais e outros. *Dados preliminares. Fonte: adaptado de BCB (2020). O Quadro 2 mostra um saldo de conta corrente, de 2019, de 225.821 − 185.039 + 964 = 41.746 , esse resultado indica que os pagamentos para o exte- rior são inferiores às receitas atuais e os residentes brasileiros produziram mais do que uti- lizaram. Posto isso, essas transações correntes já foram pagas por algum meio e sabemos que essa entrada de débito líquido, de 41.746 bilhões de dólares, deve ser compensada por um crédito líquido de mesmo valor em outro lugar no BP. Por conseguinte, vamos nos ater à Balança Comercial objeto dessa unidade. 2.1 Balança Comercial Segundo Lopes e Vasconcellos (2008), por algum tempo o Balanço de Transações Correntes foi identificado por meio da Balança Comercial, no entanto, com o advento do comércio de invisíveis, isto é, com o desenvolvimento dos serviços e dos rendimentos de capital, como o pagamentos de juros e remessas de lucros, surge a necessidade de decom- por o Balanço de Transações Correntes. Diante do contexto, a Balança Comercial (BC) dispõe acerca das exportações e importações de mercadorias. Assim, se o saldo das exportações for maior que das impor- tações, é possível afirmar que houve superávit na BC, caso contrário teremos um déficit. Uma inspeção visual no Quadro 2 permite verificar que há um superávit na BC devido 34UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) às exportações da ordem de US$ 225.821 bilhões de dólares superiores às importações de US$ 185.039 bilhões que gerou a soma de US$ 40.782 bilhões. Além disso, Lopes e Vasconcellos (2008), destacam que existem duas formas de contabilizar o valor das expor- tações e importações, a saber: ● Exportações e Importações: por meio do Incoterm FOB (Free on Board), em que as despesas são incluídas no valor das mercadorias até o embarque. ● Exportações e importações: por meio do Incoterm CIF (cost, insurance and freight), sendo inclusas no valor das mercadorias até o destino combinado. Por fim, os principais fatores que determinam o saldo da BC são o nível de renda da economia e do resto do mundo, taxa de câmbio e os termos de troca. Dito isso, quanto maior for a renda de um país, maior será a demanda por produtos importados, influenciando negativamente o saldo da BC (LOPES; VASCONCELLOS, 2008). Ademais, quanto maior a renda do resto do mundo, maior será a demanda do país, influenciando de forma positiva o saldo da BC. Além disso, quanto mais desvalorizada for a taxa de câmbio de um país, mais competitivo são os produtos nacionais, gerando estímulo a mercadorias destinadas à exportação e desincentivando a importação. Por outro lado, quanto melhor forem os termos de troca, ou seja, com o aumento do valor agregado dos produtos nacionais, melhor são os resultados da Balança Comercial. 35UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) 3 PRÁTICAS CAMBIAIS 3.1 Cotação do Dólar e Práticas Cambiais Tendo cada país sua própria moeda, quando são efetuadas transações comerciais entre países distintos, como operações de exportação e importação, é essencial um sistema para a troca de moedas, originando o sistema cambial. Posto isso, de acordo com Segalis, França e Shirley (2012), o câmbio pode ser definido como a troca de uma moeda estrangei- ra pela moeda de outro país. Para realizar essa troca aplica-se uma taxa de câmbio. Por sua vez, Assaf Neto (2018) destaca que a taxa de câmbio é o preço entre as duas moedas estrangeiras, ou seja, pressupondo que a troca cambial seja realizada entre a moeda dólar norte-americano e o real brasileiro, a taxa é definida pela quantidade de reais necessários para adquirir uma unidade de dólar. Ademais, a valorização cambial da moeda nacional (real) ocorre quando há um aumento do seu poder aquisitivo, isto é, quando é necessária uma quantidade menor de moeda nacional para obter uma unidade de moeda estrangeira. Se a necessidade de moeda nacional aumenta para efetuar essa troca, o cenário predominante é de desvalorização cambial. Qual o interesse em saber sobre a taxa cambial? Se a taxa cambial está desvalori- zada, há um incentivo para a exportação, dado que ao exportar as mercadorias a quantidade de moeda nacional obtida será maior, ceteris paribus2. O contrário se verifica com a taxa cambial valorizada, os exportadores reduziram seus interesses em vender a mercadoria no exterior, tendo por alternativa direcionar ao mercado interno, em contrapartida o importador será incentivado, dado que poderá adquirir produtos no exterior utilizando uma quantidade menor de unidades monetárias estrangeira (exemplo: dólar, euro, yuan, iene etc.). Além disso, as operações de câmbio acontecem por meio do mercado de câmbio, em que ocor- rem as operações de compra e venda sempre através de instituição financeira, as quais, de acordo com Assumpção (2007), são classificadas segundo o Quadro 3. Quadro 3 - Classificações do estabelecimento operador. Operações Conversões cambiais Compra Recebimento da moeda estrangeira (dólar, EURO, Libra, Iene, Yuan, outras) contra a entrega da moeda doméstica (Real) Venda Entrega da moeda estrangeira (dólar, EURO, Libra, Iene, Yuan, outras) con- tra a recebimento da moeda doméstica (Real) Arbitragem Entrega da moeda estrangeira (dólar, EURO, Libra, Iene, Yuan, outras) con- tra recebimento de outra moeda estrangeira. Fonte: adaptado de Assumpção (2007). 2 Expressão em latim que significa “permanecendo constante todas as demais variáveis”. Muito utilizada emeconomia quando se deseja avaliar as consequências de uma variável sobre a outra, supondo- se as demais inalteradas (SANDRONI, 1999). 36UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) As conversões apresentadas por meio do Quadro 3 surgem devido às operações de exportação, cuja venda dos produtos e serviços ao exterior demanda moeda estran- geira, das importações em que a compra de produtos e serviços exige o pagamento em moeda estrangeira e, por fim, as transferências realizadas pela movimentação de capitais independente da direção. Ademais, usualmente as operações de câmbio são fechadas, ou seja, segundo Assumpção (2007), acontece por meio da “confiança na palavra”, entretanto é com a utilização dos contratos de câmbio que a operação é formalizada. O contrato de câmbio se configura como um instrumento financeiro, firmado entre o vendedor e o comprador de divisas estrangeiras em que são acordados e estabelecidos os termos e as condições sob as quais as operações de câmbio são realizadas. Posto isso, os contratos de câmbio precisam ser registrados no sistema do Banco Central do Brasil (SISBACEN) pelo agente responsável e autorizado a operar esse mercado. 3.2 Processos de Importação e Exportação As exportações podem ser subdivididas em direitas e indiretas. As exportações di- reitas, segundo Buzzo (2014), conferem agilidade e conhecimento acerca do mercado-alvo, maior controle sobre o mercado de marketing, inclusive para adaptar as estratégias. Além disso, na exportação direta há a vantagem de eliminação do distribuidor, que usualmente aplica margens elevadas, aumentando os custos do exportador. Entretanto, nessa moda- lidade, o exportador precisa contratar serviços de consultorias especializadas no mercado em questão, que deseja destinar seus produtos, bem como dotar de todos os demais custos, taxas, encargos que vier a sobrepor as operações. Por sua vez, na exportação indireta o exportador não aparece nas notas, exceto para comprovar as origens dos produtos, sendo realizada por meio de intermediários, como empresas comerciais exportadoras (ECE) e Tradings Companies (TC), especializadas nas exportações de produtos para diversos mercados. Por conseguinte, Assumpção (2007) sublinha que as empresas podem se agrupar em consórcios de exportação com o objetivo de obter competitividade no mercado internacional, sem suprimir sua autonomia, sendo vantajoso, portanto, para pequenas e médias empresas, cuja dificuldade em adentrar o competitivo mercado externo é latente. Diante do exposto, esses consórcios são formados por empresas que forneçam produtos semelhantes, complementar ou concorrente e tal me- dida permite a redução dos custos marketing do produto, exposição em feiras e compartilha 37UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) as despesas de frete, seguro, despachantes aduaneiros, assessoria jurídica, bem como os demais custos que podem ser cobrados. Por conseguinte, as operações de importação, segundo Assumpção (2007), as- sumem um papel fundamental no desenvolvimento econômico e social do país devido à expansão do intercâmbio, principalmente, de produtos com elevado teor tecnológico, ou seja, na melhoria dos termos de troca. Diante do exposto, o Brasil reforça os objetivos concernentes as políticas de importação voltadas aos bens de capital cuja destinação é o provimento do setor industrial, insumos e máquinas e equipamentos, configurando a Formação Bruta de Capital Fixo, excetuada aos insumos. 38UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) 4 MEIO AMBIENTE E COMÉRCIO EXTERIOR Um ponto que está constantemente sendo inserido nas rodadas de negociações internacionais é a abordagem ambiental, a origem dos produtos e insumos que fazem parte da sua composição. Para Keohane e Nye (2000), esse debate surge como efeito da globalização se intensificando nas décadas de 1970 a 1980, sendo que as principais preocupações evidenciadas estão relacionadas à superexploração dos recursos naturais, a perda da biodiversidade, bem como a emissão de poluentes. Conferências realizadas pelas Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em Estocolmo, em 1972, e Rio-92 objetivaram aprofundar a discussão e descobrir os impactos do comércio sobre o meio ambiente. De acordo com Thorstensen (1998), a conferência Rio-92 consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável, cuja abordagem abrange o uso racional dos recursos na- turais de forma que evite comprometer o capital ecológico do planeta. Os principais temas apresentados na conferência incluíram aspectos sobre a atmosfera, qualidade do ar e da água, camada de ozônio, alterações climáticas, proteção e manejo do solo, ecossistemas, poluição, controle de substâncias tóxicas, proteção de espécies dentre outros temas. Diante desse contexto, surge a Organização Mundial do Comércio (OMC), a partir do Acordo Geral de Tarifas e de Comércio (GATT), concluído em 1947. Além disso, acres- centa-se a conclusão dos acordos negociados na Rodada Uruguai, em 1944, o estabeleci- mento dos objetivos da nova organização (THORSTENSEN, 1998). Ademais, Thorstensen (1998), enfatiza que a harmonização ambiental envolve vários problemas, porque a capacidade de absorver poluição é distinto para cada país, restringindo o surgimento e investimento de práticas antipoluidoras, sendo que os diversos níveis de desenvolvimento dos países denotam qualidades de ambientes e avaliação da utilização dos recursos naturais de acordo com as suas necessidades econômicas, impac- tando no manejo desses recursos. Ademais, Buzzo (2014) adverte que, embora os hábitos de consumo dos países estejam se tornando parecidos, as especificidades das culturas regionais, das instituições e do meio-ambiente não podem ser marginalizadas. Por sua vez, Martins (2001) destaca que o espaço do debate acerca da ética nas relações internacionais foi mantido junto às discussões apresentadas nas conferências supramencionadas, entretanto, sem que tenha produzido efeitos profundos sobre o tema. Por conseguinte, a obrigação ética com relação a valores aceitos pelos indivíduos, pelas sociedades e Estados é o fundamento da obrigação legal que disciplina as regras formais. 39UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) 4.1 A ética nas Relações Comerciais Além disso, a noção de moral e ética é usualmente influenciada por meio de con- teúdos religiosos, formas jurídicas ou doutrinas filosóficas marcadamente determinadas, haja vista a aplicação da ética do bom comportamento em que se atribui a salvação eterna ou a utilização das declarações dos direitos humanos como justificativa. Ademais, com frequência estão sendo inserido nos debates o respeito das normas éticas e normas sociais segundo o contexto cultural da região, conquistando espaços nas agendas nacionais, internacionais e nos meios produtivos (MARTINS, 2001). Doravante, parece haver um esforço para mudança de estratégias com relação aos grupos de pressão (lobby) cuja finalidade consiste em obter vantagens nas tomadas de decisões, beneficia- mento em contratos entre outros favorecimentos. Assim, surge um movimento positivo com a adoção por parte das empresas do departamento de compliance, cuja principal atribuição é prevenir e combater práticas ilícitas dentro das organizações empresariais. SAIBA MAIS Kenichi Ohmae, em sua obra O Fim do Estado Nação, sublinha que as fronteiras dos países são “ilusões cartográficas”. Posto isso, o autor reitera que a mobilidade dos ca- pitais financeiro, industrial, de pessoas e informações não pode ser suprimido indepen- dente da medida regulatória adotada pelos países. Ademais, afirma que está em marcha um processo de homogeneização cultural e étnico provocado pela ocidentalização. Fonte: OHMAE, K. O fim do Estado Nação: A ascensão das economias regionais. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1999. REFLITA “Façamos nosso futuro agora, e façamos dos nossos sonhos a realidade de amanhã” (Malala Yousafzai). 40UNIDADEII Comércio Exterior (Brasil) CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) estudante, nesta Unidade entendemos os aspectos que fundamentaram o processo latente de globalização por meio da ruptura com o padrão-ouro, e acordos liberalizantes e de desregulamentação que, por décadas, influenciam as trocas comerciais mundiais, bem como a internacionalização do capital por meio da livre movimentação de capitais que vem ajudando nesse processo, definido por Chesnais (1996) como a mundiali- zação do capital. Além disso, adentramos os efeitos da globalização gerados na economia brasileira. Por conseguinte, explicamos os conceitos de Renda Agregada e Balanço de Pa- gamentos, organizado para manter o controle das entradas e saídas de um país e, mais especificamente, abordamos os aspectos da Balança Comercial. Apresentamos as variantes das práticas cambiais e a influência provocada sobre as operações de comércio exterior, que faz necessário adotar mecanismos de transferência de gestão de riscos, como o contrato cambial. Ademais, foram elencados os processos de exportação e importação, explicando os principais conceitos e características envolvidos. Por sua vez, desvelamos alguns pontos acerca da ética e meio ambiente relacionados às práticas de comércio internacional. Na Unidade III vamos seguir o nosso aprofundamento sobre os temas de comércio exterior, abrangendo os cargos do comércio exterior, a legislação que disciplina as ope- rações, finalizando com exposição da produção nacional e os impactos internacionais e nacionais. 41UNIDADE II Comércio Exterior (Brasil) LEITURA COMPLEMENTAR KLIASS, P.; SALAMA, P. A globalização no Brasil: responsável ou bode expiatório? Revista de Economia Política, v. 28, n. 3, 2008. MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Economia Internacional e Comércio Exterior Autor: Jayme de Mariz Maia Editora: Atlas Humanas Didático Sinopse: O desenvolvimento do comércio internacional vem ganhando uma importância cada vez maior, sendo capaz de transformar nações pequenas e pobres em respeitáveis potências econômicas. No caso brasileiro, o comércio exterior tem dado importante contribuição para nossa economia. Ele deu à nossa produção maior competitividade porque permitiu que nossas in- dústrias produzissem em escala superior à capacidade de nosso mercado interno. Com isso, ganhamos custos menores e também ganhamos empregos. Mesmo assim, nossas exportações ainda são pequenas, se comparadas com as exportações mundiais, o que mostra a necessidade de dedicarmos mais cuidados com os problemas relacionados com a Economia Internacional e o Comér- cio Exterior. Evolução do Comércio Internacional, Blocos Econômi- cos e Organismos Regionais, Mercado Cambial, Teorias Clássicas e Modernas de Comércio Internacional, Paraísos Fiscais, o Brasil e a Economia Mundial e o Brasil e o Comércio Internacional são alguns dos tópicos abordados. Leitura relevante para profissionais da área de Comércio Internacional. FILME/VÍDEO Título: Vida e Dívida Ano: 2001 Sinopse: Vida e Dívida é um documentário dos Estados Unidos, de 2001, dirigido por Stephanie Black, sobre a situação econômi- ca e social na Jamaica e, especificamente, o impacto do Fundo Monetário Internacional (FMI) e as políticas do Banco Mundial. Começa com o ensaio “A Small Place, de Jamaica Kincaid”. Os empréstimos do FMI estavam condicionados a políticas de ajuste estrutural que exigiam que a Jamaica promulgasse importantes reformas econômicas incluindo a liberalização do comércio, pri- vatização e desregulamentação. As reformas não foram bem-su- cedidas e deixaram a Jamaica com US$ 4,6 bilhões em grandes dívidas. O filme traz uma série de entrevistas com o ex-primeiro- -ministro jamaicano Michael Manley, nas quais ele critica o sistema de empréstimos das Instituições Financeiras Internacionais. Ele é particularmente crítico dos ajustes estruturais necessários como um ataque à soberania de muitas ex-nações coloniais e sugere que o sistema é semelhante ao imperialismo ou neocolonialismo. 42 Plano de Estudo: ● Organização geral do comércio exterior e políticas internas ● Cargos no comércio exterior ● Follow-up e rotinas do comércio exterior ● Produção nacional: impactos internacionais e nacionais Objetivos de Aprendizagem: ● Apresentar os Principais Órgãos Governamentais do Comércio Exterior. ● Descrever as funções e atribuições de alguns profissionais do Comércio Exterior. ● Explicaremos o sistema de gerenciamento de informações. ● Compreender o conceito de rastreabilidade ou follow-up. ● Identificar e explicar os principais documentos necessários à operacionalização do Comércio Exterior. ● Entender o conceito de Produto Interno Bruto (PIB) e a relação com o Comércio Exterior. UNIDADE III Campo de Trabalho e Gestão Professor Mestre George Lucas Máximo Ferreira 43UNIDADE III Campo de Trabalho e Gestão INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a) da disciplina de Tópicos Especiais em Comércio Exterior, segui- mos em nossa jornada pelo conhecimento nessa Unidade III, iniciando os estudos através dos aspectos organizacionais do comércio exterior, apresentando os órgãos anuentes e intervenientes do sistema, bem como os sistemas informatizados que permitem a interação entre esses entes. Por conseguinte, apresentamos alguns profissionais envolvidos no processo de co- mércio exterior, suas funções e principais atribuições. Depois identificamos e discorremos acerca dos documentos exigidos nas operações de exportação e importação. Doravante, abordamos os aspectos da gestão interna de informações por meio do Novo Portal Único de Comércio Exterior e adentramos sob o conceito de rastreabilidade de mercadorias, regras e definições, bem como o seu objetivo principal. Ademais, introduzimos o conceito de PIB e PNB, apresentando e explorando os dados reais da economia brasileira. Além disso, pontuamos acerca da relação entre PIB e comércio exterior por meio das exportações e importações, explicando o efeito que ficou conhecido como bonança externa. Bons estudos! 44UNIDADE III Campo de Trabalho e Gestão 1 ORGANIZAÇÃO GERAL DO COMÉRCIO EXTERIOR E POLÍTICAS INTERNAS A organização da estrutura técnica e administrativa do comércio exterior brasileiro é composta por: Presidência da República, Secretaria de Comunicação Social (Secom), Mi- nistério da Economia (ME), Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior1 (MDIC), Ministério das Relações Exteriores (MRE), Ministério da Defesa (DF), Comando da Marinha (CM), Diretoria de Portos e Costas (DPC), Secretaria da Receita Federal (SRF), Banco Central do Brasil (BCB), Banco do Brasil (BB), Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), Câmara de Comércio Exterior (Camex), Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Departamento de Operações de Comércio Exterior (Decex), Departamento de Negociações Internacionais (Deint), Departamento de Defesa Comercial (Decom), Departamento de Normas e Competitividade no Comércio Exterior (Decoe) e Departamento de Estatística e Apoio à Exportação (Deaex) (Figura 1). 1 A estrutura do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) é parte integrante do Ministério da Economia, de acordo com Lei n. 13.844, de 2019, que estabelece a organização básica dos órgãos da Presidência da República e dos Ministérios. 45UNIDADE III Campo de Trabalho e Gestão Figura 1 - Organograma do Sistema do Comércio Exterior Brasileiro Nota: 1 Estrutura do MDIC passou a integrar o Ministério da Economia segundo a Lei n. 13.844/2019. Fonte: adaptado de Behrends (2006), Assumpção (2007) e Segalis, França e Shirley (2012). Diante do exposto, compete à Camex formular, decidir e coordenar estratégias que envolvam as atividades relacionadas ao comércio exterior de bens e serviços. Além disso, exerce o papel de interlocutor, bem como de articulador junto ao setor produtivo, para que os interesses estejam alinhados às políticas de comércio exterior. Por sua vez,
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