Buscar

Movimentos Sociais no Brasil

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 57 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 57 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 57 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 
Nome do Professor 
 
2 
 
 
 
3 
 
SUMÁRIO 
 
1. O QUE É MOVIMENTO SOCIAL E PORQUE SEU ESTUDO É IMPORTANTE? .........4 
2. O QUE CARACTERIZA UM MOVIMENTO SOCIAL? ...................................................6 
3. MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL ..........................................................................7 
3.1. DEFININDO OS TERMOS CLASSES SOCIAIS E MOVIMENTOS SOCIAIS .............7 
3.2. CLASSES SOCIAIS: CONCEPÇÕES CONTEMPORÂNEAS. ...................................9 
3.3. MOVIMENTOS SOCIAIS: O CONCEITO. ................................................................ 11 
3.4. MOVIMENTO-CLASSE: UMA VISÃO INTEGRADA. ............................................... 15 
4. ANTECEDENTES: A ERA MOVIMENTISTA (1970-1980). ......................................... 20 
5. CENÁRIO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA ATUALIDADE NO BRASIL................. 28 
6. A RELAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL COM OS MOVIMENTOS SOCIAIS NA 
CONTEMPORANEIDADE. .............................................................................................. 33 
QUESTÕES DE PROVAS ............................................................................................... 44 
GABARITO ..................................................................................................................... 53 
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................... 54 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1. O QUE É MOVIMENTO SOCIAL E POR QUE 
SEU ESTUDO É IMPORTANTE? 
 
 Desde logo é preciso demarcar nosso entendimento sobre o que são 
movimentos sociais. Nós os encaramos como ações sociais coletivas de caráter 
sociopolítico e cultural que viabilizam formas distintas de a população se organizar e 
expressar suas demandas (cf. Gohn, 2008). 
 Na ação concreta, essas formas adotam diferentes estratégias que variam da 
simples denúncia, passando pela pressão direta (mobilizações, marchas, 
concentrações, passeatas, distúrbios à ordem constituída, atos de desobediência 
civil, negociações etc.) até as pressões indiretas. 
 Na atualidade, os principais movimentos sociais atuam por meio de redes sociais, 
locais, regionais, nacionais e internacionais ou transnacionais, e utilizam-se muito dos 
novos meios de comunicação e informação, como a internet. Por isso, exercitam o que 
Habermas denominou de o agir comunicativo. A criação e o desenvolvimento de novos 
saberes, na atualidade, são também produtos dessa comunicabilidade. 
 Na realidade histórica, os movimentos sempre existiram, e cremos que sempre 
existirão. Isso porque representam forças sociais organizadas, aglutinam as pessoas 
não como força-tarefa de ordem numérica, mas como campo de atividades e 
experimentação social, e essas atividades são fontes geradoras de criatividade e 
inovações socioculturais. A experiência da qual são portadores não advém de forças 
congeladas do passado - embora este tenha importância crucial ao criar uma memória que, 
quando resgatada, dá sentido às lutas do presente. A experiência recria-se cotidianamente, 
na adversidade das situações que enfrentam. 
 Concordamos com antigas análises de Touraine, em que afirmava que os 
movimentos são o coração, o pulsar da sociedade. Eles expressam energias de 
resistência ao velho que oprime ou de construção do novo que liberte. Energias sociais 
antes dispersas são canalizadas e potencializadas por meio de suas práticas em "fazeres 
propositivos". 
 Os movimentos realizam diagnósticos sobre a realidade social, constroem 
propostas. Atuando em redes, constroem ações coletivas que agem como resistência à 
exclusão e lutam pela inclusão social. Constituem e desenvolvem o 
chamado empowerment de atores da sociedade civil organizada à medida que criam 
sujeitos sociais para essa atuação em rede. 
 
5 
 
 Tanto os movimentos sociais dos anos 1980 como os atuais têm construído 
representações simbólicas afirmativas por meio de discursos e práticas. Criam 
identidades para grupos antes dispersos e desorganizados, como bem acentuou Melucci 
(1996). Ao realizar essas ações, projetam em seus participantes sentimentos de 
pertencimento social. Aqueles que eram excluídos passam a se sentir incluídos em algum 
tipo de ação de um grupo ativo. 
 
 
2012/FCC/TRF - 2ªR. O potencial de formação de redes de movimentos sociais pode 
ser expresso a partir: 
a- do universalismo abstrato, sem referência concreta e substantiva ao cotidiano dos 
sujeitos submetidos à exclusão ou à discriminação. 
b- do sentido individual atribuído à carência vivenciada no dia a dia do sujeito e a 
possibilidade de sua identificação objetiva em torno dela. 
c- da capacidade de atuar isoladamente com as várias dimensões, entendidas como as 
condições materiais de existência, condições simbólicas de sua reprodução e políticas 
decorrentes. 
d- da busca dos nexos que os atores políticos organizados constroem entre as demandas 
materiais e o sentido subjetivo das privações, criando identidades coletivas. 
e- da possibilidade de se ater nas demandas restritas às condições materiais individuais 
que dizem respeito a um conjunto de exclusões sociais alusivo a determinado segmento 
populacional 
 
Resposta Correta: 
Letra d- da busca dos nexos que os atores políticos organizados constroem entre as 
demandas materiais e o sentido subjetivo das privações, criando identidades coletivas. 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
2. O QUE CARACTERIZA UM MOVIMENTO SOCIAL? 
 
 Definições já clássicas sobre os movimentos sociais citam como suas 
características básicas o seguinte: 
* Possuem identidade, tem opositor e articulam ou fundamentam-se em um projeto de 
vida e de sociedade; 
* Historicamente, observa-se que têm contribuído para organizar e conscientizar a 
sociedade; 
* Apresentam conjuntos de demandas via práticas de pressão/mobilização; 
* Têm certa continuidade e permanência; 
* Não são só reativos, movidos apenas pelas necessidades (fome ou qualquer forma de 
opressão); 
* Podem surgir e desenvolver-se também a partir de uma reflexão sobre sua própria 
experiência. 
* Na atualidade, apresentam um ideário civilizatório que coloca como horizonte a 
construção de uma sociedade democrática; 
* Hoje em dia, suas ações são pela sustentabilidade, e não apenas 
autodesenvolvimento; 
* Lutam contra a exclusão, por novas culturas políticas de inclusão; 
* Lutam pelo reconhecimento da diversidade cultural; 
* Questões como a diferença e a multiculturalidade têm sido incorporadas para a 
construção da própria identidade dos movimentos; 
* Há neles uma ressignificação dos ideais clássicos de igualdade, fraternidade e 
liberdade. 
* A igualdade é ressignificada com a tematização da justiça social; 
* A fraternidade se retraduz em solidariedade; 
* A liberdade associa-se ao princípio da autonomia - da constituição do sujeito, não 
individual, mas autonomia de inserção na sociedade, de inclusão social, de 
autodeterminação com soberania; 
 
 Finalmente, os movimentos sociais tematizam e redefinem a esfera pública, 
realizam parcerias com outras entidades da sociedade civil e política, tem grande 
poder de controle social e constroem modelos de inovações sociais. 
 
 
 
7 
 
3. MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL 
 
Introdução 
 
 Classes sociais e movimentos sociais são dois conceitos fundamentais nas 
Ciências Sociais. Eles têm interpretações e significados distintos segundo os diferentes 
paradigmas teórico-explicativos de análise da realidade social. Algumas teorias atribuem 
conteúdo, mais econômico às classes e mais políticos aos movimentos. Outrasestabelecem relações entre os dois conceitos; outros ainda postulam hierarquias de 
importância ou de determinação entre classes e movimentos. Dada a importância que 
estes conceitos têm na compreensão da realidade social será feito um resumo de suas 
principais definições. 
 O objetivo do texto é fornecer ao leitor um instrumental interpretativo para suas 
leituras e estudos. A partir das definições serão explicitados os movimentos sociais e sua 
relação com as classes sociais. 
3.1. Definindo os termos classes sociais e movimentos sociais 
 
 O conceito de classe social é o mais polêmico. Alguns autores o tratam no 
campo predominantemente econômico, com implicações sobre todo sistema de poder na 
sociedade e no Estado. Outros o estudam no campo da estratificação social, e outros ainda 
no universo do modo e estilo de vida das pessoas. Nas teorias clássicas de análise sobre 
o social, do final do século passado e primeira metade do século XX, encontra-se 
quatro grandes blocos explicativos, a saber: 
a) Teoria Marxista clássica: Foi com a teoria marxista que ele se tornou um conceito 
central de análise do social, do econômico e do político. Marx trata as classes como 
uma estrutura objetiva de posições sociais. A classe designa e explica todas as 
formas de hierarquia e dominação social. Só podemos entender as classes no universo 
de suas relações com outras classes e não é possível entender as classes sem tratar 
de luta de classes, pois a lógica que rege suas relações é de conflito, dominação e 
exploração. As classes se constituem segundo a posição que os indivíduos as ocupam 
no processo de produção. O modo de produção capitalista repousa sobre a exploração 
de uma classe por outra, dos que detêm o capital sobre os que detêm apenas a força 
de trabalho, da burguesia sobre o proletariado. Entre essas duas classes, Marx (1818 
-1883) identificou uma classe intermediária, a pequena burguesia, que tenderia a 
 
8 
 
desaparecer e ser absorvida pelo proletariado. Distingue ainda a classe em si- que 
resulta da organização objetiva da produção, os indivíduos agrupados segundo a sua 
posição no trabalho, não conscientes; e a classe social – que supõe a tomada de 
consciência coletiva dos interesses de classe, ou seja – a classe já organizada, plena 
de conhecimento sobre seus interesses e as tarefas históricas que deve realizar. 
 
b) Teoria da Ação social de Max Weber (1864-1920): A análise de classe de Weber é 
construída na forma de uma teoria da ação social. Ele elaborou uma abordagem 
multidimensional baseada em três elementos básicos: poder, riqueza e prestígio. 
Classe social é uma das estruturas da sociedade – a estrutura econômica, aos lados 
dos grupos de status da ordem social; e dos partidos – a estrutura da ordem política, o 
poder. Interesses econômicos no mercado levam à criação da classe. Segundo Weber, 
uma classe se define notadamente pela posse de meios para edificar uma fortuna ou 
para constituir um capital, conferindo-lhe privilégios. Portanto, as classes são posições 
comuns dentro do mercado. 
 
 Para Weber, uma ação de classe resulta de um sentimento comunitário de 
interesses e é ordenada em defesa de seus interesses, embora as classes não sejam uma 
comunidade. Elas se utilizam de ações comuns e organizam ações comuns. 
 
 Weber identificou quatro classes essenciais: a classe trabalhadora, a pequena 
burguesia, os intelectuais e profissionais liberais (sem propriedade), e a classe privilegiada 
e educada que controla a propriedade. Ele também concebe grupos de status no interior 
das classes econômicas, estratificadas e hierarquicamente enfileirados de acordo com as 
demandas do mercado e refletindo uma diversidade de interesses e preferências (Chilcote, 
1995:86). 
 
c) Teorias funcionalistas norte-americanas: As classes sociais são vistas como o estilo 
de vida que os indivíduos têm na sociedade. Elas são uma categoria que classifica os 
indivíduos na sociedade de consumo. Nos estudos da sociologia norte americana dos 
anos 40 e 50, deste século, o interesse e o desenvolvimento de pesquisas de mercado 
e ao comportamento dos indivíduos no consumo dos bens materiais e simbólicos. 
Como decorrência, eles procuraram explicar também o comportamento político das 
classes sociais, principalmente em termos de previsão de seu comportamento eleitoral. 
Os principais indicadores para classificar os indivíduos eram: renda, educação e 
ocupação. 
 
9 
 
 
d) Classe social como campo de força: Esta interpretação foi elaborada inicialmente 
por Maurice Halbwachs (1877-1945) e estabelece uma articulação entre a teoria 
marxista e a teoria norte americana. Ela formula uma explicação centrada nas forças 
sociais de integração e deixa num segundo plano o processo de produção. A sociedade 
estaria organizada em círculos concêntricos e cada círculo corresponde a uma classe 
social. As que estão no centro do círculo são as mais instruídas, as mais ricas e 
as mais integradas. A classe operária encontra-se na periferia. 
 
3.2. Classes Sociais: Concepções Contemporâneas 
 
 Nas teorias contemporâneas o conceito de classe social foi bastante 
reformulado incorporando aspectos subjetivos, mesmo nas abordagens 
neomarxistas. Podemos identificar três blocos principais: 
a) Teorias marxistas contemporâneas: classe social continua sendo categoria 
econômica fundamental que aglutina grupos, indivíduos e movimentos na 
sociedade civil e política. Entretanto, a abordagem não tem uma tônica 
exclusivamente econômica e as classes não são dadas a priori, mas se constituem 
na história segundo suas lutas e ações coletivas. A experiência adquirida e as 
tradições culturais herdadas são importantes para a constituição da classe. À medida 
que se desenvolvem uma práxis, as classes criam uma identidade. Assim, as classes 
se formam por meio das relações que os indivíduos e grupos estabelecem, e isso 
ocorre segundo um processo. Neste bloco, temos os estudos de Poulantzas, de 
historiadores Ingleses como E. Hobsbawm e E. P. Thompson, e outros. No Brasil 
podemos citar como representante dessa abordagem, entre outros, Francisco de 
Oliveira. 
 
 Alguns autores denominados como pós-marxistas, também retomaram a discussão 
sobre as classes na modernidade. Eles enfatizam a autonomia da política e da ideologia 
em relação à economia. Laclau e Mouffe, por exemplo, esboçam um projeto de 
democracia radical onde o modelo de luta das classes na sociedade não se reduz ás 
contradições entre a burguesia e o proletariado; eles incorporam naquele projeto uma 
multiplicidade de autores sociais. Eles veem a classe trabalhadora como um dos muitos 
agentes possíveis envolvidos com a transformação social. Argumentam que a sociedade é 
capaz de se organizar de infinitas maneiras. Política e ideologia são separadas de qualquer 
base social e, em seu lugar, o discurso determina toda ação (vide Chicote, 1995:96). 
 
10 
 
 
 Ainda no espectro da herança do marxismo, temos outras contribuições ao 
debate sobre as classes na era atual. Alguns autores moldaram suas teorias segundo 
um contexto estrutural, concebendo as classes como estruturas de poder. Nicos 
Poulantzas (1975), por exemplo, desenvolveu a tese de que as estruturas da 
sociedade, mais do que as pessoas influentes, determinam acontecimentos 
políticos. Ele dividiu as classes em dominantes versus classes populares. Outros 
autores ainda, na busca de um substituto para o papel revolucionário do proletariado, 
criaram teorias específicas sobre as classes sociais, como Herbert Marcuse, Louis 
Althusser, André Gorz, Ralph Miliband etc. 
 Mas a ênfase na luta de classes não foi abandonada entre vários marxistas 
contemporâneos.Harry Braverman e Esping-Andersen, por exemplo, “tratam os 
conflitos e a luta de classes associadas às categorias estruturais de análise no nível 
do Estado e da produção. As estruturas do estado seriam moldadas pela luta de 
classe e não por simples mecanismos que servem ao processo de reprodução 
capitalista e repressão da classe trabalhadora. ” (Chilcote, 1995; 94). 
 Nos debates contemporâneos sobre a situação das classes sociais no mundo 
do trabalho registra-se a tese da exclusão social, atualmente, quase hegemônica entre 
os analistas que têm abordagens críticas aos efeitos perversos da globalização na 
sociedade, como Robert Castel (1998), P. Rosavallon (1995) etc. Vários autores pós-
marxistas têm se insurgido contra ela, como S. Paugam (1996), Pedro Demo (1998), R. 
Kurtz 91997) etc. Demo afirma: 
 Evita-se a terminologia das classes sociais, traduzindo um possível esgotamento 
de certa maneira tradicional de explicar a questão social com base principalmente no 
confronto das desigualdades sociais. [...] Num primeiro momento, confundindo-se classes 
sócias com desigualdade, imagina-se que, não se apresentando a teoria das classes 
sociais como capaz de dar conta, sozinha, da complexidade do capitalismo atual, ipso facto 
não teria também a questão da desigualdade qualquer potencial explicativo [...] quem não 
consegue entender que a exclusão é a forma de inclusão, ou seja, uma maneira de exercer 
uma função dialética no sistema, não percebeu ainda o que significa dialética na história 
(1998; 18 e 105). 
 
b) Teoria de Pierre Bourdieu: O modelo teórico de Bourdieu baseia-se numa análise 
interna do comportamento dos indivíduos num contexto dado. Ele não se preocupa com 
os condicionamentos estruturais externos, para explicar a ação dos indivíduos na 
História. Dois conceitos são centrais em sua obra: campo e habitus. A classe 
 
11 
 
social é vista numa sociedade constituída por um conjunto de campos sociais. 
Para Bourdieu, os indivíduos adquirirem durante o processo de socialização habitus de 
classe e a partir deles estruturam seus comportamentos e produzem sentimentos de 
pertencimento de classe. Mas os indivíduos não agem apenas segundo as posições 
adquiridas ou herdadas, eles também reelaboram estratégias de reprodução e com isso 
montam o acervo de recursos e capitais que utilizam em dados campos sociais, 
travando lutas simbólicas entre dominantes e dominados. Cada classe social é definida 
por um modo de vida (bens de consumo, práticas culturais etc.) e por um acervo 
específico de recursos em termos de capital econômico e cultural. Bourdieu agrupa 
as classes em: dominante, pequena burguesia e classe popular. 
 
c) Teorias norte americanas contemporâneas: O conceito de classe nunca teve grande 
relevância nas abordagens norte americanas. Mas podemos identificar duas correntes 
básicas: Primeira, as classes sociais são definidas não apenas pela quantidade 
de dinheiro ou bens que possuam, mas também pelos: sistema de 
comportamento (atitudes), conjunto de valores e modo de vida. Segunda, 
baseada numa visão pluralista de diversos grupos de interesse e de pressão na 
sociedade, a classe é analisada num sistema político de democracia 
representativa. Robert Dahl e Ralf Dahrendorf são exemplos dessa abordagem. 
Dahrendorf construiu “tipos ideais de classe numa sociedade pós-capitalista na qual a 
autoridade não depende necessariamente da riqueza e prestígio, o conflito entre as 
classes e grupos é mínimo, e o pluralismo de instituições e interesses permite uma 
ampla participação nas decisões” (Chilcote, 1995:89). 
 
3.3. Movimentos Sociais: O Conceito 
 
 
 A crise contemporânea do mundo globalizado tem gerado alterações nas teorias 
sobre sociedade. Muitas delas passaram a enfatizar as ações coletivas organizadas em 
torno de questões de identidade – sexo, raça, nacionalidade, etnia etc. destacando os 
novos movimentos sociais. Os atores desses movimentos ganharam centralidade nos 
estudos, enquanto novos sujeitos sociais, em detrimento da ênfase que era dada 
anteriormente às classes sociais, em especial ao proletariado, enquanto agentes 
fundamentais na explicação da realidade social (vide OFF, 1989). 
 
12 
 
 Em consequência ao novo cenário, vários autores têm destacado que o 
conflito social mudou no mundo moderno, da esfera da produção para a esfera dos 
problemas da cultura e, nesta, os problemas de identidade cultural seriam os mais 
importantes gerando movimentos em torno de questões de raça, gênero, 
nacionalidade, etc. Outros, como o ex-líder estudantil francês e parlamentar do Partido 
Verde, Daniel Conh-Bendit, reconhecem a importância dos conflitos culturais, mas atribui 
uma determinação econômica àqueles conflitos. 
 Resulta que se têm dois modelos de análise: 
✓ Um culturalista (enfatizado os movimentos sociais); 
✓ Outro classista (enfatizando mais as estruturas econômicas, as classes sociais, as 
contradições sociais e os conflitos de classes). 
 Abaixo se defende uma terceira posição, que destaca a importância da cultura na 
construção da identidade de um movimento social, mas concebem os movimentos segundo 
um cenário pontuado por lutas, conflitos e contradições, cuja origem está nos problemas 
da sociedade dividida em classes, com interesses, visões, valores, ideologias e projetos 
de vida diferenciados. 
 Apesar do número razoável de estudos específicos sobre a problemática dos 
movimentos sociais, não podemos afirmar que existam teorias bastante elaboradas a seu 
respeito. Parte dessa lacuna é dada pela multiplicidade de interpretações e enfoques sobre 
o que são movimentos sociais. Um conjunto díspar de fenômenos sociais tem sido 
denominado como movimentos sociais. Na tentativa de clarificar a questão criaram-se 
novas taxionomias ou tipologias empíricas sem fundamentação teórica. 
 
 
 
2009/CESPE/FUB. O universo referencial dos movimentos sociais pode estar 
vinculado a uma classe social, uma etnia, uma religião, um partido político ou a 
outras categorias sociais. 
 
Certo / Errado 
 
Comentário: 
Certo. O universo básico referencial dos Movimentos Sociais pode estar representado por 
uma classe social, uma etnia, uma região, uma religião, um partido político, ou por inúmeras 
outras categorias. No que tange à classe social, como acertadamente advertiu Gohn (1985 
e 1988), tanto a classe dominante como a dominada, com suas respectivas frações, podem 
 
13 
 
constituir-se em sujeitos sociais dos movimentos, insatisfeitas com as relações sociais 
vigentes ou propostas. 
 
 
 
 
 
Expressões da questão social se manifestam em todos os espaços e tempos sociais e 
institucionais, conformando uma humanidade de privações e sem direitos – à vida, teto, 
terra, emprego estável protegido, escolarização, proteção social, alma, identidade – 
deixando visível e em situação desconfortável os sujeitos estratégicos para o enfrentamento 
dessas questões – o Estado, o mercado e a sociedade civil organizada. 
 
 
 No cenário internacional, dentre os autores que têm dado as maiores 
contribuições para o estudo dos movimentos sociais destacamos Alberto Melucci, 
Alain Touraine, Manuel Castells, Sidney Tarrow e Charles Tilly. 
 Melucci destaca a questão da identidade coletiva como categoria central em sua 
abordagem. 
 Ele afirma que a análise dos movimentos sociais oferece uma chave teórica e 
metodológica que pode ser aplicada para além do campo do empírico das ações coletivas. 
Em 1996 ele acrescentou: 
“movimentos são um sinal; eles não são meramente o resultado de uma crise. Eles assinalam uma 
profunda transformação na lógica e no processo que guiam as sociedades complexas. Como osprofetas, eles falam antes: eles anunciam o que está tomando forma mesmo antes de sua direção 
e conteúdo tornarem-se claros. Os movimentos contemporâneos são os profetas do presente 
(Melucci, 1996:01). 
 Touraine, em 1998, definiu os movimentos sociais como ações coletivas que 
combinam “a defesa de interesses com a designação de um opositor. Luta-se contra um 
adversário social em nome de valores culturais” (1998:4). Segundo ele, há três formas de 
conflitos envolvidos nos movimentos sociais, um localizado na esfera da organização 
social, outro na esfera da mudança social e o terceiro na esfera cultural. 
 Manoel Castells, espanhol radicado nos Estados Unidos, foi a principal influência 
teórica nos estudos produzidos sobre os movimentos sociais no Brasil, nos anos 70 e 80. 
 
14 
 
Em 1996, ele os definiu como “ações coletivas propositivas as quais resultam, na 
vitória ou no fracasso, em transformações nos valores e instituições da sociedade. 
” (1997:3). 
 Sidney Tarrow (1994) considera os movimentos com forma de opinião de massa. 
 Segundo uma conceituação clássica feita por Tilly (1978), um movimento social 
é fenômeno de opinião de massa lesada, mobilizada em contato com as autoridades. Para 
Tilly, os movimentos seriam a contraparte não institucionalizada dos partidos políticos, dos 
sindicatos, associações etc., tendo surgido no século XIX como uma ampliação do próprio 
campo da política. Eles também lutam pelo poder e pela institucionalização de seus 
interesses, mas de uma forma desordenada, utilizando-se de procedimentos não 
convencionais como passeatas, protestos, atos de violência etc. 
 
2012/FCC/TJ-PE. Na abordagem clássica, a ideia é a de que os movimentos sociais 
existem quando há: 
 
I. Um princípio de identidade construído coletivamente ou de identificação em torno de 
interesses e valores comuns no campo da cidadania. 
II. Definição coletiva de um campo de conflitos e dos adversários centrais nesse campo. 
III. A construção de projeto de transformação ou de utopias de mudança social nos campos 
societário, cultural ou sistêmico. 
 
Está correto o que se afirma em: 
a- I, apenas. 
b- II, apenas. 
c- III, apenas. 
d- I e II, apenas. 
e- I, II e III. 
Resposta Correta: 
Letra e- I, II e III. 
 
Comentário: 
Usando como referências os apontamentos de Melucci, Touraine e Castells, Scherer 
 
15 
 
Warren afirma ainda que “um movimento social existe quando há: (1) um princípio de 
identidade construído coletivamente ou de identificação em torno de interesses e valores 
comuns no campo da cidadania; (2) a definição coletiva de um campo de conflitos e dos 
adversários centrais nesse campo; (3) a construção de projeto de transformação ou de 
utopias comuns de mudança social nos campos societário, cultural ou sistêmico.” 
 
 
3.4. Movimento-classe: Uma visão integrada. 
 
Para definir movimento social devem-se estabelecer algumas diferenças: 
* Uma, primeira, é entre o movimento e grupo de interesses. Na grande imprensa 
cotidiana observa-se o uso da expressão movimento para designar a ação de 
grupos em função de seus interesses. Assim lê-se, “iniciou-se na Câmara um 
movimento para aprovar...” Este uso do termo é irregular, pois na realidade deveria 
ser “ iniciou-se um lobbie”, que é um grupo de interesse e não um movimento social. 
Interesses comuns de um grupo são um componente de um movimento, mas não 
suficiente para caracterizá-lo como tal. Primeiro, porque a ação de um grupo de 
pessoas tem de ser qualificada por uma série de parâmetros para ser um 
movimento social. Este grupo tem que formar um coletivo social e, para tal, 
necessita ter uma identidade em comum. Ser negro, mulher, defender as baleias, 
ou não ter teto para morar, são adjetivos que qualificam um grupo dando-lhe 
objetivos comuns para a ação. Mas eles têm uma realidade anterior à aglutinação 
de seus interesses. Eles têm uma história de experiências culturais. As inovações 
culturais, econômicas ou outro tipo de ação que vierem a gerar, partem do substrato 
em comum das carências ou demandas que reivindicam, articuladas pelos legados 
da herança cultural que possuem. A partir dessa base, eles criam e renovam seus 
repertórios das ações, ideias, valores, etc. 
* Uma segunda diferença deve ser feita quanto ao uso ampliado da expressão 
ao se designar a ação histórica dos grupos sociais, tais como: o movimento 
da classe trabalhadora. Aqui se trata de uma categoria da dialética, a de movimento, 
em oposição à estática. É a ação da classe em movimento e não um movimento 
específico da classe. Esta diferença possibilita demarcar dois sentidos para o termo 
movimento: um ampliado e geral, e outro restrito e específico. 
* Uma terceira diferença deve ser feita entre modos de ação coletiva e 
movimento social propriamente. Um protesto (pacífico ou não), uma rebelião, 
uma invasão, uma luta armada, são modos de estruturação de ações coletivas; 
 
16 
 
poderão ser estratégias de ação de um movimento social, mas, sozinhos, não são 
movimentos sociais. 
* Finalmente uma quarta diferenças refere-se à esfera onde ocorre a ação 
coletiva. Trata-se de um espaço não institucionalizado, nem na esfera pública 
estatal e nem na esfera privada. Mas devemos tomar cuidado com as 
generalizações empíricas, denominado de movimento tudo que estiver na esfera 
não institucional. Os espaços coletivos não institucionalizados situam-se na esfera 
pública não governamental, ou não estatal, possibilitando aos movimentos dar 
visibilidade às suas ações. 
 
Podemos tirar uma primeira dedução, a saber: 
 
Movimento Social refere-se à ação dos homens na história. Esta ação envolve um 
fazer – por meio de um conjunto de práticas sociais – e um pensar – por meio de um 
conjunto de ideias que motiva ou dá fundamento à ação. Trata-se de uma práxis, 
portanto. 
 
 
 As lutas sociais conferem aos movimentos um caráter cíclico. Eles são como as 
ondas e as marés, vão e voltam segundo a dinâmica do conflito social, da luta social, da 
busca do novo ou reposição/conservação do velho. Estes fatores conferem às ações dos 
movimentos caráter reativo, ativo ou passivo. Não bastam as carências para haver um 
movimento. Elas têm de se traduzir em demandas, que por sua vez poderão se 
transformar em reivindicações, através de uma ação coletiva. O conjunto deste 
processo é parte constitutiva da formação de um movimento social. Os fatores: carências, 
legitimidade da demanda, poder político das bases, cenário conjuntural do país darão a 
força de um movimento, gerando o campo de forças do movimento social e uma dada 
cultura política. 
 Deve-se lembrar também que muitos dos chamados novos movimentos sociais, 
abrangem dimensões subjetivas da ação social, relativas ao sistema de valores dos grupos 
sociais, não compreensíveis para análise à luz apenas das explicações macro objetivas, 
como usualmente é tratada a questão das carências econômicas. Trata-se de carências 
de outra ordem, situadas no plano de valores, da moral. 
 
17 
 
 
A partir das considerações acima se formulou uma definição ampla para o conceito 
de movimento social, a saber: 
 Movimentos sociais são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas 
por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas 
 
sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social 
na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre 
temas e problemas em situações de: conflitos, litígios e disputas. As ações 
desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva 
ao movimento, a partir de interesses emcomum. Esta identidade decorre da força 
do princípio da solidariedade e é considerada a partir da base referencial de valores 
culturais e políticos compartilhados pelo grupo (Gohn, 1997b). 
 
 
 Os movimentos geram uma série de inovações nas esferas públicas e privadas, 
participando direta ou indiretamente da luta política de um país e contribuindo para o 
desenvolvimento e transformação da sociedade civil e política. 
 Os movimentos aglutinam bases demandantes, assessores e lideranças, e tem 
estreitas relações com uma série de outras entidades sociopolíticas como partidos e 
facções políticas legais ou clandestinas – igrejas, sindicatos, ONGS – nacionais e 
internacionais – setores da mídia e atores sociais formadores de opinião pública, 
universidades, parlamentares municipais, estaduais e federais; e até mesmo pequenos e 
médios empresários, etc., articulados em redes sociais com interesses em comuns. 
 É necessário destacar que a simples existência de relações não implica que 
os movimentos sejam internamente harmoniosos ou homogêneos. Ao contrário, o 
usual é a existência de conflitos e tendências internas. Mas, as formas como eles se 
apresentam no espaço público, o discurso que elaboram, as práticas que articulam nos 
eventos externos, criam um imaginário social de unidade, uma visão de totalidade. 
 A solidariedade é o princípio que costura as diferenças internas fazendo com que 
a representação simbólica construída e projetada para o outro – não movimento – seja 
coerente e articulada em propostas que encubram essas diferenças, apresentando-se, 
usualmente, de forma clara e objetiva. Para tal é preciso que se observem os códigos 
político-culturais expressos nas reivindicações dos movimentos (apresentados nas 
 
18 
 
linguagens de seus discursos e falas e nos documentos que constroem). São estes códigos 
que sistematizam as demandas e criam representações sobre as mesmas. A forma como 
as demandas são codificadas varia segundo a cultura política local, ou seja, segundo o 
repertório das tradições culturais e as forças sociopolíticas de uma dada conjuntura 
histórica onde o movimento está ocorrendo. 
 Em relação aos tipos, pode ter movimentos de diferentes classes e camadas 
sociais. O tipo de ação social envolvido é que será o indicador do caráter do movimento. 
Pode se ter movimentos transformadores, reformistas, redentores e alternativos. 
 Giddens (1993) aglutina os movimentos entre as ações que são geradas por 
tensões estruturais (movimentos dos negros), crenças generalizadas (movimentos dos 
direitos civis), distúrbios e violências (movimentos de rua, quebra-quebra etc.) e 
movimentos que são deflagrados por situações de controle social (movimento contra as 
reformas da Constituição brasileira, por exemplo). Os movimentos são vistos por Giddens 
como respostas e estímulos externos. 
 Touraine (1989), sem se preocupar com a criação de uma tipologia, apresenta um 
leque de registros históricos de movimentos sociais, subdividindo-os em messiânicos, 
camponeses, de defesa comunitária, de defesa da identidade, lutas urbanas, novos 
movimentos sociais, movimentos históricos, movimentos políticos e lutas culturais. 
 
2012/FCC/MPE-AP. Maria da Glória Gohn (1997) ao estudar a teoria dos movimentos 
sociais conclui que: 
I. eles são fluídos, fragmentados e perpassados por outros processos sociais, como uma 
teia de aranha eles tecem redes que se quebram facilmente, dada a sua fragilidade. 
II. eles são como as ondas do mar que vão e voltam, constroem ciclos na história, ora 
delineando fenômenos bem configurados, ora saindo nas sombras e penumbras, como 
névoa esvoaçante. 
III. os movimentos progressistas contribuem para a redefinição das utopias, para restaurar 
a esperança e a crença de que vale a pena lutar por uma sociedade mais justa e igualitária. 
Está correto o que se afirma em: 
a- I, apenas. 
b- II, apenas. 
c- III, apenas. 
d- I e II, apenas. 
e- I, II e III. 
 
19 
 
Resposta Correta: 
Letra e- I, II e III. 
 
 
Comentário: 
Os movimentos sociais são fluidos, fragmentados, constroem ciclos na história, em 
movimentos de claro e escuro e contribuem para a redefinição de utopias. 
 
 
2013/FCC/TRT - 15ª R. Gohn (2010) afirma que há atores sociais que são sujeitos 
sócio políticos, cujas ações coletivas estão voltadas para os problemas sociais, 
econômicos, culturais e ambientais públicos em direção à superação das 
desigualdades sociais. Para a autora, são esses sujeitos: 
I. Movimentos Sociais propriamente ditos. 
II. Redes de mobilização compostas por associações de várias naturezas, incluindo as 
Organizações Não Governamentais - ONGs, fóruns, plenárias e articulações nacionais e 
transnacionais. 
III. Conselhos institucionalizados que atuam na esfera pública estatal. 
Está correto o que se afirma em: 
a- I, apenas. 
b- I e II, apenas. 
c- II e III, apenas. 
d- I e III, apenas. 
e- I, II e III. 
Resposta Correta: 
Letra e- I, II, III. 
I. Movimentos Sociais propriamente ditos. II. Redes de mobilização compostas por 
associações de várias naturezas, incluindo as Organizações Não Governamentais - 
ONGs, fóruns, plenárias e articulações nacionais e transnacionais. III. Conselhos 
institucionalizados que atuam na esfera pública estatal. 
 
 
20 
 
 
 
 
 
 
4. ANTECEDENTES: A ERA MOVIMENTISTA (1970-1980) 
 
 
 
 
Década de 1970 e parte dos anos 1980 
 No Brasil e em vários outros países da América Latina, no fim da década de 1970 
e parte dos anos 1980, ficaram famosos os movimentos sociais populares articulados por 
grupos de oposição aos regimes militares, especialmente pelos movimentos de base 
cristãos, sob a inspiração da teologia da libertação. No fim dos anos 1980 e ao longo dos 
anos 1990, o cenário sociopolítico transformou-se de maneira radical. Inicialmente, houve 
declínio das manifestações de rua, que conferiam visibilidade aos movimentos populares 
nas cidades. Alguns analistas diagnosticaram que eles estavam em crise, porque haviam 
perdido seu alvo e inimigo principal: os regimes militares. Em realidade, as causas da 
desmobilização são várias. O fato inegável é que os movimentos sociais dos anos 
1970/1980, no Brasil, contribuíram decisivamente, via demandas e pressões organizadas, 
para a conquista de vários direitos sociais, que foram inscritos em leis na nova 
Constituição Federal de 1988. 
 
 
 
2012/FCC/ TRF-2ª R. No final dos anos de 1970, a nova cidadania, ou cidadania 
ampliada, que começou a ser formulada pelos movimentos sociais, pode ser 
compreendida como: 
a- uma concepção que se limita à provisão de direitos legais e ao acesso a direitos 
definidos previamente. 
b- vinculada a uma estratégia das classes dominantes e do Estado de incorporação política 
gradual dos setores excluídos. 
c- constituição de sujeitos sociais ativos - agentes políticos -, definindo o que consideram 
ser seus direitos e lutando para seu reconhecimento. 
 
21 
 
d- uma ideia baseada e fixada em uma referência central e no significado do conceito 
liberal. 
e- aquela que está mais confinada dentro dos limites das relações com o Estado, ou entre 
Estado e indivíduos. 
 
 
Resposta Correta: 
Letra c- constituição de sujeitos sociais ativos - agentes políticos -, definindo o que 
consideram ser seus direitos e lutando para seu reconhecimento. 
 
 
2012/FCC/MPE-PE. Para Carvalho (1998), o processo constituinte, o amplo 
movimento de “Participação Popular na Constituinte”, marca uma nova fase dos 
movimentos sociais porque se caracteriza como: 
a- momento em que as experiências da fase anterior são sistematizadase traduzidas em 
propostas políticas mais elaboradas e levadas aos canais institucionais conquistados. 
b- predominantemente reivindicativa, de ação direta ou “de rua”, com a manutenção de 
relações de subordinação e de tutela por parte do Estado e dos partidos. 
c reivindicação de participar, apenas para obter ou garantir direitos já conquistados ao 
longo do processo histórico de participação popular. 
d- atrelamento às proposições populistas, corrente de pensamento político que se colocava 
a serviço do interesse público e coletivo para o fortalecimento dos espaços públicos. 
e- estabelecimento de relações de tutela pelo “centralismo democrático” do partido 
comunista, que focava sua luta pela manutenção da ordem geral da sociedade e, 
consequentemente, pela superação das condições de vulnerabilidade social. 
Resposta Correta: 
Letra a - momento em que as experiências da fase anterior são sistematizadas e traduzidas 
em propostas políticas mais elaboradas e levadas aos canais institucionais conquistados. 
Comentário: 
 
22 
 
Década de 80 Entidades representativas se organizam na articulação em federações 
municipais, estaduais e nacionais CUT (Central Única dos Trabalhadores) e do Partido dos 
Trabalhadores, Processo constituinte, o amplo movimento de “Participação Popular na 
Constituinte”, que elaborou emendas populares e coletou subscrições em todo o país. 
Momento em que as experiências da “fase” anterior, predominantemente reivindicativa, de 
ação direta ou “de rua”, são sistematizadas e traduzidas em propostas políticas mais 
elaboradas e levadas aos canais institucionais conquistados, como a própria iniciativa 
popular de lei que permitiu as emendas constituintes. 
 
Década de 1990 
 A partir de 1990, ocorreu o surgimento de outras formas de organização 
popular, mais institucionalizadas - como os Fóruns Nacionais de Luta pela Moradia, 
pela Reforma Urbana, o Fórum Nacional de Participação Popular etc. Os fóruns 
estabeleceram a prática de encontros nacionais em larga escala, gerando grandes 
diagnósticos dos problemas sociais, assim como definindo metas e objetivos estratégicos 
para solucioná-los. Emergiram várias iniciativas de parceria entre a sociedade civil 
organizada e o poder público, impulsionadas por políticas estatais, tais como a experiência 
do Orçamento Participativo, a política de Renda Mínima, Bolsa Escola etc. Todos atuam 
em questões que dizem respeito à participação dos cidadãos na gestão dos negócios 
públicos. A criação de uma Central dos Movimentos Populares foi outro fato marcante nos 
anos 1990, no plano organizativo; estruturou vários movimentos populares em nível 
nacional, tal como a luta pela moradia, assim como buscou uma articulação e criou 
colaborações entre diferentes tipos de movimentos sociais, populares e não populares. 
Ética na Política 
 Ética na Política, um movimento do início dos anos 1990, teve grande importância 
histórica, porque contribuiu decisivamente para a deposição - via processo democrático - 
de um presidente da República por atos de corrupção, fato até então inédito no país. Na 
época, contribuiu também para o ressurgimento do movimento dos estudantes com novo 
perfil de atuação, os "caras-pintadas". 
 
2012/VUNES/TJ-SP. Os movimentos sociais latino-americanos ocuparam o centro do 
cenário político na década de 1990 a partir de resistências contra as privatizações e 
os programas de ajuste estrutural. É nesse contexto que ocorre o incremento da 
resistência e da luta popular na América Latina, que abarca as mais diversas formas 
 
23 
 
de protesto social. No Brasil, ainda nos anos 90, surgem também mobilizações 
coletivas centradas mais em questões________________ com mobilizações que 
partem de um chamamento à consciência individual das pessoas, apresentando-se 
mais como___________ do que como movimentos sociais. 
Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas do texto. 
 a- éticas e morais … campanhas 
 b- jurídicas e operacionais … paralisações 
 c- políticas e culturais … agitações 
 d- econômicas e estruturais … piquetes 
 e- legais e pessoais … manifestações 
Resposta Correta: 
Letra a - éticas e morais … campanhas. 
Comentário: 
Segundo Gonh (2004), nos anos 90, ocorreu o Movimento pela Ética na Política, na fase 
do impeachment de Collor. Nesse momento, se redefiniu novamente o cenário das lutas 
sociais. Destaca-se ainda que as mobilizações coletivas na década de 1990 partem para 
o chamamento a consciência individual das pessoas e elas, usualmente, tem se 
apresentado mais como “Campanhas” do que como movimentos sociais. 
 
 
2009/CESPE/FUB. A institucionalização da participação popular em conselhos e 
conferências de políticas e de direitos, nos anos 90 do século passado, contribuiu 
para o fortalecimento dos movimentos sociais no Brasil. 
Certo / Errado 
Resposta Correta: 
Errado 
Comentário: 
Na década de 80 os movimentos sociais estavam articulados e fortalecidos pelo desejo de 
redemocratização do país. Em 1988, com a CF, os conselhos se institucionalizaram e em 
90 as contrarreformas neoliberais acarretaram o inverso do que a questão propõem, não 
houve fortalecimento dos movimentos sociais e sim a desmobilização destes. 
 
 
24 
 
 
 
2010/CESPE/TRE-BA. Recorrer ao indicador participação e controle social 
democrático implica discutir o papel e as atribuições dos movimentos sociais e dos 
conselhos de gestão, instituídos após a publicação da Constituição Federal de 1988. 
Certo/ Errado 
Resposta Correta: 
Certo 
Comentário: 
Indicador 3 – Participação e controle social democrático: busca analisar os mecanismos de 
controle que a sociedade dispõe para acompanhar e fazer valer o exercício da cidadania; 
esse indicador implica discutir o papel e as atribuições dos movimentos sociais e dos 
Conselhos de gestão, instituídos após a Constituição de 1988. Um dado importante é o 
grau de mobilização e participação social em torno de determinada política e/ou programa 
social, o que pode ser percebido na identificação de existência de Fóruns específicos, na 
realização e participação da população em conferências e conselhos, na existência de 
ações sistemáticas e planejadas para socialização de informações e mobilização. Outro 
dado importante é compreender a criação, estrutura e funcionamento dos Conselhos, com 
observação dos seguintes elementos: estrutura física e equipe técnica do Conselho, 
existência e garantia de recursos para financiamento dos Conselhos, processo de escolha 
e nomeação dos conselheiros, composição do colegiado para verificar se existe paridade 
entre Estado e sociedade civil, caráter e periodicidade das reuniões do Conselho, formas 
de encaminhamento e acompanhamento das decisões (deliberações) do Conselho. Outro 
dado que pode ser analisado se refere à atuação e autonomia do Conselho, a fim de 
verificar como estes realizam o acompanhamento e fiscalização das ações 
governamentais, se participam no processo de planejamento da política correspondente, 
se analisam os relatórios anuais referentes ao órgão gestor; se discutem politicamente o 
conteúdo, abrangência, alcance e funções da política social; se possuem autonomia na 
tomada de decisões sobre as políticas sociais, frente ao poder executivo; se suas decisões 
(deliberações) são cumpridas pelo poder executivo. 
 
 
 
25 
 
2015/CETRO/MDS. Sobre a relação entre o Estado e a chamada Sociedade Civil na 
Constituição da Política Social Brasileira nas últimas décadas, assinale a alternativa 
correta. 
 a- Os chamados movimentos sociais da década de 1980 caracterizam-se pelo seu caráter 
meramente sugestivo, semintenção de efetiva reivindicação. 
 b- Somente na década de 1990 que os chamados movimentos sociais passam a deter 
caráter reivindicatório, podendo-se destacar o movimento de impeachment do então 
Presidente da República. 
 c- Na década de 1990, a ideia de participação social passa a ser vista como sendo 
“solidária” por meio de trabalho de voluntariado e concepção de responsabilidade social de 
indivíduos e empresas. 
 d- Com a politização da participação da sociedade civil na década de 1990, focada em 
valores morais e conectada com o coletivo, constatam-se um desenvolvimento e 
amadurecimento na ocupação de espaços públicos participativos. 
 e- Na década de 1980, por opressão do regime da época, há uma clara despolitização do 
significado de participação social, havendo uma ênfase à participação individualista, ligada 
a valores morais por meio de ações de responsabilidade social de indivíduos, empresas e 
movimentos ligados a instituições religiosas. 
Resposta Correta: 
Letra c - Na década de 1990, a ideia de participação social passa a ser vista como sendo 
“solidária” por meio de trabalho de voluntariado e concepção de responsabilidade social de 
indivíduos e empresas. 
Comentário: 
Empresa-cidadã: uma estratégia de hegemonia. A RSE, para a autora, resulta de um 
momento de maior organização do empresariado, que busca intervir na sociedade. Indaga-
se se está em curso no país, desde os anos 1990, uma nova “cultura empresarial”, pautada 
na concepção de cidadania: Parece haver, princípio, uma “concordância geral”, no meio 
empresarial, de que o exercício da cidadania alavanca um processo histórico de mudanças 
rumo a uma sociedade com igualdade e justiça social, pois cada cidadão indiferenciado 
abandona a postura passiva de “ficar esperando por uma ação do Estado” e toma para si, 
por meio da solidariedade e da ajuda mútua, a responsabilidade de zelar pelo bem comum, 
semeando um futuro melhor para a coletividade, num presente sem conflitos e lutas de 
classe (César, 2005, p. 217-18). 
 
 
 À medida que as políticas neoliberais avançaram, outros movimentos sociais 
foram surgindo: 
* Contra as reformas estatais; 
* A Ação da Cidadania contra a Fome; 
 
26 
 
* Movimentos de desempregados; 
* Ações de aposentados ou pensionistas do sistema previdenciário. 
 As lutas de algumas categorias profissionais emergiram no contexto de 
crescimento da economia informal, no setor de transportes urbanos, por exemplo: 
* Apareceram os transportes alternativos ("perueiros"); 
* No sistema de transportes de cargas pesadas nas estradas, os "caminhoneiros". 
 Algumas dessas ações coletivas surgiram como respostas à crise 
socioeconômica, atuando mais como grupos de pressão do que como movimentos 
sociais estruturados. Os atos e manifestações pela paz, contra a violência urbana, também 
são exemplos dessa categoria. Se antes a paz era um contraponto à guerra, hoje ela é 
almejada como necessidade ao cidadão/cidadã comum, em seu cotidiano, principalmente 
nas ruas, onde motoristas são vítimas de assaltos relâmpagos, sequestros e assassinatos. 
* Grupos de mulheres foram organizados nos anos 1990 em função de sua atuação na 
política, criando redes de conscientização de seus direitos e frentes de lutas contra as 
discriminações. 
* O movimento dos homossexuais também ganhou impulso e as ruas, organizando 
passeatas, atos de protestos e grandes marchas anuais. Numa sociedade marcada 
pelo machismo, isso também é uma novidade histórica. 
* O mesmo ocorreu com o movimento negro ou afrodescendente, que deixou de ser 
predominantemente movimento de manifestações culturais para ser, sobretudo, 
movimento de construção de identidade e luta contra a discriminação racial. 
* Os jovens também criaram inúmeros movimentos culturais, especialmente na área da 
música, enfocando temas de protesto, pelo rap, hip hop etc. 
 
 
 
 
 
Devem-se destacar ainda três outros importantes movimentos sociais no Brasil, nos 
anos 1990: 
✓ Indígenas; 
✓ Funcionários públicos - especialmente das áreas da educação e da saúde; 
✓ Ecologistas. 
 Os Indígenas cresceram em número e em organização nessa década, 
passando a lutar pela demarcação de suas terras e pela venda de seus produtos a 
preços justos e em mercados competitivos. 
 
27 
 
 Os Funcionários públicos organizaram-se em associações e sindicatos contra 
as reformas governamentais que progressivamente retiram direitos sociais, 
reestruturam as 
 
profissões e arrocharam os salários em nome da necessidade dos ajustes fiscais. 
 Os ecologistas proliferaram após a conferência Eco-92, dando origem a 
diversas organizações não governamentais. 
 
 
 
ONGS 
 As ONGs passaram a ter muito mais importância nos anos 1990 do que os próprios 
movimentos sociais. Trata-se de ONGs diferentes das que atuavam nos anos 1980 junto a 
movimentos populares. Agora são inscritas no universo do terceiro setor, voltadas para a 
execução de políticas de parceria entre o poder público e a sociedade, atuando em 
áreas onde a prestação de serviços sociais é carente ou até mesmo ausente, como 
na educação e saúde, para clientelas como meninos e meninas que vivem nas ruas, 
mulheres com baixa renda, escolas de ensino fundamental etc. 
 
2011/CESGRANRIO/ FINEP. Do ponto de vista conceitual, é correto afirmar que 
movimento social e organização não governamental (ONG) são organizações de: 
a- mesma natureza e que se sucedem no tempo. 
b- mesma natureza e uma pode ser ferramenta da outra. 
c- mesma natureza e pressupõem a mobilização social 
d- natureza diversa, porque o movimento social constitui uma atividade que se esgota em 
si mesma quando concluída. 
e- natureza diversa, porque o movimento social é conformado por sujeitos que se 
mobilizam em prol de interesses próprios. 
 
Resposta Correta: 
Letra e - natureza diversa, porque o movimento social é conformado por sujeitos que se 
mobilizam em prol de interesses próprios. 
 
 
28 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. CENÁRIO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA 
ATUALIDADE NO BRASIL 
 
 Para compreender os movimentos sociais é preciso delinear um quadro referencial 
mais amplo, relativo à conjuntura que constitui o campo sociopolítico e econômico no qual 
ocorrem os movimentos. 
 Algumas características básicas dessa conjuntura na atualidade, no campo 
do associativismo, são: 
1 | Há um novo cenário neste milênio: novos tipos movimentos, novas demandas, 
novas identidades, novos repertórios. Proliferam movimentos multi e pluriclassistas. 
Surgiram movimentos que ultrapassam fronteiras da nação, são transnacionais, como 
o já citado movimento alter ou antiglobalização. Mas também emergiram com força 
movimentos com demandas seculares como a terra, para produzir (MST) ou para 
viver seu modo de vida (indígenas). Movimentos identitários, reivindicatórios de 
direitos culturais que lutam pelas diferenças: étnicas, culturais, religiosas, de 
nacionalidades etc. Movimentos comunitários de base, amalgamados por ideias e 
ideologias, foram enfraquecidos pelas novas formas de se fazer política, 
especialmente pelas novas estratégias dos governos, em todos os níveis da 
administração. Novos movimentos comunitaristas surgiram - alguns recriando formas 
tradicionais de relações de autoajuda; outros organizados de cima para baixo, em 
função de programas e projetos sociais estimulados por políticas sociais. 
2 | Criaram-se várias novidades no campo da organização popular, tais como a 
atuação em redes e maior consciência da questão ambiental ao demandar projetos 
que possam vir a ter viabilidade econômica sem destruir o meio ambiente.29 
 
3 | A nova conjuntura econômica e política tem papel social fundamental para 
explicar o cenário associativista atual. As políticas neoliberais desorganizaram os 
antigos movimentos e propiciaram arranjos para o surgimento de novos atores, 
organizados em ONGs, associações e organizações do terceiro setor. 
4 | As reformas neoliberais deslocaram as tensões para o plano cotidiano, gerando 
violência, diminuição de oportunidades no mundo do trabalho formal, formas precárias 
de emprego, constrangimento dos direitos dos indivíduos, cobrança sobre seus 
deveres em nome de um ativismo formal etc. 
5 | O Estado promoveu reformas e descentralizou operações de atendimento na 
área social; foram criados canais de mediações e inúmeros novos programas sociais; 
institucionalizaram-se formas de atendimento às demandas. De um lado, observa-se 
que esse fato foi uma vitória, porque demandas anteriores foram reconhecidas como 
direito, inscrevendo-as em práticas da gestão pública. De outro, a forma como têm 
sido implementadas as novas políticas, ancoradas no pragmatismo tecnocrático, tem 
resultado na maioria dos projetos sociais implementados passando a ter caráter 
fiscalizatório, ou sendo partícipes de redes clientelistas, e não de controle social de 
fato 
 
 Um panorama dos movimentos sociais neste novo milênio pode ser descrito 
em torno de 13 eixos temáticos, que envolvem as seguintes lutas e demandas (Gohn, 
2010): 
1. Movimentos sociais em torno da questão urbana, pela inclusão social e por condições de 
habitabilidade na cidade. Exemplos: 
a. Movimentos pela moradia, expresso em duas frentes de luta: articulação de redes sociopolíticas 
compostas por intelectuais de centro-esquerda e movimentos populares que militam ao redor do 
tema urbano (o hábitat, a cidade propriamente dita). Eles participaram do processo de construção e 
obtenção do Estatuto da Cidade; redes de movimentos sociais populares dos Sem-Teto (moradores 
de ruas e participantes de ocupações de prédios abandonados), apoiados por pastorais da Igreja 
Católica e outras; 
 b. Movimentos e ações de grupos de camadas médias contra a violência urbana e demandas 
pela paz (no trânsito, nas ruas, escolas, ações contra as pessoas e seu patrimônio etc.); 
c. Mobilizações e movimentos de recuperação de estruturas ambientais, físico-espaciais 
(como praças, parques), assim como de equipamentos e serviços coletivos (área da saúde, 
educação, lazer, esportes e outros serviços públicos degradados nos últimos anos pelas políticas 
 
30 
 
neoliberais); ou ainda mobilizações de segmentos atingidos pelos projetos de modernização ou 
expansão de serviços. 
 
2. Mobilização e organização popular em torno de estruturas institucionais de participação 
na gestão política-administrativa da cidade: 
a. Orçamento Participativo e Conselhos Gestores (saúde, educação, assistência social, criança e 
adolescente, idoso); 
b. Conselhos da Condição Feminina, Populações Afrodescendentes etc. 
 
3. Movimentos em torno da questão da saúde, como: 
a. Sistema Único de Saúde (SUS); 
b. Conferências nacionais, estaduais e municipais da saúde; 
c. Agentes comunitários de saúde; 
d. Portadores de necessidades especiais; 
e. Portadores de doenças específicas: insuficiência renal, lúpus, Parkinson, mal de Alzheimer, 
câncer, doenças do coração etc. 
 
4. Movimentos de demandas na área do direito: 
a. Humanos: situação nos presídios, presos políticos, situações de guerra etc.; 
b. Culturais: preservação e defesa das culturas locais, patrimônio e cultura das etnias dos povos. 
5. Mobilizações e movimentos sindicais contra o desemprego. 
 
6. Movimentos decorrentes de questões religiosas de diferentes crenças, seitas e tradições 
religiosas. 
 
7. Mobilizações e movimentos dos sem-terra, na área rural e suas redes de articulação com 
as cidades por meio da participação de desempregados e moradores de ruas, nos 
 
31 
 
acampamentos do MST, movimentos dos pequenos produtores agrários, Quebradeiras de 
Coco do Nordeste etc. 
 
8. Movimentos contra as políticas neoliberais: 
a. Mobilizações contra as reformas estatais que retiram direitos dos trabalhadores do setor privado 
e público; 
b. Atos contrarreformas das políticas sociais; 
c. Denúncias sobre as reformas que privatizam órgãos e aparelhos estatais. 
 
9. Grandes fóruns de mobilização da sociedade civil organizada: contra a globalização 
econômica ou alternativa à globalização neoliberal (contra ALCA, por exemplo); o Fórum 
Social Mundial (FSM), iniciativa brasileira, com dez edições ocorridas no Brasil e no exterior; 
o Fórum Social Brasileiro, inúmeros fóruns sociais regionais e locais; fóruns da educação 
(Mundial, de São Paulo); fóruns culturais (jovens, artesões, artistas populares etc.). 
 
10. Movimento das cooperativas populares: material reciclável, produção doméstica 
alternativa de alimentos, produção de bens e objetos de consumo, produtos agropecuários 
etc. Trata-se de uma grande diversidade de empreendimentos, heterogêneos, unidos ao redor 
de estratégias de sobrevivência (trabalho e geração de renda), articulados por ONGs que têm 
propostas fundadas na economia solidária, popular e organizados em redes solidárias, 
autogestionárias. Muitas dessas ONGs têm matrizes humanistas, propõem a construção de 
mudanças socioculturais de ordem ética, a partir de uma economia alternativa que se 
contrapõe à economia de mercado capitalista. 
 
11. Mobilizações do Movimento Nacional de Atingidos pelas Barragens, hidrelétricas, 
implantação de áreas de fronteiras de exploração mineral ou vegetal etc. 
 
12. Movimentos sociais no setor das comunicações, a exemplo do Fórum Nacional pela 
Democratização da Comunicação (FNDC). 
 
 
 
32 
 
2011/COPEVE-UFAL/UFAL. No contexto da crise contemporânea do capital, os 
movimentos sociais em escala planetária: 
 
a- têm avançado nas suas lutas e ampliado os direitos sociais. 
b- têm sofrido um refluxo nas suas lutas, em função das grandes conquistas no campo dos 
direitos trabalhistas em expansão. 
c- têm-se articulado mundialmente para novas conquistas, frente aos avanços alcançados 
no campo dos direitos sociais. 
d- estão em refluxo e, na maioria, com lutas pontuais sem terem no seu horizonte a 
construção de um novo projeto societário. 
e- têm tido uma influência do pensamento pós-moderno no sentido de articular as lutas 
localizadas numa dimensão anticapitalista e revolucionária. 
Resposta Correta: 
Letra d - estão em refluxo e, na maioria, com lutas pontuais sem terem no seu horizonte 
a construção de um novo projeto societário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6. A RELAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL COM OS MOVIMENTOS 
SOCIAIS NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 O item trata da incorporação da temática movimentos sociais pelo Serviço 
Social, destacando o Movimento de Reconceituação latino-americano e a aproximação 
limitada aos sujeitos coletivos organizados e às tendências teórico-críticas. 
A incorporação do debate dos movimentos sociais no Serviço Social 
 A aproximação política com os interesses dos setores populares se deu de forma 
tardia na profissão, dado o surgimento do Serviço Social brasileiro atrelado a Doutrina 
Social da Igreja Católica e ao viés reformista de tendência empiricista e pragmatista no 
continente, alçado nos marcos do pensamento conservador das Ciências Sociais até o final 
da década de 1950. Assimilando esses princípios teóricos e políticos, a profissão tem sua 
emersão configurada junto a organizações e grupos da classe dominante. Os primeiros 
movimentos aos quais o ServiçoSocial se vincula no país são de base militante 
tradicional católica – o Apostolado Leigo, a Ação Social e a Ação Católica. 
 O esforço político e teórico de superação do tradicional surge apenas nos marcos 
da década de 1960, expressa no denominado Movimento de Reconceituação latino-
americano, que tem seus mais profícuos rebatimentos no Brasil na segunda metade dos 
anos 1970. As alterações e diferenciações no interior da mesma profissão e a luta por 
hegemonia entre distintas perspectivas críticas ao Serviço Social tradicional – de 
modernização e de ruptura – são expressão da complexa relação entre os determinantes 
das transformações societárias e o que é constitutivo da própria profissão. O Serviço Social 
sofre a influência macros societária do período, de profundas mudanças econômicas, 
 
34 
 
sociais, políticas e ideoculturais, oriundas do exaurimento do padrão rígido de acumulação 
capitalista e das consequentes respostas que lhe são dadas pelo movimento das classes 
sociais em confronto. 
 Netto (1981, p.60) compreende por Serviço Social tradicional a prática profissional 
empirista, reiterativa, paliativa e burocratizada. Esse se fundamenta em uma ética liberal 
burguesa e sua teleologia consiste na correção funcionalista de resultantes psicossociais 
considerados negativos ou indesejáveis, sempre pressupostos a ordenação capitalista da 
vida como um dado factual ineliminável. 
 O movimento de contestação aos fundamentos tradicionais do Serviço Social 
circunscreve-se na conjuntura continental de neocolonização, típica do capitalismo 
monopolista. Apesar das particularidades que envolviam a formação histórica das nações 
latino-americanas, elas configuravam-se como os últimos espaços disponíveis para a 
expansão do capital. Em um contexto de Guerra Fria pós-1945, o tensionamento das 
estruturas sociais do mundo capitalista refletiam duas opções: a incorporação subordinada 
e dependente ao império econômico das grandes corporações através do reformismo-
desenvolvimentista, ou a perspectiva revolucionária socialista de rompimento das amarras 
imperialistas, como vista no advento das democracias populares e na revolução cubana. 
O caráter político da transferência desse padrão de acumulação previa, como 
condicionante econômico, a estabilidade na relação entre as classes. Para tanto, 
estabilidade se convertia no lema autocrático estadunidense “[...] desenvolvimento com 
segurança [...]”, pela elevada centralização do poder das burguesias e dos governos pró-
capitalistas das nações periféricas (FERNANDES, 1976, p.251-255). 
 Conforme Iamamoto (2002), os rebatimentos desse contexto incidiram fortemente 
sobre a profissão, tanto no que diz respeito aos novos projetos, recursos materiais e 
humanos exigidos, como pela repercussão no que lhe é constitutivo: a matéria sobre a qual 
opera e suas respectivas áreas de atuação e unidade profissional. 
 
O Método BH, proposto pela Escola de Serviço Social da Universidade Católica de Minas 
Gerais formulou um novo projeto profissional, alicerçado na ruptura com o tradicionalismo. 
A unidade profissional constituía-se na crítica ao caráter asséptico e transclassista 
tradicional; o objeto de atuação seria a “[...] ação social da classe oprimida [...]”; e os 
objetivos profissionais constariam em dois âmbitos: o objetivo-meta – “[...] a transformação 
da sociedade e do homem [...]” e os objetivos-meios – “[...] a conscientização, a 
capacitação e a organização [...]” (NETTO, 2007, p.279). 
 
35 
 
 
 
O reconhecimento do Serviço Social como profissão, dada sua laicização e 
afirmação enquanto categoria profissional assalariada esteve diretamente vinculada às 
bases econômicas, sociais e políticas da organização monopólica. Na medida em que se 
acentuavam as disparidades, outros projetos de sociedade ganharam espaço no interior 
da profissão, ultrapassando os limites do “[...] compósito referencial ideal incorporado pelo 
projeto sócio-político conservador próprio à burguesia monopolista” (NETTO, 2007, p.128). 
 
 
 A contradição entre a mobilização popular e o projeto reformista autocrático-
burguês, presente nas relações periféricas de dependência, imprimiu ao Serviço Social no 
seu complexo teórico, prático e político um repensar de autocrítica e contestação, 
constituindo as bases necessárias para a negação do tônus humanista-cristão e da prática 
assistencialista que incorporou em sua gênese histórica e trajetória profissional. O repensar 
de abrangência continental assume acentuada radicalidade na tendência político-
ideológica de ruptura com o tradicionalismo, enquanto projeto vivo de mudanças 
profissionais, inscrito na “[...] dinâmica de rompimento das amarras imperialistas, de luta 
pela libertação nacional e de transformações da estrutura capitalista excludente, 
concentradora e exploradora” (FALEIROS, 1986, p.51). Esta tendência profissional 
apenas foi possível através da construção de uma relação orgânica com os 
movimentos sociais, viabilizada por dois condicionantes conjunturais e acadêmicos: 
a emersão das organizações de classe dos trabalhadores e a interlocução com a 
tradição marxista. 
 O primeiro condicionante, a organização da classe trabalhadora, se configurou 
na conjuntura internacional da década de 1960 (delimitada pela crise de legitimidade da 
ordem burguesa, pelo questionamento às instituições, órgãos estatais e ao 
acirramento das desigualdades) por uma ação de cariz revolucionário, como o “[...] 
principal elemento de transbordamento, ruptura e confrontação” (ANTUNES, 2006, 
p.41). À ebulição das ações dos trabalhadores questionando os pilares fundantes da 
sociabilidade do capital somava-se a emersão de novos atores sociais: os denominados 
movimentos contra culturais e novos movimentos sociais (movimentos étnicos, ecológicos, 
urbanos, antinucleares, feministas, etc.). A presença desses novos sujeitos políticos 
 
36 
 
organizados, comprometidos com projetos nacional-populares e democráticos, somados à 
ação político-partidária e sindical, desencadeou um processo intenso de lutas, com 
fecundos rebatimentos nos países de capitalismo dependente. 
 Na América Latina, onde se desenvolvia um forte sentimento de libertação nacional 
e social, gestaram-se as condições políticas propícias à organização e mobilização de 
diversificados sujeitos coletivos, dos quais se destacam especialmente dois: os 
diretamente vinculados à Igreja Católica através da Teologia da Libertação: as 
Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s), a Ação Popular (AP), a Juventude Universitária 
Católica (JUC) e a Juventude Operária Católica (JOC), e os envolvidos com a Educação 
Popular, de influência de Paulo Freire: o Movimento de Educação de Base (MEB). Críticos 
às ditaduras de esquerda e ao socialismo real de totalitarismo stalinista, tais organizações 
eram imbuídas de uma leitura marxista “[...] humanista e militante [...]”, a qual valorizava 
como protagonista histórico o povo e o popular (FALEIROS, 1986, p.59). Esses 
movimentos propunham como norte um “[...] socialismo humanista [...]”, a ser alcançado 
através da estratégia revolucionária, que, além do trabalho de conscientização, 
pressupunha ação insurrecional. 
 O segundo condicionante, os condutos teóricos da tradição marxista, eram, em 
grande parte, responsáveis pela forma como o Serviço Social realizou sua aproximação a 
temática dos movimentos sociais, no bojo das contradições do Movimento de 
Reconceituação. A interlocução entre os setores progressistas da profissão e o amplo e 
heterogêneo universo marxista foi perpassada por avanços e limites. Possibilitou tanto a 
polarização entre discussões e propostas, a contestação pública ao pensamento 
conservador,a ruptura com a imagem de uma profissão homogênea presente nos marcos 
do tradicionalismo, como foi acompanhada por “[...] inúmeros equívocos e impasses 
teóricos, políticos e profissionais” (IAMAMOTO, 2001, p.210). Tendo por influência as 
correntes críticas das Ciências Sociais e da Pedagogia, a vertente de ruptura do Serviço 
Social promove uma diluição do pensamento marxiano, substituindo-o por uma 
documentação primária de terceiros (SILVA e SILVA, 2002, p.79). 
 
A plural organização política latino-americana, possuidora de um rol eclético de 
influências, das encíclicas de João XXIII a Paulo Freire, perpassando clássicos da 
militância marxista (Lênin, Trotsky, Mao e Guevara), foi a principal referência pela qual se 
deu a aproximação profissional com o universo marxista. O traço mais evidente desse 
diálogo é a ausência da teoria de Marx, tendo por condutos teóricos manuais de divulgação 
 
37 
 
do “[...] marxismo oficial [...]”, de influência neopositivistas, “[...] cujas produções foram 
seletivamente apropriadas, numa ótica utilitária, em função de exigências prático-
imediatas, prescindindo-se de qualquer avaliação crítica” (IAMAMOTO, 2001, p.211). 
 Segundo Netto (2007, p.149) o ecletismo das elaborações reconceptualizadas 
envolveu principalmente três circunstâncias: a recusa à importação de teorias, por meio 
da crítica à produção estadunidense e a valorização autóctone, vista como “[...] necessária 
ao fortalecimento das ideologias na América Latina [...]”; o confucionismo ideológico, que 
buscou sintetizar sobre um mesmo dogmatismo as inquietudes da esquerda cristã às 
gerações não ortodoxas e não tradicionais; e, por fim, o reducionismo próprio ao ativismo 
político, ao qual são precursores Manoel Zabala, Herman Zabala e Juan Mojica, que 
propunham “[...] a abolição de toda metodologia”, numa clara defesa da transformação do 
profissional em militante e de negação da esfera estatal (FALEIROS, 1986, p.61). Nesta 
inicial interlocução do Serviço Social com os movimentos sociais, Iamamoto (2004, p.156) 
identifica a construção de um imaginário imaturo e ingênuo das possibilidades 
revolucionárias da prática profissional, a partir de uma “[...] superestimação do potencial 
político do papel profissional, aproximando-se de uma visão messiânica e heroica [...]”. 
 Apesar das múltiplas dimensões que a aliança entre o Serviço Social e os sujeitos 
coletivos abrangeu – conduto teórico, espaço político-profissional organizativo e área de 
intervenção profissional – o curto lapso temporal do Movimento de Reconceituação 
não permitiu um aprofundamento desta relação, de forma a superar suas 
contradições e impasses teóricos. O exaurimento dos espaços políticos democráticos 
pela hegemonia da perspectiva burguesa de modernização por vias ditatoriais abortou o 
amadurecimento e avanço dos principais polos renovadores, sobretudo em países como 
Chile, Argentina e Uruguai. O discurso não ultrapassou os limites da “[...] fé no povo e na 
ação dos agentes, chamando de revolução as mudanças dos sujeitos no sentido da 
participação, mas adotando as mesmas mediações práticas do processo tecnocrático” 
(FALEIROS, 1986, p.60). 
 
 
É no Brasil, em um desenvolvimento ainda que tardio do processo reconceituador – ao 
fim do processo autocrático burguês – que a relação entre o Serviço Social e os 
movimentos sociais ganhou novos contornos, em uma conjuntura histórica propícia a 
mudanças e transformações. 
 
 
38 
 
 O segundo item trata especificamente do Brasil, do processo de renovação 
profissional tardia, viabilizada pela redemocratização vivenciada nos anos 80 e sua 
incidência no Serviço Social, em um contexto de ascensão do movimento operário e das 
lutas sociais. Ressalta-se, que este momento conduz a uma diferenciada interlocução 
com os trabalhadores e seus instrumentos de classe, edificando as bases políticas 
necessárias para a construção de um projeto profissional contra hegemônico, 
fundamentado na perspectiva marxista. 
 
A reorganização política da classe trabalhadora brasileira e o Serviço Social 
 Nos marcos da insurgência do processo reconceituador na América Latina, o 
Brasil vivia um período de profundas transformações político-econômicas. O sistema 
democrático fortalecido nos anos 1960, diante da proposta populista de maior radicalização 
apresentada pelo governo de João Goulart, proporcionou as condições necessárias para 
o surgimento e legalidade de organizações político-partidárias de inspiração socialista 
revolucionária, a ampliação das lutas por direitos sociais básicos até o momento negados 
e a emersão de diversificados protagonistas no quadro da esquerda marxista. Dentre as 
organizações da esquerda marxista no período pré-golpe destacam-se em 1961 a 
organização revolucionária Política Operária (POLOP), simpatizante de Rosa Luxemburg 
e Trotsky e a criação em 1962 do Partido Comunista do Brasil (PC do B), fruto de uma 
cisão de segmentos do PCB. 
 Mediante a agitação política que conquista força no Brasil e na América 
Latina, se esboçam na profissão algumas tentativas de vinculação da ação 
profissional aos processos e lutas por mudanças (SILVA e SILVA, 2002). A conjuntura 
inédita de formação de uma consciência nacional-popular, com a participação de 
significativos setores sociais na luta por reformas estruturais e de base, aliada a construção 
de uma política pública abrangente, produz consideráveis rebatimentos nos quadros mais 
jovens de assistentes sociais. No espírito da época – de aprofundamento do processo 
democrático na sociedade e no Estado – confluem distintas expectativas, ganhando 
espaço, ainda que incipiente e sobre um segmento limitado, uma dinâmica de erosão das 
expressões consagradas do Serviço Social. 
 Netto (2007) reconhece, neste primeiro momento de renovação do Serviço 
Social, quatro condutos de mediação com os detonadores externos de seu viés 
tradicional: 
 
39 
 
O primeiro remete ao próprio amadurecimento de setores da categoria profissional, na sua 
relação com outros protagonistas (profissionais nas equipes multiprofissionais; sociais e 
grupos da população politicamente organizados) e outras instâncias (núcleos 
administrativos e políticos do Estado). 
O segundo refere-se [...] a emersão de católicos progressistas e mesmo de uma esquerda 
católica com ativa militância cívica e política que afeta sensivelmente a categoria 
profissional. O terceiro é o espraiar do movimento estudantil, que faz seu ingresso nas 
escolas de Serviço Social. O quarto é o referencial próprio de parte significativa das 
ciências sociais do período, imanta por dimensões críticas e nacional-populares (NETTO, 
2007, p.140-141). 
 
 
 
 
É a partir de tais vetores, condicionados por uma conjuntura nacional e internacional 
desenvolvimentista que supunha novas exigências e atribuições que não mais o 
caso/grupo, que se gestam através de novos referenciais teórico-metodológicos as 
possibilidades de uma inicial relação profissional com os movimentos sociais. O 
 
Desenvolvimento de Comunidade no Brasil, aliado a uma política governamental de 
bases 
populista e reformista, cria os determinantes para proposições que ultrapassem a 
esfera modernizadora e acrítica. A aproximação com novos sujeitos coletivos, 
sobretudo, o Movimento de Educação de Base (MEB), consolida uma vertente 
diferenciada deste método, a qual se aproxima do método materialista-histórico e 
assim, da luta pela hegemonia das classes subordinadas (AMMANN, 2009, p.98-99). 
 Segundo Ammann (2009) o MEB caracterizou-se como um programa de 
Desenvolvimento de Comunidade, realizando uma ação abrangente nas áreas de 
educação, trabalho, cultura

Mais conteúdos dessa disciplina